Lideranças Negras Nos Espaços Institucionais em Sergipe (2003-2015) - Aline Ferreira
Lideranças Negras Nos Espaços Institucionais em Sergipe (2003-2015) - Aline Ferreira
Lideranças Negras Nos Espaços Institucionais em Sergipe (2003-2015) - Aline Ferreira
Os Militantes no Poder
Lideranças Negras nos Espaços Institucionais em
Sergipe (2003-2015)
São Cristóvão/SE
2016
1
ALINE FERREIRA DA SILVA
Os Militantes no Poder
Lideranças Negras nos Espaços Institucionais em
Sergipe (2003-2015)
BANCA EXAMINADORA
CDU 316.354(813.7)
4
À minha mãe, pelas vezes que acalentou minha Maria em seus braços.
À minha Maria, pelas vezes que me acalentou em seu sorriso.
5
AGRADECIMENTOS
Aos meus irmãos, em especial Carlos Magno (Caco), Vagner (Dan) e Gerson,
e ao meu pai, Cariolano, pelo cuidado e zelo que tem para comigo e com
“minha cria”.
6
À Alessandra e Ceiça, minhas informantes de última hora e muito solícitas.
Valeu mesmo pela atenção.
Por fim, àquela que eu preferi deixar por último pelo receio de que a emoção
não me deixasse mais escrever: Maria Eduarda. A você, meu mais sublime
amor, vai o agradecimento acompanhado de desculpas. Desculpe-me pelas
inúmeras vezes que tive que fechar a porta do quarto enquanto você gritava
“mamãe”; pelas vezes que dividi a nossa cama com livros, computador e
exaustão; e pelas várias festinhas a que não pudemos ir porque mamãe
precisava estudar. Foi sofrido para mim e para você, mas, agora, seremos
somente eu, você e a “galinha pintadinha”.
7
Estão aí, movimentando sonhos coletivos, orgulhosos de sua
negritude, de sua identidade. Estão aí, grafitando muros, jogando
capoeira, batendo os tambores, gritando “Nossa luta não é moda!”.
Estão aí, nos bairros, nos terreiros, nos quilombos, com suas
vontades e esperanças de viver numa sociedade sem preconceito,
sem violências, sem morte. Estão aqui, em Aracaju, em Sergipe.
RESUMO
9
ABSTRACT
10
LISTA DE SIGLAS
12
LISTA DE QUADROS
13
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
14
2.1 Como os militantes negros justificam a sua participação institucional (p.93)
3.4 Os militantes que estão no poder e os que estão fora dele (p.162)
15
4.1.4 Das considerações do pesquisador (p.186)
4.2 “Eu não sabia que era negra até assumir a Secretaria” (p.188)
CONCLUSÃO (p.232)
BIBLIOGRAFIA (p.237)
DOCUMENTOS PESQUISADOS
AXEXO I
ANEXO II
16
INTRODUÇÃO
Do problema da pesquisa
fetichização das práticas culturais ‘negras’ como os únicos meios da política” (p. 228); “uma
tendência do movimento negro, que se pode exemplificar com a glorificação de Zumbi, a
construção idealizada de um passado africano e afro-brasileiro e uma preocupação com o
estudo da escravidão em detrimento quase total das demais fases e dimensões da política
racial brasileira” (Idem).
17
Afirmando ser a luta do movimento negro mais simbólica do que política,
HANCHARD ([1994]2001) defende que o maior desafio desse movimento seria,
portanto, romper com o “culturalismo” e adotar uma postura política de
reivindicação de direitos civis. E isso envolveria a exposição ao confronto, a
luta aberta pelo poder e a articulação do discurso de negritude com práticas
políticas capazes de gerar o que o autor chama de “momento histórico”. Caso o
movimento negro não conseguisse romper essas amarras, estaria fadado a
uma luta simbólica incapaz de provocar mudanças mais profundas no que
concerne às desigualdades e preconceitos raciais no Brasil.
18
manifestação mais política, mas nós não tínhamos nenhum cabedal
para fazer isso. Eles tinham um projeto específico de literatura... e
nós querendo transformar aquilo em uma coisa política. No bojo disso
surge uma cisão e, na minha avaliação pessoal, o MNU surge dessa
cisão. (2010: 172)
2 Sobre esse argumento, Peter FRY (1996:03) afirma: “A própria ideia de um ‘movimento negro’
supõe a existência de uma grande comunidade negra, consciente de si mesma. Como, no
Brasil, essa comunidade se restringe aos militantes negros, não é de estranhar que o primeiro
objetivo do movimento seja criar ‘consciência racial’, desenhando fronteiras claras entre
‘negros’ e ‘brancos’. Para isso, é preciso convencer o povo brasileiro de que o aspecto de
coloração da pele e de descendências múltiplas não passa de uma ilusão que mascara a
‘verdadeira’ divisão entre brancos e negros, tal como nos Estados Unidos. Antes de mais nada,
esses movimentos deveriam persuadir os mulatos, os morenos e outras categorias do espectro
de cores possíveis de que, afinal de contas, todos são realmente negros, e que sua cultura lhe
teria sido, por assim dizer, roubada pela elite branca dominante. Por isso é que o Movimento
Negro põe tanta ênfase na ‘recuperação’ da cultura negra, que funcionaria como um centro
aglutinador de uma identidade vista como perdida. Realizar essa tarefa não tem se
demonstrado fácil, por que ela vai de encontro ao mito básico da democracia racial e aos
arranjos culturais e sociais que negam o particularismo racial em nome de valores universais”.
19
vinculada ao Ministério da Cultura e com o objetivo de “promover a
preservação dos valores culturais, sociais e econômicos decorrentes da
influência negra na formação da sociedade brasileira” (PEREIRA, 2010: 220).
O seu objetivo final não era o reconhecimento cultural, mas, a partir do
reconhecimento cultural, chegar à formulação de políticas públicas.
21
mas, sobretudo, visa ao acesso aos espaços de poder e controle sobre as
políticas públicas.
22
Essas mudanças, porém, não se deram de uma hora para outra. O
marco determinante para isso ocorreu ainda nos anos 80, com a criação da
Fundação Cultural Palmares. Vinculada ao Governo Federal, através do
Ministério da Cultura (MinC), a FCP foi criada em 1988 e é considerada a
primeira instituição pública voltada para promover e preservar a arte e a cultura
afro-brasileira. Ao concentrar o controle administrativo nas mãos das próprias
lideranças dos movimentos negros, a Fundação teve um papel de destaque na
afirmação e promoção política da população negra, abrindo espaço para que
ela própria tomasse os rumos das ações. Anos depois, em 1995, temos a
criação do Grupo de Trabalho Interministerial de Valorização da População
Negra (GTI) e do Conselho Nacional de Combate ao Racismo (CNCD), todos
com previsão de lideranças negras em seu organograma.
Mas foi no início deste século que tivemos a consolidação definitiva das
mudanças que geraram um novo perfil de militantismo negro no Brasil. Tratou-
se da emergência do Governo Lula ao poder (em 2003) e da criação da
Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) no
mesmo ano. Tais eventos trouxeram uma nova roupagem para o tratamento da
questão racial no Brasil, de forma que não só situaram a desigualdade e o
preconceito como um desafio a ser enfrentado pelo Governo Federal, como
estreitaram o vínculo do Estado com os movimentos negros. Este último ponto
conformou a criação de secretarias e coordenadorias de promoção da
igualdade racial e a emergência de lideranças do movimento negro atuando
nestes espaços, passando de militantes a gestores.
23
Durante os primeiros anos da emergência das lideranças negras ao
poder, sobretudo entre 2003-2004, a expectativa do Governo e das lideranças
dos Movimentos Negros era que, enfim, o Brasil estava vivendo uma
democracia na prática. Afinal, negros, mulheres, indígenas, homossexuais,
comunidades rurais sem-terra, ciganos, todos estes e mais tantos outros
grupos minoritários de alguma forma haviam encontrado um espaço nas
esferas de poder. Fosse sob a forma de políticas públicas ou de acesso direto
à administração governamental, o fato era que os diversos segmentos sociais
haviam tido suas lutas reconhecidas em nível institucional, ao menos em parte.
25
Criar um outro partido capaz de contemplar as reais demandas dos movimento
negros?
Do espaço da análise
Conforme apresentado no quadro III (capítulo I), entre 2005 e 2015, pelo
menos onze instituições foram criadas com o objetivo de tratar da promoção da
igualdade racial no Estado. Nessas instituições, estiveram presentes pelo
menos treze lideranças do movimento negro de Sergipe, de forma que, assim
como no cenário nacional, aqui o militantismo negro também passou pelo
processo de institucionalização.
27
Durante esse período de cerca de dez anos, tais instituições foram
responsáveis pelo maior impulso ao debate e ao trato da questão racial no
Estado. Entre políticas voltadas para comunidades quilombolas, comunidades
de terreiro, grupos de jovens, a temática racial passou, de fato, a ter uma
visibilidade que talvez só tenha tido nos anos 80, com a Criação da Sociedade
Afro-Sergipana de Estudos e Cidadania (SACI). Além disso, esse foi um
momento no qual a relação entre comunidade negra e representantes
institucionais teve maior estreitamento, sobretudo através de eventos como as
Conferências Estaduais de Promoção da Igualdade Racial, as quais, além de
reunirem lideranças negras do Estado, ainda contavam com representantes do
Governo Federal.
28
Diante disso, tomando o Estado de Sergipe como componente
socioespacial da pesquisa, analisamos a política de participação institucional
que envolve as demandas raciais, verificando os discursos e as práticas que
sustentam o apogeu e a descrença na forma como a política racial foi
conduzida.
5 Um dos primeiros desafios encontrados neste estudo foi justamente definir o que chamamos
de Movimento Negro. Afinal, tanto a literatura da área quanto o trabalho de campo nos
chamam a atenção para o caráter fragmentado e pulverizado que o mesmo tem. Diante disso,
surgem basicamente dois tipos de perspectivas analíticas que definem Movimento Negro: de
um lado, estão os defensores do termo no plural (Movimentos Sociais), pois tal mecanismo
resguarda que atribuamos ao termo uma unidade que só existe enquanto ideia. Dada a
diversidade das formas de manifestação e os motivos pelos quais reivindicam, compreende-se
que as diversas organizações compuseram não uma unidade, mas uma diversidade (NEVES,
2012; BAIRROS, 2014). Por outro lado, existem aqueles que, como SOARES (2009),
defendem que, embora existam inúmeras organizações com vieses diferentes (religioso,
intelectual, culturalista), existe um ponto de intersecção que liga todos eles: o combate à
discriminação racial. Neste sentido, Movimento Negro (no singular), seria toda organização que
age em nome das demandas antirraciais. Sem negar a validade das duas perspectivas, no
presente estudo seguiremos as orientações sugeridas pela primeira perspectiva. Tal opção
justifica-se por compreendemos que, no Estado de Sergipe, as diversas organizações e
manifestações que compõem os movimentos de caráter racial são bastante diversas entre si,
não pregando nem pretendendo unidade que dê a este um caráter uno. Ao contrário, embora
falem em nome das questões étnicas e raciais, as suas formas de manifestação e de afirmação
enquanto movimento são diversas, autônomas e muitas vezes conflitivas.
29
negro tem quando inserido nas esferas institucionais como representantes da
causa negra? Como estas formas de reivindicar participação nas esferas
institucionais demandam um novo olhar interpretativo para a relação
Estado/Sociedade civil? Todas estas indagações procuram, enfim, refletir
como, no contexto da abertura dos espaços de governo para a questão racial,
os movimentos negros podem ser pensados e definidos.
30
passado a reivindicar suas identidades negras e, com isso, buscavam o direito
legal à posse das terras.
Para NEVES (2005), até aquele momento, essa realidade era um fato
raro, porém aparentemente em vias de consolidação da luta racial no Brasil. O
autor observa que os movimentos sociais negros estariam ampliando o seu
leque de reivindicação, deixando de aspirar somente ao reconhecimento, para
garantir a efetiva igualdade sociorracial no País. E isso pressupunha o acesso
prático aos direitos e a mobilização do Estado e da sociedade civil.
31
igualdade de gênero, dentre outros, que têm pautado entre suas reivindicações
a incorporação de militantes da causa como dirigentes de governo.
32
No presente estudo, observamos que, com a emergência dos chamados
Estados multiculturais/multiétnicos (TAYLOR, 1998), o tema da política passou
a ser fortemente associado à ideia de identidade. Com isso, o pressuposto da
vontade geral foi sendo substituído pela noção de vontades coletivas/plurais,
solicitando do representante político não somente a competência burocrática
para estar nas esferas de poder, como também um perfil identitário-ideológico
para “falar em nome de”. Estudos como os de MANSBRIDGE (1999) mostram
que a eleição especial de segmentos sociais escolhidos por critérios de raça,
etnia, gênero, direcionamento religioso têm não só se tornado mais frequente,
mas também suscitado novos referenciais de análise para pensar a
representação política de temas específicos.
35
burguesia. O Estado se torna uma organização distinta da sociedade
civil, embora seja expressão desta. (1996: 09)
36
a divisão entre ambos é mais uma questão de ordem metodológica do que
orgânica, tendo em vista que sociedade civil e Estado confundem-se na
realidade concreta. De acordo com este autor, o Estado, como expressão da
sociedade civil, seria mais um espaço de manifestação dos anseios e das
contradições presentes nela do que, necessariamente, o seu oposto.
37
institucionais de governo em Sergipe: em crise. Daí é que lançamos a nossa
hipótese: depois de comemorada a emergência ao “poder”, o Movimento Negro
vive a crise do descontentamento em relação às esferas burocráticas,
buscando agora redefinir as suas estratégias de luta e repensando a
viabilidade ou não do estreitamento com as esferas estatais. O sentimento é de
que “o poder” não concretizou as ideias e propostas há tanto reivindicadas,
deixando em seu lugar um Movimento enfraquecido e sem alvo certo.
38
militantes negros não institucionalizados. Trata-se, portanto, de uma pesquisa
qualitativa, com aplicação de questionários estruturados e semiestruturados.
39
Municípios brasileiros, dentre os quais nos deteremos no exemplo do Estado
de Sergipe.
41
CAPÍTULO I – OS MILITANTES “NO PODER”
45
(2002); e a Coordenadoria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
(2004).
9 O caso mais representativo é o da SACI, que, nos anos 1990, vira uma ONG e, segundo
DANTAS (2003), passa a dar um caráter mais sistematizado a suas ações.
10 De acordo com DANTAS (2003), após as eleições de 2000, em que foram eleitos um prefeito
50
1.2 Das tentativas anteriores de acesso ao poder
De todos os feitos até então, a criação da FCP foi a ação que mais
propiciou a ascensão de lideranças negras aos espaços institucionais de poder.
Ligada ao Ministério da Cultura, a Fundação construiu seu perfil gestionário
com base na direção de lideranças negras, de forma que, ao longo de 27 anos
de existência, todos os seus presidentes foram remanescentes de movimentos
negros. O quadro I, disposto abaixo, ilustra esse perfil:
53
QUADRO I: DIRIGENTES DA FUNDAÇÃO CULTURAL PALMARES
(1988-2015)
55
1.3 FHC e o reconhecimento do racismo no Brasil
Foi a partir dos anos 1990 que a luta dos movimentos socais negros
ganhou um impulso radicalmente marcante. Ao reconhecer, oficialmente, o
Brasil como um País racista, o Governo FHC abriu portas para que tal fato
tomasse novos contornos políticos. Primeiro, “garantiu” a segmentos do
movimento negro o respaldo institucional de que a luta contra o racismo era
legítima, já que, de fato, o preconceito existia; segundo, intensificou a
colocação da temática racial brasileira num nível de discussão mais
abrangente, envolvendo agora os órgãos internacionais; terceiro, incita o
próprio Estado brasileiro a dar respostas ao problema ora afirmado, em
especial porque gerou novos impulsos para a luta racial. É sobre o processo de
oficialização do Brasil como um País racista que falaremos no tópico seguinte.
58
sobre a desigualdade e o racismo foram sublimados em nome da unidade
nacional.
Das primeiras vozes que denunciaram o Brasil como um País racista até
o primeiro pronunciamento oficial afirmando tal fato, transcorreram mais de seis
décadas. Seis décadas de estudos, mobilizações sociais, denúncias e intensos
debates ocorridos tanto nacional quanto internacionalmente. Foram seis
décadas, sendo que o impulso inicial adveio com o triste desencanto de que o
Brasil não era um exemplo de democracia racial. O fortalecimento veio com a
organização de movimentos sociais contra o racismo, a exemplo do Movimento
Unificado Contra a Discriminação Racial (em 1978). Tomou corpo, inclusive,
com a realização de inúmeros estudos que transformaram o preconceito racial
em dados estatísticos e científicos de violência e opressão. E teve seu
desfecho com a inclusão do racismo como crime inafiançável perante a
Constituição Brasileira de 1988.
59
em especial Gilberto Freyre, tido como o maior defensor dessa perspectiva.
Nas palavras de FERNANDES (1960: prefácio):
60
democracia política e questionando a suposta democracia racial. Os diversos
centros de lutas formados no Rio de Janeiro, bem como em São Paulo,
Salvador, Porto Alegre e Vitória deram à temática uma amplitude nacional,
conforme disposto abaixo:
61
mercado de trabalho, então não haveria outra explicação senão a efetiva
desigualdade racial. Nas palavras do autor:
62
conteúdos viciados e depreciativos. Em 2012, durante entrevista para o Portal
Fórum, MUNANGA (2012) definiu o racismo brasileiro como “um crime
perfeito”, que ocorre de forma discreta, como se não o fosse, e de forma que
dificulta reações incisivas. Demonstrando como essas relações processavam-
se de forma prática, MUNANGA (2012) cita uma experiência vivenciada
cotidianamente no País:
Aqui, mais uma vez, vemos fortalecido o argumento segundo o qual não
importa a posição socioeconômica do negro. No Brasil, a “geografia do corpo”
define critérios e perfis típicos ideais, submetendo alguns perfis de indivíduos a
situações excludentes.
64
Em 2002, no último ano do Governo FHC, foi criado o Programa
Nacional de Ações Afirmativas. Regulamentado pelo Decreto nº 4.828/2000,
o Programa incorporava ações específicas de inclusão da população negra no
ambiente de trabalho, na educação e na saúde, visando a atender grandes
contingentes populacionais negros.
65
1.4 Os Governos Lula e Dilma e as políticas para a superação
do racismo
12 Com o propositivo “paraíso racial”, nos referimos à ideia cunhada sobre o Brasil na década
de 1950, quando, após a experiência do Holocausto, os órgãos internacionais, a exemplo da
UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura),
passaram a procurar exemplos de sociedades que viviam em harmonia com suas diferenças
raciais e culturais (MAIO, 1999). Diante disso, eleito como um País onde a convivência inter-
racial era feita de forma plenamente harmônica, o Brasil é lançado como “laboratório de
civilização” (RAMOS, 1949), e, portanto, um exemplo a ser seguido.
13 E não só as demandas raciais, como também as demandas dos diversos movimentos sociais
Para além do que conduz o olhar para uma política de governo aberta às
demandas sociais mais variadas (negro, mulher, sem-terra, gays, ciganos,
índios), a ascensão de militantes negros ao poder suscitou uma variedade de
questões políticas, simbólicas e ideológicas a serem repensadas. E estas vão
desde a aceitação do Brasil como um País racista até às relações político-
partidárias firmadas pelos movimentos negros com partidos políticos
(sobretudo com o PT e o PC do B); envolvem a forma como o Movimento
compreende e situa a questão racial em suas estratégias de ação; e como a
questão racial foi incorporada frente aos discursos oficiais de governo.
71
Dado o recorte específico em que o enunciado aparece disposto – numa
Política de Promoção da Igualdade Racial –, nos limitaremos a afirmar que, no
que tange aos discursos sobre igualdade étnico-racial do Governo Lula, existe
uma retórica que pressupõe envolvimento entre sociedade civil (militância
negra) e a gestão da política no âmbito institucional. Ou, ainda, praticando o
exercício da “imaginação sociológica”15, podemos dizer que a disposição
anuncia um discurso de Governo que aciona “as instituições da sociedade civil”
para que elas “saiam”, restritamente, do campo da “simples interlocução de
demandas sociais” para se tornarem mediadoras diretas da sociedade na
formulação de ações com e no Estado. Em outras palavras, isso implica trazer
as instituições sociais envolvidas com as questões de ordem racial para o
âmbito das decisões e ações políticas governamentais.
Assim, o perfil ora traçado nos sugere mais que uma estratégia política.
Ele nos fala de percepções sobre a ideia de “militante negro”; fala da relação
entre branco e negro no Brasil, ou melhor, da forma como essa relação é vista;
e ainda nos fala da formação de narrativas que concernem à necessidade de
afirmação política do negro.
O quadro nos mostra ainda que as duas regiões em que existe maior
concentração de órgãos de promoção da igualdade racial são as regiões
nordeste e sudeste, as quais, juntas, concentram mais de 75% das instituições.
Além da predominância de governos ligados ou coligados ao PT nestas
regiões, acreditamos que outro fator explicativo desse contexto diz respeito à
herança histórica escravista.
A partir do explanado, podemos dizer que existe uma forte relação entre
o passado histórico, que remete à concentração da população escrava negra, e
a formação de instituições de promoção da igualdade racial. Todavia, por si só,
essa relação não é determinante para o desenvolvimento de órgãos como os
citados. Observemos o caso de Alagoas, que, embora tenha sido um Estado
com forte presença da população de origem africana, destacando-se, inclusive
por ter tido em seu território o quilombo mais famoso do Brasil (Quilombo dos
Palmares), atualmente não existe lá nenhum órgão de promoção da igualdade
racial. Esse fato revela que, além da presença de um passado histórico ligado
à escravidão, a forma como a questão racial é vista, debatida e reivindicada faz
a grande diferença para o processo de institucionalização da causa. Com isso,
queremos dizer que a referência ao passado escravista só vira documento da
própria identidade, e, a partir daí, da luta por reconhecimento político e social,
se houver, por parte do atores envolvidos, o interesse em fazê-la. No caso
específico de Alagoas, a ausência de instituições de promoção da igualdade
racial, a despeito da forte herança negra, remete à formação político-militante
recente e pouco direcionada para a luta por espaços institucionais.
78
se de Governos ligados à Ditadura Militar, o fato de o Grupo carregar em sua
nomenclatura termos como folclore e atividades ligadas à valorização da
cultura, isso facilitou a parcial aceitação de um Estado que proclamava os
ideais de nacionalismo e democracia racial. Assim, conforme SOUZA (2013),
além da contribuição dos seus participantes, o Grupo contava com o apoio de
órgãos públicos como Fundação Nacional de Arte (FUNARTE) e o Movimento
Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL).
Ao longo dos anos 1990, surgiram militantes com um olhar cada vez
mais voltado para a profissionalização e capacitação da população negra. A
transformação da UNA em ONG (SACI) foi um marco bastante representativo
dessa fase. Isso porque o novo caráter jurídico da entidade permitiu um maior
estreitamento desta com organizações internacionais, de forma que a captação
de recursos passa a ser indiscutivelmente maior. Assim, agências como EZE
(Alemanha), ICCO (Holanda), OXFAM (Inglaterra), Fundação FORD (Estados
Unidos), D&P (Canadá) são algumas das que financiam o desenvolvimento de
projetos da SACI.
81
De defensor da autonomia política partidária, representado pelo militante
negro Severo D’Acelino, na década de 1960, setores do movimento negro
revelam-se, no ano 2000, como um articulador de candidaturas. A partir desse
momento, redefiniu a sua luta, envolvendo-se em campanhas locais, como
eleição para vereadores, prefeitos e deputados, até campanhas nacionais,
como nas eleições para a presidência da República. Em Sergipe, como em
outros estados brasileiros, a estratégia de luta passou a ser “garantir um
espaço nas esferas de poder”, e, para isso, era preciso articular-se política e
partidariamente.
Uma das entidades que bem sintetiza essa fase de articulação dos
movimentos negros com a política partidária foi o Setorial de Negros do PT.
Existindo em nível nacional e em nível local, como em Sergipe, por exemplo,
este setor era formado basicamente por militantes negros que se filiaram ao
PT. Portanto, a militância em um tipo de movimento era praticamente a
militância no outro. E foi justamente desse setorial que saíram as primeiras
lideranças negras ocupantes de instituições de promoção da igualdade racial.
82
Um dos fatores determinantes que influenciou o processo de
institucionalização da questão racial em Sergipe e a consequente emergência
de lideranças do movimento negro neste espaço foi a criação de órgãos
governamentais para tratar especificamente da política racial. Na tentativa de
dar resposta a uma demanda que até então era invisibilizada por parte do
poder público, algumas prefeituras e governos estaduais passaram a investir
na política de “promover a igualdade racial”. Com isso, além de adotarem um
discurso de promotores da justiça entre raças, passaram a criar espaços
institucionais cuja agenda estava diretamente vinculada a esse propósito.
83
QUADRO IV: INSTITUIÇÕES DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL NO
ESTADO DE SERGIPE (2003-2015)
86
QUADRO V: LIDERANÇAS NEGRAS NOS ESPAÇOS INSTITUCIONAIS EM
SERGIPE (2003-2014)
Profissional Perfil
Djenal Nobre Negro;
Assessor da ASPIR;
Foi um dos fundadores da UNA e do PT em Sergipe;
Desde os anos 1990, militava pela causa negra no Estado.
José Pedro dos Santos Neto Negro;
(2004-2005) Ex-dirigente da SACI – Sociedade Afro-Sergipana de
(2007-2010) Estudos e Cidadania;
Ex-coordenador da Copir Estadual e atual membro do Copir
(Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial.
Irivan de Assis (2007-2013) Negro;
Militante do movimento negro e da capoeira;
Ex-membro da Copir Estadual e atual membro do Conselho
Estadual de Igualdade Racial.
Florival Souza Filho Negro;
(2011-2012) Militante do movimento negro;
Ex-coordenador da Copir Municipal de Aracaju.
Andrey Roosewelt Chagas Negro;
Lemos (2007-2012) Fundador do Movimento Negro Unificado em Sergipe;
Ocupou cargo na Funcaju.
Givalda Maria Santos (2011- Negra;
2013) Líder comunitária do Quilombo Mussuca;
Presidente do PT em Laranjeiras;
Ex-secretária de cultura;
Ativista do MNU;
Ex-secretária da Secretaria de Inclusão Racial de
Laranjeiras.
Sônia Oliveira (2007) Oriunda do movimento negro;
Trabalhou na Secretaria de Inclusão e Assistência Social,
sendo responsável pela política para os Terreiros;
Coordenadora do Omoláiyé.
Aline Regina Conceição Negra;
(2014-2015) Militante do movimento negro em Aracaju;
Secretaria de Inclusão Racial da Barra dos Coqueiros.
Cláudio D’eca (2011-2013) Negro;
Filiado ao PT;
Gestor da Copir Estadual.
Paulo Neto (2012-2013) Negro;
Militante do movimento negro em Sergipe;
Filiado ao PT;
Coordenador da Copir Estadual.
José Carlos dos Santos – Pescador;
Sobó (2013-2015) Residente da Comunidade Quilombola Mussuca;
Secretário da Secretaria de Inclusão Racial de Laranjeiras.
Wellington Fontes Negro;
Nascimento (2014-2015) Atuante na causa quilombola;
Coordenador Municipal de Promoção de Igualdade Racial e
Comunidades Tradicionais de Estância.
Fonte: Quadro elaborado pela autora a partir das entrevistas.
87
racial em Sergipe. Dentre as que nos chamam atenção de imediato,
destacamos a proximidade que passa a existir entre lideranças do movimento
negro e as esferas de governo. Essa aproximação nos indica que: (primeiro) é
preciso olhar os movimentos negros como organizações que não atuam
necessariamente como opositoras ao institucional, mas que se abriram a
negociações; (segundo) os movimentos negros, através de algumas lideranças
que migraram para as esferas institucionais, deixaram de requisitar apenas o
reconhecimento sociopolítico simbólico e passaram a demandar a participação
nas esferas de governo; (terceiro) a relação dos militantes com as esferas
institucionais de governo perpassa a articulação da causa negra com a política
partidária, sendo ativados mecanismos como trajetórias de vida, pertencimento
de cor/raça e vinculação com a política partidária.
90
CAPÍTULO II – “NEGRO REPRESENTA NEGRO”
91
Julgando como deficitária a suposta igualdade política pretendida pelos
liberais, o debate sobre representação de grupos passou a abranger
argumentos em prol da eleição/do convite especial dos segmentos ora tidos
como marginalizados. A ideia era que, ao ter acesso aos espaços de poder, os
grupos outrora excluídos poderiam não só garantir a representação dos seus
pares, como também promover a consolidação dos conteúdos demandados.
Assim, a presença de negros, por exemplo, nos espaços institucionais de poder
seria não apenas uma forma de garantir a visibilidade das demandas raciais,
mas também uma forma de assegurar que sujeitos “conhecedores de uma
realidade específica” representassem os que vivem ou viveram sob a mesma
condição.
17A qual, já em 1999, desenvolve um estudo cujo tema é: “Should blacks represent blacks and
women represent women? A contingent ‘yes’”. Neste, a autora faz uma profunda análise sobre
os possíveis contextos em que segmentos sociais específicos são requisitados para
representarem as demandas das quais fazem parte.
92
À luz do que foi explanado, podemos dizer que, atualmente, a questão
racial em Sergipe insere-se num quadro de referências que demarca fortes
traços dos argumentos ora apresentados por MANSBRIDGE (1998) e
SACCHET (2012). Tais referências podem ser assim apresentadas: (1)
afirmação do pressuposto segundo o qual os valores socioculturais
compartilhados pelos negros dariam maior legitimidade àqueles que estão no
poder, garantindo, com isso, maior competência para o representante falar em
nome dos demais; (2) desconfiança do público negro em relação aos
representantes que ora ocupam as esferas governamentais, fazendo com que
os mesmos questionem a forma como a questão racial é representada pelos
“não negros”; (3) descrença em relação às políticas raciais que foram
implantadas até o momento; (4) percepção da exclusão tanto da população
negra quanto da temática racial dos debates institucionais.
93
2.1 Como os militantes negros justificam a sua participação
institucional
Entrevista 3:
Entrevista 4:
94
Nessas falas, o argumento das “experiências compartilhadas” foi tomado
como o principal elemento para afirmar que negro deve, sim, ser representante
das agendas de política racial. Para eles, aquele era um fato incontestável, já
que, conforme enfatizado na entrevista 3, “somente a militância negra sabe
como é, sabe realmente qual a necessidade” da população racialmente
excluída. Com base nessa premissa, observamos que existe uma tentativa
clara de diferenciar a forma como negros e “não negros” representam as
demandas raciais, demarcando uma linha de divergência entre “nós” e “eles”.
Enquanto “nós” são os que “naturalmente” têm autoridade para falar em nome
da questão racial, porque passaram pelas mesmas condições de vida e
discriminação, “eles” são os que desconhecem a condição do ser negro, não
podendo (nem sabendo) falar em nome de uma realidade que desconhecem.
Como é que a gente pode achar que o branco vai representar o negro
se a gente vê, dia a dia, uma luta de um contra o outro. Veja quando
saiu a notícia das cotas. Aqui em Aracaju mesmo a gente só via os
branco de escola particular lutando contra as cotas, chamando negro
de preguiçoso, de oportunista. Está claro que eles não falam pela
nossa causa. Eles querem manter o que eles têm sem dividir com a
gente.
98
população negra. Eis então que os estudos de Axel HONNETH (2003) passam
a servir de referência para compreendermos a complexidade que envolve o
processo de experiências compartilhadas em torno de agressões morais. A
questão central desse autor que merece destaque em nossa análise é
justamente a preocupação de HONNETH (2003) com as consequências do
reconhecimento social para a formação da identidade do indivíduo ou grupo
social. Para o autor, na medida em que o indivíduo é agredido moralmente e
suas características ou seus valores são postos em desvalorização, os sujeitos
que compartilham dessa situação são incitados a reagir, formando uma
consciência afirmativa/reativa em relação à situação adversa.
100
outro, procuram esse reconhecimento numa valorização positiva das
identidades e da pluralidade sociocultural, transformando aquelas
representações de massa em representações de segmentos específicos.
101
crescimento do primeiro resultado do desenvolvimento do segundo enquanto
base institucional e política.
102
que a experiência do “ser negro” tem para a sua afirmação enquanto gestor de
política racial.
103
Queremos dizer com isso que, além do pressuposto de que as mulheres
compartilhariam, num dado território, das mesmas formas de exploração
econômica e trabalhistas, defende-se também que elas estariam na condição
de vulneráveis moral e politicamente, já que compartilhariam da condição de
alijadas do poder e depreciadas em sua condição de mulher.
106
representante um olhar crítico e diferenciado em relação à questão racial.
Observemos o relato abaixo:
Entrevista 2:
Entrevista 6:
18 Ocultamento proposital feito pela autora da tese, com objetivo de preservar a imagem do
entrevistado.
19 Ocultamento proposital feito pela autora da tese, com objetivo de preservar a imagem do
entrevistado.
110
expressão simbólica que reaviva uma demanda histórica. Ter o negro como
legítimo representante da questão racial nas esferas de governo é uma
tentativa de afirmar de forma positiva aquilo que fora fortemente negligenciado
pela sociedade brasileira: o papel do negro na luta pela sua emancipação.
20Expressão popular que diz respeito ao ato de amenizar situações conflitivas, disfarçando a
real gravidade dos fatos.
112
essa propalada “democracia racial” não passa, infelizmente, de um
mito social. E um mito criado pela maioria e tendo em vista os
interesses sociais e os valores morais da maioria; ele não ajuda o
“branco” no sentido de obrigá-lo a diminuir as formas existentes de
resistência à ascensão social do “negro”; nem ajuda o “negro” a tomar
consciência realista da situação e lutar para modificá-la, de modo a
converter a “tolerância racial” existente em um fator favorável a seu
êxito como pessoa e como membro de um estado “racial”.
(FERNANDES, 1989, prefácio)
113
além de não resolver o problema da discriminação, ainda fortalecem a pseudo
ideia de que as diferenças raciais não são um problema para o Brasil.
Entrevistado 2:
117
maiores contribuidores para a baixa crença na legitimidade da representação
não descritiva. Se considerarmos, como o entrevistado 8, que nenhuma política
racial poderá ser efetivada enquanto os gestores estiverem tomados pelo
racismo nas instituições, e que, somente com uma frente de embate, é possível
superar esse problema, então pode-se afirmar que a presença dos negros nos
espaços institucionais é apresentada como possível mecanismo para a
superação desse conflito.
119
necessidade antológica de se repensar a democracia e seus mecanismos de
acesso ao poder.
120
fenotípicas21, indicam que a visão de inferioridade do negro permanece viva no
cotidiano dessas pessoas. E essas práticas não são repassadas somente no
contato interpessoal. Paralelamente a este, existe uma certa institucionalização
de visões preconceituosas sobre o negro brasileiro, a exemplo da forma como
este, sua história e sua origem são tratados nos livros didáticos (MARCON e
SOGBOSSI, 2007); ou como são sub ou mal representados na mídia
(ARAÚJO, 2004), dentre outros aspectos.
Por que devemos estar sempre agindo como coadjuvantes? Por que
devemos ser sempre formiguinhas que erguem o castelo dos outros.
Nós precisamos e devemos sim estar nos espaços de poder. Isso é
necessário pra marcar posição, pra mostrar do que somos
capazes, pra mostrar que nós próprios podemos fazer a coisa
Entrevista 2:
... hoje nós temos pessoas com capacidade para assumir cargos
na estrutura de Estado, na estrutura de governo do Estado, com
status de secretário ou secretária, e desenvolver com mais ênfase e
implementar as políticas de promoção da igualdade racial, voltadas
para as comunidades, para os grupos étnicos, sejam indígenas,
negros, ciganos.
Entrevista 5:
Entrevista 6:
123
Entrevista 2:
Eu sempre fui é... eu sou de família negra, né, os meus pais são
negros, toda minha família é negra.
124
Com base em HONNETH (2003), podemos dizer que, frente à exclusão
estrutural (privação de direitos, desrespeito moral) e à “ofensa” ou
“degradação” da dignidade (envolvendo aí ofensas a modos de crença, cultura
e tradições) vivida pelo negro, o Estado, na visão dos entrevistados, passa a
atribuir um valor social positivo aos componentes histórico, cultural e identitário
deste segmento. Em outras palavras, a “morte social” (escravidão, privação de
direitos e exclusão social) teria dado espaço à estima e ao prestigio.
Entrevista 6:
Entrevista 4:
O primeiro cargo que assumi foi esse. Agora, nesse ponto, Aline, eu
vou dizer uma coisa: é porque eu estou, eu sou militante da
questão racial negra, e hoje em dia mais da questão afro-
religiosa...
Entrevista 2:
127
relação ao racismo em sala de aula ou a capacidade de prestar assessoria
para formulação de políticas étnico-raciais.
128
racismo à luz do Direito, como as Comissões do Negro da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB). (DOMINGUES, 2012: 241-242)
Entrevista 4:
Este que estou atualmente foi uma articulação, né, dos partidos, do
então Governador Marcelo Déda e do movimento negro, dentro
desse projeto negro, eu fui indicado pela coordenação nacional de
entidades negras pra estar presente dentro da gestão pública.
129
mero epifenômeno do problema social, razão pela qual são refratários às
políticas públicas específicas” (DOMINGUES, 2012: 246).
130
CAPÍTULO III: AO PODER SEM PODER - CONFLITOS E
INCONSENSOS
22A frase original é: “fazer descer a democracia do céu dos princípios para a terra onde se
chocam interesses consistentes”. (BOBBIO, 2002: 24).
131
consensos; o palco de afirmação de ideologias, mas também de reformulação;
o cenário de possibilidades, mas também de impossibilidades.
132
Com base nas análises de DOMINGUES (2007; 2012) e DANTAS
(2003), enquanto nos anos 1980 e 1990 o movimento negro no Brasil e em
Sergipe concentravam-se na crítica aos déficits da inclusão dos atores nas
esferas de governo, nesse início de século XXI a preocupação passou a ser
outra. Esta girou em torno de legitimar a atuação do militante negro nos
espaços de poder, buscando, de um lado, espaço e recursos para desenvolver
políticas de promoção da igualdade racial, e, de outro, agir de forma
representativa para com aqueles que estavam fora do poder.
133
a falta de orçamento, de profissionais e de estrutura física para o
desenvolvimento do trabalho; (2) falta de interesse pela causa racial de muitos
dos representantes institucionais não ligados ao militantismo negro; (3) e a
própria incapacidade de alguns militantes em permanecerem “firmes” aos
ideais da questão racial depois que assumem as esferas de governo.
Entrevista 2:
Entrevista 4:
134
Fazendo um levantamento geral das condições orçamentárias e do
quadro de funcionários das secretarias e coordenadorias de promoção da
igualdade racial em Sergipe, identificamos a lógica dos relatos dos
entrevistados, a qual se confirma da seguinte forma:
Com relação à previsão orçamentária, esta foi uma das tarefas mais
difíceis de coletar dados. A falta de informações públicas sobre os
135
planejamentos e gastos com a política de igualdade racial no Estado e nos
Municípios demonstrou a pouca clareza no que concerne ao quantitativo
orçamentário destinado a tal setor. Tanto nas entrevistas quanto nos meios de
divulgação eletrônicos, tais valores não foram mensurados, de forma que,
muitas vezes, parecia ofensivo (ou talvez constrangedor) questionar sobre tal
assunto.
138
por exemplo, você chega numa secretaria de educação, enfim, em
qualquer dessas secretarias, na minha concepção a secretaria deve
ter o entendimento do que é toda a política nacional daquela pasta e
o que existe de política local. O que eu acho muito interessante é que
a secretaria de educação do Estado lançou um manual para os
professores do Estado sobre orientações para implantação da
Lei 10.639/03. Aí saiu o material, você vai ver a capa tem lá:
governador, vice-governador, secretário de educação, enfim,
todas as pessoas que são responsáveis, né? Aí uma instituição
do movimento negro foi conversar com o secretário de
Educação, e ele disse que não sabia de nada, que não conhecia
aquela política. Enfim, é um material publicado pela secretaria...
Existe essa contradição. Quando nós vamos conversar com
determinados gestores e nós vamos colocar pra eles as
possibilidades que existem de diálogo, de comunicação, inclusive de
recursos, além da ignorância, além do racismo, o desconhecimento é
total.
139
3.2 De inimigo a aliado: o Estado e os movimentos negros
140
Ou seja, segundo dados da ONU, a polícia, como aparelho de Estado,
ao invés de garantir a segurança de todos os cidadãos, promove o racismo. E
isso ocorre à medida que o perfil negro passa a ser computado como
estatisticamente mais vulnerável à violência, à tortura, à extorsão e à
chantagem.
141
O presente artigo tem por objetivo chamar a atenção sobre a
atualidade política do regime escravista no Brasil e sobre a
responsabilidade histórica do Estado brasileiro no tráfico
transatlântico de escravos e na escravização de africanos ao
arrepio da lei durante o Império. Com efeito, após a promulgação
da lei de 1831, que proibia o tráfico de africanos para o Brasil e a
escravização de africanos após esta data, o Brasil independente
permitiu a continuidade do tráfico por navios negreiros portando
bandeira brasileira e o desembarque e escravização de 760 mil
africanos, segundo a estimativa de Alencastro (2010), e assegurou a
impunidade de traficantes e senhores de escravos durante décadas,
que continuaram a subjugar ilegalmente gerações de escravos até
1888. (FABBRI e RIBEIRO, 2012:s/n)
142
Quase nada mudou: trata-se o negro, ainda hoje, como "um sem
direitos". (SANTOS, 2011:s/n)
144
diretor nacional de comunicação da União de Negros pela Igualdade -
UNEGRO, 2015:s/n)
145
períodos marcados pelo autoritarismo militar e pela repressão dos movimentos
e das vozes que fossem de encontro às ideologias do Estado.
146
Apresentando uma crítica com viés de política partidária, Severo
D’Acelino dispôs, nos últimos anos, de um repertório bastante intenso de
manifestações contra o Governo do Estado, o Ministério Público e a polícia
sergipana. Tratando-os como partes de um todo (ou seja, o Estado), Severo
figura como um militante altamente crítico para com as esferas que compõem o
poder institucional, defendendo que a luta do negro em Sergipe deve proceder,
de forma autônoma e direcionada, para a questão da identidade e da
educação. Os trechos abaixo, retirados da página virtual que o militante tem na
internet, ilustram o conteúdo de suas críticas:
148
Aí foi nesse momento que a gente passou a criticar o Estado
mas também perceber que não era possível ficar só na crítica
pela crítica. Atuar como opositor é bom até certo ponto, pra criar a
identidade do grupo, pra dar um sentido mais forte à luta. Mas se ficar
só na crítica, não avança, sabe? Chega um momento que o embate
tem que ceder lugar ao diálogo. E aí quando a gente começa a
militar no Partido e na causa racial, a gente pensa que uma coisa
pode andar junta com a outra. (Entrevista 11)
No último capítulo desta tese, veremos como, nestes últimos anos, essa
relação tem se processado, de forma que novos olhares sobre o Estado
passaram a ser construídos pelos militantes negros em Sergipe.
149
classe e cidadania: a trajetória do debate racial no Partido dos Trabalhadores
(1980-2003)”, SOARES (2009) analisa as modificações ideológicas pelas quais
o PT passou, de forma a dinamizar sua luta para os diversos aspectos do
econômico, do cultural e do simbólico; ao mesmo tempo, contempla as
mudanças ideológicas sofridas pelos movimentos negros ao se engajarem
politicamente com o PT e com outros partidos políticos. Já RIOS (2014)
demonstra em sua tese de doutorado a relação entre o movimento negro e os
partidos políticos no período de 1978 a 2002.
De acordo com RIOS (2014), no início dos anos 1980 o Partido dos
Trabalhadores era tido como o mais propício para tratar das questões raciais.
Segundo a autora, frações significativas do movimento negro contemporâneo
formaram-se na “frente de esquerda”, a qual durante os anos 1970-1980 além
de fazer oposição à Ditadura Militar, ainda discutia temas específicos como a
questão ambiental, gênero e raça.
150
autora é que, na referida década, as percepções do PT sobre a questão racial
limitavam-se a expressões de apoio e solidariedade à causa, sem, contudo,
adotá-la como um problema do Partido. Tratava-se, portanto, de defender a
autonomia do movimento negro e o fortalecimento da causa como sendo quase
que exclusivamente do próprio movimento.
152
O contexto a que a entrevistada está se referindo diz respeito à década
de 1990, quando ela inicia sua história de militância no PT de Aracaju/SE.
Naquele momento, a militante descreve que quem se filiava ao Partido tinha
que vincular sua luta à questão de classe, porque não havia uma percepção de
que problemas fora da relação “desigualdade social” pudessem ser uma
preocupação do Partido. Nesse sentido, a entrevistada afirma que, no início de
sua formação, a relação classe-raça no PT de Sergipe ocorria de forma
periférica ou mesmo não ocorria.
154
bem como às religiões, às ideias, à idade, à orientação sexual e às opções de
vida, para serem contemplados em suas propostas políticas. Conforme
disposto na proposta do Programa de Governo:
Eu era negra, sentia que sofria preconceito, mas nunca tinha pensado
em fazer parte de algum movimento. Aí, quando foi um dia, eu
estudava no Costa e Silva... Um dia chegou Severo lá, pra falar sobre
a consciência negra. A figura dele pra mim foi tão representativa que
me chamou atenção. Ele questionava que o racismo em Sergipe não
tinha visibilidade, que as autoridades não davam a devida atenção ao
problema. A partir dali, eu passei a me envolver mais com a questão
racial. Meu pai já era do PT. Eu fui também pro PT e pro movimento
negro. E aí a gente começou a levar essa questão para o partido.
156
sociedade civil, os militantes passaram a empreender a institucionalização da
causa no Partido, para, assim, alcançar os ganhos advindos com a
institucionalização da causa a nível de governo.
158
racial, como também desconsiderou o processo identitário como princípio de
autoafirmação da cor e cultura negra. Dentre outras consequências, correu-se
o risco de “purificar o impuro e enquadrar irmãos e irmãs desgarrados” (HALL,
2006: 327), ou seja, o risco de idealizar a existência de uma identidade que não
existe (a genética) e forçar grupos sociais com interesses diferentes a se
identificarem com os mesmos pressupostos culturais, devido a uma suposta
unidade genética.
Hoje eu sei que eles me escolheram por eu juntar as duas coisas: ser
negra e ter um bom currículo na área de educação. A minha imagem
dizia muito pra eles. Acho que eles só não gostavam mais porque eu
alisava o cabelo (risos). (Entrevista 8)
159
étnico-raciais, as falas relatadas não representam um ato falho individual.
Antes, representam posturas estruturadas historicamente e legitimadas,
embora com críticas, pelos discursos oficiais. De acordo com SCHWARCZ
(1993), o termo raça foi introduzido na literatura mais especializada em inícios
do século XIX, por Georges Cuvier. Naquele momento, inaugurava-se a ideia
de que existiam heranças físicas entre os grupos humanos, de forma que elas
seriam determinantes para as diferenças sociais e culturais existentes na
humanidade.
identidade negra, liderando projetos como “Casa da Cultura” e “João Mulungu”. Atualmente, a
sua crítica transcende o universo do militantismo racial, sendo emplacada contra a política
partidária do PT.
163
elege os órgãos burocráticos e a “sociedade racista” como alvo de seu
enfrentamento. Nesse caso, percebamos que a reflexão do autor nos leva a
considerar que a luta do negro deve estar mediada pela eleição de um opositor:
o poder institucional. Este, acusado de construir e alicerçar visões e padrões
racistas na sociedade brasileira (e sergipana, em específico), seria uma
espécie de “força hegemônica”, que cria e impõe o status quo, mantendo o
sistema de desigualdade e descriminação entre brancos e negros.
164
Comunidade Maloca, tivemos a oportunidade de conversar com o Entrevistado
13. A abertura para realizar tal entrevista se deu num contexto em que, depois
de mais de duas horas de espera para a tal reunião, nenhum representante da
instituição governamental apareceu, restando apenas a presença do
pesquisador e da liderança comunitária entrevistada. Diante disso, quebradas
as expectativas da reunião, utilizamos o tempo para conversarmos sobre a
questão racial no Estado e sobre as expectativas do militante em relação ao
trabalho desenvolvido pelos representantes institucionais.
165
relacionamento com a população”, conhecer suas necessidades e trabalhar em
cima delas.
Por fim, um ponto não recorrente, mas, por sua vez, muito polêmico, foi
destacado por uma ex dirigente da causa negra nas esferas institucionais. Ela
se refere à “perda do interesse coletivo” e à “incapacidade de representar” a
causa ou o público que se deveria representar. A sequência de citações da
“entrevista 1” intenta, propositalmente, mostrar essa visão, a qual aborda: (1) a
diminuição da comunicação do militante que está no poder com o militante fora
do poder e (2) o conflito entre falar em nome do movimento ou em nome do
governo:
Entrevista 1:
E acrescenta:
166
Não estou dizendo que quem é do governo tem que se comportar de
outra forma, mas eu digo que existe hoje uma, é... eles não
conseguem por exemplo, é... compreender que ele é uma pessoa
que tem que ter dupla-personalidade para que essa comunicação
possa existir. Ele não vai deixar de ser governo, claro você não
vai deixar de ser desobediente a suas funções, àquilo que você
foi contratado, contudo, você tem a oportunidade de estabelecer
o canal de diálogo, ampliar... (Entrevista 1)
167
Diante de todas as questões colocadas, a maioria dos entrevistados
chegam a uma conclusão um tanto quanto polêmica: em face das dificuldades
enfrentadas, nota-se o fato de “não existir Política de Igualdade Racial em
Sergipe” (Entrevista 5), conforme ressaltado abaixo:
168
O objetivo deste capítulo é narrar algumas experiências de campo
vivenciadas durante o processo de elaboração da tese. Dessa forma,
reproduzimos de maneira mais detalhada observações feitas sobre o processo
de elaboração e desenvolvimento da III Conferência Estadual de Promoção da
Igualdade Racial (CONEPIR); e a realização de uma entrevista com uma
gestora de políticas raciais em Sergipe. Pretendemos observar e analisar a
rotina dos trabalhos desenvolvidos pelos sujeitos investigados, evidenciando os
desafios enfrentados, as articulações promovidas e os resultados alcançados.
24 O sujeito social entrevistado não era militante do movimento negro, mas fora escolhida para
falar em nome das demandas raciais porque era negra, e, dessa forma, descobriu-se como tal.
170
O presente tópico apresenta algumas reflexões sobre o processo de
organização e realização da III Conferência Estadual de Promoção da
Igualdade Racial CONEPIR (2013), ocorrida na cidade de Aracaju, em 28 de
agosto de 2013. Pretendemos verificar o papel dessa Conferência na inclusão
de segmentos da sociedade civil, bem como da sua capacidade de fazer gerar
decisões e deliberações a partir dos debates suscitados.
171
4.1.1 A conferência como mecanismo de efetivação da
democracia
173
Analisando alguns dos efeitos da realização de conferências de políticas
públicas, CUNHA (2012) destaca que um dos potenciais desse mecanismo
corresponde à inclusão de segmentos populacionais marginalizados, como
mulheres, analfabetos, negros, baixa renda. Estes sujeitos, que, em outros
momentos, não teriam poder de voz ou decisão, passam a ter acesso a um
espaço público de deliberação de demandas.
FUNG (2004), por sua vez, destaca o poder que os “mini espaços” - a
exemplo das conferências - têm em se tratando de estratégia para superar a
fragmentação da vida política. Funcionando como espaço público que reúne
um número importante de pessoas, mas não de forma massiva, o autor
percebe esse espaço como importante cenário para deliberação de decisões
mais locais, em contrapartida às decisões universalizadas.
174
QUADRO VII: ARTICULAÇÃO DOS ÓRGÃOS DE PROMOÇÃO DA
IGUALDADE RACIAL EM SERGIPE
175
Fonte:https://www.facebook.com/photo.php?fbid=4626416513407&set=pb.1682619851
.-2207520000.1384639518.&type=3&theater
176
5. O Secretário de Direitos Humanos perdeu os prazos para enviar
projeto a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial solicitando os recursos para realização da III CONEPIR, isso é
lamentável principalmente quando o governo de Sergipe diz que teve
dificuldades de pagar a folha do mês de julho, inclusive atrasando o
pagamento dos aposentados;
A) A organização
179
da entrevista, o órgão estava aguardando decreto do Governo para aprovação
do Conselho, e a questão racial continuava sendo uma das pastas de
responsabilidade da SEDHUC, só que não mais como coordenadoria e sim
como conselho.
B) A composição da mesa
C) Os grupos temáticos
Uma das principais atividades realizadas durante a III COEPIR (2013) foi
a organização dos grupos temáticos, os quais foram esquematizados da
seguinte forma: (1) Estratégias para desenvolvimento e enfrentamento ao
racismo; (2) Políticas de igualdade racial no Brasil: avanços e desafios; (3)
Arranjos institucionais para a sustentabilidade das políticas de igualdade racial;
e (4) Participação política e controle social: igualdade racial nos espaços de
decisão.
182
Da forma como foi posta, a Conferência reuniu nada mais que grupos de
pessoas com algum grau de relação com a questão negra na expectativa de
galgar alguma melhoria de vida. Essa foi a impressão que tivemos ao
acompanhar, nas atividades do GT 2 – Políticas de igualdade racial no Brasil:
avanços e desafios –, a temática voltada para a questão quilombola. Ao ler um
trecho do texto base que dispunha sobre a importância de se garantir o
território para permanência e desenvolvimento das comunidades quilombolas,
um grupo de mulheres levantou a voz, dizendo: “pula essa parte, moça, quem é
que quer sofrer trabalhando na terra? A gente quer é curso, financiamento.
Quem é que quer voltar a trabalhar no sol quente?”.
D) A aprovação do regimento
184
de algum tempo, um dos organizadores pegou o microfone e “solucionou” o
problema, respondendo que, ainda que sem as conferências municipais, os
coordenadores poderiam ser escolhidos e que, portanto, não haveria motivo
para polêmicas.
Depois daquele fato, não houve mais intervenções para debater sobre o
conteúdo do regimento. Por pelo menos três vezes, alguns delegados tentaram
intervir na leitura. Inícios de vais começavam, mas, quando os “vaiadores”
percebiam que se tratava apenas de uma tentativa de consertar uma palavra
errada ou um termo mal colocado, então caiam em aplausos.
Pelo conjunto do que foi visto, ficou claro que um fato só não explicaria o
que, na nossa visão, funcionou como “fragilidades da democracia”. Aquela
atitude pode ser decorrente de inúmeros fatores, como por exemplo: a
presença de muitos jovens na Conferência, sobretudo no momento de
aprovação do regulamento; a falta de preparação em experiências anteriores,
sobretudo porque não houve as conferências municipais ou regionais; uma
educação que forme o indivíduo para viver em um ambiente democrático, em
um ambiente onde o debate e o dissenso são imprescindíveis para a
construção de propostas; e, por fim, um grupo de membros organizadores mais
bem preparados e dispostos a debater, refletir e não apenas decidir.
26A frase original é: “fazer descer a democracia do céu dos princípios para a terra onde se
chocam interesses consistentes”. (BOBBIO, 2002: 24).
186
articulavam perguntas ou falas que foram exaltadas depois da palestra de
abertura da Ministra da Seppir.
4.2 “Eu não sabia que era negra até assumir a Secretaria”
Me gritaram negra
27 Nascida em 1922, no Peru, Victoria Santa Cruz foi poetisa, coreógrafa, dançarina. Morreu
em agosto de 2014, na cidade de Lima.
28 Atuou por mais de vinte anos como professora e coordenadora do curso de Pedagogia em
A priori, esse caso gerou uma certa dúvida sobre se a entrevistada faria
ou não parte do conjunto dos sujeitos sociais que elegemos como objeto de
nossa pesquisa (os militantes negros que assumiram algum órgão de
promoção da igualdade racial em Sergipe). Afinal, esse não se tratava do caso
de uma militante negra, mas tão somente de uma mulher negra. Todavia, o
conjunto da fala da entrevistada nos leva a perceber que, embora não
houvesse uma trajetória ligada à militância ou à articulação partidária, havia ali
um discurso racializado em torno dos mecanismos de escolha dela como
representante de um órgão institucional. Tratava-se, pois, de perceber que,
191
para além dos acordos burocráticos, existem ideologias intrínsecas ao papel do
negro, as quais os levam, consequentemente, a estar ou não em determinados
cenários institucionais. A experiência cotidiana vivida pela gestora que tinha a
sua imagem relacionada ao fortalecimento de uma visão “plurirracial” da
Secretaria nos leva a concluir que a articulação política é importante, mas
existem outros critérios além desse. No caso em questão, a figura do “ser
negro” tinha em si uma conotação que dispensava qualquer outra atribuição,
pois a própria imagem já dava as respostas necessárias. E tais respostas iam
desde a construção de um imaginário sobre os tipos de sujeitos que
compunham a Secretaria (homem, mulher, negro, gay...) até a imagem
construída sobre o Negro: um ser que carrega em si a autoafirmação de sua
raça e age como porta-voz dela.
Diante disso, se, por um lado, existe uma visão idealista de que basta
ser negro para se autodeclarar militante da causa negra, visão esta implícita na
forma como os demais gestores relacionavam-se com a entrevistada, por outro,
ficou evidente que esse é um processo social que se dá na relação com o
outro. No caso investigado, o sujeito social não se descobriu negra antes de
estar em um meio onde a sua diferença racial era cotidianamente afirmada, isto
é, antes que lhe dissessem que a sua imagem seria boa para que a Instituição
fosse vista como racialmente democrática e atuante em relação ao tema.
193
Diante do universo descrito, pelo menos duas questões precisam ser
apreendidas. Primeiro, que o negro que ocupa os espaços institucionais de
governo não é um ser dado a priori. Como bem analisa Neusa Santos SOUZA
(1983), ser negro é um vir a ser, é um tornar-se negro. A nossa entrevistada
poderia simplesmente ter assumido uma secretaria na qual a sua cor não
tivesse nenhum peso político-ideológico e, assim, nunca descobrir-se enquanto
negra. Todavia, esse não foi o contexto de sua prática enquanto gestora.
Antes, tratou-se de um ambiente que requisitava o seu ser racialmente
diferenciado.
194
CAPÍTULO V: DESENCANTAMENTO COM O PODER
INSTITUCIONAL: “E AGORA, JOSÉ, PARA ONDE?”
Com base nesse cenário, o objetivo deste capítulo foi analisar quem são
esses novos sujeitos políticos atuais que buscam manter o militantismo racial
em Sergipe, mas sem maiores articulações com o poder institucional. Que
movimentos são esses? Como surgiram? E de que forma foram desconstruindo
os discursos em prol da aproximação e do consenso com o Estado?
196
2014, o anúncio de cortes de verbas e de alguns ministérios voltou a inflamar
os ânimos de militantes negros fora e dentro do Governo.
UFPA; Grêmio Recreativo Escola de Samba Ipixuna do Amazonas; Grupo de Cultura Afro
AFOXÁ / PI; Grupo Cultural Adimó / PI; Grupo de Estudos Afro-Amazônico (NEAB) UFPA;
Grupo de Estudos Afro-Brasileiros e Educação – GEABE/FATEC / RJ; Grupo de Estudos e
Pesquisas em políticas públicas, história e educação das relações raciais e de gênero da UNB;
Grupo Mais Mulheres no Poder / MG; Ile Axé Elegbara Barakitundegy Bamine; Ilê Axé Olorum
Funmi / SC; Ile Jena Delewa – BA; Ile Ofá Odé – BA; Ilu Oba De Min Educação, Cultura e Arte
Negra / SP; Instituto AMMA Psique e Negritude / SP; Instituto Brasileiro da Diversidade – IBD;
Instituto Cultural Afro Mutalembê – Amazonas; Instituto Centro Educacional e Cultura Nina
Souza – CENS / AP; Instituto Ganga Zumba; Instituto Luiz Gama / SP; Instituto Mocambo / AP;
Instituto Nangetu de Tradição Afro-religiosa e Desenvolvimento Social de Belém; Instituto
Padre Batista / SP; Instituto Palmares de Promoção da Igualdade / BA; Instituto Pérola Negra
do Rio de Janeiro; Instituto Pretos Novos / RJ; Irmandade Santa Bárbara / SE; Kwè Cejá Gbé /
RJ; Liga Brasileira de Lésbicas; Liga Nacional Panela de Expressão – ES; Liga Oficial dos
Blocos Afros e Escolas de Samba de Sergipe; Marcha Mundial de Mulheres; Movimento
Internacional da Paz – MINPA; Movimento de Luta por Terra – MLT; Movimento Negro
Unificado – MNU; Movimento Sem Terra – MST; Nação Hip Hop Brasil; N`Ativa / AC; Núcleo de
Debates de Diversidades e Identidades de MG; Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros do CEFET
– RJ; Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros do Colégio Pedro II; Núcleo de Estudos Afro-
Brasileiros da FURB; Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da FURG; Núcleo de Estudos Afro-
Brasileiros da IFPA; Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros NEAF – UFT; Núcleo de Estudos Afro-
Brasileiros da UDESC; Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UEL; Núcleo de Estudos Afro-
Brasileiros da UEMG; Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UFMA; Núcleo de Estudos Afro-
Brasileiros da UFOP; Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UFPI; Núcleo de Estudos Afro-
Brasileiros da UFRPE; Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UFSB; Núcleo de Estudos Afro-
Brasileiros da UFTO; Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UFPR; Núcleo de Estudos Afro-
Brasileiros da UNB; Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UNICENTRO; Núcleo de Estudos e
Pesquisas Afro-Brasileiros e Indígenas: NEABI – UFPB; Núcleo de Estudos Sobre Educação,
Gênero, Raça e Alteridade (NEGRA) da UNEMAT; Núcleo Vida e Cuidado (NUVIC): estudos
sobre violência; Observatório da Mulher; Observatório das Políticas de Democratização de
Acesso e Permanência na Educação Superior da UFRRJ; Organização Cultural
Remanescentes de Tia Ciata / RJ; Organização de Economia Solidária – OPES; Pastoral da
Juventude do Meio Popular – PJMP; Quilombação – Coletivo de Ativistas Antirracistas / SP;
Rede Nacional Afro LGBT; Rede Amazônia Negra – RAN; Rede Amazônica de Tradições de
Matriz Africana – REATA; Rede Aruanda Mundi; Rede de Jovens do Nordeste – RJNE; Rede
Mulher e Mídia; Rede Nacional Lai Lai Apejo – Saúde da População Negra e AIDS; Rede
Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde – RENAFRO; Nacional das Religiões de Matriz
Africana – Núcleo Sergipe; Rede Sapatá – Promoção de Saúde e Controle Social de Políticas
Públicas para Lésbicas e Bissexuais Negras; Secretaria Nacional de Combate ao Racismo da
CUT – SNCR/CUT; Secretaria Nacional de Igualdade Racial da CTB; Secretaria Nacional de
Mulheres da CTB; Setorial de Combate ao Racismo da Central de Movimentos Populares –
CMP; Sindicato dos Trabalhadores dos Correios da Grande São Paulo, Sorocaba e Região –
SINTECT/SP; União Brasileira de Estudantes Secundaristas – UBES; União Brasileira de
Mulheres – UBM; União das Comunidades Tradicionais Afro-amazônicas – UNIMAZ; União das
Escolas de Samba Paulistana – UESP; União de Mulheres de São Paulo; União Municipal dos
Estudantes Secundaristas de Santos – UMES Santos; União Nacional dos Estudantes – UNE;
União de Negros Pela Igualdade – UNEGRO; Visão Mundial; Yle Ase Obe Fara
BARAHUMERJIONAN / SE.
30 Dexter (Marcos Fernandes de Omena) – Rapper; GOG (Genival Oliveira Gonçalves) –
Rapper e poeta; Hélio Santos – Professor universitário (Visconde de Cairu – Salvador); Leci
Brandão – Deputada Estadual e cantora; Valter Silvério – Professor universitário (UFSCAR).
198
entendemos como inaceitável a desmontagem de estruturas
administrativas, de controle social e de diálogo entre governo e
sociedade, que vem pautando a luta contra toda forma de
preconceito e desigualdade, e a duras penas tem conseguido
alterar a realidade de milhares de brasileiros e brasileiras, com a
redução da pobreza, das diferenças regionais e culturais. Portanto,
agora é o momento de continuar, aprimorar a gestão pública
para consolidação das iniciativas criadas e de pavimentação da
trilha da cidadania. Por isso, as entidades dos movimentos sociais,
cidadãos e cidadãs, intelectuais, artistas e militantes assinam o
Manifesto abaixo, contra a alteração do desenho institucional nas
Secretarias de Políticas para as Mulheres, da Promoção da Igualdade
Racial, de Direitos Humanos e de Juventude e em defesa do
fortalecimento institucional desses órgãos, pois queremos que o
Brasil dê um salto para o futuro, eliminando de vez a chaga dos
preconceitos, do racismo, do sexismo e das desigualdades sociais e
regionais. (Carta à Presidente Dilma, 2015)
199
pelo site Afropress31, em 1º de setembro de 2015. Nessa postagem, havia uma
crítica bastante enfática à carta entregue pelas entidades do movimento negro
à Presidenta:
Outra questão ressaltada pelo autor do texto e que merece destaque foi
em relação ao pressuposto da política racial do Governo: enquanto este
construiu a sua política com base no pressuposto da igualdade racial, o editor-
chefe defende a diferença, inclusive em termos biológicos. Trata-se, portanto,
de uma perspectiva ideológica mais extremista, se comparada a outras
propostas de superação do racismo.
Ao final do texto, o autor conclui fazendo uma distinção entre “os negros
do PT e do PC do B” e os demais negros brasileiros. Para o autor, aqueles são
meros ocupantes de cargos, que agem visando a interesses próprios e não
31A Afropress é uma agência de notícias on-line, criada em 2007, e que se apresenta como
“um jornalismo crítico e independente de partidos e de Governos”. Fruto da ONG ABC sem
Racismo, o site é dirigido e editado pelo jornalista e militante negro Dojival Vieira.
200
representam (e possivelmente nunca representaram) a “sociedade civil” e o
“movimento social”:
A crítica ora posta nos incita a perceber que o fim ou não da Seppir
suscita um debate que vai além da questão de cortes de verbas e/ou
enxugamento de ministérios. Essa crítica tem a ver com disputas políticas
internas e externas ao Governo e também com a capacidade de se fazer
representativa das demandas raciais.
201
Criada no ano de 2007, a Coordenadoria esteve ligada, inicialmente, à
Secretaria do Trabalho, da Juventude e da Promoção da Igualdade Racial,
e, depois, a partir de 2011, à Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania
(SEDHUC). Nos primeiros anos de funcionamento, a Coordenadoria destacou-
se por travar um debate mais próximo com representantes nacionais. Em 2013,
no ato de lançamento do Catálogo Religiões de Matriz Africana em Sergipe
e da Cartilha As Religiões de Matriz Africana e a Promoção da Igualdade
Racial, a Coordenadoria trouxe a Ministra da Seppir, Luiza Bairros, para o
evento, o qual reuniu o então Governador do Estado, Marcelo Déda, líderes
religiosos, representantes do movimento negro e lideranças políticas em geral.
203
Nesse momento, a bandeira política levantada pelo Governo do PT em
Sergipe, o qual se afirmava como acolhedor das diversidades sociais, e pelos
próprios militantes negros gestores, sofre um abalo. Afinal, não apenas as
dificuldades eram grandes, como também a própria existência da
Coordenadoria não passava de um discurso. Discurso no sentido de que não
existia nada que a instituísse como tal. Além de um grupo de três dirigentes
que promoviam ações em nome da chamada população negra, não havia mais
nada que desse àquela o status de Coordenadoria. Tanto foi assim que, na
medida em que os seus dirigentes foram rompendo com o Governo, o órgão foi
sendo dissipado.
E, diante dos fatos, a questão que permeou as nossas mentes foi: até
que ponto o trato da questão racial em Sergipe foi uma vitória dos movimentos
negros, ao conseguir adentrar os espaços institucionais, ou uma forma de
silenciar o protesto de rua? Ou, ainda, seria esse Governo sensível à política
da igualdade racial ou estaria ele se utilizando de uma estratégia política para
captação de verba e ser visto de forma empática pelo Governo Federal e por
órgãos internacionais?
204
Em 2014, a Copir Estadual foi oficialmente extinta. Numa cena que
marca o desrespeito para com o suposto órgão, o Entrevistado 10 nos
apresentou, de forma enfática, como se deu o processo de tomada da estrutura
física do que seria a Copir por gestores de outras pastas:
Por fim, vale destacar que o mesmo dirigente que foi enfático ao afirmar
a inexistência da Coppir, ou seja, o Secretário de Direitos Humanos e
Cidadania, esteve presente em vários eventos realizados pela Secretaria à qual
estava vinculado, expressando, em seus discursos, o avanço de Sergipe por
ter uma Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial. No evento da III
Conferência de Promoção da Igualdade Racial (2013), o Secretário havia
composto a mesa junto com a Ministra da Seppir e com os demais
representantes da questão racial no Estado, orgulhando-se em participar de um
evento organizado pela Coordenadoria de Igualdade Racial de Sergipe.
205
atualmente, as poucas instituições que existem possuem uma atuação quase
que isolada, figurando praticamente como sujeitos ilustrativos em eventos.
Além dessa busca por autonomia, temos ainda um pequeno grupo que
resiste em abrir mão da institucionalização, seja permanecendo nas estruturas
já falidas e sem condições de ir à frente, seja migrando para outros partidos,
como foi o caso do Entrevistado 10, que migrou do PT para o PC do B.
210
Por fim, no que se refere à atuação dos militantes que não faziam parte
das estruturas de poder, percebemos que existe uma maior tendência de
mobilização para os protestos de rua. Estes, que também pareciam mais
“acalmados” com a ideia de criação das instituições, demonstram-se mais
incitados a saírem do debate com os gestores para apresentarem suas vozes
fora dos aparatos burocráticos. Assim, podemos destacar o caso da Unegro,
que, durante o período de existência da Copir Estadual, estreitou o vínculo com
ela, participando inclusive da III Conapir (2013), mas que, após o fim desta,
passou a desenvolver ações mais direcionadas a mobilizações de rua.
212
PPLE/Região Nordeste, Walter Rui, deu início à reunião dispondo da seguinte
fala de abertura:
213
Frente à ideia de que “caiu a ficha”, de que os movimentos negros havia
sido usado como “massa de manobra” pelo PT, erigia-se um sentimento,
guiado por uma estratégia política, de que era preciso dar voz própria e
autônoma ao negro. E essa voz seria alcançada com a representação política
deles, na medida em que houvesse uma organização partidária com
pretensões de disputa no campo eleitoral.
Até hoje somos invisíveis nos partidos, quando fomos chamados pra
construir, estruturar a política de esquerda no Brasil, não passamos
de massa de manobra, nós fomos coadjuvantes. E a mulher negra,
então, quase ausência total na câmara, principalmente no senado.
(Idem)
214
A sistematização desses descontentamentos já não era tão inusitada
assim. Desde 2013, quando foi elaborado o documento base de formação do
PPLE, as acusações de que o PT não dava mais conta das aspirações dos
movimentos negros, ou pelo menos de parte desses movimentos, já tinham
vindo à tona. No Manifesto do Partido, a questão foi colocada da seguinte
forma:
216
brasileira, de forma a garantir que nenhum grupo ou religião seja tomado como
referência para os demais.
É certo, porém, que os desafios que eles têm pela frente são enormes. E
isso envolve desde questões ligadas à aceitabilidade da população negra até a
estratégia de luta e reivindicação deles. Já na reunião ficou claro que, enquanto
alguns defendiam a concentração do Partido em uma proposta mais fechada,
como, por exemplo, concentrar o foco nas comunidades religiosas de matrizes
africanas, outros, por sua vez, estavam preocupados em contemplar a
diversidade da população negra. A fala de Carlos TRINDADE (2015) foi
bastante representativa nesse sentido:
Vale destacar ainda que a criação do PPLE não refletiu o consenso dos
militantes presentes na reunião. Entre eles, ainda que espaçadamente,
verificamos posicionamentos que acreditam, no fundo, na reviravolta do PT,
que esse Partido poderia sim continuar sendo a “voz no negro” na instância
governamental, carecendo, todavia, de novas estratégias:
218
proposta para os demais negros sergipanos, bem como a levar a proposta do
partido para outros Estados brasileiros.
219
Ao longo dos seus anos de existência, o Partido Panteras Negras
tornou-se uma organização nacional com forte presença nos grandes centros
urbanos norte-americanos. De acordo com o estudo, os aliados do Partido
eram formados por: a chamada Nova Esquerda (particularmente os envolvidos
na Guerra do Vietnã); os negros advindos do Movimento dos Direitos Civis; os
governos de Estados comunistas ou não alinhados; e as associações e igrejas
de bairros periféricos. O objetivo dos Panteras era fazer conexões “inter-
raciais”, reunindo pessoas e forças em prol da afirmação do negro.
223
Em conversa com outras militantes da “Auto-Organização das Mulheres
Negras de Sergipe”, observamos que as críticas em relação às ações
institucionais são inúmeras. De um modo geral, além de não se sentirem
representadas por aqueles que estavam no poder, os quais, na maioria, eram
homens, as militantes destacam ainda que acreditam numa “revolução fora das
estruturas”. Diante disso é que a entidade afirma-se como uma “Auto-
Organização”, ou seja, não está ligada a nenhuma estrutura política ou
partidária. A sua proposta é de autogestão e autofinanciamento, e, sobretudo,
de “autopercepção” da condição de ser negra.
Nos últimos dois anos, o chamado para que o movimento negro volte às
ruas tornou-se recorrente entre os militantes de Sergipe. Diante da falta de uma
estrutura política que lhes desse proteção em nível institucional35, tal forma de
ação passou a ser reivindicada como possibilidade para que as demandas
negras tivessem visibilidade, podendo serem tratadas com a atenção que
demandam. Em matéria exibida pela Revista Rever, no dia 23 de agosto de
2014, o militante e jornalista negro Geilson GOMES chama atenção para o fato:
226
Nesse sentido, movimentos como o Hip Hop e a Unegro, sobretudo com
o Projeto Empoderamento Crespo, vêm tornando-se cada vez mais fortes, de
forma a tomar as ruas com mais frequência e intensidade. Tais movimentos
apresentam um caráter não apenas cultural ou identitário, mas também um
forte posicionamento crítico em relação à sociedade racista e ao “Estado
opressor”.
E acrescentam:
Como podemos observar, o movimento Hip Hop não elege uma crítica
especificamente a algum governo ou Partido. A sua crítica é maior e mais
generalista. Trata-se de atingir o “Estado capitalista”, a ausência de instituições
mais fortes para promover o fim da discriminação racial. A partir daí é que os
jovens do movimento chegam ao descontentamento específico com o governo
local. Nesse caso, falam dos casos de violência que os jovens negros e da
periferia enfrentam sem que nenhuma ação seja tomada; da demora para
efetivação das políticas públicas. E dessa forma é que confirmam o sentimento
de “desproteção” em relação ao poder institucional.
228
vereador da cidade de Aracaju (a primeira vez em 2008), o Coordenador da
Unegro afasta-se das atividades relacionadas ao movimento negro, concentra-
se na temática de sexualidade e saúde, e a União fica algum tempo sem uma
organização mais sistematizada.
229
membros do movimento para irem às ruas em defesa da permanência da
Presidenta, a Unegro argumenta:
Por fim, dentro desse universo de movimentos que têm retomado a “luta
de rua” como forma de protesto da causa negra, podemos destacar a atuação
dos intitulados “Povos de Comunidades Tradicionais de Matriz Africana”. Em
Sergipe, esse movimento vem desenvolvendo, sobretudo a partir de 2012,
ações, concomitantemente, de manifestações de rua e articulações com a
esfera institucional. Durante os anos de 2012-2013, com uma relação próxima
ao Governo do PT, os militantes de tal segmento organizaram: o Fórum
Sergipano das Religiões de Matriz Africana (2012); o Catálogo Religiões
de Matriz Africana em Sergipe (2012); a Cartilha Pedagógica das
Religiosidades de Matriz Africana e da Promoção da Igualdade Racial
(2012); o I Projeto Integrado de Ações Afirmativas de Matrizes Africana
(2015); o I Seminário Afrodescendência e Cidadania (2015); o Projeto Oxé:
Educação, Justiça e Cidadania (2015); o Projeto Preservando o Axé (2015);
e o Ato Contra Intolerância Religiosa, previsto para acontecer em janeiro de
2016.
230
CONCLUSÃO
231
de Negros do PT, do movimento de Religiões de Matrizes Africanas e de
comunidades quilombolas em Sergipe afastaram-se dessas entidades para, em
tese, representá-las em uma outra esfera, a governamental.
Assim, o que nosso estudo mostrou foi que, além de ser um grupo
político fraco dentro da esfera institucional, porque tinha que disputar espaço e
reconhecimento perante estruturas muito rígidas, os movimentos negros
apresentavam-se como um opositores impotentes fora dessas esferas, já que
não conseguiam firmar-se sem suas lideranças. Nesse sentido, mais do que
deixar de militar na rua para militar na instituição, o maior problema que os
movimentos negros em Sergipe enfrentaram com essa nova forma de atuação
foi: não terem abertura institucional de fato, com reais condições de atuação; e
não serem autônomos não das instituições governamentais, mas autônomos
das suas próprias lideranças.
O resultado disso foi que, nos últimos dois anos, uma descrença político-
partidária tomou conta dos militantes negros em Sergipe. A morosidade das
ações, a falta de condições de trabalho e, sobretudo, a negligência dos
representantes políticos para com a questão racial despertaram, além da
decepção, o germe para que o militantismo negro em Sergipe fosse repensado.
Descrentes com as estruturas de governo e cientes da importância de um
movimento forte e autônomo, os militantes, outrora gestores, tiveram que
redefinir a sua luta, buscando não somente o acesso ao poder, mas, agora,
reconhecimento e força política além desse poder.
234
Diante disso, a conclusão a que chegamos foi que o grande “poder” que
os movimentos negros acessaram em Sergipe não foi exatamente o poder
institucional. Esse foi apenas o germe para que os militantes percebessem,
primeiro, que o poder é uma condição transitória; e, segundo, que esse poder
não se dá de forma isolada, mas, sim, que é resposta de um sistema complexo,
contraditório e, muitas vezes, excludente. E, nesse sentido, foi que diversas
entidades e militantes do movimento negro passaram a repensar e a replanejar
a sua luta, desiludidos com o poder institucional, mas esperançosos em relação
ao poder de suas “auto-organizações”.
235
BIBLIOGRAFIA
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http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Direitos-Humanos/Governo-Lula-termina-mandato-
em-divida-com-negros-cobram-liderancas/5/12238
WEB NOTÍCIAS
246
APÊNDICE
247
APÊNDICE II – CARACTERIZAÇÃO DAS ENTREVISTAS E CONVERSAS
248
Entrevista 8: Mulher, 48 anos. Dirigente da Secretaria de Direitos Humanos
e “representante” dos eventos ligados à política racial.
249
ANEXO
UF MUNICÍPIO ORGANISMO
AC ACRE Programa de Políticas para Igualdade Racial do Acre
AM AMAZONAS Secretaria de Estado de Assistência Social e Cidadania
AP MACAPÁ Coordenadoria Municipal de Promoção da Igualdade Racial
AP AMAPÁ Secretaria Extraordinária de Políticas para Afrodescendentes
AMAPÁ Secretaria Extraordinária de Políticas para Afrodescendentes
AP – SEAFRO
AP MAZAGÃO Assessoria de Políticas da Igualdade Racial
AP SANTANA Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial
VITÓRIA DA Coordenação de Políticas de Igualdade Racial - Pref.
BA CONQUISTA Municipal
BA BAHIA Superintendência de Promoção da Igualdade Racial
BA SALVADOR Coordenação de Políticas de Promoção da Igualdade
BA SOUTO SOARES Departamento de Política de Igualdade Racial
AMÉLIA Diretoria de Promoção da Igualdade
BA RODRIGUES
IRECÊ Coordenadoria de Políticas Públicas de Promoção da
BA Igualdade Racial
LAURO DE Superintendência de Promoção da Igualdade Racial
BA FREITAS
SÃO FRANCISCO Departamento de Combate à Desigualdade Social
BA DO CONDE
BA CRUZ DAS ALMAS Secretaria Municipal de Políticas Especiais
ANAGÉ Núcleo de Educação para a Diversidade e Relações Étnico-
BA raciais
BA JEQUIÉ Núcleo de Promoção da Igualdade Racial e Gênero
BA SERRINHA Coordenação de Política de Promoção da Igualdade
BA JUAZEIRO Secretaria de Desenvolvimento e Igualdade Racial
CE CEARÁ Diversidade e Acessibilidade
CE CEARÁ Célula de Diversidade e Acessibilidade
CE SALITRE Fórum Salitrence de Promoção da Igualdade Racial
JUAZEIRO DO Coordenadoria de Política de Promoção da Igualdade Racial
CE NORTE
CE CRATEÚS Coordenação de Igualdade Racial
CE FORTALEZA Coordenadoria de Política de Promoção da Igualdade Racial
CE SÃO BENEDITO Coordenadoria Municipal de Promoção da Igualdade Racial
DF BRASÍLIA Coordenadoria da Igualdade Racial
250
CACHOEIRO Gerência de Direitos Humanos
ES ITAPEMIRIM
ESPÍRITO SANTO Secretaria de Estado do Trabalho, Assistência e
ES Desenvolvimento Social
ES VITÓRIA Gerência de Políticas de Raça
VILA BOA Diretoria Especial de Políticas Públicas para a Igualdade
GO Racial
GO CAVALCANTE Secretaria de Igualdade Racial
GOIÁS Secretaria de Estado de Políticas para Mulheres e Promoção
GO da Igualdade Racial - SEMIRA
SANTA RITA DO Coordenadoria Municipal da Promoção da Igualdade Racial
GO ARAGUAIA
FORMOSA Secretaria Municipal de Igualdade Racial, Infância e
GO Juventude
CIDADE Departamento de Promoção da Igualdade Racial
GO OCIDENTAL
MINAÇU Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial -
GO Pref. Municipal
MONTE ALEGRE Secretaria Municipal de Promoção de Igualdade Racial e
GO Social
GO CROMÍNIA Coordenação da Igualdade Racial
VITÓRIA DO Assessoria Municipal de Políticas da Igualdade Racial
MA MEARIM
MA MARANHÃO Secretaria de Estado da Igualdade Racial
MA OLINDA NOVA Coordenação de Igualdade Racial
SÃO JOÃO Programa de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
MA BATISTA
MA CATANHEDE Coordenação de Política de Igualdade Racial
ALTO ALEGRE DO Assessoria Municipal de Políticas da Igualdade Racial
MA PINDARÉ
MA BREJO Secretaria Municipal de Igualdade e Cultura
MA SÃO LUIZ Secretaria de Estado da Igualdade Racial
TRIZIDELA DO Departamento de Igualdade Racial
MA VALE
MA PINDARÉ MIRIM Assessoria Municipal de Política da Igualdade Racial
PEDRO DO Departamento de Promoção da Igualdade Racial
MA ROSÁRIO
ITAPECURU Coordenação Especial de Políticas da Igualdade Racial e
MA MIRIM Étnica
MA ICATU Secretaria de cultura, igualdade racial e turismo
SÃO PEDRO DA Assessoria Municipal de Políticas da Igualdade Racial e
MA ÁGUA BRANCA Gênero
251
MA BREJO Secretaria Municipal de Igualdade Racial e Cultura
MA CAJARI Coordenação Especial da Igualdade Racial
MA CHAPADINHA Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
MA COELHO NETO Coordenadoria de Igualdade Racial
MA SÃO BENTO Secretaria Municipal de Assistência Social
SÃO VICENTE Coordenação Municipal de Promoção de Igualdade Racial
MA FERRER
MA MONÇÃO Coordenadoria de Política de Promoção da Igualdade Racial
IGARAPÉ DO Coordenadoria Municipal de Políticas da Promoção I. R.
MA MEIO
MA CODÓ Secretaria Municipal de Cultura e Igualdade Racial
CAXIAS Coordenadoria das Políticas da Igualdade Racial - Pref.
MA Municipal
MA CURURUPU Coordenação Municipal de Igualdade Racial
PRESIDENTE Coordenação de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
MA VARGAS
PARNARAMA Coordenação Municipal de Políticas de Promoção de
MA Igualdade Racial
MA CAJAPIO Setor de Promoção da Igualdade Racial
CENTRAL DO Divisão de Políticas de Igualdade Racial
MA MARANHÃO
MA ALCÂNTARA Divisão de Promoção de Política de Igualdade Racial
SÃO LUIZ Coordenadoria Municipal de Ações Afirmativas
GONZAGA DO
MA MARANHÃO
PORTO RICO DO Coordenação Municipal de Políticas de Igualdade Racial
MA MARANHÃO
AXIXÁ Divisão Municipal de Políticas de Promoção da Igualdade
MA Racial
MA BREJO Secretaria Municipal de Igualdade Racial e Cultura
VARGEM GRANDE Coordenadoria de Políticas de Promoção da Igualdade
MA Racial
LIMA CAMPOS Secretaria Municipal de Assistência Social, Trabalho,
MA Juventude e Promoção da Igualdade Racial
MA CENTRO NOVO Coordenação Municipal de Promoção de Igualdade Racial
BARREIRINHAS Coordenação Especial de Articulação de Políticas para a
MA Promoção da Igualdade Racial
SERRANO DO Departamento de Promoção da Igualdade Racial
MA MARANHÃO
MA MARINZAL Coordenadoria de Programas da Igualdade Racial
MG BELO HORIZONTE Coordenadoria de Assuntos da Comunidade Negra
MG BETIM Coordenadoria de Políticas de Promoção da Igualdade
252
Racial
MG BELO HORIZONTE Coordenadoria de Assuntos da Comunidade Negra
MG MINAS GERAIS Diretoria de Promoção e Educação em Direitos Humanos
MG CONGONHAS Gerência de Promoção da Igualdade Racial
CONTAGEM Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial de
MG Contagem
MG FORMIGA Conselho Municipal da Identidade Negra
MG RAPOSOS Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial
MG MONTES CLAROS Fórum Municipal de Promoção da Igualdade Racial
MG NOVA LIMA Programa Municipal de Promoção da Igualdade Racial
MG TUPACIGUARA Divisão de Promoção da Igualdade Racial
MONTES CLAROS Coordenadoria das Políticas de Promoção da Igualdade
MG Racial
MG SANTA LUZIA Núcleo Governamental de Promoção da Igualdade Racial
MATO GROSSO Coordenadoria de Políticas para a Promoção da Igualdade
MS DO SUL Racial
MT CUIABÁ Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial
MATO GROSSO Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial -
MT CEPIR
VILA BELA DA Fórum Municipal da Igualdade Racial
SANTÍSSIMA
MT TRINDADE
PA PARÁ Coordenação de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
PB JOÃO PESSOA Assessoria de Políticas Públicas para Diversidade Humana
TAVARES Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial -
PB CEPIR
PB JOÃO PESSOA Coordenadoria do Negro/Negra de Olinda
PE CAMARAGIPE Secretaria do Desenvolvimento Social e da Mulher
PE PAULISTA Diretoria da Igualdade Racial
PE RECIFE Assessoria Especial dos Governadores
PE PERNAMBUCO Assessoria da Igualdade Racial
PI ESPERANTINA Diretoria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
PIAUÍ Coordenadoria de Políticas Públicas de Promoção da
PI Igualdade Racial
PR LONDRINA Assessoria de Promoção da Igualdade Racial
PR MARINGÁ Assessoria de Prom. da Igualdade Racial - Pref. Municipal
PR CAMPO LARGO Coordenadoria da Consciência Negra
APUCARANA Coordenadoria da Consciência Negra - Sec. Municipal de
PR Desenvolvimento Humano - Pref. Municipal
PR PARANÁ Assessoria de Promoção da Igualdade Racial
RJ NILÓPOLIS Coordenadoria Municipal de Promoção da Igualdade Racial
RJ PETRÓPOLIS Assessoria de Políticas da Igualdade Racial
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RJ VOLTA REDONDA Coordenadoria
RJ JAPARI Assessoria de Promoção da Igualdade Racial
ENGENHEIRO Coordenadoria de Políticas de Promoção da Igualdade
PAULO DE Racial
RJ FRONTIM
SÃO JOÃO DO Coordenação de Ciências Sociais e Diversidade
RJ MERITI
ANGRA DOS REIS Assessoria de Gabinete para a Promoção de Igualdade
RJ Racial
ARRAIAL DO Assessoria Municipal de Promoção da Igualdade Racial
RJ CABO
RJ NILÓPOLIS Superintendência de Promoção da Igualdade Racial
RJ CABO FRIO Superintendência de Igualdade Racial
RJ RIO DE JANEIRO Coordenadoria de Política de Promoção da Igualdade Racial
NOVA IGUAÇU Coordenadoria Municipal de Políticas Promoção da
RJ Igualdade Racial
DUQUE DE Coordenadoria Municipal de Promoção da Igualdade Racial
RJ CAXIAS
RJ MESQUITA Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial
RJ JAPARI Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial
RJ RESENDE Assessoria de Promoção da Igualdade Racial
BARRA MANSA Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos
RJ Humanos/ Superintendência de Igualdade Racial - SUPIR
RJ RIO DE JANEIRO Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial
RN SÃO TOMÉ Assessoria
RN CANGUARETAMA Assessoria de Promoção da Igualdade Racial
RN CURRAIS NOVOS Coordenadoria Estadual de Promoção da Igualdade Racial
RIO GRANDE DO Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial/ Secretaria
RN NORTE da Justiça - SEJUC
RN BOM JESUS Assessoria de Promoção da Igualdade
RN CURRAIS NOVOS Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial
RN NATAL Coordenadoria Municipal de Políticas Públicas
RO PORTO VELHO Secretaria de Estado de Assistência Social de Rondônia
RONDÔNIA Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania -
RO Departamento de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania
RR RORAIMA Gabinete de Políticas para o Povo Negro
PORTO ALEGRE Assessoria Especial de Políticas Públicas para o Negro no
Gabinete da Prefeita
RS Decreto: 9.312/09
GRAVATAÍ Assessoria de Políticas de Públicas para o Negro - GP/ Pref.
RS Municipal
RS PORTO ALEGRE Coordenadoria das Políticas de Igualdade Racial
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RIO GRANDE DO Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial/ Diretoria
RS SUL de Justiça Social
SC JOINVILLE Coordenadoria de Políticas Públicas para a Igualdade Racial
SC FLORIANÓPOLIS Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial
SC CRICIÚMA Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial
SC CRICIÚMA Conselho Estadual da População Afrodescendente
SC SANTA CATARINA Secretaria de Relações Institucionais e Temáticas
ITAJAÍ Coordenadoria de Políticas de Promoção da Igualdade
SC Racial
SERGIPE Coordenadoria Especial de Promoção da Igualdade Racial/
SE Secretaria do Trabalho e Promoção Social
SE SÃO CRISTÓVÃO Secretaria Municipal de Inclusão Racial
BARRA DOS Comissão Municipal da Política da Igualdade Racial
SE COQUEIROS
NOSSA SENHORA Divisão de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
SE DO SOCORRO
ARARAQUARA Coordenadoria Executiva de Promoção da Igualdade Racial
SP de Araraquara
SP SÃO CARLOS Coordenadoria dos Assuntos da População Negra
SÃO PAULO Coordenação de Políticas para a População Negra e
SP Indígena
SP SÃO PAULO Coordenadoria Executiva de Promoção da Igualdade Racial
SP OSASCO Coordenadoria de Políticas Públicas Promoção I Gênero
SP RIBEIRÃO PRETO Coordenadoria da Igualdade Racial
SP SALTO Coordenadoria da Igualdade Racial
SP SALTO Coordenadoria da Promoção da Igualdade Racial
TABOÃO DA Coordenadoria Especial de Políticas Públicas de Promoção
SP SERRA da Igualdade Racial
SP SUMARÉ Assessoria de Raça e Etnia
SP SANTO ANDRÉ Setor de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
SP HORTOLÂNDIA Coordenadoria da Igualdade Racial
SP GUARULHOS Divisão de Igualdade Racial
SP ITAPEVA Assessoria de Promoção da Igualdade de Gênero e Raça
EMBU Diretoria de Igualdade Racial e Defesa das Minorias -
SP DPIRDM
TOCANTINS Coordenadoria Afrodescendente e Povos Indígenas da
TO Diretoria de Direitos Humanos
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