Soy La Olenka Correia de Moraes

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CARACTERIZAÇÃO DA CORRENTE NORTE DO BRASIL NA REGIÃO DA

RETROFLEXÃO

Soyla Olenka Correia de Moraes

Dissertação de Mestrado apresentada ao


Programa de Pós-graduação em Engenharia
Oceânica, COPPE, da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Mestre em
Engenharia Oceânica.

Orientador: Afonso de Moraes Paiva

Rio de Janeiro
Setembro de 2011
CARACTERIZAÇÃO DA CORRENTE NORTE DO BRASIL NA REGIÃO DA
RETROFLEXÃO

Soyla Olenka Correia de Moraes

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO


LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA
(COPPE) DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE
DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE
EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA OCEÂNICA.

Examinada por:

________________________________________________
Prof. Afonso de Moraes Paiva, Ph.D.

________________________________________________
Profª. Susana Beatriz Vinzon, D.Sc.

________________________________________________
Dr. Leandro Callado, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL


SETEMBRO DE 2011
Moraes, Soyla Olenka Correia de
Caracterização da Corrente Norte do Brasil na região
da retroflexão/ Soyla Olenka Correia de Moraes. – Rio de
Janeiro: UFRJ/COPPE, 2011.
XV, 66 p.: il.; 29,7 cm.
Orientador: Afonso de Moraes Paiva
Dissertação (mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de
Engenharia Oceânica, 2011.
Referências Bibliográficas: p. 63-66.
1. Corrente Norte do Brasil. 2. Massas d’água. I.
Paiva, Afonso de Moraes. II. Universidade Federal do Rio
de Janeiro, COPPE, Programa de Engenharia Oceânica.
III. Título.

iii
“Diz-se que, mesmo antes de um rio cair no oceano ele treme de medo.
Olha para trás, para toda a jornada, os cumes, as montanhas,
o longo caminho sinuoso através das florestas, através dos povoados,
e vê à sua frente um oceano tão vasto que entrar nele
nada mais é do que desaparecer para sempre.
Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar.
Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência.
Você pode apenas ir em frente. O rio precisa se arriscar e entrar no oceano.
E somente quando ele entra no oceano é que o medo desaparece.
Porque apenas então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano,
mas tornar-se oceano. Por um lado é desaparecimento e por outro lado é renascimento.
Assim somos nós. Só podemos ir em frente e arriscar.
Coragem!! Avance firme e torne-se Oceano!!!”
(OSHO)

iv
Agradecimentos

Agradeço, primeiramente, ao Afonso, por sua paciência, compreensão, pelos conselhos


e conversas. Que além de orientar profissionalmente, me orientou para vida. Seus
ensinamentos serão sempre lembrados.
Agradeço também ao GRUPO, pelas conversas, pelos conhecimentos compartilhados
nos SEDs e pelos momentos de descontração. Vocês são especiais, cada um ao seu jeito.
Aos queridos do LDSC, agradeço a companhia dentro do laboratório e pelas divertidas
conversas.
Queridas Marise e Glace, só tenho a agradecer pelo apoio e dicas dados durante esse
período no PEnO. Vocês são uns amores.
Aos meus queridos amigos da UERJ: Clá, Tati, Daniel e Douglas, que mesmo com a
correria de nossas vidas, tornaram-se presentes e sempre na torcida.
Não poderia de deixar de agradecer a galera de Macaé e ex-Macaé... Vocês são
figuraças. Obrigada pela torcida!
Aline, Ana e Guilherme, vocês foram fundamentais para o término desse trabalho.
Obrigada pela força e incentivo, principalmente, nos últimos meses...
Vinícius, lindinho, obrigada por sua paciência, por seus ouvidos e pelas conversas!
Você também foi importante para o término dessa etapa profissional.
À minha família: Tia Neyde, Tio Renato, Vírginia e Jorge, vocês são os responsáveis
por eu ser feliz como oceanógrafa. Foram os primeiros a me ensinar a amar e respeitar o
mar, desde pequena, durante as minhas férias escolares em Itacuruçá. E meus primos
lindos: Letícia e Renato, vocês são uns fofos. Obrigada pelos momentos engraçados que
passamos e que iremos passar!
A Marinha do Brasil pela parceria e apoio.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, pelo apoio
financeiro.

v
Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)

CARACTERIZAÇÃO DA CORRENTE NORTE DO BRASIL NA REGIÃO DA


RETROFLEXÃO

Soyla Olenka Correia de Moraes

Setembro/2011

Orientador: Afonso de Moraes Paiva


Programa: Engenharia Oceânica

Este trabalho teve como objetivo caracterizar a Corrente Norte do Brasil na


região onde ocorre a sua retroflexão, próximo de 5°N, a partir de dados coletados in situ
de três comissões oceanográficas que pela primeira vez foram analisadas em conjunto.
Com os dados de temperatura e condutividade - coletados por um CTD, tratados com o
software do fabricante e posteriormente analisados – foram feitos perfis verticais de
temperatura e salinidade onde foram identificados alguns tipos de massas d’água e
observada à presença de um núcleo de máxima salinidade. Nos dados de correntometria,
aquisitados por um ADCP de casco e tratados com o pacote de programas CODAS Data
Processing, foram analisados a estrutura vertical e o comportamento horizontal da
Corrente Norte do Brasil. Os resultados do modelo numérico HYCOM e composições
de 7 dias de imagens da cor do mar (clorofila-a) do SeaWiFS foram utilizados como
ferramentas para averiguar o quão eficiente foi o processamento dos dados de corrente.
Ao trabalhar em conjunto esses três últimos conjuntos de dados (correntometria,
resultados do modelo e imagens da cor do mar), foi observada uma grande coerência
entre eles, sem a necessidade de qualquer ajuste.

vi
Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)

CHARACTERIZATION OF THE NORTH BRAZIL CURRENT IN THE REGION OF


RETROFLECTION

Soyla Olenka Correia de Moraes

September/2011

Advisor: Afonso de Moraes Paiva


Department: Ocean Engineering

This study aimed to characterize the North Brazil Current in its retroflection
region, around 5° N, from in situ data collected in three oceanographic cruises, which
for the first time were analyzed together. With the temperature and conductivity data -
collected by a CTD and processed with the manufacturer's software and then analyzed -
vertical profiles of temperature and salinity were made, in which water masses as well
as the presence of a maximum salinity core were identified. With velocity data, acquired
by an by a vessel-mount ADCP and processed with the software package Data
Processing codas, we analyzed the vertical structure and horizontal behavior of the
North Brazil Current. The results of the numerical model HYCOM as well as 8-day
compositions of ocean color images (Chlorophyll-a) SeaWiFS were used as tools to
determine how efficient the current data processing was. Analyzing these last three
datasets (velocity data, model results and color images of the sea) together, we observed
a strong correlation among them, without any adjustment.

vii
Sumário

Lista de Figuras ............................................................................................................... ix


Lista de Tabelas ............................................................................................................. xiii
Lista de Abreviações ..................................................................................................... xiv
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................................................... 3
2.1 A Corrente Norte do Brasil ................................................................................................. 3

2.2 A retroflexão ....................................................................................................................... 6

2.3 As massas d’água ................................................................................................................ 8

3. METODOLOGIA ....................................................................................................... 12
3.1 A origem dos dados ........................................................................................................... 12

3.2 O conjunto de dados .......................................................................................................... 13

3.2.1 Temperatura e Condutividade .................................................................................... 14

3.2.2 Correntometria ........................................................................................................... 18

3.2.3 Resultados do Modelo HYCOM ................................................................................ 20

3.2.4 Clorofila - Imagens SeaWiFS (Sea-viewing Wide Field-of-view Sensor)................. 21

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES .............................................................................. 22


4.1 Massas d’água ................................................................................................................... 22

4.2.1 Circulação em superfície ............................................................................................ 32

4.2.2 Circulação em subsuperfície ...................................................................................... 45

5. CONCLUSÕES .......................................................................................................... 61
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 63

viii
Lista de Figuras

Figura 1: Esquema das correntes zonais encontradas na região oeste do Atlântico


Equatorial. Em azul, as correntes superficiais e em verde, as correntes subsuperficiais. O
quadrado em vermelho delimita a área de estudo desse trabalho. Adaptado de GOES et
al. (2005). ......................................................................................................................... 5
Figura 2: Mapa das estações de CTD coletadas na ONI. As estações utilizadas neste
trabalho estão em magenta. ............................................................................................ 15
Figura 3: Mapa das estações de CTD coletadas na ONII. As estações utilizadas neste
trabalho estão em magenta. ............................................................................................ 16
Figura 4: Mapa das estações de CTD coletadas na ONIII. As estações utilizadas neste
trabalho estão em magenta. ............................................................................................ 17
Figura 5: Diagrama TS da Radial B da Comissão ONI. As massas d’águas estão
representadas por: AT (Água Tropical), ACAS (Água Central do Atlântico Sul), AIA-
ACPS (Água Intermediária Antártica e Água Circumpolar Antártica Superior) e APAN
(Água Profunda do Atlântico Norte). As linhas coloridas identificam as seguintes
isopicnais: 25.8kg/m3, em vermelho; 27.1kg/m3, em azul e, 27.6kg/m3, em verde. O
círculo em amarelo indica a pluma do Amazonas. ......................................................... 23
Figura 6: Diagrama TS da Radial A da Comissão ONII. As massas d’águas estão
representadas por: AT (Água Tropical), ACAS (Água Central do Atlântico Sul), AIA-
ACPS (Água Intermediária Antártica e Água Circumpolar Antártica Superior) e APAN
(Água Profunda do Atlântico Norte). As linhas coloridas identificam as seguintes
isopicnais: 25.8kg/m3, em vermelho; 27.1kg/m3, em azul e, 27.6kg/m3, em verde. O
círculo em amarelo indica a pluma do Amazonas. ......................................................... 24
Figura 7: Diagrama TS da Radial A da Comissão ONIII. As massas d’águas estão
representadas por: AT (Água Tropical), ACAS (Água Central do Atlântico Sul), AIA-
ACPS (Água Intermediária Antártica e Água Circumpolar Antártica Superior) e APAN
(Água Profunda do Atlântico Norte). As linhas coloridas identificam as seguintes
isopicnais: 25.8kg/m3, em vermelho; 27.1kg/m3, em azul e, 27.6kg/m3, em verde. O
círculo em amarelo indica a pluma do Amazonas. ......................................................... 24

ix
Figura 8: Seção vertical da salinidade para os primeiros 200m de profundidade da
Radial D da Comissão Oceano Norte I. A pluma do Amazonas é notada com valores de
baixa salinidade na superfície (<36.2). Observa-se a presença do núcleo de máxima
salinidade em subsuperfície (>36.4). A linha em azul marca a isopicnal de 24.5kg/m3,
indicando o topo da termoclina. ..................................................................................... 26
Figura 9: Seção vertical da salinidade para os primeiros 200m de profundidade da
Radial A da Comissão Oceano Norte II. A pluma do Amazonas é notada com valores de
baixa salinidade na superfície (<36.2). Observa-se a presença do núcleo de máxima
salinidade em subsuperfície (>36.4). A linha em azul marca a isopicnal de 24.5kg/m3,
indicando o topo da termoclina. A isopicnal de 26.8kg/m3, em magenta, marca a base da
termoclina. ...................................................................................................................... 27
Figura 10: Seção vertical da salinidade para os primeiros 200m de profundidade da
Radial A da Comissão Oceano Norte II. A pluma do Amazonas é notada com valores de
baixa salinidade na superfície (<36.2). Observa-se a presença do núcleo de máxima
salinidade em subsuperfície (>36.4). A linha em azul marca a isopicnal de 24.5kg/m3,
indicando o topo da termoclina. ..................................................................................... 28
Este comportamento foi notado nas radiais que se encontravam mais a noroeste da
desembocadura do rio, após a passagem da CNB pela região do Cânion do Amazonas,
em todas as comissões. A Radial D da ONI mostra que o topo da termoclina encontra-se
entre as profundidades de 40m e 100m, entre 48.7°W e 49.3°W. (Figura 11). Entre as
longitudes de 50°W e 50.5°W, na Radial C da comissão ONII (Figura 12) e na Radial B
da ONIII (Figura 13), o topo da termoclina foi observado entre 40m e 100m de
profundidade. .................................................................................................................. 29
Figura 14: Composição de 7 dias de clorofila-a referente ao período de 27/07/2001 e
30/07/2001. Os vetores de velocidade do ACDP, em vermelho, referem-se à Radial A
realizada em 28/07/2001. Nota-se a presença de um vórtice e o fluxo para leste de águas
da plataforma. ................................................................................................................. 33
Figura 15: Composição de 7 dias de clorofila-a referente ao período de 07/08/2001 e
14/08/2001. Os vetores de velocidade do ACDP, em vermelho, referem-se à Radial B
realizada entre 08 e 09/08/2001 e à Radial C entre 11 e 13/08/2001. Nota-se que o
vórtice não se encontra dentro da região de estudo e o fluxo para leste de águas da
plataforma. ...................................................................................................................... 35
Figura 16: Composição de 7 dias de clorofila-a referente ao período de 21/08/2001 e
28/08/2001. Os vetores de velocidade do ACDP, em vermelho, referem-se à Radial D

x
realizada entre 22 e 23/08/2001, à Radial E em 25/08/2001 e à Radial F entre 26 e
28/08/2001. Nota-se que o fluxo contínuo para noroeste da CNB e a pluma do
Amazonas restrita à plataforama, também com o fluxo para a mesma direção da
corrente. .......................................................................................................................... 37
Figura 17: Composição de 7 dias de clorofila-a referente ao período de 14/10/2005 e
20/10/2005. Os vetores de velocidade do ACDP, em vermelho, referem-se à Radial A
realizada entre 19 e 20/10/2005. Os vetores de velocidade referente ao resultado do
modelo estão em preto. Nota-se a presença de um vórtice ao norte de 7°N, a inversão de
velocidade em 46°W e a retroflexão centrada em 5°N e 47°W. .................................... 39
Figura 18: Composição de 7 dias de clorofila-a referente ao período de 28/10/2005 e
03/11/2005. Os vetores de velocidade do ACDP, em vermelho, referem-se à Radial C
realizada entre 29 e 30/10/2005. Os vetores de velocidade referente ao resultado do
modelo estão em preto. Nota-se a presença da retroflexão centrada em 5°N e 48°W e da
CCNE após 42°W. .......................................................................................................... 40
Figura 19: Composição de 7 dias de clorofila-a referente ao período de 28/10/2005 e
03/11/2005. Os vetores de velocidade do ACDP, em vermelho, referem-se à Radial B
realizada entre 02 e 03/11/2005. Os vetores de velocidade referente ao resultado do
modelo estão em preto. Nota-se a presença da retroflexão centrada ao note de 5°N e
48°W, da CCNE após 42°W e a inversão na direção dos vetores de velocidade próximo
dos 48°W. ....................................................................................................................... 41
Figura 20: Composição de 7 dias de clorofila-a referente ao período de 25/10/2008e
31/10/2008. Os vetores de velocidade do ACDP, em vermelho, referem-se à Radial A
realizada entre 27 e 30/10/2008. Os vetores de velocidade referente ao resultado do
modelo estão em preto. Nota-se a presença de um vórtice desprendido da CNB em 7°N,
da retroflexão localizada ao sul de 5°N, e a CCNE. ....................................................... 43
Figura 21: Composição de 7 dias de clorofila-a referente ao período de 01/12/2008 e
07/12/2008. Os vetores de velocidade do ACDP, em vermelho, referem-se à Radial B
realizada entre 02 e 05/12/2008. Os vetores de velocidade referente ao resultado do
modelo estão em preto. Nota-se a presença da retroflexão centrada ao note de 5°N e
47°W, da CCNE após 42°W e a inversão na direção dos vetores de velocidade próximo
dos 48°W. ....................................................................................................................... 44
Figura 22: Seção horizontal de correntes na camada 4, correspondente a profundidade
de 48m. As linhas de vetores coloridos correspondem às radiais analisadas na ONI
(azul: 1A, verde: 1B, vermelho: 1C, ciano: 1D, magenta: 1E e amarelo: 1F)................ 47

xi
Figura 23: Seção horizontal de correntes na camada 16, correspondente a profundidade
de 144m. As linhas de vetores coloridos correspondem às radiais analisadas na ONI
(azul: 1A, verde: 1B, vermelho: 1C, ciano: 1D, magenta: 1E e amarelo: 1F)................ 48
Figura 24: Seção vertical de velocidade da radial C da Comissão ONI. As cores em
vermelho mostram a direção para o quadrante norte. As cores em azul, para o quadrante
sul. .................................................................................................................................. 50
Figura 25: Seção horizontal de correntes na camada 1, correspondente a profundidade
de 24m. As linhas de vetores coloridos correspondem às radiais analisadas na ONII
(azul: 2A, verde: 2B e vermelho: 2C)............................................................................. 51
Figura 26: Seção horizontal de correntes na camada 23, correspondente a profundidade
de 200m. As linhas de vetores coloridos correspondem às radiais analisadas na ONII
(azul: 2A, verde: 2B e vermelho: 2C)............................................................................. 52
Figura 27: Seção vertical de velocidade da radial B da Comissão ONII. As cores em
vermelho mostram a direção para o quadrante norte. As cores em azul para o quadrante
sul. .................................................................................................................................. 54
Figura 28: Seção vertical de velocidade da radial B da Comissão ONII. As cores em
vermelho mostram a direção para o quadrante norte. As cores em azul para o quadrante
sul. .................................................................................................................................. 55
Figura 29: Seção horizontal de correntes na camada 1, correspondente a profundidade
de 24m. As linhas de vetores coloridos correspondem às radiais analisadas na ONIII
(azul: 3A e verde: 3B). ................................................................................................... 56
Figura 30: Seção horizontal de correntes na camada 11, correspondente a profundidade
de 104m. As linhas de vetores coloridos correspondem às radiais analisadas na ONIII
(azul: 3A e verde: 3B). ................................................................................................... 57
Figura 31: Seção vertical de velocidade da radial A da Comissão ONIII. As cores em
vermelho mostram a direção para o quadrante norte. As cores em azul para o quadrante
sul. .................................................................................................................................. 59
Figura 32: Seção vertical de velocidade da radial B da Comissão ONIII. As cores em
vermelho mostram a direção para o quadrante norte. As cores em azul para o quadrante
sul. .................................................................................................................................. 60

xii
Lista de Tabelas

Tabela 1: Períodos que foram usados para a elaboração das composições de imagens de
clorofila. .......................................................................................................................... 21
Tabela 2: Valores de velocidade máxima e a profundidade a ela associada e o transporte
calculado para dados de correntometria da Comissão ONI. ........................................... 49
Tabela 3: Valores de velocidade máxima e a profundidade a ela associada e o transporte
calculado para dados de correntometria da Comissão ONII. ......................................... 53
Tabela 4: Valores de velocidade máxima e a profundidade a ela associada e o transporte
calculado para dados de correntometria da Comissão ONIII. ........................................ 58

xiii
Lista de Abreviações

AAL Água do Atlântico Leste


AAN Água do Atlântico Norte
AAS Água do Atlântico Sul
ACAS Água Central do Atlântico Sul
ACPS Água Circumpolar Profunda Superior
ADCP Acoustic Doppler Current Profiler
AFA Água de Fundo Antártica
AIA Água Intermediária Antártica
APAN Água Profunda do Atlântico Norte
ATS Água Tropical Superficial
CB Corrente do Brasil
CCNE Contracorrente Norte Equatorial
cCSE ramo central da Corrente Sul Equatorial
CNB Corrente Norte do Brasil
CNUDM Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar
CODAS Commom Ocean Data Access System
CTD Conductivity Temperature Depth
EOF Empirical Orthogonal Function
HYCOM HYbrid Coordinate Ocean Model
LEPLAC Plano de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira
MOC Meridional Overturning Circulation - Célula de Revolvimento Meridional
nCSE ramo norte da Corrente Sul Equatorial
ONI Comissão Oceano Norte I
ONII Comissão Oceano Norte II
ONIII Comissão Oceano Norte III
PIATAM OCEANO Potenciais Impactos Ambientais da Exploração, Produção e
Transporte de Petróleo e Derivados na Região Equatorial Brasileira
REVIZEE Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva
SCE Subcorrente Equatorial
xiv
SCNB Subcorrente Norte do Brasil
SCNE Subcorrente Norte Equatorial
SCNE Subcorrente Norte Equatorial
sCNE ramo sul da Corrente Norte Equatorial
SCSE Subcorrente Sul Equatorial
sCSE ramo sul da Corrente Sul Equatorial
SeaWiFS Sea-viewing Wide Field-of-view Sensor
SSAN Subágua Subtropical do Atlântico Norte
SSAS Subágua Subtropical do Atlântico Sul
STA Short Time Average
ZEE Zona Econômica Exclusiva

xv
1. INTRODUÇÃO

As trocas entre os oceanos são importantes para o balanço térmico global

(GORDON, 1986). A principal comunicação entre eles é feita através das correntes de

contorno oeste, que transportam águas quentes das regiões equatoriais para as regiões

polares, onde o calor é removido (HOGG e JOHNS, 1995). Neste contexto, a região

oeste do Atlântico Equatorial possui um papel importante nas trocas entre os

hemisférios de propriedades como massa e temperatura (BOURLÈS et al., 1999a).

Nesta região, a Corrente Norte do Brasil (CNB) transporta águas superficiais

quentes para o norte, contribuindo para o fechamento da célula de circulação

termohalina (GORDON, 1986). Esta corrente juntamente com a Subcorrente Norte do

Brasil (SCNB) forma um sistema de correntes que é uma importante fonte de massa

para as correntes zonais próximas ao equador (GOES et al., 2005). Este sistema de

correntes flui ao longo da costa sulamericana, junto à quebra da plataforma continental

brasileira.

A CNB é uma corrente de contorno oeste que fecha o giro do Atlântico

Equatorial e que ao longo do ano apresenta dois padrões típicos de comportamento. Um

desses padrões é o fluxo contínuo que ocorre geralmente entre os meses de fevereiro e

junho, onde a corrente flui para noroeste junto à quebra da plataforma ao longo da costa

brasileira. No outro padrão típico, após passar pelo equador esta corrente retroflete para

leste, entre 5°N e 10°N, alimentando a Contracorrente Norte Equatorial (CCNE)

(FLAGG et al., 1986; FFIELD, 2005). Diversos vórtices de mesoescala (cerca de 2 a 7

por ano) são gerados na retroflexão da CNB e transladam para noroeste (FRATANTONI

et al., 1995; JOHNS et al., 2003).

1
Diversos estudos observacionais têm sido realizados sobre os vórtices da CNB

(por exemplo, JOHNS et al., 1990; SCHOTT et al., 1998; FRATANTONI et al., 1995;

FRATANTONI e RICHARDSON, 2006; WILSON et al., 2002; JOHNS et al., 2003) e

sobre a própria CNB na região próxima a sua zona de formação (da SILVEIRA et al.,

1994). Porém, poucos estudos observacionais discutem diretamente a retroflexão da

CNB. O objetivo deste trabalho é justamente contribuir para o conhecimento da CNB na

região da retroflexão, caracterizando sua estrutura vertical. Para tal são analisados dados

inéditos coletados in situ de temperatura, condutividade e correntometria pela Marinha

do Brasil na Comissão Oceanográfica Oceano Norte III, além de serem revisitados

dados coletados previamente nas Comissões Oceanográficas Oceano Norte I e Oceano

Norte II. Para atingir esse objetivo principal, pretende-se responder os seguintes

objetivos específicos:

* Verificar a distribuição das massas d’água presentes na Corrente Norte do Brasil na

região de estudo durante as três comissões oceanográficas;

* Caracterizar a estrutura vertical da Corrente Norte do Brasil, verificando sua

continuidade ou não, ao longo da d’água com os dados de correntometria.

Sabendo-se que utilizar dados in situ pode trazer erros embutidos e

considerando-se a necessidade de se obter bons dados para análise da circulação

oceânica, este trabalho apresenta outro objetivo específico, com caráter metodológico,

que é:

* Avaliar a qualidade dos dados medidos durante as três campanhas oceanográficas.

Esta dissertação está dividida em cinco capítulos. No capítulo 2, uma revisão

bibliográfica é apresentada. A origem dos dados e a metodologia aplicada são

introduzidas no capítulo 3. No capítulo seguinte, capítulo 4, encontram-se os resultados

e as discussões. Para finalizar, as conclusões são apresentadas no capítulo 5.

2
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O sistema de correntes superficiais e profundas, que engloba todas as bacias

oceânicas, é conhecido como Célula de Revolvimento Meridional (Meridional

Overturning Circulation - MOC) (SCHMITTNER et al., 2007). Dentro desse sistema,

existem locais de grande importância global, como a região oeste do Atlântico

Equatorial. Sua importância está relacionada às trocas de propriedades como sal,

temperatura e massa entre os hemisférios norte e sul (GORDON, 1986). Essas trocas

têm uma grande relevância na manutenção do balanço térmico global (GORDON,

1986), e são realizadas através das correntes de contorno oeste.

Essas correntes são as principais formas de comunicação entre as regiões de

altas latitudes e as regiões equatoriais (HOGG e JOHNS, 1995). Sendo assim, as águas

mais frias são transportadas para sul pela Corrente de Contorno Oeste Profunda do

Atlântico Norte. Em contrapartida, as águas quentes superficiais são levadas para o

norte pela Corrente Norte do Brasil (CNB), fechando assim, a célula de circulação

termohalina (BOURLÈS et al., 1999b).

2.1 A Corrente Norte do Brasil

A Corrente Norte do Brasil é uma intensa corrente de contorno oeste que fecha o

giro do Atlântico Equatorial, fluindo para noroeste ao longo da costa brasileira. DA

SILVEIRA et al. (1994) relacionam a origem da CNB com a bifurcação do ramo sul da

Corrente Sul Equatorial (sCSE) entre 12°S e 20°S quando esta se aproxima da

plataforma continental.

3
Dessa bifurcação surgem dois ramos: um fluindo para sul, chamado de Corrente

do Brasil (CB), e o outro deslocando para o norte, com núcleo em subsuperfície. Esse

último é denominado de Subcorrente Norte do Brasil (SCNB) por STRAMMA e

SCHOTT (1999) e de Corrente Norte do Brasil por DA SILVEIRA et al. (1994).

Esse fluxo para o norte, possui entre 10°S e 5°S, o transporte médio de 21 Sv (1

Sv= 106 m3/s) e o núcleo de velocidade entre 100m e 200m. Próximo de 5°S, recebe a

contribuição do ramo central da CSE (cCSE) , e passa a ter dois núcleos de velocidades:

um em superfície e o outro em subsuperfície. STRAMMA e SCHOTT (1999)

denominam como sistema de correntes CNB/SCNB. À medida que esse sistema

continua o seu fluxo para noroeste, o núcleo subsuperficial se aproxima da superfície

(SCHOTT et al., 1998) intensificando-se. A partir daí, o sistema CNB/SCNB deixa de

existir e passa a ser denominado Corrente Norte do Brasil, com seu núcleo em

superfície. A CNB apresenta variabilidade sazonal em seu transporte. Em 4°S, seu

transporte médio anual é de 20 Sv, atingindo o mínimo de 10 Sv em abril, e o máximo

de 30 a 35 Sv em agosto (HOGG e JOHNS, 1995).

A importância da CNB não se restringe apenas as trocas inter-hemisféricas, mas

ela possui um importante papel também como fonte de massa para algumas correntes do

sistema equatorial de correntes alimentando-as em diversas latitudes e em diferentes

profundidades. Essas correntes zonais são: (i) a Contracorrente Norte Equatorial

(CCNE), que é uma corrente superficial localizada entre 3°N e 8°N; (ii) a Subcorrente

Equatorial (SCE), localizada na região da termoclina ao longo da linha do equador e,

(iii) a Subcorrente Sul Equatorial (SCSE) e a Subcorrente Norte Equatorial (SCNE),

ambas localizadas abaixo da termoclina, entre 3°S e 6°N (GOES et al., 2005;

BOURLÈS et al., 1999b) (Figura 1).

4
Figura 1: Esquema das correntes zonais encontradas na região oeste do Atlântico Equatorial. Em azul, as
correntes superficiais e em verde, as correntes subsuperficiais. O quadrado em vermelho delimita a área
de estudo desse trabalho. Adaptado de GOES et al. (2005).

5
2.2 A retroflexão

Além da variação no seu transporte, a trajetória da CNB também apresenta

variabilidade sazonal. No período entre o final do verão e outono (de fevereiro a junho),

a CNB tende a apresentar um fluxo contínuo ao longo da costa brasileira, no sentido

noroeste. JOHNS et al. (1990) caracterizaram esse padrão como sendo um aumento no

fluxo da CNB sobre o talude continental. Já entre o inverno e verão (de julho a janeiro),

a CNB retroflete para leste alimentando a Contracorrente Norte Equatorial (CCNE),

após a sua passagem pelo equador, entre 5°N e 10°N (FLAGG et al.,1986; FFIELD,

2005), diminuindo assim, o seu fluxo sobre o talude continental (JOHNS et al., 1990).

Da Silveira et al. (2000), investigaram a estrutura dinâmica da CNB na região da

retroflexão e seus processos dinâmicos, e concluíram que 90% da variação na estrutura

vertical da CNB é explicada pelos dois primeiros modos baroclínicos da função

empírica ortogonal (EOF) de profundidade. Baseados neste resultado, os autores

construíram um modelo de três camadas e chegaram a conclusão de que a retroflexão da

CNB, na camada superficial, ocorre próxima de 7°N, alimentando a CCNE. Já a camada

intermediária foi caracterizada pela separação da CNB em cerca de 4°N para alimentar a

SCNE.

JOCHUM e MALANOTTE-RIZZOLI (2003) mostraram que a camada

superficial da CNB pode ser considerada um fluxo não-linear. Esta explicação

justificaria o fato da camada superficial ter características diferentes da termoclina e,

com isso, a CNB sofreria diferentes retroflexões, em diferentes latitudes e

profundidades. Segundo KILLWORTH (1991), esse fluxo não-linear pode penetrar no

Hemisfério Norte em até duas vezes o raio de deformação de Rossby, sem a qualquer

ajuste na sua vorticidade potencial. Assim sendo, a retroflexão da camada superficial da

6
CNB ocorre próxima de 7°N enquanto que a retroflexão na termoclina acontece

próxima do equador, devido a CNB possuir uma menor inércia nesta porção do que em

superfície.

NOF (1996) explica que conforme a Corrente Norte do Brasil flui para noroeste,

o valor absoluto da vorticidade planetária do seu fluxo diminui. Ao passar pelo equador,

a vorticidade planetária torna-se positiva e passa a ter um aumento no seu valor

absoluto. Portanto, a conservação da vorticidade potencial é assegurada através da

retroflexão que a corrente faz para leste.

JOCHUM e MALANOTTE-RIZZOLI (2003), usando resultados de um modelo

de circulação de alta resolução, concluíram que a retroflexão da porção superficial da

CNB gera como principal conseqüência, ondas de Rossby do primeiro modo

baroclínico, que retrofletem na costa sulamericana originando 6-7 anticiclones por ano,

que intensificam e tornam-se os vórtices da CNB.

MA (1996) propôs um mecanismo de geração dos vórtices da CNB que consiste

em uma onda longa de Rossby refletir no contorno oeste, criando onda de Rossby curta

com uma grande anomalia na vorticidade relativa. Devido ao efeito β e interação com o

contorno, as anomalias de vorticidade potencial destacam-se da região e propagam-se

para noroeste ao longo da costa.

Krelling (2010) analisando três anos de resultado de uma simulação global em

alta resolução na porção superficial, termoclina e subtermoclina, identificou quatro tipos

de formação dos vórtices da CNB. O primeiro tipo refere-se aos vórtices encontrados

em diferentes regiões da coluna d’água e independentes uns dos outros. O segundo

relaciona os vórtices em diferentes porções da coluna d’água, com origens

independentes, podendo sobrepor-se e continuar sobrepostos por um tempo. O terceiro,

identifica os vórtices desprendidos de uma retroflexão (CNB-CCNE ou CNB-SCE) cujo

7
seu desprendimento é acelerado por outro vórtice previamente formado na porção

inferior da coluna d’água. Por último, os vórtices que possuem componentes

sobrepostas nas três camadas d’água estudadas são formados aproximadamente ao

mesmo tempo, na mesma região.

2.3 As massas d’água

A distribuição vertical das massas d’água encontradas no Atlântico Equatorial, a

partir de superfície, é listada a seguir: (i) Água Tropical Superficial (ATS); (ii) Água

Central do Atlântico Sul (ACAS); (iii) Água Intermediária Antártica (AIA); (iv) Água

Circumpolar Profunda Superior (ACPS); (v) Água Profunda do Atlântico Norte (APAN)

e, (vi) Água de Fundo Antártica (AFA) (MÉMERY et al., 2000).

As quatro primeiras massas d’água se estendem até a profundidade de 1200m, e

seu deslocamento para o norte é compensado pelo movimento para sul das águas mais

frias pertencentes à APAN, entre as profundidades de 1200m e 4000m. Abaixo da

APAN, surge um fluxo para o norte, de águas frias da AFA (STRAMMA e SCHOTT,

1999).

Abaixo serão apresentadas as características das massas d’água presentes entre a

superfície e 1200m de profundidade baseadas nos trabalhos de STRAMMA e SCHOTT

(1999), SCHOTT et al. (1998) e STRAMMA et al. (2005).

A Água Tropical Superficial (ATS) forma a camada de mistura do Atlântico

Tropical, com temperatura de próximas dos 27°C. O seu limite inferior, geralmente é

considerado a isoterma de 20°C, que na região de estudo corresponde aproximadamente

a isopicnal de 25,8kg/m3. Na região equatorial, ela está inserida em uma termoclina

bastante acentuada, onde a temperatura cai de 25°C a 15°C em cerca de 50m.

Abaixo da ATS, há a Água Central do Atlântico Sul (ACAS) formada por dois

8
tipos: (i) um tipo mais leve, oriundo das águas do giro subtropical e, (ii) um tipo mais

denso, provavelmente proveniente do Atlântico Sul e sul do Oceano Índico. Esse último

tipo entra no Atlântico através da Corrente das Agulhas e em seguida, é advectado pela

Corrente de Benguela, chegando à região equatorial pela Corrente Sul Equatorial (CSE).

No Atlântico Equatorial Oeste, a ACAS está localizada entre a termoclina e a isopicnal

de 27,1kg/m3, encontrada próximo dos 500m de profundidade.

A Água Intermediária Antártica (AIA) se origina na Convergência Antártica e

flui para o norte como uma corrente bem organizada. Ela é identificada pelos baixos

valores de salinidade ao longo da costa sulamericana. Debaixo da AIA encontra-se a

Água Circumpolar Profunda Superior (ACPS). Embora tenha origem distinta da AIA,

também tem sua trajetória para norte. Próximo ao equador, ela quase desaparece devido

à sua pequena extensão vertical. Em função disto, seus fluxos são geralmente incluídos

nos campos de fluxo da AIA.

Além dessas massas d’água conhecidas, WILSON et al. (1994) caracterizam

outros três tipos de massas d’água presentes na superfície do Atlântico Tropical. A

primeira massa d’água é formada a oeste do Atlântico Tropical Norte e é caracterizada

por altos valores de salinidade (>37,2) assim como alta concentração de oxigênio, se

situando acima da termoclina. Conhecida como Subágua Subtropical do Atlântico Norte

(SSAN), sua origem está relacionada às altas taxas de evaporação na região dos

subtrópicos. Essas águas são transportadas para o interior do giro subtropical do

Hemisfério Norte.

A segunda massa d’água é a correspondente do primeiro tipo no Hemisfério Sul.

É a Subágua Subtropical do Atlântico Sul (SSAS). Ela também apresenta altas

concentrações de oxigênio assim como altos valores de salinidade acima da termoclina

(~ 36.5), mas é menos salina quando comparada à de origem norte.

9
A terceira e última, encontrada na região, é formada a leste do Atlântico

Tropical. Ela é marcada por um mínimo de salinidade acima da termoclina, semelhante

à SSAS, mas difere da mesma por sua concentração de oxigênio ser mais baixa. Essa

massa de água é transportada para a porção oeste pelo ramo sul da Corrente Norte

Equatorial (sCNE) e pelo ramo norte da Corrente Sul Equatorial (nCSE).

No trabalho de investigação sobre a região oeste da Subcorrente Equatorial

(SEC) e Contra Corrente Norte Equatorial (CCNE) em 38°W, Urbano et al. (2008),

baseados na climatologia Levitus, usaram os valores médios de temperatura potencial e

salinidade para referenciar as Águas do Atlântico Sul (AAS – que em 30°W estão entre

15°S e 25°S), Águas do Atlântico Norte (AAN – que em 35°W estão entre 15°N e

25°N) e Águas do Atlântico Leste (AAL – que em 23°W estão entre 3°N e 15°N). Neste

trabalho, os autores mostraram que a AAN domina a região ao norte de 11°N, com

baixa taxa de mistura em 15°N. A AAS concentra-se ao sul de 2°N, enquanto que entre

2°N e 6°N nota-se a presença da AAL na região. A mistura entre as águas de sul e de

leste foi observada entre 8°N e 11°N, entretanto, não é possível inferir a contribuição ou

não da AAN na mistura dessas águas, apenas com os valores de temperatura e

salinidade.

Segundo Urbano et al. (2008), diferentes massas de águas são identificadas em

38°W. A Água Tropical Superficial, com temperatura maior que 26°C, forma a camada

de mistura do Atlântico Tropical e está localizada acima do σθ = 24.5. Abaixo dela, em

σθ = 25.5, são observados valores máximos de salinidade entre 12°N e 15°N. Essa Água

de Máximo de Salinidade, também conhecida como Subágua Subtropical, é formada na

região de transição tropical-subtropical, onde a evaporação é maior que a precipitação.

Neste mesmo trabalho de Urbano et al. (2008), foram realizadas medições de

oxigênio dissolvido que permitindo um melhor detalhamento na análise de massas

10
d’água ao longo de 38°W. Concluíram que os valores de salinidade-oxigênio, ao sul do

equador, são similares na região entre 8°N e 10°N, o que não significa que os valores

originais sejam os mesmo. Isto quer dizer que em latitudes mais ao sul está o ramo

central da Corrente Sul Equatorial (cCSE), que é conhecida, segundo os autores, pelo

transporte da mistura entre a AAL e da AAS muito salina na superfície. Entre 8°N e

10°N, essas águas têm um pequeno aumento nas concentrações de oxigênio devido a

uma pequena parcela da AAN trazida para o interior da região pelo ramo norte da

Contra Corrente Norte Equatorial (nCCNE).

Entretanto, Mémery et al. (2000), utilizando medições de três seções transversais

a uma seção hidrográfica localizada ao largo da costa sulamericana entre 50°S e 10°N,

observaram uma água modal (~24°C e σθ = 25.2) localizada nos primeiros 200m entre

12°S e 22°S sendo parte da Água de Máximo Salinidade (AMS). Esta massa d’água

salina é formada na superfície nos trópicos em ambos os hemisférios como resultado de

excesso de evaporação sobre a precipitação. A Água de Máxima Salinidade do

Atlântico Sul é transportada para oeste pela Corrente Sul Equatorial (CSE) até a

vizinhança da costa da América do Sul, onde é distribuída meridionalmente em ambas

as direções pelas correntes de contorno. Para o norte, salinidades máximas de 37.1 em

5°S e 36.7 no equador, revelam uma mistura progressiva da Água de Máxima

Salinidade com águas menos salinas adjacentes.

11
3. METODOLOGIA

Neste capítulo será feita uma breve apresentação das comissões durante as quais

foram coletados os dados analisados no presente trabalho.

3.1 A origem dos dados

O conjunto de dados utilizados neste trabalho é originado de comissões

oceanográficas realizadas pela Marinha do Brasil através do Navio Oceanográfico

Antares, e estiveram inseridas em projetos ou programas de caráter científico.

A primeira dessas comissões, chamada Oceano Norte I (ONI), foi realizada

durante o Programa REVIZEE (Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva) que

tinha por objetivo avaliar os recursos vivos dentro da ZEE (Zona Econômica Exclusiva)

brasileira bem como as condições ambientais que provocariam a distribuição desses

recursos (IBAMA, 2010). Esta comissão foi realizada entre Julho de 2001 e Setembro

de 2001, período no qual o Rio Amazonas encontrava-se na transição entre a cheia e a

seca. Como resultados desta campanha foram obtidos 149 arquivos de temperatura e

condutividade, divididos em 23 radiais, e 42 arquivos de correntometria.

Já a segunda comissão, denominada Oceano Norte II (ONII), fez parte do

Projeto LEPLAC (Plano de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira) e tinha

por finalidade, determinar a área marítima, além das 200 milhas náuticas, na qual o

Brasil teria soberania, ou seja, estabelecer o limite exterior da Plataforma Continental,

sob o aspecto jurídico, conforme critérios estabelecidos pela Convenção das Nações

Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM) (Marinha do Brasil, 2010). Realizada entre os

meses de Outubro de 2005 e Dezembro de 2005, período no qual o Rio Amazonas

12
encontrava-se na seca, obtendo 41 arquivos de temperatura e condutividade,

organizados em 5 radiais, e 38 arquivos de velocidade de corrente.

Finalmente, a terceira comissão Oceano Norte III estava inserida do Projeto

PIATAM OCEANO (Potenciais Impactos Ambientais da Exploração, Produção e

Transporte de Petróleo e Derivados na Região Equatorial Brasileira) que objetivava

fazer uma caracterização ambiental da região oceânica em toda margem entre Amapá e

o Maranhão (UFF, 2010). O planejamento e execução desta campanha foram realizados,

em parceria, entre a Marinha do Brasil e o Programa de Engenharia Oceânica da

COPPE/UFRJ. O resultado final foi aquisição de 26 perfis de temperatura e

condutividade, distribuídos em 5 radiais, e 51 arquivos de correntometria. Esta

comissão foi realizada no período de seca do Rio Amazonas, entre os meses de Outubro

de 2008 e Dezembro de 2008.

3.2 O conjunto de dados

Os dados utilizados neste trabalho foram adquiridos através das campanhas

oceanográficas apresentada na seção anterior. São dados de temperatura e condutividade

aquisitados através de um Conductivity Temperature Depth (CTD), modelo SBE 911

plus; e dados de correntes, adquiridos com um Acoustic Doppler Current Profiler

(ADCP) de casco, modelo BB 75 kHz da RDInstruments. Nas análises realizadas neste

trabalho foram priorizados dados coletados nas radiais que se estendiam desde a

proximidade da quebra da plataforma amazônica até ao largo. Cabe ressaltar que, todas

as análises desde o processamento dos dados brutos até torná-los dados confiáveis para

as análises e posteriormente utilizados no escopo deste trabalho, foram realizados na

COPPE.

Além dos dados coletados in situ, foram utilizados outras duas fontes de dados,

13
com o objetivo em comum de ajudar nas interpretações dos dados in situ. Assim sendo,

resultados de uma simulação global, em alta resolução, com assimilação de dados do

modelo HYbrid Coordinate Ocean Model (HYCOM) e, dados de sensoriamento remoto,

através de composições de imagens da cor do mar, obtidos através do sensor Sea-

viewing Wide Field-of-view Sensor (SeaWiFS), foram usados neste trabalho.

3.2.1 Temperatura e Condutividade

Os dados de temperatura e condutividade foram analisados para entender o

comportamento termohalino da Corrente Norte do Brasil na região da retroflexão. Para

tal foram examinadas seções de temperatura e salinidade, sendo essa última calculada a

partir dos valores de condutividade. Os dados passaram por uma rotina de

processamento com o objetivo de eliminar valores espúrios e erros relacionados à

repetição de valores. O programa utilizado para esse procedimento foi o SeaBird Data

Processing fornecido pelo próprio fabricante e cedido pela Marinha do Brasil.

A profundidade das estações cujos dados foram analisados variou entre 70m e

3500m, totalizando 88 estações distribuídas em 11 radiais do conjunto formado pelas

três comissões oceanográficas. A distribuição dessas radiais e desses arquivos de

temperatura e condutividade foram às seguintes: ONI - 6 radiais somando 47 estações

(Figura 2); ONII - 3 radiais com o total de 25 estações (Figura 3); e ONIII - 2 radiais com

16 estações ao todo (Figura 4). As radiais escolhidas foram denominadas em função da

sua localização na direção sudeste para noroeste, por exemplo: para a comissão ONI, a

radial 1A, localiza-se mais a sudeste, enquanto a radial 1F encontra-se mais a noroeste.

14
Figura 2: Mapa das estações de CTD coletadas na ONI. As estações utilizadas neste trabalho estão em
magenta.

15
Figura 3: Mapa das estações de CTD coletadas na ONII. As estações utilizadas neste trabalho estão em
magenta.

16
Figura 4: Mapa das estações de CTD coletadas na ONIII. As estações utilizadas neste trabalho estão em
magenta.

A porção superior do oceano foi dividida em duas camadas seguindo o critério

17
de WILSON et al. (1994) e reproduzido por GOES et al. (2005). A escolha das

isopicnais de 24.5 e de 26.8 está relacionada aos limites dos núcleos de correntes e

massas d’água, além de serem próximas aos valores de densidades utilizadas em outros

estudos (SCHOTT et al., 2003; BOURLÈS et al., 1999b). A parte superior compreende

desde a superfície até a profundidade onde se encontra a isopicnal de 24.5. Nela

encontram-se os núcleos da CNB, CCNE e SCE. Na segunda camada, localizada entre

as isopicnais de 24.5 e 26.8, são encontrados os núcleos da SCNB, SCNE, SCSE e a

porção funda da SCE.

3.2.2 Correntometria

Para compreender o comportamento da corrente na região de estudo, foram

analisados os dados de correntometria relacionados às radiais escolhidas. Dentro desses

arquivos foram usados valores correspondentes aos valores médios obtidos a cada 5

minutos dentro de um intervalo vertical de 8m, a partir da profundidade mínima de

24m.

Esses arquivos foram processados usando um pacote de programas chamado

CODAS Processing, que faz parte de um programa de banco de dados conhecido como

Commom Ocean Data Access System (CODAS). Este programa foi criado e é

disponibilizado pela Universidade do Havaí.

Antes de iniciar o processamento dos dados de correntes no CODAS, foi

necessário preparar um arquivo de texto contendo os dados do termossalinógrafo para a

realização da calibração da velocidade do som. Essa calibração é necessária para que o

ajuste do feixe sonoro emitido/recebido pelo ADCP possa determinar a velocidade das

partículas no fluido.

18
A configuração usada para o processamento no CODAS foi a default que

corresponde à utilização de valores médios de velocidade no intervalo de tempo de 5

minutos. Então, para atender a essa configuração, foram utilizados os arquivos de saída

do ADCP no formato STA (Short Time Average) que correspondem à média do intervalo

mencionado.

O processamento pelo pacote CODAS acontece em quatro etapas que são

realizadas pelas rotinas do programa. A primeira é a retirada da velocidade do navio das

velocidades médias aquisitadas, usando para isso, uma camada de referência no oceano.

Em segundo, é a estimativa da posição de desalinhamento, que acontece devido à

aceleração repentina do navio observada nas manobras de parada e partida para a

realização de uma estação. Este procedimento serve para diminuir o erro nas

velocidades. O passo seguinte foca na correção do posicionamento giroscópico através

do GPS, para tornar o posicionamento mais preciso.

A segunda e terceira etapas realizam a correção dos ângulos de direção dos

vetores de velocidades. Iniciou-se a segunda etapa para a verificação dos dados de

entrada, calibração da velocidade do som e, visualização da direção e magnitude da

velocidade obtida pelo ADCP. Ao final desta foi obtido um valor para a correção dos

ângulos de direção dos vetores de velocidade. Em seguida, foi feito um reprocessamento

(etapa três) no CODAS, informando o valor de correção e posterior visualização, que é

realizada na quarta e última etapa.

A última etapa é a edição os dados, onde foi feita a visualização e correção

manual de alguns dados que não foram corrigidos nas etapas anteriores. Após esta etapa,

foram geradas figuras em planta dos vetores de velocidade em superfície e

subsuperfície, bem como, seções das velocidades transversais à CNB.

19
O processamento e reprocessamento do CODAS foram realizados no prompt do

Windows usando o Python. Enquanto que, as etapas de visualização e eliminação dos

dados espúrios manualmente foram efetuadas em ambiente MATLAB.

As seções de velocidade ficaram limitadas aos 200 primeiros metros da coluna

d’água, em função desta, ser a profundidade máxima de retorno do sinal acústico do

ADCP considerado bom. Esta classificação, do retorno do sinal ser bom, é feita durante

a calibração e configuração do equipamento antes de ser colocado em operação e é

sugerida pelo fabricante do equipamento.

3.2.3 Resultados do Modelo HYCOM

Os dados analisados, neste trabalho, possuem uma restrição quanto à dimensão

espacial, ou seja, não mostram a circulação geral na região de interesse desse estudo.

Sendo assim, com o intuito de auxiliar na interpretação dos dados e entender a

circulação geral, durante o período de coleta dos dados, foram usados resultados de uma

simulação global do modelo numérico HYCOM, feita e distribuída pelo Hycom

Consortium.

A simulação dos resultados analisados foi configurada em alta resolução (1/12°)

e com 32 camadas isopicnais em σ2, incluindo assimilação de dados. Os dados

assimilados foram obtidos através de altimetria por satélite, temperatura de superfície do

mar in situ, perfis verticais de salinidade de XBT’s, flutuadores ARGO e bóias

fundeadas. A janela de assimilação é de aproximadamente 12 horas (HYCOM, 2010).

Foram usados resultados correspondentes às datas de realização das comissões

Oceano Norte II (2005) e Oceano Norte III (2008), pois somente estes resultados

estavam disponíveis.

20
3.2.4 Clorofila - Imagens SeaWiFS (Sea-viewing Wide Field-of-view Sensor)

Com o mesmo objetivo da utilização dos resultados do modelo numérico, os

dados de clorofila, obtidos através do sensoriamento remoto, também foram usados

como ferramenta não só para entender o panorama encontrado durante as campanhas

oceanográficas, mas também como uma ferramenta auxiliar de corroboração do

processamento dos dados de velocidade.

Assim sendo, dados diários da cor do mar foram adquiridos através do site da

Ocean Color (Ocean Color, 2009). Classificados como nível 3, esses dados foram

processados, corrigidos e passaram por um controle de qualidade antes de sua

disponibilização na internet. Foram utilizados dados diários do sensor Sea-viewing Wide

Field-of-view Sensor (SeaWiFS) com resolução de 9km a bordo do satélite Sea Star. A

escolha desse sensor se deu devido a sua série temporal, desde 1997, abrangendo o

período de todas as comissões oceanográficas.

Em seguida, foram elaboradas composições médias de 7 dias, para o período de

realização de cada radial. Essas composições foram plotadas juntamente com os

resultados do modelo numérico e dados de velocidade tratados com o CODAS. Os

períodos utilizados, para a elaboração das composições de imagens, foram baseados no

mesmo período das aquisições dos dados de correntometria (Tabela 1).

Tabela 1: Períodos que foram usados para a elaboração das composições de imagens de clorofila.

Comissão Radiais Períodos


A 24-Jul-2001 a 30-Jul-2001
ONI BC 07-Ago-2001 a 13-Ago-2001
DEF 22-Ago-2001 a 28-Ago-2001
A 14-Out-2005 a 20-Out-2005
ONII
BC 28-Out-2005 a 03-Nov-2005
A 25-Out-2008 a 31-Out-2008
ONIII
B 01-Dez-2008 a 07-Dez-2008

21
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Massas d’água

Diferentes grupos de massas d’água foram identificados nas análises dos

diagramas de TS das três comissões oceanográficas. Os índices utilizados para essa

classificação foram baseados nos trabalhos de STRAMMA e SCHOTT (1999) e

SARAFANOV et al. (2007).

A primeira massa d’água identificada foi a Água Tropical (AT), com valor de σθ

< 25.8kg/m3, distribuída entre a superfície até a profundidade média de 145m. Foi

observado que o valor da isopicnal acompanhou a isoterma de 19.5°C, indicando o seu

limite inferior. Imediatamente abaixo, está a Água Central do Atlântico Sul (ACAS) que

foi delimitada no intervalo de 25.8kg/m3 < σθ < 27.1kg/m3. Esses limites correspondem

às isotermas de 19.5°C e 7.5°C, localizando a ACAS entre as profundidades médias de

145m e 500m.

Para as águas intermediárias, não foi possível observar a diferença entre a Água

Intermediária Antártica (AIA) e a Água Circumpolar Profunda Superior (ACPS).

Portanto, esse fluxo combinado de AIA-ACPS foi observado entre as profundidades

médias de 500m e 1170m. Os valores de σθ que delimitaram a AIA-ACPS foram

27.1kg/m3 e 27.6kg/m3 que correspondem às isotermas de 7.5°C e 5.0°C,

respectivamente.

Os valores de σθ > 27.6kg/m3 foram usados para verificar a presença da Água

Profunda do Atlântico Norte (APAN) na região de estudo, e ela foi localizada a partir da

profundidade de 1170m. A porção superior da APAN, Água Profunda do Atlântico Norte

Superior (APANS) foi observada nas radiais B (Figura 5), C e D da comissão Oceano

22
Norte I, onde a profundidade máxima local foi de 1450m, 1750m e 1310m,

respectivamente. Foi possível observar a presença das três porções da APAN nas radiais

A (Figura 6), B e C da Oceano Norte II e as radiais A (Figura 7) e B da Oceano Norte III,

por terem as profundidades máximas locais superiores a 2800m de profundidade.

As radiais A e F da Oceano Norte I tiveram as profundidades mais rasas de todas

as radiais analisadas com 70m e 250m respectivamente. Portanto, só sendo possível

verificar a presença da AT na primeira radial e da AT/ACAS na segunda.

Além dessas massas d’água presentes, foram observadas águas menos salinas

(valores de salinidade < 36.2) na superfície. Essas águas foram definidas como parte da

pluma do Amazonas e estiveram presentes em todas as radiais estudadas. Por outro lado,

não foi observada, em nenhuma radial analisada, a presença de águas profundas com as

características da Água de Fundo Antártica (AFA).

Figura 5: Diagrama TS da Radial B da Comissão ONI. As massas d’águas estão representadas por: AT
(Água Tropical), ACAS (Água Central do Atlântico Sul), AIA-ACPS (Água Intermediária Antártica e
Água Circumpolar Antártica Superior) e APAN (Água Profunda do Atlântico Norte). As linhas coloridas
identificam as seguintes isopicnais: 25.8kg/m3, em vermelho; 27.1kg/m3, em azul e, 27.6kg/m3, em verde.
O círculo em amarelo indica a pluma do Amazonas.

23
Figura 6: Diagrama TS da Radial A da Comissão ONII. As massas d’águas estão representadas por: AT
(Água Tropical), ACAS (Água Central do Atlântico Sul), AIA-ACPS (Água Intermediária Antártica e
Água Circumpolar Antártica Superior) e APAN (Água Profunda do Atlântico Norte). As linhas coloridas
identificam as seguintes isopicnais: 25.8kg/m3, em vermelho; 27.1kg/m3, em azul e, 27.6kg/m3, em verde.
O círculo em amarelo indica a pluma do Amazonas.

Figura 7: Diagrama TS da Radial A da Comissão ONIII. As massas d’águas estão representadas por: AT
(Água Tropical), ACAS (Água Central do Atlântico Sul), AIA-ACPS (Água Intermediária Antártica e

24
Água Circumpolar Antártica Superior) e APAN (Água Profunda do Atlântico Norte). As linhas coloridas
identificam as seguintes isopicnais: 25.8kg/m3, em vermelho; 27.1kg/m3, em azul e, 27.6kg/m3, em verde.
O círculo em amarelo indica a pluma do Amazonas.

Além de identificar as massas d’água existentes na região, os diagramas de TS e

as seções verticais de salinidade, mostraram a presença de um núcleo de máxima

salinidade em subsuperfície. Inserida no domínio da Água Tropical, esta feição se

encontra próxima a termoclina entre as profundidades de 120m e 140m. Além disso,

durante as três comissões oceanográficas, esse núcleo esteve posicionado junto ao

talude, com o valor máximo de salinidade próximo de 36.5.

Em função das características observadas a respeito desse núcleo de máxima

salinidade, este pode corresponder a Subágua Subtropical do Atlântico Sul (SSAS) que

sendo advectada pela CNB, chega a região de estudo. Observada em quase todas as

radiais analisadas, esta feição apenas não foi encontrada na Radial A da ONI, por esta

ser uma radial rasa, com profundidade máxima de 70m e, portanto, não poderia

amostrar o núcleo de máxima salinidade.

Nas seções verticais também foram observadas a presença de águas de baixa

salinidade na superfície. Essas águas representam a pluma do Amazonas que durante a

comissão Oceano Norte I, realizada entre os meses de julho e setembro, esteve sobre a

plataforma continental próxima ao talude (Figura 8). Já nas comissões ONII (Figura 8) e

ONIII (Figura 8), notam-se a presença dessas águas em áreas oceânicas, como resultado

da advecção da pluma pela retroflexão da CNB. Ambas as comissões foram realizadas

no período entre outubro e dezembro.

25
Figura 8: Seção vertical da salinidade para os primeiros 200m de profundidade da Radial D da Comissão
Oceano Norte I. A pluma do Amazonas é notada com valores de baixa salinidade na superfície (<36.2).
Observa-se a presença do núcleo de máxima salinidade em subsuperfície (>36.4). A linha em azul marca
a isopicnal de 24.5kg/m3, indicando o topo da termoclina.

26
Figura 9: Seção vertical da salinidade para os primeiros 200m de profundidade da Radial A da Comissão
Oceano Norte II. A pluma do Amazonas é notada com valores de baixa salinidade na superfície (<36.2).
Observa-se a presença do núcleo de máxima salinidade em subsuperfície (>36.4). A linha em azul marca
a isopicnal de 24.5kg/m3, indicando o topo da termoclina. A isopicnal de 26.8kg/m3, em magenta, marca a
base da termoclina.

27
Figura 10: Seção vertical da salinidade para os primeiros 200m de profundidade da Radial A da Comissão
Oceano Norte II. A pluma do Amazonas é notada com valores de baixa salinidade na superfície (<36.2).
Observa-se a presença do núcleo de máxima salinidade em subsuperfície (>36.4). A linha em azul marca
a isopicnal de 24.5kg/m3, indicando o topo da termoclina.

Analisando as seções de temperatura das três comissões, foi observada a

penetração da parte superior da termoclina, correspondente a σθ de 24.5kg/m3, na região

externa da plataforma continental amazônica. Essa isopicnal acompanha a isoterma de

25°C e segundo os trabalhos STRAMMA e SCHOTT (1999), SCHOTT et al. (1998) e

STRAMMA et al. (2005) a termoclina varia na região entre as isotermas de 25°C e

28
15°C. Portanto, perceber a presença da isopicnal de 24.5kg/m3 nas longitudes mais

próximas da costa e em profundidades mais rasas é indicativo de que o topo da

termoclina invadiu a região externa da plataforma.

Este comportamento foi notado nas radiais que se encontravam mais a noroeste

da desembocadura do rio, após a passagem da CNB pela região do Cânion do

Amazonas, em todas as comissões. A Radial D da ONI mostra que o topo da termoclina

encontra-se entre as profundidades de 40m e 100m, entre 48.7°W e 49.3°W. (Figura 11).

Entre as longitudes de 50°W e 50.5°W, na Radial C da comissão ONII (Figura 12) e na

Radial B da ONIII (Figura 13), o topo da termoclina foi observado entre 40m e 100m de

profundidade.

Figura 11: Seção vertical da temperatura para os primeiros 200m de profundidade da Radial D da
Comissão Oceano Norte I. A isopicnal de 24.5kg/m3, representada pela linha em azul, indica o
posicionamento do topo da termoclina na radial analisada.

29
Figura 12: Seção vertical da temperatura para os primeiros 200m de profundidade da Radial C da
Comissão Oceano Norte II. A isopicnal de 24.5kg/m3, representada pela linha em azul, indica o
posicionamento do topo da termoclina na radial analisada.

30
Figura 13: Seção vertical da temperatura para os primeiros 200m de profundidade da Radial B da
Comissão Oceano Norte III. A isopicnal de 24.5kg/m3, representada pela linha em azul, indica o
posicionamento do topo da termoclina na radial analisada.

31
4.2 Circulação

Com objetivo de compreender o padrão de circulação na área de estudo, durante

a execução das três campanhas oceanográficas, foi realizada uma análise, em conjunto,

dos dados de correntometria tratados com o CODAS, os resultados do modelo

assimilado e a composição média de 7 dias das imagens de clorofila-a. Além disso, essa

análise serviu para verificar se o processamento realizado com CODAS era coerente

com o resultado do modelo e os dados de sensoriamento remoto.

4.2.1 Circulação em superfície

Nas análises de circulação superficial, foram observados os dois

comportamentos característicos da Corrente Norte do Brasil: (i) o de fluxo contínuo

junto ao talude e (ii) sua retroflexão para leste. Além disso, foi observado o

desprendimento de vórtices durante as campanhas.

Para facilitar o entendimento dos processos encontrados, cada comissão foi

dividida em períodos de análises que foram determinados em função da realização das

radiais e da composição de 7 dias de clorofila-a.

4.2.1.1 Oceano Norte I

Essa comissão foi dividida em três períodos de interesse. O primeiro período

corresponde entre os dias 25/07/2001 e 30/07/2001, o segundo entre 07/08/2001 e

14/08/2001 e, o terceiro entre 21/08/2001 e 28/08/2001.

A composição média de imagens de clorofila-a, no primeiro período, mostrou a

pluma do Amazonas restrita sobre a plataforma até 5°N, onde se observa a presença de

um vórtice não desprendido da corrente, entre 5°N e 10°N e 48°W e 52°W. Além disso,

nota-se que uma parcela de águas oriundas da costa foi advectada para leste e inseridas

32
no fluxo superficial da CCNE após 42°W.

Dentro desse primeiro período, foi feita a aquisição de dados de velocidade na

Radial A. Ocorrida no dia 28/07/2001, os vetores de velocidade mostraram-se paralelos

a costa, sobre a quebra da plataforma continental (Figura 14).

Figura 14: Composição de 7 dias de clorofila-a referente ao período de 27/07/2001 e 30/07/2001. Os


vetores de velocidade do ACDP, em vermelho, referem-se à Radial A realizada em 28/07/2001. Nota-se a
presença de um vórtice e o fluxo para leste de águas da plataforma.

33
A composição média de imagens de clorofila-a, para o segundo período desta

comissão, mostrou que o vórtice não se encontra mais dentro da região de estudo. A

pluma do Amazonas esteve mais espalhada para noroeste, próxima de 5°N, e o

deslocamento de águas da plataforma para leste, mostrando a presença da CCNE.

Os dados de velocidade foram adquiridos nos dias 08 e 09/08/2001, para a

Radial B, e 11 a 13/08/2001, para a Radial C. Esses dados mostraram o fluxo, para

noroeste, da corrente junto à costa. As maiores intensidades foram encontradas sobre o

talude, enquanto as menores intensidades foram observadas sobre a plataforma

amazônica. Foi observado também, que os vetores encontrados mais ao largo da Radial

C apresentaram um giro para nordeste, indicando mudança na direção da corrente

(Figura 15).

34
Figura 15: Composição de 7 dias de clorofila-a referente ao período de 07/08/2001 e 14/08/2001. Os
vetores de velocidade do ACDP, em vermelho, referem-se à Radial B realizada entre 08 e 09/08/2001 e à
Radial C entre 11 e 13/08/2001. Nota-se que o vórtice não se encontra dentro da região de estudo e o
fluxo para leste de águas da plataforma.

35
Na composição de imagens do terceiro período, foram observados que o fluxo da

CNB foi contínuo para noroeste ao longo da costa e que a pluma do Amazonas

encontrou-se restrita apenas sobre a plataforma, fluindo para noroeste também.

A coleta de dados sobre velocidade das Radiais D, E e F foram realizadas entre

os dias 22 a 23/08/2001, 25/08/2001 e de 26 a 28/08/2001, respectivamente. Esses

dados mostraram que aos vetores de velocidade continuaram para noroeste e que as

maiores intensidades foram observadas na região do talude próxima a quebra da

plataforma. Além disso, os vetores localizados na plataforma tiveram as menores

intensidades e com suas direções voltadas mais para o norte (Figura 16).

36
Figura 16: Composição de 7 dias de clorofila-a referente ao período de 21/08/2001 e 28/08/2001. Os
vetores de velocidade do ACDP, em vermelho, referem-se à Radial D realizada entre 22 e 23/08/2001, à
Radial E em 25/08/2001 e à Radial F entre 26 e 28/08/2001. Nota-se que o fluxo contínuo para noroeste
da CNB e a pluma do Amazonas restrita à plataforama, também com o fluxo para a mesma direção da
corrente.

37
4.2.1.2 Oceano Norte II

Esta comissão foi dividida em dois períodos de análise em função das

composições médias de clorofila-a. O primeiro corresponde aos dias entre 14 e

20/10/2005 e o segundo entre 28/10/2005 a 03/11/2008.

Analisando o primeiro período, observou-se a pluma do Amazonas restrita a

plataforma amazônica e a presença de um vórtice desprendido da corrente ao norte de

7°N. Os dados de corrente adquiridos pelo ADCP durante a realização da Radial A,

ocorrida entre os dias 19 e 20/10/2005, mostraram um fluxo para noroeste, entre a

região do talude até 46°W e, um fluxo para sudeste de 46°W a 44°W. As maiores

intensidades foram observadas sobre a quebra da plataforma e entre 45°W e 44°W. O

resultado do modelo, para o mesmo período da Radial A, mostrou a presença da

retroflexão centrada em 5°N e 47°W. Além disso, observou-se um fluxo para leste

representando a CCNE (Figura 17).

No segundo período, foi observado que a pluma do Amazonas continuou com

seu fluxo restrito sobre a plataforma continental até 5°N, onde parte de suas águas são

levadas para leste por ação da retroflexão. Tanto a retroflexão como a CCNE foram

observados no resultado do modelo assimilado. A aquisição dos dados de velocidade foi

realizada nos dias 29 e 30/10/2005, na Radial C, e 02 e 03/11/2005, na Radial B.

Analisando os vetores de velocidade, foi possível observar que na Radial C, os

vetores de velocidade mostraram o instante em que a corrente começou a mudar sua

direção para nordeste, formando retroflexão (Figura 17). Na Radial B, foi possível ver a

inversão na direção dos vetores de velocidade em 5°N e 48°W (Figura 17).

38
Figura 17: Composição de 7 dias de clorofila-a referente ao período de 14/10/2005 e 20/10/2005. Os
vetores de velocidade do ACDP, em vermelho, referem-se à Radial A realizada entre 19 e 20/10/2005. Os
vetores de velocidade referente ao resultado do modelo estão em preto. Nota-se a presença de um vórtice
ao norte de 7°N, a inversão de velocidade em 46°W e a retroflexão centrada em 5°N e 47°W.

39
Figura 18: Composição de 7 dias de clorofila-a referente ao período de 28/10/2005 e 03/11/2005. Os
vetores de velocidade do ACDP, em vermelho, referem-se à Radial C realizada entre 29 e 30/10/2005. Os
vetores de velocidade referente ao resultado do modelo estão em preto. Nota-se a presença da retroflexão
centrada em 5°N e 48°W e da CCNE após 42°W.

40
Figura 19: Composição de 7 dias de clorofila-a referente ao período de 28/10/2005 e 03/11/2005. Os
vetores de velocidade do ACDP, em vermelho, referem-se à Radial B realizada entre 02 e 03/11/2005. Os
vetores de velocidade referente ao resultado do modelo estão em preto. Nota-se a presença da retroflexão
centrada ao note de 5°N e 48°W, da CCNE após 42°W e a inversão na direção dos vetores de velocidade
próximo dos 48°W.

41
4.2.1.3 Oceano Norte III

Semelhante a comissão anterior, esta comissão também teve dois períodos de

análise. O primeiro entre os dias 25/10/2008 e 31/10/2088. As datas de realização da

Radial A foi 27 a 30/10/2008, e da Radial B 02 a 05/12/2008.

No primeiro período, nota-se a presença de um vórtice desprendido e

centralizado em 7°N. O transporte das águas da plataforma para leste devido à

retroflexão. Os dados de velocidade do ADCP e do resultado do modelo mostraram a

mudança de direção da corrente de leste para oeste em 4°N e a presença da CCNE

(Figura 21). No segundo período, observa-se que o vórtice não se encontra dentro da

região fluindo para noroeste, o deslocamento do centro da retroflexão para o norte de

5°N e a presença da CCNE a leste de 44°W (Figura 21).

42
Figura 20: Composição de 7 dias de clorofila-a referente ao período de 25/10/2008e 31/10/2008. Os
vetores de velocidade do ACDP, em vermelho, referem-se à Radial A realizada entre 27 e 30/10/2008. Os
vetores de velocidade referente ao resultado do modelo estão em preto. Nota-se a presença de um vórtice
desprendido da CNB em 7°N, da retroflexão localizada ao sul de 5°N, e a CCNE.

43
Figura 21: Composição de 7 dias de clorofila-a referente ao período de 01/12/2008 e 07/12/2008. Os
vetores de velocidade do ACDP, em vermelho, referem-se à Radial B realizada entre 02 e 05/12/2008. Os
vetores de velocidade referente ao resultado do modelo estão em preto. Nota-se a presença da retroflexão
centrada ao note de 5°N e 47°W, da CCNE após 42°W e a inversão na direção dos vetores de velocidade
próximo dos 48°W.

44
Os resultados do modelo numérico e a composição de 7 dias das imagens da cor

do oceano (clorofila-a) foram usados como ferramentas para verificar a qualidade dos

resultados dos dados de correntometria após o processamento com o CODAS. Ao gerar

as figuras com esses três conjuntos de dados, observou-se que eles mostravam os

mesmos fenômenos e de uma forma bem clara e definida. O mais interessante dessa

análise foi a verificação de que todos esses resultados foram coerentes entre si, sem a

necessidade de qualquer tipo de correção.

4.2.2 Circulação em subsuperfície

As análises de subsuperfície foram realizadas para melhorar o entendimento

sobre a CNB na região e foram restritas entre 24m de 200m. Esta foi a profundidade

máxima de alcance do ADCP, onde mais de 50% dos dados de velocidade foram

considerados bons para análise. Também foram utilizados os resultados do modelo para

ajudar na interpretação da CNB na sua vertical.

4.2.2.1 Oceano Norte I

Observou-se na Comissão ONI que o fluxo da corrente se mostrou contínuo e

paralelo na direção noroeste entre a superfície até 50m, aproximadamente. A partir dessa

profundidade, percebe-se uma rotação dos vetores de velocidade para o sentido horário

na porção mais externa da radial C (sobre o do Cone do Amazonas, vetores em

vermelho) próxima de 5°S e 47°W (Figura 22). A medida que essa rotação acontecia na

Radial C, os vetores de velocidade encontrados mais ao largo da Radial B, foram

girados mais para noroeste. Esse comportamento foi observado até a profundidade de

45
100m, aproximadamente, quando esses mesmo vetores da Radial B mudam a direção

para sudeste. Além disso, começa a haver um aumento da intensidade desses vetores em

subsuperfície.

Na profundidade de 144m, a rotação dos vetores de velocidade é observada em

todas as radiais, além de haver um aumento na intensidade desses vetores (Figura 23).

Em 200m, nota-se que nas radiais C, D e E, localizadas a noroeste do Cone do

Amazonas, possuem seus vetores direcionados para nordeste e sudeste. Nesta

profundidade, os vetores da Radial B estiveram direcionados para nordeste.

46
Figura 22: Seção horizontal de correntes na camada 4, correspondente a profundidade de 48m. As linhas
de vetores coloridos correspondem às radiais analisadas na ONI (azul: 1A, verde: 1B, vermelho: 1C,
ciano: 1D, magenta: 1E e amarelo: 1F).

47
Figura 23: Seção horizontal de correntes na camada 16, correspondente a profundidade de 144m. As
linhas de vetores coloridos correspondem às radiais analisadas na ONI (azul: 1A, verde: 1B, vermelho:
1C, ciano: 1D, magenta: 1E e amarelo: 1F).

48
A seção de velocidade transversal à CNB, na Radial C, mostra um fluxo para o

quadrante norte entre as longitudes 48.6°W e 47.3°W, onde ocorre a inversão do fluxo

para o quadrante sul. Observa-se o núcleo estreito da corrente localizado próximo ao

talude, entre 48.2°W e 48°W, e estendendo-se verticalmente entre 24m e120m de

profundidade com velocidade > 1.5m/s (Figura 24).

Seguindo o seu fluxo para noroeste, foi observado na Radial A a presença de

dois possíveis núcleos, um superfície e outro em subsuperfície. Na Radial B, apenas um

núcleo é observado próximo ao talude, um pouco mais estreito quando comparado na

radial anterior. O núcleo da corrente estreito e mais profundo foi observado na Radial C.

Nas radiais seguintes, este núcleo torna-se mais estreito e raso. Na Radial F, um núcleo

foi observado em subsuperfície. A Tabela 2 mostra a velocidade máxima encontrada em

cada radial da comissão Oceano Norte I, bem como a profundidade encontrada e o valor

do transporte de cada radial.

Tabela 2: Valores de velocidade máxima e a profundidade a ela associada e o transporte calculado para
dados de correntometria da Comissão ONI.

ONI - ADCP
A B C D E F
Velocidade Máxima
1.24 1.85 1.99 2.05 1.79 1.87
(m/s)
Profundidade da
40 24 32 24 24 80
Velocidade Máxima (m)
Transporte (Sv) 14 42 46 36.6 29.7 26.4

49
Figura 24: Seção vertical de velocidade da radial C da Comissão ONI. As cores em vermelho mostram a
direção para o quadrante norte. As cores em azul, para o quadrante sul.

4.2.2.2 Oceano Norte II

Analisando os vetores de velocidade ao longo da coluna d’água, foi observado

que a retroflexão presente na primeira camada do ADCP, que corresponde a

profundidade de 24m, foi até os 200m de profundidade (Figura 25). Mas os vetores que

estariam direcionados para noroeste em 24m, mudaram as suas direções para nordeste a

partir da profundidade de 152m. Na profundidade de 200m, observa-se que nas radiais

A e C, existe uma indicação de um fluxo para sudeste próximo ao talude (Figura 25).

50
Figura 25: Seção horizontal de correntes na camada 1, correspondente a profundidade de 24m. As linhas
de vetores coloridos correspondem às radiais analisadas na ONII (azul: 2A, verde: 2B e vermelho: 2C).

51
Figura 26: Seção horizontal de correntes na camada 23, correspondente a profundidade de 200m. As
linhas de vetores coloridos correspondem às radiais analisadas na ONII (azul: 2A, verde: 2B e vermelho:
2C).

52
As seções verticais dos dados de ADCP das radiais da Comissão ONII,

mostraram a retroflexão ocorrendo da superfície e atingindo os 200m de profundidade.

A mudança na direção dos vetores de velocidade foi observada nas seguintes longitudes

de 46.4°W, 48,4°W e 49,3°W, referentes às radiais A, B (Figura 27) e C, respectivamente.

Foi notado também um fluxo para o quadrante sul abaixo dos 140m de profundidade

nas proximidades do talude.

Comparando os dados do ADCP com os resultados do modelo assimilado,

notou-se que ambos mostraram a presença da retroflexão e os locais onde houveram a

mudança de direção da corrente fora bem próximas. O fluxo de retorno, observado

próximo ao talude nos resultados do modelo, foi apenas encontrado nas radiais B (Figura

28) e C. A respeito do núcleo da corrente, tanto nos dados quanto no modelo, foi

observado próximo a superfície e entre as profundidades de 100m e 120m.

Além das comparações verticais, foram calculados os valores do transporte da

CNB nos dados de correntometria, de cada radial estudada e dos resultados de modelo

até 200m de profundidade, que corresponde à profundidade máxima do alcance do

ADCP. A Tabela 3 mostra as velocidades máximas encontradas em cada fonte de dados,

bem como, as profundidades a que essas velocidades estavam associadas e, os valores

de transporte calculados.

Tabela 3: Valores de velocidade máxima e a profundidade a ela associada e o transporte calculado para
dados de correntometria da Comissão ONII.

ONII - ADCP ONII - Resultado Modelo


A B C A B C
Velocidade Máxima
1.48 1.63 1.86 1.40 1.88 1.76
(m/s)
Profundidade da
24 24 24 0 0 0
Velocidade Máxima (m)
Transporte (Sv) 26.8 24.6 30.5 30 34.4 27.4

53
Figura 27: Seção vertical de velocidade da radial B da Comissão ONII. As cores em vermelho mostram a
direção para o quadrante norte. As cores em azul para o quadrante sul.

54
Figura 28: Seção vertical de velocidade da radial B da Comissão ONII. As cores em vermelho mostram a
direção para o quadrante norte. As cores em azul para o quadrante sul.

4.2.2.3 Oceano Norte III

Os dados de velocidade obtidos através do ADCP, durante a comissão de ONIII,

mostraram a presença da retroflexão desde a profundidade de 24m (Figura 29) referente à

camada 1 do ADCP, até os 200m de profundidade. Foi observado também que os

vetores de velocidade localizados próximos ao talude na Radial B, sofreram uma

mudança na direção para noroeste (Figura 30) a partir dos 100m de profundidade.

55
Figura 29: Seção horizontal de correntes na camada 1, correspondente a profundidade de 24m. As linhas
de vetores coloridos correspondem às radiais analisadas na ONIII (azul: 3A e verde: 3B).

56
Figura 30: Seção horizontal de correntes na camada 11, correspondente a profundidade de 104m. As
linhas de vetores coloridos correspondem às radiais analisadas na ONIII (azul: 3A e verde: 3B).

57
As seções verticais de velocidade das radiais realizadas na Comissão ONIII,

mostraram a presença da retroflexão desde a superfície até 200m de profundidade. A

mudança na direção das velocidades ocorreu em 47°W, na Radial A e próximo da

longitude de 49°W, na Radial B.

A comparação realizada entre os dados do ADCP e os resultados do modelo

assimilado, mostrou a retroflexão presente nas duas radiais e nos dois conjuntos de

dados. Nos dados de ADCP, a longitude onde ocorreu a mudança na direção dos vetores

de velocidade, na Radial A foi em 47°W (Figura 31) e na Radial B em 49°W. Nos

resultados do modelo assimilado, as localizações foram bem próximas, em 47,3°W para

a Radial A (Figura 31) e 49°W para a Radial B. Quanto ao núcleo da corrente, foi notado

que esteve localizado próximo a superfície.

Foram calculados os valores do transporte da CNB nos dados de correntometria

e nos resultados de modelo até 200m de profundidade, em cada radial analisada. A

profundidade de 200m corresponde à profundidade máxima do alcance do ADCP. A

Tabela 3 mostra as velocidades máximas encontradas em cada conjunto de dados, bem

como, as profundidades a que essas velocidades estavam associadas e, os valores de

transporte calculados.

Tabela 4: Valores de velocidade máxima e a profundidade a ela associada e o transporte calculado para
dados de correntometria da Comissão ONIII.

ONIII - ADCP ONIII - Modelo


A B A B
Velocidade Máxima
1.44 1.70 1.57 1.70
(m/s)
Profundidade da
24 24 0 0
Velocidade Máxima
Transporte (Sv) 29.1 23.1 32.3 29.3

58
Figura 31: Seção vertical de velocidade da radial A da Comissão ONIII. As cores em vermelho mostram a
direção para o quadrante norte. As cores em azul para o quadrante sul.

59
Figura 32: Seção vertical de velocidade da radial B da Comissão ONIII. As cores em vermelho mostram a
direção para o quadrante norte. As cores em azul para o quadrante sul.

As comparações realizadas entre os dados de velocidade do ADCP, resultados do

modelo assimilado e as composições de imagens de clorofila-a foram muito coerentes

entre si, mostrando que o processamento realizado pelo CODAS fora confiável.

As diferenças encontradas entre os valores de transporte entre os dados de ADCP

e os resultados de modelo, devem-se, ao menos em parte, ao fato de que o cálculo do

transporte para os valores de correntometria foi calculado a partir de 24m (camada 1 do

ADCP) até a profundidade de 200m. E isto, pode ter influenciado na divergência dos

valores de transporte calculado pelos dados de corrente do ADCP.

60
5. CONCLUSÕES

A distribuição vertical das massas d’água desde a superfície até a profundidade

de 3500m encontrada neste trabalho foi: (i) Água Superficial Tropical, entre a superfície

e a profundidade de 145m, sendo delimitada inferiormente pela isopicnal de 25.8kg/m3.

(ii) Águas Centrais do Atlântico Sul (ACAS), encontrada entre 145m e 500m, e

identificada entre as isopicnais de 25.8kg/m3e 27.18kg/m3; (iii) Água Intermediária

Antártica (AIA), localizada entre 500m e 1170m e inserida no intervalo de 27.1kg/m3 e

27.6kg/m3; e, (v) Água Profunda do Atlântico Norte, associada a valores de isopicnal

>27.6kg/m3, abaixo dos 1170m de profundidade.

Foi notada em todas as radiais, a presença de um núcleo de máxima salinidade,

localizado próximo a termoclina, com o valor de salinidade próximo de 36.5. Essa

feição correspondeu a Subágua Subtropical do Atlântico Sul (SSAS) sendo transportada

pela Corrente Norte do Brasil próxima a região do talude, entre as profundidades de

100m e 128m.

Nos primeiros 200m de profundidade, a CNB transporta a Água Tropical e a

porção superior da Água Central do Atlântico Sul (ACAS) no seu fluxo para noroeste.

Quando ela retroflete para leste, além de transportar essas duas massas d’água

superficiais, a CNB leva águas provenientes da pluma do Amazonas para a região

oceânica.

O comportamento vertical da CNB é complexa, uma vez que a sua porção

subsuperficial, se apresentou desconexa da porção superficial, com a presença de uma

retroflexão em subsuperfície, que não é observada nos dados de velocidade em

superfície.

61
O resultado pós-processamento dos dados de velocidade do ADCP utilizando o

CODAS foi bastante similar com os resultados do modelo e as composições de 7 dias

das imagens de clorofila-a, sem a necessidade de ajustes, aumentando assim a

confiabilidade dos dados de correntometria. Essa coerência nos resultados foi observada

tanta em superfície quanto em subsuperfície.

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