Meu Corpo Virou Poesia Bruna Vieira
Meu Corpo Virou Poesia Bruna Vieira
Meu Corpo Virou Poesia Bruna Vieira
Capa
Folha de rosto
Sumário
Epígrafe
Dedicatória
Como eu vim parar aqui?
Cabeça
Jardim
Despertar
Tesouro
Incompleto
Sinta
Tá sempre faltando um pedaço de mim
Como dizer adeus para alguém que eu inventei?
Até eu esquecer seu cheiro
Os detalhes que eu perdi
Incêndios por toda parte
Pista
Os sinais que o seu corpo te dá
Nosso café agora é só meu
A gente é inteiro
Seu defeito também é você
Novas memórias em lugares que não tinham culpa alguma
Universo
Amar é maré
Onde foi parar a amizade que eu cultivei aqui?
Cenotes
Semente
Garganta
Nós
Coragem
Essa lágrima não vai matar a minha sede
Ruído na comunicação
Quem apagou a luz?
Esconderijo
Cuidado
Passageiro sem bilhete
Será que já sarou?
Casa
Memória
Afundo
Amuleto
Uma luz
Caça ao tesouro
Obrigada
Liberdade
Dentro
Armadilha
Pulmão
Reconhecimento
Sobre a beleza
O tempo e as certezas
Para minhas irmãs mais novas
Estranhamente familiar
No escuro
Alguém com muitos detalhes
Niggling
Um pássaro me ensinou
Ocupe-se
Ventre
Todo amor
Mulher
A ponte
Podemos ficar em silêncio sem parecer estranho?
Casa é onde você se reconhece
Da importância que você dá
Celebre as mudanças
O ritual
Espelho
Escolhas
Cada vez que eu penso
Ao mesmo tempo
Seu corpo
Floresça
O sol tem sempre um convite a fazer
Casca de banana
Projeção
Rede
Amor-próprio
A palavra que eu não sei dizer
Mãos dadas
O barulho que quase mais ninguém escuta
Troca
Fugiria
Depois
Diferentes
Organização
Eu só sei fazer amor
Espaço
Transição
Idiota
Escolha
Cicatrização
Direção
Desculpa
Provisório e definitivo
Onde esconderam a chave?
Meu lar é meu mundo
Esse dia chegou
Essa rima é toda minha
Eu realmente estou fazendo isso por mim?
Selvagem
Selvagem II
Mudei os móveis de lugar
Lembrete
Vingança
Cartas
Corpo
Inveja
3 palavras, 7 letras e eu continuo sendo minha
Ruiva
Madrugada
Exercício
Novos (velhos) hobbies
INFP
A menina que queria entender as borboletas
Ame
Reencontro
Agora
Ponto-final
A ideia deste livro surgiu há alguns anos e me acompanhou dia após dia,
ininterruptamente, desde que tomei a decisão de chamar um lugar desconhecido de
casa.
Sem que ninguém entendesse bem meus motivos, em 2017 juntei minhas coisas e fui
viver em outro país, vestida de toda a coragem que, felizmente, nunca me faltou. Acho
que eu era a pessoa mais feliz naquela fila de embarque, porque estava convicta de
que sentimentos são mais fortes que tudo.
Acho fascinante perceber como a inspiração não flui quando não estamos sendo
honestas com nossas escolhas de vida. Quando eu me perdi, de alguma forma, ela
também se perdeu de mim. Levou um tempo até eu entender por que minhas palavras
não se encaixavam mais. Eu queria, mais do que tudo, me libertar e escrever sobre
todas as coisas que eu estava vivendo ali, em tempo real, mas algo estava quebrado à
minha volta.
Por mais que isso estivesse óbvio, eu fui a última a perceber.
Não me arrependo de nada — caso contrário, estas páginas ainda estariam em branco
e eu não seria quem me tornei, mas quis seguir com a ideia de falar honestamente
sobre o que sinto, porque é assim que eu lido com tudo. Desculpe se de alguma forma
fiz você acreditar em alguma ilusão ou ideal que criei. Foi difícil demais acreditar que
tanto esforço, tanta energia, tanto sentimento foram em vão.
Mas este livro não é um pedido de desculpas. É um mapa. É meu caminho de ida e
volta para casa, relatos reais repletos de lembranças, aprendizados e cicatrizes de
alguém que sempre vai se orgulhar de ter o amor como prioridade na vida.
Minha cabeça virou verso.
Minha garganta virou estrofe.
Meu pulmão virou métrica.
Meu ventre virou rima.
cabeça
Enquanto caio e o vento me carrega, eu vejo o céu sinto o calor do sol e o cheiro do
mar.
Eu me curvo me dobro
me escondo
e te imploro: não me deixe cair do seu bolso eu caibo em qualquer lugar.
Pra onde você iria se o seu lugar mais seguro do planeta te pedisse pra desaparecer
de uma hora pra outra?
Você sumiria?
Eu me apaixonei
por todas as pequenas coisas que tínhamos em comum
e que ninguém mais conseguia enxergar.
Era o nosso superpoder
enfrentar o óbvio
confundir os padrões
rir do improvável.
Eu te amei nos mínimos detalhes dos que me ensinavam até os que me confrontavam.
Eu via algo que passava despercebido para todos eles e que você me mostrou em raros
momentos de descuido — eu os guardei na memória como tesouro, ações que
valorizaram com o tempo.
Eram raros porque não eram comuns na sua vida até ali, imaginei.
Achei que poderia te mostrar como é importante sentir como faz bem amar
sem fazer as contas.
Da carta que sua avó nunca recebeu até a lágrima na beira da piscina depois da nossa
primeira conversa profunda, sensibilidade não é uma fraqueza, mas quanto mais
vulnerável eu me tornei menos você se enxergou em mim.
Seguimos em sentidos opostos, mas será que algum dia estivemos na mesma direção?
Incompleto
Achei um caderno antigo com frases incompletas rabiscos de uma época em que eu,
em voz alta, éramos nós.
Me perguntei em silêncio, enquanto a poeira flutuava, quantas vezes será que usei a
minha preciosa imaginação para fantasiar uma outra versão de você?
Dias de sol,
a grama do palácio
e os nossos pés se esquentando antes de dormir.
Eu queria que todos te vissem como eu te enxergava de olhos fechados.
Agora que já não há mais nada seu, as páginas não param de se preencher e me
preencher.
Cheguei à conclusão de que desistir do ideal que criamos de alguém às vezes é mais
doloroso que se despedir da própria pessoa.
Nos despedimos de vez, mas como eu me despeço de alguém que eu criei e que
sempre existiu só dentro da minha cabeça?
É uma diferença sutil mas que liberta de um monte de culpa e colore o passado
com as cores
da verdade.
O jeito que eu enxergava as coisas ou como elas parecem quando resgato uma
memória antes de dormir — assim como a minha paleta de cores favorita ou um
filtro do Instagram — é só uma parte.
E olhar para trás e enxergar tudo com clareza, as partes boas e ruins,
ensina que admitir
é mais fácil.
Até eu esquecer seu cheiro
Por que eu me importaria com o que vou usar amanhã se a angústia é a minha primeira
pele e ela apaga todas as outras cores lá fora?
Já é outro dia a neblina cobriu o sol mais uma vez há fumaça por toda parte
respirar aqui é como fumar 365 cigarros.
Eu nunca fumei
mas estou aqui
vivendo pouco
e morrendo depressa.
Sinto frio.
Sinto medo.
Quero parar o mundo.
Quero que o mundo gire ao contrário.
Todas as bugigangas que comprei para preencher os espaços agora estão na casa de
estranhos.
Todo mundo aqui é estranho.
Então decidi deixar todas as coisas que nunca foram minhas e carregar apenas o meu
corpo e a minha crença
para um lugar seguro.
Confie nos sinais que o seu corpo te dá tanto quanto você se importa com o que os
outros falam ou pensam sobre você
— isso sempre diz muito mais sobre eles.
Seu corpo te conhece desde o dia um, os outros te encontram no meio do caminho.
Será que eu realmente gostava
de você ou da ideia de estar
gostando de você?
Se eu me deixar
você não vai mais ter sido o único
a fazer isso.
Nosso café agora é só meu
Espalhei a culpa por aí: culpei o vento, o tempo e as tardes que viravam noites rápido
demais.
A cidade nunca foi o problema nem as horas de espera.
Eu apenas não me encaixava mais no que você se tornou.
Quem se encaixaria?
Eu fui para muito distante de mim só para ficar mais perto de você.
Mas agora estou voltando a pé.
É um longo caminho,
mas eu sei nadar
nas lágrimas,
eu sei escalar
os prédios mais altos da cidade.
A vista é mais bonita quando você não está por perto porque eu não preciso tentar te
fazer reparar.
Ainda é um longo caminho, mas ao menos agora eu consigo apreciar as flores.
E as cores.
E as letras das músicas que um dia eu cantei pra você e que agora me lembram de
quem nós nunca fomos.
Não aconteceu.
Universo
Um fato curioso que eu só percebi depois é que eu costumava ser amiga de todos os
seus amigos — a mais gentil, a mais legal, pra quem vinham pedir conselhos.
Você nunca se interessou em conhecer os meus.
Seus amigos,
apesar das minhas tentativas,
nunca foram nossos amigos,
sempre foram só seus.
Um minuto de silêncio por todos os minutos que eu fiquei em silêncio achando que o
que eu iria falar era besteira.
Quando você tentou me calar e tirou de mim as palavras, meu corpo virou poesia.
Minhas curvas mudaram.
Hoje sou versos e estrofes, cicatrizes e histórias,
de uma arte que você nunca realmente conseguiu entender.
Não carrego em mim culpa, porque agora eu finalmente entendo: você jamais me
enxergaria de verdade.
E eu não aguentaria ser invisível pra sempre.
Não sou meu sucesso e minhas conquistas sem todo o meu drama e sensibilidade.
A melhor parte de mim não cabe na capa, nem em listas ou num extrato bancário.
Um dia, você admirou tudo o que eu construí, mas no outro quis jogar fora os meus
tijolos mais importantes, e sem nem perceber,
fui pra muito longe de mim.
Pra te agradar,
eu fui tirando
tijolo por tijolo
do lugar.
Como amiga, desejo que você sinta a liberdade e a paz de dormir sabendo que fez
absolutamente tudo que poderia ter feito.
Nem que seja para finalmente
colocar um ponto-final nessa quase história de uma pessoa só.
Ouvi dizer que amor-próprio ainda é o jeito mais corajoso de amar.
Essa lágrima não vai matar a minha sede
Tropeço na ordem das coisas, começo com a certeza de que amo, vejo graça em suas
maiores inconveniências, enquanto você se distrai com os privilégios.
Te empurro para um pedestal invisível, onde toda a fumaça
e toda a luz que projeto
transformam um monstro
em uma espécie de divindade.
Sua pele é macia,
mas há textura em suas palavras.
Pela manhã, faço dos incontáveis hematomas em minha pele uma pintura em aquarela
com todas as cores e formas que sempre nos faltaram.
Há algo que nunca encontrei nos seus olhos mas que sempre escorreu
involuntariamente dos meus.
Ruído na comunicação
Se você não se conhece bem e aceita a sua pior versão, provavelmente não saberá
apreciar quando estiver se aproximando da sua melhor.
A luz de ser quem se é da forma mais crua possível sem medo do que o resto do
mundo pode vir a pensar só se faz necessária se um dia você precisou descobrir o
que é
estar na escuridão.
Depois de um tempo com a luz apagada seus olhos vão enxergar através do que ainda
é desconhecido.
E eles vão ver mais que antes.
Com atenção.
Acordei pensando na minha pele, essa camada de que sou feita e que me protege do
mundo.
Mas penso também em todas as outras invisíveis, que ninguém consegue tocar, mesmo
quando eu quero que o façam.
Camadas invisíveis que eu criei para me proteger e me adaptar e que moldam cada
pensamento meu e cada decisão que tomo.
Das palavras que formam este verso até as frases que eu nunca disse em voz alta e
foram ficando para depois, mas que nunca morreram em mim.
Só vá para o fundo
se você souber nadar de volta
sozinha.
Passageiro sem bilhete
Você não terá o meu amor assim tão fácil e eu explico o motivo.
Ninguém merece a minha tranquilidade se não tiver coragem de dançar com o meu
caos.
Você não fará parte da minha história se não tiver tempo para ouvir o que eu escrevi
até aqui.
Minhas fraquezas nunca mais serão usadas contra mim.
Elas são as arestas que dão forma ao meu corpo.
Meu silêncio é o grito mais forte que já dei e por dentro ecoa apenas a minha voz.
Veja graça em cultivar as flores do jardim e abrir a janela pela manhã (talvez até se
surpreender com o tempo) tanto quanto você se satisfaz em segredo antes de
dormir
ao tentar tirar as casquinhas dos machucados que ainda estão cicatrizando.
Espero que as suas raízes sejam presas em terra firme para que nenhum vento te leve
pra longe de ti.
E que as piores tempestades te façam florescer de todas as cores possíveis.
Que ao amanhecer
o sol apareça
pra esquentar sua alma e seus pés gelados.
Você precisa aprender a ver o medo como um portal, a dor como um processo, a
sombra como um jeito de finalmente apreciar a luz.
É através das rachaduras na parede que a luz entra.
Nossos sentimentos são pilares.
Sua casa é
você.
Memória
Então, hoje, especialmente hoje, desejo que você se lembre como é bom
se apaixonar perdidamente por todas as suas versões.
Das mais lindas até as que não mostramos pra quase ninguém.
Da luz que deixa tudo mais bonito até a sombra que nos obriga a confiar no
desconhecido.
Amar a si mesma é o equilíbrio pra viver todas as aventuras mais lindas desta vida e
saber exatamente o caminho de volta pra si.
Obrigada
Sinto no peito essa vontade um impulso de fugir pra bem longe mas sem usar as
minhas próprias pernas.
Fugir de mim
e começar de novo.
Lembro das vezes que me senti mais livre e sei que foi quando me apaixonei porque
dei espaço em mim para o outro e dei pro outro o mapa de como eu me sinto.
No caminho até aqui eu perdi tanta coisa (isso me assusta) mas respiro fundo, o ar
preenche cada centímetro do meu pulmão e logo depois me obriga a deixá-lo ir.
A beleza é temporária
mas é o que fazemos quando nos sentimos belos que geralmente nos torna eternos.
Ao contrário do que dizem, se sentir belo não é sobre como todos te enxergam, mas
sobre como confortavelmente você existe em seu corpo e transita entre cada uma
de suas versões, preenche cada um de seus espaços reconhecendo a importância
de que o que falta
é também o que sobra.
A beleza é temporária mas ela nos ensina tanto sobre o tempo e sobre por que nos
transformamos no que não queremos ser para entendermos o que é realmente
nosso e o que é do mundo.
Em minha breve existência andei observando a beleza que sobressai e tem a ver com
ter o que poucos podem ter, o padrão com que alguns nascem e com o qual outros
morrem.
O quão injusto é querer se transformar no outro sendo que nossa maior qualidade é ser
único?
Pois beleza de verdade é sobre o que temos dentro e vamos lapidando com o tempo,
sobre a coragem de ser vulnerável e admitir que somos belos porque nos
permitimos ser feios.
Quando foi a última vez que alguém reparou em você por dentro ou que você permitiu
a alguém realmente te conhecer?
Tenho medo de estranhar o que é bom por ter ficado tanto tempo aceitando
e me adaptando
ao que não é.
Não quero cair num padrão de algo que me machuca só porque agora a dor soa
estranhamente familiar, mas não preciso me machucar de novo e ver o sangue
escorrer pra fingir
que as antigas cicatrizes não estão mais aqui.
De alguma forma,
o passado vai ser sempre menos assustador que o desconhecido.
Não é porque você consegue prever o próximo movimento que a pessoa ou a memória
se tornam necessariamente
o lugar certo para você se refugiar.
Quando fechamos os olhos dizemos para o nosso corpo que tudo vai ficar bem, mas
para onde você vai quando tudo fica escuro?
Alguém com muitos detalhes
Eu me fascino pela complexidade de quem já não precisa provar nada a ninguém por
meio de um combinado de clichês fora de ordem e sem rima, porque é isso que
somos no fim das contas, mas alguns disfarçam bem.
Detesto disfarces.
Quero ter a sorte de esbarrar por acaso com quem tem algo a dizer e que diga com
muito entusiasmo enquanto sorri, mesmo que eu particularmente não entenda ou
pareça banal.
É a enorme paixão por algo que me atrai.
Eu me apaixono pela paixão dos outros.
Quero aprender algo novo e inesperado sem precisar esquecer tudo o que eu sei.
Descobrir que futebol não é tão chato que nem toda festa é barulhenta
e que a melhor droga ainda é o amor.
Algo que me irrite, mas irrite ainda mais quando não acontece.
Quero alguém com muitos detalhes
para que eu passe a vida toda reparando.
O ato de projetar no outro sua própria insegurança criar um elo de desconforto uma
ponte de ansiedade tentar fazer com que alguém além de você sinta o gosto
amargo
da sua boca.
Não se preocupe.
Ninguém vai entender.
Só você.
Pensamentos evaporam.
Guarde e enterre a ordem de suas palavras como um tesouro.
E mesmo que eles destruam a floresta, descubram uma nova mina de ouro e calem
todos os pássaros da manhã, você sempre terá para onde ir.
Um brinde à mulher que você é e a todas as outras que precisou ser para que você
finalmente existisse.
Obrigada.
Desejo que olhe para o seu passado com o carinho que hoje cuida de uma amiga que
erra.
Se não formos amigas de todas as nossas antigas versões e nos acolhermos,
perdoarmos e entendermos, lutaremos sem a nossa própria história.
Perderemos cada uma de nossas batalhas — as internas e as externas.
Um brinde à mulher que você será e a todas as coisas que ainda te doem e que te
lembram como é bom viver.
À sensibilidade de ser extremamente vulnerável e forte.
Pelo menos uma vez por dia sente-se com as suas emoções fale com a sua intuição
busque a si mesma antes de esperar tanto do outro mude de ideia mil vezes.
E lembre-se: quem é rígido quebra. Quem é macio se acolhe.
Feliz dia da mulher
pra quem tem coragem
pra quem tem medo
pra quem nasceu
ou se descobriu
e pra quem morreu e nem teve tempo de ver o jardim tão lindo e cheio de espinhos
que estamos cultivando aqui.
A ponte
Sinto falta
de intimidade
espontânea,
mas nem sei
se isso ainda existe.
Casa é onde você se reconhece
Não é sobre me sentir segura (provavelmente eu nunca vou me sentir segura aqui),
mas é sobre me sentir verdadeiramente parte de algo.
Aqui serei sempre a garota do interior, nunca pretendo me livrar do meu sotaque, mas
nesta tarde ensolarada de fevereiro, me fez bem constatar: não há outro lugar no
mundo que eu gostaria de estar neste exato momento além de São Paulo.
Se olhe
de fora pra dentro
de dentro pra fora.
Se enxergue
com os olhos
de alguém que
jamais conseguiria
viver sem você.
Sinta o carinho da sua mão
percorrer o seu corpo
e descubra um caminho
que sempre foi só seu.
Permita que o silêncio te deixe escutar
mas se quiser aumente o volume
da música que diz por você.
Grite bem alto,
chore até a última gota não se render à gravidade,
evapore,
seja chuva,
seja mar,
banhe-se em ti.
Cada vez que eu penso em fazer algo que sei que vai me sabotar emocionalmente, eu
bebo um copo de água, desligo o celular e vou dançar alguma música sozinha na
frente do espelho.
Abrir a janela e sentir o sol esquentando a minha pele também funciona.
Ao mesmo tempo
Seu coração se contorce para bombear o sangue que percorre cada centímetro do seu
corpo.
Ao respirar seu pulmão estica e encolhe.
A imagem desta página atravessa sua córnea e chega à íris, que regula a quantidade de
luz graças à sua pupila.
Talvez você esteja com frio e sua pele arrepie ou alguns de seus fios de cabelo tenham
ficado para trás ao longo do caminho e você nem percebeu.
Respeite os processos do seu corpo, os que você controla, mas principalmente os que
não estão no seu controle.
Seu corpo
A cura vem do processo de entender que somos indivíduos diferentes e nem todas as
nossas escolhas são feitas propositalmente para machucar o outro.
A complexidade da incontrolável decorrência dos fatos enquanto a vida acontece
e das inúmeras camadas das quais somos feitos é tão única que nem mil anos de
convivência fariam dois indivíduos que se amam terem exatamente a mesma
vivência de um relacionamento.
Se é diferente pra quem está ali, imagina pra quem assistiu de fora?
Nossas emoções fluem dentro do corpo como rios de água doce que vão em direção ao
mesmo mar, mas os obstáculos vão sempre ser diferentes para cada um de nós.
Acredito que o nosso mapa
começou a ser desenhado no momento em que nascemos.
Depois, quando aprendemos a observar os nossos pais ou sentir a ausência deles.
Quando tentamos explorar o nosso pequeno mundo e somos incentivados ou
reprimidos.
Lembre-se: enquanto ainda estivermos agindo nos baseando na maneira que o outro
interpretará nossas ações, prevendo reações, não estaremos completamente livres.
E esse é um movimento em vão,
simplesmente porque estamos nos baseando num ponto de vista inventado.
Nunca teremos absoluta certeza de algo que não acontece dentro da gente.
E o dia que tivermos,
provavelmente perderá toda a graça.
Vendo aqui de fora, você é uma linda paisagem, e cada curva, cada flor, cada bater de
asas importa.
Floresça.
O sol tem sempre um convite a fazer
Começamos a nos encontrar todos os dias no mesmo horário, nas primeiras horas da
manhã ao abrir a janela e no banco de madeira da praça do bairro em que eu
morava.
Eu quis muito que nossos encontros durassem mais, mas ele sempre se despedia no
fim da tarde e deixava de presente uma pintura em aquarela com minhas cores
favoritas no céu.
Nos dias nublados, eu me agasalho à sua espera, faço chá e esquento as mãos na
minha caneca favorita.
Nos dias mais quentes, eu visto o meu menor biquíni e deixo as abelhas dançarem em
volta de mim.
Essa é uma história de amor pra você que cansou de histórias de amor.
O sol tem sempre um convite a fazer.
Casca de banana
Perdoar consiste em muitas coisas ao mesmo tempo, mas nenhuma delas muda o que
te aconteceu.
E talvez por isso seja tão difícil abrir mão dos personagens que moram no fundo
da memória,
dos antagonistas dessa história horrível e triste, que você se conta
de novo
e de novo,
mesmo sem querer,
antes de dormir.
Eu acredito na sua história, mas não acho que é a única versão, e provavelmente
também não será a de quem te machucou.
É como uma casca de banana
que você deixa cair na rua em que passa todos os dias
na esperança de ele passar também.
Mas é só você que escorrega,
cai e se machuca
de novo
e de novo.
Não há um atalho que te faça pular para o fim desta linha do tempo, para evitar toda a
luta, todo o luto e toda a dor.
Há um caminho que precisa ser percorrido, e ao longo dele você vai entender que o
único elo que realmente te prende e te puxa de volta a alguém que te fez mal no
passado vem da necessidade de controle, da sua vontade de mudar o jeito que as
coisas aconteceram ou ao menos a maneira como o outro se sente a respeito.
Mas isso não é sobre o outro,
é sobre você,
e eu sei que você é muito mais que algo de ruim que te aconteceu.
Então, se eu pudesse te dar apenas um conselho, seria: antes de dar o próximo passo,
tire a casca de banana.
Há outros jeitos imensamente mais divertidos de cair por aí.
Projeção
Garota, como você sempre teve tanta certeza do que tem lá no fundo do seu coração se
você nunca teve a coragem de seguir em frente no seu próprio ritmo?
A palavra que eu não sei dizer
Não é não.
Mãos dadas
E se eu te disser
que você tem o barulho
do mar dentro de si?
Deveríamos querer
flutuar de mãos dadas
com alguém que já sabe
da sua própria maré.
O barulho que quase mais ninguém escuta
Eu gosto do barulho
que o silêncio faz
quando reencontro
todos os meus desencontros
e tiro de mim
por intermédio das palavras
o desconforto
de um peso
que nunca foi meu.
E nos espaços que ficam
numa respiração profunda
eu me estico
me sinto
e me alongo.
Também sou feita
de vazios.
Troca
O que o início
faria se soubesse
que o fim
não se importa?
Depois
Há dias de profundo silêncio, em que tudo o que quero é o oposto do que devo.
E eu me enrosco
no agora de todas as coisas que são para depois.
E vou adiando a vida só para que o tempo, que passa mesmo quando tudo não se
move, me transforme
na minha pior inimiga.
E você perca o seu posto por breves instantes de minha própria irresponsabilidade.
Diferentes
A sua página oito não é a mesma página oito do livro da vida de outra pessoa.
Não é a sua história.
Não dá pra exigir que, mesmo vivendo o mesmo momento, olhando para o mesmo
problema, sangrando da mesma ferida, o outro entenda absolutamente como você
se sente.
É que as pessoas deixam pequenas marcas invisíveis quando nos atravessam e vão
embora.
Mas todos os dias, ao abrir os olhos pela manhã e apoiar o peso da vida sobre os pés,
nós é que escolhemos como vamos olhar para elas
e o que faremos
com a dor.
Deposite sua dor aqui, para que ela faça companhia para a minha.
Espaço
Tudo começou com uma ânsia de mudança; o que eu ainda não sabia
é que quase toda mudança que escolhemos viver é também um retorno,
direto ou indireto,
para quem nós nascemos
para ser.
Foram tantos anos alisando o cabelo que pra ser honesta eu não lembrava como ele
realmente era; recorri ao meu álbum de fotos da infância.
Uma vida inteira odiando a minha raiz para então perceber que ela virou sinônimo de
esperança.
Todos os dias eu olhava para o meu reflexo no espelho pela manhãe sonhava em poder
controlar o tempo, queria que ele passasse mais rápido para que eu finalmente
pudesse me olhar e me reconhecer.
Por meses eu me senti uma estranha presa em mim porque eu já não era mais quem
esperavam que eu fosse, mas também não era quem eu estava acostumada a ser.
Até que todo esse ritual já não era mais tão ruim assim.
Aos poucos, o frizz e os fios fora do lugar se tornaram minha assinatura.
O volume, a moldura perfeita para a pintura,
uma pintura
que eu ainda não terminei de fazer, mas que todos agora
olham atentamente.
A transição me levou
de volta
para mim.
Idiota
Quantas vezes
o medo de parecer
idiota
te impediu
de se parecer
com quem você
sentiu na boca do estômago
que deveria ser?
Há tantas partes suas que você ainda não teve a oportunidade de conhecer.
Autoconhecimento é cicatrizante.
Direção
Não esqueça:
todas as coisas mais lindas
que você ainda vai ler por aí
um dia foram só um rascunho.
Onde esconderam a chave?
O momento
em que um lugar estranho
vira a sua casa
e parte de ti
fica pra sempre ali.
Um dia essa lembrança que hoje é a chave de uma caixa cheia de questionamentos,
que você esconde do mundo e de si,
vai também ser um lembrete do quão forte você é capaz de ser.
Um dia, contar a sua história em voz alta em uma mesa de bar ou em páginas de um
livro não será mais tão difícil.
Porque o tempo fez a gentileza de te mostrar que a sua história de verdade começou
bem antes de tudo aquilo acontecer e ainda está longe,
bem longe,
de terminar.
Essa rima é toda minha
Esse pólen é feito (de) palavras, e quando eu floresço, todas as flores à minha volta se
abrem também.
Flor selvagem, a mais livre e perigosa entre todas, que cresce a céu aberto e agora
sabe que pode florescer onde bem entender.
Mudei os móveis de lugar
Eu adoro as plantas e a luz da sala de casa, mas a mobília do lugar onde eu realmente
moro é feita de pensamentos que eu escolhi cultivar.
Lembrete
Estou livre
e tudo o que me aconteceu
(a ordem catastrófica das coisas e suas respectivas reações inesperadas acompanhadas
de uma sequência de noites solitárias e assustadoras) aconteceu porque se fosse
de qualquer outra maneira eu não teria desistido das promessas que fiz.
Um senhor de rugas finas e cabelos brancos me disse que tudo já estava escrito desde
o dia em que eu nasci e que até o meu mapa astral previa uma ruptura inesperada
— mas avisou que isso acontecer tão cedo era bom, porque através dela entraria
muita luz, como quando a nuvem sai da frente do sol e a sala inteira muda de cor.
Lembro que era começo de um novo ano e eu deixei aquela sala e flutuei pelas
calçadas do bairro.
Declarei o início de uma nova era.
E um reino inteiro de vontades me seguiu.
Corpo
Eu queria que me olhassem, mas enxergassem apenas o que eu criei: meus livros,
minhas histórias e a trajetória que percorri.
Mas bastou as coisas saírem do controle para que eu me desse conta
de que me faltava o equilíbrio.
E se a inveja
na verdade for
uma pista
da direção em que uma parte de mim acredita que eu deveria estar indo, mas eu
simplesmente não consigo me ouvir com clareza?
O simples ato de me dobrar e enxergar meus pés — reparar nas cicatrizes que eu já
nem lembrava e que contam histórias da minha infância — me fazendo perceber
que eu fui e sou muito mais do que qualquer sentimento que me faça querer.
3 palavras, 7 letras e eu continuo sendo minha
“Eu te amo”
não é uma promessa
muito menos uma garantia.
“Eu te amo” é um sopro gentil do agora.
Um vento inesperado
que afasta nuvens escuras
e te faz lembrar que o sol nunca
vai deixar de estar ali.
Ruiva
eu nasci
pra ser assim.
Madrugada
Imaginar que aquilo faz parte de uma dança e há uma música que ninguém mais
escuta tocando na sua mente, cada cena acontecendo em câmera lenta.
Agora você consegue secretamente perceber o barulho dos pássaros,
o papel atravessando a rua com o vento e o cheiro do perfume de alguém que acabou
de passar.
Para onde estamos realmente olhando quando passamos por algo pela primeira vez?
Novos (velhos) hobbies
Visitar a casa dos meus pais e abrir um álbum de fotos da infância listar todas as
coisas que eu amava fazer e que, seja pelo motivo que for, foram ficando de lado.
Eu dançava, eu pintava,
eu tirava fotos pra ninguém mais ver.
Ontem conversei com uma amiga sobre como é ser como a gente é.
Entender o que acontece com o meu corpo quando eu não estou no comando me dá
um senso de controle.
Essas lembranças varridas para debaixo do tapete da sala não precisam ser gatilhos e
armadilhas para sempre, não se você tiver a coragem de reconhecer que algo
genuinamente bom também aconteceu ali.
Agora que a raiva se transformou em algo que você talvez ainda nem saiba nomear e
que o rosto de quem te machucou já não tem mais tantos detalhes, desejo que
você possa falar sobre isso com alguém abertamente sem ter pesadelos; tudo de
que fugimos ao longo do dia volta à noite para nos fazer companhia.
Desejo que você possa fazer essa poeira flutuar, com o sopro da sua liberdade.
Espero que nenhum outro tempo
— nem passado, nem futuro —
te preencha e pertença tanto quanto
o agora.
Ponto-final
O ponto-final
é sempre
seu.
Entrevista com a autora
1. Depois de livros de crônicas e romances, por que você decidiu escrever poesia?
Você acredita que os poemas têm um poder de comunicação diferente da prosa?
Não foi uma escolha pensada. Na verdade, sinto que fui escolhida e acolhida pelo
gênero em um momento que as coisas estavam extremamente confusas e instáveis na
minha vida. Algo me impedia de destrinchar e desenvolver tudo de uma vez. Meu
corpo precisava dessa força para continuar existindo. A poesia me trouxe coragem e
liberdade para olhar atentamente e perceber cada uma das minhas feridas internas que,
naquela época, ainda latejavam e me tiravam o sono. É como se eu tivesse usado a
ordem dessas palavras para me costurar de dentro para fora. No meu próprio ritmo.
Com uma linha feita de mim. Na época muita coisa não fazia sentido, mas eu me
permiti colocar tudo para fora mesmo sem ter certeza de que se transformaria em algo
palpável para alguém além de mim. Faltava técnica, mas eu transbordava sentimentos
como nunca. Acho que foi o suficiente. A escrita e o tempo ainda são os melhores
cicatrizantes que eu conheço. Transformar vivências reais em poesia é um ato de
revolução. Há sempre a opção de passar por aquilo sem deixar rastros, inserir na
ficção algum tempo depois e fingir que nunca aconteceu com a gente… mas não
consigo deixar de pensar no quanto teríamos perdido nesse intervalo. Quantas pessoas
perdem a oportunidade de completar essa jornada de autoconhecimento e precisam
justamente dessa honestidade? Olhar para todos esses poemas hoje me faz perceber
como se relacionar com o outro é também uma oportunidade única de nos
conhecermos e descobrirmos quais são nossos limites.
2. A escrita de Meu corpo virou poesia durou cerca de três anos. A Bruna que
começou a rascunhar os primeiros poemas é a mesma de agora?
Definitivamente não. Eu teria me transformado de qualquer maneira porque a vida
nunca para de acontecer, mas não teria todas as ferramentas emocionais que tenho e
uso diariamente para tomar minhas decisões. Se usufruo de alguma paz interior e me
perdoei por cada decisão feita no passado é porque em algum momento no processo
de escrita deste livro entendi que equilíbrio não é sobre estabilidade ou conseguir
desviar dos sentimentos que bagunçam a gente. É sobre ter a audácia de ir e sentir,
mas saber exatamente como voltar para si.
4. Na abertura do livro, você diz que sua cabeça virou verso, sua garganta virou
estrofe, seu pulmão virou métrica, seu ventre virou rima. E o seu coração?
Meu coração é o movimento. O ritmo. É de onde vem a energia que orquestra cada
partezinha do meu corpo e me conecta com o outro através das palavras.
5. A união entre mulheres é um tema muito importante do livro. Que mensagem você
gostaria que suas leitoras levassem consigo depois da leitura?
Sabe aquela sensação de viver algo e finalmente entender o conselho que alguém te
deu há muitos anos, mesmo que na época não fizesse sentido? Sinto que as conversas
honestas que tive com mulheres ao longo da vida frequentemente voltam como
conselhos perspicazes, e esse é um tesouro imensurável que carrego comigo. O meu
olhar atento e o meu ouvido acolhedor fazem com que esse tesouro só aumente com o
passar do tempo. Quando uma mulher cria coragem para contar sua história, muitas
outras percebem que podem fazer o mesmo. Espero que este livro seja um convite
para muitas garotas que estão quebradas por dentro e ainda acreditam na ideia errônea
de que a competição feminina é o único caminho para serem aceitas em um mundo
que foi construído para nunca fazermos totalmente parte dele.
8. Em versos como “Na cidade da neblina,/ não adianta esperar o sol./ Ele nunca é
quente o suficiente”, percebemos o ambiente entrando na poesia. Como os
acontecimentos do mundo ao seu redor e o lugar onde você está impactam sua escrita?
Nos últimos anos muitos dos sentimentos que pareciam obscuros para mim só foram
compreendidos de verdade através das sensações do meu corpo físico e da relação dele
com o mundo externo. Afinal, antes de estar em qualquer lugar, eu estou em mim.
Antes de estar em qualquer relacionamento, eu preciso aprender a conviver comigo.
Muitos dos desarranjos que vivi começaram aqui dentro, e o processo de me sentir
bem na minha primeira casa partiu de um ponto de extremo desconforto e rejeição.
Meu corpo virou poesia é sobre esse movimento de transformação que pode começar
a qualquer momento e provavelmente nunca vai parar. Entender que eu não controlo
os acontecimentos do mundo ao redor me fez ter ainda mais vontade de tomar
consciência do que é realmente meu, do que eu sou agora e de quais são as minhas
fronteiras invisíveis. O universo conversa comigo o tempo inteiro através do meu
corpo. Deixa pistas de qual parte, interna ou externa, mais precisa de atenção. Achei
que seria egoísmo guardar essas pistas só pra mim.
9. Se você pudesse voltar no tempo e entregar um único poema deste livro para a
Bruna de cinco anos atrás, qual seria? Por quê?
Seria “Semente”, poema que tem um verso que deu nome ao livro. Poucas pessoas
sabem como ele nasceu e a história merece ser compartilhada aqui. Em uma
madrugada quente de fevereiro acordei sem motivo aparente. Depois de alguns
minutos lutando contra a insônia, luta recorrente na minha vida, me rendi e peguei o
celular. Havia uma notificação de e-mail de um amigo chamado Pedro Chiovitti com o
resultado de um vídeo despretensioso que gravamos dias antes no meu apartamento.
Eu tinha me mudado havia poucas semanas e ainda estava me acostumando com a
ideia de morar em São Paulo outra vez. Nem todo mundo tem a oportunidade de se
assistir através do olhar artístico de um profissional tão talentoso, mas ainda bem que
eu tive. Quando fechei os olhos de novo, fui inundada por cada verso daquele poema.
Eu não tinha como não anotar aquela sequência de palavras tão poderosas que foi
saindo pelos meus dedos em pouquíssimos minutos. Meu peito ficou leve quando
escrevi a última palavra e li tudo em voz alta. Alguns dias depois o vídeo foi
publicado junto com o poema e em poucas horas viralizou nas redes sociais. Acho que
muitas pessoas se sentiram compreendidas e até me conheceram ali. Veja, eu não
mudaria a ordem das coisas porque acho que cada experiência é importante para o
nosso amadurecimento. Gosto muito mais de quem eu sou hoje do que eu gostava há
cinco anos. Soube quando eu publiquei. Esse poema é mais íntimo do que uma foto
minha nua.
10. Que dicas de leitura você daria para quem gostou dos seus poemas e agora deseja
se aventurar por outros versos? E que livros de outros gêneros você gostaria de
recomendar?
A poesia me fisgou quando eu estava em outro país e queria muito melhorar meu
inglês. Não dominar a língua do lugar onde eu queria tanto me adaptar era
extremamente frustrante e limitante pra mim. Minha voz é tudo o que eu tenho, minha
ferramenta de trabalho e a forma como me conecto com os outros, e lá todas as coisas
que eu pensava não saíam pela minha boca do jeito que eu imaginava. A maioria eu
nem conseguia dizer em voz alta por medo de errar e envergonhar quem estava por
perto. Poesia era um gênero que não exigia tanto vocabulário e por coincidência foi o
que mais me acolheu durante esse período estranho. A cada visita à Urban Outfitters
eu voltava pra casa com um livro novo. Li Rupi Kaur, Nayyirah Waheed, Cleo Wade e
Courtney Peppernell. Outras leituras que me ajudaram a entender tudo o que eu estava
vivendo foram A ciranda das mulheres sábias e Mulheres que correm com os lobos da
Clarissa Pinkola Estés, Lua vermelha da Miranda Gray, Grande magia da Elizabeth
Gilbert e De amor tenho vivido da Hilda Hilst.
Agradecimentos
Obrigada Luzia por me ensinar o que é o amor; Catarina por me ajudar a entender
as palavras que eu ainda não sabia traduzir; Marcela por ser minha
primeira amiga quando eu cheguei ali; Mari por ter nos recebido em sua
casa; Mila pelas conversas tão lindas e transformadoras; Fernanda por ter
viajado o continente para ficar por perto; Auana pela mensagem escrita
em folhas de papel e espalhadas no chão; Anita e Victoria pelas noites
divertidas no karaokê em Marina District; Nath por me buscar de carro e
mostrar outros horizontes; Isabelle por me lembrar como meu corpo é
incrível; Bia por ter ficado ao meu lado quando precisei; Ivana por me
ouvir quando eu só conseguia chorar; Ivani por cuidar de tudo enquanto
eu escrevia este livro; Ariane por me entender mesmo depois de tanto
tempo; Ligia por nunca desistir da nossa amizade; Inha por me mostrar
como é importante ser independente; e Alê por acreditar que tudo isso
renderia um livro.
tom rodrigues (@aredead)
Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor
no Brasil em 2009.
Neste livro superdivertido, uma garota vai se meter nas maiores confusões
para conseguir encontrar, a qualquer custo, uma nova melhor amiga.
Oli e Fafá são melhores amigas. Elas estão sempre juntas no intervalo, não
perdem um episódio da novela coreana de que mais gostam e até inventaram a
melhor comida do mundo, o coxinhole (metade coxinha, metade rissole). Mas
quando Fafá conta que vai mudar de escola, o mundo de Oli vira de cabeça para
baixo: como é que ela vai sobreviver sem a sua fiel escudeira?
Ela decide, então, tomar uma atitude e encontrar logo uma nova melhor amiga.
As candidatas são Valentina, Fernanda, Nina e Tábata. Mas as garotas têm
personalidades muito diferentes, e Oli vai ter que ser bastante criativa para tentar
se aproximar de cada uma delas — uma tarefa bem mais difícil do que parece.
Nessa narrativa leve e muito engraçada, Janaina Tokitaka apresenta aos jovens
leitores uma menina determinada e que não tem medo de errar — que ganha
ainda mais graça com os traços do ilustrador Fits.
Uma onda de calor causa um apagão em Nova York. Multidões se formam nas
ruas, o metrô para de funcionar e o trânsito fica congestionado. Conforme o sol
se põe e a escuridão toma conta da cidade, seis jovens casais veem outro tipo de
eletricidade surgir no ar…
Um primeiro encontro ao acaso. Amigos de longa data. Ex-namorados
ressentidos. Duas garotas feitas uma para a outra. Dois garotos escondidos sob
máscaras. Um namoro repleto de dúvidas.
Quando as luzes se apagam, os sentimentos se acendem. Relacionamentos se
transformam, o amor desperta e novas possibilidades surgem — até que a noite
atinge seu ápice numa festa a céu aberto no Brooklyn.
Neste romance envolvente e apaixonante, composto de seis histórias interligadas,
as aclamadas autoras Dhonielle Clayton, Tiffany D. Jackson, Nic Stone, Angie
Thomas, Ashley Woodfolk e Nicola Yoon celebram o amor entre adolescentes
negros e nos dão esperança mesmo quando já não há mais luz.
Em Sempre em frente , Simon Snow e seus amigos perceberam que tudo o que
sabiam sobre o mundo podia estar errado. E em O filho rebelde , eles se
perguntaram se o que estava errado era o que sabiam sobre si mesmos.
Em Venha o que vier , Simon, Baz, Penelope e Agatha procuram um jeito de
seguir em frente.
Para Simon, isso significa decidir se ainda quer fazer parte do Mundo dos Magos
— e, se não quiser, o que isso representa para seu relacionamento com Baz?
Enquanto isso, Baz está dividido entre duas crises familiares e sem tempo algum
para compartilhar com alguém seus novos conhecimentos sobre vampiros.
Penelope adoraria ajudar, mas trouxe um americano normal para Londres e não
tem ideia do que fazer com ele. E Agatha? Bom, Agatha Wellbelove já está farta
de aventuras.
Venha o que vier leva os quatro amigos de volta à Inglaterra e à Watford e às suas
famílias. Cada um a seu modo, todos estão prestes a viver a aventura mais longa
e emocionalmente dolorosa de todos os tempos.
A conclusão dessa saga, que começou como uma história sobre o Escolhido,
chega revelando segredos, dando as respostas que faltavam e resolvendo todos os
mistérios. Venha o que vier é um livro sobre colocar um ponto-final nos lugares
certos, sobre catarse e conclusão, sobre escolher seguir em frente apesar dos
traumas e dos triunfos que tentam nos definir.