Lição 01 de ApL
Lição 01 de ApL
Lição 01 de ApL
H. Clark
Lição 1 – Os Números Reais I C. Vinagre
Introdução
N = {1, 2, 3, . . .},
Z = {0, 1, −1, 2, −2, 3, −3, . . .},
{ }
O
p
Q = r; r = , p, q ∈ Z, q ̸= 0 .
ÇA˜
q
Sabe que, N ⊂ Z ⊂ Q ⊂ R, por ∅ denota-se o conjunto vazio, (o conjunto
que não possui nenhum elemento) e para todo conjunto A tem-se que ∅ ⊂ A.
Propriedades algébricas de R A
R
Uma operação binária em R é uma função que associa a cada par
A
(a, b) de elementos de R um elemento de R. No conjunto R dos números
EP
reais estão definidas duas operações binárias: a adição é uma operação que
associa a cada par (a, b) o número real a + b, chamado soma de a e b; por
sua vez, a operação de multiplicação associa a cada par (a, b) o produto a · b.
PR
1
Os Números Reais I
Elementos
de
Análise (M1) Comutatividade: para todos a, b ∈ R, a · b = b · a.
Real (M2) Associatividade: para todos a, b, c ∈ R, (a · b) · c = a · (b · c).
(M3) Existência do elemento neutro: existe um elemento em R, deno-
tado por 1, tal que 1 ̸= 0 e tal que para todo a ∈ R vale 1 · a = a.
(M4) Existência do elemento inverso: para todo a ∈ R, a ̸= 0, existe um
elemento em R, denotado por 1/a (ou a−1 ) tal que a · (1/a) = 1.
O
Um conjunto X dotado de operações + e · satisfazendo (A), (M) e
ÇA˜
(D) constitui uma estrutura algébrica chamada corpo. Em particular, R é
um corpo.
(
A
♢ Prelúdio 1.1 Enunciados (ou seja, afirmações) da forma
)
R
se P[x] então Q[x] em sı́mbolos: P[x] ⇒ Q[x]
e da forma (⋆)
A
( )
para todo x, se P[x] então Q[x] em sı́mbolos: ∀x, P[x] ⇒ Q[x] ,
EP
onde P[x] e Q[x] são enunciados que se referem a x, são chamados enunciados
condicionais ou implicações.
PR
2
Os Números Reais I
H. Clark
C. Vinagre
O
Todas as propriedades dos números reais envolvendo a adição e a mul-
tiplicação podem ser deduzidas por meio de raciocı́nios lógicos a partir dos
ÇA˜
axiomas (A), (M) e (D). No que se segue, afirmações verdadeiras são enun-
ciadas e são apresentadas as técnicas para realizar os raciocı́nios para prová-
las.
A
A primeira técnica mostra como se raciocina para provar que uma pro-
posição na forma condicional é verdadeira. Antes de mais nada, certifique-se
R
de entender o significado de cada enunciado abaixo, pois eles são conhecidos
A
de outras disciplinas.
A ideia principal para provar que um enunciado desta teoria na forma
EP
(b) Se a + a = a então a = 0.
(c) a · 0 = 0.
3
Os Números Reais I
Elementos
de
Análise anterior: para isto, é preciso apresentar as condições da hipótese do item
Real (a), para o enunciado (b). Assim, reescreve-se a hipótese a + a = a de forma
a se ter um número para cancelar, como na hipótese de (a). De fato, pode-se
reescrever a + a = a como a + a = 0 + a (note que nada foi alterado). Daı́
e da lei de cancelamento (a), pode-se afirmar então que a = 0.
(c) Por hipótese, a ∈ R. Pelo item (b) acima, para concluir que a · 0 = 0
basta mostrar que a · 0 + a · 0 = a · 0. Para mostrar que uma igualdade
é verdadeira, basta desenvolver um dos seus membros até obter-se o outro
(jamais se desenvolvem os dois lados ao mesmo tempo!). Assim,
D (A3)
O
a · 0 + a · 0 = a · (0 + 0) = a · 0 .
ÇA˜
Obteve-se um enunciado que tem a forma da hipótese do item (b) para o
número real a · 0. Como (b) já foi provado ser verdadeiro, fica garantido
então que vale a · 0 = 0.
A prova da próxima Proposição é deixada como exercı́cio. Faça-a
A
depois de ter entendido e refeito por si mesmo as provas acima.
R
Proposição 1.2 (Cancelamento da multiplicação) Para todos a, b, c ∈ R,
A
se ac = bc e c ̸= 0 então a = b.
EP
0 + θ = 0. (2∗)
4
Os Números Reais I
H. Clark
C. Vinagre
O
(−a) · b = −(a · b). Ou seja, (−a) · b é o simétrico de a · b.
ÇA˜
Prova: Por hipótese, a, b ∈ R. Pela Observação 1.1 basta provar que
a · b + (−a) · b = 0. Como já foi comentado, para provar que uma igualdade é
verdadeira, deve-se desenvolver um dos seus membros até obter-se o outro.
Assim, A
a · b + (−a) · b = (a + (−a)) · b = 0 · b = 0 .
R
Nesta sequência, foram utilizadas (D), (A4) e a Proposição 1.1 (c), nesta
A
(c) Pode-se raciocinar como no Exemplo 1.2. Ou então usar os itens anteri-
(a) (Ex.1.2) (b)
ores: (−a)(−b) = −((−a)b) = −(−(ab)) = ab.
(d) É um caso particular de (c) para a = b = 1.
5
Os Números Reais I
Elementos
de
Análise Usando idéias contidas nas provas das Proposições anteriores e ra-
Real ciocı́nios análogos prova-se.
Prova: Exercı́cio. Para (a), lembre que 1 ̸= 0 por (M3). Em (a) e (b), você
deverá usar a Proposição 1.2.
O
inverso multiplicativo de um número real a ̸= 0, ou seja que b = 1/a, é
suficiente provar que ab = 1.
ÇA˜
Esta ideia será utilizada na prova do item (b) da próxima proposição. Antes
disto, no entanto, no próximo Prelúdio, é apresentada uma outra técnica de
prova.
A
R
♢ Prelúdio 1.2 Um tipo de raciocı́nio dedutivo às vezes utilizado para provar
A
que uma implicação
se P[x] então Q[x]
EP
Daı́, busca-se chegar a uma afirmação que contrarie a hipótese, P[x], ou con-
trarie algum fato já provado. Como a contradição (ou absurdo) decorreu da
EM
suposição de que a tese, Q[x], era falsa, conclui-se que Q[x] é verdadeira. As-
sim, o que se desejava provar é fato. Este tipo de raciocı́nio é muito adequado
para a demonstração de certos tipos de enunciados, que você aprenderá a reco-
nhecer com a prática, mas não deve ser, em princı́pio, a primeira técnica a ser
empregada.
Prova: (a) Por hipótese, a ̸= 0. Logo, por (M4), existe o número real 1/a.
Suponha por absurdo que 1/a = 0. Então a(1/a) = a · 0 = 0. Mas por
(M4), a(1/a) = 1. Destas duas afirmações decorre então que 0 = 1, o que
6
Os Números Reais I
H. Clark
C. Vinagre
contradiz (M3). Portanto, supor que 1/a = 0 leva a uma contradição e este
fato permite concluir que 1/a ̸= 0.
(b) Por hipótese, a ̸= 0. Por (a), 1/a ̸= 0. Então, como (1/a)a = 1 então,
pela Observação 1.2, resulta que 1/(1/a) = a .
(c) Por hipótese a · b = 0 e a ̸= 0. Logo existe o número real 1/a, que pode
multiplicar ambos os lados da primeira igualdade para fornecer (1/a)(ab) =
(1/a) · 0. Daı́, por (M2), segue que ((1/a)a)b = 0. Então, por (M4), 1b = 0,
e daı́ por (M3), b = 0.
O
provar. Se a ̸= 0 então tem-se b = 0 pelo item (c) acima. Conclui-se então
ÇA˜
que, se vale ab = 0 então necessariamente a = 0 ou b = 0.
x2 = 2.
EM
(∗)
não tem solução em Q, isto é, não existe um número racional x que seja
solução de (∗). De fato, suponha por absurdo que existe tal x em Q. Então
existem p, q ∈ Z tais que q ̸= 0, com p e q sem divisores comuns (se não,
bastaria reduzir a fração) e x = p/q. Mas como x2 = 2 então tem-se
p2 = 2q 2 . Assim, p2 é necessariamente par, e portanto p é par, digamos
p = 2m, m ∈ Z. Consequentemente,
4m2 = 2q 2 ou seja q 2 = 2m2 ,
de onde segue que q 2 é par, e daı́ q é par. Portanto, p e q são pares o que é
uma contradição pois, por escolha, eles são primos entre si (não possuem di-
visores comuns). Esta contradição decorre da suposição inicial da existência
3
Uma solução em R para uma equação com uma incógnita é um número real que, ao
substituir a incógnita na equação, fornece uma igualdade verdadeira.
7
Os Números Reais I
Elementos
de
Análise de um número racional x satisfazendo x2 = 2. Conclui-se que a equação (∗)
Real não possui solução no corpo Q dos racionais.
Na Lição 2 será provado que o número real positivo x que satisfaz
√
(∗) existe. Ele será denotado 2 e chamado raiz quadrada (positiva) de
√
2. Provou-se que 2 não pertence ao conjunto dos números racionais. A
demonstração de que a equação (∗) tem solução em R depende do Axioma do
Supremo, propriedade do conjunto dos números reais que será introduzida
√
na Lição 2. Pelo que foi visto acima, ter-se-á necessariamente que 2 é um
número irracional.
O
♢ Prelúdio 1.3 O Axioma (A4) permite afirmar que, se um número real c é
ÇA˜
igual ao elemento simétrico de a ∈ R, isto é, se c = −a, então a + c = 0. Por
outro lado, a Observação 1.1 estabelece que: se c ∈ R e a+c = 0 então c = −a.
Ou sejam, valem as duas implicações abaixo, onde a hipótese da primeira é a
conclusão da segunda e vice-versa:
A
R
se c = −a então a + c = 0,
se a + c = 0 então c = −a.
A
resumido escrevendo-se
c = −a ⇔ a + c = 0.
PR
também é, e um é falso exatamente quando o outro é. Diz-se também que os
enunciados são equivalentes. Para provar uma biimplicação é necessário provar
as duas implicações envolvidas.
A ordem em R
8
Os Números Reais I
H. Clark
C. Vinagre
O
Se −a ∈ R∗+ ou a = 0, diz-se que a é um número real não positivo e
escreve-se a ≤ 0.
ÇA˜
Pela Definição acima, 0 (e somente ele) é ao mesmo tempo um número
real não positivo e não negativo.
(O) Axiomas de Ordem
A
(O1) Para todos a, b ∈ R, se a > 0 e b > 0 então a + b > 0.
R
(O2) Para todos a, b ∈ R, se a > 0 e b > 0 então ab > 0.
A
9
Os Números Reais I
Elementos
de
Análise Algumas propriedades da ordem em R
Real
Proposição 1.8 Sejam a, b ∈ R
(a) Se a > b e b > c então a > c.
(b) Uma, e somente uma, das relações a > b, ou a = b, ou a < b ocorre.
(c) Se a ≥ b e b ≥ a então a = b.
Prova: (a) Por hipótese a > b e b > c. Pela Definição 1.2 tem-se que
a − b > 0 e b − c > 0. Daı́ e por (O1) tem-se (a − b) + (b − c) > 0. Mas
usando (A1),(A2), (A3) e (A4) tem-se que (a − b) + (b − c) = a − c. Logo,
O
de novo pela Definição 1.2, tem-se que a > c.
ÇA˜
(b) Por hipótese, a, b ∈ R. Logo, a − b ∈ R e pela Propriedade de Tricotomia
(O3), exatamente uma das seguintes relações ocorre:
a − b > 0 ou a − b = 0 ou − (a − b) = b − a > 0.
A
Daı́ e pelo item (a) da Definição 1.2 tem-se que uma, e somente uma, das
R
relações a > b ou a = b ou a < b é verdadeira.
dois casos. Ora, se a > 0 então por (O2) tem-se a2 = aa > 0. E também, se
−a > 0 então por (O2) tem-se (−a)(−a) > 0. Mas pela Proposição 1.5 (c)
tem-se (−a)(−a) = aa = a2 . Assim, a2 > 0 também neste caso. Portanto,
vale a conclusão em qualquer dos casos possı́veis. Logo está demonstrado
que, se a ̸= 0 então a2 > 0.
(ii) Como 1 = 12 é verdade por (M3) então do item (a) precedente resulta
que 1 > 0.
10
Os Números Reais I
H. Clark
C. Vinagre
O
ÇA˜
(c) Por hipótese a > b e c > 0. Então a − b > 0. Daı́, de c > 0 e por (O2)
tem-se ac − bc = (a − b)c > 0. Assim, ac > bc, pela Definição 1.2.
(d) Exercı́cio.
A
(e) Por hipótese a > 0. Pela Tricotomia, a ̸= 0, de onde segue pela Pro-
posição 1.7 (a), que 1/a ̸= 0. Suponha, por absurdo, que 1/a < 0 (veja
R
o Prelúdio 1.2). Usando o item (d) para b = 0 e c = 1/a, tem-se que
A
a·(1/a) < 0·(1/a), ou seja 1 < 0. Isto contradiz o item (c) da Proposição 1.7.
Portanto, tem-se que 1/a > 0.
EP
(f) Exercı́cio.
Exemplo 1.3 Se a ∈ R e para todo número real ϵ > 0 vale 0 ≤ a < ϵ, então
a = 0.
EM
11
Os Números Reais I
Elementos
de
Análise O Princı́pio da Indução Matemática - PIM, é talvez a mais importante
Real propriedade dos números inteiros (logo, dos números naturais). Na sua versão
mais simples, o PIM fornece uma maneira de provar que uma afirmação do tipo
Na afirmação (⋆), P[n] indica uma propriedade que se refere ao número inteiro
n e a é um número inteiro conhecido. Portanto, o PIM fornece um método de
prova.
O
dade: n > 0.
ÇA˜
(ii) Para todo natural n ≥ 4, 2n < n!. Aqui, a = 4 e P[n] é a propriedade:
2n < n!.
A
Teorema 1.1 (Princı́pio da Indução Matemática - PIM) Seja P[n] uma
R
propriedade referente ao número inteiro n e seja a ∈ Z dado. Se P[n] sa-
tisfaz:
A
EP
necessário provar que P[n] satisfaz os itens (1) e (2) acima. Ou seja, que P[n]
está nas condições das hipóteses do PIM. E mais: como o item (2) exige que
pse P[n] é verdadeira para um inteiro n ≥ a então P[n+1] é verdadeiraq,
prová-lo significa provar uma implicação!
Um passo-a-passo para usar o PIM na demonstração de que uma afirmação
do tipo (⋆), são:
[10 ] Identificar a propriedade P[n] e o número inteiro (ou natural) a.
[20 ] Mostrar que vale P[n] para n = a, isto é, que P[a] é uma afirmação
verdadeira.
12
Os Números Reais I
H. Clark
C. Vinagre
[50 ] Concluir, pelas etapas 2, 3 e 4 e pelo PIM, que vale P[n] para todo n ∈ Z.
Exemplo 1.5 Provar que a soma dos n primeiros números naturais é igual a
2 n(n + 1), ou brevemente, que para todo n ∈ N vale
1
1
1 + 2 + · · · + n = n(n + 1). (⋆)
2
O
Prova: Aqui P[n] é a igualdade (⋆) e a = 1 .
ÇA˜
P [1] diz que 1 = 1
2 · 1 · 2, o que é verdade.
1
HI: Suponha que k ∈ N e que valha P[k], ou seja, que 1+2+· · ·+k = k(k+1).
2
Deseja-se provar que P [k + 1] é verdadeira. Ou seja, vale
1 A
1 + 2 + · · · + k + (k + 1) = (k + 1)(k + 2).
R
2
Para mostrar esta igualdade, procede-se como a seguir:
A
1 + 2 + · · · + k + (k + 1) = (1 + 2 + · · · + k) + (k + 1)
EP
(HI) 1
= k(k + 1) + (k + 1)
2
k(k + 1) + 2(k + 1) 1
= = (k + 1)(k + 2).
PR
2 2
13
Os Números Reais I
Elementos
de
Análise ambos os membros da desigualdade de HI por 2 não a altera (veja a Proposição
Real 1.10 (c)) e fornece 2n+1 = 2n · 2 < n! · 2 . Como 2 < n + 1, pois 4 ≤ n
(verifique!) e n! > 0, resulta n! · 2 < n!(n + 1) = (n + 1)! . Usando as duas
desigualdades e transitividade, vem que 2n+1 < (n + 1)!. Provou-se assim que:
se n ≥ 4 é um natural e P[n] é verdadeira então P[n + 1].
Como as duas condições do Teorema 1.1 foram provadas, conclui-se pelo
PIM que 2n < n! é verdade para todo natural n ≥ 4.
O
Prova: Aqui P[n] é a propriedade pn > 0q e a = 1.
ÇA˜
1) P[1] vale, pois 1 > 0 pela Proposição 1.9(b);
2) A HI é: seja k ∈ N (logo k ≥ 1) e suponha que P[k] é verdadeira para
este k, isto é, que k > 0. Como 1 > 0 e pela HI, k > 0, então k + 1 > 0 por
(O1). Provou-se que, para qualquer k ∈ N, P[k] implica P[k+1].
A
Assim, as duas condições da hipótese do PIM são satisfeitas. Resulta
R
dele então que n > 0 para todo n ∈ N .
A
Proposição 1.12 Sejam a, b ∈ R. Se a < b então a < 12 (a + b) < b. Em
EP
Prova: Sendo por hipótese a < b então, do item (a) da Proposição 1.10,
PR
14
Os Números Reais I
H. Clark
C. Vinagre
Exercı́cios Propostos - EP
EP1.1 Se x ̸= 0 e y · x = x então y = 1.
1 1
EP1.2 Se 0 < x < y então 0 < < .
y x
( 2 )
O
EP1.3 xy ≤ x + y 2 /2.
ÇA˜
√
EP1.4 Se x > 0 e y > 0 então xy ≤ (x + y)/2. Isto significa que a média
√
geométrica, xy, é menor ou igual à média aritmética, (x + y)/2.
6x − 5
EP1.5 Se x ≤ −10 e ≥ 7 então −61 ≤ x ≤ −10.
x+8
A
EP1.6 Se x < 1, x ̸= −2 e 1/(x + 2) < 1 então x < −2 ou −1 < x < 1.
R
EP1.7 Se para todo ϵ > 0 vale x − y < ϵ então x ≤ y.
A
EP1.8 Mostre que, por meio do princı́pio de indução matemática, que
EP
1 1 1 1
+ + + · · · + n ≤ 1 para todo n ∈ N.
2 4 8 2
EP1.9 Mostre que, por meio do princı́pio de indução matemática, que
( )
PR
15
Os Números Reais I
Elementos
de
Análise Resolução dos Exercı́cios Propostos - REP
Real
Agora que você já fez ou pelo menos tentou fazer os exercı́cios propos-
tos, eis suas resoluções e, também, serão feitas algumas obsevações visando
consolidar sua aprendizagem.
O
REP1.2 Por hipótese 0 < x < y. Daı́, x > 0 e y > 0. Portanto
ÇA˜
pela Proposição 1.10 (e) tem-se 1/x > 0 e 1/y > 0. Usando que 1/y > 0,
x < y e a Proposição 1.10 (c) obtém-se (1/y) · x < (1/y) · y. Daı́, por
(M3), (1/y) · x < 1. Usando esta desigualdade, que 1/x > 0 e a Proposição
1.10 (c), obtém-se ((1/y) · x) · (1/x) < 1 · (1/x). Por (M2) e (M3) tem-se
A
(1/y) · (x · (1/x)) < 1/x. Por (M4) obtém-se (1/y) · 1 < 1/x. Por (M3)
R
resulta 1/y < 1/x. Daı́, conclui-se que 0 < 1/y < 1/x.
A
Observação 1.4 Todas as passagens do raciocı́nio são explicitadas e as pro-
priedades mencionadas, para o pleno entendimento de quem lê a prova, no caso,
EP
você, aluno. Além disso, quando uma hipótese crucial precisa ser uti-
lizada, ela é citada novamente, como, por exemplo, acontece na
segunda passagem (segundo parágrafo) do raciocı́nio acima. Tome
PR
16
Os Números Reais I
H. Clark
C. Vinagre
(a − b)2 ≥ 0 (∗)
1( 2 )
∴ a2 − 2ab + b2 ≥ 0 ∴ a2 + b2 ≥ 2ab ∴ a + b2 ≥ ab.
2
Na última desigualdade usou-se que 1/2 > 0 e o Exercı́cio 1(b) acima.
Atenção: Neste item, para descobrir que se deve partir de (∗), faz-se no
O
rascunho, uma “conta de trás para frente” que, não é a demonstração
ÇA˜
e portanto não deve aparecer nela! O que vai aparecer na demonstração é a
conta de “frente para trás”!!!!
Na demonstração mesmo, atentar que não é o caso de se usar p⇔q pois
só se está pedindo a implicação no sentido p⇒q: Por exemplo, na primeira
( )
A
passagem tem-se que p(a − b)2 ≥ 0 implica 12 a2 + b2 ≥ abq. É muito im-
R
portante ler e entender de onde se deve partir (hipótese) e onde se deve chegar
(conclusão). Releia a Lição 1 para tirar quaisquer dúvidas, se precisar.
A
REP1.4 Por hipótese, x e y são reais positivos. Então xy > 0 e disto resulta
√
EP
√
que afirmar que |x + y| ≥ 2 xy (6 ). Como x + y > 0 pois x > 0 e y > 0
√
então |x + y| = x + y. Tem-se então a conclusão desejada, x + y ≥ 2 xy.
6x − 5
REP1.5 Por hipótese: x ∈ R, x ≤ −10 e ≥ 7. Não se pode
x+8
4
O sı́mbolo p∴q significa “logo”, “portanto”, “daı́”, “segue daı́ que”, “então tem-se
que”, “o que implica”, “o que fornece” e outras acepções no mesmo sentido. É o adequado
de ser usado neste caso. O sı́mbolo p⇒q é mais apropriado quando se precisa mencionar o
enunciado completo p P(x) ⇒ Q(x)q, que simboliza a implicação “se P(x) então Q(x)”.
Vamos assim aprimorando o uso da linguagem matemática.
5
A prova da existência da raiz quadrada de números positivos está feita na Lição 2.
As propriedades usadas neste exercı́cio precisam já ser conhecidas e algumas delas serão
recordadas na Lição 2. Se tiver dúvidas, estude-as antes de voltar a este exercı́cio. Esta
situação é uma exceção, a regra é não usar conceitos ou resultados que não tiverem sido
introduzidos na Lição. Propriedades elementares da radiciação e potenciação também
serão usadas no último exercı́cio deste EP.
√
6
A propriedade ∀x ∈ R, x2 = |x| usada aqui será provada na Lição 2
17
Os Números Reais I
Elementos
de
6x − 5
Análise afirmar que 6x − 5 ≥ 7(x + 8) (por que?) Porém vale − 7 ≥ 0. Daı́,
x+8
Real
6x − 5 − 7x − 56 −x − 61
≥0 o que equivale a ≥ 0.
x+8 x+8
Por propriedade de ordem
Daı́ px ≤ −61 e x > −8q ou px ≥ −61 e x < −8q. Como não existe
x ∈ R satisfazendo px ≤ −61 e x > −8q segue que −61 ≤ x < −8. Como
por hipótese, x ≤ −10, então −61 ≤ x < −10, como se queria.
O
Observação 1.6 Note que (6x − 5)/(x + 8) ≥ 7 não implica necessariamente
ÇA˜
6x − 5 ≥ 7(x + 8). Isto só vale no caso em que x + 8 > 0, isto é, x > −8.
No caso, x < −8 o que vale é 6x − 5 ≤ 7(x + 8). Como não se sabe qual das
duas opções é a verdadeira, trabalha-se com a formulação alternativa acima,
que dispensa saber o sinal de x + 8.
A
Observe também que se a conclusão fosse −70 ≤ x < −10, bastaria,
R
depois de se concluir que −61 ≤ x < −8, raciocinar que: como −70 ≤ −61 e,
por hipótese, x ≤ −10 então −70 ≤ x < −10.
A
3 6
Resolvendo esta tarefa você deverá obter que:
11 5 11 5
px> e x > q ou p x < e x < q.
6 4 6 4
EM
Daı́ se tem
11 5
px> q ou p x < q.
6 4
Como não se pode ter x < 5/4, pois por hipótese x > 4/3 então vale
x > 11/6.
Observação 1.7 Note que nos raciocı́nios desenvolvidos acima não foram in-
dicadas explicitamente os Axiomas e Proposições utilizados. Em contrapartida,
todas as passagens foram apresentadas com clareza, de forma a não deixar
dúvidas para você, leitor.
18
Os Números Reais I
H. Clark
C. Vinagre
O
absurdo (7 ), que x > y. Daı́, x − y > 0. Portanto, fazendo em particular,
ÇA˜
ϵ = x − y na hipótese, tem-se x − y < x − y. Isto é um absurdo pela
tricotomia! Logo, x ≤ y.
1 1 1 1
REP1.8 Note que P [n] é a desigualdade p + + + · · · + n ≤ 1q .
2 4 8 2
1 1 1
• quando n = 1 tem-se = 1 = ≤ 1. Assim, P [1] é válida;
2 2 2
A
R
• HI: seja n um número natural e suponha que a desigualdade P[n] é válida.
A
Ou seja, que
1 1 1 1
P [n] : + + + · · · + n ≤ 1. (HI)
EP
2 4 8 2
é verdadeira. Deve-se provar que
1 1 1 1 1
+ + + · · · + n + n+1 ≤ 1
PR
P [n + 1] :
2 4 8 2 2
é verdadeira. Para conseguir usar a (HI), reescreve-se o membro à esquerda
da desigualdade que se quer provar, assim
1 1 1 1 1 1 1[1 1 1 1]
EM
+ + + · · · + n + n+1 = + + + · · · + n−1 + n
2 4 8 2 2 2 2 2 4 2 2
1 1
≤ + · 1 (usou-se nesta passagem a HI)
2 2
= 1.
19
Os Números Reais I
Elementos
de
Análise • Suponha, por hipótese, a igualdade válida para um natural n qualquer
Real fixado. Ou seja, que
( )
xn − y n = (x − y) xn−1 + xn−2 y + · · · + xy n−2 + y n−1 . (HI)
De fato,
O
xn (x − y) + y(xn − y n ) =
ÇA˜
( )
xn (x − y) + y(x − y) xn−1 + xn−2 y + · · · + xy n−2 + y n−1 =
( ( ))
(x − y) xn + y xn−1 + xn−2 y + · · · + xy n−2 + y n−1 =
( )
(x − y) xn + xn−1 y + · · · + xy n−1 + y n .
A
Substituindo, esta igualdade em (3⋆) obtém-se (2⋆). Portanto, P [n + 1] é
R
verdadeira. Como o natural n inicial era arbitrário, provou-se então que
A
para todo n ∈ N, P[n] ⇒ P[n+1].
Logo, pelas duas etapas acima e pelo PIM, tem-se que P[n] é válida
EP
n
x − y = ( n x − n y) xn−1 + n xn−2 y + · · · + n xy n−2 + n y n−1 (4⋆)
20
Os Números Reais I
H. Clark
C. Vinagre
O
(1 + x)(1 + nx) = 1 + x + nx + nx2 e nx2 ≥ 0,
ÇA˜
então (1+x)(1+nx) ≥ 1+x+nx. Logo, (1+x)n+1 ≥ 1+(1+n)x. Portanto,
P [n + 1] é verdadeira. Como o natural n inicial era arbitrário, provou-se
então que para todo n ∈ N, P[n] ⇒ P[n+1].
A
Logo, pelas duas etapas acima e pelo PIM, tem-se que P[n] é válida
R
para todo natural n.
A
EP
PR
EM
21
Os Números Reais I
Elementos
de
Análise Complementos - C
Real
O objetivo dos “Complementos” é trazer mais informações sobre o
assunto abordado nesta Lição. É uma boa tarefa buscar outros fontes na
“Biblioteca” quando não conseguir resolvê-los com os recursos já adquiridos.
Alguns são totalmente semelhantes aos até aqui estudados, outros serão
resolvidos.
x z xt + yz
C1.1 Se x, y, z, t ∈ R com y, t não nulos então + = .
y t yt
C1.2 [Desigualdade de Cauchy] Mostre que, se a1 , . . . , an e b1 , . . . , bn são
( )( )
números reais então (a1 b1 + · · · + an bn )2 ≤ a21 + · · · + a2n b21 + · · · + b2n
O
para todo n ∈ N.
ÇA˜
C1.3 Mostre que, se x ∈ R, x < 1, x ̸= −2 e 1/(x + 2) < 1 então
x < −2 ou −1 < x < 1.
1 ( 1 )2 ( 1 )n−1 −n − 2
C1.4 Prove que 1 + 2 + 3 + ··· + n = 4 + n−1 para
todo n ∈ N.
2 2 2
A 2
R
A
EP
PR
EM
22