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ISSN: 2525-8761
RESUMO
A baunilha (Vanilla planifólia) é uma planta perene, nativa do México e América Central,
que cresce à sombra em região de clima tropical. Seus frutos, denominadas vagens ou
favas, possuem a vanilina que confere aroma à planta utilizada na culinária e na indústria,
porém a baunilha sintética é a mais comercializada. Em razão da valorização da baunilha
no mercado mundial, visando atender a procura por ingredientes naturais e aumentar o
retorno financeiro por hectare, principalmente para pequenos e médios produtores,
buscou-se desenvolver um cultivo experimental da baunilha na região de São José do Rio
Preto – SP. Devido a exigência da planta por sombreamento foi adotado dois sistemas de
cultivo: cultivo protegido e sistema agroflorestal (SAF). Como são escassas as
informações a respeito da baunilha no Brasil e nas principais regiões produtoras, em
especial na região onde o experimento foi instalado, o presente trabalho objetivou
identificar duas espécies de lagartas que surgiram no cultivo experimental de baunilha
causando danos a cultura. As lagartas foram identificadas através um levantamento de
dados na literatura disponível para relatar sua ocorrência.
ABSTRACT
Vanilla (Vanilla planifólia) is a perennial plant, native to Mexico and Central America,
which grows in the shade in a tropical climate region. Its fruits, called pods or beans, have
vanillin that gives aroma to the plant used in cooking and industry, but synthetic vanilla
is the most commercialized. Due to the appreciation of vanilla in the world market, aiming
to meet the demand for natural ingredients and increase the financial return per hectare,
mainly for small and medium producers, we sought to develop an experimental
cultivation of vanilla in the region of São José do Rio Preto - SP. Due to the requirement
of the plant for shading, two cultivation systems were adopted: protected cultivation and
agroforestry system (SAF). As there is little information about vanilla in Brazil and in the
main producing regions, especially in the region where the experiment was installed, this
study aimed to identify two species of caterpillars that appeared in the experimental
cultivation of vanilla causing damage to the crop. Caterpillars were identified through a
survey of data in the available literature to report their occurrence.
1 INTRODUÇÃO
Originária do sudeste do México, Guatemala e outras regiões da América Central,
e do Sul, incluindo o Brasil, a baunilha é uma planta da família Orquidaceae, gênero
Vanilla, cultivada para usos alimentares e farmacêuticos. É constituída por cerca de uma
centena de espécies, mas 95% da produção resulta do cultivo da espécie Vanilla
planifolia. Outras espécies, a Vanilla tahitensis e Vanilla pompona também são
cultivadas, mas o fruto é de menor qualidade e são utilizadas para aromatizar tabaco e na
indústria da perfumaria (MAY et al, 2006; HOMMA et al, 2006; MAIA et al, 2014).
A baunilha é uma planta trepadeira, perene, cresce à sombra em região de clima
tropical, quente e úmida. A planta inicia o florescimento e consequentemente a produção
a partir do terceiro ano e a máxima produção é alcançada no sétimo ano de plantio. Após
a polinização das flores, desenvolvem-se os frutos, denominados vagens ou favas,
contendo minúsculas sementes que depois de colhidos, são secos e curados para serem
utilizados na aromatização de bebidas e sobremesas. A fava de baunilha possui diversos
constituintes químicos e a substância mais relevante é a vanilina, que confere aroma à
planta (HOMMA et al, 2006; MAIA et al, 2014).
Desde o século 19, cientistas produzem baunilha sintética através de vários
materiais como: carvão, alcatrão, farelo de arroz, polpa de madeira e até de esterco de
vaca, entretanto a maior produção é realizada por meio de petroquímicos que chega a ser,
em torno de 20 vezes mais barata que a baunilha natural. O interesse por alimento
produzido usando métodos tradicionais, de forma artesanal, vem aumentando e a pressão
sobre as empresas de alimentos para que troquem a baunilha artificial pela natural, ou
seja, extraída das favas, explica o aumento da sua demanda, pois menos de 1% da
baunilha utilizada no mundo saem de favas (KACUNGIRA, 2018; NASSER
BRUMANO, 2019).
Segundo Kacungira (2018) é difícil encontrar fava de baunilha no Brasil e sua
produção é muito reduzida. Embora existam pequenos produtores nos estados da Bahia,
Amazonas e alguns cultivos no litoral de São Paulo, a baunilha natural é suprida via
importação (HOMMA et al, 2006; MAIA et al, 2014). Atualmente os principais países
produtores são: Indonésia, Madagascar, China, México e Tonga, juntos representam 95%
da produção mundial (FAO, 2018).
A escassez de informações a respeito do cultivo desta planta é muito grande e por
ser uma cultura nova na região de São José do Rio Preto – SP, naturalmente apresenta
desafios que precisam ser solucionados pela pesquisa, dentre eles o surgimento de pragas.
Pragas são organismos que competem direta ou indiretamente com o homem por
alimento, matéria prima, causando danos de grandes proporções nas plantações se não
forem controladas (FURTADO, 2013). Segundo Wizbicki e Battisti (2014), problemas
causados por pragas podem ser reduzidos se forem identificados e tratados corretamente.
De acordo com Prado (1980) e Zucchi et al (1993) a Taxonomia entomológica é
o estudo científico das espécies e da diversidade dos insetos, bem como a relação
biológica entre eles, sendo de fundamental importância a sua a identificação e
classificação para solucionar problemas na agricultura permitindo determinar sua época
de ocorrência, danos caudados, importância econômica, ciclo biológico, distribuição e
possíveis métodos de controle.
Na agricultura, define-se uma praga pelo prejuízo e possíveis efeitos econômicos
produzidos pelos insetos (NAKANO, 1981). Uma determinada população de insetos é
considerada uma praga econômica, quando o nível de dano ocasiona uma perda financeira
significante, podendo variar de acordo com a praga e o dano causado por ela (HILL,
1997). Uma praga pode atacar diferentes partes dos vegetais, causando danos as plantas,
ocasionando queda de produção e consequentemente financeira, e em alguns casos levar
a morte das plantas (IMENES e IDE, 2002; NUNES et al, 2020). Portanto é de
fundamental importância a identificação correta e antecipada de pragas, bem como a
intensidade da infestação para minimizar perdas em uma lavoura (WIZBICKI e
BATTISTI, 2014).
De acordo com Jordão (2020) as pesquisas sobre pragas associadas à cultura de
baunilha são escassas. Segundo Cad (2003) embora não seja muito frequente, as pragas
mais comuns no cultivo de baunilha são: percevejos, besouros, cigarras anãs, caracóis e
lesmas. Algumas espécies pertencentes as ordens Lepidoptera, Hemiptera e Orthoptera
foram descritas na Índia, por Vanitha et al (2011) e classificadas de acordo com sua
gravidade de incidência. Na Ilha da Reunião, a cochonilha Conchaspis angraeci
Cockerell, 1893 foi relatada como uma praga chave de Vanilla planifolia, causando danos
por sucção de seiva das plantas (RICHARD et al., 2003). No Brasil, não há relatos de
ocorrência de pragas em cultivo de baunilha e o primeiro registro foi realizado por Jordão
(2020), sobre um inseto do gênero Montella sp. (Coleoptera: Curculionidae) causando
danos econômicos, considerados graves, nos cultivos de Vanilla planifolia, na região sul
do estado da Bahia, sendo a primeira evidência como potencial praga em orquídeas do
gênero Vanilla.
2 METERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado em novembro de 2019 em uma área pertencente à
Etec Padre José Nunes Dias em Monte Aprazível - SP. Para implantação do experimento
foram adquiridas 40 mudas de baunilha da espécie Vanilla planifólia de um produtor de
mudas de São Paulo – SP. As mudas foram plantadas em dois sistemas de cultivo, 20
mudas em cultivo protegido e 20 mudas em sistema agroflorestal. No cultivo protegido
foi utilizando o espaçamento de 3,0 m entre plantas e 3,0 m entre linhas, tutoradas em
mourões (verticais) de eucalipto de 1,5 m de altura e no topo dos mourões foram
colocadas madeiras (horizontal), pois se trata de uma planta trepadeira e a altura dos
mourões tem que ser conveniente para facilitar o enrolamento das hastes da baunilha no
tutor, facilitar a polinização das flores e colheita dos frutos (favas). No sistema
agroflorestal adotou-se o mesmo sistema de plantio e os tutores foram colocados entre as
linhas de seringueiras adultas utilizando o espaçamento de 3,0 m entre plantas e 7,0 m
entre linhas.
De acordo com Rezende e Ranga (2005), o clima predominante nesta área é o
tropical subquente e úmido com temperatura média anual de 25ºC. A estação quente, com
temperaturas médias acima de 26,4ºC, compreende os meses de outubro a março,
apresentando as maiores médias térmicas entre os meses de janeiro a fevereiro. A estação
menos quente, com médias superiores a 21 ºC compreende os meses de abril a setembro
e as medias térmicas menores abrangem os meses de junho e julho. A umidade relativa
do ar anual é cerca de 68% e a estação chuvosa ocorre nos meses de outubro a março,
com 85% da precipitação total anual e a estação seca, abrange os meses de abril a
setembro, com apenas 15% da precipitação total anual.
Para estudo do desenvolvimento da cultura, são realizadas avaliações periódicas
no presente experimento. Nos anos de 2020 a 2022, no período de maior incidência de
chuva, foram identificadas duas espécies de lagartas nos dois sistemas de cultivo de
baunilha. Foram coletadas a campo formas biológicas das respectivas lagartas e colocadas
em condições de laboratório, submetidas a uma dieta utilizando folhas da própria planta,
com intuito de avaliar seu ciclo biológico e realizar posteriormente a identificação da
espécie. A identificação da espécie foi realizada através de reconhecimento de padrões,
por meio de uma análise comparativa obtida através de registros fotográficos do processo
de metamorfose das formas biológicas de lagartas coletadas a campo e conduzidas em
laboratório, confrontadas com dados bibliográficos de livros, artigos científicos e web
sites.
De acordo com Gallo (2002), as pragas podem ser identificadas por comparação
entre os insetos disponíveis em exemplares identificados numa coleção, ou com
ilustrações, descrições ou através do uso de técnicas que realizam o reconhecimento de
padrões.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foi observado no cultivo experimental de baunilha, no sistema agroflorestal
(SAF), o surgimento de lagartas, em pequenos grupos, alimentando-se de folhas adultas
causando danos a planta. A incidência destas lagartas se deu nos meses de dezembro a
março, período de maior ocorrência de chuva na região. Este mesmo fato também foi
observado em um plantio comercial experimental de baunilha, em um sítio localizado na
cidade de Macaubal, região de São José do Rio Preto – SP, no mesmo período.
A lagarta foi identificada como sendo Hyphilaria thasus (STOLL, 1780)
(Lepidoptera, Riodinidae), segundo nomenclatura proposta dor Lamas 2004. De acordo
com Murgas e Jaen (2020), a Hyphilaria Hübner, (1819) é um gênero da subfamilia
Riodininae da tribo Mesosemiini, que contêm 5 espécies; H. nicia Hübner, (1819), H.
anthias (Hewitson, 1874); H. anophthalma (Felder, 1865), H. parthenis (Westwood, 1851)
e H. thasus (Stoll, 1780), sua distribuição vai desde o México, Costa Rica, Panamá, Brasil
até o Paraguai.
De acordo com Calero (2020), o adulto é uma pequena borboleta de hábito diurno,
pertence a família Riodinidae, apresenta linhas de cores marcantes nas asas e são
encontradas em bordas de matas, margens de riachos e matas secundárias. A pupa de
Hyphilaria thasus são castanhas com manchas negra na parte dorsal e a eclosão da
borboleta se dá entre 8 a 10 dias. Suas larvas se alimentam de folhas de plantas da família
Orchidaceae e algumas espécies se alimentam de folhas mortas nos solos de matas, vivem
em pequenos grupos ou solitárias (MURGAS e JAEN 2020; CALERO 2020). Estas
mesmas características foram observadas, nas larvas, pupa e adulto, no experimento de
baunilha (Figura 1).
Gonzalez (2015) em seu livro sobre as borboletas de Santa Fé de Antioquia, fez
um inventário de 102 espécies de borboletas com registro em fotografia de todas as fases:
larva, pupa e borboleta, assim como a planta hospedeira, dentre as espécies relatadas no
livro encontra-se a Hyphilaria thasus como hospedeira da Vanilla planifólia.
Figura 1. Hyphilaria thasus nas fases: larva, pupa e adulto, no experimento de baunilha em Sistema
Agroflorestal (SAF)
Uma outra espécie de lagarta foi observada nos dois sistemas de cultivo
experimental de baunilha, alimentando-se principalmente de brotos e folhas jovens,
migrando para folhas adultas, causando desfolhamento severo ao longo do ciclo de
desenvolvimento da baunilha. A incidência desta lagarta também foi observada nos meses
de janeiro a março, período de maior ocorrência de chuvas na região.
A lagarta foi identificada como sendo do gênero Spodoptera, a família mais
numerosa da ordem Lepidoptera (ZAHIRI et al. 2010, LAFONTAINE e SCHMIDT,
2010) considerada a mais destrutiva e que ocasiona as maiores perdas monetárias para a
agricultura sendo amplamente distribuídas no mundo. Das 30 espécies descritas, metade
é considerada praga de variadas culturas de importância econômica como pastagens,
hortaliças, feijão, algodão, soja, milho, sorgo, tomate, frutíferas, podendo se alimentar de
diferentes partes das plantas causando prejuízos significativos (KING e SAUNDERS,
1984; POGUE 2002). Na Figura 2 observa-se o registro desta lagarta no experimento
conduzido em cultivo protegido.
4 CONCLUSÃO
Pôde-se observar que o ataque da Spodoptera foi mais severo que a Hyphilaria,
embora ambas tenham causado danos as plantas.
A Hyphilaria tem registros de ataques em orquídeas já a Spodoptera possui hábito
polífago, podendo atacar oportunamente plantas que estão ao seu alcance.
A identificação de espécies de lagartas desfolhadoras na cultura de baunilha e a
observação de seus hábitos ecológicos e grau de severidade de ataque dentro do sistema
de cultivo experimental nos direciona a definir medidas para tomada de decisão para
realização do controle. Para que seja efetivo, o controle deve ocorrer antes que a
densidade populacional da praga atinja números suficientes para ocasionar dano
econômico.
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