Modelos e Conceções de Ensino JDC
Modelos e Conceções de Ensino JDC
Modelos e Conceções de Ensino JDC
Para ser educativo e emancipatório o ensino dos jogos tem que conduzir a
uma melhoria da capacidade de jogar, de entender e de fruir o jogo; a uma
melhoria da relação com a situação de jogo e com os intervenientes
(cooperação, oposição, autonomia, interdependência); ou seja, tem que
contribuir para a formação do cidadão desportivamente culto,
desportivamente competente e desportivamente entusiasta (Siedentop,
2002).
Com a publicação do livro “O ensino dos jogos desportivos”, em 1994, o
Centro de Estudos dos Jogos Desportivos (CEJD) deu voz a um movimento
de renovação das ideias e das práticas de ensino dos JD coletivos iniciado
no âmbito das didáticas e das metodologias específicas das respetivas
modalidades desportivas, o basquetebol, o futebol, o voleibol e o andebol. A
ambição era então, tal como hoje, colocarmo-nos na linha da frente do
esforço de reconceptualização e de investigação do ensino dos jogos,
acompanhar as correntes mais avançadas e, sobretudo, influenciar as
práticas de ensino nas escolas e nos clubes desportivos. A publicação do
livro “Pedagogia do Desporto” (Tani et al., 2006) reforça e atualiza as
nossas propostas para o ensino dos jogos (Garganta, 2006; Graça, Ricardo,
& Pinto, 2006; Mesquita, 2006; Mesquita & Graça, 2006; Tavares, Greco, &
Garganta, 2006), complementada por uma outra mais recente intitulada
“Pedagogia do Desporto” (Rosado & Mesquita, 2009).
Esta nova publicação intenta contribuir para o aprofundamento do
conhecimento sobre o ensino do jogo, reforçando e renovando ideias pela
apresentação de diferentes modelos de ensino que se entrelaçam numa
estratégia de complementaridade e compromisso. Deste modo, é almejado
fornecer indicações pertinentes e atualizadas para o domínio da prática
projetando-se ainda a busca de novas rotas ao nível da investigação
empírica e, concomitantemente, o avanço do conhecimento na área do
ensino do jogo.
Compreensão 6. Performance
emergente
3. Pensar 5. Execução
estrategicamente do movimento
4. Tomada de decisão
o que como
Perceção fazer fazer Seleção
dos sinais da técnica
Nos anos mais recentes, O TGfU tem vindo a receber uma atenção
redobrada, da comunidade académica relacionada com as temáticas do
ensino da educação física e da formação de professores, dando azo ao
relançamento do debate e ao incremento produção didática sobre o ensino
dos jogos. Sob seu lema institucionalizou-se uma conferência internacional,
com a primeira edição em New Hampshire, EUA, em 2001, seguindo-se
Melbourne, Austrália em 2003; Hong-Kong, em 2005; Vancouver, Canadá,
em 2008 e Corunha, Espanha em 2010. Num artigo de balanço sobre o
desenvolvimento do modelo ao longo de duas décadas, Griffin, Brooker e
Patton (2005) encontraram fundadas razões para celebrar o sucesso do
modelo:
TGfU has emerged as a significant advance for teaching sport-related games.
Considering the challenges and inherently slow nature involved in any change
process we believe that TGfU is gaining momentum. Secondly, we argue that
while TGfU has gained widespread acceptance, its place as a legitimate model or
movement for games learning can only be established through ongoing and well-
designed research and development work which is connected with theories that
underpin games learning and teaching. (p.214)
O conceito de progressão
O ensino de determinado conteúdo deve ser estruturado de forma
progressiva porquanto facilita a passagem do nível de desempenho atual
para um outro mais avançado.
Os avanços do conhecimento nas áreas da Pedagogia do Desporto, no
Treino Desportivo e na Aprendizagem Motora têm catapultado a evolução
deste conceito. Tradicionalmente, o conceito de progressão, no contexto das
atividades desportivas, representa a programação de um conjunto de
tarefas ou exercícios que, paulatinamente, se aproximam da tarefa final
(1990). À luz deste entendimento, a mestria das ações mais específicas e
complexas alicerça-se no domínio das ações mais gerais e simples, num
compromisso de relação permanente entre o aprendido e o objeto de
aprendizagem (Singer, 1980). Importa, assim, construir uma sequência
lógica de organização das tarefas de aprendizagem, através do
estabelecimento de relações entre conteúdo, objetivos e nível de
desempenho baseada no postulado da “passagem do simples para o
complexo, do fácil para o difícil e do conhecido para o desconhecido”
(Mesquita, 1997). Esta posição assenta no reconhecimento de que o
domínio de determinada habilidade na sua fase inicial de exercitação é
essencial, antes de ser praticada em situações mais exigentes (French et al.,
1991; Rink, 1993).
Este tipo de organização do conteúdo é efetuado numa perspetiva de
articulação vertical, ou seja da base para o topo, na qual se vão
adicionando elementos, no sentido de alcançar o resultado desejado. Esta
perspetiva de abordagem tem vindo a ser utilizada como metodologia de
ensino em diferentes modelos de ensino, no âmbito das atividades
desportivas, como é o caso do mastery learning (Carroll, 1963 apud
Vickers, 1990; Bloom, 1971) e task analysis (Gagné, 1977 apud Vickers,
1990). Vickers (1990) critica esta perspetiva porquanto, as progressões
não podem ser interpretadas apenas no sentido vertical, como se de um
somatório de aquisições se tratasse, mas também considerando as
possibilidades de realização da ação motora atendendo às condições
deversificadas de aplicação da mesma. Assim, a possibilidade de diferentes
soluções serem equacionadas para a realização das ações motoras, exige
que a progressão integre, não só, a articulação vertical (as tarefas
integram variantes de nível de dificuldade distinto) como, também, a
articulação horizontal (as tarefas selecionadas integram variantes com
níveis de dificuldade semelhante). Da conjugação da articulação vertical e
horizontal, a progressão adquire um cunho dinâmico (semelhante ao
efeito em hélice) (Vickers, 1990) em analogia ao dinamismo e
mutabilidade, apanágio das ações motoras em Desporto.
Paralelamente, no tratamento didático do conteúdo é crucial cumprir
certos requisitos, definindo-se os limites da progressão, tanto na
complexidade das tarefas propostas como nos alicerces metodológicos
que sustentam a sua estruturação. Entre os requisitos a ter em conta na
determinação da progressão (Rink, 1993) destacam-se: (1) a sua extensão
que significa o volume (a dimensão do conteúdo a aprender), (2) a
profundidade (nível de pormenor e especificidade dos conteúdos), (3) a
sequência (elo de ligação entre conteúdos) e a (4) ênfase (distinção do que
deve ser realçado em cada momento em relação ao conteúdo de
aprendizagem). Mais se acrescenta que a sequenciação dos conteúdos não
deve obedecer a uma hierarquização rígida, sendo sempre considerada,
numa relação de compromisso, o objetivo maior da tarefa (global) e os
objetivos específicos (local) imanentes da mesma. Um outro aspeto a
considerar nas progressões é o de que todas as tarefas propostas podem
ser moldadas, através da introdução de variantes que as modifiquem, sem
contudo as desvirtuar. Esta plasticidade é essencial, pois é o fator que
permite a ajustabilidade da tarefa aos constrangimentos relacionados com
o praticante e o envolvimento.
Complementarmente, na elaboração das progressões devem ser
respeitadas determinadas premissas que orientam a estruturação das
tarefas e que passamos a referir (Mesquita, 1997): (1) as progressões não
devem ser extensas sob pena de fragmentarem o conteúdo e retirarem-lhe
o sentido de aplicação; (2) devem formar unidades de matéria, na medida
em que é impossível aprender tudo simultaneamente; (3) devem ser
construídas em referência ao contexto de aplicação, através da realização
de tarefas que integram a estrutura e a funcionalidade reclamada pela
tarefa final.
Com o propósito de desenvolver o conteúdo, subsiste ainda a necessidade
de identificar as formas e meios que possibilitam a modelação da
complexidade do conteúdo, para o tornar acessível ao aluno/praticante e,
consequentemente, a ordenação das situações parcelares que, quando
encadeadas sequencialmente, formam a progressão desejada. A
manipulação das condições de prática pode ser efetuada em muitos
sentidos e em referência a aspetos distintos, entre os quais Rink (1993)
salienta: (1) a organização de situações parcelares nas progressões; (2) a
organização espacial da atividade prática e do material envolvido; (3) a
focalização das condições de prática, nomeadamente o número de
praticantes envolvidos na situação; (4) a expansão do número de
possibilidades de respostas; (5) a estabilização das sequências de tarefas.
O conceito de refinamento
A qualidade de execução das ações motoras bem como o seu uso estratégico
é um fator determinante para o sucesso das aprendizagens (Werner & Rink,
1987), dependendo não só da estrututuração cuidada das tarefas de
aprendizagem como também da qualidade da informação transmitida pelo
professor ou treinador (Graham & Heimerer, 1981; Masser, 1990b).
O conceito de refinamento, ao ser considerado um movimento fulcral do
processo de estruturação e condução do ensino (Rink, 1993) centra-se
precisamente na definição de componentes críticas relacionadas com a
qualidade da execução motora e o uso estratégico das ações motoras. A sua
utilização na condução do ensino orienta o enfoque das observações e
correções para aspetos determinantes do desempenho, definindo-se como
sendo o aperfeiçoamento de aspetos que dada a sua complexidade exigem
um tratamento mais refinado. É operacionalizado pela especificação de
determinada tarefa (construção de sub-passos numa mesma tarefa),
complementada pelo aporte instrucional, emitido pelo professor ou
treinador.
A investigação denuncia um parco recurso ao conceito de refinamento na
estruturação e condução do ensino das habilidades (Silverman, 1991),
apesar de ser sobejamente proclamada a pertinência da sua integração
tanto na estruturação das tarefas como na informação ministrada, pelo
recurso a palavras-chave relacionadas com as componentes críticas. De
facto a investigação (Masser, 1990a, b; Pellett & Harrison, 1995a,b; French
et al, 1996a,b; Mesquita. 1998) tem vindo a realçar que: (1) a utilização de
progressões per se, não conduz a efeitos positivos nos ganhos das
aprendizagens (French et al., 1991; Mesquita, 1998); (2) o acrescento de
refinamentos consentâneos com as exigências das tarefas, constitui um
fator decisivo no incremento dos níveis da qualidade de prática e,
consequentemente, nos ganhos das aprendizagens (Masser, 1987, Masser,
1990a; Rink, et al., 1992; French et al., 1996a,b; Mesquita, 1998); (3) o
recurso a refinamentos na aprendizagem das habilidades técnicas
influencia positivamente as aquisições finais, tanto a curto como a longo
prazo (Masser, 1987; 1990bM; Mesquita, 1998).
O conceito de aplicação
A aplicação constitui o terceiro conceito a considerar, referenciando-se à
realização de tarefas de competição e de autoavaliação criteriosamente
selecionadas. Permite a contextualização dos conteúdos de aprendizagem
nas situações de aplicação que lhes conferem significado e auxiliam o
aluno/ praticante na regulação da própria aprendizagem.
A utilização de situações de competição promotoras da autoavaliação são
situações de aprendizagem que por excelência possibilitam a concretização
do conceito de aplicação, porquanto o foco predominante da atividade
deixa de estar centrado na execução para se situar no resultado da ação, ou
seja, no cumprimento do objetivo externo (e.g., quantos pontos se
realizaram? quem ganhou?).
Assim, através da criação de situações de aplicação é proporcionada ao
praticante a realização contextualizada do movimento, o que exige o
confronto do resultado obtido com o preconizado, em referência ao
objetivo traçado (Pellett & Harrison, 1995a,b; French et al., 1996a,b).
Todavia, na fase de formação inicial do praticante é desejável que qualquer
tipo de habilidade seja praticado em condições que acentuem a forma de
realização dos movimentos, ou seja em situações que não integram as
condições de aplicação O perigo ocorre, quando se utiliza de forma
prolongada estas condições de prática, portadoras de situações que não
contêm os constrangimentos situacionais, apanágio das condições finais de
aplicação. Tal significa que a prática de habilidades abertas em
envolvimentos fechados deve ser limitada. As progressões devem integrar,
simultaneamente, situações de prática orientadas para a forma de execução
da habilidade (eficiência) bem como para o resultado desejado (eficácia) sem
descurar o seu uso oportuno, ajustado e atempado (aplicação) (Rink, 1993).
1 A negociação diz respeito à tentativa dos alunos em modificar as tarefas, nomeadamente nas
condições de realização e nos critérios apontados para avaliar o sucesso (Doyle, 1979, 1983; Doyle
& Carter, 1984; Siedentop, 1991).
A investigação centrada na eficácia do ensino, no contexto das atividades
desportivas tem vindo a focalizar a sua atenção na análise da estrutura das
tarefas e na responsabilização (isto é, no prestar contas) atribuída aos
alunos para a sua realização (Doyle, 1979, 1983; Graham, 1987; Jones,
1992; Lund, 1992; Silverman, Tyson, & Krampitz, 1993; Silverman et al.,
1995). Constitui foco de análise a relação que o praticante estabelece com a
tarefa, especificamente na obrigatoriedade do seu cumprimento,
permitindo ao professor/treinador um controlo efetivo do comportamento,
bem como a avaliação do próprio processo de instrução. A definição clara e
objetiva dos propósitos das tarefas, pela adoção de sistemas de
accountability (relacionados com a necessidade dos praticantes “prestarem
contas” na realização das tarefas de aprendizagem), constitui uma
estratégia eficaz ao confrontar o praticante não só, com o seu cumprimento
como também com o desempenho alcançado pela sua realização (Silverman
et al., 1995; Crouch et al., 1997).
Numa apreciação genérica, os sistemas de accountability podem ser de
âmbito formal ou informal, sendo que nos primeiros são colocados critérios
concretos acerca do envolvimento e do desempenho desejado enquanto nos
segundos são estabelecidos princípios de atuação no sentido de induzir nos
praticantes maior empenhamento e responsabilização (Mesquita, 1998).
Tradicionalmente nas aulas de Educação Física os sistemas de
accountability recorrentemente mais utilizados são informais. A título
exemplificativo, a monitorização da atividade dos alunos, que Kounin
(1970) apelidou de situação de alerta, representa uma estratégia informal
de responsabilização do aluno para o cumprimento da tarefa, enquanto
uma situação de teste, com indicadores de desempenho, representa uma
estratégia formal de responsabilização. A este respeito, Jones (1992)
constatou que os professores, no contexto das atividades desportivas,
utilizam estratégias de monitorização informais concorrentes para a
responsabilização do aluno sobre a forma de reforços, tais como a
aprovação verbal, a atribuição de prémios especiais, ou ainda o recurso a
atividades que premeiam a ocorrência de comportamentos apropriados.
Destes estudos emerge o reconhecimento da evidência de que os alunos
quando são ajudados, no sentido de serem responsabilizados mesmo que
informalmente, podem atingir níveis de desempenho superiores aos
verificados pela ausência de quaisquer meios de responsabilização.
Por sua vez, Lund (1992) verificou que em situações de competição o
reconhecimento público e a atribuição de bonificação constituem sistemas
de accountability formais que incentivam exponencialmente os alunos para
a aprendizagem. Acerca desta temática, Hastie & Saunders (1992) ao
aplicarem sistemas de accountability no contexto do treino, verificaram a
forte influência exercida pela aplicação de sistemas de pontuação na melhor
estruturação do processo de instrução bem como num maior envolvimento
desportivo dos praticantes (Hastie & Saunders, 1992).
Destes estudos ressalta a importância de comprometer de forma explícita
os praticantes nas tarefas de aprendizagem, pelo recurso a sistemas de
pontuação, que confrontam o aluno com a obrigação de "prestar contas"
(Hastie, 1995). Tal significa que a responsabilização dos praticantes no
cumprimento das tarefas de aprendizagem quando é expressa em termos
de critérios de realização explicitamente apresentados e desejavelmente
concretizáveis promove elevados níveis de participação, constituindo esta
variável um verdadeiro mediador dos ganhos da aprendizagem (Silverman
et al., 1995). Crouch et al. (1997) anunciam alguns aspetos a integrar na
definição dos sistemas de accountability: (1) estabelecimento de objetivos
por parte do professor; (2) definição concreta das atividades que integram
o conteúdo específico; (3) registo do desempenho do colega; (4)
apresentação pública (a toda a turma) do desempenho obtido. O aumento
da responsabilização provocada pela necessidade de registar não só o
desempenho, como também a exigência imposta de a apresentar a toda a
turma mostra ser um fator decisivo para a aprendizagem (Crouch et al.,
1997).
Mais recentemente, e fruto da investigação realizada na área, tem vindo a
desenvolver-se o conceito de responsabilização associado ao de autonomia
porquanto através desta relação de compromisso estabelecida entre estes
dois conceitos é possível otimizar as aprendizagens (Mesquita, 2009).
Nomeadamente nos JD, os modelos de ensino emergentes (como é o caso do
modelo de educação desportiva e do ensino do jogo para a compreensão)
ao promoverem a autonomia funcional e decisional dos praticantes
requerem simultaneamente a responsabilização dos mesmos na
consecução das tarefas. As tarefas que integram os ingredientes do jogo
apelam à descoberta guiada pelo confronto dos jogadores com as suas
tomadas de decisão, incentivando a busca de novas soluções e contribuindo
para o incremento da autonomia funcional e decisional. Contudo, conceder
espaço de autonomia aos praticantes requer uma elevada responsabilização
dos mesmos, sob pena, das tarefas de prática resvalarem para algo
desprovido de significado, ausente dos propósitos que as sustentam
(Pereira, Mesquita & Graça, 2009). O mesmo será afirmar que tornar o
jogador autónomo implica dar-lhe as ferramentas para ele saber “ler” e
interpretar as situações-problema, o que pressupõe o asseverar de
condições de prática automonitorizáveis.
Os sistemas de accountability ao explicitarem pormenorizadamente os
propósitos das tarefas e os procedimentos e funções dos
praticantes/treinador, induzem à autorresponsabilização e,
concomitantemente, à intensificação do comprometimento pessoal e da
autonomia decisional. Para almejar tais intentos devem ser precisos e
exigentes, em relação aos propósitos e conteúdos de aprendizagem, e
flexíveis, no sentido de orientarem os praticantes mais por princípios do
que por procedimentos, mais pela criatividade do que pela replicação
(Mesquita, 2008).
Entre possíveis estratégias optimizadoras dos sistemas de accountability
destacam-se: (1) a explicitação das componentes críticas de aprendizagem
na apresentação das tarefas; (2) a indicação do agente de controlo e da
regulação da tarefa (treinador ou praticantes); (3) a determinação de
indicadores de regulação da tarefa; a estabilização de marcadores de
aprendizagem durante a prática; (4) a indicação do tipo de exigência na
tarefa e a; (5) (re)focalização da atenção do praticante na tarefa.
Em suma, a intensificação do compromisso e da responsabilização dos
praticantes nas tarefas de aprendizagem, permite a sua maior autonomia na
procura de soluções e na adoção de comportamentos substantivos, o que se
reflete em ganhos positivos na aprendizagem, mormente quando aplicados
em tarefas que assentam estrutural e funcionalmente nos desígnios do jogo.
Para além das situações de jogo e formas parciais de jogo, são introduzidas
formas de exercitação mais simples, as tarefas baseadas no jogo, com o
propósito de reforçar os requisitos de execução das habilidades, mas em
direta subordinação a necessidades objetivas evidenciadas pelos alunos nas
atividades mais complexas. A sua configuração toma por referência o seu
uso no jogo, ainda que os aspetos decisionais (o que fazer, quando fazer)
possam estar muito facilitados, ou mesmo predeterminados (por exemplo,
no basquetebol, uma tarefa para exercitar o lançamento na passada após
drible). Kirk e MacPhail (2002) falam em modularizar as habilidades
através da constituição de unidades (clusters) de perceção de sinais, de
decisão tática e execução técnica, que são ativadas em conjunto numa dada
situação de jogo. Deduz-se daqui que um exercício é tanto mais válido
quanto melhor contribuir para a construção desses módulos de ação
inteligente e criadora, quanto mais ampliar e consolidar as capacidades de
perceção, decisão e execução.
O modelo de competência nos jogos de invasão revê-se nos critérios
pedagógicos e didáticos para o desenvolvimento da instrução enunciados
por Balan e Davis (1993), proponentes de uma abordagem baseada na
análise ecológica das tarefas: (1) proporcionar mais oportunidades a todos
os participantes; (2) manter um equilíbrio dinâmico entre pessoa, tarefa e
envolvimento; (3) desafiar todos os participantes a obter sucesso.
Estes critérios valem para o desenvolvimento da competência como
jogador, mas são também extensíveis às funções de apoio e coordenação.
O desenvolvimento da competência como jogador faz apelo à interação dos
domínios sócio-afetivo, cognitivo e motor, visando o desenvolvimento das
seguintes capacidades: (1) capacidade de trabalhar em equipa; (2)
capacidade de identificar no jogo informação ou sinais relevantes e de
tomar as decisões mais adequadas sobre o que fazer e como fazer; (3)
capacidade de executar a solução escolhida de um modo eficaz e eficiente.
A interação destas 3 capacidades pode ser apreciada em situações
concretas do jogo. Por exemplo, passar a bola a um companheiro de nível
mais baixo de habilidade que se encontra numa posição mais favorável para
atacar o alvo requer (1) que o jogador em posse de bola tenha
disponibilidade e capacidade para detetar a oportunidade de passe ao
colega; (2) que reconheça a vantagem da posição do colega, esteja disposto
a abdicar de outra iniciativa e a confiar nele ou dar-lhe uma oportunidade;
(3) que disponha dos requisitos físicos e motores para executar o passe; (4)
que a seleção e a execução do passe otimizem a receção e o
desenvolvimento da jogada, tendo em consideração as características do
recetor, a sua movimentação e o posicionamento e atuação dos defensores.
E por aqui se vê que um passe é sempre muito mais que um gesto técnico ou
uma ação tático-técnica do tipo if-then-do.
Na perspetiva da aprendizagem situada (Kirk, Brooker, & Braiuka, 2000;
Rovegno, Nevett, & Babiarz, 2001), a interpretação que os alunos fazem das
situações que lhes são propostas, o seu empenhamento nas tarefas de
aprendizagem, o desempenho no jogo e o desenvolvimento da
aprendizagem são condicionados pela interação de fatores que operam em
3 dimensões: (a) a dimensão cognitivo-tático-técnica-técnica (perceptual-
physical), que inclui as componentes cognitivas, motoras e físicas da
performance; (b) a dimensão de interação social, que inclui as competências
e disposições de relacionamento no seio da turma, nomeadamente com os
colegas de equipa e adversários; e (c) a dimensão institucional-cultural, que
inclui os significados atribuídos pelos estudantes ao trabalho escolar e às
formas de desporto institucionalizado. O modelo de competência nos jogos
de invasão pretende contemplar de forma equilibrada estas três dimensões
e as respetivas componentes, procurando conferir maior autenticidade e
significado às experiências de aprendizagem e oferecer um contexto mais
favorável para o desenvolvimento da competência de jogo.
A competência como jogador estende-se também à capacidade de lidar com
a situação competitiva, com a pressão colocada pelo adversário, pelos
colegas, pelo sancionamento das regras e pelo desenrolar dos
acontecimentos do jogo, pondo à prova os mecanismos psicológicos de
autocontrolo, os sentimentos de autoeficácia; a atitude moral de autonomia,
altruísmo e responsabilidade; assim como a atitude estética de procura do
prazer de jogar, de arriscar, de tomar a iniciativa, e de procura de fazer as
coisas bem-feitas, i.e., com competência e com elegância dos movimentos e
das ações de jogo (Gibbons & Bressan, 1991).
O desenvolvimento da competência nas funções de apoio e orientação visa
desenvolver nos alunos a capacidade de organizarem a sua prática de uma
forma responsável e autónoma, desenvolver competências de
autorregulação da sua aprendizagem, desenvolver uma compreensão mais
profunda e multifacetada do jogo, promover uma implicação afetiva com o
jogo autêntico e bem praticado.
Dada a elevada complexidade e exposição pública, o desenvolvimento da
competência nos papéis de árbitro ou treinador deverá ser pensado em
função das possibilidades dos alunos, da sua capacidade de compreensão do
jogo e das suas competências sociais. As tarefas devem ser ajustadas
sequencialmente de modo a que os alunos as percebam como significativas,
desafiantes, mas não ameaçadoras, ao mesmo tempo que se garantem as
condições para elas serem socialmente viáveis, observando o requisito da
aceitação dos colegas.
Ricardo (Graça, et al., 2006; Ricardo, 2005; Ricardo & Graça, 2005)
desenvolveu um estudo experimental de aplicação do modelo em duas
turmas do 9º ano de escolaridade, tendo observado em pormenor a
evolução do conhecimento do jogo, da compreensão e tomada de decisão
tática, bem como do sucesso na execução das ações de jogo.
1.8. Bibliografia
2.1. Introdução
Jogador
Probabilidades
situacionais
Comportamento
de procura visual
Padrão de Referências
reconhecimento corporais
Tarefa Contexto
Comportamento de
Antecipação
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3. Modelo de abordagem progressiva ao jogo no
ensino do voleibol: conceção, metodologia,
estratégias pedagógicas e avaliação
2
Isabel Mesquita, 1ª autora deste texto.
3 Então designada Instituto Superior de Educação Física, remontando ao ano letivo de 1989/1990.
Nesse momento, e pela primeira vez, fomos confrontados com a
necessidade de apresentar uma proposta de ensino do Voleibol que
almejasse uma formação desportiva de crianças e jovens, cultural e
eticamente fundada, independentemente do contexto de prática. Sendo um
Jogo Desportivo de difícil aprendizagem, principalmente no tocante aos
aspetos de natureza técnica, o seu ensino e treino, durante largos anos,
resvalou para que a técnica tomasse dianteira e fosse, por isso, o principal
critério na escolha das situações de aprendizagem; concomitantemente, o
jogo era conotado como veículo de aplicação das habilidades técnicas
aprendidas e exercitadas em contextos analíticos, desprovidos de
significado, assistindo-se a uma cristalização e a um formalismo das ideias e
das práticas de ensino do jogo. Mais se acrescenta que, até então, os aspetos
de formação pessoal e social não figuravam, frequentemente, nos
programas de formação desportiva como aspetos de desenvolvimento,
sendo perspetivados, quando tal acontecia, mais como consequência do que
propósito.
O acervo bibliográfico que outorga o MAPJ coligiu contributos substantivos,
desde a sua criação até ao momento atual, com destaque para aqueles que
constituíram marcos de divulgação e catapultaram transformações
substantivas no seu processo de desenvolvimento. A primeira publicação
data de 1991 (Mesquita, 1991), momento em que pretendemos conferir
lógica e sequência ao tratamento didático da matéria no ensino do Voleibol.
Mais tarde, em 1994, o ideário de ensino do jogo, assente na enformação
dos desígnios táticos e técnicos, é intentado através de uma outra
publicação de maior fôlego e interesse pedagógico (Mesquita, 1994). Esta
publicação foi replicada em edições posteriores, duas nacionais e duas
internacionais, em língua castelhana, entre 1994 e 1999. Os axiomas do
MAPJ – ainda designado, timidamente, como Proposta metodológica de
ensino do Voleibol –, nortearam o tema de investigação da nossa tese de
doutoramento defendida em 1998 (Mesquita, 1998b), na qual crença,
convicção, experiência feita e ciência atestaram a sua valência formativa.
Mais tarde, em 2004, pelo advento das ideias construtivistas e cognitivistas,
que perpassaram a década de noventa, o ensino do jogo acolhe estas novas
ideias, patentes em dois modelos pioneiros4, adquirindo o MAPJ, pela
mesma influência, maior robustez conceptual. É nesse preciso momento
que é designado pela primeira vez como Modelo de Abordagem Progressiva
ao Jogo (Mesquita & Graça, 2004). Posteriormente, inicia-se a investigação
sobre a eficácia do modelo e, entre os estudos realizados, destaca-se o de
maior extensão, publicado numa revista inglesa de circulação internacional
com fator de impacto (Mesquita, Graça, Gomes & Cruz, 2005). A sua
confirmação como modelo coerente, lógico e substantivo para o ensino do
Voleibol, no âmbito das etapas iniciais de formação desportiva, asseverado
por valores sociais e culturais que dão sentido à prática desportiva,
catapulta uma nova publicação, onde, pela primeira vez, a inclusão de todas
estas valências é consumada (Mesquita, 2006a).
Em síntese, o reconhecimento da necessidade de se criar um modelo de
ensino do Voleibol que fornecesse uma estrutura global e coerente, que
clarificasse os objetivos de aprendizagem em torno de grandes propósitos,
que perspetivasse a natureza das tarefas de aprendizagem, que
equacionasse os papéis do treinador/professor e dos praticantes, que
acautelasse a coexistência de práticas de aprendizagem precursoras da
aquisição do sentido e do valor do Desporto, da partilha de experiências de
aprendizagem autênticas e entusiásticas e da equidade de oportunidades
constituiu o mote impulsionador da criação e aperfeiçoamento do MAPJ.
Desde a sua génese tem sofrido constantes metamorfoses, fruto da sua
extensa aplicação em diferentes contextos de prática, os quais integram o
âmbito do treino desportivo e o escolar, tanto nas aulas de Educação Física
como no Desporto Escolar. A sua aplicação tem evocado achegas
pertinentes, por parte de treinadores e professores, ao que se acrescentam
os resultados oriundos da investigação pela avaliação da sua eficácia,
contribuindo para o alvorar de refinamentos sucessivos do modelo. Deste
modo, o MAPJ não constitui um modelo perfeito e acabado; bem pelo
contrário, encontra-se numa fase de franca expansão e desenvolvimento
sedento de novas avaliações e de novos contributos, fruto da relação perene
e auspiciosa entre teoria e prática.
4O Teaching Games for Understanding (Bunker & Thorpe, 1982) e o Sport Education (Siedentop,
1994).
O presente capítulo visa proporcionar aos estudiosos do ensino do jogo,
professores e treinadores conhecimento simultaneamente eclético e
particular5 em relação à matriz conceptual e aos procedimentos didático-
metodológicos que fundamentam e corporizam, respetivamente, o MAPJ.
Deste modo, pretende-se, a partir do quadro teórico que o sustenta,
desaguar paulatina e regradamente nas tarefas de aprendizagem, nas
estratégias pedagógicas, nos modos de avaliação e nos resultados da
investigação a partir da sua aplicação.
Face aos propósitos visados importa dar resposta às seguintes questões
nucleares:
- Em que medida o MAPJ rompe com os modelos tradicionais do ensino do
Voleibol?
- De que forma é que o MAPJ é capaz de contribuir para uma formação
eclética dos praticantes, onde a formação pessoal e social é assegurada
em alinhamento com a desportiva?
- Qual o papel (ou papéis) da competição no MAPJ? De que forma são
garantidas oportunidades de participação e de sucesso a todos os
praticantes?
- Em que medida é que o instrumento de avaliação das competências de
jogo, perfilhado pelo MAPJ, consegue estabelecer o círculo de validade
ecológica entre aprendizagem e avaliação?
5 Eclético na abrangência formativa que integra e particular no tratamento didático que é conferido
6 O modelo de ensino do jogo para a compreensão foi pioneiro, tendo surgido na década de 60 em
Inglaterra, na Universidade de Loughborough. Ver em: Werner, P., Thorpe, R. & Bunker, D. (1996).
Teaching games for understanding: Evolution of a model. JOPERD, 67:28-33. A sua formalização
ocorreu bem mais tarde. Ver em: Bunker, D. & Thorpe, R. (1982). A Model for the Teaching of
Games in Secondary Schools. Bulletin of Physical Education. 5-8.
7 Duas obras lançaram o modelo de educação desportiva: (1) Siedentop, D., Mand, C. & Taggart, A.
(1986). Physical education: Teaching and curriculum strategies for grades 5-12. Palo Alto: Mayfield
Publishing Company e (2) Siedentop, D. (1987). The theory and practice of sport education. In G,
Barrette,; R, Feingold,; C, Rees & M. Piéron (Eds.), Myths; models and methods in sport pedagogy, pp.
79-85. Champaign IL; Human Kinetics. A sua consolidação confirmou-se, mais tarde, na seguinte
obra: Siedentop, D. (1994) Sport education: Quality PE trhough positive sport experiences.
Champaign, IL: Human Kinetics.
Embora com incidências distintas, e num esforço de síntese, é possível
aglutinar premissas que todos estes modelos postulam, das quais se
destacam: valorização dos aspetos da perceção, compreensão e tomada de
decisão; adequação das formas de jogo à capacidade dos praticantes;
ancoragem dos aspetos afetivos e sociais, de forma a garantir a participação
equitativa de todos os praticantes e fomentar a autonomia no processo de
aprendizagem; desenvolvimento da capacidade para jogar, consumado pela
certificação de uma avaliação autêntica, isto é, alinhada entre conteúdos de
ensino e de avaliação (Mesquita & Graça, 2002).
Através do reconhecimento destes desígnios, o MAPJ conferiu corpo e
substância aos pressupostos concetuais vigentes nos modelos anunciados.
A base conceptual em que se revê, bem como a estrutura funcional que
assume, permite a sua aplicação em diferentes contextos de prática (clube,
escola, autarquias, entre outros), visando o desenvolvimento de
competências tático-técnicos propedêuticas do jogo formal (6x6), bem
como a construção de atitudes e comportamentos precursores de uma
formação pessoal, social e desportiva, ética e culturalmente fundada. Mais
se adita que a matriz conceptual e estrutural que caracteriza o MAPJ
encontra eco no projeto Gira-Volei (Mesquita & Araújo, 2002) criado pela
Federação Portuguesa de Voleibol em 1999, extensamente difundido em
Portugal, desde então até ao momento atual.
Nesta medida, e tendo por referência as teorias alicerçadas à formação
desportiva de longo prazo8, o MAPJ situa-se, inquestionavelmente, na etapa
inicial da formação desportiva, onde assume relevância a formação
multilateral, pautada pela vivência de experiências motoras diversificadas
e pela prática do jogo deliberado9. Neste âmbito, constitui propósito desta
etapa de formação a aquisição dos pressupostos inerentes à dotação
8 Côté e colaboradores criaram o Developmental Model of Sport Participation o qual concebe três
etapas de formação desportiva: os anos de experiências variadas (6-12 anos), os anos de
especialização (13-15 anos) e os anos de investimento (+16 anos). Ver em: Côté, J., Baker, J. &
Abernethy, B. (2003). From play to practice: a developmental framework for the acquisition of
expertise in team sports. In Starkes, J. & Ericsson, A. (Eds.), Expert Performance in Sports – Advances
in Research on Sport Expertise, pp. 89-114. United States of America: Human Kinetics.
9 Consiste na prática voluntária do jogo modelado ao nível da adaptação estrutural e regulamentar,
com objetivos de aprendizagem centrados nas habilidades motoras mais gerais e fundamentais,
onde a busca do prazer é essencial. Ver em: Côté, J. & Hay, J. (2002). Children’s involvement in
sport: a developmental perspetive. In J.M. Silva & D. Stevens (Eds.), Psychological foundations of
sport (2nd Edition). Boston: Merrill.
motora geral e ao desenvolvimento da capacidade para aprender a treinar.
A matriz conceptual do MAPJ estabelece, assim, uma interação imediata e
íntima das componentes tática e técnica, em consonância com a dinâmica
interna do jogo e os objetivos de aprendizagem, num esforço de
alinhamento dos conteúdos de aprendizagem com a prática do jogo. O
mesmo será afirmar que não nega a necessidade do ensino da técnica,
apenas sustenta que o seu trabalho específico surja após a apreciação do
jogo e a contextualização da sua necessidade a partir de situações
modificadas de jogo. Nesta conformidade, o jogo, objetivado numa forma
modificada concreta, é a referência central para o processo de ensino e
incide sucessiva e ciclicamente sobre: a apreciação dos aspetos
constituintes do jogo; a identificação dos princípios táticos; a
consciencialização da tomada de decisão; a exercitação das habilidades
técnicas adequadas e necessárias à resolução de problemas emergentes; e,
finalmente, a treinabilidade do jogo e dos respetivos conteúdos
conducentes à melhoria da performance.
No MAPJ, o jogo, desde a sua versão mais simples (1x1) até à sua versão
mais complexa (6x6), constitui o eixo vertebrador da estruturação das
atividades, decorrendo do seu tratamento didático a manipulação de
constrangimentos que torna acessível a sua prática qualificada. Neste
sentido, as formas de jogo são modificadas e adaptadas ao nível de
desempenho e de experiência, o que significa que é o repertório motor do
praticante e o teor do conteúdo de aprendizagem que definem a forma de
jogo selecionada (Kirk & Macphail, 2002; Maxwell, 2003).
A estrutura curricular do modelo projeta a passagem por quatro Etapas de
Aprendizagem do Voleibol, entre as quais são estabelecidas progressões
assentes num compromisso permanente entre articulação horizontal
(variantes da mesma tarefa) e vertical (tarefas de nível de dificuldade
distinto) da matéria de ensino. O mesmo será dizer que, na aprendizagem, a
repetição é sujeita a variação, o que significa, segundo Vereijken & Whitting
(1990), repetir sem repetir. Trata-se de repetir o conteúdo de treino em
situações que possuem o mesmo nível de dificuldade e dificuldade superior,
resultando, daí, uma progressão dinâmica e interativa semelhante ao efeito
em hélice. Na determinação das progressões é controlada a sequência dos
conteúdos (ordem de abordagem), a extensão (volume, ou seja, a
quantidade de conteúdos abordados), a profundidade (o nível de
aprofundamento dos conteúdos) e a ênfase (determinação dos aspetos
essenciais, momento a momento do processo de aprendizagem) (Rink,
1993). No sentido de estabilizar a progressão e conferir aplicabilidade aos
conteúdos alvo de aprendizagem são aplicados os conceitos de refinamento
e de aplicação, estruturantes da planificação e condução do ensino10. Estas
prerrogativas não encontram expressão cabal no domínio da prática, ao
verificar-se que raramente os treinadores valorizam os procedimentos de
refinamento e aplicação, denotando um desenvolvimento pobre do
tratamento didático do conteúdo de treino (Mesquita, Farias, Pereira &
Arroyo, 2008).
No tratamento didático do conteúdo, o MAPJ projeta a aprendizagem de
novas habilidades técnicas, gradativamente, de etapa para etapa, de acordo
com as demandas táticas do jogo praticado, de forma a tornar viável a
existência de fluxo de jogo. Uma vez que a modelação regulamentar
constitui um requisito didático crucial para conferir ao jogo
sequencialidade e fluidez, a adaptação das regras de jogo modela as
condições de prática, promovendo a aprendizagem em contextos
situacionais portadores de validade ecológica. Neste âmbito, a adaptação
regulamentar passa pela manipulação da área de jogo, do número de
jogadores, do material (tipo de bolas e altura da rede) e pela modelação das
regras. Tem como propósito facilitar a ocorrência de sucesso cumprindo
uma intencionalidade didática, ao condicionar o espaço de ação, o tempo de
atuação e as ações a desenvolver.
A aplicação combinada de dois princípios didáticos (modificação por
representação e por exagero) (Holt Strean & Bengoechea, 2002) otimiza a
aplicação das formas de jogo simplificadas (Mesquita, 2006a). A primeira tem
como propósito proporcionar o fluxo de jogo (ex. sustentação de bola através da
redução das dimensões do terreno de jogo e pelo incremento de número de
toques por jogador e por equipa) e a segunda focaliza a atenção dos praticantes
na escolha apropriada da solução para o problema tático ou para o incremento da
performance no uso das habilidades técnicas (através da adaptação funcional da
área de jogo, restrições ofensivas e defensivas, manipulação de critérios na
realização das tarefas) (Mesquita, 2006a).
11Este conceito reporta-se especificamente à forma de organização da prática variada. Quando esta
integra a realização de um conjunto de repetições da mesma tarefa designa-se por prática variada
por blocos; quando a prática integra a realização de séries ordenadas de repetições denomina-se de
incrementada, no sentido das condições de prática incluírem de forma
gradativa e dinâmica as exigências proclamadas pelo jogo. Evidencia-se,
assim, que a ordem de utilização das tarefas pode ser alterada, uma vez que
a sua aplicação não obedece a uma hierarquização rígida, considerando-se
as características dos procedimentos tático-técnicos, o nível do
desempenho dos praticantes e os objetivos de aprendizagem para a
respetiva aplicação das tarefas. A especificidade dos conteúdos de cada uma
das etapas e as necessidades particulares e pontuais dos praticantes,
revelam-se os indicadores pelos quais se deve pautar a aplicação dos
diferentes tipos de tarefas, em cada uma das Etapas de Aprendizagem.
A legitimação das tarefas de aquisição funda-se no reconhecimento de que a
capacidade de jogo pode ser limitada e enviesada por constrangimentos de
ordem técnica, retroagindo sobre a leitura das situações correntes,
ampliando ou reduzindo as possibilidades e disponibilidades de busca, de
perceção e de tomada de decisão. Como a designação indica respondem às
necessidades de um domínio técnico basilar para intentar a ocorrência de
fluxo de jogo. Visam prioritariamente a eficiência12 e são consumadas em
situações de interferência contextual baixa, ou seja, em tarefas analíticas
desprovidas de referência ao jogo. Devem estar presentes no processo de
aprendizagem o menor tempo necessário, porquanto não permitem a
contextualização das habilidades técnicas nos ambientes de aplicação, isto
é, no jogo e tarefas afins.
As tarefas de estruturação promovem o comportamento tático e o uso das
habilidades técnicas em situações que preservam a lógica acontecimental
do jogo (tarefas de encadeamento), incrementando o seu fluxo (jogo
cooperativo) em condições de interferência contextual moderada. Desta
feita, focalizam a atenção dos praticantes na eficiência técnica, ao mesmo
prática variada por séries e, ainda, quando a distribuição das variantes da tarefa é realizada ao
acaso designa-se de prática aleatória. Ver em: Godinho, M.; Mendes, R.; Barreiros, J. & Melo, F.
(2002). Organização da prática. In M. Godinho (Ed.), Controlo Motor e Aprendizagem: Fundamentos e
aplicações, pp.164-171. Lisboa: Edições FMH.
12 Eficiência – qualidade de realização da habilidade técnica de acordo com os padrões mecânicos
pré-estabelecidos. Ver em: Rink, J. (1993). Teaching physical education for learning (2ª Edição). St.
Louis: Mosby.
tempo que são incluídos critérios de êxito baseados na eficácia13 e onde
emerge, já, alguma necessidade de adaptação14.
Nas tarefas de estruturação, o trabalho de educação da atenção é
concomitante com a ativação do sistema percetivo-decisional através da
manipulação explícita de constrangimentos afetos à tarefa (Williams &
Ward, 2003), como sejam a manipulação de princípios de ação e regras de
gestão. A complexidade inerente ao jogo de oposição é manipulada no jogo
cooperativo, permitindo aos praticantes a captação calibrada das
informações disponíveis, base do acoplamento perceção-ação, ou seja, do
alinhamento entre o que se perceciona e a forma como se age. Do mesmo
modo, a ativação do controlo cinestésico - orientação da atenção para a
perceção da informação relevante - é gradativamente consumada em
detrimento do controlo visual - necessidade do jogador olhar e se centrar
na bola. Aliás, como anuncia Tani e colaboradores (2006), através do
refinamento das especificações da técnica, o qual requer menor atenção, o
praticante pode ocupar-se com outros aspetos do desempenho,
nomeadamente, do foro percetivo e cognitivo, desde que a informação
disponível não seja demasiada para a capacidade de assimilação do
praticante.
O domínio técnico na presença de fluxo de jogo, a aquisição dos princípios
táticos elementares e a aplicação das ações sem bola, reclamam a
progressão para as tarefas de adaptação. Integram o jogo de oposição
desenvolvendo a antecipação, a imprevisibilidade e a inteligência tática. Os
praticantes disponibilizam de uma vivência do jogo em formas modificadas,
bem como da apreciação e da compreensão dos problemas táticos e, ainda,
da aplicação oportuna e eficaz das habilidades técnicas, onde se ambiciona
a confluência da eficiência, eficácia e adaptação. Estudos aplicados no
Basquetebol (Landin & Hebert, 1997) e no Voleibol (Mesquita, 2006b)
evidenciam que os praticantes atingem níveis de evolução superiores
quando praticam tarefas de interferência contextual moderada,
nomeadamente pela prática de jogos modificados, o que reitera, mais uma
vez, a necessidade das tarefas serem modeladas em referência à
13 Eficácia – resultado obtido pela realização da habilidade técnica. Ver em: Rink, J, (1993),
Teaching physical education for learning (2ª Edição). St. Louis: Mosby.
14 Adaptação – Uso oportuno e ajustado da habilidade técnica em situação de jogo. Ver em: Rink, J.
(1993). Teaching physical education for learning (2ª Edição). St. Louis: Mosby.
especificidade dos conteúdos e ao nível de desempenho dos praticantes. A
prática de tarefas sujeitas a elevada interferência contextual, como seja, o
jogo 6x6 ou situações afins, exige modelação regulamentar e funcional
progressiva e sistemática; mais se anuncia que, na sua ausência, a alteração
do padrão motor geral pode ocorrer, sob pena de o praticante ser desviado
para soluções motoras ausentes de significado e intencionalidade. O mesmo
será afirmar que se a prática variada induzir uma modificação no programa
motor geral, significa que a quantidade de variabilidade excedeu a
capacidade do praticante (Boyce, 1991).
Tipologia
Descrição Esquema Critérios de Êxito
Passe de Dedos
No espaço, com bola, realiza:
lançamento/passe/ ressalto/agarra a
bola em posição de passe; - Coordena a flexão/extensão
Variante 1: sem agarrar a bola, dos MI e MS;
continua com a sequência - Coloca o corpo atrás da bola;
passe/ressalto/passe; - Contacta a bola acima e à
Variante 2: retirando o ressalto, frente da testa.
procura realizar uma sequência de
autopasses, vendo o máximo de
tentativas conseguidas.
Serviço-Enquadramento/passe
Grupos de 2. De uma lado da rede, um
Dirige o serviço para o colega;
jogador serve por baixo e o outro
-Desloca-se rapidamente para
desloca-se para se enquadrar com a
se colocar atrás da bola e de
bola e realizar um autopasse para a sua
frente para a rede
frente, agarrando a bola de seguida.
Serviço-construção de 3 toques
- Dirige o serviço para o colega;
Grupos de 2. De uma lado da rede, um
- Enquadra-se rapidamente
jogador serve por baixo e ocupa um
com a bola para efetuar os
dos arcos. O outro jogador realiza 2
autopasses altos e
autopasses, devolvendo a bola para o
controlados para a sua
arco vazio ao 3º passe.
frente;
Variante: atrasar a ocupação do arco,
Estruturação
Jogo 1x1
Utilização do lançamento por baixo
para iniciar o jogo. Antes de efetuar o
passe, pode deixar ressaltar a bola no
chão. Realizar 3 passes (podendo ser - No passe, bola acima e à frente
utilizada a preensão da bola) para da testa;
devolver a bola ao adversário. - Deslocamento e
enquadramento rápido com
a bola;
- Colocar o lançamento ou o
serviço de modo a dificultar
Jogo 1x1 a ação do adversário.
Utilização do serviço por baixo para
iniciar o jogo e do passe de dedos como
meio de contacto da bola para
realização obrigatória de 3 toques.
Variante: Permitir a escolha de
realização de 2 ou 3 toques.
Tipologia
Descrição Esquema Critérios de Êxito
Manchete
Com o MS em extensão e com a - MS sempre em
palma da mão virada para a frente, extensão;
dar o maior número de toques - Palma da mão virada
consecutivos. para a frente, com os
Variante 1: só apenas com um dos dedos direcionados para
MS; o chão;
Variante 2: alternando o batimento
entre os dois MS
Manchete
- Pega realizada
Com um dos joelhos no solo,
corretamente;
devolver a manchete à bola lançada
- MS em extensão;
(ou jogada) pelo colega.
- MS afastados do tronco;
Variante: No momento do contacto
- MS não podem elevar-se
com a bola, o MI que tinha o joelho
acima da linha dos
no chão sobe e avança para a frente
ombros.
do MI contrário (progressão).
Manchete
No espaço, com bola, realiza:
lançamento/manchete/ - MS em extensão;
ressalto/agarra a bola em posição - MS afastados do tronco;
de manchete; - MS não podem elevar-se
Variante 1: sem agarrar a bola, acima da linha dos
continua com a sequência ombros;
machete/ressalto/manchete; - Correta coordenação
Aquisição
a bola;
Troca de funções após cada
- Orientação do corpo
sequência de ações.
para o alvo.
Serviço-Receção-Passe
- Assumir rapidamente as
Serviço dirigido para um dos
funções de
colegas que está na receção e que
recebedor/não-
se encontra do outro lado da rede.
recebedor;
Dos dois recetores, quem vai
- Dirigir o 1º toque para
receber deverá assumir
perto da rede e para o
previamente o 1º toque. O não-
local onde o colega se
recebedor deverá avançar
encontra;
imediatamente para perto da rede,
- No 2º toque, colocar o
afim de efetuar o 2º toque. O 2º
pé mais perto da rede à
toque será feito para um atleta-alvo
frente, realizando um
que se encontra num plano
ângulo perpendicular
superior com um arco. Troca de
entre os ombros e a rede.
funções após cada 3 sequências de
ações.
- Assumir rapidamente as
funções de
recebedor/não-
Serviço-Receção-Passe recebedor;
Idêntico ao exercício anterior. - 1º toque dirigido para
Contudo, o 2º toque deverá ser perto da rede;
realizado, não para um alvo, mas - 2º toque realizado para
para o jogador recebedor/atacante, perto da rede e para a
que efetuará um terceiro toque. frente do
Variante: definir alvos com recebedor/atacante;
pontuação para a concretização do - Recebedor/atacante,
3º toque. após receber a bola
deverá avançar
progressivamente para
perto da rede
- Diferenciação do
recebedor/não-
recebedor;
Jogo 2x2
- Realização do 1º toque
Utilização do serviço por baixo para
para perto da rede;
iniciar o jogo e do passe de dedos e
- Realização do 2º toque
da manchete como meio de
alto, para perto da rede e
contacto da bola para realização
para a frente do colega;
obrigatória de 3 toques.
Adaptação
- O recebedor-atacante,
Variante: Permitir a escolha de
após o 1º toque deve
realização de 2 ou 3 toques.
avançar
progressivamente para a
rede.
3.6. Caraterização do Nível III (Organização Rudimentar do Ataque) e
3ª Etapa de Aprendizagem
Tipologia
Descrição Esquema Critérios de Êxito
15Todos os exercícios mencionados são referentes ao jogo 4x4, os quais podem ser adaptados para
o contexto do jogo 6x6, objetivo final da quarta etapa de aprendizagem.
Tabela 12. Tipologia de exercícios para a 4ª Etapa de Aprendizagem
Tipologia
da tarefa
Descrição Esquema Critérios de Êxito
Bloco Analítico
Analítico - MS esticados, com
1. Fora da rede, o jogador bloqueio/fixação das
segura a bola em posição articulações do punho e
de bolo, enquanto o colega cotovelo;
realiza sucessivos - Elevação dos ombros;
batimentos na bola. - Coordenar a ação técnica do
2. Fora da rede, o jogador bloco com o tempo de salto
em posição de bloco (MS
elevados), procura travar Tempo de salto/invasão
o remate realizado pelo - Coordenar a ação técnica do
colega. bloco com o tempo de salto
3. Idêntico ao exercício 2, acertado;
mas, agora, fazendo bloco - No movimento final do bloco,
com salto, na rede. Aqui, invadir o espaço adversário,
podemos utilizar a rede colocando as palmas das mãos
mais baixa. direcionadas para o espaço de
Tempo de salto/invasão campo adversário.
1. Na rede, o treinador
lança a bola de um lado da Deslocamento
rede, e o jogador tenta - Manter a distância à rede
agarrar a bola no ponto durante o deslocamento;
mais alto e no lado onde o - MS podem descer até
treinador se encontra; formarem um ângulo de 90º,
2. Idêntico ao anterior, mas nunca mais do que isso.
mas, agora, o jogador vai
tentar evitar que a bola
suba, realizando bloco
com invasão do campo do
treinador.
Deslocamento
1. Realizar bloco (apenas o
movimento analítico, sem
bola) após deslocamento,
partindo do centro da
Aquisição
rede.
2. Repetir, mas blocando
uma bola no centro da
rede e outra na ponta.
Amorti - Extensão do MS dominante no
1. O jogador lança a contacto com a bola;
própria bola e realiza - Dedos da mão dominante em
amorti para o outro lado extensão e orientados para a
da rede; bola;
2. Semelhante ao exercício - Punho flexível.
anterior, mas agora
realizando a chamada de
ataque
de competição,
recorrendo às regras
formais do jogo de
voleibol (sem utilização de
jogo temático).
16 Mais apropriada na avaliação em situação real de treino e de competição, a utilizar pelos próprios
de análise.
Tabela 13. Medidas da performance do Game Performance Assessment Instrument (GPAI)
para o Voleibol adaptado a partir de Oslin et al. (1998) (Mesquita, 2006a)
Legenda:
Envolvimento no jogo: Somatório do total das ações realizadas, com
exceção das ações de apoio inapropriadas e dos ajustamentos
inapropriados porquanto podem derivar da ausência de ação.
Tomada de Decisão: Realização de opções apropriadas acerca do que fazer.
Ajustamento: Ações sem bola que o jogador realiza requeridos pelo fluxo
do jogo (p.e: progressão, transição, retorno, suporte).
Execução das habilidades: Comporta duas componentes observáveis: Forma
de realização e resultado obtido. Em virtude do Voleibol ser um JD no qual,
a proficiência técnica influencia, sobremaneira, o resultado obtido, a sua
distinção nos sistemas de observação é essencial para se compreender e
avaliar as causas de possíveis erros cometidos na aplicação das habilidades
técnicas. Assim comporta a Eficiência - medida da forma de execução e a
Eficácia - medida do resultado da execução.
Performance: Desempenho global no jogo que resulta da média aritmética
dos quocientes de cada uma das categorias.
A Tabela 14 apresenta comportamentos tático-técnicos observáveis para
cada uma das categorias do GPAI (Tomada de Decisão, Ajustamento,
Eficiência e Eficácia na execução das habilidades), para um nível elementar
de prática e em relação às diferentes ações do jogo de Voleibol: Serviço,
Receção, Distribuição, Ataque, Bloco e Defesa. A inclusão de outros
comportamentos tático-técnicos está dependente do nível de jogo em que o
mesmo é aplicado.
4.1. Introdução
Ataque Defesa
Modelo de jogo Ataque em 3:3 e 2:4. Defesa zonal em linhas (5:1;
Domínio de diversas condutas 3:3).
nas fases de ataque. Recursos adequados às fases
Domínio do ritmo do jogo nas defensivas.
transições. Oposição por prioridades sem
rutura defensiva.
Problemas táticos Introduzir o jogador central Desenvolvimento do conceito
gerais como organizador. de superioridade numérica na
Consolidar mudanças de defesa à zona a partir de
ritmo na exploração das fases. simetria posicional.
Uso sistemático de meios Consolidar a recuperação
táticos de grupo. defensiva no jogo de
Desenvolvimento do jogo em transição.
ataque continuado com Sistematização da ajuda na
transformação. defesa zonal através dos
meios táticos de grupo.
Conteúdos táticos Tirar proveito do jogo interior Recurso aos meios táticos de
(de grupo e para a criação de situações de grupo para a criação de
individuais) superioridade numérica. situações de superioridade
Recurso aos meios táticos de numérica:
grupo para a criação de - ajuda;
situações de superioridade - bloco;
numérica: - troca.
- cruzamento;
- troca de posto específico;
- bloqueio;
- poste.
Conteúdos técnicos Tirar proveito dos recursos Melhorar a competência no
(habilidades técnicos duelo corporal
motoras)
Tipologia da tarefa (campo reduzido): 1X0 (+1)+GR, em espaço amplo, com início a
meio-campo ou campo inteiro
Objetivo: progredir em drible em direção ao alvo e
finalizar.
Componentes críticas fundamentais
Atacante com bola:
− manejo de bola sem infringir as regras;
− progride em drible na ausência de linha de passe
mais adiantada;
− interrompe o drible em zona próxima à área de baliza;
− remata sem oposição em zona frontal e próxima à
baliza, em salto ou a pé fixo.
Defensor: tenta recuperar para poder ter intervenção
defensiva
Tipologia da tarefa (campo reduzido): duelos (1X1+apoio, com GR), com marcação de
proximidade e em zona delimitada
Objetivo: superar o adversário direto sem bola e
rematar sem oposição
Componentes críticas fundamentais
Atacante com bola:
− passa a bola ao apoio e movimenta-se para criar linha de
passe;
− desmarca-se em profundidade para receber a bola;
− finta de desmarcação caso o defensor o impeça de
progredir sem bola;
− se não supera o adversário direto deve recuar e garantir
linha de passe ao apoio – ação de reposicionamento
ofensivo.
Apoio:
− passa a bola quando a linha de passe está aberta.
Defensor:
− marca e acompanha o opositor, procurando manter o
contacto físico, com os membros superiores em flexão e na
parte superior do tronco, sem infringir a regra de conduta
para com o adversário;
Fig. 10 Duelos (1X1+apoio), com GR − movimenta-se de forma a impedir progressão do
adversário com e sem bola.
Recomendações metodológicas:
i. introduzir regras para rotação de posição/papéis;
ii. dependendo do nível de desempenho dos praticantes é possível introduzir também a finta de
deslocamento com bola;
iii. em caso de sistemático insucesso ofensivo por ação do defesa, deve-se restringido a ação dos
membros superiores usando a obrigatoriedade de defender com uma bola grande nas mãos,
mantendo-a uma posição frontal e com os membros superiores em flexão.
Tipologia da tarefa (campo reduzido): duelos (1X1+1 apoio móvel, com GR), em profundidade e
espaço amplo
Objetivo: superar o adversário direto para
finalizar sem oposição
Tipologia da tarefa (campo reduzido): 2X2+2 apoios móveis, com marcação de proximidade e em
espaço amplo
Objetivo: criar oportunidade de finalização sem oposição
Componentes críticas fundamentais
Atacante com bola:
− recebe a bola e enquadra-se com o alvo e os colegas;
− sem posição progride e/ou remata;
− com oposição, observa a movimentação do colega sem bola;
− passa ao colega se este cria linha de passe, caso contrário opta
por um dos apoios.
Atacante sem bola:
− desmarca-se em profundidade enquadrado com o jogador
com bola.
Apoio:
− observa a movimentação dos atacantes e opta pela melhor
linha de passe, sem infringir a regra dos 3 segundos.
Defensor:
− marca e acompanha o opositor direto, procurando manter o
Fig. 13. Situação 2X2+2apoios
contacto físico, com os membros superiores em flexão e na
em espaço amplo, parte superior do tronco, sem infringir a regra de conduta
com GR para com o adversário;
− movimenta-se de forma a impedir progressão do adversário
com e sem bola.
Recomendações metodológicas:
ii. idem recomendações da situação de aprendizagem anterior.
4.3.3. Terceira forma básica de jogo (FBJ3)
A segunda etapa inclui a FBJ3. Nesta etapa pretende-se que os praticantes
aperfeiçoem as competências inerentes ao jogo de transição e aprendam a
construir o jogo de ataque por oposição a uma defesa recuada na zona
próxima da baliza. Por inerência emerge o conceito de posto específico no
ataque (lateral e extremo) e por oposição introduz-se o conceito de zona de
responsabilidade defensiva individual (primeiros e segundos defensores). A
ocupação de um espaço parcial do terreno remete o atacante para a
necessidade de melhorar a eficácia dos duelos com bola, por resposta ao
aumento das restrições espaciais e possibilidades de ação individuais e de
cooperação. No quadro 7 são enunciados os principais problemas que
orientam o processo de instrução.
Quadro 7. Definição de problemas e objetivos de aprendizagem para a Terceira Forma
Básica de Jogo (5X5), com introdução da defesa à zona.
Problemas Objetivos de aprendizagem/conteúdos
Em fase de ataque, os atacantes I) Superar o oponente que sobe e efetua uma marcação em
não criam situações de finalização proximidade (duelo 1X1), com o desenvolvimento das fintas
porque não superam o defensor de deslocamento frontal com e sem bola.
direto.
Em fase de ataque, os atacantes II) Garantir a ocupação racional do espaço, com
não dão continuidade às ações predominância da amplitude de ataque:
ofensivas. − Desenvolvimento da iniciativa individual na conquista
de espaço entre os defensores e de continuidade da
circulação da bola;
− Introdução do cruzamento e troca de posto específico
como forma de reajuste ofensivo.
Em fase de ataque, os atacantes III) Introduzir a noção de criação e exploração da
não criam situações de superioridade numérica:
superioridade numérica relativa − Desenvolver as competências individuais, com ataque
no espaço entre defensores;
− Desenvolver a noção de fixação do defesa, garantido
espaço de penetração para os colegas;
− Penetrações sucessivas.
Em fase de defesa à zona, os IV) Introduzir os princípios da defesa partilhada do espaço e
jogadores não diferenciam as de recuperação da bola em situação de defesa à zona:
zonas de responsabilidade e não − Noção de zona defensiva;
desenvolvem ações de − Pressão ao portador da bola – marcação na zona “ativa
cooperação defensiva de jogo”
− Marcação de interceção;
− Ajuda defensiva (cobertura e dobra).
I) Objetivos relacionados com superação do oponente direto em fase de
ataque:
Com a introdução da defesa alinhada (como consequência da introdução da
zona de responsabilidade defensiva individual) e dependendo da
profundidade da atuação dos defensores, as soluções ofensivas dependerão
mais ao menos de recursos técnicos individuais ou de soluções a dois
jogadores, com predominância do jogo em amplitude.
Na continuidade do desenvolvimento dos recursos técnicos individuais
defensivos o professor deve introduzir o conceito de defesa de
responsabilidade individual na zona da bola, o que implica que o jogador
suba ao portador da bola e proceda à sua marcação em proximidade. Esse
comportamento por si só cria espaço que importa que os jogadores
aprendam a explorar. Com efeito, deve dar-se continuidade à resolução de
duelos com bola, restringindo o espaço de jogo e/ou condicionando a ação
do defensor, conforme necessário. A instrução relativa aos duelos com bola
(1X1) deve, nesta etapa, privilegiar o desenvolvimento da capacidade de
finta de deslocamento frontal.
Em situação de 1X1 (com um ou dois apoios), em zona parcial do terreno e
próxima do alvo, o processo de instrução deve focar os seguintes
comportamentos ofensivos:
− receber a bola em movimento devidamente enquadrado com o alvo;
− evitar recorrer prematuramente ao drible na ação de aproximação;
− avançar/progredir pelo espaço defensivo ao lado do oponente direto,
sem infringir a regra do manejo de bola, recorrendo se necessário à
finta de deslocamento com bola;
− após tentativa de superação do defensor, sem finalizar, passar a bola ao
apoio e retomar a posição inicial de ataque.
A ação de finta de deslocamento com bola baseia-se simulação de ações que
visam induzir o defensor em erro, obtendo-se dessa forma uma vantagem
espacial e temporal (ver fig. 14):
− simulação de penetração por um dos lados do defesa que, se bem
sucedida, leva o defensor a deslocar-se para fechar essa trajetória, de
imediato o atacante deve mudar de direção e penetrar/progredir no
sentido oposto;
− no caso da finta ser realizada com trajetória para o lado não dominante,
a bola deve ser protegida, por ação de “passar o braço” ou transportada
com as duas mãos;
− em caso da finta pode ser precedida de drible de aproximação este deve
ser direcionado ao espaço lateral.
Recomendações metodológicas:
i. introduzir regras para rotação de posição/papéis;
ii. delimitar as zonas defensivas e restringir atuação dos defensores à sua zona de
responsabilidade.
Tipologia da tarefa (campo reduzido): 2X2+2 apoios fixos, com defesa à zona e em
zona delimitada
5.1. Introdução
Jogadores não criam situações de finalização Jogadores criam uma situação de finalização
ao correrem para a posição debaixo do cesto
(posição 6) após passe.
Jogadores não se afastam dos defensores diretos Desmarcam-se para poder receber a bola,
afastando-se do seu defensor, correndo na
direção do cesto ou do spot livre à esquerda
ou à direita do colega com bola.
Avaliação da Aprendizagem
A avaliação da FBJ l considera a evolução dos alunos nos domínios
cognitivo, motor e sócio-afetivo, corporizada no desenvolvimento da
competência nos papéis de jogador, treinador e árbitro. A avaliação da
competência como jogador pode ser feita através de registos do seu
desempenho no jogo, ou através de escalas de apreciação sobre o grau de
consecução dos objetivos estabelecidos para as formas básicas de jogo e
para as formas parciais de jogo. No quadro 2 apresentamos a ficha de
avaliação do jogo relativa à FBJ 1.
Quadro 2. Ficha de avaliação da forma básica de jogo 1 – 3x3 em ½ campo
Sempre Nem sempre Raramente Nunca
O atacante
++ + - --
1: Mantém a posse de bola,
passando e recebendo a duas
mãos.
2: Mantém a posse de bola,
estabelecendo contato visual
entre passador e recetor.
3: Obtém mais tempo para
tomar decisões quando para à
receção de bola.
4: mantém a posse de bola à
receção e roda os pés para o
cesto.
5: Cria uma situação de
vantagem ao mover-se na
direção do cesto após passar a
bola.
6: Empreende uma iniciativa
individual na direção do cesto,
se o caminho estiver aberto.
7: Escolhe uma posição de
modo a ajudar o colega em
posse de bola.
8: Escolhe uma posição no
campo tomando por
referência as posições do
ataque.
Jogadores não estão a realizar iniciativas Jogadores realizam uma ação individual
individuais, porque não conseguem superar o superando o defensor numa entrada em linha
defensor reta para o cesto.
Jogadores não se estão a posicionar no ataque Jogadores quando não são portadores da bola,
posicionam-se em função das posições do
ataque de modo a manterem um afastamento
equilibrado entre os atacantes.
Quando são possuidores da bola, recorrem ao
drible para se afastarem dos cantos e se
reposicionarem no ataque.
Jogadores não se estão a desmarcar Jogadores conseguem abrir linhas de passe,
ganhando espaço quando estão marcados por
um defensor numa posição de ataque.
Objetivos relacionados com a finalização
Para finalizar, o fundamental será que o aluno aprenda a decidir quando o
deve fazer através de lançamento em apoio ou em lançamento na passada
após drible. O jogador atacante deve aprender que, quando consegue
conquistar espaço livre para o cesto, deve finalizar com um lançamento na
passada após drible, por ser uma forma mais rápida de se aproximar do
cesto e lançar. Assim, a aprendizagem do lançamento na passada após
drible deverá merecer agora uma atenção especial, deixando para uma fase
posterior o lançamento na passada após passe por ser mais difícil do ponto
de vista coordenativo. Os problemas relacionados com a finalização situam-
se em primeiro lugar ao nível da tomada de decisão e depois ao nível da
execução. Dado que o jogo só por si não oferece oportunidades bastantes
para exercitar o lançamento na passada após drible, o professor introduz
uma forma parcial de jogo que proporcione tempo e espaço para o jogador
decidir e executar esta habilidade. Numa situação de 2x1, 3x1 (demasiado
fácil) ou 3x2, restringindo a ação da defesa a uma zona afastada do cesto
(ex. defender somente acima do prolongamento da linha de lance-livre), os
atacantes tentam marcar o maior número de pontos. Se receberem fora da
área restritiva, sempre que possível finalizam através de lançamento na
passada após drible. Se receberem dentro da área restritiva tentam finalizar
em lançamento em apoio. De modo a enfatizar a eficiência na execução do
movimento, ou a proporcionar experiências de sucesso a alunos com mais
dificuldade nos contextos de jogo, o professor introduz as tarefas baseadas
no jogo relacionadas com a finalização em lançamento na passada após
drible, dando atenção ao arranque sem cometer passos, a sequência correta
dos apoios, de acordo com a mão que lança (lançamento com a mão direita:
apoios direito-esquerdo; lançamento com a mão esquerda: apoios
esquerdo-direito); o tamanho de cada passada (primeira longa, segunda
curta); salto mais na vertical, com subida do joelho do lado da mão que
lança no ato de lançamento; proteção da bola na pega e elevação da bola
com as duas mãos até à posição final de lançamento; lançamento a uma
mão, usando a tabela (ângulo de 45°).
Objetivos relacionados com a criação de oportunidades de finalização
Na FBJ 2 deveremos estimular mais incisivamente a iniciativa individual de
penetração em drible para o cesto como forma de criar oportunidades de
finalização. Para além de consolidar a combinação de ação com um colega
de equipa (ver e passar a um colega desmarcado perto do cesto; passar e
cortar para o cesto), o jogador atacante com bola deverá aprender a ler
quando e onde pode ultrapassar em drible o seu defensor direto.
Consequentemente, para ter sucesso, é fundamental iniciar o drible sem
cometer passos e proteger a bola, driblando com a mão mais afastada do
defensor. Além disso, o jogador deve aprender a não perder o espaço
conquistado através da entrada em linha reta para o cesto (jogo direto). Os
objetivos relacionados com a criação de oportunidades de finalização serão
primeiramente visados dentro da prática da forma básica de jogo e depois
exercitados num contexto mais facilitado de 2x1 ou 3x2, mas agora sem
qualquer restrição especial à ação dos defensores. Por sua vez as tarefas
baseadas no jogo incidirão sobre a rotação tendo em conta a posição de um
defensor (colaborante); arranque em drible sem cometer passos (não
levantar o pé-eixo antes de a bola sair da mão); drible com a mão mais
afastada do defensor; seguir uma trajetória direta para o cesto; lançamento
na passada.
Avaliação da Aprendizagem
A avaliação da FBJ 2, à semelhança da anterior, considera a evolução dos
alunos nos domínios cognitivo, motor e sócio-afetivo, corporizada no
desenvolvimento da competência nos papéis de jogador, treinador e
árbitro. A avaliação da competência como jogador é realizada através da
apreciação do desempenho dos alunos no jogo, usando escalas de
apreciação relativas ao cumprimento dos objetivos estabelecidos para as
formas básicas de jogo e para as formas parciais de jogo. No quadro 4
apresentamos a ficha de avaliação do jogo relativa à FBJ 2.
Avaliação da Aprendizagem
A avaliação da aprendizagem contempla os diversos domínios da
aprendizagem e as esferas de competência nos jogos de invasão,
nomeadamente as competências (1) como árbitro (conhecem, identificam e
assinalam as seguintes faltas e violações às regras: falta por contacto físico;
passos no arranque em drible e nas paragens; bola fora e reposição da bola
em jogo pela linha de fundo ou linha lateral, dois dribles, tempo excessivo
na área de 3 segundos), (2) como treinador (observam, avaliam e corrigem
as falhas na aplicação dos princípios e regras de ação abordados na
instrução. Por exemplo: um jogador ficou parado e não abriu uma linha de
passe para saída do contra-ataque, quando o colega ganhou o ressalto), e
muito especialmente (3) como jogador (nos papéis de atacante com bola,
atacante sem bola e defensor). A avaliação da competência como jogador é
realizada com base numa ficha de observação que inclui os
comportamentos essenciais preconizados para o jogo na FBJ 4 (quadro 8).
Quadro 8. Ficha de avaliação da Forma Básica de jogo 4 - 3x3 a campo inteiro
Sempre Nem sempre Raramente Nunca
O atacante:
++ + - --
1: Quando ganha o ressalto ou
interceta a bola, decide
rapidamente entre realizar um
passe de saída ou driblar em
direção ao cesto adversário
2: Como não portador da bola
reage à ação do portador da bola
de modo a fazer avançar a bola
rapidamente para a área
adversária
3: Como portador da bola, toma
em consideração a posição dos
defensores
4: Como não portador da bola
toma em consideração a posição
dos defensores
5: Como não portador da bola,
toma em consideração a ação do
portador da bola
6: Reposiciona-se nas posições
do ataque, se o contra-ataque não
puder ser concluído com sucesso
7: Defende entre o atacante
direto e o cesto
- Quem faz passe não penetrante (passe em que a bola se afasta do cesto no
sentido da sua profundidade), corta identificando a mão alvo e regressa
para o mesmo lado onde estava;
- Quem repõe (corte em “v”) e não tendo linha de passe deve contar até 3 e
cortar como se tivesse passado – corte à sobremarcação.
Fig. 6. Exemplo de
Fig. 4. Exemplo de Fig. 5. Exemplo de
movimentação após
movimentação após movimentação após
passe não penetrante
passe não penetrante passe não penetrante
3-4
5.8. Conclusão
5.9. Bibliografia
21O modelo de jogo, também designado por modelo de jogo ideal (Pinto & Garganta, 1989), consiste
num conjunto de referências táticas transversais a várias culturas, que traduzem, em síntese, as
tendências do futebol jogado ao mais alto nível. Por seu turno, a conceção de jogo, igualmente
denominada de modelo de jogo adaptado, corresponde à forma de conceber um modo de jogar para
uma equipa em concreto. Portanto, a conceção de jogo é influenciada pelo modelo de jogo ideal e,
simultaneamente, condicionada por vários constrangimentos, tais como a cultura e a história do
clube/cidade/país, as características e objetivos delineados para a equipa e para os jogadores, as
condições materiais e humanas disponíveis e a política de contratações, entre outros.
acontecimentos que se sucedem em cascata, as equipas coevoluem
continuamente, codeterminando as respetivas adaptações.
Diga-se, no entanto, que embora o comportamento dos jogadores não seja
completamente previsível, também não é tão imponderável quanto o
lançamento de dados. De facto, é possível detetar, conhecer e categorizar
situações que podem, com maior probabilidade, conduzir à concretização
de determinados objetivos do jogo. Contudo, convém estar ciente que se
está em presença de um território de possíveis previsíveis, no qual não se
afigura viável estandardizar e controlar as sequências de ação que fazem
parte do jogo, dado que numa determinada situação as possibilidades de
ação são inúmeras (Garganta, 2005).
Portanto, faz sentido que a apreensão da lógica do jogo seja efetuada da
consequência para a causa, isto é, partindo do jogo para as habilidades e
não das habilidades para o jogo. Tal permite conduzir a uma educação da
atenção e do entendimento para jogar em ambientes de baixa
previsibilidade, ao mesmo tempo que se aprende a eleger os meios técnicos
mais adequados para dar respostas às situações-problema que vão sendo
engendradas em interação com o envolvimento.
A premência de gerir vários constrangimentos pouco previsíveis confere
relevância à necessidade de as equipas desenvolverem uma “aprendizagem
organizacional”, ou seja, um processo durante o qual grupos e indivíduos,
rápida e criativamente aprendem a governar as alterações do envolvimento
e a delas retirar proveito (Muller & Watts, 1993). Esta ideia de “organização
que aprende” assenta em conceitos e práticas que promovem redes auto-
otimizadoras e auto-organizadoras (Strauss et al., 2001), que se tornam
fundamentais para que os atores se sintonizem de modo a melhor lidarem
com os constrangimentos inerentes à ação (Marsch et al., 2006).
Neste quadro, as equipas, entendidas como organizações, adaptam-se a
problemas e oportunidades que assomam no envolvimento, adequando
estratégias, decisões e comportamentos. Das interações emerge um padrão
total, estrutura ou organização que não é simplesmente uma agregação de
ações individuais, mas um processo com caraterísticas únicas que os
indivíduos isoladamente não possuem (Drazin & Sandelands, 1994).
Por isso, a gestão da adaptação das equipas aos cenários de treino e de jogo
é consubstanciada, em grande parte, pelo desenvolvimento de uma “cultura
para jogar”, que se traduz num estado dinâmico de prontidão coletiva, com
referência a princípios e regras de ação (Garganta, 2008). Tal faz com que o
processo de ensino e treino adquira uma importância essencial, de modo a
conduzir à construção de um projeto coletivo de jogo que afete
positivamente as múltiplas dimensões e escalas de organização,
sobrecondicionando a dinâmica do sistema e configurando a
correspondente identidade.
Na perspetiva de Duarte et al. (2012), a otimização da performance coletiva,
no âmbito dos jogos desportivos, implica uma criteriosa divisão do trabalho
entre os jogadores intervenientes (e.g., recuperação de bola por um jogador
para imediatamente a seguir ser outro a dar continuidade ao ataque), bem
como a existência de canais de comunicação intragrupo (e.g., permite a
circulação de bola, ou a troca defensiva quando o colega de equipa defesa
lateral é ultrapassado). Para além disso, reclama uma cooperação altruísta
(e.g., em situação de finalização, o portador da bola opta por passar para um
colega melhor posicionado em detrimento de tentar o golo).
Uma equipa de Futebol pode ser entendida como um superorganismo cujo
comportamento emerge a partir das sinergias que ocorrem entre as partes
constituintes, sendo que estas se orientam para finalidades convergentes
que favorecem a identidade e a integridade do organismo como um todo.
Trata-se, portanto, de um coletivo auto-organizado capaz de gerar uma
identidade emergente e em que a relação entre a perceção e a ação dos seus
constituintes, i.e., entre si e destes com o envolvimento, dá origem a um
organismo superior distinto e indecomponível (Marsh et al., 2006;
Hölldobler & Wilson 2009).
Katsikopoulos e King (2010) sustentam que, contrariamente a tentativas
individuais e isoladas, a informação combinada entre os jogadores de uma
equipa permite, através de processos de interação, encontrar soluções com
maior eficácia para problemas que surgem no decorrer do jogo. Este
mecanismo reflete uma inteligência coletiva que decorre de sinergias que
tendem a originar uma entidade social única que propicia ao sistema-
equipa a descoberta de novas soluções que permitam ultrapassar os
constrangimentos em cada situação de jogo (Duarte et al., 2012).
Uma equipa, entendida como superorganismo, carateriza-se pelo facto de as
relações de cooperação entre os jogadores que a constituem tenderem a
gerar harmonia nas decisões, agindo para evitar que o adversário provoque
desvios no rumo que o sistema toma como prioritário. As equipas são assim
organismos com funcionalidade de ordem superior que aprendem e se
auto-organizam, governando-se por uma inteligência coletiva cujo
desenvolvimento depende da diversidade do grupo e da especialização dos
indivíduos que o compõem (Katsikopoulos & King, 2010).
Portanto, apesar de as equipas possuírem anatomias e fisionomias que se
vão metamorfoseando à medida que o jogo é urdido (Garganta, 2007), sob a
influência de múltiplos constrangimentos elas tendem a adotar
comportamentos preferenciais. Embora o jogo integre várias transições de
fase entre estados de equilíbrio e quebras do equilíbrio tático, as respetivas
fases e momentos (ataque, defesa, alternância de posse de bola) obedecem,
por vezes, a um processo de mudança gradual cuja separação não é levada a
cabo por linhas de demarcação súbitas ou bruscas, mas por se dissiparem
ou diluírem uns nos outros, em gradações pouco percetíveis. Aliás, como
refere Ball (2009), conquanto se associe a ordem e os padrões à simetria e a
aleatoriedade à sua ausência, talvez a aleatoriedade tenha o seu próprio
tipo de simetria.
As equipas, enquanto sistemas complexos adaptáveis, revelam
caraterísticas ou propriedades que importa conhecer, de modo a facultar o
desenvolvimento de um processo de ensino e treino mais específico, e,
portanto, mais ajustado às exigências da modalidade e às caraterísticas dos
diferentes modelos de jogo e dos jogadores que os procuram interpretar.
Três dessas propriedades têm claras implicações no mapeamento das ideias
e na operacionalização das estratégias para jogar, condicionando a
construção e aplicação de exercícios através dos quais se procura
implementar uma cultura de jogo. São elas, a não-linearidade, a
interdependência e a emergência (Garganta, 2005).
A não-linearidade está relacionada com o facto da identidade dos sistemas
em jogo não resultar de uma sobreposição de efeitos ou de
comportamentos elementares.
Por exemplo, não raramente subsiste a ideia de que para se conseguir
eficácia do ponto de vista ofensivo no Futebol é aconselhável jogar-se
rápida e diretamente a bola na direção da baliza adversária, tentando
atingi-la o mais depressa possível. Contudo, pode constatar-se que em
grande parte das vezes se consegue maior eficácia quando se opta por
caminhos que, embora teoricamente mais demoradas, se tornam mais
acessíveis por não apresentarem tantos, nem tão difíceis, obstáculos. O mais
importante não é, portanto, a distância métrica, mas a dificuldade que se
experimenta para vencê-la, até se chegar à baliza adversária.
A interdependência é uma propriedade que faz com que qualquer
comportamento de um dos elementos dos sistemas tenha repercussões no
comportamento dos demais.
Por exemplo, o tipo de organização defensiva adotado por uma equipa pode
ser determinante para a forma como esta ataca a baliza adversária e para o
resultado final. Uma das vantagens das equipas eficazes, quando não têm a
posse da bola, é a permanência duma estrutura dinâmica, em equilíbrio,
aspeto que garante a coordenação dos jogadores e o funcionamento em
bloco.
Conseguir uma defesa mais equilibrada, mais eficaz, que permita tirar
melhor partido das mais-valias do conjunto, tem a ver com o facto de os
jogadores não estarem focados em fazer a marcação a pontos físicos ou a
jogadores tomados individualmente, mas na marcação de espaços e da bola.
A emergência decorre da produção de propriedades coletivas
qualitativamente diferentes das competências e atribuições de cada
jogador.
De acordo com os princípios de jogo, quando uma equipa perde a posse da
bola deve procurar encurtar o espaço de jogo efetivo22, de modo a retirar
espaço, tempo e iniciativa ao adversário; pelo contrário, a equipa adversária
tende a ampliar o espaço de jogo e garantir fluidez, continuidade das ações,
para poder circular a bola e criar espaços favoráveis para marcar golo.
Assim sendo, a redução ou ampliação do campo de jogo é contingente e
virtual, dado que não se processa através de uma manipulação efetiva das
medidas físicas do terreno de jogo. Trata-se de artifícios usados à custa das
movimentações e dos posicionamentos, ora buscando um aumento de
densidade de jogadores nos espaços próximos da bola, aquando da fase
defensiva, ora procurando um afastamento dos mesmos durante a fase
ofensiva.
Quer isto dizer que comportamentos aparentemente individuais podem
induzir a realização de coberturas defensivas e o fechamento das linhas de
22Superfície poligonal configurada a partir das linhas que unem os jogadores que se encontram no
interior do espaço de jogo regulamentar, situados, num instante t, na periferia do espaço ocupado
pelas equipas que se defrontam, excluindo os guarda-redes (Mérand, 1976; Buono & Jade, 1977).
passe mais importantes, o equilíbrio e a concentração espacial, criando-se
uma dinâmica emergente que sirva os propósitos da organização coletiva.
Por exemplo, um dos pressupostos para se jogar eficazmente está
intimamente relacionado com o primeiro tempo defensivo, i.e., o momento
imediatamente subsequente à perda da posse de bola. Neste caso, torna-se
conveniente dispor de um ou dois jogadores que, estando mais próximos do
local onde se perdeu a posse da bola, consigam uma reação forte à perda,
sustendo o ataque do adversário e permitindo um reagrupamento dos
colegas.
OPOSIÇÃO Recuo
Equilíbrio
Avanço
Desequilíbrio ordem/desordem
Ataque Defesa
Recuperação da posse de
bola
Transição Defesa-Ataque
Penetração Contenção
Mobilidade Equilíbrio
Espaço Concentração
27As organizações, como é o caso de uma equipa de Futebol, evidenciam duas dimensões distintas
que, no entanto, interagem permanentemente: a dimensão estrutural e a dimensão funcional. A
dimensão estrutural diz respeito à configuração inicial que a equipa apresenta, isto é, à distribuição
posicional dos jogadores pelo espaço de jogo. A dimensão funcional reporta-se às funções que os
jogadores desempenham e às interações que estabelecem na respectiva dimensão estrutural. Deve-
se salientar que diferentes equipas, embora assumindo uma mesma organização estrutural, podem
evidenciar organizações funcionais diferentes. Todavia, sobretudo em níveis de jogo não muito
evoluídos, podem encontrar-se funcionalidades comuns, em consequência dos posicionamentos e
espaços ocupados serem os mesmos. Por essa razão, às diferentes configurações de jogo (...3x3;
4x4; 5x5;...) atribuímos a denominação de estruturas funcionais.
jogadores para garantirem a continuidade do jogo, podem, paradoxalmente,
apresentar maior grau de dificuldade do que organizações estruturais mais
complexas, que não estejam tão dependentes da proficiência técnica dos
praticantes.
A estrutura (Gr+1)x(1+Gr), teoricamente a estrutura menos complexa que
os exercícios competitivos do jogo de futebol podem assumir, é um bom
exemplo do que acabamos de referir. Nesta situação, solicita-se ao atacante
que progrida para marcar golo, conduzindo a bola, protegendo-a, driblando
o adversário e rematando de forma eficaz. Por sua vez, ao defensor, pede-se
que evite que o adversário progrida, o ultrapasse e marque golo, devendo
para tal posicionar-se entre o portador da bola e a baliza, assumindo uma
atitude cada vez mais agressiva à medida que o atacante se aproxima da sua
baliza, esperar o momento correto para recuperar a bola e direcionar o
atacante para uma das faixas laterais. A questão que se coloca é a de saber
se o jogador que apresenta limitações técnicas que o impedem de
relacionar-se eficazmente com a bola, de a conduzir de forma controlada e
de driblar com sucesso, tem possibilidades de obter êxito nessas ações,
permitindo que o jogo flua. Estamos convencidos e conscientes de que a
resposta a esta questão é negativa. Embora se reconheça que a estrutura
(Gr+1)x(1+Gr) apresenta baixa complexidade, o grau de dificuldade das
ações/habilidades técnicas a ela associada limita a fluidez do jogo e as
possibilidades de êxito do jogador.
Coloca-se assim o problema de tentar perceber como se articula esta
relação entre complexidade e dificuldade das situações. A experiência e
reflexão acumuladas levam-nos a admitir que a estrutura funcional 1-4-3-3
(Figura 3) é a que melhor parece adequar-se ao ensino do jogo Futebol de
11 a jovens jogadores com baixos níveis de técnica e modesto entendimento
do jogo. Esta estrutura funcional permite uma racional e equilibrada
ocupação do espaço de jogo, o que facilita a compreensão da organização
posicional e funcional, individual e coletiva.
Fig. 3. Estrutura 1-4-3-3 em organização ofensiva
Para que haja uma certa fluidez durante o jogo de futebol, quando em
organização ofensiva, é importante que os jogadores se posicionem em
diagonais uns em relação aos outros, de forma a facilitarem a ocorrência
permanente de passes para manutenção e progressão da bola. Se os
jogadores se posicionarem sobre a mesma linha, em profundidade28, o
passe tem baixa probabilidade de sucesso, dada a possibilidade de
intervenção do adversário, que se encontra posicionado entre a bola e a
baliza (Figura 4). Por outro lado, se os jogadores estiverem posicionados na
mesma linha em largura29, a possibilidade de interceção está também
facilitada, o que se constitui como uma ameaça para respetiva equipa
(Figura 5). A interceção está facilitada porque, frequentemente, existem
adversários entre o passador e o recetor, embora numa linha em largura
mais recuada. Assim, no caso de haver interceção, os dois jogadores ficam
de imediato ultrapassados, o que origina uma desvantagem posicional
28 Considera-se “linhas em profundidade”, as linhas paralelas às linhas laterais que unem as linhas
de baliza e passam pelos pontos em que os jogadores se encontram (Figura 4).
29 Considera-se “linhas em largura”, as linhas paralelas às linhas de baliza, que unem as linhas
Esta estrutura:
• possibilita que os jogadores estejam distribuídos no espaço de jogo de
forma racional e equilibrada;
• apresenta os jogadores distribuídos por três setores – defensivo,
intermédio e atacante – tal como acontece no jogo formal, o que facilita
as aprendizagens posicionais e funcionais das diferentes tarefas
específicas que o jogo formal requisita;
• disponibiliza três corredores – um central e dois laterais – tal como
ocorre no jogo formal (11x11). Tal afigura-se importante para se
compreender as distintas dinâmicas geradas nos diferentes corredores;
• posiciona os jogadores em losango, evidenciado diagonais entre eles
que, como atrás referimos, é algo que promove a organização e a fluidez
nas fases ofensiva e defensiva do jogo;
• permite a aplicação de todos os princípios específicos de jogo, tanto
num nível de jogo elementar como em etapas mais evoluídas.
Tática Individual
Fig. 11. Níveis de organização a considerar nas diferentes fases e momentos do jogo de
Futebol
(2) Repetir sem repetir, isto é, exercitar ações e princípios idênticos, mas
de formas distintas e em contextos diferenciados, para promover uma
“alfabetização motora” que permita lidar eficazmente com as múltiplas
facetas que emergem no jogo.
Entendemos que para se conseguir um desenvolvimento apropriado para a
prática do Futebol há que tomar em consideração alguns constrangimentos
nucleares da tarefa, quando se delineia e operacionaliza os exercícios,
nomeadamente:
• Presença de adversários (oposição);
• Reversibilidade da ação (ataque/defesa; defesa/ataque);
• Finalização (com diferentes regras de ação, diferente número e
posição das balizas, etc.);
• Multifuncionalidade (solicitação de diferentes partes do corpo,
diferentes posições e funções, recurso a manipulação de diferentes
constrangimentos, e.g., número de jogadores, tamanho das balizas,
dimensões do espaço de jogo, etc.);
• Exercitação de situações sempre que possível de forma lúdica,
evitando a monotonia do exercício.
30Neste contexto, é pertinente convocar o conceito de fractal. Um fractal tem sempre o mesmo
aspeto, seja olhado de longe ou de perto: ele é autossemelhante, o que equivale a dizer que cada
subsistema de um sistema fractal é equivalente ao sistema no seu todo (Sardar & Abrams, 2001).
Neste contexto há que conceder particular relevância aos jogos reduzidos.
Reduzidas no tamanho do terreno, no número de jogadores e na
complexidade, mas ampliados no que respeita aos efeitos produzidos, estas
formas constituem autênticos concentrados de habilidades e competências
vitais para jogar e, por isso, constituem ferramentas imprescindíveis para
induzir o desenvolvimento dos comportamentos tático-técnicos dos
jogadores e da sua atitude competitiva.
De facto, através destas formas de jogo pode criar-se múltiplas disposições
que dependem do modo como se combinam diferentes variáveis, como por
exemplo, o número de jogadores, a área de jogo, a dimensão das balizas e o
número de jogadores em jogo.
A manipulação destas e de outras “variáveis de evolução”, de forma isolada
ou em interação, permite induzir diferentes efeitos de prática em função
das ideias de jogo que se pretende ver consumadas (Quadro 4).
Legenda
Nível Básico
Descrição / Organização Conteúdos Comportamentos
desejados
1. Jogo 1x1 com várias balizas. O jogador em posse de bola Controlo e Atacante: não
tenta marcar golo numa das três balizas do adversário, condução da perder o
controlo da
passando com a bola controlada pela linha de baliza. O bola. bola durante a
jogador sem bola defende as respetivas balizas. Penetração. respetiva
Posicionamento condução;
defensivo e orientar a
Contenção. condução da
bola para a
baliza mais
adequada, em
função do
posicionamento
do defensor.
Defensor: deve
colocar-se entre
o atacante a
bola e a baliza.
3. Jogo 2x2 em que 1 jogador da equipa que defende assume Condução da Atacante com
a posição de guarda-redes. Criam-se situações de 2x(1+GR). bola, passe e bola: progredir
remate. na direção da
Penetração e baliza
cobertura adversária.
ofensiva. Atacante sem
Contenção. bola: efetuar
cobertura
ofensiva ao
colega.
Defensor:
impedir o
adversário com
bola de
progredir em
direção à baliza.
Nível Elementar
4. Jogo (Gr+2)x(2+Gr) + 2 apoios, transformando-se em Penetração e Atacantes: criar
situações de (Gr+4)x(2+Gr) cobertura situações de
ofensiva. superioridade
Contenção e numérica
cobertura aproveitando
defensiva. os jogadores de
campo que têm
a mais
Defensores:
coordenar as
ações de modo
a impedirem a
progressão e a
finalização por
parte dos
atacantes.
5. Jogo 3x3 em que um jogador da equipa que defende Penetração e Atacantes: criar
assume a posição de guarda-redes. Criam-se situações de cobertura situações de
3x(2+Gr). ofensiva. superioridade
Contenção e numérica
cobertura aproveitando o
defensiva jogador de
campo que têm
a mais.
Defensores:
coordenar as
ações de modo
a impedirem a
progressão e a
finalização por
parte dos
atacantes.
Nível de Especialização
O jogo de Futebol consiste numa disputa pelo espaço, pelo tempo e pela
posse da bola, entre duas equipas que se dispõem e movimentam de forma
intencional no terreno de jogo, com o objetivo de marcar golo na baliza
adversária e evitar sofrer golo na própria baliza.
Desta feita, oposição e cooperação constituem tarefas básicas reversíveis,
quer quando a equipa tem a bola em seu poder quer quando a não tem,
sendo que a eficácia dos jogadores e das equipas não depende apenas da
estreita adequação do respetivo comportamento às sucessivas mutações
dos cenários de jogo, mas está em grande parte relacionada com a respetiva
capacidade para provocarem, no quadro do jogo, mudanças que lhes sejam
vantajosas.
Dado que, num jogo de Futebol, a opção por certas ações depende da forma
como este se vai jogando, a tática representa uma forma de agir interativa,
isto é, um modo de influenciar os comportamentos dos demais elementos
em jogo. Daqui se depreende que o ato de jogar reclama uma elevada
versatilidade de intenções e ações, que implicam não o jogador, tomado
individualmente, mas a interação deste com diferentes constrangimentos,
e.g., companheiros, adversários, bola e balizas.
Com o intuito de materializarem as suas ações, os praticantes recorrem a
diversas e complementares habilidades percetivas, decisionais e motoras.
Neste quadro, admitimos que aprender a jogar Futebol, é aprender a saber-
ver, a saber-decidir e a saber organizar-se no espaço e no tempo, individual
e coletivamente, num todo coerente que permita agir eficazmente em
contextos que se alteram permanentemente.
Temos vindo a afirmar que o jogo de Futebol se joga com ideias e, por isso,
aqui reiteramos a necessidade de se cultivar conceitos que suportem e
enquadrem os modos de agir dos praticantes. Ou seja, em primeira e última
instância trata-se de desenvolver a inteligência através do jogo e para o
jogo.
Dizem os neurocientistas que, tal como os músculos do nosso corpo, se a
inteligência não for estimulada atrofia. Todavia, no ensino e treino do
Futebol, se não formos capazes de estimular os músculos de modo
inteligente, isto é, para servirem ideias e intenções, é também o próprio
jogo que definha.
6.7. Bibliografia
7.1. Introdução
O Futsal, ao longo dos últimos anos, tem-se revelado, aos níveis nacional e
internacional, uma modalidade em franca expansão. Tal facto fica a dever-se
não apenas ao crescimento massivo do número de praticantes masculinos e
femininos, mas também à adesão cada vez mais significativa do público a
esta modalidade.
Este desenvolvimento permitiu ao Futsal, num curto espaço de tempo,
evidenciar duas caraterísticas importantes para a sua afirmação: passar a
ser um dos jogos desportivos coletivos mais praticados; e, em virtude desse
destaque, ter a possibilidade de se emancipar definitivamente do Futebol
enquanto modalidade desportiva. Atualmente, o Futsal já não é mais visto
como uma variante do Futebol, mas como uma modalidade com
caraterísticas e especificidades próprias.
Este último pressuposto permitiu que o Futsal criasse uma identidade.
Todavia, devido ao seu estado de desenvolvimento ainda embrionário, as
respetivas reflexões e estudos ainda escasseiam.
O presente texto pretende apresentar os principais fundamentos para a
compreensão do jogo e respetiva evolução, assim como expor uma proposta
para direcionar o ensino desta modalidade.
7.2. Organização do Jogo de Futsal
O Futsal, pela sua ainda curta existência e simultânea adesão massiva, tem
passado por fases de grande irreverência conceptual. Esse contexto se, por
um lado, é positivo porque promove uma dinâmica importante para a sua
necessária e desejável emancipação e evolução, por outro lado, por vezes
torna-se negativo porque não permite discernir o que de positivo se pode
extrair, através de analogias, com outras modalidades cujas culturas
desportiva e organizativa estão mais desenvolvidas.
Apesar das grandes diferenças estruturais e funcionais entre as diferentes
modalidades, importa ter em consideração as similitudes que suportam os
conhecimentos no plano organizacional tático do jogo. Desta forma, tal
como em outros jogos desportivos coletivos, somos da opinião que a
organização do jogo de Futsal pode ser perspetivada segundo dois níveis,
um estrutural e outro funcional, que devem, contudo, estar em permanente
interação.
A organização estrutural, também denominada na literatura por sistema de
jogo, relaciona-se com a disposição inicial dos jogadores em campo
(Guilherme, 2004). No Futsal, são várias as organizações estruturais que
podem ser assumidas pelas equipas. Todavia, atualmente, as mais utilizadas
são as denominadas de “1-3-1” e de “1-4-0”. Porém, em circunstâncias
específicas, o “1-2-2” também se apresenta como uma alternativa a
considerar.
A organização funcional está relacionada com a dinâmica que os jogadores e
a equipa conseguem imprimir à organização estrutural. Assim, a
organização funcional assume-se como um conjunto de padrões de ação
específicos dessa equipa em interação, que fazem emergir uma
determinada forma de jogar, manifestando-se como princípios de jogo
específicos dessa equipa (Guilherme, 2004).
Tendo em consideração o referido, é importante salientar que, no Futsal,
quando se opta por jogar com determinada organização estrutural, a
dinâmica coletiva assume caraterísticas próprias, embora variem de equipa
para equipa, em função dos princípios de jogo que os respetivos treinadores
preconizam.
7.2.1. Organização Estrutural “1-3-1”
A “1-3-1” (Figura 1) é a organização estrutural mais utilizada no jogo de
Futsal (Cid & Gutierrez, 2002; Voser, 2001) e surge como o resultado de
décadas de experiências levadas a cabo por diversos treinadores em
diferentes países (Sampedro, 1997). Esta caracteriza-se, para além da
posição habitual do “Guarda-redes”, pelo posicionamento mais recuado de
um jogador na zona central, denominado de “Fixo”, dois jogadores em
posição intermédia, colocados nas zonas laterais do campo, os chamados
“Alas”, e, pela colocação de um quinto jogador mais adiantado, posicionado
na zona central, apelidado de “Pivô”.
No jogo de elite, o “1-2-2” é uma estrutura que vem caindo em desuso, posto
que neste nível de desempenho, uma organização com tais caraterísticas
promove grande aglomeração nas zonas de finalização, não sendo positivo
para a equipa que ataca. Outra particularidade prende-se com o facto do
portador da bola dispor apenas de um apoio para possível passe, o que no
Futsal de alto nível é manifestamente pouco para se poder fomentar a
mobilidade necessária para se criar a fluidez e a qualidade de jogo
pretendidas.
Pontualmente, em situações muito específicas, ainda se utiliza esta
estrutura, dependendo das caraterísticas dos jogadores e, também, da
forma de jogar do adversário, quando existe a necessidade de assumir
situações de risco. São essencialmente duas as situações onde se verifica a
adoção de estruturas ofensivas em “1-2-2”: (i) quando a equipa adversária
assume uma organização defensiva extremamente densa, num espaço
muito próximo da sua baliza; e (ii) quando se pretende assumir riscos
ofensivos com o posicionamento de dois pivôs muito próximos da baliza
adversária, com a finalidade de aumentar o potencial de finalização.
Como evolução desta última opção, começou a surgir o guarda-redes, como
apoio central aos dois jogadores mais recuados e coordenador da
organização ofensiva, desenvolvendo-se a estrutura de “3-2” e
posteriormente a de “2-1-2” (Figura 4). A utilização destas variantes fez
aumentar o risco assumido, em virtude do guarda-redes estar a jogar
bastante adiantado, na zona do meio-campo, e qualquer perda de bola ou
erro aumentar a probabilidade de sofrer um golo. Não obstante, também
permitiu amplificar consideravelmente a produtividade ofensiva, porque,
por um lado, estas estruturas conseguem criar superioridade numérica
entre os jogadores de campo de ambas as equipas. Por outro lado, o
aumento do número de jogadores (passam a ser três) numa zona mais
recuada do terreno, possibilita um maior controlo e promove maior
variabilidade do jogo ofensivo, permitindo construir mais e melhores
situações de golo.
Fig. 12. Jogo (2+Gr)x(Gr+2) – fintar o Fig. 13. Jogo (2+Gr)x(Gr+2) – passar a bola
adversário direto ao adversário e desmarcar-se
Nível Básico
O nível básico manifesta-se, fundamentalmente, pelo rudimentar
relacionamento com a bola.
A existência de grandes dificuldades na execução das diferentes ações
técnicas induz problemas no cumprimento e no entendimento do objetivo
do jogo e, em alguns casos, no envolvimento e participação nesse mesmo
jogo. Face a estas premissas, a organização posicional e funcional é residual,
tornando o jogo num conjunto de ações individuais sem sequência coletiva
intencional.
A bola não é só o objeto como também é o objetivo do jogo, o que faz
emergir duas caraterísticas peculiares deste nível de jogo. A primeira,
prende-se com a constante aglomeração dos diferentes jogadores em torno
da bola, fazendo com que o jogo tenha uma configuração essencialmente
individual e desorganizada. A segunda reporta-se à ausência de consciência
do objetivo primeiro do jogo, a marcação de golos.
De facto, tudo funciona em torno do espaço físico da bola e desta forma, este
nível caracteriza-se por uma ausência de entendimento do jogo e por
debilidades técnicas que não permitem uma sequência desse mesmo jogo,
tanto nos planos individual como coletivo.
Nível Elementar
O nível elementar caracteriza-se pelo reconhecimento, por parte dos
diferentes jogadores, do objetivo do jogo e por um relacionamento com a
bola que permite, com regularidade, uma sequência de jogo tanto no plano
individual como coletivo. Contudo, ainda evidenciam frequentes erros
técnicos não provocados, interrompendo as ações individuais e coletivas.
As caraterísticas referidas permitem o aparecimento de uma organização
posicional e funcional. Todavia, esses níveis de organização evidenciam-se
de forma muito simples, estática e individualizada. Isto é, deixa de ocorrer
uma evidente aglomeração em torno da bola, mas continua a verificar-se
uma individualização das ações por parte dos diferentes jogadores, em
detrimento da organização coletiva. As ações coletivas apenas são
realizadas quando se reconhece que as individuais não terão possibilidades
de êxito ou quando os benefícios são facilmente evidentes.
A noção de posição funde-se na noção de função e a estas duas noções
junta-se a diferenciação entre ter e não ter a posse da bola, passando, o
jogador, a assumir comportamentos posicionais e funcionais
dissemelhantes, estando a atacar ou a defender.
Pelo que acabamos de mencionar, pode-se considerar que este nível se
caracteriza pelo início do entendimento do jogo, enquanto jogo coletivo,
porém, ainda com manifestações individuais, mas com consciência de
posicionamentos e funcionalidades diferenciadas. Contudo, as noções de
organização, quer posicional quer funcional, referidas apenas se
manifestam quando o jogo apresenta uma estrutura simplificada.
Nível Intermédio
No nível intermédio a qualidade técnica dos jogadores já permite uma
fluidez no jogo que lhes garante, com frequência, uma sequência de ações
ininterrupta com cada vez menos erros não provocados.
Relativamente ao jogo, este nível evidencia-se pelo início da noção de
organização posicional das diferentes fases/momentos. Os jogadores
passam a ter consciência dos distintos posicionamentos estruturais e das
respetivas funções. A ocupação dos espaços, tanto defensivos como
ofensivos, passa a ser equilibrada e racional com as fases/momentos de
jogo.
A evolução do jogo passa pelo enquadramento coletivo que as ações
individuais começam a evidenciar. Desta forma, a dinâmica de jogo começa
a assumir-se pelas manifestações coletivas, embora simples, que o jogo
passa a ter e pelas ações individuais contextualizadas pelo coletivo.
O jogo passa definitivamente a ser entendido como um projeto coletivo em
que as ações individuais visam o benefício da equipa.
Nível de Especialização
O nível de especialização manifesta-se pelo facto de os jogadores
patentearem uma boa qualidade técnica contextualizada e uma organização
estrutural e funcional que lhes permite criar um jogo suportado por uma
dinâmica coletiva que emerge de padrões de ação referenciais.
Neste nível de jogo, os praticantes evidenciam, simultaneamente, duas
caraterísticas importantes: frequente e adequada mobilidade e equilíbrio
posicional permanente. A mobilidade é motivada pelas movimentações
específicas das diferentes posições e, também, pelos permanentes
movimentos de trocas posicionais – rotações – caraterísticas desta
modalidade. O equilíbrio posicional acontece porque os jogadores já são
capazes de diferenciar e assumir as distintas posições e as respetivas
funções, tanto a atacar como a defender.
O jogo torna-se realmente coletivo e com todos os pressupostos necessários
para que se possa partir para formas de jogar com organização estrutural e
funcional complexa.
Após esta identificação global dos diferentes níveis de desempenho, o
problema que se coloca é saber qual o caminho a traçar para formar
jogadores que consigam responder às exigências que os mais elevados
níveis de jogo colocam.
Como desenvolver jogadores com elevado potencial técnico e com um
elevado conhecimento específico do jogo, que permita que a equipa
evidencie uma eficaz organização nas diferentes fases e momentos?
Nível Básico
Neste nível de ensino, tendo em consideração as debilidades técnicas e a
escassa compreensão do jogo, sugerimos o desenvolvimento da relação com a
bola e a exposição de princípios táticos que possibilitem o entendimento dos
objetivos centrais do jogo, i.e., marcar golo na baliza adversária e evitar que o
façam na nossa.
Assim, a nível técnico, propomos exercícios que invoquem as diferentes
habilidades técnicas específicas, de forma a garantir a sustentabilidade do jogo.
Porém, a variabilidade e a competitividade não devem estar alienadas das
diferentes propostas apresentadas.
No domínio tático, defendemos que convém apresentar exercícios que
fomentem os princípios específicos ofensivos da penetração e da cobertura
ofensiva e o princípio específico defensivo da contenção. A penetração e
cobertura ofensiva surgem com o objetivo dos praticantes começarem a
perceber a verdadeira essência ofensiva do jogo, isto é, entenderem que o
objetivo primordial do jogo é progredir para marcar golo, em condução da bola
ou, em caso de impossibilidade, em passe para um colega. A contenção emerge
da necessidade de evitar que os adversários com bola cumpram com o objetivo
da penetração, ou seja, de marcar golo.
Quando os praticantes perceberem estes dois propósitos e adquirirem
competências técnicas para os aplicarem em situação de jogo estarão prontos
para acederem a outros patamares de envolvimento no jogo.
Exemplos de exercícios
Conteúdos Organização Esquema Comportamentos
desejados
Controlo e Grupos de três, Não perder o domínio da
condução da todos com bola, bola. Passar na baliza com
bola. tentam passar a bola controlada.
Penetração. com a bola Escolher o melhor
controlada as momento para passar.
balizas que têm
um defensor.
Nível Elementar
No segundo nível, pretende-se que exista sequência do desenvolvimento
técnico para que o jogo possa, cada vez mais, ter fluidez e dinâmica. A nível
tático, existem ainda algumas debilidades no entendimento do jogo, sobretudo
aos níveis das funções e dos posicionamentos dos jogadores que não intervêm
diretamente na bola. Como tal, neste nível, existem preocupações acrescidas
que recaem sobre os princípios de cobertura ofensiva e defensiva.
Relativamente à cobertura ofensiva, pretende-se apetrechar a equipa que ataca
com competências para dar continuidade ao jogo ofensivo. Isto é, os jogadores
da equipa que tem a bola devem aprender a apoiar o jogador com bola e,
consequentemente, darem continuidade ao jogo, ou seja, estamos a criar o
suporte para que o jogo seja efetivamente coletivo.
No que diz respeito à cobertura defensiva, também se pretende munir os
jogadores, que não estão a intervir diretamente com o portador da bola, de
conhecimentos que lhes permitam saber o que devem fazer para ajudar o
colega que está a realizar a contenção. Ou seja, estamos, em termos defensivos,
a criar os alicerces da organização defensiva coletiva.
Exemplos de exercícios
Comportamentos
Conteúdos Organização Esquema
desejados
Condução, 1x1 num espaço O atacante:
controlo de bola e delimitado. desequilibrar o
drible/finta. adversário direto
Posição defensiva ultrapassando-o.
e desarme O defensor: impedir
Penetração e a progressão do
contenção atacante.
Nível Intermédio
O terceiro nível de desempenho caracteriza-se pelo facto dos praticantes
apresentarem uma qualidade técnica que permite que o jogo evidencie
continuidade. A nível tático, os jogadores já sabem o que devem fazer, tanto em
organização defensiva como ofensiva, de modo a que a sequência do jogo seja
efetiva. Como tal, os objetivos fundamentais deste nível procuram fomentar a
dinâmica do jogo das equipas e dos respetivos praticantes. Para que essas
pretensões sejam alcançadas, existe um investimento no desenvolvimento
técnico, criado através de situações em que o tempo e o espaço para a execução
passe a ser substancialmente mais reduzido do que até então. Por sua vez, a
nível tático, introduz-se a apresentação dos princípios específicos ofensivos da
mobilidade e do espaço, os quais se assumem como fundamentos para a
dinâmica que caracteriza o jogo de Futsal. Em termos defensivos, contempla-se
os princípios do equilíbrio e da concentração, que serão as bases da
organização defensiva coletiva, essencialmente da defesa à zona.
A implementação destes princípios vai promover um aumento significativo da
qualidade de jogo, coletiva e individual.
Exemplos de exercícios
Comportamentos
Conteúdos Organização Esquema
desejados
Condução, Jogo Do atacante: procura
controlo de bola, (GR+1)x(1+GR) sistemática da
drible/finta e com 2 apoios na penetração, através
remate. linha de baliza. Os do recurso à finta, e da
Posição defensiva, apoios não podem finalização.
desarme e finalizar. Do defensor: impedir
interceção. a progressão e
Penetração e finalização do
contenção. atacante através do
desarme e da
interceção.
Nível de Especialização
No nível de especialização, os praticantes já patenteiam uma qualidade
técnica e tática que permite que o jogo evidencie uma boa organização e
dinâmica. Assim, neste nível, pretende-se aprimorar todos os princípios
específicos, defensivos e ofensivos, de forma a preparar os praticantes para
poderem assumir níveis de jogo de maior complexidade.
Exemplos de exercícios
Comportamentos
Conteúdos Organização Esquema
desejados
Contenção, Jogo (4+Gr)x(Gr+4), Dos defensores:
cobertura todos os jogadores têm reorganização
defensiva, uma bola na mão. O defensiva permanente.
equilíbrio e treinador diz o nome
concentração. de um praticante, este
coloca a bola no chão e
desenvolve-se jogo
(reorganização
defensiva). Ao perder a
posse de bola chama
um 2º jogador (Idem).
Penetração, Jogo (4+Gr)x(Gr+4) Dos atacantes: grande
cobertura com 4 apoios. Os mobilidade e amplitude
ofensiva, jogadores que estão do jogo, permanente
mobilidade e fora, como apoios, procura e criação de
espaço. poderão entrar em espaços para finalizar.
jogo, com posse de
bola, assim que um
colega o solicitar,
saindo do espaço de
jogo com a bola
controlada.