Meu Corpo Virou Poesia Bruna Vieira

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Sumário

Capa
Folha de rosto
Sumário
Epígrafe
Dedicatória
Como eu vim parar aqui?
Cabeça
Jardim
Despertar
Tesouro
Incompleto
Sinta
Tá sempre faltando um pedaço de mim
Como dizer adeus para alguém que eu inventei?
Até eu esquecer seu cheiro
Os detalhes que eu perdi
Incêndios por toda parte
Pista
Os sinais que o seu corpo te dá
Nosso café agora é só meu
A gente é inteiro
Seu defeito também é você
Novas memórias em lugares que não tinham culpa alguma
Universo
Amar é maré
Onde foi parar a amizade que eu cultivei aqui?
Cenotes
Semente
Garganta
Nós
Coragem
Essa lágrima não vai matar a minha sede
Ruído na comunicação
Quem apagou a luz?
Esconderijo
Cuidado
Passageiro sem bilhete
Será que já sarou?
Casa
Memória
Afundo
Amuleto
Uma luz
Caça ao tesouro
Obrigada
Liberdade
Dentro
Armadilha
Pulmão
Reconhecimento
Sobre a beleza
O tempo e as certezas
Para minhas irmãs mais novas
Estranhamente familiar
No escuro
Alguém com muitos detalhes
Niggling
Um pássaro me ensinou
Ocupe-se
Ventre
Todo amor
Mulher
A ponte
Podemos ficar em silêncio sem parecer estranho?
Casa é onde você se reconhece
Da importância que você dá
Celebre as mudanças
O ritual
Espelho
Escolhas
Cada vez que eu penso
Ao mesmo tempo
Seu corpo
Floresça
O sol tem sempre um convite a fazer
Casca de banana
Projeção
Rede
Amor-próprio
A palavra que eu não sei dizer
Mãos dadas
O barulho que quase mais ninguém escuta
Troca
Fugiria
Depois
Diferentes
Organização
Eu só sei fazer amor
Espaço
Transição
Idiota
Escolha
Cicatrização
Direção
Desculpa
Provisório e definitivo
Onde esconderam a chave?
Meu lar é meu mundo
Esse dia chegou
Essa rima é toda minha
Eu realmente estou fazendo isso por mim?
Selvagem
Selvagem II
Mudei os móveis de lugar
Lembrete
Vingança
Cartas
Corpo
Inveja
3 palavras, 7 letras e eu continuo sendo minha
Ruiva
Madrugada
Exercício
Novos (velhos) hobbies
INFP
A menina que queria entender as borboletas
Ame
Reencontro
Agora
Ponto-final

Entrevista com a autora


Agradecimentos
Sobre a autora
Créditos
Eu estive quieta,
mas nunca perdi minha voz.
Para todas as mulheres
que estiveram ao meu lado
ao longo desta jornada.
Como eu vim parar aqui?

A ideia deste livro surgiu há alguns anos e me acompanhou dia após dia,
ininterruptamente, desde que tomei a decisão de chamar um lugar desconhecido de
casa.

Lembro de observar as malas abertas espalhadas no meu quarto antes de partir e do


frio na barriga por não ter a menor ideia do que estava por vir ou do que eu estava
deixando pra trás. A ingenuidade dos vinte e poucos me anestesiava. Algo em mim
sabia que não havia opção; eu precisava enfrentar o mundo para saber se aquele
sentimento que eu carregava dentro do peito era tão forte e resiliente quanto eu
julgava ser.

Sem que ninguém entendesse bem meus motivos, em 2017 juntei minhas coisas e fui
viver em outro país, vestida de toda a coragem que, felizmente, nunca me faltou. Acho
que eu era a pessoa mais feliz naquela fila de embarque, porque estava convicta de
que sentimentos são mais fortes que tudo.

E eles são, mas se transformam.

Acho fascinante perceber como a inspiração não flui quando não estamos sendo
honestas com nossas escolhas de vida. Quando eu me perdi, de alguma forma, ela
também se perdeu de mim. Levou um tempo até eu entender por que minhas palavras
não se encaixavam mais. Eu queria, mais do que tudo, me libertar e escrever sobre
todas as coisas que eu estava vivendo ali, em tempo real, mas algo estava quebrado à
minha volta.
Por mais que isso estivesse óbvio, eu fui a última a perceber.

Tardes inteiras de sol e neblina em uma cidade desconhecida foram desperdiçadas em


tentativas de criar algo que fizesse sentido dentro e principalmente fora de mim, como
uma ponte entre quem eu era e quem eu achava que deveria ser para fazer parte
daquele universo que havia se transformado tanto ao longo dos meses. Eu me enganei.

Não me arrependo de nada — caso contrário, estas páginas ainda estariam em branco
e eu não seria quem me tornei, mas quis seguir com a ideia de falar honestamente
sobre o que sinto, porque é assim que eu lido com tudo. Desculpe se de alguma forma
fiz você acreditar em alguma ilusão ou ideal que criei. Foi difícil demais acreditar que
tanto esforço, tanta energia, tanto sentimento foram em vão.

Mas este livro não é um pedido de desculpas. É um mapa. É meu caminho de ida e
volta para casa, relatos reais repletos de lembranças, aprendizados e cicatrizes de
alguém que sempre vai se orgulhar de ter o amor como prioridade na vida.
Minha cabeça virou verso.
Minha garganta virou estrofe.
Meu pulmão virou métrica.
Meu ventre virou rima.
cabeça

(onde moram os pensamentos e todas


aquelas coisas em que eu acreditava )
Jardim

Enquanto caio e o vento me carrega, eu vejo o céu sinto o calor do sol e o cheiro do
mar.

Eu me curvo me dobro
me escondo
e te imploro: não me deixe cair do seu bolso eu caibo em qualquer lugar.

Eu vago e me sinto invisível, vulnerável.


É escuro,
ouço passos vindos do andar de cima e risadas.
Agora eu sou a piada.

Construíram um império e colocaram fogo no jardim.


Despertar

O que você faria se o seu mundo inteiro


te olhasse nos olhos
e te dissesse que você nunca realmente pertenceu àquele lugar?

Pra onde você iria se o seu lugar mais seguro do planeta te pedisse pra desaparecer
de uma hora pra outra?
Você sumiria?

De onde vem essa força que te diz pra ficar?


Você quer se convencer de algo ou simplesmente se despedir?
Essa luta não é mais sobre o fim trágico de uma história de amor, é sobre o amor que
restou dentro de você e sobre como você respeita cada uma de suas batalhas,
principalmente as que você estava lutando sozinha.

Você não (se) perdeu.


Desistir agora é tentar
do jeito certo.

Se dói tanto, por que não sangra?


Se todo mundo sabia, por que ninguém te avisou?
Não eram seus amigos.
Nunca foram.

Tantas perguntas, tantos andares,


e essa fumaça que não passa.

Na cidade da neblina, não adianta esperar o sol.


Ele nunca é quente o suficiente.

O pesadelo acaba quando você finalmente


percebe que precisa abrir os olhos.
Essa é só uma noite estranha de uma vida inteira que recomeça agora.
Acorda.
Tesouro

Eu me apaixonei
por todas as pequenas coisas que tínhamos em comum
e que ninguém mais conseguia enxergar.
Era o nosso superpoder
enfrentar o óbvio
confundir os padrões
rir do improvável.
Eu te amei nos mínimos detalhes dos que me ensinavam até os que me confrontavam.

Eu via algo que passava despercebido para todos eles e que você me mostrou em raros
momentos de descuido — eu os guardei na memória como tesouro, ações que
valorizaram com o tempo.
Eram raros porque não eram comuns na sua vida até ali, imaginei.
Achei que poderia te mostrar como é importante sentir como faz bem amar
sem fazer as contas.

Da carta que sua avó nunca recebeu até a lágrima na beira da piscina depois da nossa
primeira conversa profunda, sensibilidade não é uma fraqueza, mas quanto mais
vulnerável eu me tornei menos você se enxergou em mim.

Seguimos em sentidos opostos, mas será que algum dia estivemos na mesma direção?
Incompleto

Achei um caderno antigo com frases incompletas rabiscos de uma época em que eu,
em voz alta, éramos nós.
Me perguntei em silêncio, enquanto a poeira flutuava, quantas vezes será que usei a
minha preciosa imaginação para fantasiar uma outra versão de você?

Dias de sol,
a grama do palácio
e os nossos pés se esquentando antes de dormir.
Eu queria que todos te vissem como eu te enxergava de olhos fechados.

Quantos pequenos momentos insignificantes para você eu transformei em páginas


inteiras na minha memória.
A minha coroa não era de ouro, era de histórias.

Longe de mim querer te vestir de culpa ou apagar minhas próprias escolhas.


Há algum tempo eu deixei de ser uma vítima, para me tornar a protagonista.
E isso só foi possível porque estas frases mesmo incompletas
foram escritas
e me guiaram até aqui.

Agora que já não há mais nada seu, as páginas não param de se preencher e me
preencher.

Meu decreto, então, é que a minha imaginação


sempre encontre folhas em branco e olhos verdadeiramente atentos.
Todas as minhas histórias merecem ser ouvidas: as que eu quiser viver
as que eu quiser contar
as que eu quiser imaginar.
E que os campos de girassóis
nunca mais sejam paradas inoportunas.
Sinta

Se você não souber sentir,


nem sente comigo.
Tá sempre faltando um pedaço de mim

Queria ir ao médico fazer exames, raio x, ultrassom e ressonância, o que o convênio


pagar.
Preciso de um laudo completo só pra saber o que está fora do lugar.

Me prescrevam um remédio que faça esta angústia passar.


Eu acho que estou machucada, mas o curativo foi feito no lugar errado.

Essa cicatriz no meu joelho em formato de coração é a prova


de que eu nasci
com a mania
de transformar sofrimento em amor.
Como dizer adeus para alguém que eu inventei?

Cheguei à conclusão de que desistir do ideal que criamos de alguém às vezes é mais
doloroso que se despedir da própria pessoa.

Nos despedimos de vez, mas como eu me despeço de alguém que eu criei e que
sempre existiu só dentro da minha cabeça?

É uma diferença sutil mas que liberta de um monte de culpa e colore o passado
com as cores
da verdade.

O jeito que eu enxergava as coisas ou como elas parecem quando resgato uma
memória antes de dormir — assim como a minha paleta de cores favorita ou um
filtro do Instagram — é só uma parte.

E olhar para trás e enxergar tudo com clareza, as partes boas e ruins,
ensina que admitir
é mais fácil.
Até eu esquecer seu cheiro

Juro que te esqueci


até o vizinho usar o mesmo perfume que o seu.
Esta manhã, meu elevador
era nosso,
mas você não mora mais aqui.
Os detalhes que eu perdi

Hoje o pôr do sol me fez pensar


em quantos detalhes do mundo eu perdi
porque só tinha olhos para você.
E há indícios de que tudo o que eu vi ali
não passou de uma miragem.
Incêndios por toda parte

Por que eu me importaria com o que vou usar amanhã se a angústia é a minha primeira
pele e ela apaga todas as outras cores lá fora?

Já é outro dia a neblina cobriu o sol mais uma vez há fumaça por toda parte
respirar aqui é como fumar 365 cigarros.
Eu nunca fumei
mas estou aqui
vivendo pouco
e morrendo depressa.

Vi sobre o incêndio na tv a natureza é a única que se importa.


Me pergunto agora se ela chora ou se me diz para começar o meu próprio incêndio
também.

Sinto frio.
Sinto medo.
Quero parar o mundo.
Quero que o mundo gire ao contrário.

Morre aqui a minha ingenuidade.


Morre aqui a minha inocência.
Mas eu ainda estou de olhos abertos.

Todas as bugigangas que comprei para preencher os espaços agora estão na casa de
estranhos.
Todo mundo aqui é estranho.
Então decidi deixar todas as coisas que nunca foram minhas e carregar apenas o meu
corpo e a minha crença
para um lugar seguro.

Das lutas travadas pelo amor, a verdadeira vitória é a liberdade.


Pista

Uma vez ele me disse


que eu era ingênua por acreditar
em qualquer bobagem.
Não era uma opinião.
Era uma pista.
Os sinais que o seu corpo te dá

Confie nos sinais que o seu corpo te dá tanto quanto você se importa com o que os
outros falam ou pensam sobre você
— isso sempre diz muito mais sobre eles.

Nunca cale suas necessidades para suprir expectativas e frustrações alheias.


Falar em voz alta o contrário do que o corpo pede é ir em sentido oposto ao que você
já aprendeu antes.
Suas cicatrizes formam um lindo mapa
que te leva para um tesouro que é só seu.
Sem elas você nunca teria saído do lugar ou estaria andando em círculos.

Seu corpo te conhece desde o dia um, os outros te encontram no meio do caminho.
Será que eu realmente gostava
de você ou da ideia de estar
gostando de você?
Se eu me deixar
você não vai mais ter sido o único
a fazer isso.
Nosso café agora é só meu

Espalhei a culpa por aí: culpei o vento, o tempo e as tardes que viravam noites rápido
demais.
A cidade nunca foi o problema nem as horas de espera.
Eu apenas não me encaixava mais no que você se tornou.
Quem se encaixaria?

Eu fui para muito distante de mim só para ficar mais perto de você.
Mas agora estou voltando a pé.
É um longo caminho,
mas eu sei nadar
nas lágrimas,
eu sei escalar
os prédios mais altos da cidade.
A vista é mais bonita quando você não está por perto porque eu não preciso tentar te
fazer reparar.
Ainda é um longo caminho, mas ao menos agora eu consigo apreciar as flores.
E as cores.
E as letras das músicas que um dia eu cantei pra você e que agora me lembram de
quem nós nunca fomos.

Me diminuí, me encolhi e me esqueci do que me fez chegar até aqui.


Não foi você, foi o amor.
O amor que eu tinha nunca seria suficiente para nós dois, então embrulhei ele pra
viagem e engoli sozinha.
Minha pele nunca esteve tão bonita, meu cabelo nunca cresceu tão rápido como agora.
Adivinha?
Eu não te perdi,
eu me libertei,
porque você nunca foi a chegada, era apenas o caminho.
Me espera um mundo sem espera.
A gente é inteiro

Se a gente precisa apagar muito do que a gente é


só para fazer parte de algo,
provavelmente esse algo não é nosso de verdade.
Seu defeito também é você

Ser uma pessoa teimosa


é saber confiar no próprio instinto mais do que qualquer outra coisa.
É ouvir todos os conselhos com atenção, mas ainda sentir que é preciso tirar suas
próprias conclusões.
Cabeça dura. Coração mole.
Não há espinho que te afaste da roseira.
Não há altura que te impeça de apreciar a vista.
Não há velocidade que te faça perder o controle.
Continue teimando, garota,
mas dessa vez tenha certeza de que é pelo motivo certo.
Por um sonho que te completa.
Por alguém que vale a pena.
Por uma história em que você é a personagem principal.
Novas memórias em lugares que não tinham culpa alguma

Lembro do sentimento de liberdade tomar conta de mim pela primeira vez


enquanto eu atravessava a Market sozinha naquele fim de tarde em outubro.
Eu mal conseguia ouvir meus pensamentos ou prestar atenção no mundo acontecendo
ali fora porque a música no fone estava propositalmente alta demais.
Meus passos apenas acompanhavam a batida e mesmo sem saber direito para onde o
meu corpo me levaria, eu continuei seguindo em frente.
Achei que o vento frio de São Francisco congelaria meu coração pra sempre.

Não aconteceu.
Universo

O problema de viver muito no universo de alguém


é que você esquece proporcionalmente o tamanho do seu.
Amar é maré

Você não desiste de navegar e pula fora do barco.


Se você realmente se importa, independente do resto, você nada com a outra pessoa
até onde os pés dela encostem no chão. De lá, eu te garanto, ela nada sozinha pra
casa.

Mas você me empurrou para a pior das tempestades.


Adivinha? Eu descobri que o mar gosta de mim.
Que as ondas só estavam tentando me proteger de você.
Você não entenderia, mas existe um universo inteiro nas profundezas de quem não tem
medo de sentir.
Hoje eu mergulho de cabeça
enquanto você carrega o peso do mundo nas costas.
Que bom que eu não sou mais a sua âncora.
Eu nunca soube ser só isso pra alguém.
Onde foi parar a amizade que eu cultivei aqui?

Um fato curioso que eu só percebi depois é que eu costumava ser amiga de todos os
seus amigos — a mais gentil, a mais legal, pra quem vinham pedir conselhos.
Você nunca se interessou em conhecer os meus.

Ela é boba demais.


Outro dia eu vou.
Depois você me conta essa história.

Vejo nisso uma pista e também uma grande lição.

Seus amigos,
apesar das minhas tentativas,
nunca foram nossos amigos,
sempre foram só seus.

E no dia seguinte dos dias que estavam por vir,


eu me senti só
e pensei:

eu não terminei com vocês, mas todos terminaram comigo.

Sorte que logo eu me dei conta.


Aqueles assuntos também não eram meus.
Aquelas piadas nem eram tão engraçadas assim.
Aquelas frases horríveis nunca foram ditas da boca pra fora.

Um minuto de silêncio por todos os minutos que eu fiquei em silêncio achando que o
que eu iria falar era besteira.

Besteira mesmo é ficar onde a sua presença é tolerada.


Cenotes

A água era gelada


mas me arremessei mesmo assim.
Prendi a respiração
e deixei o meu corpo afundar.
Cada parte que ainda doía latejava
dos ligamentos rompidos ao coração esmagado.
Mesmo sabendo que não daria pé, eu submergi
só para nadar ao seu lado, mas ao te procurar no escuro com os olhos ainda fechados
minhas mãos percorreram o vazio.
Foi diferente de todos os outros abandonos.
Eu não mergulhei no lugar errado; não tinha como colocar a culpa em mim.
Você nadou pra longe quando me viu chegar.
Abri os olhos,
aquela água era tão azul e cristalina como num conto de fadas em que eu finalmente
consegui ver.
Você já não estava comigo e o lugar mais lindo do mundo virou o lugar em que eu tive
certeza.
Semente

Quando você tentou me calar e tirou de mim as palavras, meu corpo virou poesia.
Minhas curvas mudaram.
Hoje sou versos e estrofes, cicatrizes e histórias,
de uma arte que você nunca realmente conseguiu entender.

Não carrego em mim culpa, porque agora eu finalmente entendo: você jamais me
enxergaria de verdade.
E eu não aguentaria ser invisível pra sempre.

Não sou meu sucesso e minhas conquistas sem todo o meu drama e sensibilidade.
A melhor parte de mim não cabe na capa, nem em listas ou num extrato bancário.

Sinto muito, não sou feita de números como você.


Sou sentimentos.
O resto é consequência disso.

Um dia, você admirou tudo o que eu construí, mas no outro quis jogar fora os meus
tijolos mais importantes, e sem nem perceber,
fui pra muito longe de mim.
Pra te agradar,
eu fui tirando
tijolo por tijolo
do lugar.

Eu me desmoronei por inteiro para tentar caber em você.

Me coloquei na estante da sala, me encolhi no sofá,


me fiz de mobília
ao lado do móvel que escolhi sozinha pra nós dois.
E você fez questão de dizer: “Jamais teria algo tão verde assim na sala de casa”.

Verde é a minha cor favorita.


Mas esse detalhe deve ter lhe escapado.

Quando você nos implodiu, mesmo querendo cair,


me mantive de pé.
Pra olhar nos teus olhos
e ouvir da tua boca
que aquele nunca foi o meu lugar.
Que para haver um futuro eu deveria ser minha versão do passado, mas a única coisa
que realmente existe é o presente.

Ignorei as pistas, os sinais vermelhos,


a minha intuição.

Eu não teria acreditado se me contassem.


Nosso fim foi um novo começo pra mim.

Com a ajuda das palavras, eu me reconstruí.


Sem seus moldes.
Sem suas correções.
Minha única
linguagem é o amor.
E os créditos
são todos meus.

Porque, se fosse por você, eu ainda estaria enterrada no chão.

Mas eu sou semente e sei me plantar sozinha.


garganta

(onde eu descobri outra vez a minha


voz e a vontade de gritar bem alto )
Nós

A corda vai mais longe quando você tira todos os nós.


Sem nós,
eu
finalmente
me alcancei.
Coragem

Amar não é apenas ter um sentimento guardado dentro do peito.


É o que você decide fazer com ele no outro dia pela manhã.
Há algo poético em cultivar apenas o sentir, desembrulhar expectativas toda noite
antes de dormir.
No mundo lá fora nada é tão valente quanto fazer algo a respeito.
Nem antes, nem depois. Agora.
Leio todos esses textos sobre amores [incompreendidos e me pergunto: Tá bom, mas o
que você realmente fez pra essa história dar certo?

Colocar a culpa no destino é não se levar a sério.


Meu bem, o amor não vem pronto.
Você precisa se enroscar, se envolver e se arriscar.
A outra metade da laranja muitas vezes é uma goiaba.
Uma goiaba que decidiu viver do outro lado do continente.
Sei lá, parece que tá todo mundo esperando a próxima cena do filme, enquanto desliza
o dedo na tela do celular em silêncio.
Saiba que você ainda está no comando.
Só volte aqui quando tiver mais do que apenas o mesmo desabafo de sempre para me
contar.
Quero passagens compradas, quero mensagens escritas e enviadas na hora.
Você quer dizer o que quer dizer.

Como amiga, desejo que você sinta a liberdade e a paz de dormir sabendo que fez
absolutamente tudo que poderia ter feito.
Nem que seja para finalmente
colocar um ponto-final nessa quase história de uma pessoa só.
Ouvi dizer que amor-próprio ainda é o jeito mais corajoso de amar.
Essa lágrima não vai matar a minha sede

Tropeço na ordem das coisas, começo com a certeza de que amo, vejo graça em suas
maiores inconveniências, enquanto você se distrai com os privilégios.
Te empurro para um pedestal invisível, onde toda a fumaça
e toda a luz que projeto
transformam um monstro
em uma espécie de divindade.
Sua pele é macia,
mas há textura em suas palavras.

Antes de dormir, fecho os olhos na escuridão, e na tentativa de finalmente adormecer,


esbarro em cada coisa fora do lugar.
A bagunça que eu fiz pra você querer ficar.

Pela manhã, faço dos incontáveis hematomas em minha pele uma pintura em aquarela
com todas as cores e formas que sempre nos faltaram.

Há algo que nunca encontrei nos seus olhos mas que sempre escorreu
involuntariamente dos meus.
Ruído na comunicação

Tudo aquilo que você não disse, eu imaginei.


O silêncio nem sempre evita todos os confrontos.
Frequentemente ele arma exércitos inteiros
e a guerra começa e acaba com palavras que
sequer saíram da sua própria boca.
Quem apagou a luz?

Se você não se conhece bem e aceita a sua pior versão, provavelmente não saberá
apreciar quando estiver se aproximando da sua melhor.

O vilão e o mocinho se conhecem


e estão de mãos dadas.
Eles coexistem dentro da gente.
Yin-yang.

A luz de ser quem se é da forma mais crua possível sem medo do que o resto do
mundo pode vir a pensar só se faz necessária se um dia você precisou descobrir o
que é
estar na escuridão.

Depois de um tempo com a luz apagada seus olhos vão enxergar através do que ainda
é desconhecido.
E eles vão ver mais que antes.
Com atenção.

Entre todas as coisas, somos quem escolhemos ser.


Mas não esqueça:
nossas reações são também resultados
de outras ações
incontroláveis.
Esconderijo

Acordei pensando na minha pele, essa camada de que sou feita e que me protege do
mundo.

Mas penso também em todas as outras invisíveis, que ninguém consegue tocar, mesmo
quando eu quero que o façam.
Camadas invisíveis que eu criei para me proteger e me adaptar e que moldam cada
pensamento meu e cada decisão que tomo.

Eu vou sair da cama hoje?

Das palavras que formam este verso até as frases que eu nunca disse em voz alta e
foram ficando para depois, mas que nunca morreram em mim.

Escrever é deixar o sol entrar.


É lembrar que não estamos presos nessas camadas.
Elas fazem parte de quem somos e, como uma mãe prestes a amamentar, é importante
se despir do medo.
Nossas partes mais sensíveis são os nossos maiores alicerces e o que nos conecta com
o que viemos fazer neste mundo.

Há um tempo meu esconderijo deixou de ser em alguém.


Eu achei que estava perdida, mas em lugar nenhum do mundo cabe mais tudo o que
somos
do que no presente.

Então eu ando por aí no meu esconderijo nesse amontoado de histórias nessas


camadas de complexidade que nem todo mundo entende
mas que me move.

Pessoas completas precisam de pouco,


e isso me ensinou
que qualquer lugar do mundo é meu, já que antes de qualquer outra coisa eu moro em
mim.
Cuidado

Só vá para o fundo
se você souber nadar de volta
sozinha.
Passageiro sem bilhete

Você não terá o meu amor assim tão fácil e eu explico o motivo.

Ninguém merece a minha tranquilidade se não tiver coragem de dançar com o meu
caos.
Você não fará parte da minha história se não tiver tempo para ouvir o que eu escrevi
até aqui.
Minhas fraquezas nunca mais serão usadas contra mim.
Elas são as arestas que dão forma ao meu corpo.

Meu silêncio é o grito mais forte que já dei e por dentro ecoa apenas a minha voz.

Tudo aquilo que me disse não fiz questão nenhuma de guardar.


Combinar palavras à distância sem fazer nada a respeito
é tão corajoso quanto bocejar.
A guerra acabou antes mesmo de começar mas o meu exército dança ao som dos
pássaros e segue para o leste
onde o sol nasce
e eu renasço também.
Será que já sarou?

Veja graça em cultivar as flores do jardim e abrir a janela pela manhã (talvez até se
surpreender com o tempo) tanto quanto você se satisfaz em segredo antes de
dormir
ao tentar tirar as casquinhas dos machucados que ainda estão cicatrizando.

Seu sangue deixou uma mancha no lençol.


Quantas vezes você vai precisar esfregar até ela sair?

Seu corpo te pede tempo até a nova pele crescer.


Use esse tempo para enxergar beleza nas transformações
que continuam acontecendo lá fora independentemente de você.
Casa

Espero que as suas raízes sejam presas em terra firme para que nenhum vento te leve
pra longe de ti.
E que as piores tempestades te façam florescer de todas as cores possíveis.
Que ao amanhecer
o sol apareça
pra esquentar sua alma e seus pés gelados.
Você precisa aprender a ver o medo como um portal, a dor como um processo, a
sombra como um jeito de finalmente apreciar a luz.
É através das rachaduras na parede que a luz entra.
Nossos sentimentos são pilares.
Sua casa é
você.
Memória

Quem tem memória guarda um tesouro inteiro no travesseiro.


No último outono muitas folhas caíram dentro e fora de mim, mas foi importante me
sentir leve outra vez.
A natureza me acolhe e me ensina, fico querendo me mudar pra perto do mato e
acordar todo dia
mais perto de mim.
Afundo

Mergulhos sem fim


mergulhos em mim
onde só eu sei nadar
onde escolho me afogar;
em dias como hoje
eu afundo e afundo
até saber que deu pé.
O fundo do mar
foi onde aprendi a me amar.
Amuleto

Meu coração mole é o meu ponto fraco


mas também é o meu melhor amuleto.
Quantas vezes você
já foi arquiteto da
sua própria gaiola?
Uma luz

O amor não é abrigo.


Não é o cimento que mantém a casa em pé.
Nem os tijolos.
É uma escolha.
É a luz que um acende
para iluminar o outro
quando anoitece.
Caça ao tesouro

Foram tantas buscas,


tantos processos e histórias.
(Muitas histórias.)
Um caminho que alguns assistiram, mas que só eu realmente percorri.
Ainda não cheguei ao final, mas sei que o meu bem mais valioso é o que eu aprendi
sobre mim.

O mundo de fora me ensinou como percorrer esse meu mundo de dentro.


E hoje, mais que ontem e menos que amanhã, eu sei onde ficam minhas pequenas e
preciosas fontes de prazer.

Me tornei minha amiga.


Vivo em companhia dos meus pensamentos.
Sei quais vozes devo ouvir, quais são ecos de outra pessoa.
Eu me transformo todos os dias,
mas cada vez mais em quem eu nasci pra ser.

Então, hoje, especialmente hoje, desejo que você se lembre como é bom
se apaixonar perdidamente por todas as suas versões.
Das mais lindas até as que não mostramos pra quase ninguém.
Da luz que deixa tudo mais bonito até a sombra que nos obriga a confiar no
desconhecido.
Amar a si mesma é o equilíbrio pra viver todas as aventuras mais lindas desta vida e
saber exatamente o caminho de volta pra si.
Obrigada

Toda vez que me lembro das coisas ruins


que aconteceram ao longo do caminho
penso em como o universo arrumou um jeito
quase incompreensível
de me preparar para viver o agora.
Liberdade

Tudo começou com um sentimento um desconforto confortável


que me fazia olhar através da janela e imaginar como seria
me despedir pela última vez.

Sinto no peito essa vontade um impulso de fugir pra bem longe mas sem usar as
minhas próprias pernas.
Fugir de mim
e começar de novo.

Qual é a graça da liberdade se estamos todos presos em quem nós somos?

Lembro das vezes que me senti mais livre e sei que foi quando me apaixonei porque
dei espaço em mim para o outro e dei pro outro o mapa de como eu me sinto.

E eu me encontro com o outro em uma parte minha que ainda desconheço.

Seria a paixão o bilhete pra liberdade humana?


A melhor parte da montanha-russa é quando ela está subindo
ou caindo?
Dentro

Ouvir o corpo e a mente.


Encontrar o equilíbrio entre as duas direções
que eles nos mandam ir.
Não há certo ou errado,
são possibilidades.
Nem pra lá, nem pra cá.
Por enquanto, vamos seguindo pra dentro.
Armadilha

Eu estou sorrindo na superfície


mas dentro de meu peito
nada um tubarão de dentes afiados
que está faminto
e eu sei
que ele vive à espera
de algum desavisado
tropeçar na borda de mim
e cair.
pulmão

(onde a minha respiração encontra


seu próprio ritmo outra vez)
Reconhecimento

No caminho até aqui eu perdi tanta coisa (isso me assusta) mas respiro fundo, o ar
preenche cada centímetro do meu pulmão e logo depois me obriga a deixá-lo ir.

Sigo em frente, não carrego nada.


Minhas mãos estão completamente livres e eu queria saber o que fazer com elas.

Reconheço este lugar, e ele me reconhece também.

Fecho os olhos e percebo:


apesar de tudo,
ainda não me perdi de mim.
Sobre a beleza

A beleza é temporária
mas é o que fazemos quando nos sentimos belos que geralmente nos torna eternos.

Ao contrário do que dizem, se sentir belo não é sobre como todos te enxergam, mas
sobre como confortavelmente você existe em seu corpo e transita entre cada uma
de suas versões, preenche cada um de seus espaços reconhecendo a importância
de que o que falta
é também o que sobra.

A beleza é temporária mas ela nos ensina tanto sobre o tempo e sobre por que nos
transformamos no que não queremos ser para entendermos o que é realmente
nosso e o que é do mundo.

Em minha breve existência andei observando a beleza que sobressai e tem a ver com
ter o que poucos podem ter, o padrão com que alguns nascem e com o qual outros
morrem.

O quão injusto é querer se transformar no outro sendo que nossa maior qualidade é ser
único?

Pois beleza de verdade é sobre o que temos dentro e vamos lapidando com o tempo,
sobre a coragem de ser vulnerável e admitir que somos belos porque nos
permitimos ser feios.

Buscamos aprovação negando quem nós somos


e desse jeito
elogio nenhum amortece a queda que é cair em si.

Quando foi a última vez que alguém reparou em você por dentro ou que você permitiu
a alguém realmente te conhecer?

A beleza é temporária nós somos temporários


mas nossas combinações
de palavras, sentimentos e atitudes criam histórias
e histórias são eternas.

Beleza é ainda ter


vontade
de contá-las
para alguém.
O tempo e as certezas

Quanto mais o tempo passa


menos certezas eu tenho.
Quanto menos certezas eu tenho
mais fácil o tempo passa por mim.
Para minhas irmãs mais novas

Queria ter gravado todas as conversas


que tive com minhas amigas nos últimos tempos.
Deixaria a fita com o registro guardada num cofre como uma herança para minha
futura filha, neta e bisneta.
Quero que elas já nasçam sabendo
o que eu acabei de aprender na marra:
a importância de se estar rodeada de mulheres e de dividir o peso da vida com alguém
que entende exatamente o quanto ela pode ser mais pesada pra gente.
Quero enaltecer e agradecer
a todas as mulheres encantadoras, fortes e inspiradoras que cruzaram meu caminho
durante a fase mais difícil da minha vida.
Foram suas palavras cruas e seus ouvidos atentos que me mostraram como atravessar
essa jornada.
Estranhamente familiar

Tenho medo de estranhar o que é bom por ter ficado tanto tempo aceitando
e me adaptando
ao que não é.

Não quero cair num padrão de algo que me machuca só porque agora a dor soa
estranhamente familiar, mas não preciso me machucar de novo e ver o sangue
escorrer pra fingir
que as antigas cicatrizes não estão mais aqui.

Meu histórico não é uma previsão.


No escuro

De alguma forma,
o passado vai ser sempre menos assustador que o desconhecido.
Não é porque você consegue prever o próximo movimento que a pessoa ou a memória
se tornam necessariamente
o lugar certo para você se refugiar.
Quando fechamos os olhos dizemos para o nosso corpo que tudo vai ficar bem, mas
para onde você vai quando tudo fica escuro?
Alguém com muitos detalhes

Eu me fascino pela complexidade de quem já não precisa provar nada a ninguém por
meio de um combinado de clichês fora de ordem e sem rima, porque é isso que
somos no fim das contas, mas alguns disfarçam bem.

Detesto disfarces.

Quero ter a sorte de esbarrar por acaso com quem tem algo a dizer e que diga com
muito entusiasmo enquanto sorri, mesmo que eu particularmente não entenda ou
pareça banal.
É a enorme paixão por algo que me atrai.
Eu me apaixono pela paixão dos outros.

Quero aprender algo novo e inesperado sem precisar esquecer tudo o que eu sei.
Descobrir que futebol não é tão chato que nem toda festa é barulhenta
e que a melhor droga ainda é o amor.

Descobrir novas pintas escondidas, notar no meu travesseiro o cheiro de um xampu


que nunca usei.
Uma nova esquina da rua por onde passo todos os dias.

Algo que me irrite, mas irrite ainda mais quando não acontece.
Quero alguém com muitos detalhes
para que eu passe a vida toda reparando.

Quero escrever uma história com quem gosta de pisar na grama,


de falar sobre o significado das músicas e de acordar junto com o sol.
Niggling

O ato de projetar no outro sua própria insegurança criar um elo de desconforto uma
ponte de ansiedade tentar fazer com que alguém além de você sinta o gosto
amargo
da sua boca.

Um recado para as minhas irmãs: quando alguém se aproximar e despretensiosamente


apontar cada um de seus defeitos diminuir suas conquistas ou rir dos seus valores
lembre-se:
corra.
Um pássaro me ensinou

Um pássaro inexperiente pousa e tenta se equilibrar no galho mais fino da árvore, e o


esforço para continuar ali é evidente.
Suas penas se soltam e caem em câmera lenta enquanto todos os outros observam.
Ele sente medo de cair porque se esquece que tem asas
e chegou até ali sozinho
voando.

Ainda não é hora de construir um novo ninho.

Saia antes que todas as suas penas tenham


se soltado.
Ocupe-se

Antes de dormir, escreva.


Ao acordar, transcreva.
Sobre você, sobre o tempo e o vento.
Sobre a interseção de seus sentimentos com o resto do mundo.
Anote as coordenadas,
descreva as sensações em riqueza de detalhes, como se estivesse desenhando um
mapa.
Um mapa de como o mundo era antes de eles chegarem.

Não se preocupe.
Ninguém vai entender.
Só você.

Pensamentos evaporam.
Guarde e enterre a ordem de suas palavras como um tesouro.
E mesmo que eles destruam a floresta, descubram uma nova mina de ouro e calem
todos os pássaros da manhã, você sempre terá para onde ir.

Quando decidir se libertar, o passado do passado


deve ser desenterrado
e celebrado.

Essa terra sempre foi sua.


ventre

(os ciclos que começam e


terminam dentro de mim )
Todo amor

Todo amor que eu tinha por você eu usei em mim.


Eu disse “eu me amo” todos os dias ao acordar
e “eu me perdoo” antes de dormir.
Quando tudo fizer sentido,
(só)
agradeço.
Mulher

Um brinde à mulher que você é e a todas as outras que precisou ser para que você
finalmente existisse.
Obrigada.

Desejo que olhe para o seu passado com o carinho que hoje cuida de uma amiga que
erra.
Se não formos amigas de todas as nossas antigas versões e nos acolhermos,
perdoarmos e entendermos, lutaremos sem a nossa própria história.
Perderemos cada uma de nossas batalhas — as internas e as externas.

Nossas armas não são flores são cicatrizes


que sangraram por décadas pedidos de socorro
feitos em silêncio.
Essas flores só nos lembram como é importante florescer quando a estação pede,
quando um filho chora,
mas isso aprendemos logo.
Temos todos os ciclos dentro da gente.

Um brinde à mulher que você será e a todas as coisas que ainda te doem e que te
lembram como é bom viver.
À sensibilidade de ser extremamente vulnerável e forte.

Pelo menos uma vez por dia sente-se com as suas emoções fale com a sua intuição
busque a si mesma antes de esperar tanto do outro mude de ideia mil vezes.
E lembre-se: quem é rígido quebra. Quem é macio se acolhe.
Feliz dia da mulher
pra quem tem coragem
pra quem tem medo
pra quem nasceu
ou se descobriu
e pra quem morreu e nem teve tempo de ver o jardim tão lindo e cheio de espinhos
que estamos cultivando aqui.
A ponte

A gente foge da tristeza


como se ela não fosse
a ponte
que nos leva
até o outro lado
onde se esconde
a felicidade.
Podemos ficar em silêncio sem parecer estranho?

Sinto falta
de intimidade
espontânea,
mas nem sei
se isso ainda existe.
Casa é onde você se reconhece

Esta cidade é grande, mas já foi maior.


Bem maior.
Lembro como eu cheguei.
Lembro quando eu voltei.

Anos se passaram entre os reencontros e continuo olhando atentamente através da


janela.
Avenidas congestionadas, passarelas movimentadas e os karaokês barulhentos da
Liberdade, todos iguais, mas agora é diferente.
Antes eu tinha a sensação
de que São Paulo me engoliria inteira a qualquer momento,
agora, caminhar sozinha por essas ruas e resgatar memórias perdidas é quase como
receber um abraço apertado e quentinho de alguém da família que não vejo há
tempos.

Não é sobre me sentir segura (provavelmente eu nunca vou me sentir segura aqui),
mas é sobre me sentir verdadeiramente parte de algo.
Aqui serei sempre a garota do interior, nunca pretendo me livrar do meu sotaque, mas
nesta tarde ensolarada de fevereiro, me fez bem constatar: não há outro lugar no
mundo que eu gostaria de estar neste exato momento além de São Paulo.

Isso foi inesperado.


Isso foi reconfortante.
Da importância que você dá

Você pode escrever oito anos da sua vida


em três frases
ou pode escrever um dia
em cinco livros.
Tudo depende
da importância que você dá,
dos detalhes que você guarda.
Das partes que você tem coragem
de mexer e transformar
em algo melhor.
Celebre as mudanças

Se você não celebrar suas pequenas mudanças


elas nunca vão te levar
para um lugar realmente novo.
O ritual

Se olhe
de fora pra dentro
de dentro pra fora.
Se enxergue
com os olhos
de alguém que
jamais conseguiria
viver sem você.
Sinta o carinho da sua mão
percorrer o seu corpo
e descubra um caminho
que sempre foi só seu.
Permita que o silêncio te deixe escutar
mas se quiser aumente o volume
da música que diz por você.
Grite bem alto,
chore até a última gota não se render à gravidade,
evapore,
seja chuva,
seja mar,
banhe-se em ti.

Deixe que o espelho se embace num banho bem quente


e desenhe um coração irregular com a ponta do dedo.
Vista sua roupa favorita,
agora abra a janela
sinta o vento
o tempo.
Colha uma fruta do pé.
Pinte as unhas de vermelho.
Pise na grama.
Olhe pro céu.
Se olhe de novo.
Faça tudo outra vez até entender
o porquê.
Espelho

Se você escolhe com atenção suas roupas ao acordar


e as músicas que vão tocar no caminho,
comece a escolher também seus
pensamentos antes de dormir.
Seja fiel
ao que deseja mudar.
O reflexo que o espelho não mostra
é o que mais precisa da sua atenção.
Escolhas

Toda vez que fugimos deixamos espaço em algum lugar.


Toda vez que gritamos roubamos o silêncio de quem estava por perto.
Toda vez que escolhemos abrimos mão de outro caminho.
Há um mundo paralelo onde você provavelmente nunca errou, mas lá não é o seu
lugar.
O seu lugar é aqui.
Cada vez que eu penso

Cada vez que eu penso em fazer algo que sei que vai me sabotar emocionalmente, eu
bebo um copo de água, desligo o celular e vou dançar alguma música sozinha na
frente do espelho.
Abrir a janela e sentir o sol esquentando a minha pele também funciona.
Ao mesmo tempo

Há essa sensação de inércia,


de que o tempo parou e que nada realmente importante acontece, porque você percebe
todos os processos involuntários que estão acontecendo
em seu corpo
neste exato momento.

Seu coração se contorce para bombear o sangue que percorre cada centímetro do seu
corpo.
Ao respirar seu pulmão estica e encolhe.
A imagem desta página atravessa sua córnea e chega à íris, que regula a quantidade de
luz graças à sua pupila.
Talvez você esteja com frio e sua pele arrepie ou alguns de seus fios de cabelo tenham
ficado para trás ao longo do caminho e você nem percebeu.

Respeite os processos do seu corpo, os que você controla, mas principalmente os que
não estão no seu controle.
Seu corpo

Nos próximos meses


seu corpo vai te levar para passear por lugares maravilhosos.
Cada passo, uma nova flor.
Cada piscar de olhos, uma nova pintura.
Invista seu tempo nele.
Floresça

A cura vem do processo de entender que somos indivíduos diferentes e nem todas as
nossas escolhas são feitas propositalmente para machucar o outro.
A complexidade da incontrolável decorrência dos fatos enquanto a vida acontece
e das inúmeras camadas das quais somos feitos é tão única que nem mil anos de
convivência fariam dois indivíduos que se amam terem exatamente a mesma
vivência de um relacionamento.

Se é diferente pra quem está ali, imagina pra quem assistiu de fora?
Nossas emoções fluem dentro do corpo como rios de água doce que vão em direção ao
mesmo mar, mas os obstáculos vão sempre ser diferentes para cada um de nós.
Acredito que o nosso mapa
começou a ser desenhado no momento em que nascemos.
Depois, quando aprendemos a observar os nossos pais ou sentir a ausência deles.
Quando tentamos explorar o nosso pequeno mundo e somos incentivados ou
reprimidos.

Nosso cérebro encontra um jeito de se adaptar a cada nova ruptura, de seguir em


frente, mas isso talvez signifique processar sentimentos de uma forma tão
codificada que quase, eu disse quase,
ninguém consegue entender cada reflexo.
É por isso que eu tento sempre lembrar da importância da terapia
como forma de autoconhecimento.
Para sabermos diferenciar as bagagens que estamos carregando diariamente.
Saber exatamente o que é nosso e o que é do outro.

Lembre-se: enquanto ainda estivermos agindo nos baseando na maneira que o outro
interpretará nossas ações, prevendo reações, não estaremos completamente livres.
E esse é um movimento em vão,
simplesmente porque estamos nos baseando num ponto de vista inventado.
Nunca teremos absoluta certeza de algo que não acontece dentro da gente.
E o dia que tivermos,
provavelmente perderá toda a graça.

Então, reescrevo a minha história quantas vezes quiser.


O tempo passa rápido e devagar para que a gente tenha espaço entre os
acontecimentos e aprenda com eles.
Não acredito em alma gêmea.
Acredito em almas amigas
que se complementam por um tempo indeterminado; um ano, décadas ou uma vida
inteira.
Almas amigas se reencontram,
se acolhem
e se complementam
enquanto descobrem
como é delicioso e assustador viver e se arriscar.

Seja qual for a sua crença, duvide de tudo, menos do amor.


E da capacidade de se curar.

Vendo aqui de fora, você é uma linda paisagem, e cada curva, cada flor, cada bater de
asas importa.
Floresça.
O sol tem sempre um convite a fazer

Em uma tarde despretensiosa de novembro eu me apaixonei pelo sol


e pela maneira como ele cuidadosamente tocou cada centímetro da minha pele à
mostra fazendo as sombras desaparecerem aos poucos e o frio se tornar uma
lembrança confortavelmente segura.

Começamos a nos encontrar todos os dias no mesmo horário, nas primeiras horas da
manhã ao abrir a janela e no banco de madeira da praça do bairro em que eu
morava.
Eu quis muito que nossos encontros durassem mais, mas ele sempre se despedia no
fim da tarde e deixava de presente uma pintura em aquarela com minhas cores
favoritas no céu.

Um dia, eu precisei fazer as malas, vender minhas coisas


e ir embora.

Tive medo de como isso me transformaria, mas, pela fresta da janela,


eu o vi.
Ele viajava comigo.

Às vezes, sinto angústia nas nossas despedidas.


Em outros dias, sinto meu peito preencher-se de alívio.
Eu diria que hoje somos ótimos parceiros.
Enquanto escrevo estas palavras
ele me envolve e transforma cada detalhe à minha volta e — eu ousaria dizer —
também dentro de mim.

Nos dias nublados, eu me agasalho à sua espera, faço chá e esquento as mãos na
minha caneca favorita.
Nos dias mais quentes, eu visto o meu menor biquíni e deixo as abelhas dançarem em
volta de mim.

Essa é uma história de amor pra você que cansou de histórias de amor.
O sol tem sempre um convite a fazer.
Casca de banana

Perdoar consiste em muitas coisas ao mesmo tempo, mas nenhuma delas muda o que
te aconteceu.
E talvez por isso seja tão difícil abrir mão dos personagens que moram no fundo
da memória,
dos antagonistas dessa história horrível e triste, que você se conta
de novo
e de novo,
mesmo sem querer,
antes de dormir.

Eu acredito na sua história, mas não acho que é a única versão, e provavelmente
também não será a de quem te machucou.
É como uma casca de banana
que você deixa cair na rua em que passa todos os dias
na esperança de ele passar também.
Mas é só você que escorrega,
cai e se machuca
de novo
e de novo.

Ao contrário do que provavelmente te disseram, perdoar não é dizer uma porção de


palavras bonitas em voz alta, perto dos seus amigos e família, nem envolver o
orgulho em uma embalagem bonita, ou ser uma pessoa boa, que perdoa tudo.
Perdoar, antes de qualquer outra coisa, é sobre se sentir pronta para se libertar.

Não há um atalho que te faça pular para o fim desta linha do tempo, para evitar toda a
luta, todo o luto e toda a dor.
Há um caminho que precisa ser percorrido, e ao longo dele você vai entender que o
único elo que realmente te prende e te puxa de volta a alguém que te fez mal no
passado vem da necessidade de controle, da sua vontade de mudar o jeito que as
coisas aconteceram ou ao menos a maneira como o outro se sente a respeito.
Mas isso não é sobre o outro,
é sobre você,
e eu sei que você é muito mais que algo de ruim que te aconteceu.

Então, se eu pudesse te dar apenas um conselho, seria: antes de dar o próximo passo,
tire a casca de banana.
Há outros jeitos imensamente mais divertidos de cair por aí.
Projeção

Quanto a gente perde


de quem a gente é
pra ser quem as pessoas
querem que a gente seja?

Deixei tanto de mim


no caminho
que eu me pergunto
se esse reflexo
no espelho é meu
ou uma projeção
dos que um dia ouviram
o meu “eu te amo”
e foram embora.
Rede

Nós nos silenciamos,


mas nunca deixamos de nos seguir.
Amor-próprio

Ela queria viver


e escrever sobre
todos os relacionamentos do mundo, menos o que tinha consigo mesma.

Me pergunto quantas declarações de amor ela já disse em voz alta


apenas porque era exatamente o que ela queria e precisava ouvir?

Garota, como você sempre teve tanta certeza do que tem lá no fundo do seu coração se
você nunca teve a coragem de seguir em frente no seu próprio ritmo?
A palavra que eu não sei dizer

Foi o dia em que aprendi


que juntar forças para falar “não”
honestamente
não é tão ruim quanto lidar
com todas as pequenas consequências
e desdobramentos
de um “sim ”
indesejado.

Não é não.
Mãos dadas

E se eu te disser
que você tem o barulho
do mar dentro de si?

Aquele que te acalma.

Somos feitos de água


e queremos mergulhar
em oceanos que não são nossos.

Deveríamos querer
flutuar de mãos dadas
com alguém que já sabe
da sua própria maré.
O barulho que quase mais ninguém escuta

Eu gosto do barulho
que o silêncio faz
quando reencontro
todos os meus desencontros
e tiro de mim
por intermédio das palavras
o desconforto
de um peso
que nunca foi meu.
E nos espaços que ficam
numa respiração profunda
eu me estico
me sinto
e me alongo.
Também sou feita
de vazios.
Troca

Eu te ofereço tudo o que posso,


e isso nem sempre é exatamente
o que você precisa.

Mas não há nada de errado


em não ser exatamente o que
o outro espera,
assim como
não dá para esperar
que o outro seja
exatamente o que te falta.
Fugiria

O que o início
faria se soubesse
que o fim
não se importa?
Depois

Há dias de profundo silêncio, em que tudo o que quero é o oposto do que devo.
E eu me enrosco
no agora de todas as coisas que são para depois.
E vou adiando a vida só para que o tempo, que passa mesmo quando tudo não se
move, me transforme
na minha pior inimiga.
E você perca o seu posto por breves instantes de minha própria irresponsabilidade.
Diferentes

A sua página oito não é a mesma página oito do livro da vida de outra pessoa.
Não é a sua história.
Não dá pra exigir que, mesmo vivendo o mesmo momento, olhando para o mesmo
problema, sangrando da mesma ferida, o outro entenda absolutamente como você
se sente.

Nós sempre nos lembramos de formas diferentes


de como tudo aconteceu.
Organização

Que grande bagunça eu fiz


tentando organizar todas as coisas
que não eram minhas.
Eu só sei fazer amor

É que as pessoas deixam pequenas marcas invisíveis quando nos atravessam e vão
embora.
Mas todos os dias, ao abrir os olhos pela manhã e apoiar o peso da vida sobre os pés,
nós é que escolhemos como vamos olhar para elas
e o que faremos
com a dor.

Deposite sua dor aqui, para que ela faça companhia para a minha.
Espaço

Quanto mais você aceita


a jornada do outro,
mais você entende
a sua.

Nem todo mundo quer ir até a lua.


Alguns preferem ficar aqui e dançar.
Transição

Tudo começou com uma ânsia de mudança; o que eu ainda não sabia
é que quase toda mudança que escolhemos viver é também um retorno,
direto ou indireto,
para quem nós nascemos
para ser.

Foram tantos anos alisando o cabelo que pra ser honesta eu não lembrava como ele
realmente era; recorri ao meu álbum de fotos da infância.

Será que ainda vive em mim essa criança


descabelada
e encaracolada?

Uma vida inteira odiando a minha raiz para então perceber que ela virou sinônimo de
esperança.
Todos os dias eu olhava para o meu reflexo no espelho pela manhãe sonhava em poder
controlar o tempo, queria que ele passasse mais rápido para que eu finalmente
pudesse me olhar e me reconhecer.

Por meses eu me senti uma estranha presa em mim porque eu já não era mais quem
esperavam que eu fosse, mas também não era quem eu estava acostumada a ser.

Todas as opiniões não solicitadas disfarçadas de preocupação e ansiedade


aumentavam ainda mais meu questionamento: como eu vim parar aqui?

Entrelacei minhas inseguranças, dei um nó nas incertezas,


e enrolei com os dedos
cada mecha fora do lugar.
Deitei em uma fronha lilás de cetim e comprei os cremes mais cheirosos do mundo.

Até que todo esse ritual já não era mais tão ruim assim.
Aos poucos, o frizz e os fios fora do lugar se tornaram minha assinatura.
O volume, a moldura perfeita para a pintura,
uma pintura
que eu ainda não terminei de fazer, mas que todos agora
olham atentamente.

A transição me levou
de volta
para mim.
Idiota

Quantas vezes
o medo de parecer
idiota
te impediu
de se parecer
com quem você
sentiu na boca do estômago
que deveria ser?

Somos todos idiotas para alguém.


Escolha

Eu vou construir uma vida


com as escolhas que eu alcançar e com as que caírem no meu colo porque sentar aqui
nunca foi fácil.
E vou ser corajosa e gentil vou escrever a minha história em folhas soltas e nas
paredes brancas, por mim e para as que vierem depois, para que, em comparações
futuras, em noites de insônia,
mesmo com a minha insistente memória seletiva, não haja nenhuma dúvida:
eu sempre serei a minha melhor opção.
E eu sempre vou me escolher, mesmo quando ninguém mais ousar fazer isso.
Cicatrização

Use a sua energia para se curar


antes de tentar sair por aí curando os outros.

Essas feridas precisam de tempo.


Se quer mergulhar no desconhecido para saber como é se afogar, mergulhe em si.

Há tantas partes suas que você ainda não teve a oportunidade de conhecer.

Autoconhecimento é cicatrizante.
Direção

O vento que bagunça seu cabelo


e levanta o seu vestido
e te faz arrepiar
e querer se esconder
é o mesmo que te diz para onde ir.
(eu me) arranjo
Desculpa

Quando machuco alguém


e só percebo depois
eu abraço a culpa
num movimento
de olhar para dentro
e entender
onde realmente
está doendo.
Ah, meu bem.
Em dias de ventania como hoje,
como é difícil não querer fazer o outro sangrar
por algo que dói onde eu ainda não alcanço.
Provisório e definitivo

Não esqueça:
todas as coisas mais lindas
que você ainda vai ler por aí
um dia foram só um rascunho.
Onde esconderam a chave?

Reconhecer nossas semelhanças


para parar de odiar em você
o que eu nunca soube lidar em mim.
Entender que a cura vem com o tempo,
mas o tempo não passa em gavetas trancadas.
Meu lar é meu mundo

O momento
em que um lugar estranho
vira a sua casa
e parte de ti
fica pra sempre ali.

Quero deixar um pedaço de mim em cada lugar do mundo.


Esse dia chegou

Um dia a sua cicatriz mais profunda finalmente vai parar de coçar.


E você só vai perceber bem depois quando estiver usando a ponta dos dedos para fazer
qualquer outra coisa por você.

Um dia essa lembrança que hoje é a chave de uma caixa cheia de questionamentos,
que você esconde do mundo e de si,
vai também ser um lembrete do quão forte você é capaz de ser.

Um dia, contar a sua história em voz alta em uma mesa de bar ou em páginas de um
livro não será mais tão difícil.
Porque o tempo fez a gentileza de te mostrar que a sua história de verdade começou
bem antes de tudo aquilo acontecer e ainda está longe,
bem longe,
de terminar.
Essa rima é toda minha

Eu gosto dos meus erros


porque eles meio sem querer
rimam com os meus acertos.
Eu realmente estou fazendo isso por mim?

Faça outra vez


até a resposta ser
confortavelmente
“sim”.
Selvagem

Será que eu sou assim tão selvagem


ou simplesmente estive muito longe
das terras em que eu nasci pra florescer?
Selvagem ii

De agora em diante, todos os lugares que eu quiser serão meus,


mas minha função
não será meramente decorativa.

Meu cabelo descabelado


é só meu.
Eu sou flor
— flor selvagem.

Esse pólen é feito (de) palavras, e quando eu floresço, todas as flores à minha volta se
abrem também.

Flor selvagem, a mais livre e perigosa entre todas, que cresce a céu aberto e agora
sabe que pode florescer onde bem entender.
Mudei os móveis de lugar

É como se ao fechar meus olhos a escuridão me obrigasse a olhar para dentro.


Durante todos esses meses, a solitude me permitiu criar o hábito de observar
atentamente meus próprios pensamentos.
Sem querer moldá-los.
Apenas observá-los.

Como eles vêm, por onde eles chegam,


e quais eu deixo ficar.

Eu adoro as plantas e a luz da sala de casa, mas a mobília do lugar onde eu realmente
moro é feita de pensamentos que eu escolhi cultivar.
Lembrete

Este é um singelo lembrete


de que nem todo novo começo
está em outro lugar
ou em outra pessoa.

Podemos ainda estar percorrendo o mesmo caminho de sempre,


mas desta vez vamos olhar atentamente onde estamos pisando.
Vingança

Talvez a grande vingança


que os filmes e livros esqueceram de nos ensinar
não tenha nada a ver com fazer o outro sofrer o mesmo que você,
mas sim se curar e reconhecer
a hora de seguir em frente.
Ainda há tempo para uma nova história.
Cartas

O que as cartas me disseram


eu já sabia.

Estou livre
e tudo o que me aconteceu
(a ordem catastrófica das coisas e suas respectivas reações inesperadas acompanhadas
de uma sequência de noites solitárias e assustadoras) aconteceu porque se fosse
de qualquer outra maneira eu não teria desistido das promessas que fiz.

Um senhor de rugas finas e cabelos brancos me disse que tudo já estava escrito desde
o dia em que eu nasci e que até o meu mapa astral previa uma ruptura inesperada
— mas avisou que isso acontecer tão cedo era bom, porque através dela entraria
muita luz, como quando a nuvem sai da frente do sol e a sala inteira muda de cor.

Só a vivência traz clareza para nossas próximas experiências.

Lembro que era começo de um novo ano e eu deixei aquela sala e flutuei pelas
calçadas do bairro.
Declarei o início de uma nova era.
E um reino inteiro de vontades me seguiu.
Corpo

Por muito tempo eu não quis olhar para o meu corpo.


Durante toda a minha vida existimos no mesmo espaço, mas eu nunca estive lá por ele
como ele esteve por mim.

Eu queria que me olhassem, mas enxergassem apenas o que eu criei: meus livros,
minhas histórias e a trajetória que percorri.
Mas bastou as coisas saírem do controle para que eu me desse conta
de que me faltava o equilíbrio.

Do tornozelo aos ponteiros do relógio, dos cronogramas ao reflexo no espelho.

Eu não sou apenas o que os outros reparam.


Eu defino o que é importante agora.
E por um tempo,
deixei todas outras coisas ficarem de lado, menos eu.
Inveja

E se a inveja
na verdade for
uma pista
da direção em que uma parte de mim acredita que eu deveria estar indo, mas eu
simplesmente não consigo me ouvir com clareza?

O simples ato de me dobrar e enxergar meus pés — reparar nas cicatrizes que eu já
nem lembrava e que contam histórias da minha infância — me fazendo perceber
que eu fui e sou muito mais do que qualquer sentimento que me faça querer.
3 palavras, 7 letras e eu continuo sendo minha

“Eu te amo”
não é uma promessa
muito menos uma garantia.
“Eu te amo” é um sopro gentil do agora.
Um vento inesperado
que afasta nuvens escuras
e te faz lembrar que o sol nunca
vai deixar de estar ali.
Ruiva

Pintei as paredes de casa.


Depois me olhei no espelho
e soube:

eu nasci
pra ser assim.
Madrugada

A solidão só faz companhia


para quem não se faz companhia.
Exercício

Visitar um lugar pela primeira vez.


Não apenas ir, mas estar ali.
Percorrer com os olhos tudo à sua volta para lembrar como é descobrir
algo despretensiosamente bom.

Imaginar que aquilo faz parte de uma dança e há uma música que ninguém mais
escuta tocando na sua mente, cada cena acontecendo em câmera lenta.
Agora você consegue secretamente perceber o barulho dos pássaros,
o papel atravessando a rua com o vento e o cheiro do perfume de alguém que acabou
de passar.

Quantas coisas acontecem assim ao mesmo tempo


dentro e fora da gente?

Para onde estamos realmente olhando quando passamos por algo pela primeira vez?
Novos (velhos) hobbies

Visitar a casa dos meus pais e abrir um álbum de fotos da infância listar todas as
coisas que eu amava fazer e que, seja pelo motivo que for, foram ficando de lado.

Eu dançava, eu pintava,
eu tirava fotos pra ninguém mais ver.

Percorro o caminho de volta com o sentimento de que,


sempre que eu esquecer o que me faz feliz, a resposta estará guardada ali.
INFP

Ontem conversei com uma amiga sobre como é ser como a gente é.

(Que presente é se reconhecer no outro e perceber que não carregamos nossas


tendências nessa existência
completamente sós.)

Contei que eu me sinto estranhamente exausta depois de qualquer evento em que eu


precise performar minhas emoções e opiniões usando meu corpo e não apenas as
minhas palavras escritas (como estou fazendo agora).

Não me entenda errado.


Eu adoro sair, viver e conhecer pessoas, mas esse é um movimento que exige muito de
mim.

Volto pra casa e desmorono.


Em silêncio,
mergulho na minha cama
e respiro fundo.
Sinto uma onda me atravessar.
Não é tristeza,
nem raiva,
nem qualquer outro sentimento do qual eu saiba o nome.

O mundo me inspira mas também tira um pouco de mim.


E eu preciso de tempo
para me achar de novo toda vez.
A menina que queria entender as borboletas

Entender o que acontece com o meu corpo quando eu não estou no comando me dá
um senso de controle.

Por exemplo, quando sinto borboletas no estômago.


O que isso quer dizer?
(Além de que eu estou apaixonada, claro.) Disseram que é porque falta sangue no
estômago, já que meu corpo acredita que posso estar em uma situação de perigo e
que talvez eu precise usar meus músculos e correr a qualquer momento.

Pupila dilatada, respiração ofegante e coração acelerado.


Correr.

Veja bem, eu deveria pedir


mais conselhos
para o meu corpo.
Ame

Ame como se o mundo estivesse acabando.


Ele está.
Reencontro

Temos um encontro marcado com a nossa versão do futuro.


Eu, você, eles, todos nós.
Não há o que fazer para nos prepararmos: botox, uma fórmula mágica para se perdoar
ou uma frase pronta que muda de significado cada vez que você lê.
Viver intensamente é o meu caminho favorito, mas eu queria dizer que as notas
tomadas no dia seguinte da loucura importam tanto quanto.
Afinal de contas,
sobre o que você vai falar quando você se reencontrar?
Será que eu posso curar
em mim o que eu tenho
tentado curar no outro?
Minha história não me
define, ela me ensina.
Agora

Desejo que agora,


depois de tantas páginas viradas,
você finalmente consiga olhar pra trás sem se enroscar na culpa do que deu errado.
Desejo que hoje seja pra sempre marcado como o dia em que você finalmente
percebeu: as descobertas feitas com alguém quando se está perdidamente
apaixonado também são suas, também são você.

Essas lembranças varridas para debaixo do tapete da sala não precisam ser gatilhos e
armadilhas para sempre, não se você tiver a coragem de reconhecer que algo
genuinamente bom também aconteceu ali.

Agora que a raiva se transformou em algo que você talvez ainda nem saiba nomear e
que o rosto de quem te machucou já não tem mais tantos detalhes, desejo que
você possa falar sobre isso com alguém abertamente sem ter pesadelos; tudo de
que fugimos ao longo do dia volta à noite para nos fazer companhia.

Desejo que você possa fazer essa poeira flutuar, com o sopro da sua liberdade.
Espero que nenhum outro tempo
— nem passado, nem futuro —
te preencha e pertença tanto quanto
o agora.
Ponto-final

Quando coloco o ponto-final


em algo que escrevi,
me vem logo aquela sensação
de que eu sou capaz de tudo
que eu quiser.

Espero que este livro


te lembre disso.

O ponto-final
é sempre
seu.
Entrevista com a autora

1. Depois de livros de crônicas e romances, por que você decidiu escrever poesia?
Você acredita que os poemas têm um poder de comunicação diferente da prosa?
Não foi uma escolha pensada. Na verdade, sinto que fui escolhida e acolhida pelo
gênero em um momento que as coisas estavam extremamente confusas e instáveis na
minha vida. Algo me impedia de destrinchar e desenvolver tudo de uma vez. Meu
corpo precisava dessa força para continuar existindo. A poesia me trouxe coragem e
liberdade para olhar atentamente e perceber cada uma das minhas feridas internas que,
naquela época, ainda latejavam e me tiravam o sono. É como se eu tivesse usado a
ordem dessas palavras para me costurar de dentro para fora. No meu próprio ritmo.
Com uma linha feita de mim. Na época muita coisa não fazia sentido, mas eu me
permiti colocar tudo para fora mesmo sem ter certeza de que se transformaria em algo
palpável para alguém além de mim. Faltava técnica, mas eu transbordava sentimentos
como nunca. Acho que foi o suficiente. A escrita e o tempo ainda são os melhores
cicatrizantes que eu conheço. Transformar vivências reais em poesia é um ato de
revolução. Há sempre a opção de passar por aquilo sem deixar rastros, inserir na
ficção algum tempo depois e fingir que nunca aconteceu com a gente… mas não
consigo deixar de pensar no quanto teríamos perdido nesse intervalo. Quantas pessoas
perdem a oportunidade de completar essa jornada de autoconhecimento e precisam
justamente dessa honestidade? Olhar para todos esses poemas hoje me faz perceber
como se relacionar com o outro é também uma oportunidade única de nos
conhecermos e descobrirmos quais são nossos limites.

2. A escrita de Meu corpo virou poesia durou cerca de três anos. A Bruna que
começou a rascunhar os primeiros poemas é a mesma de agora?
Definitivamente não. Eu teria me transformado de qualquer maneira porque a vida
nunca para de acontecer, mas não teria todas as ferramentas emocionais que tenho e
uso diariamente para tomar minhas decisões. Se usufruo de alguma paz interior e me
perdoei por cada decisão feita no passado é porque em algum momento no processo
de escrita deste livro entendi que equilíbrio não é sobre estabilidade ou conseguir
desviar dos sentimentos que bagunçam a gente. É sobre ter a audácia de ir e sentir,
mas saber exatamente como voltar para si.

3. Em seus poemas, você compartilha sentimentos e observações muito íntimos. Como


é para você se entregar — de corpo e poesia — aos leitores?
As pessoas me observam diariamente nas redes sociais há mais de doze anos,
acompanharam cada fase que vivi na adolescência e primeiros anos da vida adulta,
acho que me acostumei com a sensação. Ainda assim, sei que elas só me conhecem de
verdade e por inteiro quando abrem um livro meu. A escrita será sempre a maior
conexão que tenho com quem me segue.

4. Na abertura do livro, você diz que sua cabeça virou verso, sua garganta virou
estrofe, seu pulmão virou métrica, seu ventre virou rima. E o seu coração?
Meu coração é o movimento. O ritmo. É de onde vem a energia que orquestra cada
partezinha do meu corpo e me conecta com o outro através das palavras.

5. A união entre mulheres é um tema muito importante do livro. Que mensagem você
gostaria que suas leitoras levassem consigo depois da leitura?
Sabe aquela sensação de viver algo e finalmente entender o conselho que alguém te
deu há muitos anos, mesmo que na época não fizesse sentido? Sinto que as conversas
honestas que tive com mulheres ao longo da vida frequentemente voltam como
conselhos perspicazes, e esse é um tesouro imensurável que carrego comigo. O meu
olhar atento e o meu ouvido acolhedor fazem com que esse tesouro só aumente com o
passar do tempo. Quando uma mulher cria coragem para contar sua história, muitas
outras percebem que podem fazer o mesmo. Espero que este livro seja um convite
para muitas garotas que estão quebradas por dentro e ainda acreditam na ideia errônea
de que a competição feminina é o único caminho para serem aceitas em um mundo
que foi construído para nunca fazermos totalmente parte dele.

6. Quando você decidiu que queria ser escritora?


Será que a gente decide isso em algum momento mesmo? Sempre acreditei que, de
alguma forma, todos nós somos escritores em potencial. Vamos escrevendo a nossa
história e criando nosso próprio “eu” ao longo da vida, certo? Existimos porque
observamos o outro, reagimos ao outro, aprendemos com o outro; e algumas pessoas,
tipo eu, escolhem transformar essas reflexões particulares e ideias malucas em
histórias, livros, filmes. É uma ponte invisível para que outras pessoas também
possam percorrer o seu caminho. Um jeito de fazer com que alguém também tenha a
opção de se deixar transformar, mesmo sem estar realmente ali. Esse é o superpoder
do ser humano.
Tá, vai. Uma data. A imaginação sempre esteve ao meu lado e em algum momento
da minha adolescência, quando criei o blog Depois Dos Quinze, percebi que
precisávamos urgentemente ser amigas. Desde então nunca mais me senti sozinha.
Desde então me chamam de autora.

7. Gosta de ouvir música escrevendo? Cite algumas músicas que te acompanharam


durante a escrita do livro.
Não consigo escrever em silêncio. A música é a minha melhor companhia quando
quero acessar lugares inexplorados dentro de mim. Não fui para a frente com as aulas
de piano, infelizmente, mas tenho a sensação de que, quando escrevo, meus dedos
seguem o mesmo ritmo do que estou ouvindo e isso influencia diretamente o resultado
do meu texto. Para escrever este livro criei uma playlist cheia de sons, sensações e
histórias que complementam com excelência os poemas. Ela está disponível nas
minhas redes sociais com o nome “Escrever” e os artistas vão de Aurora, Kodaline,
exes , Yael Naim, Billie Eilish, Sara Bareilles, Cyn, The Japanese House, até Regina
Spektor.

8. Em versos como “Na cidade da neblina,/ não adianta esperar o sol./ Ele nunca é
quente o suficiente”, percebemos o ambiente entrando na poesia. Como os
acontecimentos do mundo ao seu redor e o lugar onde você está impactam sua escrita?
Nos últimos anos muitos dos sentimentos que pareciam obscuros para mim só foram
compreendidos de verdade através das sensações do meu corpo físico e da relação dele
com o mundo externo. Afinal, antes de estar em qualquer lugar, eu estou em mim.
Antes de estar em qualquer relacionamento, eu preciso aprender a conviver comigo.
Muitos dos desarranjos que vivi começaram aqui dentro, e o processo de me sentir
bem na minha primeira casa partiu de um ponto de extremo desconforto e rejeição.
Meu corpo virou poesia é sobre esse movimento de transformação que pode começar
a qualquer momento e provavelmente nunca vai parar. Entender que eu não controlo
os acontecimentos do mundo ao redor me fez ter ainda mais vontade de tomar
consciência do que é realmente meu, do que eu sou agora e de quais são as minhas
fronteiras invisíveis. O universo conversa comigo o tempo inteiro através do meu
corpo. Deixa pistas de qual parte, interna ou externa, mais precisa de atenção. Achei
que seria egoísmo guardar essas pistas só pra mim.

9. Se você pudesse voltar no tempo e entregar um único poema deste livro para a
Bruna de cinco anos atrás, qual seria? Por quê?
Seria “Semente”, poema que tem um verso que deu nome ao livro. Poucas pessoas
sabem como ele nasceu e a história merece ser compartilhada aqui. Em uma
madrugada quente de fevereiro acordei sem motivo aparente. Depois de alguns
minutos lutando contra a insônia, luta recorrente na minha vida, me rendi e peguei o
celular. Havia uma notificação de e-mail de um amigo chamado Pedro Chiovitti com o
resultado de um vídeo despretensioso que gravamos dias antes no meu apartamento.
Eu tinha me mudado havia poucas semanas e ainda estava me acostumando com a
ideia de morar em São Paulo outra vez. Nem todo mundo tem a oportunidade de se
assistir através do olhar artístico de um profissional tão talentoso, mas ainda bem que
eu tive. Quando fechei os olhos de novo, fui inundada por cada verso daquele poema.
Eu não tinha como não anotar aquela sequência de palavras tão poderosas que foi
saindo pelos meus dedos em pouquíssimos minutos. Meu peito ficou leve quando
escrevi a última palavra e li tudo em voz alta. Alguns dias depois o vídeo foi
publicado junto com o poema e em poucas horas viralizou nas redes sociais. Acho que
muitas pessoas se sentiram compreendidas e até me conheceram ali. Veja, eu não
mudaria a ordem das coisas porque acho que cada experiência é importante para o
nosso amadurecimento. Gosto muito mais de quem eu sou hoje do que eu gostava há
cinco anos. Soube quando eu publiquei. Esse poema é mais íntimo do que uma foto
minha nua.

10. Que dicas de leitura você daria para quem gostou dos seus poemas e agora deseja
se aventurar por outros versos? E que livros de outros gêneros você gostaria de
recomendar?
A poesia me fisgou quando eu estava em outro país e queria muito melhorar meu
inglês. Não dominar a língua do lugar onde eu queria tanto me adaptar era
extremamente frustrante e limitante pra mim. Minha voz é tudo o que eu tenho, minha
ferramenta de trabalho e a forma como me conecto com os outros, e lá todas as coisas
que eu pensava não saíam pela minha boca do jeito que eu imaginava. A maioria eu
nem conseguia dizer em voz alta por medo de errar e envergonhar quem estava por
perto. Poesia era um gênero que não exigia tanto vocabulário e por coincidência foi o
que mais me acolheu durante esse período estranho. A cada visita à Urban Outfitters
eu voltava pra casa com um livro novo. Li Rupi Kaur, Nayyirah Waheed, Cleo Wade e
Courtney Peppernell. Outras leituras que me ajudaram a entender tudo o que eu estava
vivendo foram A ciranda das mulheres sábias e Mulheres que correm com os lobos da
Clarissa Pinkola Estés, Lua vermelha da Miranda Gray, Grande magia da Elizabeth
Gilbert e De amor tenho vivido da Hilda Hilst.
Agradecimentos

Obrigada Luzia por me ensinar o que é o amor; Catarina por me ajudar a entender
as palavras que eu ainda não sabia traduzir; Marcela por ser minha
primeira amiga quando eu cheguei ali; Mari por ter nos recebido em sua
casa; Mila pelas conversas tão lindas e transformadoras; Fernanda por ter
viajado o continente para ficar por perto; Auana pela mensagem escrita
em folhas de papel e espalhadas no chão; Anita e Victoria pelas noites
divertidas no karaokê em Marina District; Nath por me buscar de carro e
mostrar outros horizontes; Isabelle por me lembrar como meu corpo é
incrível; Bia por ter ficado ao meu lado quando precisei; Ivana por me
ouvir quando eu só conseguia chorar; Ivani por cuidar de tudo enquanto
eu escrevia este livro; Ariane por me entender mesmo depois de tanto
tempo; Ligia por nunca desistir da nossa amizade; Inha por me mostrar
como é importante ser independente; e Alê por acreditar que tudo isso
renderia um livro.
tom rodrigues (@aredead)

bruna vieira é blogueira, youtuber e escritora. Nasceu em 1994 em Leopoldina


(mg ) e atualmente mora em São Paulo. Aos quinze anos, criou o blog Depois Dos
Quinze, para superar uma desilusão amorosa, e logo reuniu milhões de seguidores.
Foi colunista da revista Capricho e hoje compartilha suas ideias em seus livros,
podcast e redes sociais.
É autora de Depois dos quinze (Gutenberg, 2012), De volta aos quinze (2013),
De volta aos sonhos (2014) e A menina que colecionava borboletas (2014); das
graphic novels Quando tudo começou (Nemo, 2015) e O mundo de dentro (2016),
com Lu Cafaggi; além de ter participado da coletânea Um ano inesquecível
(Gutenberg, 2015).
Copyright do texto © 2021 by Bruna Vieira
Copyright das ilustrações © 2021 by Brunna Mancuso O selo Seguinte pertence à Editora Schwarcz
S.A.

Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor
no Brasil em 2009.

capa e projeto gráfico Elisa von Randow


ilustração de capa Brunna Mancuso
preparação Stéphanie Roque
revisão Carmen T. S. Costa e Huendel Viana
versão digital Rafael Alt
isbn 978-65-5782-265-4

Todos os direitos desta edição reservados à


editora schwarcz s.a .
Rua Bandeira Paulista, 702, cj. 32
04532-002 — São Paulo — sp
Telefone: (11) 3707-3500
www.seguinte.com.br
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Oli procura uma (nova) melhor amiga
Tokitaka, Janaina 9786557823163
112 páginas

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Neste livro superdivertido, uma garota vai se meter nas maiores confusões
para conseguir encontrar, a qualquer custo, uma nova melhor amiga.

Oli e Fafá são melhores amigas. Elas estão sempre juntas no intervalo, não
perdem um episódio da novela coreana de que mais gostam e até inventaram a
melhor comida do mundo, o coxinhole (metade coxinha, metade rissole). Mas
quando Fafá conta que vai mudar de escola, o mundo de Oli vira de cabeça para
baixo: como é que ela vai sobreviver sem a sua fiel escudeira?
Ela decide, então, tomar uma atitude e encontrar logo uma nova melhor amiga.
As candidatas são Valentina, Fernanda, Nina e Tábata. Mas as garotas têm
personalidades muito diferentes, e Oli vai ter que ser bastante criativa para tentar
se aproximar de cada uma delas — uma tarefa bem mais difícil do que parece.
Nessa narrativa leve e muito engraçada, Janaina Tokitaka apresenta aos jovens
leitores uma menina determinada e que não tem medo de errar — que ganha
ainda mais graça com os traços do ilustrador Fits.

Indicado para leitores a partir de 8 anos.

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Se não fosse por você, eu não estaria aqui
Vários autores 9788554517861
75 páginas

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Se você pudesse mandar uma carta para si mesmo quando adolescente, o


que diria? Convidamos os participantes da quarta edição da Flipop a fazer
exatamente isso, e o resultado você encontra nesta coletânea gratuita.

A adolescência é um período cheio de descobertas, mudanças e escolhas —


algumas sem grandes consequências, outras absolutamente determinantes na
nossa vida. Imagine poder reencontrar quem você foi na adolescência e poder dar
conselhos (ou spoilers!) que só alguém que sabe como a história termina pode
dar.
A Editora Seguinte convidou os participantes da quarta edição do Festival de
Literatura Pop (Flipop) a escreverem uma carta com tudo o que diriam para eles
mesmos quando adolescentes. O resultado é uma reunião de testemunhos
honestos, ora repletos de humor, ora de angústia, ora de alívio — mas sempre
carregados de sentimentos. Algumas mensagens trazem conselhos aparentemente
banais, como olhar para os dois lados antes de atravessar a rua, outras pedem que
nada seja feito de forma diferente. Seja como for, essas vinte e seis cartas
mostram que a adolescência é muito mais do que só uma fase — é por ter
passado por ela que chegamos aqui hoje.
Com cartas de Adriel Bispo, Alba Milena, Alec Silva, Aryane Cararo, Beatriz
D'Oliveira, Bruna Vieira, Carol Christo, Clara Alves, Felipe Castilho, Gabriel
Mar, Giulia Paim, Iris Figueiredo, Jana Bianchi, Jim Anotsu, Koda Gabriel, Leo
Hwan, Lorena Pimenta, Luiza de Souza, Mia Roman, Nanni Rios, Natalia Borges
Polesso, Rebeca Kim, Samuel Gomes, Thalita Rebouças, Tiago Valente e Vitor
Martins.

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Blackout
Clayton, Dhonielle 9786557823170
272 páginas

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Seis autoras extraordinárias. Seis histórias de amor entrelaçadas. Uma noite


que tinha tudo para ser um desastre — mas acaba sendo brilhante.

Uma onda de calor causa um apagão em Nova York. Multidões se formam nas
ruas, o metrô para de funcionar e o trânsito fica congestionado. Conforme o sol
se põe e a escuridão toma conta da cidade, seis jovens casais veem outro tipo de
eletricidade surgir no ar…
Um primeiro encontro ao acaso. Amigos de longa data. Ex-namorados
ressentidos. Duas garotas feitas uma para a outra. Dois garotos escondidos sob
máscaras. Um namoro repleto de dúvidas.
Quando as luzes se apagam, os sentimentos se acendem. Relacionamentos se
transformam, o amor desperta e novas possibilidades surgem — até que a noite
atinge seu ápice numa festa a céu aberto no Brooklyn.
Neste romance envolvente e apaixonante, composto de seis histórias interligadas,
as aclamadas autoras Dhonielle Clayton, Tiffany D. Jackson, Nic Stone, Angie
Thomas, Ashley Woodfolk e Nicola Yoon celebram o amor entre adolescentes
negros e nos dão esperança mesmo quando já não há mais luz.

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O príncipe
Cass, Kiera 9788580866827
72 páginas Compre agora e leia

Antes que trinta e cinco garotas fossem escolhidas para participar da


Seleção... Antes que Aspen partisse o coração de America... Havia outra
garota na vida do príncipe Maxon.
Conto inédito e gratuito, O Príncipe não só proporciona um vislumbre dos
pensamentos de Maxon nas semanas que antecedem a Seleção, como também
revela mais um pouco sobre a família real e as dinâmicas internas do palácio.
Você descobrirá como era a vida do príncipe antes da competição, suas
expectativas e inseguranças, assim como suas primeiras impressões quando as
trinta e cinco garotas chegam ao palácio. É uma leitura indispensável a todos que
terminaram A Seleção e ficaram querendo mais! Ao final, contém os dois
primeiros capítulos de A Elite, segundo volume da trilogia.
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Venha o que vier
Rowell, Rainbow 9786557822906
560 páginas

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No aguardado desfecho da trilogia Simon Snow, nossos heróis tentam seguir


em frente de uma vez por todas — mas ainda há algumas perguntas a serem
respondidas.

Em Sempre em frente , Simon Snow e seus amigos perceberam que tudo o que
sabiam sobre o mundo podia estar errado. E em O filho rebelde , eles se
perguntaram se o que estava errado era o que sabiam sobre si mesmos.
Em Venha o que vier , Simon, Baz, Penelope e Agatha procuram um jeito de
seguir em frente.
Para Simon, isso significa decidir se ainda quer fazer parte do Mundo dos Magos
— e, se não quiser, o que isso representa para seu relacionamento com Baz?
Enquanto isso, Baz está dividido entre duas crises familiares e sem tempo algum
para compartilhar com alguém seus novos conhecimentos sobre vampiros.
Penelope adoraria ajudar, mas trouxe um americano normal para Londres e não
tem ideia do que fazer com ele. E Agatha? Bom, Agatha Wellbelove já está farta
de aventuras.
Venha o que vier leva os quatro amigos de volta à Inglaterra e à Watford e às suas
famílias. Cada um a seu modo, todos estão prestes a viver a aventura mais longa
e emocionalmente dolorosa de todos os tempos.
A conclusão dessa saga, que começou como uma história sobre o Escolhido,
chega revelando segredos, dando as respostas que faltavam e resolvendo todos os
mistérios. Venha o que vier é um livro sobre colocar um ponto-final nos lugares
certos, sobre catarse e conclusão, sobre escolher seguir em frente apesar dos
traumas e dos triunfos que tentam nos definir.

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