Passagem de Turno - Contributo para A Qualidade Na Gestão Da Informação
Passagem de Turno - Contributo para A Qualidade Na Gestão Da Informação
Passagem de Turno - Contributo para A Qualidade Na Gestão Da Informação
Passagem de turno:
Passagem de turno:
Peter Drucker
Ao Manuel, à Matilde e ao Martim
Os meus filhos
AGRADECIMENTOS
Aos meus orientadores, a Professora Doutora Rosa Melo e o Mestre António Marques,
pela disponibilidade e motivação, pelo desafio e exigência, pelo suporte e partilha do
conhecimento.
Às pessoas doentes, pela motivação para ser e fazer cada vez melhor.
À família e aos amigos, os meus amores, por serem e por estarem, sempre.
Bem hajam
SIGLAS
HG – Hospital Geral
HP – Hospital Pediátrico
NH – Nursing Handover
PT – Passagem de Turno
SI – Sistemas de Informação
The nursing handover is the moment in which information is transmitted to provide care
continuity and of reflection of the practices. However, there is a lack of consistent
models that guide towards this practice, in order to provide greater quality in
information management.
A institutional, descriptive-exploratory and correlational scope study was undertaken
with a quantitative and qualitative approach, using stratified random sampling of the
inpatient services of the Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra; in which the
main objectives were the identification of the nursing handover model in use by the
inpatient services, and to identify the areas in which the nursing handover could be
improved. Data was collected from 24 services, from which two nursing handover’s
were recorded from each service, using two grids for observations and two
questionnaires, created for this study.
The most valued aspects were the Medical Diagnostics (68.5%), Therapeutic Attitudes
(70.7%) and Medical Prescriptions (58.9%) in classified language and «other data»
(66%); the least valued were Initial Assessment (19.4%), Diagnose Activity (36.8%);
Nursing Diagnoses (41.8%) and Nursing Interventions (30.7%) in classified language.
The nurse manager adopted an intervention that promotes nursing thinking in 13.0% of
the cases. There was a positive correlation between the prevalence of theoretical
frameworks in the audits carried out on nursing information and documentation
systems and the valuation of Nursing Diagnoses and the autonomous and conceptual
area (global) in nursing handover. The existence of a relationship between the duration
of the nursing handover and the quantity of errors/inconsistencies was not verified. The
Nursing Diagnostics tend to be more valued in services where the intervention of the
nurse manager promotes nursing thinking.
The suggestions for improvement that emerged were in the areas of information
management, explanation of clinical decision-making in nursing, nursing handover
interruptions, physical/space conditions, nursing handover organization and staffing.
The concept of centralised care still prevails under an executive logic rather than a
conceptual logic. It is important that the nurse manager adopts a leadership that
promotes nursing thinking and the use of the computerised process to support the
transmission of information in the nursing handover.
Keywords: nursing handover, model in use, nurse manager, quality.
LISTA DE TABELAS
................................................................................................................................... 78
................................................................................................................................... 82
2 – METODOLOGIA................................................................................................... 63
CONCLUSÃO........................................................................................................... 109
ANEXOS
Fealy et al. (2019) referem que a prática da PT merece maior nível de destaque nas
políticas dos hospitais ou nos procedimentos operacionais. É neste cenário que nasce
o presente estudo, de âmbito institucional, solicitado pela Direção de Enfermagem do
CHUC.
19
enfoque na criação e adoção de práticas inovadoras, a fim de basear este cuidado na
melhor evidência possível.
20
Para a concretização destes objetivos, desenvolveu-se um estudo descritivo-
exploratório com uma vertente correlacional em torno de hipóteses relevantes para a
compreensão do fenómeno, analisando algumas das suas influências. Optou-se por
uma abordagem mista, tendo sido realizada a colheita de dados qualitativos e
quantitativos, com recurso a uma amostragem aleatória estratificada dos serviços de
internamento do CHUC. Os instrumentos de colheita de dados foram desenvolvidos
pelo Grupo de Assessoria aos Sistemas de Informação e Documentação em
Enfermagem (GASIDE) e pelo Núcleo de Investigação em Enfermagem (NIE). Os
dados foram recolhidos por gravação de duas passagens de turno por serviço de
internamento (noite-manhã e manhã-tarde), recorrendo a duas grelhas de observação
e dois questionários, destinados aos enfermeiros que participaram na PT e ao
enfermeiro gestor.
21
modelo em uso na PT e pelas áreas de melhoria contínua da qualidade da PT. No
quarto capítulo procede-se à discussão dos resultados obtidos, desenvolvida
igualmente a partir dos objetivos do estudo, confrontando os resultados e os achados
obtidos com os trabalhos desenvolvidos por outros autores e com o estado da arte.
Importa ainda referir que a formatação deste relatório teve como base orientadora o
Guia de Elaboração de Trabalhos Escritos emanado pela Escola Superior de
Enfermagem de Coimbra em 2016 e que as traduções são da autoria da redatora da
dissertação.
22
PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO
23
24
1 – GESTÃO EM ENFERMAGEM
25
Este regulamento define cinco áreas e as respetivas competências do domínio da
gestão, sendo que cada competência é apresentada com descritivo, unidades de
competência e critérios de competência, das quais se destacam duas pela relação
com a problemática em estudo:
26
sentido que se explora de seguida uma área concreta da gestão em enfermagem: a
gestão de cuidados.
27
enfermagem do cliente, as intervenções de enfermagem e os resultados
sensíveis às intervenções de enfermagem obtidos pelo cliente;
• a satisfação dos enfermeiros relativamente à qualidade do exercício
profissional;
• o número de enfermeiros face à necessidade de cuidados de enfermagem;
• a existência de uma política de formação contínua dos enfermeiros,
promotora do desenvolvimento profissional e da qualidade;
• a utilização de metodologias de organização dos cuidados de enfermagem
promotoras da qualidade. (OE, 2002, p. 15)
Falando de teorias e modelos, interessa antes de mais conceituá-los. A teoria pode ser
definida como uma explicação sistemática de um evento em que os componentes e os
28
conceitos são identificados, os relacionamentos são propostos e as previsões são
feitas. Para ser útil, uma teoria deve ser significativa e relevante, mas principalmente
compreensível (Streubert & Carpenter, 2011). O valor de qualquer teoria de
enfermagem, sobretudo das grandes teorias, é a sua capacidade para expandir a
enfermagem enquanto ciência humana prática (Queirós, Vidinha & Filho, 2014).
Em síntese, há
Importa assim que o exercício profissional dos enfermeiros evolua dos modelos em
uso para modelos que valorizem a teoria de enfermagem (Silva, 2007).
30
Os processos de reflexão na ação e sobre a ação são promotores da mudança. Nesta
perspetiva, pretende-se que, no desenvolvimento da atitude reflexiva, os enfermeiros
sejam capazes de
Este aspeto é corroborado por Silva (2001, p. 19) quando evidencia que “hoje, o
primeiro recurso a gerir é a informação e assim, os sistemas de informação em
enfermagem, têm de ser alvo de investigação e reflexão, por forma a que a natureza
peculiar dos cuidados de enfermagem não fique invisível nos SI do futuro”. E o
31
enfermeiro, com o dever imposto pela regulamentação do exercício da profissão,
“efetua, de forma sistemática, uma apreciação sobre os dados relevantes para a
conceção dos cuidados de Enfermagem” e “documenta o processo de cuidados”
(Regulamento n.º 190/2015, p. 10089).
32
ferramenta de apoio às atividades, auxiliando na tomada de decisão e aquisição de
conhecimento e, como resultado, tem-se profissionais mais capacitados, criativos,
capazes de mudar a realidade e melhorar o atendimento dos serviços de saúde,
através de ações de inovação de processos de saúde, potenciando assim suas
competências pessoais e coletivas no trabalho em saúde (Benito & Licheski, 2009).
33
Um dos desafios dos SIE é centrado na interoperabilidade entre os SI em uso, que
não se limita à interoperabilidade técnica, mas reporta a uma dimensão central da
interoperabilidade – a interoperabilidade semântica –, fundamental nos aspetos
relativos aos cuidados de enfermagem. É neste contexto que emerge a importância
das terminologias em Enfermagem, facto que levou a OE e o próprio governo
português a assumir a Classificação Internacional para a Prática da Enfermagem®
(CIPE) como o standard internacional de terminologia de enfermagem, a ser garantido
em todos os SIS (Sousa, 2012).
Na realidade, parece existir alguma distância entre o potencial dos SIE e a forma como
são usados e é nesta aproximação que urge haver investimento por parte dos
enfermeiros, concretamente porque os SIE são duplamente uma ferramenta de
trabalho e uma ferramenta de avaliação da qualidade.
34
hierarquizadas, especializadas e que exigem supervisão e gestão, como são exemplo
as instituições de saúde. Estas transformações apontam para um redireccionamento
dos objetivos da organização, antes voltados para o controlo da produção de bens e
serviços, agora orientados para a informação, na tecnologia e no consumo. Também a
automação tem ocupado papel fundamental nos ambientes empresariais, permitindo o
tratamento da informação necessária à tomada de decisão. E a forma como a
informação é obtida, organizada, gravada, recuperada e posteriormente utilizada
permite ao gestor atuar com mais segurança, aumentando a possibilidade de
adequação na tomada de decisão (Guimarães & Évora, 2004).
36
exigência e um requisito de enorme importância na gestão das organizações de
saúde, representando a sua responsabilidade, ética e respeito pelos consumidores de
cuidados.
O conceito geral de qualidade em saúde sofreu evolução ao longo dos tempos. A ideia
de qualidade prevaleceu durante muito tempo associado ao controlo da qualidade
industrial, após a 2ª Guerra Mundial, onde o paradigma da qualidade se prendia com
fazer as coisas certas à primeira vez e sem defeitos. Este conceito foi evoluindo e
compreendendo outros aspetos, nomeadamente a adequação ao uso, sendo
acrescentadas dimensões relativas aos clientes e à avaliação. A partir da década de
oitenta, emergiu a necessidade de orientar esta noção de qualidade para o
atendimento às reais necessidades dos clientes, bem como a antecipação das suas
necessidades e tentando exceder as suas expectativas, sendo que a tónica estaria na
garantia da qualidade. Na década seguinte, verificou-se o desenvolvimento do
conceito de garantia para o conceito de melhoria da qualidade. Atualmente, os
programas de qualidade dos serviços de saúde têm por base modelos de melhoria
numa lógica de promoção e desenvolvimento contínuo no âmbito da qualidade em
saúde (Mezomo referido por Pereira, 2009a).
37
O Plano Nacional de Saúde 2004-2010 identificou uma escassa cultura de qualidade
associada a um défice organizacional dos serviços de saúde, assim como a falta de
indicadores de desempenho e de apoio à decisão e o insuficiente apoio estruturado às
áreas de diagnóstico e decisão terapêutica. Nesta continuidade, o Ministério da Saúde
aprovou, em 2009, a Estratégia Nacional para a Qualidade na Saúde, caracterizada
por ser global e integrada, difundida por todo o sistema de saúde, que teve como
missão promover e disseminar uma cultura de melhoria contínua da qualidade e, para
tal, estabeleceu prioridades estratégicas (Despacho n.º 14223/2009).
38
Já a excelência do exercício profissional está consagrada no Código Deontológico do
Enfermeiro (Decreto-Lei n.º 104/98), no Artigo 88º - Da Excelência do Exercício, que
evidencia o dever do enfermeiro procurar a excelência do exercício em todo o ato
profissional, na garantia da qualidade dos cuidados prestados e delegados.
Para Donabedian referido por Bulhões (2001, p. 223) a qualidade em saúde constitui a
“capacidade de prestação de cuidados de saúde capazes de satisfazer as
necessidades dos pacientes, mediante a utilização de conhecimentos profissionais
atualizados e dos recursos disponíveis no momento”. Posteriormente, Donabedian
aponta a qualidade em saúde como um produto da interação de dois fatores, sob a
ação de um conjunto de condições envolventes – “um é a ciência e tecnologia dos
cuidados de saúde, e, o segundo é a aplicação desse conhecimento e tecnologia na
prática” (Donabedian referido por Pereira, 2009a, p. 63).
39
Segundo a teoria de Donabedian, um dos pioneiros da avaliação da qualidade em
saúde, a qualidade depende de três aspetos:
Para Pisco e Biscaia (2001), o conceito de qualidade em saúde difere de acordo com
as variáveis que assumem maior importância para cada indivíduo, considere-se o
cliente, o prestador de cuidados de saúde ou o gestor. Para o cliente, a acessibilidade,
os aspetos relacionais e a melhoria do seu estado de saúde assumem particular
importância, para o gestor são prioridade a rentabilização dos investimentos e a
avaliação do desempenho e da eficiência, enquanto a obtenção de resultados clínicos
se evidencia como o fator mais relevante para o prestador, tornando-se desta forma
complicado abordar a questão da qualidade em saúde.
40
comuns que devem ser considerados, como a acessibilidade, a equidade, a eficiência,
a efetividade, a adequação e a satisfação das expectativas dos cidadãos e dos
profissionais.
41
De acordo com Beal referido por Kleinsorge (2015), uma área da gestão da
informação que diz respeito a todas as etapas do fluxo informacional é a segurança,
cujo objetivo é garantir proteção da informação de acordo com seus requisitos de:
42
1.3 – GESTÃO DA MUDANÇA: MODELO DE KOTTER
Já Kotter (2017) reconhece que, sendo importante gerir a mudança, o maior desafio
para uma grande parte das organizações é liderar a mudança. A liderança tem um
papel crucial para ultrapassar as fontes de inércia e motivar as ações necessárias para
alterar comportamentos de uma forma significativa, ou seja, a liderança define o futuro,
alinha as pessoas com a visão e inspira-as para a concretização apesar dos
43
obstáculos. Mais, defende que a liderança é a chave para criar e sustentar uma
organização bem-sucedida – não apenas uma liderança de topo, mas também
dispersa por toda a organização.
Desta forma, é competência do enfermeiro gestor liderar a mudança, sendo que para
tal “adota estratégias de liderança que assegurem o desenvolvimento profissional e
organizacional sendo um agente ativo dos processos de mudança que acrescentam
valor à profissão e à organização” (Regulamento n.º 76/2018, p. 3479).
De acordo com o mesmo autor, todas as etapas têm que ser atravessadas na
sequência acima descrita para se conseguir uma mudança de sucesso. Podem ser
desenvolvidas várias fases ao mesmo tempo, mas saltar uma fase ou alterar a ordem,
sem uma base sólida, pode criar dificuldades no processo de mudança. As quatro
primeiras etapas do processo de transformação ajudam a tornar o estado atual mais
fluido, enquanto as seguintes introduzem práticas novas e as últimas fases enraízam
as mudanças na cultura organizacional e promovem a sua permanência. De seguida,
explicitam-se, sumariamente, as fases do modelo de Kotter (2017):
O propósito desta etapa é capacitar a maioria das pessoas para atuar e produzir a
mudança, removendo o máximo de barreiras à concretização da visão nesta fase do
processo, sendo para tal essencial: comunicar uma visão adequada às pessoas; tornar
as estruturas compatíveis com a visão; providenciar a formação que as pessoas
necessitam; alinhar os SI e pessoal com a visão; e confrontar os gestores que
prejudicam a mudança necessária;
A grande mudança demora, por vezes, muito tempo, pelo que se torna extremamente
arriscado liderar um esforço de transformação sem a atenção às vitórias de curto
prazo. Na promoção de uma boa vitória de curto prazo há que ter em atenção as três
45
seguintes características: é visível (as pessoas podem ver por si próprias se o
resultado é real), não é ambígua (não pode haver grandes discussões sobre o que
está em causa) e está claramente relacionada com o esforço de mudança;
Com vista a incorporar a nova mudança na cultura, importa gerar melhor desempenho
através de comportamentos orientados para o cliente, melhor liderança e gestão mais
eficiente. Nesta fase, é fundamental evidenciar as ligações entre os novos
comportamentos e o sucesso da organização, desenvolvendo maneiras de assegurar
o desenvolvimento de lideranças e sucessão.
46
2 – PASSAGEM DE TURNO
Quase cinco décadas depois, o centro da discussão sobre esta prática recai sobre as
mesmas premissas. De modo a explicitar a temática da PT, neste capítulo será
clarificado o conceito, modelos e fatores que influenciam a prática da PT, bem como
evidenciado o seu impacto na continuidade dos cuidados e segurança do doente,
explanando também as responsabilidades do enfermeiro gestor na PT.
47
Podem também ser atribuídas outras finalidades ao momento da PT, como a função
de socialização, de organização, de educação e de esclarecimento (O’Connell,
Macdonal & Kelly, 2008). O aspeto da socialização é evidenciado por Meissner et al.
(2007), ao referir que a PT oral possui um contexto social e emocional inerente,
tornando-se num momento de coesão da equipa, podendo desenvolver alguma
familiaridade entre os enfermeiros.
Quanto à escolha do local para realizar a PT, esta relaciona-se com as finalidades
pretendidas, bem como com o contexto de trabalho e suas características, podendo
ser usados espaços de trabalho exclusivos dos enfermeiros, a unidade de cada
doente, ou ambos (OE, 2001).
De acordo com Moura (2013), a PT tem subjacente vários tipos de organização, tendo
em conta o tamanho do serviço, número e perfil de doentes, tempo de permanência
destes e número de elementos da equipa. A PT poderá ser feita por relatório oral ou
escrito, individualmente ou em grupos, junto ao leito do doente ou no gabinete / sala
de enfermagem. Cada equipa decidirá qual a melhor forma de garantir que a PT seja
efetiva e adequada à realidade da unidade.
48
A certeza sobre qual destes tipos de PT se evidencia como prática mais efetiva não
existe. Smeulers, Lucas e Vermeulen (2014), na pesquisa sobre a efetividade dos
diferentes estilos de PT de enfermagem, não encontraram estudos elegíveis para
inclusão na revisão e, portanto, não houve evidências disponíveis para apoiar
conclusões sobre a efetividade dos diferentes estilos de PT de enfermagem.
50
Outro tipo de fatores que interferem na PT relacionam-se com o comportamento da
equipa de enfermagem e envolvem conversas paralelas, falta de clareza, saídas
antecipadas, entradas e saídas dos profissionais, desvalorização da relevância da PT,
documentação insuficiente e brincadeiras durante a PT (Gonçalves et al., 2017;
Lamberty et al., 2016; Silva et al., 2017).
Ainda outro fator que emerge como condicionante da PT é a falta de pontualidade, que
pode traduzir-se por atraso no início da PT, bem como por PT prolongadas, além de
poder gerar conflitos entre os elementos da equipa (Almeida & Costa, 2017; Eller et
al., 2017; Rodriguez et al.2013).
51
de todos os procedimentos realizados durante a prestação de cuidados e que relatem
as intercorrências com o doente (Almeida & Costa, 2017).
54
também que, nas situações em que a transmissão de informação assume a forma oral,
deve ocorrer sem interrupções, como é o caso particular da PT (DGS, 2017).
Pelo exposto neste subcapítulo, fica evidente que a estratégia de segurança dos
doentes é essencial para a satisfação global, dos doentes e dos profissionais. Assim,
compete às organizações implementar uma estratégia de gestão do risco associada à
melhoria da qualidade e segurança do doente enquanto metodologia integrada e
55
sistemática, que implica responsabilidades adicionais aos responsáveis e
colaboradores na identificação, análise, avaliação e monitorização dos riscos
associados às diversas atividades hospitalares. Esta estratégia deve integrar
programas de melhoria contínua da qualidade, criar condições, promover e reforçar
práticas seguras de trabalho, visando o aumento da segurança (Barbosa et al., 2011).
A PT impõe-se como uma dessas práticas hospitalares.
O enfermeiro gestor tem que estar ciente que uma adequada transição de cuidados
exige compreensão do seu objetivo, liderança, tempo reservado, uma abordagem
sistematizada e um ambiente clínico de apoio, com vista à redução de erros, danos e
lapsos na continuidade dos cuidados (Jorm, White & Kaneen, 2009).
56
seu impacto na assistência ao doente, acrescenta que é “neste contexto qualificante
que se modificam as rotinas de trabalho, atualizam-se os conhecimentos e as
competências reais e implícitas, minimiza-se o individualismo potencializando o
desenvolvimento de objetivos e projetos comuns” (p. 64).
57
formativas suscetíveis de gerarem mudanças nas práticas, ao nível individual e
organizacional.
58
PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO
59
60
1 – PROBLEMÁTICA EM ESTUDO
No processo formativo requerido por ambos os projetos foram usados vários modelos
de formação formal / informal e em contexto do serviço, envolvendo enfermeiros nos
diferentes conteúdos funcionais: Supervisores, Gestores, Responsáveis pela
Formação em Serviço, Elos dos diferentes projetos institucionais, com momentos e
dinâmicas formativas de diferente teor, dependendo do projeto em desenvolvimento
(Melo et al., 2017).
É neste contexto que emerge este estudo de âmbito institucional solicitado pela
Direção de Enfermagem do CHUC, desenvolvido com a colaboração do GASIDE e do
NIE do CHUC, com vista a identificar o modelo em uso na PT nos serviços de
internamento do CHUC e, posteriormente, introduzir medidas corretivas promotoras de
melhoria contínua.
62
2 – METODOLOGIA
Objetivos específicos:
64
foram aleatoriamente selecionados. A opção por este método tem o objetivo de
incrementar a representatividade (Polit & Beck, 2019).
Uma vez que as variáveis de estratificação tiveram por efeito a divisão da população
em subpopulações (áreas de cuidados do CHUC) de tamanho desigual, decidiu
escolher-se um número de indivíduos (serviços) correspondente à percentagem da
população que representa o estrato a que eles pertencem, usando-se assim uma
amostragem estratificada proporcional (Fortin, 2009).
Segundo Polit e Beck (2019), variável é um atributo que varia, podendo ser qualquer
qualidade ou pessoa, grupo ou situação que varia ou que assume diferentes valores.
65
No estudo são consideradas variáveis independentes, que causam ou influenciam a
variável dependente, e uma variável dependente cujo comportamento, resposta ou
resultado face às variáveis independentes, importa pesquisar.
Variável dependente
Para avaliar esta variável recorreu-se à Grelha de Observação B, com oito categorias,
as quais possibilitaram analisar a informação oral transmitida pelos enfermeiros,
agrupando-a em quatro conjuntos de referências:
Variáveis independentes
67
A opção por efetuar a gravação áudio e observação direta nas PT da noite para a
manhã e da manhã para a tarde, em dias diferidos, num total de duas avaliações por
serviço prendeu-se com a diversidade de aspetos que as diferentes PT pudessem
incluir. Omitiu-se a PT da tarde para a noite por ser a que envolve menos
participantes.
No grupo “Cirurgia” foram colhidos dados em 90% dos serviços (9), sendo que em 5
se conseguiu os dois momentos e nos restante 4 apenas se conseguiu uma PT da
noite para a manhã ou da manhã para a tarde.
No grupo “Medicina” foram colhidos dados em 100% dos serviços selecionados (9).
Em 8 dos serviços conseguiram-se os dois momentos por serviço, sendo que num
deles ficou restrito a um dos momentos (PT da noite para a manhã).
Nos grupos “Maternidade” e “Pediátrico”, foram colhidos dados em 100% dos serviços
selecionados (2+2), compreendendo os dois momentos por serviço.
68
No grupo “Psiquiatria” foram colhidos dados em 50% dos serviços (2), sendo que num
deles apenas se conseguiu um dos momentos (PT da manhã para a tarde).
Pelo exposto na problemática do estudo fica clarificado que, com esta investigação se
pretende conhecer os aspetos organizacionais da PT do CHUC, bem como o conteúdo
da informação oral transmitida, particularmente no que concerne à expressão do
pensamento de enfermagem e conceção subjacente à prática traduzida na
explicitação do processo de tomada de decisão clínica em enfermagem durante a PT.
Questionário 2 (Enfermeiros)
69
Grelha de Observação A
Grelha de Observação B
70
recolhida na PT, que foi gravada. A categorização, realizada por dois peritos,
obedeceu às orientações do guião elaborado para preenchimento da grelha de análise
da informação oral (Anexo V), no sentido de obter validade científica sustentada.
Estratégias que foram eleitas para garantia da fiabilidade e reprodutibilidade da
categorização.
Foi enviada informação pela Enfermeira Diretora do CHUC, via correio eletrónico, aos
enfermeiros gestores dos serviços de internamento que constavam da amostra,
comunicando que, a partir de determinada data, se iria proceder à recolha de dados
realizada por facilitadores do GASIDE. Foi solicitado aos enfermeiros gestores que a
informação enviada fosse divulgada à equipa que lideravam (Anexo VII).
No tratamento dos dados foi utilizado o programa IBM Satistical Package for the Social
Sciences (IBM SPSS), versão 25. Para sistematizar e realçar a informação fornecida
pelos dados utilizaram-se técnicas de estatística descritiva e de estatística inferencial,
tais como: medidas de frequência (absoluta e percentual), medidas de tendência
central (média e mediana), medidas de dispersão (valor mínimo, valor máximo e
72
desvio padrão) e, para o teste das hipóteses, o coeficiente de correlação de Pearson
com o respetivo teste de significância e o teste t de Student para grupos
independentes.
A pré-análise foi iniciada por uma leitura “flutuante” da transcrição das sugestões,
permitindo a ocorrência de um conjunto de impressões e orientações iniciais, que
facilitaram as sucessivas leituras e, mais tarde, a construção de categorias. Na fase de
exploração do material, procedeu-se à transformação dos dados brutos em unidades
de significação, através da codificação. Após a delimitação das unidades de registo,
estas foram organizadas em subcategorias e, posteriormente, em categorias – análise
de conteúdo do tipo temática / categorial (Bardin, 2016).
73
74
3 – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
No que respeita ao modelo em uso na PT, importa voltar a clarificar que, no contexto
do presente estudo, a referência a modelo em uso integra aspetos organizacionais da
PT e aspetos do conteúdo da informação oral transmitida. Estão incluídos elementos
como intervenção do enfermeiro gestor na PT e os pressupostos que lhe estão
adjacentes, existência de norma interna para a PT, presença de enfermeiro para
atender às solicitações durante a PT, utilização do sistema de informação e
documentação enquanto um recurso para a PT, existência de suportes informativos
alternativos que integrem a organização da informação do doente, abordagem da
condição clínica do doente realizada com recurso a linguagem classificada que
expresse a tomada e decisão clínica em enfermagem, e ainda, que outras áreas da
organização dos cuidados estão a ser considerados como prioritárias durante a PT.
Inclui também a perspetiva que os enfermeiros, enquanto intervenientes na PT têm
acerca da qualidade e segurança da informação recebida.
Aspetos organizacionais da PT
75
presente na PT da noite para a amanhã. Já na PT da manhã para a tarde esta
percentagem diminui para 41.7%, aumentando as situações em que os enfermeiros
gestores referiram estar quase sempre presentes (33.3%), e daquelas em que a
presença era irregular (25.0%).
Como pode constatar-se, dois terços (66.7%) dos enfermeiros gestores geriam apenas
um contexto de prestação de cuidados com PT.
76
questão era referente à PT da manhã para a tarde e por 76.9% relativamente à PT da
tarde para a noite.
77
Local da PT e número de computadores
Na maior parte dos serviços (95.8%) o gabinete de enfermagem foi o local utilizado
para realizar a PT, como pode constatar-se na tabela 6.
78
Consulta do mapa de cuidados
79
Conteúdo da informação oral transmitida na PT
Tendo por base a análise dos 655 registos da informação transmitida oralmente,
verifica-se que em 51.3% desses registos foi feita uma ou duas referências aos
Diagnósticos Médicos e em 31.6% não foi encontrado qualquer referência a
Diagnósticos Médicos.
Em 80.6% dos registos não foi feita qualquer referência a dados da Avaliação Inicial e
em 19.1% foram encontradas uma ou duas referências.
Em 63.2% dos registos não foi observada qualquer referência a informação relativa à
Atividade Diagnóstica e em 33.7% observaram-se uma ou duas referências.
Verificou-se que, nos 655 registos, 47.3% tinham uma ou duas referências a
Prescrições Médicas, mas em 41.1% tal não foi observado. Em 90.2% dos 386
registos em que foram feitas referências a Prescrições Médicas tal não ocorreu com
integridade referencial.
Por último, observaram-se 66% dos registos em que foram mencionados outros
dados.
80
Tabela 11 – Conteúdo da informação oral transmitida na PT
Observações n %
Diagnósticos médicos
1–2 336 51.3
3–4 74 11.3
5–6 30 4.6
7–8 6 0.9
>8 2 0.3
Não observado 207 31.6
Avaliação inicial
1–2 125 19.1
>2 2 0.3
Não observado 528 80.6
Atividade diagnóstica
1–2 221 33.7
3–4 20 3.1
Não observado 414 63.2
Diagnóstico de Enfermagem – Linguagem classificada
1–2 210 32.1
3–4 41 6.3
5–6 15 2.3
7–8 5 0.8
>8 3 0.4
Não observado 381 58.2
Diagnóstico de Enfermagem – Linguagem classificada com explicitação
1 9 3.3
Não observado 265 96.7
Diagnóstico de Enfermagem – Evolução positiva
1 16 5.8
Não observada 258 94.2
Intervenções de Enfermagem – Linguagem classificada
1–2 185 28.2
3–4 15 2.3
>4 1 0.2
Não observado 454 69.3
Intervenções de Enfermagem – Linguagem classificada com integridade
referencial
1–2 9 4.5
Não observado 192 95.4
Atitudes terapêuticas
1–2 267 40.8
3–4 129 19.7
5–6 47 7.2
7–8 15 2.3
>8 5 0.8
Não observado 192 29.3
Atitudes terapêuticas – com integridade referencial
1–2 29 6.3
>2 1 0.2
Não observado 433 93.5
Prescrições médicas
1–2 310 47.3
3–4 67 10.2
5–6 8 1.2
>6 1 0.2
Não observado 269 41.1
Prescrições médicas – com integridade referencial
1–2 38 9.8
Não observado 348 90.2
Outros dados
1–2 361 55.1
3–4 60 9.2
5–6 10 1.5
>6 1 0.2
Não observado 223 34.0
81
Relação entre a valorização da área autónoma e concetual na PT e os resultados das
auditorias
83
enfermeiro gestor promotora do pensamento em enfermagem e Intervenção do
enfermeiro gestor sem relação com a valorização da área autónoma e concetual).
Conjugando a informação resultante das respostas dadas pelos enfermeiros nas dez
afirmações, através do cálculo da pontuação média, pode verificar-se que 53.0% dos
profissionais situaram a PT num nível razoável (3 a 4 pontos), seguidos de 46.3% que
consideraram a PT boa ou muito boa (4 a 5 pontos).
85
São emitidos, com frequência, juízos de valor relativamente a utentes,
familiares ou outros profissionais de saúde
Discordo 55 20.5
Discordo parcialmente 55 20.5
Não concordo nem discordo 56 20.9
Concordo parcialmente 88 32.8
Concordo 14 5.2
Durante a passagem de turno os profissionais têm que, simultaneamente,
realizar outras tarefas
Discordo 67 25.0
Discordo parcialmente 39 14.6
Não concordo nem discordo 24 9.0
Concordo parcialmente 75 28.0
Concordo 63 23.5
Existem, frequentemente, interrupções várias durante a passagem de turno
Discordo 29 10.8
Discordo parcialmente 28 10.4
Não concordo nem discordo 25 9.4
Concordo parcialmente 78 29.1
Concordo 108 40.3
Perspetiva global acerca da PT
[1 – 2[ - 0.0
[2 – 3[ 2 0.7
[3 – 4[ 142 53.0
[4 – 5] 124 46.3
De acordo com Bardin (2016) a importância de uma unidade de registo aumenta com
a frequência de surgimento, razão pela qual se optou por apresentar as frequências
das unidades de registo.
86
Tabela 17 – Categorias, subcategorias e frequências das unidades de registo das sugestões
de melhoria da qualidade da PT
Categorias Subcategorias Nº
Linguagem classificada 2
Diagnósticos de enfermagem 1
Plano do doente 3
Sistematização da informação 2
Gestão da informação Sintetização da informação 3
Objetividade/Relevância/Repetições 10
Conversas paralelas 2
Discussão de casos 1
Juízos de valor 2
Evitação de interrupções 28
Entradas e saídas 1
Interrupções da passagem de turno
Telefone 4
Porta fechada 3
Espaço físico 2
Condições físicas Mobiliário 2
Ruído 2
Pontualidade/cumprimento de horários 7
Atividades aprontadas previamente 2
Organização da passagem de turno Presença de todos 9
Tipo de organização 2
Uniformização/modelo 5
Dotação de pessoal Carga de trabalho 1
TOTAL 94
Gestão da informação
87
Linguagem classificada
Diagnósticos de enfermagem
Plano do doente
Sistematização da informação
Sintetização da informação
88
“Sintetizar a informação pertinente sobre o doente” [Q8]
“Sermos mais objetivos e com maior síntese na mensagem (algo que se pode treinar
em grupo)” [Q113]
Objetividade/Relevância/Repetições
Conversas paralelas
Discussão de casos
Juízos de valor
Interrupções da PT
89
interrupções, o que denota a preocupação dos enfermeiros participantes com a
qualidade e segurança da informação transmitida.
Evitação de interrupções
Entradas e saídas
Nesta expressão fica patente uma das causas atribuídas à interrupção da PT:
Telefone
Porta fechada
“Realizar a PT com a porta do gabinete fechada e ficar um elemento no serviço por fim
a diminuir as interrupções que ocorrem durante a PT” [Q138]
90
Condições físicas
As condições físicas do local onde decorre a PT foi um dos aspetos referidos pelos
participantes. Esta categoria reúne 6 unidades de registo que se distribuem
uniformemente pelas três seguintes subcategorias.
Espaço físico
Mobiliário
Ruído
Organização da PT
Pontualidade/cumprimento de horários
“Enfermeiros com registos efetuados na hora da PT (pelo menos na sua maioria)” [Q6]
Presença de todos
“Gostava (…) que não estivessem sempre todos os elementos da equipa, como
acontece muitas vezes” [Q212]
Tipo de organização
Uniformização/modelo
“As passagens de turno deviam ser remodeladas. Termos parâmetros para atender
tipo esquematização” [Q139]
Dotação de pessoal
Carga de trabalho
93
94
4 – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Acerca do local utilizado para realizar a PT, na maior parte dos serviços (95.8%) foi
usado o gabinete de enfermagem. A escolha da localização para a PT não é
consensual de acordo com os diversos estudos consultados. No estudo de Gonçalves
et al. (2017), 62.8% das PT aconteceram junto ao leito do doente e 37.2% no balcão
central da unidade. Já no estudo de Afonso (2017) a PT ocorreu predominantemente
em “outros locais” (44%) como uma sala normalmente utilizada para outros fins, em
27.3% dos casos na sala de enfermagem e em 28.0% na unidade do doente. No
estudo de Sousa (2013), a PT ocorreu em sala própria para o efeito. A seleção do
local de realização da PT deve ter em conta o contexto de trabalho e as suas
particularidades, assim como as finalidades, e pode compreender sala/gabinete de
enfermagem, unidade do doente ou outro, podendo acontecer em várias das opções,
sequencialmente (OE, 2001).
No presente estudo, a maioria dos enfermeiros (70.9%) referiu que consultava o Mapa
de cuidados / Plano de trabalho antes da prestação de cuidados. Os tempos de
consulta referidos situaram-se entre 1 e 60 minutos, sendo o valor médio 10.48
minutos. De acordo com Marin (2010), o uso do SIE auxilia o processo de tomada de
decisão clínica em enfermagem de forma direta e indireta. O apoio indireto diz
respeito, por exemplo, ao uso do processo clínico eletrónico, que inclui o Mapa de
cuidados / Plano de trabalho, que fornece informação que vai subsidiar a decisão do
enfermeiro. O apoio direto está relacionado com o uso dos chamados sistemas de
apoio à decisão, que são sistemas desenvolvidos para serem usados como suporte ao
processo de tomada de decisão, diminuindo a ocorrência de erros e salvaguardando a
segurança do doente. No caso concreto do CHUC está em uso o SClínico V2 que
possibilita a associação entre dados e a identificação de diagnósticos ou resultados de
enfermagem.
No presente estudo verificou-se que 66.7% dos enfermeiros gestores geriam apenas
um contexto de prestação de cuidados com PT e que a maioria dos enfermeiros
gestores, concretamente 62.5%, referiram estar sempre presentes na PT da noite para
a amanhã, sendo que na PT da manhã para a tarde esta percentagem diminui para
96
41.7%. Em 51.1% das observações realizadas, o enfermeiro gestor estava presente
na PT. De realçar que a presença do enfermeiro gestor na PT assume importância
primeiramente pela representação do papel deste profissional perante a própria equipa
de enfermagem (Silva et al., 2017).
98
informação relativa à Atividade Diagnóstica (36.8%), à enunciação de Diagnóstico de
Enfermagem em linguagem classificada (41.8%) e à referência a Intervenções de
Enfermagem com utilização de linguagem classificada (30.7%).
101
e concetual na PT. Constatou-se que os Diagnósticos de Enfermagem – Linguagem
classificada tendem a ser mais valorizados nos serviços em que a intervenção do
enfermeiro gestor é promotora do pensamento em enfermagem.
103
Foi sugerido como elemento favorecedor da melhoria da qualidade da PT a discussão
de casos pela equipa de enfermagem. No estudo de Sousa (2013) foi também
apontada como proposta de melhoria da PT, a existência de momento para discussão
de casos mais complicados / questões éticas. Convergente com este aspeto, Silva e
Campos (2007) entendem a PT como um momento para formação e reflexão,
objetivando reavaliar práticas, proporcionar crescimento mútuo e melhorar o
desenvolvimento dos cuidados.
104
No que tange à disponibilidade da equipa de enfermagem para participar na PT, os
enfermeiros participantes referiram que no momento da PT a participação dos
profissionais devia acontecer com todas as atividades já realizadas. Este facto é
corroborado no estudo de Silva et al. (2017), que destaca que o pouco tempo
dispensado para a PT pode decorrer da sobrecarga dos profissionais que não
conseguem organizar-se por causa da exigência de trabalho da unidade.
No que se refere ao tipo de organização que deve estar subjacente à prática da PT, o
ponto de vista dos enfermeiros não é consensual. Se por um lado há enfermeiros que
mencionam que na PT que acontece em dois momentos sequenciais (quarto dos
doentes e sala de enfermagem) há quebra de informação, por outros é sugerida a PT
juntos ao leito dos doentes. Acerca da PT junto ao leito dos doentes, Morgado e
Nunes (2016) concluíram que promove a observação do doente e o estabelecimento
de relação empática, assim como o planeamento de cuidados. Contudo, consideram
necessário clarificar o seu objetivo, incentivar o envolvimento do doente, usar um
discurso compreensível e garantir a privacidade da informação.
Relativamente ao uso de um modelo que oriente PT, ficou explícito nas sugestões dos
enfermeiros que nalguns serviços esta prática não está normalizada, enquanto noutros
é dado testemunho do investimento feito nesta área. No sentido de favorecer esta
prática, no estudo Silva et al. (2017) é sugerida a adoção de formatos que possam
inovar a PT, adaptada ao contexto da equipa de enfermagem e do hospital. Já
Almeida e Costa (2017) advertem que o facto de não haver um modelo para a PT,
deixa ao critério das equipas que realizam a PT a decisão sobre o que entendem ou
não como significativo.
No que concerne ao efeito de uma elevada carga de trabalho, foi referido pelos
enfermeiros que, particularmente na PT noite-manhã, existe dificuldade na
transmissão da informação causada pelo cansaço no final do turno. No estudo de Eller
105
et al. (2017) foi igualmente constatado que a comunicação na PT pode ser
comprometida devido a fatores institucionais, como a falta de tempo e o excesso de
doentes. Também a OE (2014) reconhece que elevadas cargas de trabalho dos
enfermeiros têm consequências para doentes e profissionais. Conduzem a
insatisfação, desmotivação e burnout dos enfermeiros, assim como podem
comprometer a qualidade dos cuidados prestados.
Concluída a PT, os enfermeiros que iniciam o turno devem, quando possível, consultar
o Mapa de cuidados / Plano de trabalho antes de iniciar a prestação de cuidados, para
se inteirarem dos cuidados planeados para cada doente e da informação necessária
ao processo de tomada de decisão.
106
Os resultados deste estudo sugerem que diferentes enfermeiros podem apresentar
diferentes necessidades e valorizações relativas à PT, o que evidencia a necessidade
de desenvolver diretrizes para a PT de modo a simplificar e padronizar o processo de
transição de cuidados ao nível do serviço, para satisfazer as necessidades de todos
enfermeiros.
107
108
CONCLUSÃO
109
dos enfermeiros referiu que consultava o Mapa de cuidados / Plano de trabalho antes
da prestação de cuidados, usando em média 10.48 minutos.
Este estudo permitiu ainda verificar que não existem evidências estatísticas de que
haja relação entre a duração da PT e a quantidade de erros / inconsistências.
112
internamento do CHUC para a qualidade na gestão da informação? Os resultados
obtidos evidenciam, num âmbito mais geral os aspetos da estrutura e processo
inerentes à prática da PT e numa perspetiva mais particular os aspetos referentes ao
conteúdo da informação, nomeadamente os elementos mais valorizados e
desvalorizados pelos enfermeiros na informação transmitida.
Tendo em conta os resultados deste estudo, pode ainda considerar-se que se cumpriu
o objetivo geral: Analisar a qualidade da PT nos serviços de internamento do CHUC,
quer na vertente da qualidade e segurança da informação, quer no âmbito da
explicitação da filosofia subjacente aos cuidados expressa na valorização da
informação transmitida na PT.
Uma das limitações está relacionada com a interrupção da colheita de dados motivada
pela pandemia COVID-19 e as possíveis alterações nas práticas da PT decorrentes
das restrições impostas.
113
114
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124
ANEXOS
ANEXO I
Questionário 2 (Enfermeiros)
ANEXO III
Grelha de Observação A
ANEXO IV
Grelha de Observação B
ANEXO V
Premissas:
Por cada dado referido que conste da estrutura da Avaliação Inicial parametrizada no CHUC,
nomeadamente hábitos de vida, equipamento adaptativo, processo familiar – inscrever “I”.
Por cada Diagnóstico de Enfermagem enunciado em linguagem classificada – inscrever “I”. Por
cada diagnóstico de enfermagem referido em linguagem classificada com explicitação do
processo de tomada de decisão clínica em enfermagem – inscrever “φ”.
Por cada referência a evolução diagnóstica (positiva ou negativa) – inscrever “↑” (se evolução
positiva) ou “↓” (se evolução negativa).
Por cada Atitude Terapêutica referida e que explicite o processo de tomada de decisão clínica
em enfermagem (integridade referencial) – inscrever “φ”.
Por cada dado referente a prescrições médicas e que explicite o processo de tomada de
decisão clínica em enfermagem (integridade referencial) – inscrever “φ”.
Por cada dado referido na passagem de turno que não explicite o processo de tomada de
decisão clínica em enfermagem, não tendo significado / integridade referencial,
nomeadamente: transmissão de normalidades, diagnósticos de enfermagem/ intervenções de
enfermagem em linguagem natural, atitudes terapêuticas desconexas, sem explicitação da sua
razão de ser (*), erros, inconsistências, informação redundante, contraditória, imprecisa ou
não útil – inscrever “I”.
Outra informação considerada relevante para clarificação e que não se inclua em nenhuma das
categorias anteriores – descrita em linguagem natural.
ANEXO VI
Autorização da instituição
ANEXO VII