Resultados Clínicos Radiográficos
Resultados Clínicos Radiográficos
Resultados Clínicos Radiográficos
UBERLÂNDIA
2020
MARCELLA DALL’AGNOL LEITE
UBERLÂNDIA
2020
Resultados clínicos e radiográficos da redução de fraturas utilizando haste
bloqueada em 67 cães
Clinical and radiographic results of interlocking nail in fracture reduction of 67 cases small animals
Marcella Dall’Agnol Leite¹, Franciso Cláudio Dantas Mota².
RESUMO
As fraturas em cães são grande parte da casuística de atendimentos da clínica cirúrgica de
pequenos animais. A haste intramedular bloqueada (HIB) é um implante bastante utilizado, estas
resistem às forças de flexão, torção e compressão axial. O presente trabalho tem como objetivo
avaliar o tempo de consolidação óssea, a formação de calo ósseo e as possíveis complicações
com o uso de hastes bloqueadas na redução de fraturas. Foram selecionados 67 casos em que
as HIB foram utilizadas para redução de fraturas de cães, estes foram avaliados clínica e
radiograficamente quanto ao tempo e tipo de consolidação, tempo de apoio após a cirurgia,
complicações e função do membro. Os dados obtidos foram apresentados sob a forma de
estatística descritiva. Foi possível concluir que a HIB é um implante intramedular que permite
retorno precoce à função pois oferece suporte à carga colocada sobre o osso durante a
deambulação, permitindo assim a micromovimentação do foco de fratura, levando a consolidação
secundária.
ABSTRACT
Fractures in dogs are one of the great causes of care in small animal surgical clinic. The
Interlocking Nail (IN) is a widely used implant, they resist flexion, torsion and axial compression
forces. The present study aims to evaluate the time of consolidation, formation of bone callus, and
possible complications with the use of IN to reduce fractures. 67 cases were selected in which IN
were used to reduce fractures of dogs, these were evaluated clinically e radiographically regarding
the time and type of consolidation, early deambulation, complications and limb function. The data
obtained were presented in the form of descriptive statistics. It was possible to conclude that IN is
an intramedullary implant that allows early return to function as it supports the load placed in the
bone during walking, thus allowing the micromovement pf the fracture focus, leading to secundary
consolidation.
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 6
2. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................................... 7
3. RESULTADOS .................................................................................................................. 11
4. DISCUSSÃO ..................................................................................................................... 13
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 18
6
1. INTRODUÇÃO
2. MATERIAL E MÉTODOS
A B
Figura 1. A – Imagem radiográfica do fêmur na projeção CrCa, observe a mensuração da porção mais
estreita do canal medular (circulo preto) e a largura das extremidades proximal e distal. B - Imagem
radiográfica do fêmur na projeção ML, observe a mensuração do comprimento do osso desde a
extremidade proximal até o inicio da metáfise distal. Uberlândia, 2019.
ser elevado de sua inserção na diáfise umeral. Por fim, para o acesso a tíbia, a incisão
de pele e subcutâneo foram realizadas medialmente, se iniciando como uma incisão para
patelar para o acesso ao platô tibial, até o maléolo medial, após a incisão da pele e
subcutâneo, realiza-se dissecação cuidadosa na porção mais distal com o objetivo de
preservar os vasos e nervo safeno, estes uma vez afastados abrem caminho para a
realização da incisão na fáscia, para completa exposição óssea .
Após a realização dos acessos, foi feita a fresagem manual, de maneira cuidadosa do
canal medular de ambos os fragmentos da fratura, iniciando do foco em direção as
extremidades, e posterior alinhamento e inserção das hastes. A introdução da haste foi
realizada de maneira normógrada e bloqueada com 4 parafusos (2 próximas e 2 distais)
(Figura 2). A escolha dos implantes foi baseada de acordo com o diâmetro do canal
medular e comprimento do membro não afetado, o tamanho das hastes variou entre: 4,
5, 6, e 8 mm, sendo que para hastes de tamanho 4 e 5, utilizaram parafusos de 2 mm,
para as de tamanho 6 parafusos 2,7 mm e para as de tamanho 8, parafusos 3,5 mm. O
comprimento destes era escolhido por meio da medida entre corticais das extremidades
proximal e distal na posição craniocaudal, introduzidos no osso, com o auxílio do guia de
haste para a realização dos orifícios.
A B C
Figura 2. A- Imagem radiográfica posição ML de fêmur de cão com fratura múltipla do terço médio. B-
Imagem radiográfica posição ML, observe o posicionamento da haste no interior do canal medular, pós
operatório imediato. C- Projeção CrCd 30 dias de pós operatório, observe a haste no interior do canal
medular fixado com dois parafusos proximais e dois distais e reação periosteal na região da fratura
evidenciando início de consolidação secundaria. Uberlândia, 2019.
10
A B
A B
B
Figura 3. A- Fratura múltipla segmentar do terço médio da diáfise femoral em cão. B- Observe o
posicionamento da haste no interior do canal medular, fixado com dois parafusos proximais e dois distais
e fios de cerclagem. Uberlândia, 2019.
locomoção lenta e retração durante locomoção rápida; 3 = claudicação grave com apoio
apenas durante estação; 4 = não apoiam o membro.
Os dados obtidos foram apresentados sob a forma de estatística descritiva, utilizando-
se média e desvio padrão para as variáveis paramétricas ou mediana e intervalo
interquartil para as variáveis não paramétricas. Para verificar a normalidade de
distribuição foi realizada a análise dos histogramas e o teste de Shapiro-Wilk (p≥0,05).
Foi calculado correlação entre as variáveis “intervalo de tempo e cirurgia vs tempo para
apoiar o membro”, “tempo para apoiar o membro vs função do membro” e “tempo para
apoiar o membro vs tempo de consolidação” foram investigadas por meio do teste de
Spearman, considerando como significativo um valor de p<0,05%.
3. RESULTADOS
Tabela 1. Intervalo de tempo entre atendimento e cirurgia, tempo para apoio do membro pós intervenção
e tempo para consolidação em cães com fratura óssea corrigidas com haste bloqueada.
cirurgia (p<0,0001; ρ = 0,60). No entanto, não existiu correlação entre tempo para
consolidação e função do membro (p<0,954; ρ = 0,007), bem como entre tempo para
consolidação e tempo para apoio do membro (p<0,38; ρ = -0,11).
A função do membro avaliada pelo grau de claudicação está representada no gráfico
1, onde nota se que 63% dos indivíduos apresentaram escore 0 no final dos 90 dias de
observação, 33% escore 1, 3% dos animais escore 3 e apenas um paciente apresentou
escore 4.
Gráfico 1. Porcentagem dos escores de avaliação do grau de claudicação ao final dos 90 dias após
redução de fraturas com haste bloqueada em 67 cães.
Função do Membro
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
0 1 2 3 4
Escore de 0 a 4
Figura 4. A- Imagem radiográfica de pós-operatório imediato de fratura do terço médio da diáfise femoral
em cão estabilizado com haste bloqueado. B- Imagem radiográfica de pós-operatório com 30 dias. Observe
falência do implante sobre o primeiro orifício distal. C- Imagem radiográfica do pós operatório imediato.
Observe a posição do parafuso mais distal, fora do orifício da haste. Uberlândia, 2019.
4. DISCUSSÃO
O planejamento cirúrgico para colocação da HIB é de acordo com Freitas et al. (2008),
realizado com o uso de um gabarito específico impresso em filme transparente,
posicionado sobre a imagem radiográfica do osso contralateral, tendo como referência o
menor diâmetro do espaço intramedular e o comprimento do osso (Romano et al., 2008).
No presente trabalho, a escolha dos implantes se baseou na descrição de Romano et
al. (2008), no entanto, para as mensurações utilizou-se o software do programa AGFA
CR X10, pois o mesmo apresenta medidas mais precisas que as realizadas sobre o filme
radiográfico impresso, visto que estas muitas vezes magnificam as imagens, de maneira
14
que os implantes escolhidos são muitas vezes maiores do que o necessário, tanto em
diâmetro quanto em comprimento (Marks e Mawr, 1992).
A fresagem do canal medular representa um dos pontos propostos a serem seguidos
durante a técnica da implantação da HIB, pois promove homogeneização e adequação
do implante dentro canal medular (Fairbank et al., 1995), levando um melhor
compartilhamento de cargas entre o implante e o osso (Cheung et al., 2004). Embora
alguns autores relatem que a fresagem pode gerar complicações, como termonecrose,
tromboembolismo e retardo da união óssea (Frölke et al., 2001).
Neste estudo optou-se pela fresagem do canal medular em todos os 67 casos, o que
possibilitou a colocação de hastes de maior comprimento e diâmetro possíveis, pois de
acordo com Lin et al. (2001); Cheung et al. (2004); Giordano (2004) e Schmaedecke et
al. (2005) estes são pontos críticos para que haja boa estabilização e consolidação óssea,
fato observado em nossa pesquisa, não sendo encontrada nenhuma complicação
relacionada à fresagem do canal.
Dos 67 casos estudados, 4 apresentaram fraturas múltiplas de fêmur com grande
desvio fragmentar há mais de 16 dias, o que nos levou a uma abordagem mais intensa e
a osteossíntese com haste bloqueada e fios de cerclagem.
As HIBs permitem a associação com outros implantes (Larin et al., 2001; Duhautois,
2003; Giordano, 2004; Schmaedecke, 2005), em especial as cerclagens com fio de aço
(Horstman et al., 2004). Sendo indicada em fraturas mais antigas, com muito tecido
fibroso e grande afastamento entre os fragmentos (Kowaleski, 2020).
Todos os animais deste estudo, apresentaram consolidação com uma média de 66
dias pós osteossíntese. Acreditamos que este fato esteja relacionado ao tipo de implante
utilizado, visto que a HIB apresenta vantagens sobre os demais implantes, por atuar
biomecanicamente ao longo do eixo mecânico central do osso e bloquear os movimentos
rotacionais e axiais, por meio de parafusos (Moses et aI., 2002), além de preservar os
conceitos de padrões biológicos de osteossíntese (Duhautois, 2003), o que nos permitiu
uma abordagem tipo “open but do not touch”. Esta abordagem preserva os tecidos moles
adjacentes, bem como o suporte sanguíneo, levando há uma rápida consolidação
(Kowaleski, 2020).
15
Outro ponto que pode ter contribuído para a consolidação observada neste estudo é o
fato da HIB bloquear os desvios rotacionais, de tração e compressão, dispensando o uso
de imobilizações externas e permitindo o apoio precoce do membro (Romano et al.,
2008). Sabe-se que o estresse mecânico pela tração cíclica do osso, causada pela
deambulação diária, estimula as vias osteogênicas, através da distração dos fragmentos
ósseos, além estimular as vias elétricas, gerando campos de força negativos, ambos
atuando para o crescimento ósseo (Huang et al., 2018; Kearney et al., 2010).
Apenas um animal apresentou tempo de consolidação de 90 dias, este individuo teve
que ser submetido a uma nova intervenção para retirada da haste que estava mal
posicionada e a colocação de novos implantes (placas e parafusos). Acreditamos que
esse evento possa ter contribuído com o maior tempo de consolidação visto que a taxa e
sucesso de uma osteossíntese diminui após procedimentos subsequentes (Healy et al.,
1990).
A HIB neutraliza o foco da fratura por promover bloqueio transcortical através de
parafusos, anulando os movimentos axiais e rotacionais (Romano et al., 2008). Apesar
da interface parafuso pino ser extremamente rígida, ela permite micromovimentos
(Duhautois, 2003), que estimulam formação de calo ósseo (Déjardin et al., 2020), o que
foi observado em nosso experimento, onde todos os 67 animais apresentaram
consolidação secundária.
O implante usado para promover a osteossíntese nesta pesquisa, por ser introduzido
no canal medular, mantém o tamanho original do osso em questão, principalmente em
fraturas cominutivas, funcionando como um implante de suporte de carga (Moses et al.,
2002). Além disso o uso dos parafusos proximais e distais impendem as forças de
compressão e rotação dos ossos (Santavirta et al., 1992), promovendo apoio e
deambulação precoce do membro (Romano et al., 2008; Spadeto et al., 2011), mesmo
sem a consolidação óssea e sem fadigar o implante (Endo et al., 1998). Fato observado
em nossa pesquisa, onde o tempo apoio ocorreu em média 5 dias após a cirurgia. No
entanto, não se observou correlação positiva entre consolidação e tempo de apoio pelo
teste de Spearman.
A maioria dos animais deste estudo (63%) apresentaram apoio normal do membro
no final dos 90 dias de pós-operatório e 33% claudicação leve. Esses resultados se
16
Outra complicação encontrada neste estudo foi quebra do implante na sua porção
distal observada em um animal. Embora raro a quebra de parafusos e da haste por fadiga
pode ocorrer em alguns casos (Mele, 2007; Spadeto et al., 2011).
O uso da haste intramedular bloqueada tem se mostrado uma técnica clinicamente
efetiva, pois respeita os padrões biológicos de tratamento de fraturas (Bernarde et al.,
2001) e ainda confere estabilidade ao osso, permitindo reabilitação adequada com baixos
índices de complicações, propiciando assim as condições necessárias para a
consolidação óssea (Romano et al., 2008).
5. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
Brinker WO, Piermattei DL, Flo GL. Fraturas: classificação, diagnóstivco e tratamento.
In:Brinker,W O, Piermattei, DL, Flo, GL. Manual De Ortopedia E Tratamento Das
Fraturas Dos Pequenos Animais. São Paulo: Manole, 1986. Cap. 1, P. 2-40.
Cheung, G.; Zalzal, P.; Bhandari, M.; Spelt, J. K.; Papini, M. Finite element analysis of a
femoral retrograde intramedullary nail subject to gait loading. Medical Engineering And
Physics. 2004;26(2):93–108.
Déjardin LM, Perry KL, Von Pfeil DJF, Guiot LP. Interlocking nails and minimally
invasive osteosynthesis. Veterinary Clinics Of North America - Small Animal
Practice. 2020;50(1):67-100.
Duhautois B. Use of veterinary interlocking nails for diaphyseal fractures in dogs and
cats: 121 cases. Veterinary Surgery. 2003;32(1):8-20.
Fairbank AC, Thomas D, Cunningham B, Curtis M, Jinnah RH. Stability of reamed and
unreamed intramedullary tibial nails: a biomechanical study. Injury. 1995;26(7):483-5.
Freitas SH, Dória RGD, Mendonça FS, Evêncio NJ, Santos, MD, Camargo LM, et al.
Uso de haste bloqueada na fratura diafisária do úmero em canino - Relato De Caso.
Revista Brasileira De Medicina Veterinária. 2008;30:31-5.
Frölke JPM, Peters R, Boshuizen K, Patka P, Bakker FC, Haarman HJTM. The
Assessment Of Cortical Heat During Intramedullary Reaming Of Long Bones. Injury.
2001;32(9):683–8.
Healy WL, Jupiter JB, Kristiansen TK, White RR, Nonunion of the proximal humerus.
Journal Of Orthopaedic Trauma. 1990;4:425-31.
Horstman CL, Beale BS, Conzemius MG, Evans R. Biological osteosynthesis versus
19
Huang X, Das R, Patel A, Duc Nguyen T. Physical stimulations for bone and cartilage
regeneration. Regenerative Engineering And Translational Medicine. 2018;4(4):216-
37.
Kearney EM, Farrell E, Prendergast PJ, Campbell VA. Tensile strain as a regulator of
mesenchymal stem cell osteogenesis. Annals Of Biomedical Engineering.
2010;38(5):1767-79.
Larin A, Eich CS, Parker RB, Stubbs WP. Repair of diaphyseal femoral fractures in cats
using interlocking intramedullary nails: 12 cases (1996-2000). Journal Of The
American Veterinary Medical Association. 2001;219(8):1098-104.
Lin J, Lin SJ, Chen PQ, Yang SH. Stress analysis of the distal locking screws for femoral
interlocking nailing. Journal Of Orthopaedic Research. 2001;19(1):57-63.
Moses PA, Lewis DD, Lanz OI, Stubbs WP, Cross AR, Smith KR. Intramedullary
interlocking nail stabilisation of 21 humeral fractures in 19 dogs and one cat. Australian
Veterinary Journal. 2002;80(6):336-43.
20
Oldmeadow LB, Edwards ER, Kimmel LA, Kipen E, Robertson VJ, Bailey MJ. No rest for
the wounded: early ambulation after hip surgery accelerates recovery. Anz Journal Of
Surgery,. 2006;76(7):607-11.
Orosz GM, Magaziner J, Hannan EL, Morrison RS, Koval, K.; Gilbert, M, et al.
Association of timing of surgery for hip fracture and patient outcomes. Journal Of The
American Medical Association. 2004;291(14):1738-43.
Patil DB, Adamiak Z, Piórek A. Veterinary interlocking nailing and its augmentation for
fracture repair. Polish Journal Of Veterinary Sciences. 2008;11(2):187-191.
Quinn MM, Keuler NS, Lu Y, Faria MLE, Muir P, Markel MD. Evaluation of agreement
between numerical rating scales, visual analogue scoring scales, and force plate gait
analysis in dogs. Veterinary Surgery. 2007;36(4):306-7.
Romano L, Ferrigno CRA, Ferraz VCM, Della Nina MI, Ito KC. Avaliação do uso de
haste bloqueada e bloqueio transcortical no reparo de fraturas diafisárias de fêmur em
felinos. Pesquisa Veterinária Brasileira. 2008;28(4)201-6.
Spadeto O, Rodrigues LB, Carvalho WTV, Moreira DO, Marval CA, Costa CG, et al.
Sistemas osso-implante ex vivo utilizando haste intramedular polimérica para
imobilização de fraturas femorais em bovinos jovens. Ciencia Rural. 2011;41(2):301-6.
Sprecher DJ, Hostetler DE, Kaneene JB. A lameness scoring system that uses posture
and gait to predict dairy cattle reproductive performance. Theriogenology. 1997;
47:1179-87.
Wu, C.; Shih, C. Biomechanical analysis of the mechanism of interlocking nail failure
Archives Orthopaedic And Trauma Surgery. 1992;(111)268-72.