GALVÃO, Rubismar Marques. Ferrovias No Ceará Suas Tramas Políticas e Seus Impactos Econômicos e Culturais 1870-1930. 2023.
GALVÃO, Rubismar Marques. Ferrovias No Ceará Suas Tramas Políticas e Seus Impactos Econômicos e Culturais 1870-1930. 2023.
GALVÃO, Rubismar Marques. Ferrovias No Ceará Suas Tramas Políticas e Seus Impactos Econômicos e Culturais 1870-1930. 2023.
Ferrovias no Ceará
suas tramas políticas
e seus impactos econômicos
e culturais (1870 -1930)
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro da Educação
Camilo Sobreira de Santana
FERROVIAS NO CEARÁ
suas tramas políticas e seus impactos
econômicos e culturais (1870-1930)
Ferrovias no Ceará: suas tramas políticas e seus impactos econômicos e
culturais (1870-1930)
Coordenação editorial
Ivanaldo Maciel de Lima
Revisão de texto
Leonora Vale de Albuquerque
Normalização bibliográfica
Andreza Pereira Batista
Diagramação
Adilton Lima Ribeiro
Capa
Heron Cruz
CDD 385
Elaborada por: Andreza Pereira Batista – CRB 3/1705
Este livro não seria concretizado se eu não tivesse a força e a inspiração
de pessoas que mais amo e amei ao longo de toda minha existência.
A estes eu dedico esta obra:
Aos meus filhos Caio, Ádilla, Yanne, Marina e Hellen;
À minha esposa Cleide;
Aos meus pais, Dirceu e Marina (in memoriam) que em vida me
ensinaram a enfrentar e vencer os desafios com os quais me deparei
ao longo de minha existência.
Prefácio
17 Sobre a Coleção
23 Introdução
41 Todos os Caminhos Devem Levar a um só Lugar:
Fortaleza
43 A Construção da Hegemonia de Fortaleza
66 A primeira ferrovia do Ceará só pode partir de um só
lugar: Fortaleza
83 Ferrovias e Secas no Ceará: suas Tramas Políticas
85 A elite política do Ceará
89 O “é dando que se recebe” da política ferroviária no
Brasil
107 O Ceará: da exuberância à dramatização da miséria
113 E o discurso teve que mudar
128 Gritar, alarmar..., rendeu frutos para o Ceará
140 Encampação e prolongamento da Estrada de Ferro de
Baturité (EFB) e construção da Estrada de Ferro de
Sobral (EFS)
163 Ferrovias em Iguatu: seus Impactos Econômicos e
Culturais
165 Iguatu: de como tudo começou até antes da chegada
do trem
168 “... E a cidade só toma incremento...”
168 A ferrovia deve passar por Icó mas,...
172 Enquanto isso a ferrovia chega a Iguatu
183 A ferrovia chegou ao Iguatu e a partir daí...
197 Iguatu imita Fortaleza, que imita... que... que imita
Paris, que lança luzes sobre o mundo
203 “Um trem não é simplesmente um trem”
218 Dr. Gouvêa o “Paladino da modernidade”
225 Considerações Finais
229 Fontes Oficiais
231 Referências
Sobre a Coleção
A franja da encosta
Cor de laranja
Capim rosa chá
O mel desses olhos luz
Mel de cor ímpar
17
O oliva da nuvem chumbo
Ficando Pra trás da manhã
E a seda azul do papel
Que envolve a maçã
As casas tão verde e rosa
Que vão passando ao me ver passar
Os dois lados da janela
E aquela num tom de azul
Quase inexistente azul que não há
Azul que é pura memória de algum lugar
18 FERROVIAS NO CEARÁ
A sensação instigada pela música não é meramente uma invenção,
mas tem relação com um passado e as experiências estabelecidas com a
ferrovia. O trem, via de regra, foi narrado a partir da ideia positiva: de
inovação, desenvolvimento e do progresso que o transporte ferroviário
deveria trazer em sua chegada. Quase tudo no contato com essa máqui-
na do século XIX foi traduzido na perspectiva de novas experiências,
novos tons, ritmos e cores. Nesse contexto, a janela do trem tornou-se
ponto de vista privilegiado para a descrição da paisagem, da velocida-
de e da vida que se descortinava em várias imagens diferentes. Poesias,
músicas e a própria memória popular traduziram as imagens enqua-
dradas pela janela do trem e as próprias viagens como momentos de
prazer, ritmados pelo chiado da maria fumaça e movimentos peculiares
ao transporte férreo – como foi cantado na música que inicia esse texto.
Não por acaso, o trem rapidamente foi incorporado pelo cinema,
literatura e outras narrativas: as cenas da chegada do trem na estação
férrea e o movimento de passageiros a descer ou subir no transporte,
exibida num cinema de Paris pelos irmão Lumière, em janeiro de 1896,
são indicadores da surpresa e frisson causados pelo trem: tanto pela
produção do filme, quanto pelo impacto e surpresa que causou e até
hoje. E, de fato, a ferrovia foi aclamada como sinônimo de um futuro
de avanço e melhoria de vida. É inegável o seu impacto na experiência
humana: a chegada do trem provocou mudanças no cotidiano da popu-
lação das regiões onde os trilhos eram edificados. Qualquer referência
ruim sobre o trem ou os trilhos, como os acidentes, era relegada a falha
humana e a falta de investimento no transporte férreo.
No Brasil, que, em termos de transportes, passava do carro puxado
a tração animal à locomotiva movida a vapor no final do século XIX,
esse encontro foi especialmente surpreendente. Razão pela qual a nar-
rativa do trem como instrumento de progresso e avanço acelerado em
direção ao futuro permeou a compreensão sobre a estrada de ferro no
país. O trem foi descrito nos documentos oficiais, jornais e interações
sociais como a chegada de um tempo novo, de superação da natureza e
das dificuldades de locomoção impostas pela variação do clima ou do
SOBRE A COLEÇÃO 19
relevo. Impressões tão disseminadas num imaginário popular que, mui-
tas vezes, tenderam a silenciar as memórias sobre tragédias e acidentes
ferroviários para a maioria da população.
No Ceará, com a Estrada de Ferro de Baturité e a Estrada de Ferro
de Sobral, o trem tomou contornos diversos do restante do Brasil: ele
foi anunciado como socorro público e salvação da população sertane-
ja, como a superação da paisagem inóspita e crestada pelas frequentes
secas. De maneira que o transporte férreo ficou marcado como o ‘Trem
da Seca’, como destacou Tyrone Apolo numa produção sobre o tema da
historiografia mais recente do Ceará. Entretanto, ainda que atrelado a
experiência traumática da seca e sofrimentos vividos nesses períodos,
a chegada do trem à estação se tornou o evento principal em cidades
pequenas, atraindo a população à gare férrea.
As mudanças no cotidiano cearense também foram observadas: a
chegada rotineira da locomotiva e seu comboio férreo, impôs horários
mais rígidos ao cotidiano de vilas e cidades do interior cearense e trou-
xe lógicas e experiências até então desconhecidas aos sertanejos – que
muitas vezes até reforçou a associação do sertão com a ideia de atraso.
Nos anos da edificação da ferrovia e assentamento de trilhos foi expe-
rimentada uma lógica capitalista de trabalho, diário e sistemático, dife-
rente dos serviços periódicos das plantações e colheitas de camponeses
e pequenos produtores e que lhes causou ‘muita estranheza’. Além da
experiência traumática, na maioria das vezes, da vida, fome, epidemia
e morte nos abarracamentos para os trabalhadores da construção da
Estrada de Ferro no Ceará. Tudo, mais tarde, entendido como ônus do
progresso e abafado pelos discursos de inauguração das estações que
enalteciam o desenvolvimento que deveria chegar ao território.
Os acontecimentos relacionados ao avanço dos trilhos e funciona-
mento da ferrovia no Ceará foi registrado em muitas fontes: jornais,
correspondências oficiais, Relatórios de Presidentes de Província e de
governo de Estado, Relatórios de Engenheiros, poesias, músicas, na
memória popular e também na paisagem. Registros que tem servido a
historiadores, geógrafos e outros escritores a produzir uma História da
Ferrovia no Ceará, que muitas vezes se confunde com a própria Histó-
20 FERROVIAS NO CEARÁ
ria do Ceará. Muito já foi escrito sobre o tema e esta feliz publicação da
Imprensa UFC vem trazer a lume alguns desses textos: para que o Ceará
conheça mais de seu passado e para prestar um serviço histórico a todos
os idealizadores e trabalhadores envolvidos com a realização de uma
obra tão grande, e penosa, que é a construção de uma Estrada de Ferro.
Esta coleção, denominada “Caminhos da Povoação”, inicia com a
publicação de três obras para pensar a ferrovia no Ceará. O livro O
Espaço a serviço do Tempo: a Estrada de Ferro de Baturité e a invenção
do Ceará, de Ana Isabel RP Cortez Reis, em que a ferrovia foi estudada
como um dos caminhos para a chegada do capitalismo no Ceará e
Brasil, buscando compreender os impactos sobre o território e as po-
pulações sertanejas, aproveitadas como trabalhadores da construção
da EFB. A obra Ferrovias no Ceará: suas tramas políticas e seus impac-
tos econômicos e culturais (1870-1930), de Rubismar Marques Galvão,
dedicada a compreender as tramas e articulações políticas do Ceará
para angariar verbas para realizar obras de vulto na província, como
a ferrovia. E o livro Ferrovias de Papel: projetos de domínios territo-
riais no Ceará (1864-1880), uma análise de Raimundo Jucier Sousa de
Assis sobre os projetos ferroviários produzidos enquanto propostas
de modernização para o território do Ceará na segunda metade do
século XIX.
Esses três livros lançam as bases para um trabalho de reflexão, sem
dúvida frutífero, sobre as ferrovias que deram novos Caminhos ao Ce-
ará. Um grande feito para a História e Historiografia cearense, que tem
nessa Coleção uma marco para a discussão histórica do Ceará e da fer-
rovia. Boa Leitura!
Ana Isabel Cortez Reis
SOBRE A COLEÇÃO 21
Introdução
1
Gilberto Freyre em Ingleses no Brasil (2000, p. 62) coloca que “[...] a locomotiva veio
a empolgar, no Brasil, a imaginação dos meninos e da gente do povo, mais do que
qualquer outra máquina [...]”.
23
terminar aquilo que havia começado. Agora, com novas preocupações,
ele voltou à tona.
A nascente economia industrial capitalista chega ao início do século
XIX com um grande dilema: como expandir, substancialmente, a oferta
de mercadorias com uma estrutura de transportes com a quase mes-
ma capacidade de carga e velocidade de séculos passados? A resposta
a esta pergunta resultou no aparecimento do mais revolucionário meio
de transporte terrestre da era moderna: o ferroviário. Podemos afirmar,
então, que os caminhos de ferro foram fruto da expansão industrial eu-
ropeia, já que, “[...] a Revolução Industrial potencializou a moderniza-
ção dos meios de transportes [...]” (BORGES, 2011, p. 27). Esse sistema
de transporte representou para a economia industrial, em razão de seus
impactos econômicos, naquele momento, e em função de seu alcance e
dimensão, de sua “surprema realização”, como já foi dito.
A necessidade de meios de transporte mais eficientes para fazer fren-
te à rápida expansão industrial coincide na Inglaterra, em determinado
momento, com um período em que havia um enorme estoque de capital
que tinha dificuldade em encontrar, na ótica dos capitalistas, aplicação
que lhes proporcionassem uma rentabilidade mais vantajosa. Hobsba-
wm assegura que esse dinheiro “[...] estava pronto para ser investido na
Grã-Bretanha, onde o retorno era garantido. A rigor, ele tomou o cami-
nho das estradas de ferro por falta de qualquer coisa que tivesse a mes-
ma capacidade de absorver capital, e transformou uma valiosa inovação
nos transportes num importante programa nacional de investimento do
capital” (HOBSBAWM, 1978, p. 105).
Assim, a Inglaterra já possuía em 1848 “[...] algo parecido a uma rede
ferroviária” (HOBSBAWM, 1996, p. 72). Mesmo na Europa e na América
do Norte nenhum país já havia chegado perto de completar a sua rede.
Na França, o segundo país mais desenvolvido da Europa, este programa
- a construção de uma rede - sequer havia começado nessa época. Fora
dessas áreas, poucos países possuíam alguns quilômetros de ferrovias.
Esse meio de transporte revolucionário parecia “[...] estar várias
gerações à frente da economia, e na verdade estrada de ferro tornou-
-se uma espécie de sinônimo de ultramodernidade na década de 1840”
(HOBSBAWM, 1978, p. 103). Ele empreendeu “[...] uma transformação
24 FERROVIAS NO CEARÁ
revolucionária [...]” na medida em que afetará, de forma mais profunda,
a convivência das pessoas.
[...] a vida do cidadão comum, mesmo dos que viviam fora das
áreas relativamente pequenas onde se localizavam as fábricas.
Essa transformação foi alcança-lo em algumas das áreas mais
remotas do interior e nos centros das grandes cidades. Ela alte-
rou a velocidade do movimento - na verdade, da vida humana
- pois que, de algumas milhas por hora passou a ser medida em
dezenas de milhas horárias [...] (HOBSBAWM, 1978, p. 102).
INTRODUÇÃO 25
É dentro desse quadro, em que a estrada de ferro era “sinônimo de
ultramodernidade” e de disseminadora do progresso e da civilização,
que as ferrovias chegam ao Brasil e, em particular, ao Ceará. É exemplar,
para demonstrar como comumente se via, naquele momento, as ferro-
vias, um texto escrito no último quartel do século XIX, por Liberato
de Castro Carreira (1889). Nesse trabalho, o autor traduz o espírito da
época quando afirma que a estrada de ferro “[...] é a mensageira da civi-
lização, purifica os costumes e transforma hábitos e preconceitos da ve-
lha sociedade, distribuindo ideias aperfeiçoadas do progresso, que logo
germinam” (CARREIRA, 1889, p. 728). Este era o pensamento corrente
na época. Dizia que era preciso modernizar o país. Mas, como fazer
com que as pessoas vissem materializada essa modernização no Bra-
sil? Somente através da edificação de obras ditas modernas como, por
exemplo, a construção de ferrovias.
Observamos, no entanto, que esse meio de transporte - que era visto
como moderno e revolucionário - chega à década de trinta do século
passado, a ensaiar seus primeiros passos de sua longa e agudizante de-
cadência.3 A constatação desse fato nos levou a formulação de um pro-
blema: Por que esse meio de transporte, decantado anteriormente como
tão revolucionário, chega aos anos 1930 em pleno início de decadência?
Para nós, a hipótese mais plausível para responder ao problema aqui
posto é a de que a forma como no Brasil as ferrovias foram construí-
das levando em conta, de um modo geral, apenas interesses políticos
particulares e quase não se observando nenhuma consideração técnico-
-econômica, teria levado a essa situação, já que a cultura patrimonialista
foi dominante em toda formação histórica do Estado brasileiro o que,
naturalmente, fez florescer como características marcantes a ineficiência
3
Se levarmos em consideração o programa ferroviário inglês que, em 20 anos - 1830 a
1850 - já havia completado a sua rede e em seguida entra em processo de esgotamen-
to, o programa brasileiro é emblemático. Ele já começa tardiamente, se comparado
a outros países, e muito antes de completar sua rede, o modelo se esgotou e entrou
em decadência. Observa-se então que, basicamente em mais de meio século, o Brasil
não concretizou a construção de sua rede e antes mesmo de concluí-la já entra em
decadência. Assim, o Brasil não pôde saborear plenamente os frutos proporcionados
por uma boa malha ferroviária.
26 FERROVIAS NO CEARÁ
e a irracionalidade no que diz respeito à aplicação dos recursos públicos,
é o que se constata, por exemplo, na implantação das ferrovias no Brasil.
Apesar dessa irracionalidade técnico-econômica na malha ferrovi-
ária ser uma constatação óbvia, todavia, não se pode negar que as es-
tradas de ferro, mesmo assim, deram sua contribuição ao crescimento
econômico do país. É também comumente observável que a chegada
dos trilhos em algumas localidades, exerceu um papel impactante em
suas transformações econômicas e culturais. Com a chegada do trem,
muda nessas localidades o padrão de velocidade a que secularmente es-
sas comunidades estavam acostumadas. Se mudar o ritmo, mudam as
sensibilidades e mentalidades. Mudam também o quadro econômico e
o perfil urbano do município. É o que buscamos constatar com o estudo
da chegada do trem em um município da região sul cearense - Iguatu.
Neste trabalho, o que buscamos saber e esclarecer é como um meio
de transporte que foi tão importante para o Brasil sofreu um verdadeiro
desmanche. Parte da explicação encontramos no livro do Professor Ger-
vácio B. Aranha, Trem e Imaginário na Paraíba e região: tramas político-
-econômicas (1880-1925). Nele, o autor demonstra que a implantação das
ferrovias no Norte e, posteriormente, no Nordeste açucareiro, foi perme-
ada de interesses político-particulares que não levaram em consideração
qualquer racionalidade técnico-econômica. A consequência disso para o
país foi que o Brasil pagou, e continua pagando, um preço muito alto.
O trabalho do Professor Gervácio, no entanto, teve mais como de-
limitação espacial de estudo o Norte/Nordeste açucareiro, tocando de
raspão, por exemplo, o Ceará, que é o objeto de estudo de nosso tra-
balho. Interessa-nos saber, portanto, neste trabalho, se as práticas po-
líticas das elites do Norte/Nordeste açucareiro, no que diz respeito à
implantação das ferrovias, repetiram-se em outra região mais voltada,
naquela época, para a pecuária e algodão, e quais outras peculiaridades
das tramas políticas as elites do Ceará desenvolveram. Foi a partir da
necessidade de realizar essa verificação, que entendemos que o trabalho
se justifica, já que não encontramos, até o momento, nenhum texto que
aborde o tema com relação ao Ceará, nessa perspectiva.
INTRODUÇÃO 27
Conhecer a maneira como as ferrovias, em geral, foram construídas
no Brasil e, particularmente, no Ceará, e as suas consequências nefastas
para o país é importante no planejamento e na execução de qualquer
política de transporte mais ampla, já que se diz que “[...] quem conhece
os erros do passado tende a não repeti-los”.4 Aqui está a relevância social
deste trabalho. Entendemos que a sua importância acadêmica se justifica
pela ausência de trabalhos que abordem o tema, para o Ceará, na dimen-
são aqui proposta. Assim, a temática não só se mostrou relevante para
mim, mas presumo que seja também para o leitor interessado no tema. É
o que me moveu a concluir esta dissertação.
Neste trabalho, analisamos não só as tramas e as articulações políti-
cas utilizadas pelos representantes do Ceará no Parlamento e junto ao
Governo Central para conseguir extrair recursos para obras, em espe-
cial, suas ferrovias, como buscamos verificar também a maneira como
consegue a capital da Província, Fortaleza, concentrar força política e
econômica para determinar de onde partir e para onde ir a primeira
ferrovia a ser construída nessa Província, a Estrada de Ferro de Baturité.
Analisamos também a maneira como a elite política do Ceará utiliza-
va o “Discurso da seca”, como instrumento de sensibilização junto ao
parlamento nacional e ao governo central para conseguir mais verbas
para essa Província/Estado. Verificamos que, com a seca de 1887-1889,
a elite cearense entendeu desde cedo que o “Discurso da seca”, ou seja, a
construção de um quadro de miséria, horror, mortes, convulsão social
4
March Bloch (2001, p. 60-68) foi quem pensou melhor essa relação passado/presente.
Para ele, todo historiador, antes de recorrer ao passado, tem a obrigação de olhar seu
próprio presente, ou seja, tentar captar os seus anseios, as suas angústias, as carências,
as suas necessidades, as faltas que existem etc. Só depois de captar o sentimento, o
modo de estar daquela realidade, é que é colocada na ordem do dia a necessidade de
se relacionar com o passado, já que passado e presente estão umbilicalmente ligados.
Agora, uma vez o historiador indo ao passado, esse passado não será o mesmo, dado
que ganha resignificado na relação com seu futuro, que é o presente, mas também
tampouco o teu presente será o mesmo. Assim se conhece mais sobre esse passado e
mais se percebe o que é que ele tem a nos oferecer para o presente. Para Bloch (2001,
p. 65), “A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado.
Mas talvez não seja menos vão esgotar-se em compreender o passado se nada se sabe
do presente”.
28 FERROVIAS NO CEARÁ
etc., trazidos, segundo esses segmentos dominantes da região, pela seca,
seria um instrumento muito mais eficaz do que o usado anteriormente,
que era o de um Norte discriminado na partilha do “bolo” do orçamen-
to do governo central. Outro aspecto objeto de examinação foi o de ave-
riguar os impactos econômicos e culturais da chegada do trem de ferro
em um município do interior do Ceará, neste caso, Iguatu. Nesse ponto,
as fontes nos levaram a afirmar que em Iguatu o crescimento econômico
do município, induzido principalmente pela expansão da cotonicultura,
pós-chegada das ferrovias, vai implicar em mudanças substanciais em
seu quadro urbano.
A opção por este marco temporal, 1870-1930, fez-se em função de que
esse é o período mais marcante da construção das ferrovias no Ceará.
O marco inicial foi escolhido porque surgem, no início dos anos setenta
do século XIX, as primeiras iniciativas mais concretas para a criação da
Estrada de Ferro de Baturité, a primeira a ser construída nessa Província.
A escolha do marco temporal final, 1930, se deu porque é a partir, mais
ou menos desse período, que as maiores preocupações do Governo Fe-
deral são voltadas mais para o transporte rodoviário já que, como dizia
Washington Luís, “governar é abrir estradas”. A partir daí, o transporte
ferroviário inicia sua longa e dramática trajetória de decadência.5
5
Ao chegar à década de 1930, afloram sinais evidentes do início da decadência das fer-
rovias brasileiras. A partir daí, poucos são os quilômetros de ferrovias acrescentadas
a malha ferroviária já existente. Nesse mesmo período, o governo federal emite sinais
mais claros de sua opção pelo rodoviarismo. Getúlio Vargas, ancorado em um ideal
nacionalista, propalava a necessidade de constituição efetiva de um mercado nacio-
nal, mas, para que isso fosse concretizado, era premente a necessidade de meios de
transporte mais eficientes. As ferrovias já são vistas como caras e ineficientes. Alia-
-se a isso, nesse momento, o fato das empresas ferroviárias viverem em constantes
crises financeiras e que terminavam impactando as contas do governo. Esses fatos
empurram o país a fazer a opção pelo rodoviarismo. Anos depois, o Governo Jusce-
lino Kubitschek (1956-1961) prometendo realizar “cinqüenta anos em cinco” tinha
pressa em fazer crescer a indústria nacional. Porém, para que isso fosse alcançado
era necessário a expansão de alguns setores da indústria como, por exemplo, o auto-
mobilístico que em função do seu efeito multiplicador na cadeia produtiva do país
deveria, segundo a área econômica do governo, ser contemplada com inúmeros be-
nefícios fiscais. Mas só isso não seria suficiente. Era preciso, antes de tudo, expandir
a malha rodoviária do Brasil, para consolidar esse ramo industrial no país. A partir
daí, a opção pelo rodoviarismo se consolida de vez e o transporte ferroviário entra na
UTI, inaugurando sua fase terminal.
INTRODUÇÃO 29
Escolhido o tema e o seu recorte espacial e temporal, buscamos ve-
rificar a viabilidade do mesmo. Com base na produção bibliográfica e
documental já conhecida e sugerida, ficou evidente que seriamos capa-
zes de dar resposta satisfatória ao problema levantado pelo projeto, no
prazo adequado.
“Nenhum trabalho científico ou acadêmico de qualquer área do co-
nhecimento inicia-se a partir do nada” (BARROS, 2012, p. 54). Com
base nesse entendimento, buscamos levantar uma bibliografia, a mais
vasta possível, a respeito da implantação e expansão das ferrovias no Ce-
ará. Inicialmente, três obras se destacaram. São consideradas, hoje, obras
de referência para quem quer adentrar nesse tema. A primeira, de auto-
ria de Octavio Memória, Origem da Viação Férrea Cearense, publicada
em 1923, tenta descrever a implantação e expansão da Estrada de Ferro
de Baturité e da Estrada de Ferro de Sobral. A sua importância se limita
ao fato de ter sido toda escrita com base em fontes primárias: contratos,
estatutos, inaugurações, situações financeiras e técnicas, quadro de acio-
nistas e funcionários, condições de encampação e arrendamentos etc.
Ou seja, um texto meramente informativo, mas importante por conter
uma vasta documentação das ferrovias do Ceará desde seu início.
Outro livro sobre a História das Ferrovias do Ceará é o de Benedito
Genésio Ferreira, A Estrada de Ferro de Baturité: 1870-1930. Este é um
texto mais bem elaborado, já que seu autor era professor da Universida-
de Federal do Ceará (UFC). Ele estabelece como “[...] objetivo essencial
do trabalho... [o de mostrar a] parcela de participação das ferrovias cea-
renses na economia do estado [...]” (FERREIRA, 1989, p. 24).
A última das três obras é o livro de André Frota Oliveira, A Estrada
de Ferro de Sobral. A sua preocupação maior é a de detalhar de manei-
ra minuciosa a implantação, expansão e extinção da Estrada de Ferro
de Sobral.
Apesar de serem obras importantes para quem quer estudar algum
tema a respeito da implantação e expansão das ferrovias no Ceará, no
entanto, como observamos, nenhuma delas contempla nossa linha de
abordagem. A primeira em razão de seu caráter meramente descritivo;
a segunda por se preocupar, antes de tudo, em mostrar apenas o grau
30 FERROVIAS NO CEARÁ
“[...] de participação das ferrovias cearenses na economia do estado
[...]” (FERREIRA, 1989, p. 24) e, finalmente, a terceira por ter como
objeto central de estudo esmiuçar a implantação, expansão e decadência
da Estrada de Ferro de Sobral.
As obras mais recentes que discorrem sobre esse tema são frutos, em
sua maioria, de trabalhos de conclusão de mestrados e doutorados. Uma
obra, em especial, nos chamou a atenção: a tese de doutorado do pro-
fessor Camelo Filho apresentada ao Instituto de Economia da Unicamp.
Com o trabalho intitulado A Implantação e Consolidação das Estradas
de Ferro no Nordeste Brasileiro, como o próprio título já sugere, tenta
descrever alguns aspectos relacionados à implantação e consolidação
das ferrovias no Nordeste. Quando o autor fala sobre as ferrovias do
Ceará, aborda mais as razões e como se deu sua implantação e expansão,
enfatizando sobremaneira, a saúde financeira, as mudanças administra-
tivas que as empresas tiveram ao longo de sua história. Algumas vezes,
o texto chega a ser detalhista e enfadonho.
Apesar de enfatizar que, de modo geral, a política de concessões
funcionava como moeda política do governo central junto aos grupos
políticos das províncias/estados - o toma lá dá cá - e evidenciar que
estas concessões eram um grande negócio para os grupos envolvidos
(CAMELO FILHO, 2000, p. 66), a discussão não vai muito além. Não
discute o embate, as articulações e as artimanhas que se davam no Par-
lamento e junto ao governo central, dos representantes dessas unidades
para extrair benefícios. Há outras teses e dissertações que se relacionam
com o mundo das ferrovias no Ceará, mas nenhuma se aproxima da
abordagem que estamos propondo.
Dois textos apresentam certa similaridade com o tema aqui proposto,
em especial. São trabalhos que, inclusive, nos serviram de inspiração. O
primeiro é o já clássico O Norte Agrário e o Império de Evaldo Cabral de
Melo, em que o autor, no capítulo “As Províncias no Norte e os Melho-
ramentos Materiais”, descreve a maneira como se davam as articulações
políticas no Parlamento para se conseguir extrair do governo central
benefícios para as províncias e de como se edificava a política do toma lá
dá cá entre o governo central e os grupos dominantes encastelados nas
INTRODUÇÃO 31
unidades provinciais do país. No entanto, a nossa proposta de trabalho
se afasta desse texto. Em primeiro lugar, porque não enfatiza o fato de
que a forma como as ferrovias foram construídas no Norte, sem levar
em consideração nenhuma racionalidade técnico-econômica, produziu
uma malha ferroviária que foi extremamente prejudicial aos interesses
do país. Em segundo lugar, porque não adentrou ao Brasil República,
só se limitando a trabalhar as últimas décadas de existência do Império.
Por último, e em função da própria especificidade do nosso trabalho - o
Ceará como campo de estudo -, nós nos aprofundamos mais na análise
da atuação de sua representação parlamentar.
O outro texto é o livro do Professor Gervácio B. Aranha, intitula-
do Trem e Imaginário na Paraíba e Região: tramas político-econômicas
(1880-1925). Nele, o autor já destaca que as ferrovias construídas no
Norte e, posteriormente, no Nordeste, de modo geral, não se pautavam
por critérios técnico-econômicos, mas por razões políticas particulares
e de que essas injunções resultavam para os envolvidos, invariavelmente,
em ganhos monetários. Descreve, em profundidade a maneira como as
bancadas parlamentares se articulavam para extrair do governo central
recursos para as unidades que representavam. Narra, minuciosamen-
te, o comportamento teatral desses parlamentares quando discursavam
para seus pares. Comportamento esse que tinha como objetivo conquis-
tar aliados para que suas reivindicações fossem atendidas, ou seja, que
recursos financeiros destinados principalmente para construção de es-
tradas de ferro chegassem às províncias/estados. No entanto, o trabalho
do Professor Gervácio, mesmo que este tenha feito algumas incursões
em outras unidades da região, tem por objetivo primordial, como o pró-
prio autor coloca, “[...] esboçar uma história do trem de ferro na Paraíba
[...]” (ARANHA, 2006, p. 11). Como se observa, o seu marco espacial se
afasta do nosso, que é o Ceará.
Como suporte teórico para fundamentar este trabalho, recorreremos
à história política. Esta, que durante o século XIX gozou de ampla acei-
tação, chega ao século XX profundamente desprestigiada. E o divisor de
águas foi a fundação, em 1929, da Revista Annales e a instalação da VI
RA, 1992, p. 265). Rémond (1999, p. 16) mostra que essa nova corrente
32 FERROVIAS NO CEARÁ
historiográfica, que começou a despontar a partir do surgimento dos An-
nales e da instalação desse centro de pesquisa, entendia que para alcançar
o “[...] fundo das coisas [ou] captar o âmago da realidade [...] considerava
as estruturas duráveis mais reais e determinantes que os acidentes de con-
juntura”. Os que se filiavam a essa corrente buscavam demonstrar ainda
“[...] que os comportamentos coletivos tinham mais importância para o
curso da história que as iniciativas individuais”. Apontavam também de
que o modo tradicional de relatar os fatos históricos “[...] só tinha olhos
para os acidentes e as circunstâncias mais superficiais”. Foi contra esse
tipo de história política, até então dominante, que fez aflorar um modelo
de história em que predominava demasiadamente o econômico-social.
A partir daí, e muito mais em decorrência do fato do marxismo se tornar
“[...] muito influente na produção acadêmica da Europa ocidental”, fez
surgir “[...] uma prática histórica em que o político é analisado como
mera decorrência do econômico”, ou seja, que em última instância “[...] o
nível econômico é colocado como determinante” (BORGES, 1991/1992,
p. 12). E é justamente a partir da expansão da história econômico-social
que a história política vai trilhar um período de decadência.
“Tudo levava a crer que ela não tinha mais futuro” (REMOND, 2003,
p. 21), mas eis que lentamente esse estado de ostracismo começa a mu-
dar. E isso se deve, segundo Rémond (2003, p. 19 e 23), “[...] as novas
orientações da pesquisa histórica” e ao aumento do papel do Estado, em
vista de uma nova realidade econômico-social que se instala na Europa
pós-Segunda Guerra Mundial. Esse é instado a fazer mais intervenções
no domínio econômico. Assim, esse maior protagonismo do Estado
trouxe como consequência uma “[...] ampliação do domínio da ação
política” (RÉMOND, 2003, p. 19). Percebemos então, a partir daí, um
alargamento do raio de estudo no campo da política que buscava com-
preender melhor, a partir do político, o todo social. Isso encorajou René
Rémond (2003) a falar em “retorno do político”.
No entanto, esse retorno para Rémond (2003, p. 18) não significa
o retorno de uma história política factual, subjetivista, individualista,
incapaz de traduzir realmente uma nova dimensão do fazer história.
Dimensão essa que implica trazer para o centro da discussão todos os
INTRODUÇÃO 33
atores do cenário político. Afinal de contas “[...] o político não é uma
‘instância’ ou um ‘domínio’ entre outros da realidade. É o lugar onde
se articula o social e sua representação, a matriz simbólica onde a ex-
periência coletiva se enraíza e se reflete ao mesmo tempo” (ROSAN-
VALLON, 1995, p. 12). Dessa forma, é impossível pensar o mundo que
nos rodeia dissociado da dimensão política.
A história política a que estamos recorrendo é aquela história políti-
ca renovada, revigorada e que tomou forma a partir da década de 1980.
“Nesse movimento de renovação, mais que de simples recuperação, o
contato com outras disciplinas, e principalmente com a ciência política
desempenhou um papel central” (FERREIRA, 1992, p. 6). Foi a partir
dessa conexão com outras áreas do conhecimento que a história política
amplia seu raio de ação e tem como resultado a proliferação de uma in-
finidade de trabalhos sobre os mais diversos assuntos. Isso permitiu que
o historiador desse ramo da História, pudesse explorar novos territórios.
Mas um, em especial, nos interessa nesse momento: a análise dos dis-
cursos e do comportamento político da representação cearense junto ao
parlamento nacional e ao governo central, quando de suas investidas para
obtenção de obras, notadamente, a construção de ferrovias para o Ceará.
Observamos, em boa parte dos discursos dos que faziam o parla-
mento brasileiro, no final do Império e no início da República, uma
recorrência habitual em adornar suas falas, de forma até exagerada, com
frases de efeitos e carregadas de citações. Entendiam que “[...] as cousas
não valem tanto pelo que dizem, como pelo modo, e theor, porque se
dizem” (GAMA, 1846 apud CARVALHO, 2000, p. 135). Era nisso que,
para eles, residia a força de sua eloquência.6
6
O gosto da elite política brasileira, no século XIX, por essa retórica carregada de
adornos vem da tradição escolástica portuguesa. Essa tinha como seus centros de
difusão o Colégio das Artes e a Universidade de Coimbra, que boa parte de nossa
elite política e intelectual havia frequentado (CARVALHO, 2000, p. 131).
34 FERROVIAS NO CEARÁ
A retórica, que é a arte da persuasão,7 passa a ser exageradamente mal
utilizada. “E o problema não estava na retórica, estava na ignorância do
que fosse a retórica” (CARVALHO, 2000, p. 132). Gilberto Freyre (1962,
p. 124) mostra que essa “[...] supervalorização da oratória ou da eloquên-
cia ou da retórica”, adentrou também a República, pois “[...] transbordou
dos seus meios convencionais de expressão - o discurso, o sermão, o brin-
de - para desfigurar ou perverter outros gêneros: a poesia, o romance, o
ensaio, o editorial, a carta, o ofício, o relatório, o próprio telegrama”.
Os políticos sabiam mais do que ninguém tirar um bom proveito
da retórica e para isso se utilizaram de todos os recursos - reais ou
imaginários - para atingir os fins desejados. Para tanto, dispunham de
um palco adequado - o parlamento - para exercitarem a sua arte. Eles
sabiam que “[...] a palavra é a matéria-prima da política” e que essa de-
veria vir acompanhada de adornos para poder deleitar os que estavam
lhe ouvindo. Esses nutriam, em especial, um apego demasiado “[...] à
frase sonora, ao verbo espontâneo e abundante, à erudição ostentosa,
à expressão rara”. Isso se deve, segundo Sérgio Buarque de Holanda
(1963, p. 70), à pouca consideração que o brasileiro dava às especula-
ções intelectuais.
Observar as práticas políticas reinantes no parlamento nacional foi
a nossa grande preocupação neste trabalho. Essas eram contaminadas
por interesses políticos particulares e que vão definir toda política de
transporte ferroviário do Brasil. E qual será o resultado dessa nefasta
política de transportes para o país? O resultado é que o Brasil herda uma
malha ferroviária que é irracional sob todos os aspectos. Tudo isso foi
fruto de escolhas políticas na condução da expansão desse novo meio de
transporte, que pouco levava em consideração qualquer racionalidade
econômica e que trouxe para o país prejuízos imensuráveis.
7
O Padre Antônio Vieira tem cadeira cativa no clube dos grandes oradores brasileiros.
Ele buscava com sua oratória, antes de tudo, persuadir quem estava lhe ouvindo. Bosi
(1992, p. 125) coloca que Vieira, para adornar mais sua fala, se utilizava recorrente-
mente de “[...] passagens bíblicas, fábulas, anedotas, provérbios, episódios tomados a
vida de santos, tudo lhe serve, tudo lhe aproveita para dar ao argumento o esplendor
do concreto” e acrescenta: “[...] tudo são recursos de ênfase que visam à meta supre-
ma do orador: persuadir”.
INTRODUÇÃO 35
Observamos, dessa forma, que o político é a instância definidora dos
diversos caminhos que o país deva percorrer. Sendo assim, não é de es-
tranhar que a análise do comportamento dos parlamentares, em função
de sua importância para compreensão do jogo político que se pratica no
parlamento, seja objeto de estudo da história política.
É preciso que todo historiador ao se aventurar na elaboração de qual-
quer trabalho histórico tenha, antes de tudo, a convicção de que, como
bem esclarece Koselleck (2006, p. 186-188), “[...] as fontes têm poder
de veto”. Para Koselleck (2006), no entanto, isso não significa que elas
limitem a nossa liberdade de dizer - por exemplo, na construção textual
- mas ao mesmo tempo vetam a tentativa de dizer qualquer coisa. Em
outras palavras: pode-se dizer, mas apenas aquilo que está autorizado
pelas fontes. Essa exigência decorre do fato de que todo historiador tem
que estar compromissado com a verdade.
Em qualquer pesquisa, o momento em que o historiador tem que
confrontar o seu desejo, neste caso, uma resposta convincente ao pro-
blema proposto, com a existência das fontes, é muito importante. Muitas
vezes, nossas expectativas em relação à escolha de determinadas fontes
são frustrantes, já que algumas pouco nos ajudam a encontrar vestígios
que possam nos auxiliar na resolução do problema levantado. Mas, o
historiador deve estar preparado para buscar alternativas, haja vista que
no exercício do seu ofício nem sempre ele vai se deparar com um “céu
de brigadeiro”. No nosso caso, antes de fazer as melhores escolhas sobre
as fontes que iríamos utilizar, tivemos que aprofundar mais o nosso co-
nhecimento sobre o assunto aqui proposto. Dessa forma, as fontes esco-
lhidas por nós se mostraram adequadas e suficientes para nos ajudar na
resolução do problema aqui levantado.
Para fazer frente, com certa segurança, a algumas afirmações aqui
levantadas, lançamos mão de variadas fontes. Em primeiro lugar, os re-
latórios dos presidentes de Província do Ceará. Estes documentos são
indispensáveis quando se estuda o Ceará da segunda metade do século
XIX e início do século XX. Utilizamos largamente, também, os discur-
sos dos parlamentares do Ceará no Senado e na Câmara, visto que os
mesmos são importantes para que se possa conhecer as tramas e as arti-
36 FERROVIAS NO CEARÁ
culações desses representantes para conseguir os recursos necessários à
edificação das obras reivindicadas para que o Ceará pudesse continuar
“sobrevivendo”. Enxergamos também, nos debates travados no parla-
mento nacional, o afloramento dos inúmeros interesses regionais dis-
cordantes.8 Os jornais da mesma forma se mostram importantes como
fontes para este trabalho, na medida em que eles não só nos possibili-
tam conhecer a realidade econômica, social e política do Ceará, como
alguns dos aspectos da vida cotidiana de sua população. Esses exibem,
por outro lado, também as disputas, as articulações e a desavenças po-
líticas no seio de sua elite dirigente. Costumeiramente, também, esses
jornais repercutiam em suas páginas os grandes embates que se davam
no parlamento. Recorremos ainda aos Relatórios do Ministério da Agri-
cultura que contêm dados importantes quando se fala na implantação e
expansão ferroviária em qualquer região do Brasil. Da mesma forma se
mostrou necessário lançarmos mão de alguns relatórios da Estrada de
Ferro de Baturité (EFB) e da Rede Viação Cearense (RVC).
Na leitura que Karnal (2009, p. 317) faz do livro Apologia da História,
de Marc Bloch, chega a conclusão de que, para o autor, “[...] o documen-
to seria não apenas um resto, um vestígio do passado, mas um produto
do passado [...]”. Dessa forma, todo historiador tem, no exercício desse
ofício, a obrigação de contextualizar a fonte que chega a suas mãos. Em
que circunstância aquele documento foi produzido? Quem produziu
estava ligado a que interesses? Tudo isso deve ser visto e analisado pelo
historiador. É preciso que o pesquisador não seja submisso à sua fonte
8
Evaldo Cabral de Melo (1984) justificando o porquê da utilização dos Anais da Câ-
mara e do Senado, além dos relatórios ministeriais, como fontes básicas para a ela-
boração de O Norte Agrário e o Império: 1871-1889 nos faz ver que o Parlamento
nacional, bem ou mal, representou “[...] a caixa de ressonância por excelência do
país e o foro último onde vieram desaguar as aspirações provinciais, mesmo quando
o seu papel limitou-se a endossar decisões de política econômica tomadas alhures”
(MELO, 1984, p. 16). E adiante, citando Martinho Campos, que, para Melo, “embora
incorrendo em boa dose de idealização ao estabelecer a comparação entre o nosso
regime monárquico-representativo e os europeus” havia dito que “a história dos paí-
ses regidos pela nossa forma de governo não é outra senão principalmente a história
dos seus parlamentos” (MELO, 1984, p. 16).
INTRODUÇÃO 37
e que não a veja como a expressão da verdade, pois “[...] antes de tudo,
ser historiador exige que se desconfie das fontes, das intenções de quem
a produziu, [...]” (BACELLAR, 2008, p. 64). E como afirma Le Roy La-
durie (1997, p. 12) “[...] todo estudo histórico deve ou deveria começar
por uma crítica das fontes”.
Hoje é regra se exigir do historiador que desconfie das fontes e de
uma, em especial, devemos redobrar esses cuidados: são os jornais. Esta
fonte deve ser olhada e analisada com a devida prudência e desconfian-
ça já que, invariavelmente no Ceará, na época aqui estudada, havia uma
ligação umbilical da imprensa com a sua elite política. Esta imprensa
representava interesses de grupos que se digladiavam na disputa pelo
poder. Os jornais que foram utilizados são: O Cearense que representa-
va os interesses dos que militavam no partido liberal; já o Pedro II e o
Constituição os interesses dos que estavam filiados nas hostes do Partido
Conservador. Observamos que essa fonte, quase sempre, está contami-
nada por interesses e influências dos que a controlam.
É preciso também que o historiador esteja atento para o fato de
que o documento histórico é “[...] raramente ‘dócil’, ‘aberto’ ou ‘fácil’”
(KARNAL, 2009, p. 17). Nessa perspectiva, o historiador tem que se
comportar muitas vezes, como afirma Ginzburg (1989), como um in-
vestigador que tenta elucidar a autoria de um delito através de indícios
que aparentemente não estão expostos com toda clareza. Assim sendo,
é essencial que ele se apodere de um método de leitura dos documentos
que o ensinem a ler além de sua dimensão aparente. Observamos que
muitas vezes o historiador se depara com situações em que “[...] a rea-
lidade é opaca [...]”, mas ele não pode esquecer de que por trás daquela
penumbra existem “[...] sinais, indícios que permitem decifrá-la” (GIN-
ZBURG, 1989, p. 177). Assim, impõe-se ao trabalho de historiador ad-
quirir a capacidade de perceber nas entrelinhas dos documentos aquilo
que para muitos é impercebível. Em função disso, fizemos a opção pelo
método indiciário como instrumento de trabalho, já que é um método
que exige do historiador a capacidade de indiciar a fonte, ou seja, fazer
com que a mesma fale para além daqueles aspectos mais aparentes. Que
a fonte fale para além do dito. Essa é uma exigência desse método e que
38 FERROVIAS NO CEARÁ
a capacidade de fazer essa render é algo que associa a fonte ao trabalho
do historiador na busca da verdade.
Este trabalho, que recebeu o título Ferrovias no Ceará: suas tramas
políticas e seus impactos econômicos e culturais (1870-1930), foi dividido
em três capítulos.
No capítulo I - Todos os caminhos devem levar a um só lugar, bus-
camos mostrar como Fortaleza construiu sua hegemonia no Ceará, po-
dendo assim determinar de onde partiria e para onde iria a primeira
ferrovia do Ceará.
No capítulo II - Ferrovias e secas no Ceará: suas tramas políticas,
tratamos de descrever as tramas e as articulações políticas que os repre-
sentantes do Ceará utilizavam para angariar recursos junto ao Governo
Central e como as injunções políticas particulares na construção de suas
estradas de ferro foram responsáveis pelo aparecimento de uma malha
ferroviária bastante irracional em todos os sentidos. Ainda analisamos
a utilização do “Discurso da Seca”, por parte da elite política do Ceará,
como instrumento de sensibilização junto ao parlamento nacional e ao
governo central para conseguir verbas para fazer frente as suas inúme-
ras necessidades, notadamente, para a construção de suas ferrovias.
No capítulo III - Ferrovias em Iguatu: seus impactos econômicos
e culturais, buscamos demonstrar que, efetivamente após a chegada
das ferrovias nesse município do sul cearense, a cidade toma um novo
rumo. Essas promoveram substanciais impactos econômicos e culturais.
INTRODUÇÃO 39
Todos os Caminhos Devem
Levar a um só Lugar:
Fortaleza
Perspectiva do palacete de residência do Sr. Octaviano Benevides
“[...] Nada influi mais sobre os destinos das
cidades do que a história dos caminhos”.
(FEBVRE, 1922 apud AZEVEDO, 1950, p. 93).
43
como polo de intermediação da mais importante atividade econômica
do Ceará naquela época.
44 FERROVIAS NO CEARÁ
O aumento da necessidade da indústria têxtil inglesa por mais algo-
dão, refletiu no Ceará e levou a expansão dessa atividade econômica à
região. Segundo Lemenhe (1991, p. 50), nesse período se deu, também,
a desvinculação do Ceará, antes integrada a Pernambuco, o que signi-
ficou o direito da Província comercializar diretamente com Portugal. A
separação representou uma diminuição da influência da Praça do Recife
sobre o conjunto das transações comerciais que se realizavam no Ceará,
o que veio a prejudicar, principalmente, os “[...] comerciantes e produ-
tores estabelecidos em Aracati, ou a eles vinculados”.
Diferentemente da pecuária, o algodão possibilitou, agora, a Fortale-
za se inserir como respeitável centro de comercialização do produto na
Província, o que permitiu um razoável excedente, advindo dessa ativi-
dade, aí concentrada. Isso possibilitou, a esse núcleo urbano, mais “po-
der de fogo” e ensejou uma disputa mais intensa por um maior controle
na comercialização do algodão, que tinha como pano de fundo uma
concorrência acirrada entre os comerciantes de Aracati - que recebiam
o apoio explícito da Praça do Recife, preocupados, cada vez mais com o
avanço de Fortaleza sobre áreas, até então colocadas como de exclusiva
influência da capital pernambucana.
Com a desvinculação administrativa do Ceará em relação a Pernam-
buco e com o direito, também, de poder efetivar transações comerciais
diretas com Portugal, Fortaleza teve que ir implementando, paulatina-
mente, a instalação de uma série de equipamentos e serviços que vão lhe
capacitar, cada vez mais, ao atendimento de suas novas funções.
Observamos, dessa forma, que o incremento da agricultura para ex-
portação, bem como a desvinculação administrativa do Ceará são fato-
res que levaram Fortaleza a ir, lentamente, construindo sua supremacia.
Mas, para Lemenhe (1991, p. 88), foram mudanças, principalmente,
“[...] no quadro político-institucional do império, que tenderam a privi-
legiar as capitais,1 como núcleos principais na captação dos excedentes
1
O privilegiamento das capitais era uma tentativa do governo central em fazer chegar
a todo território nacional, de maneira mais efetiva, a presença do Estado Imperial, já
que como afirma José Murilo de Carvalho (2011, p. 418): “A burocracia do estado era
macrocefálica: tinha cabeça grande mas braços curtos”.
46 FERROVIAS NO CEARÁ
interior e vice-versa. Assim, suas dificuldades com o sistema de comu-
nicação se revelam maiores do que as de outras áreas do país, em vista
das constantes estiagens que grassam suas terras, tornando o transporte
mais precário e custoso.2 Esses problemas aconteciam não só quando a
seca se alastrava sobre todo o Ceará, mas também em tempo chuvoso.
Quando as chuvas eram mais intensas, praticamente se interrompiam as
comunicações na Província, já que, em boa parte, as estradas ali existen-
tes eram construídas com técnicas rudimentares e, naturalmente, não
suportavam quadras invernosas mais abundantes.
Essas dificuldades e a necessidade de caminhos melhores são cons-
tantemente lembradas nos Relatórios dos Presidentes de Província do
Ceará. O presidente Antonio Marcelino Nunes Gonçalves (1860, p. 22),
no relatório de Presidente de Província em 1 de julho de 1860, fazendo
um balanço das diversas estradas de rodagem da Província, observa que
todas estão em estado deplorável. Sobre a estrada de Soure, ele afirma
que mandou “[...] ultimamente reparar alguns estragos, produzidos pe-
las chuvas [...]” e que mesmo assim o engenheiro informa “[...] que o
estado da estrada geral é máo, achando-se mesmo quasi intransitável em
muitos lugares”. Na avaliação que faz da estrada do Mundahu, ele veri-
fica, também, que seu estado não é bom, e que os agricultores “[...] por
falta de outra via de comunicação” são “[...] constrangidos á remetter
para esta capital os seus produtos por um péssimo caminho, inaccesivel
ao transito dos carros e em uma extensão de 30 léguas [...]”.3
Lamenta, ainda, que os agricultores em função da demora do trans-
porte e do frete caro sofrem constantemente com prejuízos. Em seguida,
2
Quando se deflagrava uma seca, os animais que puxavam as carroças ou levavam no
lombo as mercadorias eram dizimados em sua maioria. Isso levava a uma interrup-
ção das comunicações entre o Sertão e o Litoral, já que por essa época o Ceará não
era dotado nem de boas estradas de rodagem e muito menos de ferrovias (SUDENE,
1981, p. 31). Raimundo Girão (1947, p. 313) chega a assegurar que em determinadas
localidades teve situação em que não ficou de pé “[...] uma única rês, e as comu-
nicações para o interior foram impossibilitadas pela falta absoluta de animais que
estivessem em estado de suportar a viagem.
3
Este trabalho respeitará a grafia original de suas fontes.
48 FERROVIAS NO CEARÁ
Quadro 1 – Distância dos centros produtores até a capital e os respectivos
preços de fretes por produto
DISTÂNCIAS/
COUROS
ALGODÃO
ASSUCAR
LUGARES
KILOM.
CAFÉ
Maranguape 20 250 rs. 250 rs. 250 rs. 250 rs.
Pacatuba 25 320 320 320 320
Acarape 50 500 500 500 500
Baturité 75 750 750 750 750
Queixeramobim 250 1$500 1$500 1$500 1$500
Bôa-Viagem 250 $ $ $ $
Maria Pereira 350 1$800 1$800 1$800 1$800
Inhamum 400 2$000 2$000 2$000 2$000
S. Matheus 400 2$200 2$200 2$200 2$200
Telha 425 2$500 2$500 2$500 2$500
S. Miguel 350 2$500 2$500 2$500 2$500
Icó 400 3$000 3$000 3$000 3$000
Lavras 450 3$000 3$000 3$000 3$000
Venda 475 3$000 3$000 3$000 3$000
Porteiras 500
Missão-Velha 580 3$500 3$500 3$500 3$500
Milagres 500
Jardim 550
Crato 550 3$500 3$500 3$500 3$500
Fonte: Mattos (1872, p. 42).
50 FERROVIAS NO CEARÁ
fosse construído um conjunto de vias de comunicação ligando o interior
à capital e que a tornasse, cada vez mais, o principal centro de interme-
diação econômica do Ceará. Para isso, envidaram esforços para alcançar
esse objetivo.
É exemplar o Relatório de Presidente de Província, de 1 de agosto de
1836 (ALENCAR, 1836, p. 3), em que o presidente Martiniano d’Alencar
faz um balanço de sua gestão. Já naquela época se constata qual é o inte-
resse do governo em construir uma estrada carroçável ligando Fortaleza
ao rico município do Icó. Após relatar que as obras estão em andamento
e que até o final do ano ela estaria pronta, termina declarando que essa
estrada “[...] de certo chamará à capital o commercio da interessante vila
do Icó”. Ali, Fortaleza lançava as sementes de seu grande objetivo: captar
para si as atenções e, ao mesmo tempo, retirar da área de influência de
Aracati toda região polarizada pela vila do Icó.
Entretanto, para que Fortaleza conseguisse alcançar a sua hegemonia
era preciso muito mais. Era necessário estender todos os seus “tentácu-
los” sobre a Província como um todo. A leitura do relatório de 1 de agos-
to de 1837 (ALENCAR, 1836, p. 3) em que o Senhor Presidente Marti-
niano d’Alencar, ao fazer um balanço das necessidades da Província, nos
aproxima dessa ideia quando ele assevera que “[...] cabe aqui diser-vos,
Srs., que sendo huma de nossas primeiras necessidades a abertura de
nossas estradas para fasermos chegar à capital os recursos e produtos de
todas as partes da província [...]”.
A região de Baturité era, em função do seu potencial econômico e
proximidade da capital, a área no Ceará que demandava maior preo-
cupação das forças políticas e econômicas da Província no que diz res-
peito à necessidade de melhorar a estrada que ligava a capital a essa rica
região. A sua melhoria era colocada como uma necessidade premente,
para o engrandecimento da Província. Foi assim que essas forças domi-
nantes fizeram, inclusive, gestões junto ao governo central para conse-
guir recursos para o melhoramento das vias mais transitáveis.
É o que reivindica o senador Pompeu em sua fala, de 6 de agosto de
1866 (BRASIL, 1866, p. 31), no Senado do Império. Ele lamenta assim
se expressando: “[...] ha uns poucos annos que a provincia do Ceará
4
É emblemático o episódio do fechamento da alfândega de Aracati, em 11 de novem-
bro de 1851, por parte do governo imperial, que levado por pressão de interesses de
Fortaleza, teve que tomar essa medida, “[...] a pretexto de combate ao contrabando
e malgrado o fato de a sua arrecadação ser superior a de várias capitais de província
como Natal, Paraíba, Maceió e Vitória” (MELO, 1984, p. 227).
52 FERROVIAS NO CEARÁ
em decorrência da interrupção do fornecimento norte-americano, por
causa da Guerra da Secessão.
Essa explosão da atividade algodoeira insere o Ceará, de forma mais
efetiva, nas correntes internacionais de comércio e reforça, ainda mais, o
papel de Fortaleza como principal polo de intermediação da Província.
O aprofundamento dessa função deve-se, em boa parte, à construção
de um conjunto de vias de comunicações que levava parte significativa
da produção do interior para a capital e ao melhoramento do seu porto.
O porto de Fortaleza sempre esteve na ordem do dia das preocupa-
ções do governo provincial. Nas várias mensagens em que os presiden-
tes de Província se dirigiam à assembleia provincial, eles evocavam a
necessidade de melhorá-lo, pois sabiam que a consolidação de Fortale-
za, como principal polo de intermediação do Ceará, só se completaria
com a realização de várias obras de modernização desse ancoradouro.
No Relatório de Presidente de Província, de 1 de outubro de 1864, o
Presidente Lafayette Rodrigues Pereira (1864a, p. 53), após mostrar os
números das exportações “[...] para dentro e fora do império” pelo por-
to de Fortaleza e de relacionar as diversas praças no Brasil e no exterior
que comercializam com a Província, lamenta o rumo que as importa-
ções e exportações poderiam ter se “[...] muito mais considerável [...]
outras fossem as condições do porto da capital”. Em seguida, finaliza
afirmando que “[...] dar a esta capital um bom porto é o primeiro passo
para alargar as nossas relações mercantis com o estrangeiro”.
Em 1 de setembro de 1870 (p. 19), em relatório apresentado à assem-
bleia provincial, o presidente da Província evidencia que “[...] o melho-
ramento do porto desta capital é uma inspiração da província, como
primeira necessidade para o seu progresso e desenvolvimento de sua
riqueza”. Já no Relatório de Presidente de Província, de 4 de julho de
1871 (A1-13), o Presidente Calasans Rodrigues após afirmar que “[...]
o melhoramento do porto continua a ser considerado com rasão uma
das mais ardentes aspirações do Ceará”, em seguida, anuncia com ale-
gria que “[...] o governo imperial tem correspondido a nossa expectativa
promovendo quanto em si tem cabido para dotar a província com esse
notável beneficio” (RODRIGUES, 1871, n.p.).
5
É comumente observável nas falas do senador Pompeu a utilização de duas estra-
tégias para atingir os objetivos desejados pelo mesmo, ou seja, conseguir recursos
54 FERROVIAS NO CEARÁ
Essa questão do porto do Ceará, ou seja, de Fortaleza, também, re-
verberava na Câmara dos Deputados. Diversos deputados, ao longo dos
anos e, em diversas oportunidades, colocaram na ordem do dia des-
sa Casa o problema do porto de Fortaleza. O Sr. Paulino Nogueira, na
sessão do dia 16 de julho de 1877 (BRASIL, 1877d, p. 136), insere essa
questão em um debate com a presença do Sr. Barão de S. Domingos,
Ministro de Estado, quando após relatar o péssimo estado financeiro da
Província, em decorrência da seca, não esquece de descrever também
a precariedade do seu principal ancoradouro. E diz ao ministro “Se V.
Ex., felizmente, já tivesse ido ao Ceará, visto o seu porto e alfândega, eu
estaria dispensado de fazer estas observações, porque o testemunho de
V. Ex. seria o melhor argumento”.
As intervenções do governo Imperial, no sentido de ajudar na me-
lhoria do porto de Fortaleza, decorrem dos constantes apelos e pressões
feitos por essas forças. Em vários relatórios do Ministério da Agricultu-
ra, observamos que o governo Imperial tinha conhecimento da carên-
cia portuária do Ceará, como sabia perfeitamente que isso resultava em
prejuízo para a Província se não fossem realizadas intervenções para
melhorar o seu principal ancoradouro.
para a província que representava. Em primeiro lugar, ele quase nunca se colocava
frontalmente contra um projeto que fosse alocar verbas para outras províncias desde
que, em contrapartida, a sua fosse contemplada com alguma verba. Era o toma lá dá
cá. No projeto dos 35.000:000$ (trinta e cinco mil contos de réis) enviado ao parla-
mento pelo governo central para o prolongamento da estrada de ferro D. Pedro II,
percebemos na leitura de toda a sua fala, que o senador Pompeu se propõe a votar
a favor do projeto do governo desde que a sua Província e outras não “sejam esque-
cidas, ou antes, excluídas do laudo banquete do orçamento”. O outro instrumento
utilizado pelo senador Pompeu foi a retórica refinada. Como um intelectual de larga
envergadura, já que o mesmo era padre, professor e escritor com vasta obra publica-
da, Pompeu se utilizava de discursos grandiloquentes que chamassem a atenção de
seus pares e os sensibilizassem. Na sessão do Senado acima citada, a intervenção do
senador é marcante. Após afirmar que o Ceará era uma das províncias “esquecidas do
[...] laudo banquete do orçamento”, o que ele reivindica? Que se destinem ao Ceará
“oitocentos ou mil contos” de réis, uma migalha, segundo ele, diante da bagatela de
35.000:000$ (trinta e cinco mil contos de réis) que a D. Pedro II reivindicava. Essas
colocações feitas por Pompeu deixavam evidentemente, os seus oponentes quase que
impotentes para contra-argumentar.
56 FERROVIAS NO CEARÁ
lhoramento do porto de Fortaleza. Esclarece, ainda, que foi concedido
privilégio de exploração por 33 anos, garantia de juros “[...] até o capital
máximo de 2.500:000$ (dois mil e quinhentos contos de réis) que for
empregado n’aquellas obras e nas da alfândega; direito de desapropria-
ção [...]”. Já no Relatório do Ministério da Agricultura de 1885, (BRASIL,
1866b, p. 147),9 de forma misteriosa, os concessionários de 1882 somem,
e aparece em seu lugar a Ceará Harbour Corporation, Limited. Nesse
caso, é provável que os concessionários de 1882 tenham reeditado a ação
como costumavam fazer quase todos os detentores de concessões dos
chamados “[...] melhoramentos materiais” do Brasil: correram a Londres
para vender aos financistas de plantão essa concessão. Esse era um tipo
de negócio altamente rentável para os possuidores dessas concessões.
Ainda, na leitura desse Relatório do Ministério da Agricultura
(BRASIL, 1886b, p. 147-147),10 chegamos, também, à conclusão de que
a relação dessa empresa com o governo Imperial é conflitante, conforme
registros de que o governo central havia autorizado a empresa a levantar
no exterior “[...] a somma de £ 1.500, por conta do capital garantido pelo
contrato aprovado pelo decreto n° 8943 A, de 12 de maio de 1883 [...]”,
e ainda, “[...] com a condição, porém, de só serem pagos os juros do que
fosse effectivamente empregado”, mas, por uma “displicência” de nossa
representação em Londres, juros foram pagos à empresa antes que ela
realizasse qualquer obra.
Alerta o aviso que o pagamento só deveria continuar “[...] depois que
ellas acharem-se construídas [...]”, e avisava ainda “[...] para a conveniên-
cia de serem expedidas ordens nesse sentido a delegacia do tesouro na-
cional em Londres, prevenindo-a de que até a presente data a companhia
não construiu qualquer parte das obras de melhoramento do porto de
que é emprezaria”. Em seguida, o relatório vaticina que “[...] é presumível
que no corrente anno tenham as obras grande incremento, visto achar-se
já parte do pessoal techinico e do material na cidade de Fortaleza”.
9
BRASIL. Ministério da Agricultura. Relatório apresentado à Assembleia Geral na 1ª Ses-
são da 20ª Legislatura no ano de 1885. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1866b. p. 147.
10
BRASIL. Ministério da Agricultura. Relatório do ano de 1885 apresentado à Assem-
bleia Geral na 1ª Sessão da 20ª Legislatura. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1886b.
p. 147-148.
11
BRASIL. Ministério da Agricultura. Relatório do ano de 1887 apresentado à Assem-
bleia Geral na 3ª Sessão da 20ª Legislatura. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1888b.
p. 142-144.
12
Sobre provincialização na segunda metade do século XIX, segmentos dominantes
das chamadas pequenas províncias do Nordeste, Norte na época, tentam “provincia-
lizar” suas atividades econômicas, ou seja, “[...] reservar às praças de suas respectivas
capitais a exportação dos produtos dos seus hinterlands e a importação dos artigos
estrangeiros por eles consumidos, mediante a ampliação do comércio direto com o
exterior e a diminuição da ‘parte do leão’ que detinham as grandes praças do Reci-
fe, São Luiz e Salvador” (MELO, 1984, p. 221). Devemos ressaltar que o Ceará, das
chamadas províncias pequenas do Norte, foi a única que logrou êxito em sua política
de provincialização, constituindo suas ferrovias no instrumento mais importante de
58 FERROVIAS NO CEARÁ
notadamente, a busca de Fortaleza por sua hegemonia, só seriam plena-
mente alcançadas se o seu porto recebesse melhoramento substancial.
Para que isso fosse concretizado, não mediram esforços para arrancar
do governo Imperial o compromisso de conceder garantia de juros a
uma empresa para modernizar o seu porto. É certo, portanto, que o por-
to do Ceará foi o único no Império a receber esse benefício.
O fato de o Ceará ter sido contemplado no Império com o único por-
to estatal do Brasil foi fruto, em boa parte, da capacidade de articulação
da representação cearense no parlamento e junto ao governo central.
Isso foi resultante de duas características marcantes dessa representa-
ção. A primeira era que essa bancada era incansável quando estavam em
jogo os interesses do Ceará. Aliado a isso, essa representação era exímia
no uso da tribuna. Eram extremamente competentes no uso da retórica
para persuadir seus pares a aceitar seus argumentos, ou seja, a alocação
de verbas para obras no Ceará. Assim fica mais fácil entender como o
Ceará, considerado uma Província pequena,13 consegue uma quantida-
de de recursos desproporcionalmente14 superior a sua representação na
60 FERROVIAS NO CEARÁ
quando novas despezas, de caracter permanente, tem de gravar
o nosso orçamento (MELO, 1866, p. 48).
Apesar de não ser contra que “[...] o Ceará pudesse gozar de todas as
comodidades das grandes cidades, de todos os recreios, e confortos, que
tem introduzido a civilização,15 mas ninguém dirá que devemos come-
çar por onde os outros acabam” (OBRAS..., 1864, n.p.). Nessa matéria, de
forma alguma achava justo que, enquanto não se faz nada pelas estradas
do interior, o governo provincial gaste recursos substanciais dos cofres
do erário público, com “obras de luxo” na capital. Isso era algo extensivo
a todo o Brasil. Sempre que ocorreram obras de “embelezamento” nas ca-
pitais, Brasil afora, eclodiram reclamações no tocante à falta de recursos
para obras mais prementes e necessárias. O caso clássico diz respeito às
reformas de Pereira Passos no Rio de Janeiro, em que as bancadas das
províncias ditas desassistidas reclamaram com veemência, já que conside-
ravam um descalabro o que estava sendo realizado no Rio de Janeiro, haja
vista que o Brasil necessitava de recursos para obras muito mais urgentes.
Essa pouca atenção que o governo provincial dá aos outros muni-
cípios é mais gritante, ainda, quando se trata das coisas de Aracati. No
relatório apresentado à Assembleia Legislativa provincial do Ceará pelo
Sr. Presidente José Bento da Cunha Figueiredo Júnior (1862b, p. 38),
em 10 de outubro de 1862, notamos essa discrepância de tratamento,
no que diz respeito ao melhoramento dos portos das duas cidades. En-
quanto o governo toma medidas mais concretas com relação ao porto
da capital, para o porto de Aracati isso não acontece.
Apesar de ele ter conhecimento de que “[...] são desanimadoras as in-
formações dadas sobre o porto do Aracaty pelo engenheiro Chrysolito
Ferreira de Castro Chaves, que examinou em desempenho da comissão
de que foi incubido pelo meu predecessor”, e após relatar quais são os pro-
15
Essas obras de embelezamento da capital foram introduzidas, em nome da ideia de
que sem esses entretenimentos - jardim público, teatro etc., Fortaleza não entraria no
rol da vida civilizada. No capítulo 3° (Os impactos econômicos e culturais provoca-
dos pelas ferrovias), este assunto será tratado com mais profundidade.
62 FERROVIAS NO CEARÁ
blemas a serem resolvidos com mais urgência, para possibilitar condições
razoáveis de funcionamento do porto de Aracati; ele acaba com qualquer
esperança dessa cidade em ter resolvido o problema ao afirmar que:
16
Anais da Câmara dos Deputados, sessão do dia 15 de junho de 1882 (BRASIL, 1882c,
p. 498-502).
Este facto prova, por si só, que a cidade do Aracaty por sua po-
sição geographica, por seu porto, pela índole laboriosa de seus
habitantes, estava destinada a competir com a da Fortaleza, si
mil embaraços não fossem oppostos a seu commercio, no in-
tuito de se lhe tirarem as vantagens que tinha como empório
do sul da província e de grande parte do Rio Grande do Norte
e Parahyba. Suas relações commerciais que ia até ao centro de
Pernambuco e Piauhy. A capital, visando chamar a si o commer-
cio que até então se fazia com a cidade do Aracaty, promoveu e
obteve, como disse, a extincção da alludida alfândega.
64 FERROVIAS NO CEARÁ
mente, mas principalmente ao Ceará nos seus mais caros interesses, no
futuro de sua viação férrea”. Contudo, essa luta travada pelo deputado
Álvaro Caminha seria inglória, pois, como sabemos, forças econômicas
e políticas mais poderosas, e que estavam alinhadas aos interesses da
capital, já tinham firmado posição em defender o prolongamento da
EFB para Quixadá, visto que essa ligação anularia qualquer possibilida-
de futura de Aracati vir a ameaçar os interesses de Fortaleza, o que de
fato terminou acontecendo.
A determinação do governo provincial de concentrar em Fortaleza
quase toda intermediação comercial do Ceará, com outras províncias
e com o exterior, é reforçada a todo instante. E para que isso fosse al-
cançado, os diversos gestores da Província buscaram implementar ações
administrativas para viabilizar esse objetivo. É o que vemos, por exem-
plo, no Relatório de Presidente de Província, de 26 de julho de 1869
(FREIRE, 1869, p. 19), quando o coronel Joaquim da Cunha Freire - 2°
presidente - passa a administração ao presidente, desembargador João
Antonio de Araújo Freitas Henriques. Nesse relatório, o gestor interino
expõe sua ação administrativa ao afirmar:
66 FERROVIAS NO CEARÁ
algodão. Compreendem, também, que só poderão continuar candida-
tos a exportadores - para o cada vez mais estreito mercado externo e
para o mercado interno, que começa a tomar corpo - se os preços dos
transportes não forem tão elevados. Para eles, a melhoria dos meios de
comunicação cearense é uma questão inadiável. Evaldo Cabral de Melo
(1984, p. 198) coloca o problema nos termos abaixo.
17
BRASIL, T.P. de S. Estado do Ceará na exposição de Chigago. Fortaleza: TYP. da República,
1893. p. 110.
68 FERROVIAS NO CEARÁ
Apesar de Fortaleza, já naquele período, ser o principal centro de
intermediação econômica do Ceará, Aracati ainda suspirava, ou seja,
conseguia empreender exportações e importações pelo seu acanhado
porto. Isso irritava profundamente a elite senhorial18 de Fortaleza. En-
tendia essa elite que o fato de Aracati, e parte do interior do Ceará, re-
alizar transações com outras praças, sem passar pela intermediação de
Fortaleza, era prejudicial aos interesses da Província.19
O relatório do governo provincial, de 20 de outubro de 1872 (AG-7),
nos mostra claramente que o grande objetivo da capital era monopolizar
toda intermediação comercial do Ceará com outras praças da Província,
do Brasil e do exterior. Vejamos o que ele diz (MATTOS, 1872, p. 42):
18
Quando fizermos referência a esse termo, estaremos nos referindo ao segmento so-
cial detentor do poder político e econômico em Fortaleza e no Ceará.
19
Ao observarmos o quadro abaixo, chegamos à conclusão de que as economias de
Fortaleza e Aracati não eram ou não buscavam ser complementares, e sim rivais.
Aracati, de forma alguma, não se mostrava receptiva a estabelecer relação comer-
cial mais intensa com Fortaleza, diferentemente de outras praças, até rivais e mais
distantes, como Pernambuco.
No ano de 1861 a navegação de longo curso por navios estrangeiros,
no porto d’esta cidade [Fortaleza], e de cabotagem foi a seguinte:
Era preciso então liquidar, de uma vez e para sempre, com qualquer
lampejo de suspiro de Aracati, e a concretização desse objetivo seria
alcançada através da implantação do mais revolucionário meio de trans-
porte até então existente, as ferrovias. Os caminhos de ferro deveriam
partir de Fortaleza para Baturité e seguiriam para o interior em busca
das ricas regiões do Icó e do Crato, acabando de vez o velho sonho de
Aracati de ter uma ferrovia ligando-a ao rico vale do Jaguaribe e, em
seguida, ao Cariri.
Evaldo Cabral de Melo (1984, p. 224-226) sintetiza bem esse emba-
te Fortaleza versus Aracati. Ele coloca que: “Quando pela primeira vez
cogitou-se de dotar a província de um sistema ferroviário, projetou-se
uma rede com três troncos que, grosso modo internar-se-iam parale-
lamente pelo interior [...]”. E que um dos pontos de conexão do litoral
com o interior seria, justamente, o eixo Aracati-Icó o qual, futuramente,
se prolongaria até a rica região do Cariri cearense. Mas, essa conexão re-
cebeu forte oposição da Praça de Fortaleza. Em seguida, ele afirma que
“[...] ela sabotou quanto pôde o projeto da estrada Aracati-Icó”.
Era evidente que o projeto Aracati-Icó não poderia sair do papel, já
que contrariava um desejo maior das mais poderosas forças políticas e
econômicas da Província que lutavam, fervorosamente, pela “provincia-
lização” do Ceará, ou seja, pelo fortalecimento da Praça de Fortaleza.
Entendia essas forças que esses dois projetos eram excludentes, um não
podia conviver com o outro. É bom, também, lembrar que esses dois
20
Já por essa época, o porto de Aracati havia reconquistado o direito de efetuar expor-
tações diretas (BARROS, J. J. de A. Relatório da Presidência da Província do Ceará em
1 de novembro de 1878. Fortaleza: Typografia Nacional, 1878. p. 05).
70 FERROVIAS NO CEARÁ
projetos ferroviários exteriorizavam, antes de tudo, rivalidades que fo-
ram edificadas a partir da própria formação do espaço cearense.
Para os partidários da política de “provincialização” do Ceará, o su-
cesso da mesma estava condicionado, antes de tudo, naquele momento,
à construção de ferrovias que se dirigissem para o interior e captassem
áreas que estavam sob a órbita de praças refratárias aos interesses da
capital, ou seja, contrárias à “provincialização”. Dessa forma, apenas
um projeto deveria sair do papel. O desejo de chegar a essas áreas e,
ao mesmo tempo, opor-se ao projeto ferroviário Aracati-Icó, é expresso
pelo presidente da diretoria da Companhia Cearense da Via Férrea de
Baturité. Em seu relatório dirigido ao presidente da Província do Ceará
e que faz parte do Relatório do Presidente de Província apresentado à
Assembleia Provincial, em 20 de outubro de 1872 (AH-7), o presidente
da Companhia Cearense coloca que (BRASIL, 1872, n.p.):
21
Ele se refere ao artigo de n°15 da minuta do contrato que foi proposto pela Compa-
nhia Cearense da Via-férrea de Baturité ao governo provincial, em 5 de março de
1870, e que estabelece que “[...] em igualdade de condições a companhia será preferi-
da á qualquer outra que se proponha a prolongar para o interior da província a estrada
contratada, e para este fim nenhum contrato se celebrará sem ser ella previamente
consultada”. In: Fala com que o Excelentissimo Senhor Desembargador João Antônio
de Araújo Freitas Henriques abriu a 1ª Sessão da 18ª Legislatura da Assembleia Pro-
vincial do Ceará no dia 1° de setembro de 1870 (CEARÁ, 1870, p. 3).
72 FERROVIAS NO CEARÁ
de um total de 133:571$000 (cento e trinta e três contos, quinhentos e
setenta e um mil réis) dos impostos arrematados por todos os municí-
pios na Província. A distância, para o segundo (Baturité) e o terceiro
(Crato) arrecadador, já é significativa (Quadro 5).
CAPITAL 40:781$000
BATURITÉ 15:001$000
CRATO 11:500$000
ARACATY 7:262$000
SOBRAL 6:730$000
CASCAVEL 5:301$000
22
O órgão responsável pela arrecadação do imposto provincial em Fortaleza tinha essa
denominação.
23
Não esquecer que esse valor de exportação do algodão é anterior ao “boom” algo-
doeiro de meados dos anos 1860. A partir desse “boom” o algodão vai se posicionar,
durante décadas, em 1° lugar na pauta de exportação do Ceará.
74 FERROVIAS NO CEARÁ
ferrovia - Fortaleza - era um consenso para os partidários da provincia-
lização, outro não poderia ser o destino da Estrada de Ferro de Baturité,
que não fosse o município do mesmo nome. A região contemplada pelo
percurso da ferrovia era grande produtora, principalmente, de café,24
produto importante na pauta de exportação do Ceará, chegando, inclu-
sive, em alguns anos a figurar em primeiro lugar no quadro das expor-
tações da Província (Quadro 6). Além do mais, a região e adjacências
eram, também, fortes produtoras de algodão, que nesse momento é o
mais importante produto de exportação do Ceará. Esses produtos, in-
clusive, vão ser no futuro os que mais irão contribuir para arrecadação
da Estrada de Ferro de Baturité, o que só confirma o interesse dos que
advogavam que a primeira ferrovia do Ceará deveria sair de Fortaleza e
se dirigir, necessariamente, para Baturité (Quadro 7). Evaldo Cabral de
Melo (1984, p. 211) mostra que a direção dada à EFB (Fortaleza / Porto
- Baturité / produção)25 estaria, dessa forma, inserindo essa ferrovia à
economia de exportação, o que, obviamente, ajudaria na sua viabilida-
de financeira. Acrescenta, ainda, citando Hobsbawm, que as ferrovias
“[...] construídas no decorrer da segunda metade do século XIX, tive-
ram sempre este caráter de corredores comerciais, subsidiários da rede
mundial de transporte marítimo”.
24
No Relatório de Presidente de Província de 1 de outubro de 1864 (PEREIRA, 1864,
p. 49), o Sr. presidente Lafayette Rodrigues Pereira mostra que “[...] o Café, mo-
dernamente cultivado nesta provincia, já tem occupado o primeiro lugar no qua-
dro da exportação. É o principal ramo de agricultura nas serras de Maranguape,
Aratanha, Baturité e Acarape [...]”, áreas que seriam, futuramente, margeadas pela
Estrada de Ferro de Baturité.
25
O fato do ancoradouro de Fortaleza ser, nesse momento, o mais movimentado do
Ceará era, por si só, uma forte justificativa para que a primeira ferrovia da Provín-
cia tivesse origem na capital. Isso estava em consonância com o espírito de alguns
planos de viação que vão ser elaborados por essa época. O Plano Rebouças, por
exemplo, estabelecia que, preferencialmente, as ferrovias deveriam se conectar a
um porto: “[...] para cada porto uma ferrovia, para cada ferrovia um porto” (SOU-
SA NETO, 2012, p. 136).
O Ceará chega ao início dos anos setenta do século XIX, com sua
economia passando por um bom momento. E isso animou a todos
aqueles mais diretamente interessados na implantação dos primeiros
trilhos na Província - poder público e iniciativa privada - a se sentirem
encorajados para uma empreitada tão audaciosa. A receita da Província,
por exemplo, passa de uma arrecadação de 363:993$511, em 1860, para
733:030$712, em 1871, e se posiciona sempre num patamar superior a
setecentos contos de réis (Quadro 8).
1867
1868 729:333$10***
1869 731:583$820***
1870 686:092$385****
26
Dados mais precisos sobre o valor da receita provincial para os anos de 1866 e 1867
não foram encontrados nos relatórios de presidentes de províncias.
76 FERROVIAS NO CEARÁ
1871 733:030$712*****
1872 770:203$141*****
1873 773:510$296*****
1874 792:349$509*****
Fonte: elaborado com base nos dados do *Relatório de Presidente de Província de 1
de outubro de 1864 (PEREIRA, 1864a, p. 58-59) / **Relatório de Presidente de Província
de 22 de abril de 1868, (VELLOSO, 1868a, n.p.) (A3-1-4) / *** Relatório de Presidente
de Província de 1 de julho de 1874, (SÁ, 1874, p. 23) / **** Relatório de Presidente
de Província de 23 de outubro de 1874 (GRAÇA, 1874, p. 26) / ***** Relatório de
Presidente de Província de 1 de março de 1875 (GRAÇA, 1875, p. 26).
27
A receita geral é uma arrecadação específica do governo central e a receita provincial,
como o próprio nome já diz, é destinada ao governo provincial.
Fonte: elaborado pelo autor com base em a: Relatório de Presidente de Província, 1 de outubro de
1862 (FIGUEREIDO JÚNIOR, 1862a, p.39) / b: Relatório de Presidente de Província, 9 de outubro de
1863 (FIGUEREIDO JÚNIOR, 1863b, p. 29) / c: Relatório de Presidente, de 6 de maio de 1867 (ALVIM,
1867, p. 38) / d: Relatório de Presidente de Província, 1 de novembro de 1868 (ALBUQUERQUE,
1868, p. 46) / e: Relatório de Presidente de Província, 1 de setembro de 1869, p. 34. / f: Relatório de
Presidente de Província, 1 de setembro de 1870 (HENRIQUES, 1870, n.p.) (A8-2).
Fonte: elaborado pelo autor com base em Henriques (1870) (Mapa 1).
28
Por decreto de 19 de abril de 1873 permitiu o governo imperial que fosse elevado
o seu capital a 2,600:000$000 (dois mil e seiscentos contos de réis), e deu fiança a
garantia de juros por decreto de 25 de abril de 1874 (CARREIRA, 1889, p. 723).
78 FERROVIAS NO CEARÁ
O jornal A Constituição traz em sua edição, do dia 18 de março de
1871, um quadro que mostra o número de cotas adquiridas de ações da
via férrea de Baturité, por cidades, no Ceará e em outras províncias. Per-
cebemos, então, que foi na cidade de Fortaleza onde se comprou mais
papéis da companhia. De um total de 2.370 cotas compradas até aquela
data, Fortaleza, sozinha, adquiriu 1.109 unidades, ou seja, quase 50%
do total de cotas vendidas (Quadro 11). O que não é de se estranhar.
Primeiro, porque era um projeto de interesse direto da elite senhorial
da cidade e depois porque, nesse momento, Fortaleza já concentra as
maiores riquezas do Ceará. Era o núcleo urbano da Província mais capi-
talizado. Esses recursos financeiros eram oriundos, principalmente em
sua maior parte, dos negócios do algodão e do café e de ricos proprie-
tários de escravos do interior. Estes senhores tinham vendido escravos
para o sul do país e transfeririam os recursos para a capital, esperando
encontrar aqui uma aplicação mais vantajosa para seu dinheiro.
29
Na tribuna da câmara, em sessão do dia 30 de julho de 1875, o deputado Costa Pe-
reira faz menção a essa união em prol da construção da Estrada de Ferro de Baturité.
Fonte: elaborado pelo autor com base nos dados do Jornal A Constituição de 12 de fevereiro de
1871 (A CONSTITUIÇÂO, 1871a).
Referindo-se ao senador Pompeu, ele coloca que “[...] entre os seus propugnadores
[da ferrovia] não é o menos esforçado o Sr. Senador Pompeu que, neste empenho,
collabora patrioticamente com os chefes do partido adverso na Província” (BRASIL,
1875a, n.p.).
30
Que tinha como representante na empresa o comerciante e negociante inglês Henri-
que Brocklehurst.
80 FERROVIAS NO CEARÁ
nos sertões. A Justificativa para o interesse desses homens em
participar da Baturité estaria na relação que existia, se reforçava
e se confirmava entre os projetos de implantação das estradas de
ferro com a propriedade/produção da terra, sendo de interesses
dos proprietários, claro, valorizar suas propriedades, facilitar o
transporte da lavoura, dos braços e das informações e manter
o controle político de seus próprios estabelecimentos, além de
pretender angariar lucros com o transporte dos produtos de ou-
tros proprietários.
85
Esses grupos oligárquicos compreenderam, desde cedo, “[...] que seu
prestígio e autoridades estavam dependentes do grau de recursos que
pudessem dispor para influenciar as decisões governamentais que lhes
afetassem [...]” e que, os partidos políticos, servirão “[...] como meio de
conservação, preservação ou aquisição do poder político [...]” (PAIVA,
1979, p. 55). Sendo assim, o controle dos partidos era vital para a sobre-
vivência dessas oligarquias. E não foram muitas no Ceará. Contavam-se
nos dedos. As mais importantes e que, naturalmente, exerceram mais
influência no quadro político cearense, no período imperial, foram das
famílias Alencar, Castro, Feitosa, Fernandes Vieira, Pompeu e Paula
Pessoa (MONTENEGRO, 1980, p. 36).
A própria forma como estava organizada a estrutura institucional de
poder determinava a maneira de fazer política. Maria Arair Pinto Paiva
(1979), escrevendo a esse respeito, esclarece como esses agrupamentos
oligárquicos se apoderaram da estrutura de poder na Província. Veja-
mos o que ela diz:
86 FERROVIAS NO CEARÁ
antes de tudo, o controle desses instrumentos de poder. É esclarecedora,
para o que colocamos acima, a fala do senador do Ceará, Sr. Jaguaribe,
na sessão do Senado de 16 de julho de 1880. Ele relata fatos ocorridos
nas últimas eleições para deputados. Eleições essas marcadas por “[...]
violências praticadas em todo Império [...]”. Em sua Província, segun-
do ele, não foi diferente. Lá, “[...] homens apresentavam-se armados de
machadinhas e outros instrumentos para quebrarem urnas, arrombarem
portas, tentarem contra a vida de cidadãos pacíficos, contra o seu direito
de votar, direito que lhes é conferido pela constituição do Império [...].”
Em seguida, indaga ao plenário, “[...] si aqui na côrte, debaixo dos nossos
olhos passaram-se estes acontecimentos, [...] o que se deverá esperar em
relação aos acontecimentos passados nessas regiões dos confins do im-
pério?” (BRASIL, 1880a, p. 243). Tudo isto é fruto da forma como estava
organizada a estrutura institucional de poder no Brasil que, por sua vez,
determinava a maneira de fazer política e, consequentemente, as eleições.
Em uma estrutura organizada dessa forma, e que foi dominante no
Império e adentrou na República, era evidente que se fazia política vi-
sando, antes de tudo, atender a interesses particulares. O Estado é trata-
do como um patrimônio privado. Para Faoro (1998, p. 631) “[...] a linha
entre o interesse particular e o público [...] seria fluida, não raro indis-
tinta, frequentemente utilizado o poder estatal para o cumprimento de
fins privados”. E isto se dava, em boa parte, porque nessa época “[...] as
oportunidades de emprego e rendas são limitadas [...]”, restando, por-
tanto, o Estado como “[...] uma das poucas fontes de privilégio” (CA-
RONE, 1975, p. 253). Vamos recorrer novamente ao senador Jaguaribe.
É marcante, para demonstrar o que estamos afirmando, um discur-
so seu no Senado, em 15 de maio de 1879, quando denuncia que em
sua Província se cria e suprime comarcas para atender, unicamente,
as demandas políticas. Ele, na tribuna do Senado, denuncia (BRASIL,
1879m, p. 98):
88 FERROVIAS NO CEARÁ
[...] as estradas de ferro, na parte do Norte do Brasil a que hoje
chamamos Nordeste, foram marcadas por interesses privados
de toda ordem, interesses que ficaram a mercê do então jogo po-
litico praticado pelas elites provinciais ou estaduais no contexto
do estado brasileiro. Consequentemente, uma prática que tra-
duz com todas as letras a ideia de jogo, a construção de trilhos
para todo lugar e para lugar nenhum. Até porque, alimentada
pela ‘mística ferroviária’ propalada pela imprensa, aliada ao fato
que as ferrovias passaram a ser vistas como um negócio alta-
mente lucrativo, essas elites, fazendo um uso político da ques-
tão ferroviária, lançaram mão de toda a teia de cumplicidade e
estratégicas político-discursivas com vista á obtenção, nessa ou
naquela localidade, do seu quinhão ferroviário.
90 FERROVIAS NO CEARÁ
te na construção da Estrada de Ferro. O que se sabe é que essas conces-
sões enriqueceram muita gente, e isto muitas vezes chegou a incomodar
alguns parlamentares. No Senado, o senador Viriato de Medeiros mos-
tra que os concessionários “[...] apenas porque tiveram a habilidade de
percorrer as ruas, de subir as escadas de certos potentados, obtiverão
fortunas colossaes: uns 1.000:000 $; outros, 800:000 $! Enfim ahi esta-
va o thesouro aberto para todos quantos erão concessionários de estra-
das!”. E de que no Brasil afora “[...] não há concessionário que não tenha
ficado rico à custa do thesouro” (BRASIL, 1886, p. 53).
Decidida a construção da Estrada de Ferro nas instâncias políticas e
conseguida a garantia de juros e outros privilégios, o passo seguinte era
o aportar das “aves de rapina” - políticos, concessionários, construtores,
atravessadores, donos de terras etc. - prontas para tirar o maior proveito
possível da expansão do empreendimento. Todos, sem exceção, busca-
vam tirar de alguma forma possível vantagem do negócio. A forma de
atuação e as vantagens auferidas por esses atores chegavam, em alguns
momentos, a incomodar certos parlamentares. Estes levavam ao plená-
rio do Senado e da Câmara dos Deputados essas inquietações. Na sessão
do Senado do dia 25 de julho de 1884,2 o Senador João Alfredo (BRA-
SIL, 1884, p. 35), expõe a maneira de atuação de alguns desses atores.
Ele demonstra que:
2
Anais do Senado. Sessão do dia 25 de julho de 1884 (BRASIL, 1884, p. 35).
92 FERROVIAS NO CEARÁ
Se essa política de utilização das concessões como moeda de troca foi
dominante no Império e na República, pelo menos nos seus primeiros
anos, não foi muito diferente. Gilberto Freyre (1962, p. 229) chega a
asseverar que “[...] as concessões que enriquecem os protegidos e de-
pauperam o tesouro têm constituído o eixo em tôrno do qual gira tôda
a engrenagem republicana [...]”.
É no palco do Senado e da Câmara dos Deputados que as bancadas
de cada unidade do país se armam, e valendo-se das mais distintas estra-
tégias se engalfinham na busca incessante dos ditos “trilhos redentores”
para seus torrões. E nesse embate, se considerarmos o tamanho do seu
exército - soldados e armamentos, ou seja, o tamanho de sua bancada
e de sua economia - o Ceará se saiu muito bem. A sua representação
foi incansável na luta pela implantação de ferrovias. E conseguiu, ainda
no Império, não uma, mas duas: a encampação e o prolongamento da
Estrada de Ferro de Baturité (EFB) e a implantação da Estrada de Ferro
de Sobral (EFS).
A sessão do Senado, em 13 de junho de 1871 (BRASIL, 1871b), foi
um momento importante para que o senador liberal do Ceará, Tomás
Pompeu de Souza Brasil, marcasse posição a respeito do que pensava
sobre a implantação das ferrovias no Brasil e, especialmente, no Norte.5
O debate envolvia principalmente uma disputa entre o Governo Cen-
tral, partidário da expansão da ferrovia D. Pedro II para o interior de
Minas Gerais até alcançar o Rio São Francisco ou algum afluente seu,
versus, principalmente, as fortes bancadas da Bahia e Pernambuco que
reivindicavam o prolongamento de suas vias férreas até o leito desse rio.
Logo no início do debate, o Sr. Saraiva, senador pela Bahia, estabe-
lece as condições para acompanhar o governo ao afirmar que (BRASIL,
1871b, p. 111):
5
Nós nos acostamos à ideia de Norte do Professor Gervacio quando ele diz que usa
“[...] o termo Norte ou nortista não para designar o Norte enquanto bloco mono-
lítico, mas à porção recortada do discurso da seca, composta pela maior parte das
províncias que compõe o Nordeste atual. Essa porção, associada à imagem do ‘ sofri-
mento’, embora só na década de 1920 tenha tomado corpo como algo institucionali-
zado, teve seus contornos definidos ainda no tempo do Império, o que indica que ela
não pode ser confundida com o antigo Norte, sendo esta distinção que remete a idéia
de Nordeste” (ARANHA, 2006, p. 18).
6
Discurso do Sr. Saraiva, Senador pela Bahia, pronunciado em 13 de junho de 1871.
In: Anais do Senado, 26ª sessão do ano de 1871 (BRASIL, 1871, p. 111).
7
A ferrovia acima citada pelo senador Saraiva, a Bahia (Salvador) - São Francisco, nesse
momento de sua fala, não ultrapassa as cercanias do recôncavo baiano, a uma distân-
cia de 125 quilômetros a partir do ponto inicial até Alagoinhas, restando portanto,
centenas de quilômetros até o seu destino final, o Rio São Francisco, o que só foi
alcançado décadas e mais décadas depois, já na República.
8
Este prestígio político lhe rendeu a chefia de dois gabinetes liberais: o de 28 de março
de 1880 e o de 6 de maio de 1885.
94 FERROVIAS NO CEARÁ
Ele sabia que iria precisar não só do apoio da forte bancada de Per-
nambuco, mas também, do apoio das bancadas das pequenas provín-
cias dessa região. Em diálogo com representantes de Minas Gerais e do
Rio de Janeiro, estabelece sua posição de combate naquela trincheira:
“[...] Tratem dos interesses de Minas; mas não esqueçam [dos] interesses
maiores do Norte” (BRASIL, 1871b, p. 111).9
Antevendo que os opositores do prolongamento da estrada de ferro
D. Pedro II estavam de armas em punho, ou seja, com votos suficien-
tes para barrar no plenário o projeto do governo, o Senhor Presidente
do Conselho recorre à estratégia mais eficiente para conquistar o apoio,
especialmente, das bancadas da Bahia e Pernambuco: O toma lá dá cá.
Ao se dirigir ao Sr. Saraiva, senador pela Bahia, ele expressa sua inten-
ção: “[...] Esteja certo de que hei de acompanhá-lo nos votos que faz pelas
estradas de ferro do Norte e de São Paulo [...]”. Mais adiante, deixa mais
claro sua intenção ao afirmar que “[...] desde já me comprometto, qual-
quer que seja minha posição, a acompanhar os nobres senadores pela
Bahia e Pernambuco nos esforços que fizerem para que também sejam
attendidos os interesses daquelas estradas” (BRASIL, 1871b, p. 116).10
O senador Pompeu, que até então observava com atenção o debate
do Presidente do Conselho com seus pares, pede a palavra e entra na
discussão já estabelecendo sua posição. Ao se dirigir ao Presidente do
Conselho, ele já evidencia que o seu voto a favor do projeto só seria dado
se fossem atendidas duas condições: “[...] primeiro que o governo de-
monstrasse a conveniência, a utilidade incontestável desta medida” e, em
segundo lugar, “[...] que demonstrada a conveniência, esse beneficio, que
se vae fazer a uma província, se estendesse, com equidade, a todas as
mais do Brasil, principalmente do norte, que até hoje são enjeitadas, ou
as menos consideradas nos favores do estado” (BRASIL, 1871b, p. 116).11
9
Senador Saraiva. In: Anais do Senado. 26ª sessão do ano de 1871 (BRASIL, 1871b,
p. 111).
10
Fala do Visconde do Rio Branco, Membro do Partido Conservador e Presidente do
Conselho de Estado, em sessão do Senado de 13 de junho de 1871. In: Anais do Se-
nado. 26ª sessão do ano de 1871 (BRASIL, 1871a, p. 111).
11
Fala do Senador Tomás Pompeu na 28ª sessão do Senado, em 13 de junho de 1871, p.
118-119 (BRASIL, 1871a, p. 116).
12
Naquele momento, nem o próprio ministro tinha certeza qual era o melhor traçado
para ligar o litoral do Rio de Janeiro ao São Francisco: se era pelo Rio das Velhas ou
pela linha do Parahybuna (BRASIL, 1871a, p. 116).
96 FERROVIAS NO CEARÁ
cias do Norte; pelo contrario é para que os sentimentos de jus-
tiça, que devem predominar no governo com relação a todas as
partes do Imperio, não faltem para com as provincias do Norte;
é para que essas desigualdades e preferencias odiosas não ten-
dam a affrouxar os laços que eu e todos os meus amigos desejam
que permaneçam firmes e unidos [...] (BRASIL, 1871a, p. 118).
13
Pompeu assim se expressava e com razão, já que apenas as províncias de Pernam-
buco e da Bahia eram dotadas de ferrovias em todo Norte do país e, mesmo assim,
os trilhos aí não haviam avançado muito. Em Pernambuco, a Recife - São Francisco
estava estacionada em Palmares. Na Bahia, a Salvador (Bahia) - São Francisco só
havia alcançado Alagoinhas.
14
Observamos que, no início dos anos de 1870, ainda não havia um “Discurso da Seca”
na ordem do dia. Embora o senador lembre as secas do Ceará, a Província não dei-
xava de alcançar certa prosperidade. É que esta última palavra ainda era a palavra
de ordem para justificar a reivindicação de uma ferrovia, ou seja, a Província já tem
certa prosperidade e, no entanto, não se incrementa mais ainda pela ausência do
trem de ferro.
15
BRASIL. 25ª sessão em 5 de junho de 1873. In: BRASIL. Senado Federal. Anais do
Senado do Império do Brasil. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1873a. v. 2, p. 36.
2ª sessão da 15ª legislatura de 2 a 30 de junho de 1873.
98 FERROVIAS NO CEARÁ
distribuição igual de onus e vantagens a todas as Províncias na propor-
ção de cada uma” (BRASIL, 1873a, p. 36). Na sua fala, mostra ainda que
as províncias de São Paulo, Bahia e Pernambuco jogaram no colo do
governo um pesado fardo, ao se obrigarem:
Observamos, em sua fala, que ele sempre insiste em lembrar que al-
gumas províncias recebem mais benefícios do governo do que outras
e que isto não é justo para com as outras, principalmente para com as
pequenas províncias do Norte. Aceita votar esse projeto, desde que o re-
sultado do acréscimo do imposto seja “[...] convertido em vias férreas e
outros elementos de prosperidade para o paiz, porque então anima não
só as Províncias que já estão protegidas como aquellas que ainda hoje
não teem viação alguma”.
Em sessões do Senado do dia 1616 e do dia 2617 de julho de 1873, está
em pauta um projeto do governo orçado em 40.000:000 $ (quarenta mil
contos de réis) para a construção de uma ferrovia no Rio Grande do Sul.
O Senador Pompeu (BRASIL, 1873c, p. 193-195), como sempre, quando
estava em discussão a destinação de recursos para outras províncias,
não se opõe a que o Rio Grande do Sul possa ser contemplado com esse
projeto, mas ao mesmo tempo não se esquece de ressaltar que a sua “[...]
observação comparativa é somente para mostrar a desigualdade com
que as Províncias são tratadas, e chamar o governo a sentimentos mais
equitativos”. Chama à atenção do Senador Pompeu (BRASIL, 1873c, p.
193-195), o volume de recursos, uma fortuna na época, destinado a uma
ferrovia no Rio Grande do Sul. Ele indaga da tribuna se esse valor “[...]
esta nas proporções do nosso estado financeiro, isto é, se nossas finanças
16
Anais do Senado. Sessão do dia 05 de junho de 1873 (BRASIL, 1873b, p. 36).
17
Anais do Senado. Sessão do dia 26 de agosto de 1873 (BRASIL, 1873c, p. 193-195).
18
A Estrada de Ferro de Baturité fora projetada para ser construída em três seções. A
primeira entre Fortaleza e Pacatuba; a segunda, dessa localidade a Acarape e, a últi-
ma, desse lugar até Baturité. O início efetivo dos trabalhos se deu em 20 de janeiro
de 1872, mas só em 1 de julho de 1873 se dão o assentamento dos primeiros trilhos.
Em 14 de setembro de 1873 é que um pequeno trecho - Fortaleza/Porangaba - da 1a
seção é inaugurado com apenas pouco mais de 7 quilômetros de extensão. O trecho
total da primeira seção só veio a ser inaugurado em 9 de janeiro de 1876 com pouco
mais de 33 quilômetros. E aí, a ferrovia ficou estacionada até ser encampada pelo
governo central em setembro de 1878.
19
Anais do Senado. Sessão dos dias 01 e 02 de setembro de 1875 (BRASIL, 1875b,
1875c, p. 01-41).
Pompeu percebia também que era preciso estar muito bem munido
de bons argumentos para sensibilizar o plenário a votar favoravelmente
ao seu pleito, que era o de estender à Estrada de Ferro de Baturité, o
mesmo que o governo queria conceder a Macahé-Campos e, para atin-
gir seus objetivos, ele se utiliza do discurso de que o governo deveria
tratar todas as províncias de maneira equitativa já que o entendimento
do governo era de que, em princípio, esse favor não deveria ser extensi-
vo a outras empresas. Mas, Pompeu, com muita sabedoria e insistência
estava sempre a bater na mesma tecla20 e em tom de súplica e dirigindo-
-se ao plenário do senado, lembrava que:
20
Observamos nessa e em outras falas do senador Pompeu que ele bate insistentemente,
como era de costume até aquele momento, na tecla da desigualdade entre as provín-
cias no que diz respeito à distribuição de verbas e garantias para os empreendimentos
ferroviários. Percebemos também claramente que a seca ainda não se transformara,
até esse momento, no “grande mote” da bancada cearense para arrancar do governo
central recursos com vista aos chamados “melhoramentos materiais” do Ceará.
Toda vez, Sr. Presidente, que vier uma obra nas condições desta
que se acha em discussão, confesso a V. Ex. que não poderei
recusar-lhe meu apoio por uma razão muito simples, e é que de
21
Anais do Senado. Sessão do Senado do dia 12 de junho de 1871 (BRASIL, 1871a, p. 88).
22
Aqui mais uma vez vemos a política definindo os rumos do país. Por isso, é tão im-
portante, hoje, o estudo da história política, já que através dela podemos tomar co-
nhecimento das escolhas políticas equivocadas que se fez no passado e é através do
conhecimento desse passado - com os olhos voltados para o presente - que podemos
estabelecer políticas mais eficientes, por exemplo, no setor de transporte.
23
Anais do Senado. Sessão do dia 12 de junho de 1871 (BRASIL, 1871a, p. 92-93).
24
Jornal O Cearense, de 16 de fevereiro de 1871 (CEARENSE: Fortaleza, 16 de fevereiro
de 1871. O Cearense, Fortaleza, ano 25, n. 20, p. 1, 16 fev. 1871a).
25
Jornal O Cearense, de 16 de fevereiro de 1871 (CEARENSE: Fortaleza, 16 de fevereiro
de 1871. O Cearense, Fortaleza, ano 25, n. 20, p. 1, 16 fev. 1871a).
26
Relatório com que o Excelentissimo Senhor Doutor Pedro Leão Velloso passou a ad-
ministração da Província ao Excelentíssimo Senhor 1° Vice-Presidente Dr. Antonio
Joaquim Rodrigues Junior, no dia 22 de abril de 1868 (CEARÁ, 1868).
27
Relatório apresentado ao Exmo. Presidente da Província do Ceará desembargador
João Antônio de Araújo Freitas Henriques, pelo 2° vice-presidente Coronel Joaquim
da Cunha Freire, no ato de passar-lhe a administração da mesma Província em 26 de
julho de 1869 (CEARÁ, 1869).
28
Anais do Senado. Sessão do Senado de 20 de setembro de 1875 (BRASIL, 1875d, p. 291).
29
Anais da Câmara dos Deputados. Sessão do dia 19 de julho de 1882 (BRASIL,
1882b, p. 137).
30
CARVALHO, J. de. Antologia de João Brígido. Fortaleza: Editora Terra do Sol, 1969.
Não somente o solo dessa província é dos mais férteis que se co-
nhecem, tanto que com quatro meses de chuva, por ano, produz
abundância tal, como não há em outra parte do Brasil; como
ainda o gênio ativo e empreendedor de seus filhos os torna uma
das exceções preciosas do gênio brasileiro em geral (MENEZES,
1887, p. 7).
31
CARVALHO, 1969, p. 436.
32
CARVALHO, 1969, p. 441.
E como este cearense - o autor - vê o Ceará? Para ele, bem como para
boa parte da elite intelectual e dirigente do Ceará, esse lugar deva ser esco-
lhido para receber mais recursos do governo central porque é merecedor,
34
O Sr. Caetano Estellita Cavalcanti Pessoa em sua fala de abertura da 2ª sessão da 23ª
legislatura da assembleia provincial relata que, no Ceará, foi a imprensa quem pri-
meiro emitiu o sinal de alerta para a gravidade da situação, diante do quadro de seca
que passava a Província. Ele descreve que já “[...] em começo de Abril a imprensa
levantava o seu primeiro brado, despertando a attenção do governo para conjurar o
mal que já se fazia sentir em algumas das localidades da província”. Fala com que o
Exmo. Sr. Desembargador Caetano Estellita Cavalcanti Pessoa, presidente da Provín-
cia do Ceará abriu a 2ª sessão da 23ª legislatura da respectiva assembleia no dia 2 de
julho de 1877 (BRASIL, 1877c).
35
Jornal O Cearense, de 1 de março de 1877 (NOTICIÁRIO. O Cearense, Fortaleza, ano
31, n. 17, p. 2, 1 mar. 1877).
36
O CEARENSE. Fortaleza: Typographia Brasileira, ano 31, n. 28, p. 1, 1 abr. 1877b.
37
Anais da Câmara dos Deputados. Sessão do dia 24 de março de 1879 (BRASIL,
1879o, p. 177).
Mais adiante ele não se esquece de lembrar, apesar de não estar ainda
confirmado, segundo o orador, de que “[...] acaba de juntar-se a noticia
38
Anais do Senado. Sessão do dia 25 de junho de 1877 (BRASIL, 1877a, p. 219).
39
Anais da Câmara dos Deputados. Sessão do dia 03 de agosto de 1877 (BRASIL,
1877i, p. 17).
40
Esta notícia foi desmentida posteriormente pelo Sr. Costa Pinto, ministro do Impé-
rio, quando participava de uma sessão da Câmara dos Deputados no dia 10 de agosto
de 1877. Ele lembra “[...] que ainda ha pouco foi publicado na imprensa da côrte um
telegramma a proposito da secca, noticiando que o governo inglez propuzera no par-
lamento um auxilio de 4.000 libras a favor dos povos do Ceará; noticia aliás inexacta,
e que nem podia deixar de o ser, a qual muito bem foi qualificada de extravagante
pelo ministro de S. M. Britannica” (Anais da Câmara dos Deputados. Sessão do dia
10 de agosto de 1877 (BRASIL, 1877h, p. 79)).
41
Anais do Senado. Sessão do dia 27 de junho de 1877 (BRASIL, 1877b, p. 245).
42
Anais da Câmara dos Deputados. Sessão do dia 25 de julho de 1877 (BRASIL,
1877k, p. 249).
46
Anais do Senado. Sessão do Senado do dia 25 de junho de 1877 (BRASIL, 1877a, p. 219).
47
Anais do Senado. Sessão do Senado do dia 25 de junho de 1877 (BRASIL, 1877a, p. 219).
54
Anais do Senado. Sessão do Senado do dia 27 de junho de 1877 (BRASIL,
1877, p. 251-252).
55
Informação dada no Senado pelo Senador Correia, do Paraná. Anais do Senado. Ses-
são do dia 13 de outubro de 1879 (BRASIL, 1879a, p. 105).
56
Anais do Senado. Sessão do Senado do dia 05 de junho de 1879 (BRASIL, 1879d, p. 38).
57
Deputado João Brígido. Anais da Câmara dos Deputados. Sessão da Câmara dos
deputados do dia 14 de fevereiro de 1879 (BRASIL, 1879n, p. 534).
58
Deputado Paula Pessoa. Anais da Câmara dos Deputados. Sessão da Câmara dos
Deputados de 14 de fevereiro de 1879 (BRASIL, 1879n, p. 533).
59
Deputado Rodrigues Júnior. Anais da Câmara dos Deputados. Sessão da Câmara dos
Deputados de 14 de fevereiro de 1879 (BRASIL, 1879n, p. 533).
60
BRASIL. 107ª sessão em 14 de outubro de 1879. In: BRASIL. Senado Federal. Anais
do Senado do Império do Brasil. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1879b. p. 121-
153. Anno de 1879, livro 10. p. 151.
61
Anais do Senado. Sessão do Senado do dia 18 de junho de 1879 (BRASIL, 1879e, p. 165).
62
Anais do Senado. Sessão do Senado do dia 18 de junho de 1879 (BRASIL, 1879e,
p. 165).
63
O Sr. José Júlio de Albuquerque Barros (CEARÁ, 1880), na sessão de abertura da
Assembleia Provincial, elenca, em sua fala, o conjunto de obras construídas no Ceará
com as verbas dos socorros públicos só no período da seca de 1877-1879. O núme-
ro, para o padrão da época, é colossal. E poderia ter sido feito mais se não tivessem
ocorrido os costumeiros desvios de recursos. Segundo o Presidente da Província, “[...]
empregaran-se os indigentes em mais de 500 obras adiante especificadas, sendo:
Número de obras construídas no Ceará com verbas dos socorros públicos no período de 1877
a 1879
OBRAS QUANTIDADE OBRAS QUANTIDADE
Açudes 73 Pontes 19
Egrejas 64 Calçamentos de estradas e ruas 23
Cemitérios 50 Atterros (viaductos, etc) 27
Estradas e ladeiras 60 Mercados 11
Cadeias 48 Canos de esgoto 7
Poços de alvenaria 31 Quarteis 7
Escholas 29 Asylos 3
Casas de Camara 25 Obras diversas 36
TOTAL: 513
Fonte: elaborado pelo autor com base fala do Sr. José Júlio de Albuquerque Barros, Presidente
da Província do Ceará, que abriu a 1ª sessão da 25ª legislatura da Assembleia Provincial no dia
1° de julho de 1880.
“Não se comprehendem ahi as obras das duas estradas de ferro, as do quartel de linha
e paiol de pólvora da Capital, nenhum dos provisórios abarracamentos, enfermarias,
lazarêtos, cacimbas e serviços de nivelamento e limpeza das cidades, villas e povoados,
as olarias, os roçados, a cercas e diversos outros. Somente as barracas subiram a muitos
milhares, as enfermarias e lazarêtos a centenas”. Fala com que o Exmo. Sr. Dr. José Júlio
de Albuquerque Barros, Presidente da Província do Ceará, abriu a 1ª sessão da 25ª
legislatura da Assembleia Provincial no dia 1° de julho de 1880 (CEARÁ, 1880).
64
Informação dada no plenário do Senado pelo Senador Viriato de Medeiros. Anais do
Senado. Sessão do Senado do dia 20 de julho de 1887 (BRASIL, 1887, p. 210).
65
A análise do quadro acima, para além da frieza dos números aí expostos, é capaz de
explicar um pouco as circunstâncias históricas do Brasil de ontem e de hoje, ao ob-
servarmos a quantidade acentuada do número de igrejas e cadeias construídas com o
diminuto número de escolas edificadas. Esse privilegiamento na construção de igrejas
e cadeias, em detrimento da edificação de escolas, não é um acidente de percurso, mas
parte de um dado projeto de poder que ao longo de nossa história foi sendo tão bem
tecido. Para que esse projeto se consolidasse era preciso ter a igreja, com seu singular
papel na conquista de corações e mentes, como linha auxiliar na manutenção e perpe-
tuação desse projeto. O outro instrumento necessário era a existência de um aparelho
repressor eficiente para conter e calar os que, porventura, não se enquadrassem no fi-
gurino de comportamento traçado por nossa elite dominante. É a partir daí que o apri-
sionamento no Brasil é colocado como um ato necessário, e quase único, para conter a
tão temerosa propagação da criminalidade. Floresce assim, no Brasil, uma cultura de
encarceramento que resultou, hoje, para o nosso país em uma das maiores populações
carcerárias do mundo e, mesmo assim, a criminalidade não dá sinais de arrefecimento.
Temos um sistema prisional que é uma verdadeira fábrica de produzir delinquentes.
Os que lá entram saem pior do que entraram, já que o nosso sistema prisional não con-
segue reeducar o preso e reinseri-lo no convívio social. Foucault (2008, p. 249) mostra
que em uma “sociedade panóptica, cuja defesa onipresente é o encarceramento” o que
vemos é que a prisão termina por sancionar a delinquência e que “[...] esta no essen-
cial é fabricada num encarceramento e por um encarceramento que a prisão no fim
de contas continua por sua vez”. O autor supracitado (FOUCAULT, 1979, p. 131-132)
já nos alerta ainda que “desde 1820 se constata que a prisão, longe de transformar os
criminosos em gente honesta, serve apenas para fabricar novos criminosos ou para
afundá- los ainda mais na criminalidade”.
[...] uma Camara que deo 280 contos de réis á Estrada de Ferro
de Sobral; 653 contos de réis á estrada de Baturité; 620 contos ao
seu prolongamento; 500 contos para construcção de açudes, des-
tinados, emfim, ao açude de Quixadá: não pode negar migalhas
e fragmentos ao Rio Grande do Norte (BRASIL, 1892b, p. 368).67
66
Anais da Câmara dos Deputados. Sessão da Câmara dos Deputados em 14 de feve-
reiro de 1879 (BRASIL, 1879h, p. 532).
67
O deputado reivindicava essa verba para ser empregada na construção de algumas
obras: “[...] 25, para uma cisterna, ou açude na povoação da Barra do Mossoró; 25, para
tirar as voltas do Rio até ao porto da cidade; 25, para um açude na Villa de Caraúbas;
25, para outro açude na Villa do Patú de Dentro, ou suas vizinhanças próximas; 25,
para um açude na villa de Pau dos Ferros; outro do mesmo computo, em S. Miguel; um
no Siridó, e outro na Caiada, no mesmo sentido”. Para o representante do Rio Grande
do Norte, esse valor representava uma ninharia comparando-se ao que estava sendo
destinado ao Ceará. Daí sua indignação (Anais da Câmara dos Deputados. Sessão da
Câmara dos Deputados em 7 de outubro de 1892 (BRASIL, 1892b, p. 368)).
Fonte: elaborado pelo autor com dados contidos em Almeida (1980, p. 275).
68
Há certo exagero nessas colocações de José Américo, já que de um modo geral as
elites do Norte, depois Nordeste, lançam mão do “Discurso da Seca” até para áreas
não sujeitas ao fenômeno das longas estiagens. Em outras palavras, transformam a
região inteira num imenso polígono seco, como se aí não houvessem áreas com in-
vernos mais regulares, como é o caso das áreas mais próximas do litoral de algumas
unidades dessa região, a exemplo da Paraíba, Pernambuco etc. Mas, mesmo assim,
se subtrair dessas unidades as áreas menos sujeitas a estiagens, a dimensão do seu
polígono da secas é bem maior do que a do Ceará e, no entanto, essas unidades não
recebiam os recursos proporcionais as suas necessidades.
69
Em 1919, passou a chamar-se Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS) e, em
1945, recebeu o nome de Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS).
70
Não devemos esquecer também que nesse mesmo período, início dos anos de 1950,
se controla do Ceará a segunda malha ferroviária do Nordeste, a Rêde de Viação Ce-
arense, com 1.395 quilômetros de extensão (Mapa 2), menor apenas que a da Bahia
(CENTENÁRIO DAS FERROVIAS BRASILEIRAS, 1., 1954, Rio de Janeiro. Anais
[...]. Rio de Janeiro: IBGE: Comissão Nacional de Geografia, 1954. p. 84).
71
Essa desproporção se revela mais gritante quando se constata que da área total do polígo-
no das secas do Nordeste o Ceará só ocupa 13,9% de toda essa área (PAIVA, 1979, p. 34).
Fonte: construído pelo autor com base em dados fornecidos pelo serviço de monitoramento
hidrológico do Departamento Nacional de Obras As Secas (2014).
72
Uma participação do senador cearense Castro Carreira no Senado revela esse estado
de espírito por parte de alguns senadores quando o assunto era a liberação de mais
créditos para as estradas de ferro do Ceará. Vejamos o que diz o senador: “[...] tenho
notado que, quando se falla das estradas de ferro do Ceará, como que ha um certo
desagrado, uma espécie de má vontade contra ellas, e, me persuadia, que alguma
indisposição ou antipathia havia contra a minha província [...]”. Anais do Senado.
Sessão do Senado do dia 06 de março de 1882 (BRASIL, 1882a, p. 68).
73
Anais do Senado. Sessão do Senado do dia 16 de setembro de 1879 (BRASIL, 1879l,
p. 184).
74
Esta ferrovia tinha a finalidade de contornar a cachoeira de Paulo Afonso e quando
pronta “[...] ligar por terra o médio e o baixo São Francisco, desenvolvendo-se os seus
116 quilômetros entre Piranhas, em Alagoas, e Petrolândia, em Pernambuco [...]”. In:
CENTENÁRIO DAS FERROVIAS BRASILEIRAS, 1., 1954, Rio de Janeiro: Anais
[...]. Rio de Janeiro: IBGE: Comissão Nacional de Geografia, 1954, p. 84-118.
75
Anais do Senado. Sessão do Senado do dia 27 de junho de 1879 (BRASIL, 1879f,
p. 262-263).
76
Anais do Senado. Sessão do Senado do dia 11 de setembro de 1879 (BRASIL,
1879k, p. 98).
77
Anais do Senado. Sessão do Senado do dia 27 de junho de 1877 (BRASIL, 1877b,
p. 238).
78
Anais do Senado. Sessão do Senado do dia 03 de agosto de 1877 (BRASIL, 1877m,
p. 18).
79
Leitura de alguns pontos da exposição de motivos do decreto de 1 de junho de 1878
feita no plenário do Senado pelo Senador Correia. Anais do Senado. Sessão do Sena-
do do dia 14 de julho de 1879 (BRASIL, 1879h, p. 210).
80
Relatório com que o Exmo. Sr. Desembargador Caetano Estellita Cavalcanti Pessoa
passou a administração da Província do Ceará ao Exmo. Sr. Conselheiro João José
Ferreira D’Águiar, presidente da mesma Província em 23 de novembro de 1877
(CEARÁ. Relatório com que o Exmo. Sr. Desembargador Caetano Estellita Caval-
canti Pessoa passou a administração da Província do Ceará ao Exmo. Sr. Conselheiro
João José Ferreira D’Águiar, presidente da mesma Província em 23 de novembro de
1877. Fortaleza: Typographia do Pedro II, 1877. p. 20 e 22).
81
Determinados no sentido de que, conforme depreendemos na leitura das fontes da
época, dão os passos mais concretos para transformar aquilo que era apenas um de-
sejo, um sonho, em algo mais real, no caso, a criação de uma companhia que levasse
os trilhos de Fortaleza em direção a Baturité. Eram pessoas poderosas do Ceará,
simultaneamente do mundo da política e dos negócios. Gente que se coloca à frente
do empreendimento em busca de mais prestígio político e mais dinheiro.
82
Ofício com que os novos signatários da concessão da estrada de ferro de Fortaleza em
direção a Baturité encaminham uma proposta de contrato para o governo provincial:
“Illm. e Exm. Sr. Presidente da Provincia: Os abaixo assignados, constando-lhes que o
contrato firmado, entre o governo desta província e o engenheiro John James Foster e
o assignatário José Pompeu Cavalcante, para a incorporação de uma companhia, que
levasse a effeito a construção de um Tram-road desta capital para a Pacatuba com um
ramal para Maranguape se acha de nenhum effeito pela renuncia que fizeram aquelles
contratantes; veem apresentar a V. Ex. uma proposta, em que estipulam condições,
mediante as quaes se obrigam a incorporar uma companhia, que realise a construcção
de uma via-ferrea, pelo systema mais econômico e seguro, para aquelles pontos. Pe-
dem portanto a V. Ex. que, dignando- se tomar em consideração a proposta referida,
a qual juntam, admitta os supplicantes a contratar nos termos, que offerecem. R. Mc.
Fortaleza, 5 de Março de 1870. Thomaz Pompeu de Souza Brazil; Joaquim da Cunha
Freire; Jose’ Pompeu de Albuquerque Cavalcante; Henrique Browclehurst; Gonçalo
Battista Vieira” (Fala com que o Excelentíssimo Senhor Desembargador João Antonio
de Araujo Freitas Henriques, abriu a 1ª sessão da 18ª legislatura da Assembleia Pro-
vincial do Ceará no dia 1° de setembro de 1870 (CEARÁ, 1870)).
83
O relatório do Sr. Pedro Leão Velloso já enfatizava, com base em um outro relatório
do engenheiro Zozimo Barrozo apresentado a administração provincial em 1865,
“[...] a impossibilidade de estabelecimento de uma via férrea para Baturité sem a con-
cessão de favores por parte do governo” (Relatório com que o excelentíssimo Senhor
Doutor Pedro Leão Velloso passou a administração da Província ao excelentíssimo
Senhor 1° Vice-Presidente Dr. Antonio Joaquim Rodrigues Junior, no dia 22 de abril
de 1868 (CEARÁ, 1868, p. 21)).
84
É visível o entusiasmo do governo provincial com “[...] a proposta que ultimamente
apresentaram a essa presidência alguns proprietários abastados e negociantes impor-
tantes desta província para levarem a effeito essa construcção [...]” (Relatório com
que o excelentíssimo Senhor Doutor Pedro Leão Velloso passou a administração da
Província ao excelentíssimo Senhor 1° Vice-Presidente Dr. Antonio Joaquim Rodri-
gues Junior, no dia 22 de abril de 1868 (CEARÁ, 1868, p. 8)).
85
Relatório com que o Exmo. Sr. Dr. José Fernandes da Costa Pereira Junior passou a
administração da Província do Ceará ao Exmo. Sr. 2° Vice-Presidente Coronel Joa-
quim da Cunha Freire no dia 26 de abril de 1871 (CEARÁ, 1871, p. 21).
90
Relatório com que o exelentíssimo Senhor Doutor Heraclito D’alencastro Pereira de Gra-
ça passou a administração da Província do Ceará ao Exmo. Snr. Dr. Esmerino Gomes
Parente, 2° Vice-presidente da mesma, no dia 17 de março de 1875 (CEARÁ, 1875, p. 20).
91
CEARÁ, 1875, p. 20.
92
O senador Nunes Gonçalves, do Rio de Janeiro, mostra bem a dificuldade que se ti-
nha naquele momento para levantar um empréstimo no momento em que não só no
Brasil, mas também na Europa se vivia um ciclo de retração econômica: “A empreza
ou companhia que se apresenta aos capitalistas do paiz ou em uma praça estrangeira
a solicitar o capital de que necessita para a realização de um melhoramento, diz: eu
venho escudada com a garantia de juros do meu governo. Dizem os capitalistas: não
basta; precisamos da garantia do capital. Não temos senão a garantia do juro. - Bem;
neste caso o vosso emprestimo será centrahido em condições mais desfavoráveis, por-
que não podemos deixar de levar em linha de conta o risco que póde haver da perda
do nosso capital. Assim, o emprestimo se realiza com maiores onnus e com clausulas
muito menos vantajosas do que aquellas em que seria contrahido, se a garantia abran-
gesse o mesmo capital”. Anais do Senado. Sessão do Senado do dia 01 de setembro de
1875 (BRASIL, 1875b, p. 17).
93
Anais do Senado. Sessão do Senado do dia 27 de junho de 1877 (BRASIL, 1877b,
p. 238).
94
A encampação da EFB e a construção da EFS e de Paulo Afonso são realizadas em
meio de uma discussão intensa entre os que advogavam uma intervenção maior do
Estado na edificação de estradas de ferro, vistas como necessárias ao crescimento
econômico do país e os que repudiavam esse maior intervencionismo do Estado
em amplos setores da economia. Chamou-nos atenção a respeito dessa discussão a
maneira peculiar como, por exemplo, no Senado alguns senadores colocavam esse
problema. O Barão de Cotegipe chega a assegurar no Senado que esse maior inter-
vencionismo do Estado estaria levando ao comunismo. Vejamos sua fala: “Estamos
no communismo! O communismo não é somente esse systema que pretende dividir
as fortunas, chamo tambem communismo, quando o Estado quer concentrar em si
todas as industrias, dirigir todos os negocios, porque então o Estado terá tambem de
fornecer trabalho e sustentar toda a população. Para mim o Estado soberano dispon-
do das industrias e de tudo prepara o caminho do communismo” (Anais do Senado.
Sessão do dia 04 de setembro de 1879 (BRASIL, 1879i, p. 48)).
96
Anais da Câmara dos deputados. Sessão da Câmara do dia 19 de julho de 1882 (BRA-
SIL, 1822e, p. 138).
97
Anais da Câmara. Sessão da Câmara dos Deputados do dia 27 de julho de 1886
(BRASIL, 1886c, p. 126).
101
Em função da maior abundância de suas vazantes e de suas águas, essa região con-
centrou no Ceará a maior parte de sua população. Se era para construir uma ferrovia
para levar socorros à população assolada pela seca, essa deveria ter sido escolhida
justamente por concentrar uma população maior do que a que havia na área de al-
cance da EFS e de que também, quando as chuvas caíam com mais regularidade, o
rico vale oferecia uma abundância maior de produtos que seriam no futuro transpor-
tados pela ferrovia.
102
Relatório que a Assembleia Legislativa Provincial do Ceará apresentou no dia da
abertura da Sessão Ordinária, 1° de julho de 1860, ao Excelentíssimo Senhor Doutor
Antonio Marcellino Nunes Gonçalves. Presidente d’esta província (CEARÁ, 1860).
113
Esta foi também uma outra estrada marcada por déficits constantes e cavalares para
o governo central. Ver esses números em Carreira (1889, p. 740).
114
MELO, 1984, p. 210.
115
A acirrada oposição de Fortaleza a alguns pleitos de Aracati como, por exemplo, a
sua tão almejada ligação ferroviária ao sul cearense, fez aflorar na população des-
se município, ainda na segunda metade do século XIX, um sentimento de ojeriza
à Fortaleza. Studart (1891, p. 21) indica que se perguntasse, já nessa época, a um
aracatiense por que “[...] sua terra está tão decadente, e elle responderá sem deteusa
que ao ódio e à inveja da capital”. Não sem razão, os aracatienses já nutriam essa
aversão à Fortaleza, em vista de que era impossível não perceber a visível decadência
dessa cidade. Aponta ainda Studart (1891, p. 20) que comparando-se “[...] o Aracaty
d’aquelles tempos com o Aracaty de hoje e impossível será deixar de reconhecer e
lamentar o immenso regresso, o quase anniquilamento dessa importante cidade”.
116
O golpe de misericórdia de Fortaleza sobre essa ferrovia, e ao que ainda restava de
relativa autonomia da área de influência dessa estrada perante a capital, se deu com a
ligação ferroviária direta desta com Sobral, em 1950. A partir daí, o polo hegemônico
do Ceará aumenta mais ainda o grau de influência sobre essa região.
117
O senador Paula Pessoa, apelidado jocosamente pelos conservadores de “senador dos
bois”, pelo fato de ser proprietário de vasto rebanho de gado, era a figura política mais
expressiva do norte cearense. No segundo distrito eleitoral, com sede em Sobral, “[...]
eram deputados gerais todos os genros do senador Paula Pessoa. Sete dos doze depu-
tados que figuravam na chapa, pelo distrito, eram da família Paula Pessoa” (PAIVA,
1979, p. 200).
118
Anais do Senado. Sessão do Senado do dia 19 de julho de 1880 (BRASIL, 1880b, p. 329).
119
Anais do Senado. Sessão do Senado do dia 18 de outubro de 1879 (BRASIL,
1879c, p. 242).
120
Era uma competição tão intensa que o Ministério da Agricultura foi obrigado a conce-
der a EFS e outras do Brasil alguns favores para baratear os fretes e assim poder vencer
a concorrência do transporte de tropas, mas, mesmo assim, a concorrência continuou
intensa. E o que podemos deduzir da leitura do aviso do “Ministério dos negócios da
agricultura, commercio e obras públicas” de 23 de julho de 1888. “Não havendo os
favores de que trata a circular de 3 de fevereiro do anno proximo passado attrahido
para essa e outras estradas de ferro os gêneros de exportação provenientes dos pontos
muito distantes, os quaes, apezar das notáveis reducções feitas nas respectivas tarifas,
continuam a chegar aos mercados, fazendo o percurso ao longo das estradas de ferro
em costas de animaes, decidi declarar sem effeito taes favores”.
165
hidrográfica do alto Jaguaribe, com clima tropical quente semiárido,
pluviosidade média de 806,5 mm e temperatura média variando entre
26°a 28°. Sua área territorial é de 1029,00 (km2) e uma população to-
tal, segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) de 2010, de 96.495 habitantes.2
2
INSTITUTO DE PESQUISAS E ESTRATÉGIA ECONÔMICA DO CEARÁ. Iguatu:
perfil básico municipal. Fortaleza, 2012. Disponível em: www.ipece.ce.gov. br. Acesso
em: 5 dez. 2015.
3
Derivado do Tupi e que significa água boa ou rio bom. Iguatu é o nome da lagoa mais
importante do município e fica situada no perímetro urbano.
4
Durante o século XVIII e boa parte do século XIX, o município do Icó era o principal
núcleo de intermediação econômica do vale do Jaguaribe. “Favorecido por sua po-
sição privilegiada, o Icó teve precoce desenvolvimento e alcançou rápida hegemonia
sobre outros povoados do interior” (STUART FILHO, 1937, p. 46). Em função desta
sua supremacia sobre os demais municípios, passa a ser chamada de “princesa dos
sertões”. O Icó era, como afirma Carvalho (1969, p. 329), “[...] a vila de maior riqueza
e movimento no Ceará [...]”.
5
Aracati era o grande elo de Icó com outras praças fora da Província.
6
Estas pessoas que se colocavam refratárias ao progresso, nessa ou naquela localidade,
foram designadas por Gilberto Freyre (2000, p. 126) como “caturras”. Portanto, estes
eram aqueles sujeitos poderosos em cada localidade que viam a chegada do novo, do
progresso, ou seja, de tudo aquilo que tivesse cheiro de moderno, como uma ameaça
aos seus interesses e domínio. Em Ingleses no Brasil (2000, p.126-127), Freyre des-
creve a respeito da resistência de alguns latifundiários sobre a aproximação de ferro-
via em seus domínios. Um deles, o Padre Pinto, se transfigura em “[...] uma espécie
de Dom Quixote querendo fazer parar a estrada de ferro, investindo do alto de sua
casa-grande contra a locomotiva triunfante [que] ao seu ver, [...], viria destruir-lhe a
criação de porcos”.
7
Ligar a cidade do Crato ao litoral do Ceará, através de uma ferrovia, era um desejo
acalentado há um bom tempo. Já no Relatório de Presidente de Província de 22 de
maio de 1868 (A3-1-5), o engenheiro chefe da direção de obras públicas, Dr. José
Pompeu de Albuquerque Cavalcante, em documento enviado ao Sr. Presidente da
Província, Pedro Leão Veloso, coloca claramente que “[...] qualquer tentativa de me-
lhoramento concernente ao estabelecimento de uma via férrea deve visar o municí-
pio do Crato como um ponto terminal” (VELOZO, 1868b, n.p.).
8
Em Iguatu, ao contrário do que ocorreu no Icó, se havia caturras eram uma minoria
inexpressiva e sem força política significativa.
9
A ida da ferrovia para Iguatu implicava na construção de uma ponte metálica de 160
metros de extensão, a um custo altíssimo, e que seria projetada e construída na Ingla-
terra. Na época, foi considerada marco da engenharia. Essa ponte era necessária para
que a ferrovia pudesse seguir em direção ao cariri cearense. A conclusão da referida
ponte só aconteceu em 1916, o que terminou beneficiando Iguatu, já que a cidade
permaneceu por quase seis anos, como ponta de linha. E qual não teria sido o impacto
econômico em Iguatu caso tivesse permanecido por mais tempo como ponto termi-
nal do trem? Por exemplo, como os casos clássicos de Arcoverde em Pernambuco e
Campina Grande na Paraíba. Nesta última, a ferrovia permaneceu meio século como
ponta de trilho.
poder, em que angariaria projeção estadual. Era, segundo Wilson Holanda Lima Ver-
de (2011, p. 97), “[...] amigo e seguidor incondicional [...]” do grande chefe político
do Ceará dessa época, o comendador Antonio Pinto Nogueira Acioly, estabelecendo-
-se entre os dois uma relação de interdependência, o que era muito comum entre o
mandatário estadual e o local. Este tipo de relação é muito bem sintetizado por Nilson
Ghirardello (2002, p. 113) quando ele afirma que “O município permanecerá, mais
que no Império, subjugado aos interesses das antigas províncias. Ao retirar verbas e
poderes do município, submetendo-os ao poder do Estado, o coronel passará a ser o
principal, se não o único intermediário entre as comunidades e o governo. Haverá, a
partir de então, dependência entre essas duas esferas de poder. O governador preci-
sará do coronel, pois esta tinha prestígio, bem como poder de pressão para intimidar
os eleitores. Por sua vez, o coronel necessitava do governo estadual para manter e/ou
ampliar seu poder político. Ele servia como ponte para acesso a verbas ou melhora-
mentos de interesse da comunidade. Sua permanência como chefe político dependia,
portanto, dos dois lados: do poder de aliciamento sobre o eleitorado de cabresto, que
deveria ser numeroso, a fim de somar muitos votos, bem como das benesses consegui-
das para a comunidade local”.
11
Este tipo de interferência política na definição do traçado das ferrovias no Brasil era
corriqueiro. Um bom exemplo e muito próximo de Iguatu foi o da passagem da fer-
rovia por São João do Rio do Peixe (PB). Cajazeiras apresentava melhores condições
técnico-econômicas para receber a Estrada de Ferro vinda de Lavras da Mangabeira
e, no entanto, é São João do Rio do Peixe que é contemplada com esse benefício. Isto
se deve a força política do Padre Sá junto ao Presidente da República Epitácio Pessoa
“[...] que teria recomendado, de forma categórica - ‘faça-se a estação de São João do
Rio do Peixe na cozinha do Padre Sá se ele assim solicitar’” (LEITÃO, 2000, p. 177).
Esta foi a sua determinação e assim foi feito. O que causa estranheza nesse episódio
foi a não reação de Cajazeiras por não ter sido contemplada com uma ligação direta
da ferrovia. Tudo leva a crer que esse conformismo dessa cidade deve-se ao fato de
que sua principal liderança política, o Coronel Sabino Rolim, teria suas terras, no
hoje município de Santa Helena, sendo beneficiadas com a passagem do trem direto
para São João, o que não teria acontecido se a ferrovia viesse do Ceará direto para
Cajazeiras. Um outro caso emblemático é o da mudança de rota da Rede Viação
Cearense (RVC) antes de alcançar a cidade do Crato. Os estudos originais não con-
templavam a cidade de Juazeiro do Norte com a passagem do trem e sim o município
de Barbalha. Mas a interferência política do Padre Cícero, junto às autoridades, foi
determinante para o desvio do percurso e para que o trem pudesse aportar direta-
mente em Juazeiro do Norte e não em Barbalha. Esta cidade só foi contemplada com
um pequeno ramal e 14 km a partir de Juazeiro do Norte.
12
Antes de a ferrovia chegar ao Iguatu, em 5 de novembro de 1910, a Estrada de Ferro
de Baturité e a Estrada de Ferro de Sobral são unificadas, em 1909, com o nome de
Rede de Viação Cearense (RVC).
17
BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Diretoria Geral de Esta-
tística. Anuário Estatístico do Brasil, 1° ano (1908-1912). Rio de Janeiro: Typographia
da Estatística, 1916. v. 2.
18
Anuário Estatístico do Estado do Ceará, organizado pelo Dr. G. de Souza Pinto, Di-
retor da Estatística, Secretário da Junta Comercial, ano de 1918 (PINTO, 1919, p. 11).
IGUATU19 5:295$200
Fonte: elaborado pelo autor com base no Anuário Estatístico do Estado do Ceará (PINTO, 1919,
p. 328).
Fonte: elaborado pelo autor com base no Anuário Estatístico do Estado do Ceará
(PINTO, 1919, p. 328).
19
O Anuário do Brasil não traz dados da receita de Iguatu para os anos de 1909 a 1912.
20
Os autores do livro O Ceará chegam a afirmar que “[...] Iguatu é rico em zonas férteis
e apropriadas para a agricultura e para a pecuária, fundamentos da sua vida eco-
nômica. É banhado pelo maior rio do Estado e por outros de menores proporções,
como o Truçú. Quincoé e córregos diversos. As suas terras, todas de boa qualidade,
prestam-se muito bem para a creação de gado e ao cultivo da agricultura, mormente
os terrenos situados à margem e às proximidades das grandes lagoas do município.
Às margens da maior lagoa do Estado - a lagoa de Iguatú - e suas terras banhadas
pelas demais (Barro Alto, Bastiana, Cocobó, Baú, Fonseca etc), cultiva-se em grande
escala a plantação de arroz, feijão, algodão etc. A principal fonte de produção do
município é o algodão, em cuja exportação ocupa o 1° lugar no Ceará. Além do ‘ouro
branco’, exporta Iguatú, também em maior escala a mamona, a oiticica, peles, couros
e, em menores proporções, milho, feijão, arroz, etc” (GIRÃO; MARTINS FILHO,
1939, p. 215).
21
Esta mão de obra foi substancialmente acrescida, principalmente, na seca de 1915,
quando milhares de sertanejos se dirigiram para Iguatu que, neste momento, era
ponta de linha da Rede de Viação Cearense e lá estava concentrada parte substancial
dos recursos que o Governo Federal havia enviado para socorrer os sertanejos. Estes,
após o término do flagelo, em boa parte, ficaram na cidade e se direcionaram para o
trabalho no campo.
22
Ao longo de todo o município do Iguatu, a RVC dispunha de 7 (sete) estações (Lages,
São José, Iguatu, Suassurana, José de Alencar, Jaguaribe e Varzinha) (MONTENE-
GRO, 2010, p. 67), que serviam como centros captadores da produção de algodão, o
que favoreceu enormemente a expansão dessa atividade nesse município.
23
Era impossível uma expansão mais acentuada da indústria de beneficiamento de
algodão no interior sem a existência da ferrovia. Como transportar o maquinário
necessário a esse beneficiamento e para a geração de energia, normalmente, pesado
e volumoso com um meio de transporte tão precário, como o que havia antes da
chegada da ferrovia ao sertão?
24
Apesar de fazer referência a industrialização do algodão no Ceará entre os anos de
1960-1965, quase meio século depois da constituição da maior parte da malha fer-
roviária do Ceará, percebemos claramente que ele é indicativo de que as cidades
cortadas pelas ferrovias eram, nesse período, as maiores beneficiadoras de algodão
nesse estado.
25
Mensagem apresentada à Assembléa Legislativa do Ceará, em 1 de julho de 1919, pelo
Dr. João Tomé de Saboya e Silva. Presidente do Estado (CEARÁ, 1920, p. 25).
26
Mensagem apresentada à Assembléa Legislativa do Ceará, em 1 de julho de 1919,
pelo Dr. João Tomé de Saboya e Silva. Presidente do Estado (CEARÁ, 1920, p. 13).
Sem dúvida, estes anos em que Iguatu foi “ponta de trilho” ajudaram
esta cidade a se consolidar como respeitável centro econômico e político
na região. Mas, nem sempre isto ocorreu em todos os municípios que se
tornaram “ponta de trilho” por alguns anos. Em Lavras da Mangabeira
29
A cidade permaneceu como ponta de linha de 5 de novembro de 1910, data da chega-
da do trem, até o dia 23 de janeiro de 1916, quando foi inaugurada a ponte metálica
sobre o Rio Jaguaribe.
30
O primeiro bispo de Cajazeiras, D. Moisés Coelho em 1915, quando veio a esta ci-
dade para assumir a recém-criada Diocese de Cajazeiras, teve que fazer o percurso
João Pessoa até Fortaleza de navio, Fortaleza - Iguatu de trem e o resto da viagem, até
Cajazeiras, a cavalo.
33
“O caixeiral” - Ano I, n° 07, p. 01 de 28 de junho de 1925.
34
Memorial da Associação Comercial de Iguatu ao Ilmo. Exmo. Sr. Dr. Washington
Luiz Pereira de Souza. Presidente eleito da República. 4 de agosto de 1926.
35
Memorial da Associação Comercial de Iguatu ao Ilmo. Exmo. Sr. Dr. Washington
Luiz Pereira de Souza. Presidente eleito da República em 4 de agosto de 1926
(CEARÁ, 1926).
36
Memorial da Associação Comercial de Iguatu ao Ilmo. Exmo. Sr. Dr. Washington
Luiz Pereira de Souza. Presidente eleito da República em 4 de agosto de 1926
(CEARÁ, 1926).
37
Jornal O Ceará, de 5 de agosto de 1928([SEM...], 1928b, p. 6).
38
Prefeito de Paris que é encarregado pelo imperador Napoleão III, à frente do Segun-
do Império, de reformar a capital francesa. David Harvey aponta que tanto Haus-
smann em Paris, quanto Robert Moses, em Nova York, depois da Segunda Guerra
Mundial, representaram uma síntese perfeita de “[...] uma maneira de absorver a
produção excedente e, desse modo, resolver o problema da absorção dos excedentes
de capital” (HARVEY, 2014, p. 35).
39
Anais da Câmara dos Deputados (BRASIL, 1877j, p. 196).
40
As reformas empreendidas por Pereira Passos se pautaram pelos “[...] principais
pressupostos ideológicos propagados pela Haussmanização - higienização, embele-
zamento e racionalização” (FOLLIS, 2004, p. 138).
41
Recife foi durante um bom tempo o grande centro econômico, cultural e educacional
de uma parte significativa do Norte do país. Era para lá que se dirigiam os filhos das
elites dessa vasta região, a fim de adquirirem formação superior.
42
Nem sempre nos lugares em que as ferrovias passaram aconteceram mudanças subs-
tanciais nas comunidades atingidas pelo trem. Em outras sim, como no caso de Iguatu.
43
A conexão de Iguatu com o exterior já se dava, em boa medida, no campo da econo-
mia. O algodão do município era exportado, na sua maior parte, para os mercados da
Europa e dos Estados Unidos. Iguatu também recebia do exterior todo o maquinário
necessário para implantação de sua indústria de beneficiamento.
47
Mesmo contando com poucos leitores, já que a maioria da população não era alfabe-
tizada, as notícias dos jornais se espalhavam rapidamente porque sempre tinha um
leitor de plantão para quem não sabia ler, isto no seio das famílias, nas praças etc. E
mais: notícia de jornal era notícia que circulava de boca em boca, chegando ampla-
mente a boa parte da população.
48
Infelizmente, apesar de muita busca e andança, não conseguimos encontrar quase
nenhum destes jornais.
52
Julho de 1925, Anno I-N° 08 ([SEM...], 1925).
53
Esta tentativa de estabelecer uma ruptura abrupta com o passado é humanamente im-
possível já que, como afirma Ricoeur (1997, p. 380), nós somos seres “[...] afetado - pelo
- passado” e a história é feita de continuidade e descontinuidade. Em nenhuma situação
há um corte absoluto com o passado, já que somos seres afetados por muitas heranças
e que nós incorporamos em nossas vidas pela própria tradição, transmitida pelas gera-
ções. Cada geração é uma ruptura com a geração anterior e ao mesmo tempo ela é uma
incorporação de uma série de heranças que vão sendo transmitidas pela memória. O
que para muitos é considerado passado e velho, na realidade permanece durante um
bom tempo convivendo e influenciando o que é considerado novo. É exemplar para
demonstrar o que estamos afirmando o texto de Arno J. Mayer “A Força da Tradição: a
persistência do antigo regime (1848-1914)”. Para ele, qualquer análise da história euro-
peia do século XIX e do início do século XX que não leve em consideração a influência
e “resistência das forças da tradição” sobre a modernização capitalista será “[...] uma
visão parcial e distorcida” desse período (MAYER, 1987, p. 16).
55
Isto se deu principalmente nas décadas de 1970 e 1980. O que foi a majestosa resi-
dência do coronel Virgílio Correia Lima (Figura 2) deu lugar a um prédio comer-
cial, e no lugar da residência do Sr Octaviano Benevides (Figura 3) ergueu-se a
Caixa Econômica Federal.
56
O Sr. Manuel Carlos de Gouvêa era natural de Aracaju, mas passou a maior parte de
sua infância e adolescência em Fortaleza. Conclui o curso de medicina em Salvador,
em 1918, e foi por intermédio de um amigo que ele tomou conhecimento de Iguatu
e “olhando o mapa do Ceará, concluiu que, pela sua situação geográfica, Iguatu era ‘a
cidade de futuro do Ceará’” (NOGUEIRA, 1985, p. 183).
57
Jornal O Povo de 12 de junho de 1928.
59
Jornal O Povo de 12 de julho de 1928.
60
Robert Moses - arquiteto e urbanista que mudou a cara de Nova York, depois da Se-
gunda Guerra Mundial. Construiu na cidade grandes vias expressas que cortaram a
mesma de ponta a ponta. É lembrado também pela forma autoritária com que tocava
seus projetos.
61
Aparece no Jornal O Ceará de 17 de fevereiro de 1928 uma crítica à prefeitura em
virtude da mudança do nome desta rua.
62
Jornal O Ceará, 03 de março de 1928 ([SEM...], 1928a).
63
A 1ª edição do livro de Nogueira, Iguatu: Memória Sócio-Histórico-Econômica é de
1962 e foi escrito com base no que Nogueira alcançou ver, mas também em depoi-
mentos de pessoas que viveram os anos 20 em Iguatu. Desta forma, o seu livro se
transformou em uma tradução do que foram esses anos e do que foi essa primeira
gestão do Dr. Gouvêa.
225
núcleo no Ceará. A melhoria das estradas, em direção a Fortaleza, e do
porto da capital é colocada como imprescindível para que essa cidade
pudesse alcançar a sua hegemonia. Há toda uma determinação do gover-
no Provincial para concentrar as maiores inversões em obras na capital
para que Fortaleza melhor se aparelhasse e se transformasse no principal
centro de intermediação comercial da Província o que, naturalmente,
carreou para esse núcleo os principais empreendimentos públicos e pri-
vados como, por exemplo, a primeira ferrovia do Ceará. Com a expansão
ferroviária para o interior, Fortaleza buscou determinar um traçado que,
afastando-se cada vez mais da área de influência de Aracati, sepultasse
para sempre qualquer possibilidade dessa cidade vir mais tarde a amea-
çar a hegemonia da capital. Foi o “tiro de misericórdia” que faltava para
acabar de vez com a relutante e teimosa sobrevida de Aracati.
Observamos que a forma como estava estruturada a organização po-
lítica no Brasil, que tinha no patrimonialismo a sua característica mais
marcante, fez florescer um tipo de Estado em que a ineficiência e a ir-
racionalidade na aplicação dos recursos públicos vicejavam abundan-
temente. Esta foi a situação preponderante na implantação das ferro-
vias no Brasil e que será, no futuro, muito prejudicial aos interesses do
país, pois o que prevaleciam na implantação dos ditos trilhos redentores
eram os interesses políticos particulares sobre qualquer consideração
técnico-econômica.
Constatamos que era no parlamento nacional - Senado e Câmara
dos Deputados - que a prática reinante do toma lá dá cá da política fer-
roviária brasileira acontecia de maneira exemplar. Esse era o momento
oportuno para os políticos exercitarem, com inigualável desenvoltura, o
seu lado mais predador dos recursos públicos.
Chamou-nos a atenção o fato de o Ceará, apesar de ser considerada
uma província pequena, conseguir angariar recursos e obras substan-
cialmente superiores a sua pujança política e econômica. Concluímos
que isso se deveu a algumas características marcantes de sua elite po-
lítica como, por exemplo, a sua destreza e a sua incansável capacidade
reivindicativa. Alguns membros de sua representação no parlamen-
to nacional são dotados de um talento incomum, não só no trato das
229
Relatório das Empresas
Ferroviárias
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A povoação do Ceará seguiu os caminhos
da criação de gado, ao contrário do Nordeste
úmido de Pernambuco, das fazendas de
plantação e dos engenhos de açúcar,
de Gilberto Freyre. Deste lado seco do “outro
nordeste”, de Djacir Menezes, a ocupação
foi parcimoniosa, tomou as entradas
litorâneas e subiu pelos vales secos dos rios.
Pouco valeram os escravos para uma
atividade rala de mão de obra nas rudes e
pobres tarefas do plantio de subsistência.
De Aquiraz, seguindo as trilhas de
penetração dos rebanhos de criação para
Icó e o Quixadá, levando ao coração do
Ceará a civilização do couro e do algodão,
o povoamento destas terras áridas veio pelas
estradas carroçáveis e pelas vias férreas,
pelas missões religiosas e pela propriedade
de terras, pelos rendeiros sem posse e pelos
feirantes. Assim surgiu o Ceará.