Anuário de Pesquisa Agricultura - Safra 22.23 - #01 - 23
Anuário de Pesquisa Agricultura - Safra 22.23 - #01 - 23
Anuário de Pesquisa Agricultura - Safra 22.23 - #01 - 23
CLUBE DE REVISTAS
CLUBE DE REVISTAS
ANUÁRIO DE PESQUISAS
AGRICULTURA - RESULTADOS 2023
EDITORES TÉCNICOS
Comitê de publicação
Periodicidade: anual
Volume 6 n. 1, 2023
Publicação online
ENTOMOLOGIA 12
FITOPATOLOGIA 110
5
CLUBE DE REVISTAS
DIFERENTES FUNGICIDAS NO CONTROLE DA FERRUGEM ASIÁTICA DA SOJA,
SAFRA 2022/2023 EM RIO VERDE-GO 120
PRODUTOS BIOLÓGICOS E QUÍMICOS E NO CONTROLE DE FITONEMATOIDES
COM OCORRÊNCIA SIMULTÂNEA NA CULTURA DA SOJA 129
PROGRAMAS DE APLICAÇÕES DE FUNGICIDAS NO CONTROLE DE
HELMINTOSPORIOSE DO MILHO 142
CONTROLE QUÍMICO DE DOENÇAS FOLIARES DO SORGO NA SEGUNDA SAFRA
DO ANO AGRÍCOLA 2022/2023 151
FITOTECNIA 160
6
CLUBE DE REVISTAS
APRESENTAÇÃO
7
CLUBE DE REVISTAS
EDITORIAL
O ano agrícola 2022/2023 teve desde o seu início 31,5 milhões de toneladas de grãos, um aumento de 9,1%
uma série de particularidades, que envolveram aspectos em relação a safra 2021/22. O que irá contribuir para
geopolíticos, comerciais e climáticos relevantes, que que Goiás se posicione em 4º lugar no ranking nacional
influenciaram decisivamente na gestão e tomada de de estados produtores, contribuindo com 10,14% da
decisões do agricultor durante a safra e safrinha deste ano. produção nacional.
Sob o ponto de vista geopolítico global, mesmo se Contudo, a safra 2022/2023 também foi
passando mais de um ano do início dos conflitos entre Rússia importante para o Centro Tecnológico Comigo, buscando
e Ucrânia, e com a trégua ainda distante de uma solução atender as demandas tanto do corpo técnico como
pacífica, os frequentes atos de agressividade entre os de seus cooperados. O Centro Tecnológico Comigo
países, imediatamente traz a tona a questão da insegurança ampliou a sua equipe de pesquisa, contratando mais dois
alimentar a nível mundial, principalmente no que se refere ao pesquisadores e ampliando para sete o total da equipe.
transporte de grãos nas regiões atingidas pelo conflito, como Esses novos pesquisadores vieram para somar as linhas
a disponibilidade de matérias prima de fertilizantes para as de pesquisa já existentes, Fitopatologia e Nematologia,
nações consumidoras. Gerando constantes incertezas no Controle e manejo de plantas daninhas e Entomologia,
mercado e para todos os players envolvidos, sempre atentos com o conhecimento nas áreas de Fertilidade do solo/
aos fatos mais recentes que ocorrem na região. Fertilizantes e Nutrição de plantas/Fisiologia vegetal.
No âmbito nacional, a incerteza ficou quanto ao rumo A ampliação da equipe de pesquisa veio para
das medidas políticas econômicas que seriam adotadas no reforçar o compromisso que a Comigo tem junto ao seus
início do novo governo, que por sua vez, trouxeram muita cooperados, no que diz respeito a geração e difusão de
desconfiança e incerteza junto ao setor agrícola. Criando tecnologias aplicadas que auxiliem no incremento da
muita apreensão e expectativa também para o produtor produtividade.
rural. Assim, muitos trabalhos foram realizados neste
Quanto aos fatores climáticos na safra 2022/2023, último ano agrícola, respondendo a muitas questões
chamaram a atenção algumas situações adversas. A dos cooperados e do corpo técnico da Comigo, e cuja
primeira delas, diz respeito ao veranico ocorrido no mês de grande parte está contida no anuário de pesquisas que
novembro, um dos maiores severos dentro da série histórica poderá ser acessado e baixado no site da Comigo.
para o mês registrado no Centro Tecnológico Comigo, Para o próximo ano agrícola novos desafios já
registrando volumes de apenas 60mmm para todo o mês, surgem no horizonte, entre eles a grande expectativa
muito abaixo do esperado e necessário para a cultura da da ocorrência do fenômeno El Nino, o que traz muito
soja em sua fase vegetativa. Outro ponto em comum e apreensão e cautela por parte dos produtores tanto
constatado pelos agricultores, foi o alongamento do ciclo da quanto ao início das chuvas como na sua regularidade.
soja, principalmente nos materiais de ciclo médio e precoce, Contudo, somente com informações de qualidade e
provavelmente em função do clima irregular, como descrito corpo técnico de apoio capacitado o cooperado poderá
acima. E finalmente, e não menos importante, o baixo atuar de forma segura e assertiva.
volume de chuvas principalmente após o mês de março, Desejamos que este conteúdo seja útil para
o que juntamente com o atraso do plantio da safrinha, tomadas de decisões na sua próxima safra e safrinha.
comprometeram aquelas lavouras que foram plantadas Lembrando sempre que o Centro Tecnológico Comigo
tardiamente. está a disposição para sugestões de temas, procure
Mesmo neste contexto, esse ano segundo dados da nossa equipe de agrônomos da sua região e traga
Secretaria de Agricultura do Estado de Goiás, são esperadas através dele as suas demandas. Obrigado e boa leitura!
8
CLUBE DE REVISTAS
AGRADECIMENTOS
9
CLUBE DE REVISTAS
PRECIPITAÇÃO
PLUVIAL NO CTC
MESES
ANO JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL
2002 279 159 128 75 31 0 12 8 45 52 159 337 1.285,0
2003 361 163 366 150 30 15 0 20 17 142 230 351 1.845,0
2004 244 461 207 145 81 0 10 0 0 162 214 216 1.740,0
2005 264 101 223 6 48 10 0 20 169 108 364 538 1.851,0
2006 124 225 325 65 16 0 23 22 3 292 395 448 1.938,0
2007 303 433 236 24 36 0 16 0 0 260 159 324 1.791,0
2008 357 363 282 201 0 0 0 2 21 175 212 155 1.768,0
2009 156 160 290 69 5 15 9 70 89 204 349 351 1.767,0
2010 212 359 171 32 0 0 17 0 80 129 170 194 1.364,0
2011 233 201 390 51 0 80 0 0 0 232 76 165 1.428,0
2012 275 265 125 99 61 15 0 0 89 113 335 127 1.504,0
2013 475 270 552 162 7 13 0 0 17 108 317 225 2.146,0
2014 52 144 272 109 11 6 74 0 74 116 431 368 1.657,0
2015 74 158 244 112 89 16 6 0 46 30 202 178 1.155,0
2016 322 189 293 8 14 35 0 78 17 137 116 270 1.479,0
2017 243 245 85 29 5 0 0 0 30 64 260 150 1.111,0
2018 222 151 265 66 21 0 0 17 70 176 292 162 1.442,0
2019 138 189 406 60 65 0 0 0 36 135 212,5 310 1.551,5
2020 264,5 407 166 20 26,5 0 0 0 15,5 106,5 161 116 1.283,0
2021 231 136 87 43,5 26 22 0 0 12,7 357,5 238,5 242,5 1.396,7
*2022 364 227,5 242,5 10 0 19 0 0 0 103,8 62,4 312,3 1.341,5
2023 235,2 249,9 288,9 76,0 12,3 23,0 0,3 78,3 50,4 - - - -
MÉDIA 246,8 238,9 256,6 73,3 26,6 12,2 7,6 14,3 40,1 145,6 225,2 251,8 1564,0
*A partir do mês de setembro de 2022, os dados de precipitação passaram a ser coletados de forma automática por estação meteorológica da marca
Plugfield®, localizada na área experimental do CTC.
10
CLUBE DE REVISTAS
Entomologia 11
CLUBE DE REVISTAS
Entomologia
12 Entomologia
CLUBE DE REVISTAS
INSETICIDAS NO CONTROLE DE
PERCEVEJO-MARROM (Euschistus
heros) NA CULTURA DA SOJA
LIMA, Diego Tolentino1, FERNANDES, Rafael produtor mundial desde o ano de 2020. Além do destaque
Henrique2, BRAZ, Guilherme Braga Pereira3, como produtor, também ocupa o primeiro lugar como
BUENO, Amanda Magalhães4, SARKIS, Leonardo maior exportador desse grão, principal produto da
Fernandes5
exportação do agronegócio brasileiro, com estimativa
de exportação de 94,4 milhões de toneladas das 153,6
1
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador
Agronômico em Entomologia do Centro milhões produzidas na safra 2022/2023, segundo
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: a CONAB (2023). Produção 22,4% superior a safra
[email protected] passada, com uma produtividade média de 3.527 kg.ha-1,
2
Eng. Agrônomo, Dr. em Fitotecnia, Pesquisador
Agronômico em Fitopatologia do Centro registrando recordes históricos de área de plantio,
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: produtividade e produção (CONAB 2023).
[email protected] No entanto, assim como todas espécies
3
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador
Agronômico em Manejo e Controle de Plantas- cultivadas, a expansão da produtividade da soja depara-
Daninhas do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, se ainda com muitos desafios. Problemas fitossanitários
GO, Brasil. E-mail: [email protected] continuam sendo importantes fatores que desafiam a
4
Eng.a Agrônoma, Dra. em Agronomia, Pesquisadora
Agronômica em Fisiologia Vegetal e Nutrição de consolidação da agricultura de altas produtividades.
Plantas do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, Os insetos sugadores caracterizam-se como um dos
GO, Brasil. E-mail: [email protected]. principais insetos-pragas que prejudicam a exploração
br
5
Eng. Agrônomo, Me. em Ciência do Solo, Pesquisador desse potencial. O percevejo-marrom Euschistos heros
Agronômico em Fertilidade do Solo e Fertilizantes do é a principal espécie praga desse grupo na cultura da
Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. soja, pois apresenta ampla distribuição de ocorrência
E-mail: [email protected]
(PANIZZI, 2015).
O percevejo-marrom, normalmente, pode passar
Entomologia 13
CLUBE DE REVISTAS
sobrevivendo através de reservas de lipídios e se utilização de doses acima da recomendada e tecnologia
abrigando na palhada, o que possibilita ao inseto passar de aplicação ineficiente. Neste sentido, o sucesso
pela entressafra e iniciar os danos nas lavouras de soja no manejo de percevejos depende de vários fatores,
rapidamente na próxima safra (HOFFMANN-CAMPO et entre eles a eficiência de controle dos inseticidas,
al., 2000; GRIGOLLI e GRIGOLLI, 2019). que é dependente de uma tecnologia de aplicação
Os danos na soja por percevejo-marrom são adequada, a qual deve proporcionar boa cobertura
acusados desde o início da formação das vagens e penetração no dossel da cultura, pois o percevejo-
até o final do período de enchimento dos grãos marrom se concentra mais na parte média da planta
(HOFFMANN-CAMPO et al., 2000; SILVA et al., 2014). e os inseticidas sistêmicos não são translocados para
Adultos e ninfas a partir do terceiro instar são os baixo (ROGGIA et al., 2018).
principais responsáveis pelos danos. Com seu aparelho O objetivo do trabalho foi avaliar a eficiência de
bucal em forma de estilete que é inserido nas vagens, controle de diferentes inseticidas, sobre o percevejo-
atingindo diretamente os grãos, são responsáveis marrom (E. heros), em três aplicações sequenciais, e
por sérios prejuízos no rendimento e na qualidade de determinar a produtividade em função dos tratamentos
grãos e sementes (PANIZZI et al., 2012; CZEPAK et al., inseticidas na cultura da soja.
2017). Ocorre má-formação do grão e das vagens e os
grãos podem reduzir seu tamanho, ficar enrugados, MATERIAL E MÉTODOS
chochos e mais escuros. Além disso, as folhas podem
não senescer e ficarem retidas na planta por ocasião da O experimento foi conduzido na área
colheita (HOFFMANN-CAMPO et al., 2000). experimental do Centro Tecnológico COMIGO (CTC),
Este inseto é bastante conhecido por sua da Cooperativa COMIGO, no município de Rio Verde –
dificuldade de controle, por poucos grupos químicos GO (S 17°45'57" e W 51°02'07"; 839 metros de altitude).
de inseticidas com boa eficiência, por possuírem Foi aplicado a lanço 150 kg ha-1 de Cloreto de Potássio
capacidade migratória a curtas distâncias, elevado (KCl) antes da semeadura. A cultivar de soja CZ37B43
potencial reprodutivo e elevado período de sobrevivência IPRO foi semeada no dia 29 de novembro de 2022, com
na fase adulta (GRIGOLLI e GRIGOLLI, 2019). Apesar a densidade de semeadura de 14,0 sementes por metro
disto, dentre as práticas de controle para percevejo- (população final de 259 mil plantas ha-1). A adubação de
marrom, aplicáveis atualmente, a mais comum é o semeadura foi realizada com 450 kg ha-1 de 00-20-00
controle químico, por se configurar uma prática rápida (Super Simples) Turbo Micro (0,15% de Zn; 0,15% de
e eficiente quando respeitadas as particularidades de Mn; 0,075% de B; 0,075% de Cu) no sulco.
cada produto comercial (GALLO et al., 2002). As sementes receberam tratamento On
Neste sentido existe uma preocupação cada dia Farm (Standak Top, dose de 0,2 L p.c. para 100 kg
maior com o surgimento de populações de percevejos de sementes). No momento da semeadura foram
resistentes a inseticidas químicos (CASTELLANOS et aplicados no sulco 1,0 L ha-1 do inoculante Cell Tech
al., 2018; SOMAVILLA et al., 2020), pois é recorrente o (Bradyrhizobium japonicum Estirpe SEMIA 5079 e
uso contínuo de ingredientes ativos com os mesmos SEMIA 5080, concentração mínima 3,0 x 109 UFC mL-1),
mecanismos de ação, a aplicação de inseticidas com 0,1 L ha-1 do coinoculante Biomax Azum (Azospirillum
amplo espectro de ação no início do ciclo da cultura, e a brasilense, concentração mínima 3,0 x 108 UFC mL-
14 Entomologia
CLUBE DE REVISTAS
), 0,5 L ha-1 do inseticida biológico Meta-Turbo SC
1
(1,5 kg ha-1), a terceira com Evolution (2,0 L ha-1) + Aureo
(Metarhizium anisopliae IBCB425, concentração (0,375 L ha-1), e a quarta com Aproach Power (0,6 L ha-1)
mínima de 1,0 x 108 propágulos viáveis mL-1), 0,2 L ha-1 + Versatilis (0,35 L ha-1) + Bravonil 720 (1,0 L ha-1).
de Nodulus Gold (13,9 g L-1 de Cobalto, 139 g L-1 de As únicas aplicações de inseticidas realizadas
Molibdênio), 0,25 L ha-1 de Tricho-Turbo (Trichoderma no experimento foram referentes aos tratamentos.
asperellum BV10, concentração mínima de 1,0 x 1010 Foram realizadas três aplicações sequenciais dos
conídios viáveis mL-1) e 0,4 L ha-1 de Verango Prime (500 tratamentos descritos na Tabela 1, com intervalo de 10
g L-1 Fluopiram). O volume de aplicação utilizado no dias entre a primeira e a segunda aplicação, e de 11 dias
sulco foi de 60 L ha-1. entre a segunda e terceira aplicação, sendo a primeira
A área passou a entressafra semeada com realizada no enchimento de grãos (R5.2). As aplicações
Urochloa ruziziensis, sendo realizada dessecação com foram realizadas com pulverizador pressurizado
Xeque Mate (3,0 L ha-1) + DMA 806 BR (2,0 L ha-1) 20 por CO2 (Número de patente: BR102016007565-3)
dias antes da semeadura, uma aplicação em sistema montando em trator (MF 275, Massey Ferguson, 75
plante-aplique logo após a semeadura com DIQUAT cv). O pulverizador é dotado com barra de 5,0 metros
CCAB 200 SL (2,0 L ha-1) + Agral (0,25 L ha-1), mais uma com 10 bicos de pulverização espaçados em 0,5 m.
aplicação em pós, 30 dias após a semeadura, com As pontas utilizadas para pulverização foram modelo
Xeque Mate (2,2 L ha-1), para o controle de plantas- ADIA 11001.D, da marca Magnojet. A calibração do
daninhas. O manejo de doenças foi realizado com equipamento foi ajustada com a pressão de trabalho na
quatro aplicações de fungicidas, iniciando no estádio ponta de pulverização de 2,7 bar (39,1 PSI) e volume de
vegetativo com Helmstar Plus (0,5 L ha-1) + Aureo (0,375 aplicação de 150 L ha-1.
L ha-1), a segunda com Viovan (0,6 L ha-1) + Unizeb Gold
Entomologia 15
CLUBE DE REVISTAS
Tabela 1. Tratamentos inseticidas para controle de percevejo-marrom, Euschistus heros, na soja
cultivar CZ37B43 IPRO. Centro Tecnológico COMIGO – CTC, Rio Verde-GO, safra 2021/2022.
mL ou g Dose de ativo
Nº Tratamentos Ingrediente ativo
*p. c. ha-1 (g ha-1)
1 Testemunha -- -- --
2 Bazuca duo 1000 Metomil + Bifentrina 200 + 25
3 Curbix 750 Etiprole 150
Tiametoxam + Lambda-
4 Engeo Pleno 250 35,3 + 26,5
cialotrina
Sulfoxaflor + Lambda-
5 Expedition 300 30 + 45
cialotrina
6 Feroce 1000 Acefato + Bifentrina 850 + 30
Zeta-Cipermetrina +
7 Hero 200 40 + 36
Bifentrina
8 Polytrin 1000 Profenofós + Cipermetrina 400 + 40
9 Sperto 300 Acetamiprido + Bifentrina 75 + 75
10 Talisman 600 Carbossulfano + Bifentrina 90 + 30
Isocicloseram + Lambda-
11 Verdavis 250 25 + 37,5
cialotrina
Dinotefuram + Lambda-
12 Zeus 500 42 + 24
cialotrina
* p. c. = produto comercial.
Os tratamentos foram dispostos no delineamento encerraram um dia após a terceira aplicação porque aos
em blocos ao acaso (DBC), com quatro repetições. As 7 dias após esta aplicação não foram mais encontrados
parcelas experimentais foram constituídas por 10 linhas percevejos na área, inclusive na testemunha sem
de cultivo, espaçadas de 0,5 metros, com 10 metros de aplicação, pois a senescência e queda das folhas da
comprimento. A parcela útil desconsiderou 1,0 m inicial lavoura já se encontrava em estágio avançado.
e final de cada linha da parcela e as duas linhas das Foi avaliado o número de percevejos adultos e
extremidades. ninfas a partir do terceiro instar (maiores que 0,3 cm).
As avaliações do número de insetos foram Para esta amostragem foi utilizado o método do pano-
realizadas previamente à primeira aplicação, um e sete de-batida, com pelo menos dois pontos de 1,0 m de linha
dias após a primeira aplicação (1DA1 e 7DA1), dois e 11 ao acaso na parcela útil em cada uma das avaliações. A
dias após a segunda aplicação (2DA2 e 11DA2) e um produtividade de grãos foi obtida em três linhas centrais
dia após a terceira aplicação (1DA3). As avaliações se de semeadura com 3,0 metros de comprimento dentro
16 Entomologia
CLUBE DE REVISTAS
de cada parcela útil. Os grãos foram colhidos, trilhados dos inseticidas por meio da fórmula de Abbott (1925).
e secos. Foi calculada a produtividade para um hectare,
considerando-se a umidade padrão de 13% para RESULTADOS E DISCUSSÃO
comercialização do grão, tomado como medida a saca
de 60 kg de grãos. Na avaliação prévia antes da primeira aplicação
Os dados do número de percevejos adultos e dos tratamentos, a média geral do número de percevejos
ninfas foram analisados separadamente. E juntamente (adultos) por metro no experimento (tratamentos +
com os dados de produtividade foram submetidos à testemunha) foi de 1,3, não sendo observada diferença
análise de variância (ANAVA) pelo teste F. No caso de entre os tratamentos (Tabela 2). Este resultado
efeito significativo dos tratamentos, as médias foram demonstra a uniformidade de distribuição do inseto na
comparadas pelo teste de Scott-Knott (p<0,05). O área. Esta similaridade é importante para garantir que o
número de insetos nos tratamentos e na testemunha número inicial de percevejos por metro não influencie
foram utilizados para o cálculo da eficiência de controle nos resultados subsequentes.
Tabela 1. Número médio de adultos de percevejo-marrom (Euschistus heros) por metro e eficiência
de controle (%), um e sete dias após a primeira aplicação (1DA1 e 7DA1), dois e 11 dias após a
segunda aplicação (2DA2 e 11DA2) e um dia após a terceira aplicação (1DA3) na soja cultivar CZ
37B43 IPRO. Centro Tecnológico COMIGO - CTC, Rio Verde-GO, safra 2022/2023.
Prévia
Nº EC(%) Nº EC(%) Nº EC(%) Nº EC(%) Nº EC(%)
Entomologia 17
CLUBE DE REVISTAS
Apenas aos sete dias após a primeira aplicação 11DA2, foi superior a 80% de eficiência de controle,
(7DA1) dos tratamentos inseticidas para controle sendo ainda a maior parte das avaliações superior até
de percevejo-marrom na cultura da soja não foram a 90% (Tabela 3). Para Profenofós + Cipermetrina, ainda
observadas diferenças no número médio de percevejos assim, na média geral das quatro avaliações de ninfas
adultos por metro entre a testemunha e os demais de percevejo-marrom, atingiu 80,1% de eficiência de
tratamentos, momento em que foi observado o controle (Tabela 3).
maior pico populacional de percevejos adultos na
testemunha (2,4 insetos por metro), fato provavelmente
causado pela migração da praga de áreas adjacentes à
estação de pesquisa sendo colhidas. Dessa forma foi
a avaliação que apresentou eficiências de controle, de
forma geral, mais baixas, com exceção do tratamento
com Dinotefuram + Lambda-cialotrina, com 84,2% de
eficiência aos 7DA1. No restante das avaliações (1DA1,
2DA2, 11DA2 e 1DA3) a testemunha apresentou maior
número de percevejos adultos do que nos demais
tratamentos, apesar disto os inseticidas não diferiram
entre si (Tabela 2).
Nas avaliações de um dia após cada aplicação,
para avaliar o efeito imediato dos tratamentos inseticidas,
1DA1, 2DA2 e 1DA3, apesar de não haver diferença
no número de percevejos adultos por metro entre os
inseticidas, houve classes variadas de eficiência de
controle. Os tratamentos que mostraram eficiência de
controle superior a 80% nestas três avaliações (1DA1,
1DA2 e 1DA3) foram Metomil + Bifentrina, Acefato +
Bifentrina e Isocicloseram + Lambda-cialotrina (Tabela
2).
A presença de ninfas foi observada somente
a partir de 7DA1, chegando a um pico populacional
máximo na última avaliação (1DA3) com média de
7,1 insetos por metro na testemunha. Em todas
as avaliações de ninfas o tratamento testemunha
apresentou número maior de indivíduos que nos demais
tratamentos, apesar disto os inseticidas não diferiram
entre si (Tabela 3). No presente trabalho, o controle
de ninfas para todos os tratamentos inseticidas, com
exceção do tratamento Profenofós + Cipermetrina aos
18 Entomologia
CLUBE DE REVISTAS
Tabela 3. Número médio de ninfas de percevejo-marrom (Euschistus heros) por metro e eficiência
de controle (%), sete dias após a primeira aplicação (7DA1), dois e 11 dias após a segunda aplicação
(2DA2 e 11DA2) e um dia após a terceira aplicação (1DA3) na soja cultivar CZ 37B43 IPRO. Centro
Tecnológico COMIGO - CTC, Rio Verde-GO, safra 2022/2023.
A eficiência de controle é dependente de que ocorre com adultos migrantes que reeinfestam a
uma tecnologia de aplicação adequada, isto é, boa lavoura, reduzindo efeito residual das aplicações.
cobertura e penetração no dossel da cultura, visto que A média geral de eficiência de controle dos
o percevejo-marrom se concentra no terço médio das tratamentos no presente trabalho, considerando
plantas (ROGGIA et al., 2018), principalmente as ninfas adultos e ninfas nas cinco avaliações no decorrer das
que tem menor mobilidade que os adultos. O volume três aplicações sequencias foi, em ordem decrescente:
de aplicação utilizado no presente trabalho foi 150 L Isocicloseram + Lambda-cialotrina (90,10%), Metomil +
ha , considerado um volume adequado do ponto de
-1
Bifentrina (88,22%), Dinotefuram + Lambda-cialotrina
vista da tecnologia de aplicação, propiciou controle (87,18%), Acefato + Bifentrina (86,16%), Carbossulfano
eficiente das ninfas, visto que não há migração de + Bifentrina (83,31%), Tiametoxam + Lambda-cialotrina
insetos imaturos de outras áreas, diferentemente do (83,29%), Etiprole (82,77%), Zeta-Cipermetrina +
Entomologia 19
CLUBE DE REVISTAS
Bifentrina (82,25%), Acetamiprido + Bifentrina (79,25%), de eficiência de controle entre os tratamentos em
Sulfoxaflor + Lambda-cialotrina (77,95%), Profenofós + determinadas avaliações, não houve reflexo na
Cipermetrina (74,44%). produtividade de grãos de soja, não sendo observadas
Apesar das variações nas porcentagens diferenças estatísticas (Figura 1).
70 65,2
63,5 62,9
59,4 58,6 61,0 60,3 59,7
60 57,1 58,6
55,4
51,3
Produtividade (sacas.ha )
-1
50
40
30
20
10
0
a a a a a e a a a a a a
u nh ntrin ntrin ntrin otrin iprol otrin ntrin etrin otrin otrin ntrin
m e e e l Et -cial Bife erm -cial -cial Bife
ste Bif Bif Bif cia
Te to + o + o + bda- a p a
bd mil + + Ci mbd mbd rina +
a
f a r i d fan am am o s a a t
e l
p
Ac tami ossu m + L + L Met enofó r + L + L erme
e b m f fl o m
Ac Car efura o ser
a a
Pro foxa etox ta-Ci
p
o t c l l m e
Din ci Su Tia Z
Iso
Figura 1. Produtividade da cultivar de soja CZ37B43 IPRO com diferentes tratamentos para o
controle de percevejo-marrom (Euschistus heros). Centro Tecnológico COMIGO - CTC, Rio Verde-
GO, safra 2022/2023. *As médias não se diferiram pelo Teste de Scott-Knott (p<0,05).
20 Entomologia
CLUBE DE REVISTAS
PANIZZI, A. R. Growing problems with stink
REFERÊNCIAS
bugs (Hemiptera: Heteroptera: Pentatomidae): species
invasive to the U.S. and potential neotropical invaders.
ABBOTT, W. S. A method of computing the
American Entomologist, v. 61, p. 223-233, 2015.
effectiveness of on insecticide. Journal Economic
PANIZZI, A. R.; BUENO, A. de F.; SILVA, F. A. C. da.
Entomology, v. 18, n. 2, p. 265-267, 1925.
Insetos que atacam vagens e grãos. In: HOFFMANN-
CASTELLANOS, N. L.; HADDI, K.; CARVALHO,
CAMPO, C. B.; CORRÊA-FERREIRA, B. S.; MOSCARDI,
G. A.; PAULO, P. D.; HIROSE, E.; GUEDES, R. N. C.;
F. Soja manejo integrado de insetos e outros
SMAGGHE, G.; OLIVEIRA, E. E. Imidacloprid resistance
artrópodes-praga. Londrina: Embrapa Soja, 2012. cap.
in the Neotropical brown stink bug Euschistus heros:
5, p. 335-420.
selection and fitness costs. Journal of Pest Science, v.
ROGGIA, S.; UTIAMADA, C.; HIROSE, E.;
92, p. 847-860, 2019.
STOETZER, A.; AVILA, C.; KISCHEL, E.; MARZAROTTO,
CONAB. Companhia Nacional de
F.O.; TOMQUELSKI, G.V.; GUEDES, J.V.C.; ARNEMANN,
Abastecimento. 11º Levantamento - Safra 2022/23.
J.A.; GRIGOLLI, J.F.J.; FARIAS, J.R.; VIVAN, L.M.; SATO,
Disponível em: <https://www.conab.gov.br/info-agro/
L.N.; PEIXOTO, M.F.; GOUSSAIN JUNIOR, M.M.; TAMAI,
safras/graos/boletim-da-safra-de-graos>. Acesso em:
M.A.; OLIVEIRA, M.C.N.; MARTINS, M.C.; BELLETTINI,
20 ago. 2023.
S.; BORATTO, V.N.M.; NASCIMENTO, V.L.; VENANCIO,
CZEPAK, C.; QUIRINO, J. R.; NUNES, M. L. S.;
W.S. Eficiência de inseticidas no controle do
OLIVEIRA, L. M.; SILA, L. C. G.; JESUS, G. R.; MIRANDA,
percevejo marrom (Euschistus heros) em soja, na
D.; ANJOS, M. V. M.; MAGALHAES, V. S.; SILVÉRIO, R.
safra 2013/14: resultados sumarizados de ensaios
F. Danos Continuados. Cultivar Grandes Culturas, v.
cooperativos. Londrina: Embrapa Soja, 2018. 22p.
ANO XVIII, n. 215, p. 20-28, 2017.
SILVA, V. P. da; PEREIRA, M. J. B.; VIVAN, L. M.;
GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.;
MORAES, M. C. B.; LAUMANN, R. A.; BORGES, M.
CARVALHO, R.L.P.; BAPTISTA, G.C.; BERTI FILHO, E.;
Monitoramento do percevejo marrom Euschistus heros
PARRA, J.R.P.; ZUCCHI, R.A.; ALVES, S.B.; VENDRAMIM,
(Hemiptera: Pentatomidade) por feromônio sexual em
J.D.; MARCHINI, L.C.; LOPES, J.R.S.; OMOTO, C. Vol.10.
lavoura de soja. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.
Entomologia agrícola. Piracicaba: FEALQ, 2002. 920p.
49, n. 11, p. 844-852, 2014.
GRIGOLLI, J. F. J.; GRIGOLLI, M. M. K. Pragas da
SOMAVILLA, J. C.; REIS, A. C.; GUBIANI, P.
soja e seu controle. In: LOURENÇÃO, A. L. F.; GRIGOLLI,
S.; GODOY, D. N.; STÜRMER, G. R.; BERNARDI, O.
J. F. J.; GITTI, D. C.; BEZERRA, A. R. G.; MELOTTO, A.
Susceptibility of Euschistus heros and Dichelops
M. (Ed.). Tecnologia e Produção: Safra 2018/2019.
furcatus (Hemiptera: Pentatomidae) to Selected
Maracaju, MS: Fundação MS, 2019. p. 148-168.
Insecticides in Brazil. Journal of Economic
HOFFMANN-CAMPO, C. B.; MOSCARDI, F.;
Entomology, v. 113, n. 2, p. 924-931, 2020.
CORRÊA-FERREIRA, B. S.; OLIVEIRA, L. J.; SOSA-
GÓMEZ, D. R.; PANIZZI, A. R.; CORSO, I. C.; GAZZONI,
D. L.; OLIVEIRA, E. B. Pragas da soja no Brasil e seu
manejo integrado. Londrina: Embrapa Soja, 2000. 70
p. (Embrapa Soja. Circular técnica 30).
Entomologia 21
CLUBE DE REVISTAS
INSETICIDAS NO CONTROLE DE
NINFAS DE MOSCA-BRANCA
(Bemisia tabaci) NA CULTURA DA
SOJA
LIMA, Diego Tolentino1, FERNANDES, Rafael e internacional, porém, assim como as demais culturas,
Henrique2, BRAZ, Guilherme Braga Pereira3, passa por problemas fitossanitários. Dentre os insetos
SARKIS, Leonardo Fernandes5, BUENO, Amanda e outros artrópodes de importância econômica nesta
Magalhães4
cultura há os que atacam raízes e nódulos da soja, os
que atacam plântulas, hastes e pecíolos da soja, os que
1
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador
Agronômico em Entomologia do Centro atacam as folhas da soja e os que atacam vagens e grãos
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: (HOFFMANN-CAMPO et al., 2012).
[email protected] Dentre os que atacam as folhas da soja, merece
2
Eng. Agrônomo, Dr. em Fitotecnia, Pesquisador
Agronômico em Fitopatologia do Centro destaque a mosca-branca, Bemisia tabaci (Hemiptera:
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: Aleyrodidae), um inseto sugador polífago (se alimenta
[email protected] de várias espécies de plantas), considerada uma das
3
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador
Agronômico em Manejo e Controle de Plantas- principais pragas agrícolas das regiões tropicais que tem
Daninhas do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, afetado as lavouras de soja no Brasil de forma crescente
GO, Brasil. E-mail: [email protected] nos últimos anos (SOSA-GÓMEZ et al., 2010). Este inseto
4
Eng. Agrônomo, Me. em Ciência do Solo, Pesquisador
Agronômico em Fertilidade do Solo e Fertilizantes do se alimenta mais frequentemente na face abaxial da
Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. folha, sugando os açúcares diretamente das células do
E-mail: [email protected] floema e injetando toxinas, esses são os danos diretos.
5
Eng.a Agrônoma, Dra. em Agronomia, Pesquisadora
Agronômica em Fisiologia Vegetal e Nutrição de Os indiretos são a transmissão de viroses e formação
Plantas do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, de fumagina, causada pelo fungo Capnodium sp., ao se
GO, Brasil. E-mail: [email protected]. alimentarem, os insetos excretam o “honeydew”, que é
br
uma substância açucarada na folha, na qual o fungo se
desenvolve (MOSCARDI et al., 2012).
22 Entomologia
CLUBE DE REVISTAS
B”, considerado, portanto, uma praga muito mais químico, porém, em momentos adequados (somente
importante que o “biótipo A”, devido principalmente à quando o prejuízo causado pela praga é igual ou maior
maior agressividade, com uma taxa de reprodução de que seu custo de controle, chamado de nível de dano
aproximadamente 30% maior. É também mais tolerante econômico), além de envolver outros tipos de controle,
ao frio, apresenta maior gama de hospedeiros e tem visando reduzir o uso dos produtos químicos. Dentre os
maior capacidade de transmissão de viroses, além de métodos integrados ao MIP tem-se o controle biológico,
maior resistência aos inseticidas. Além disso, a mosca- controle cultural, resistência de plantas, métodos
branca “biótipo B” tem maior taxa de alimentação legislativos e controle por comportamento (GALLO et
e produção de “honeydew” e, consequentemente, al., 2002).
maiores chances de desenvolvimento de fumagina O objetivo do trabalho foi avaliar a eficiência
(MOSCARDI et al., 2012). de controle de diferentes inseticidas, sobre ninfas
A mosca-branca “biótipo Q” foi coletada e de mosca-branca (B. tabaci), em três aplicações
identificada pela primeira vez no Brasil em 2013, no Rio sequenciais, e determinar a produtividade em função
Grande do Sul. Desde então vem se espalhando pelo dos tratamentos inseticidas na cultura da soja.
país, já sendo presente nos estados do Sul, em São Paulo
e também em Goiás, e tem preocupado os produtores MATERIAL E MÉTODOS
e pesquisadores do Brasil, porque este “biótipo” possui
resistência a vários inseticidas disponíveis no mercado. O experimento foi conduzido na área
Além disso, tem maior capacidade de sobreviver sob experimental do Centro Tecnológico COMIGO (CTC),
baixas e altas temperaturas, em relação ao “biótipo B”, da Cooperativa COMIGO, no município de Rio Verde –
conferindo maior competitividade (PITTA et al., 2019). GO (S 17°45'57" e W 51°02'07"; 839 metros de altitude).
Além de diferentes “biótipos”, mudanças Foi aplicado a lanço 150 kg ha-1 de Cloreto de Potássio
comportamentais na mosca-branca também (KCl) antes da semeadura. A cultivar de soja CZ37B43
podem ser observadas devido à disponibilidade de IPRO foi semeada no dia 29 de novembro de 2022, com
hospedeiros. Por exemplo, no sistema agrícola do a densidade de semeadura de 14,0 sementes por metro
Brasil Central, onde o cultivo sucessivo de soja/milho (população final de 264,5 mil plantas ha-1). A adubação
proporcionou ao “biótipo B” a capacidade de colonizar, de semeadura foi realizada com 450 kg ha-1 de 00-20-00
desenvolver e completar seu ciclo na cultura do milho, (Super Simples) Turbo Micro (0,15% de Zn; 0,15% de
planta reportada em trabalhos anteriores como não Mn; 0,075% de B; 0,075% de Cu) no sulco.
hospedeira desta espécie (QUINTELA et al., 2016). As sementes receberam tratamento On
Atualmente, a ferramenta mais utilizada no Farm (Standak Top, dose de 0,2 L p.c. para 100 kg
controle desta praga é o controle químico, e em virtude de sementes). No momento da semeadura foram
das características biológicas do inseto, torna-se aplicados no sulco 1,0 L ha-1 do inoculante Cell Tech
preocupante o surgimento de resistência a inseticidas. (Bradyrhizobium japonicum Estirpe SEMIA 5079 e
Neste sentido, nos últimos anos, o conceito de controle SEMIA 5080, concentração mínima 3,0 x 109 UFC mL-1),
de pragas vem se modificando, passando de aplicações 0,1 L ha-1 do coinoculante Biomax Azum (Azospirillum
sistemáticas de forma calendarizada, para o Manejo brasilense, concentração mínima 3,0 x 108 UFC mL-
Integrado de Pragas (MIP), que permite o controle 1
), 0,5 L ha-1 do inseticida biológico Meta-Turbo SC
Entomologia 23
CLUBE DE REVISTAS
(Metarhizium anisopliae IBCB425, concentração (1,5 kg ha-1), a terceira com Evolution (2,0 L ha-1) + Aureo
mínima de 1,0 x 108 propágulos viáveis mL-1), 0,2 L ha-1 (0,375 L ha-1), e a quarta com Aproach Power (0,6 L ha-1)
de Nodulus Gold (13,9 g L-1 de Cobalto, 139 g L-1 de + Versatilis (0,35 L ha-1) + Bravonil 720 (1,0 L ha-1).
Molibdênio), 0,25 L ha-1 de Tricho-Turbo (Trichoderma As únicas aplicações de inseticidas realizadas no
asperellum BV10, concentração mínima de 1,0 x 1010 experimento foram referentes aos tratamentos. Foram
conídios viáveis mL-1) e 0,4 L ha-1 de Verango Prime (500 realizadas três aplicações sequenciais dos tratamentos
g L-1 Fluopiram). O volume de aplicação utilizado no descritos na Tabela 1, com intervalo de 11 dias entre
sulco foi de 60 L ha-1. a primeira e a segunda aplicação, e de 12 dias entre a
A área passou a entressafra semeada com segunda e terceira aplicação, sendo a primeira realizada
Urochloa ruziziensis, sendo realizada dessecação com no início da formação das vagens (R3). As aplicações
Xeque Mate (3,0 L ha-1) + DMA 806 BR (2,0 L ha-1) 20 foram realizadas com pulverizador pressurizado
dias antes da semeadura, uma aplicação em sistema por CO2 (Número de patente: BR102016007565-3)
plante-aplique logo após a semeadura com DIQUAT montando em trator (MF 275, Massey Ferguson, 75
CCAB 200 SL (2,0 L ha-1) + Agral (0,25 L ha-1), mais uma cv). O pulverizador é dotado com barra de 5,0 metros
aplicação em pós, 30 dias após a semeadura, com com 10 bicos de pulverização espaçados em 0,5 m.
Xeque Mate (2,2 L ha-1), para o controle de plantas- As pontas utilizadas para pulverização foram modelo
daninhas. O manejo de doenças foi realizado com ADIA 11001.D, da marca Magnojet. A calibração do
quatro aplicações de fungicidas, iniciando no estádio equipamento foi ajustada com a pressão de trabalho na
vegetativo com Helmstar Plus (0,5 L ha-1) + Aureo (0,375 ponta de pulverização de 2,7 bar (39,1 PSI) e volume de
L ha-1), a segunda com Viovan (0,6 L ha-1) + Unizeb Gold aplicação de 150 L ha-1.
24 Entomologia
CLUBE DE REVISTAS
Tabela 1. Tratamentos inseticidas para controle de ninfas de mosca-branca, Bemisia tabaci, na soja
cultivar CZ37B43 IPRO. Centro Tecnológico COMIGO – CTC, Rio Verde-GO, safra 2022/2023.
mL ou g Dose de ativo
Nº Tratamentos Ingrediente ativo
*p. c. ha-1 (g ha-1)
1 Testemunha -- -- --
2 Benevia 500 Ciantraniliprole 50
3 Boveria-Turbo 500 Beauveria #
Beauveria + Carbossulfano
4 Boveria-Turbo + Talisman 500 + 1000 # + 150 + 50
+ Bifentrina
Espiropidiona +
6 Elestal Neo1 150 45 + 36
Acetamiprido
Abamectina +
8 Minecto Pro1 600 10,8 + 36
Ciantraniliprole
Os tratamentos foram dispostos no delineamento coletados quatro trifólios, no terço médio ou inferior
em blocos ao acaso (DBC), com quatro repetições. As de plantas distintas e distribuídas aleatoriamente
parcelas experimentais foram constituídas por 10 linhas por parcela, dentro da parcela útil. Os trifólios foram
de cultivo, espaçadas de 0,5 metros, com 10 metros de levados para laboratório e as ninfas de mosca-branca
comprimento. A parcela útil desconsiderou 1,0 m inicial foram contabilizadas com auxílio de microscópio
e final de cada linha da parcela e as duas linhas das estereoscópio com aumento fixo de 20 vezes. A
extremidades. produtividade de grãos foi obtida em três linhas centrais
As avaliações do número de insetos foram de semeadura com 3,0 metros de comprimento dentro
realizadas previamente à primeira aplicação, 11 dias de cada parcela útil. Os grãos foram colhidos, trilhados
após a primeira aplicação, 12 dias após a segunda e secos. Foi calculada a produtividade para um hectare,
aplicação e 10 dias após a terceira aplicação. Para considerando-se a umidade padrão de 13% para
a amostragem de ninfas de mosca-branca foram comercialização do grão, tomado como medida a saca
Entomologia 25
CLUBE DE REVISTAS
de 60 kg de grãos.
Os dados do número de ninfas de mosca-branca Na avaliação prévia, antes da primeira aplicação
por trifólio e de produtividade foram submetidos à dos tratamentos, a média geral do número de ninfas
análise de variância (ANAVA) pelo teste F. No caso de de mosca-branca por trifólio de soja no experimento
efeito significativo dos tratamentos, as médias foram (tratamentos inseticidas + testemunha) foi de 5,9,
comparadas pelo teste de Scott-Knott (p<0,05). O não sendo observada diferença entre os tratamentos
número de insetos nos tratamentos e na testemunha (Tabela 2). Este resultado demonstra a uniformidade
foram utilizados para o cálculo da eficiência de controle de distribuição da praga na área. Esta similaridade é
dos inseticidas por meio da fórmula de Abbott (1925). importante para garantir que o número inicial de ninfas
de mosca-branca por trifólio não influencie no cálculo
RESULTADOS E DISCUSSÃO da eficiência de controle obtida pelos tratamentos no
decorrer das aplicações.
Tabela 2. Número médio de ninfas de mosca-branca (Bemisia tabaci) por trifólio e eficiência de
controle (%), 11 dias após a primeira aplicação (11DA1), 12 dias após a segunda aplicação (12DA2)
e 10 dias após a terceira aplicação (10DA3) na soja cultivar CZ 37B43 IPRO. Centro Tecnológico
COMIGO - CTC, Rio Verde-GO, safra 2022/2023.
Prévia
Nº EC(%) Nº EC(%) Nº EC(%)
26 Entomologia
CLUBE DE REVISTAS
Com apenas uma aplicação, na avaliação aos o princípio da rotação entre mecanismos de ação
11DA1, todos tratamentos apresentaram redução dos inseticidas. Neste caso podemos observar que
no número médio de ninfas de mosca-branca por existem opções interessantes para ser realizada esta
trifólio em relação à testemunha, entretanto nenhum rotação, incluindo também os ativos recentemente
dos tratamentos apresentou eficiência de controle registrados no Brasil, Espiropidiona e Afidopiropeno,
superior a 80%. Os tratamentos que apresentaram como opções a mais além dos frequentemente mais
eficiência de pelo menos 70% foram Espiropidiona utilizados (Piriproxifem e Ciantraniliprole).
+ Acetamiprido, Abamectina + Ciantraniliprole e O controle biológico com o fungo Beauveria
Afidopiropeno, os mesmos apresentaram número bassiana também tem um papel importante no
médio de ninfas por trifólio inferior em relação aos manejo de resistência, e já conta com vários registros
demais tratamentos (Tabela 2). de produtos comerciais no Ministério da Agricultura,
Aos 12DA2 os tratamentos Piriproxifem, Pecuária e Abastecimento (MAPA). O tratamento
Espiropidiona + Acetamiprido, Dinotefuram com três aplicações sequenciais de B. bassiana,
+ Piriproxifem, Acetamiprido + Piriproxifem e isolado ou em associação com inseticida químico,
Afidopiropeno apresentaram eficiência de controle proporcionou eficiência de controle de ninfas de
acima de 80% e menor número médio de ninfas mosca-branca superiores a 80% (Tabela 2).
por trifólio que os demais tratamentos. Já com três Apesar das variações nas porcentagens
aplicações, 10 DA3, com exceção do tratamento de eficiência de controle entre os tratamentos em
Carbossulfano + Bifentrina, todos tratamentos determinadas avaliações, e diferenças no número
apresentaram eficiência acima de 80%, com médio de ninfas de mosca-branca por trifólio, não
destaque para os tratamentos contendo Piriproxifem houve uma aparente correlação com as diferenças
apresentando eficiências acima de 90% (Piriproxifem de produtividade de grãos de soja, observadas na
isolado, Dinotefuram + Piriproxifem e Acetamiprido + Figura 1. Tal fato pode ter acontecido por influência
Piriproxifem) (Tabela 2). de outros fatores no campo (de maior interferência
Em trabalhos anteriores Piriproxifem e do que a infestação por ninfas de mosca-branca) que
Ciantraniliprole apresentaram as melhores eficiências não foram controlados e nem avaliados.
de controle sobre ninfas de mosca-branca, superior
a 80%, com apenas duas aplicações sequenciais
(LIMA et al. 2021). Entretanto no presente trabalho
somente Piriproxifem atingiu 80% com apenas
duas aplicações, Ciantraniliprole necessitou de três
aplicações para o mesmo (Tabela 2).
Ressalta-se que as três aplicações
sequenciais do mesmo inseticida químico, realizadas
no presente trabalho, foram realizadas somente de
forma experimental para avaliação da eficiência
de controle. Recomenda-se o manejo integrado
de pragas na lavoura seguindo-se rigorosamente
Entomologia 27
CLUBE DE REVISTAS
70
61,0 a 60,6 a
60 59,0 a 58,5 a 58,2 a 58,0 a 58,0 a 56,3 b
52,8 b 54,4 b 55,2 b
Produtividade (sacas.ha )
-1
50
40
30
20
10
0
ha le m no r i a na na le m do m
mun ilipro oxife rope auve entri entri ilipro oxife ipri oxife
te an ipr pi Be if if n pr am pr
Tes iantr + Pir Afido o + B o + B antra Piri Acet Piri
n n i +
+ C i do fa fa C am a+
t i na mipr o s s u l os s u l e f u r i d i on
ec ta rb arb t p
am Ace + Ca C Di no pi r o
A b ia E s
u ver
a
Be
Figura 2. Produtividade da cultivar de soja CZ37B43 IPRO com diferentes tratamentos para o
controle de ninfas de mosca-branca (Bemisia tabaci). Centro Tecnológico COMIGO - CTC, Rio
Verde-GO, safra 2022/2023. *Médias seguidas por letras distintas se diferiram pelo Teste de Scott-
Knott (p<0,05).
28 Entomologia
CLUBE DE REVISTAS
E. M.; WIEST, G.; SCHOFFEN, M. E.; ZANETTI, V. H.
AGRADECIMENTOS
Q da questão. Cultivar grandes culturas, v. 238, p.
19-21, 2019.
À equipe de campo, pesquisadores e
POZEBON, H., CARGNELUTTI FILHO, A.,
estagiários do CTC pelo apoio na implantação e
GUEDES, J. V. C., FERREIRA, D. R., MARQUES, R.
condução do experimento.
P., BEVILAQUA, J. G., PATIAS, L. S., COLPO, T. L.,
ARNEMANN, J. A. Distribution of Bemisia tabaci
REFERÊNCIAS
within soybean plants and on individual leaflets.
Entomologia Experimentalis et Applicata, First
ABBOTT, W. S. A method of computing the
published: 17 June 2019.
effectiveness of on insecticide. Journal Economic
QUINTELA, E. D.; ABREU, A. G.; LIMA, J.
Entomology, v. 18, n. 2, p. 265-267, 1925.
F. S.; MASCARIM, G. M.; SANTOS, J. B.; BROWN,
GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRA NETO,
J. K. Reproduction of the whitefly Bemisia tabaci
S.; CARVALHO, R.L.P.; BAPTISTA, G.C.; BERTI
(Hemiptera: Aleyrodidae) B biotype in maize fields
FILHO, E.; PARRA, J.R.P.; ZUCCHI, R.A.; ALVES, S.B.;
(Zea mays L.) in Brazil. Pest Management Science,
VENDRAMIM, J.D.; MARCHINI, L.C.; LOPES, J.R.S.;
v. 72, n. 11, p. 2181–2187, 2016.
OMOTO, C. Vol.10. Entomologia agrícola. Piracicaba:
SOSA-GÓMEZ, D. R.; MOSCARDI, F.; CORRÊA-
FEALQ, 2002. 920p.
FERREIRA, B. S.; OLIVEIRA, L. J.; HOFFMANN-
HOFFMANN-CAMPO, C. B.; CORRÊA-
CAMPO, C. B.; PANIZZI, A. R.; CORSO, I. C.; BUENO, A.
FERREIRA, B. S.; MOSCARDI, F. (Ed.). Soja: manejo
F.; HIROSE, E.; GAZZONI, D. L.; OLIVEIRA, E. B. Soja
integrado de insetos e outros artrópodes-praga.
- manejo integrado de pragas. Curitiba: SENAR:
Brasília: Embrapa, 2012. p.213-309.
Embrapa Soja, 2010. 83 p. il. (Coleção SENAR-Paraná,
LIMA, D. T.; FERNANDES, R. H.; ALMEIDA, D. P.;
222).
FURTINI NETO, A. E. Inseticidas no controle de ninfas
de mosca-branca (Bemisia tabaci) na cultura da soja.
In: FURTINI NETO, A. E.; LIMA, D. T.; ALMEIDA, D. P.;
NASCIMENTO, H. L. B.; FERNANDES, R. H.; BILEGO,
U. O. (Eds.). Anuário de Pesquisas Agricultura – 1ª
Safra 2020/2021. Rio Verde: Instituto de Ciência e
Tecnologia COMIGO, 2021. p. 13-21.
MOSCARDI, F.; BUENO, A.F.; SOSA-GÓMEZ,
D.R.; ROGGIA, S.; HOFFMAN-CAMPO, C.B.; POMARI,
A.F.; CORSO, I.V.; YANO, S.A.C. Artrópodes que
atacam as folhas da soja. In: HOFFMAN-CAMPO, C.B.;
CORRÊA-FERREIRA, B.S.; MOSCARDI, F. (Ed.). Soja:
manejo integrado de insetos e outros artrópodes-
praga. Brasília: Embrapa, 2012. p.213-309.
PITTA, R. M.; CROSARIOL NETTO, J.; BARROS,
Entomologia 29
CLUBE DE REVISTAS
INSETICIDAS NO CONTROLE DO
PULGÃO Melanaphis sorghi NA
CULTURA DO SORGO
LIMA, Diego Tolentino1, FERNANDES, Rafael entanto na safra 2021/2022 atingiu 3,1 milhões de toneladas,
Henrique2, BRAZ, Guilherme Braga Pereira3, e na safra 2022/2023 deverá atingir 4,6 milhões de toneladas
BUENO, Amanda Magalhães4, SARKIS, Leonardo (CONAB, 2023). A região Centro-Oeste participa com mais
Fernandes5
da metade da produção nacional, sendo o estado de Goiás
o maior produtor, que devido ao zoneamento agroclimático
1
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador
do estado, posiciona o sorgo como principal substituto
Agronômico em Entomologia do Centro
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: do milho segunda safra, geralmente em sucessão a soja
[email protected] implantada no início de novembro e cultivada até a última
2
Eng. Agrônomo, Dr. em Fitotecnia, Pesquisador
semana de fevereiro (primavera-verão). A produtividade
Agronômico em Fitopatologia do Centro
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: desta cultura no estado de Goiás pode ser atingir as 134
[email protected] sacas ha-1 (ALMEIDA et al., 2020).
3
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador
O pulgão-da-cana-de-açúcar se tornou destaque
Agronômico em Manejo e Controle de Plantas-
Daninhas do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, na cultura do sorgo desde a safra 2019/2020 em todo país,
GO, Brasil. E-mail: [email protected] por causar danos significativos e perdas em produtividade,
4
Eng.a Agrônoma, Dra. em Agronomia, Pesquisadora
se tornando uma praga chave (FERNANDES et al., 2021).
Agronômica em Fisiologia Vegetal e Nutrição de
Plantas do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, Em Goiás, de modo geral, a população de pulgão no sorgo
GO, Brasil. E-mail: [email protected]. foi melhor controlada durante esta safra. Um manejo mais
br
assertivo do inseto, tanto em número de aplicações quanto
5
Eng. Agrônomo, Me. em Ciência do Solo, Pesquisador
Agronômico em Fertilidade do Solo e Fertilizantes do em época de controle e inseticidas mais adequados,
Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. possibilitou que a infestação não alcançasse níveis
E-mail: [email protected]
preocupantes na maioria das lavouras. Também foi relatado
que a pressão de insetos nesta safra foi menor que em
Nos últimos anos a produção brasileira de sorgo Historicamente o Melanaphis sacchari (pulgão-
estava ao redor de dois milhões de toneladas por ano, no da-cana-de-açúcar) tem sido uma importante praga na
cultura da cana-de-açúcar tanto no Brasil quanto nos EUA,
30 Entomologia
CLUBE DE REVISTAS
causando danos ao se alimentar da seiva da planta e Como o potencial de dano está relacionado com o
transmitir o vírus do mosaico (Sugarcane Yellow Leaf Virus, potencial reprodutivo do inseto, o monitoramento deve ser
SCYLV) (SINGH et al., 2004; SILVA et al., 2014). Em 2013 constante, pois, se a população do pulgão atingir níveis
nos EUA e 2019 no Brasil, os problemas com o pulgão-da- elevados na lavoura o controle será mais difícil e os danos
cana-de-açúcar na cultura do sorgo, primeiramente, foram já estarão ocorrendo. Assim, um dos pontos principais
atribuídos a um novo biótipo de M. sacchari, no entanto, no manejo para se utilizar a intervenção com inseticidas
foi desvendado por técnicas moleculares e morfológicas é o chamado “timing” de aplicação (hora certa de fazer
que se tratava da espécie Melanaphis sorghi (NIBOUCHE a aplicação), quando a infestação ainda está no início
et al. 2021). (FERNANDES et al., 2021; LIMA et al., 2021). A utilização
Além disso, M. sacchari e M. sorghi, apesar de inseticidas no manejo de M. sorghi tem se mostrado
de espécies diferentes, eram tratadas na literatura uma realidade para redução da infestação pelo inseto
como o mesmo pulgão-da-cana-de-açúcar. De fato, e manutenção das produtividades da cultura do sorgo
existe a dificuldade em diferenciar essas espécies por nos EUA, principalmente quando se trata de híbridos
características morfológicas (NIBOUCHE et al., 2021). sensíveis ao pulgão (LAHIRI et al., 2019). Neste sentido o
Mas no Brasil os grandes aumentos populacionais objetivo do trabalho foi avaliar a infestação de M. sorghi e a
observados causando sintomas em plantas de sorgo produtividade do sorgo, em função de diferentes manejos
revelaram, inclusive por técnicas moleculares, a presença (épocas e números de aplicações) diferentes inseticidas.
de M. sorghi (FERNANDES et al., 2021; NIBOUCHE et al.,
2021; HARRIS-SHULTZ et al. 2022). MATERIAL E MÉTODOS
Na região do Sudoeste Goiano, tem-se observado
maior ocorrência do pulgão M. sorghi no final da fase O experimento foi conduzido na área experimental
vegetativa e início da fase reprodutiva da lavoura de sorgo. do Centro Tecnológico COMIGO (CTC), da Cooperativa
Os insetos se concentram na parte de baixo das folhas e COMIGO, no município de Rio Verde – GO (S 17°45'57"
se alimentam sugando a seiva da planta, sendo comum e W 51°02'07"; 839 metros de altitude). Em área colhida
a infestação iniciar nas folhas mais velhas (baixeiro) e anteriormente com soja foi realizada a semeadura do
avançar para as mais novas. Os sintomas: amarelecimento, híbrido de sorgo granífero 1G 100 no dia 04 de março de
manchas vermelhas e necróticas, podem ser observados 2023, com a densidade de semeadura de 10,0 sementes
até mesmo na face superior da folha. Os danos são por metro (população final de 165 mil plantas ha-1). A
potencializados em situações de estresse, principalmente adubação de semeadura foi realizada com 400 kg ha-1 de
hídrico (SINGH et al., 2004). Ocorre formação de grandes 15-15-15. No momento da semeadura foram aplicados
colônias e, com a excreção de grandes quantidades no sulco 0,15 L ha-1 de Biomax Azum (Azospirillum
de substâncias açucaradas, se desenvolve um fungo brasilense, concentração mínima 3,0 x 108 UFC mL-1), 0,5
(geralmente do gênero Capnodium) de cor enegrecida, L ha-1 do inseticida biológico Meta-Turbo SC (Metarhizium
chamado de fumagina, que prejudica a fotossíntese da anisopliae IBCB425, concentração mínima de 1,0 x 108
folha. Em altas infestações a planta pode secar mesmo propágulos viáveis mL-1) e 0,25 L ha-1 de RayNitro Zn News
antes de emitir a panícula, ou ainda emitir a estrutura (83,3 g L-1 de Nitrogênio, 83,3 g L-1 de Fósforo - P2O5 e 47,6 g
reprodutiva, porém com enchimento de grãos altamente L-1 de Zinco). O tratamento de sementes foi realizado com
comprometido. CropStar (1,0 L para 100 kg de sementes). A adubação
Entomologia 31
CLUBE DE REVISTAS
de cobertura foi realizada com 150 kg ha-1 de Ureia Turbo na Tabela 1. Apenas no tratamento denominado Padrão
(ureia + NBPT). foram realizadas duas aplicações para o controle de
O controle de plantas daninhas foi realizado através Melanaphis sorghi. Nos demais tratamentos realizada
de uma aplicação em sistema plante-aplique logo após a apenas uma única aplicação, já na testemunha não
semeadura com Gesaprim (2,0 L ha-1) e outra aplicação houve aplicação de inseticidas. As duas aplicações no
17 dias após a semeadura com Proof (3,0 L ha-1) + Iharol tratamento padrão foram realizadas logo no início da
Gold (0,4 L ha-1). Para o controle de manchas foliares foi formação das primeiras colônias com poucos insetos, não
realizada uma aplicação com o fungicida Orkestra (0,35 L permitindo que a nota de infestação não ultrapassasse a
ha-1) + Mees (0,5 L ha-1) + Unizeb Gold (1,5 kg ha-1), 40 dias classe 1,0 na escala proposta por Fernandes et al. (2021),
após a semeadura. em que a planta de sorgo apresenta poucos pulgões e
As únicas aplicações de inseticidas realizadas no não há presença de exsúvia (colônia pequena, menos de
experimento foram referentes aos tratamentos descritos 50 pulgões folha-1).
Tabela 1. Tratamentos inseticidas para controle de pulgão, Melanaphis sorghi, no sorgo 1G100. Centro
Tecnológico COMIGO – CTC, Rio Verde-GO, safra 2022/2023.
mL ou g Dose de ativo
Tratamentos Ingrediente ativo
*p. c. ha-1 (g ha-1)
Testemunha -- -- --
Tiametoxam + Lambda-
1ª 42,3 + 31,8 +
Engeo Pleno + Premio 300 + 100 cialotrina +
Padrão
13/04 20
Clorantraniliprole
2ª
Wild + Battus 1000 + 400 Clorpirifós + Acetamiprido 480 + 80
26/05
Wild 1000 Clorpirifós 480
60% (nota 3,0)
32 Entomologia
CLUBE DE REVISTAS
Nos demais tratamentos com inseticidas (Wild, apresenta poucos pulgões e há presença de
Closer, Battus, Engeo Pleno e Wild + Battus), uma única exsúvias;
aplicação, porém em dois momentos distintos, com • Nota 3 (60% de infestação), a planta de sorgo
infestação de 60% e 86%. Totalizando 12 tratamentos apresenta uma quantidade moderada de
(inseticidas + testemunha sem aplicação), dispostos pulgões, muitas exsúvias e há o surgimento
no delineamento em blocos ao acaso (DBC), com de alguns sintomas, como amarelecimento ou
quatro repetições. As parcelas experimentais foram avermelhamento na folha (colônias grandes,
constituídas por 10 linhas de cultivo, espaçadas de mais de 50 pulgões folha-1);
0,5 metros, com 10 metros de comprimento. A parcela • Nota 4 (80% de infestação), a planta de sorgo
útil desconsiderou 1,0 m inicial e final de cada linha da apresenta grande quantidade de pulgões,
parcela e as duas linhas das extremidades. muitas exsúvias e há sintomas na planta tanto na
As aplicações foram realizadas com nervura central como na borda da folha.
pulverizador pressurizado por CO2 (Número de patente: • Nota 5 (100% de infestação), a planta de sorgo
BR102016007565-3) montando em trator (MF 275, fica tomada de pulgões, muitas exsúvias e há
Massey Ferguson, 75 cv). O pulverizador é dotado sintomas em toda a planta com o início de morte
com barra de 5,0 metros com 10 bicos de pulverização das folhas.
espaçados em 0,5 m. As pontas utilizadas para A produtividade de grãos foi obtida em três
pulverização foram modelo ADIA 11001.D, da marca linhas centrais de semeadura com 3,0 metros de
Magnojet. A calibração do equipamento foi ajustada comprimento, realizando dois pontos de amostragem
com a pressão de trabalho na ponta de pulverização de dentro de cada parcela útil. Os grãos foram colhidos,
2,7 bar (39,1 PSI) e volume de aplicação de 150 L ha-1. trilhados e secos. Foi calculada a produtividade para
Foi avaliada a infestação por pulgão M. sorghi nas um hectare, considerando-se a umidade padrão de 13%
parcelas um (1DA1), oito (8DA1) e 14 (14DA1) dias após para comercialização do grão, tomado como medida a
a aplicação no nível de infestação de 60% (aplicado em saca de 60 kg de grãos.
25/04/23). Na data de 14DA1, atingiu-se a infestação Os dados de notas de infestação por M. sorghi
de 86% (10/05/23) quando realizou-se a aplicação nos no sorgo e produtividade foram submetidos à análise
tratamentos restantes. E logo após avaliada a infestação de variância (ANOVA) pelo teste F e no caso de
um (1DA2), seis (6DA2), 14 (14DA2) e 28 (28DA2) dias efeito significativo dos tratamentos, as médias foram
subsequentes à referida aplicação. comparadas pelo teste de Scott-Knott (P<0,05). Foi
A infestação do pulgão M. sorghi no sorgo, calculada a porcentagem de redução das notas de
avaliada em três pontos por parcela, foi classificada de infestação dos tratamentos em relação à testemunha.
acordo com a escala de notas proposta por Fernandes Esta porcentagem de redução foi apresentada
et al. (2021), onde: juntamente com as próprias médias das notas de
• Nota 1 (20% de infestação), a planta de sorgo infestação através de diferentes cores com as seguintes
apresenta poucos pulgões e não há presença de classificações: maior que 90% ( ); entre 80 e 89% ( );
exsúvia (colônia pequena, menos de 50 pulgões entre 60 e 79% ( ); entre 40 e 59% ( ); inferior a 40% ( ).
folha-1);
• Nota 2 (40% de infestação), a planta de sorgo
Entomologia 33
CLUBE DE REVISTAS
Tabela 2) foi realizada a segunda aplicação em 26/05/23, a
RESULTADOS E DISCUSSÃO
qual manteve o controle da praga até a colheita. Desta forma
não permitindo que a nota de infestação ultrapassasse a
No tratamento padrão (único com duas aplicações)
classe 1,0 na escala proposta por Fernandes et al. (2021),
a primeira aplicação (13/04/23) foi realizada de forma
em que a planta de sorgo apresenta poucos pulgões e não
antecipada em relação aos demais, mantendo uma baixa
há presença de exsúvia (colônia pequena, menos de 50
infestação do pulgão M. sorghi no sorgo 1G100 até 14DA2
pulgões folha-1).
(avaliado 24/05/23), e com início da reinfestação (nota 0,8,
Tabela 2. Notas de infestação para o pulgão Melanaphis sorghi no híbrido de sorgo 1G100, em função dos
tratamentos inseticidas um (1DA1), oito (8DA1) e 14 (14DA1) dias após a aplicação com infestação de 60%
e (1DA2), seis (6DA2), 14 (14DA2) e 28 (28DA2) à de 86%. Centro Tecnológico COMIGO - CTC, Rio Verde-GO,
safra 2022/2023.
Nos tratamentos para controle do pulgão menores notas de infestação, nos demais três
M. sorghi em que a aplicação foi realizada com tratamentos apesar da redução da nota em relação
infestação média na nota 3,0 (60% de infestação) à testemunha, as notas ficaram acima de onde havia
observa-se que onde foi utilizado o Clorpirifós (60% Clorpirifós (Tabela 2). Já aos 8 dias após a aplicação
- Clorpirifós e 60% - Clorpirifós + Acetamiprido) em destes tratamentos (8DA1), todos foram eficientes
apenas um dia após a aplicação (1DA1) apresentou em reduzir a infestação para nota zero (Tabela 2).
34 Entomologia
CLUBE DE REVISTAS
Aos 14DA1 alguns tratamentos aplicados rapidamente, de forma intermediária foram os
com 60% de infestação começaram a perder o efeito tratamentos com a presença de princípios ativos
residual, com 60% - Clorpirifós apresentando redução sistêmicos (Sulfoxaflor, Acetamiprido e Tiametoxam).
da nota de infestação em relação à testemunha Destacando-se novamente a mistura de Clorpirifós
inferior a 80%. Aos 1DA2, 60% - Sulfoxaflor e 60% com Acetamiprido (sistêmico) com maior residual
- Acetamiprido também apresentaram redução da (Tabela 2).
nota de infestação em relação à testemunha inferior A produtividade do sorgo, observada na
a 80%. Aos 6DA2 foi 60% - Tiametoxam + Lambda- Figura 1, foi superior no tratamento Padrão, onde a
cialotrina que também reduziu da nota de infestação infestação foi mantida com notas inferiores a classe
em relação à testemunha para menos de 80%, 1,0 na escala de Fernandes et al. (2021). Estes
o que ocorreu com a mistura 60% - Clorpirifós + resultados estão de acordo com o trabalho de Lima
Acetamiprido somente 14DA2 (Tabela 2). et al. (2021), em que a maior produtividade do híbrido
Aos 28DA2 todos os tratamentos com uma de sorgo 1G100 foi obtida com controle do pulgão M.
única aplicação em 60% de infestação do pulgão sorghi realizado até no máximo nota 1,0 de infestação,
M. sorghi já haviam apresentado nota 5,0 escala de ou seja, no máximo 20% de infestação. Os resultados
notas proposta por Fernandes et al. (2021), onde de produtividade do presente demonstram também o
a planta de sorgo fica tomada de pulgões, muitas potencial danoso do pulgão M. sorghi para a cultura
exsúvias e há sintomas em toda a planta com o início do sorgo, quando não manejado de forma adequada,
de morte das folhas (Tabela 2). Entretanto, como por exemplo na testemunha que teve redução de
observado, isso não ocorreu de forma uniforme, 55% em relação ao tratamento padrão. Ressaltando
pois o Clorpirifós isolado perdeu o efeito residual que na literatura há relatos de perdas no rendimento
mais rapidamente, de forma intermediária foram os de até 100%, dependendo do genótipo em condições
tratamentos com a presença de princípios ativos de alta infestação (FERNANDES et al., 2021).
sistêmicos (Sulfoxaflor, Acetamiprido e Tiametoxam)
e com efeito de controle mais persistente a mistura
do Clorpirifós com Acetamiprido (sistêmico) de forma
sinérgica.
Na Tabela 2 observa-se padrão semelhante de
controle (redução nas notas de infestação do pulgão
M. sorghi) e efeito residual quando os tratamentos
foram aplicados com infestação em nota média 4,3
(86% de infestação). Sendo que, quando utilizado o
Clorpirifós (isolado ou em mistura) em apenas um dia
após a aplicação (1DA2) houve as menores notas de
infestação. Já nos três demais tratamentos com ativos
sistêmicos, aos 6DA2 e 14DA2, se igualaram aonde
havia Clorpirifós. E aos 28DA2 também observa-
se Clorpirifós isolado perdeu o efeito residual mais
Entomologia 35
CLUBE DE REVISTAS
120 a
110,8
110
b b
100 b
92,5
b 89,4 90,2
90
Produtividade (sacas.ha )
c c 83,2
-1
80 c c 74,9 77,3
69,4 71,4
70 d d
60 d 54,9 55,3
49,7
50
40
30
20
10
0
a s r a o o s a o o r o
u nh irifó xaflo otrin iprid iprid irifó otrin iprid iprid xaflo adrã
m r p f o a l m m r p a l m m f o P
te l o u l ci ta ta l o ci ta ta ul
Tes % - C % - S bda- Ace Ace % - C bda- Ace Ace % - S
60 60 Lam 0% - ós + 86 Lam ós + 6% - 86
+ 6 irif + irif 8
x am l o rp x am lorp
to C to C
i ame 0 %- i ame 6% -
T 6 T 8
0 %- 6 %-
6 8
Figura 1. Produtividade do híbrido de sorgo 1G100 com diferentes tratamentos para o controle do pulgão
Melanaphis sorghi. Centro Tecnológico COMIGO - CTC, Rio Verde-GO, safra 2022/2023. *Médias seguidas
por mesma letra não se diferem pelo Teste de Scott-Knott (p<0,05).
Quando realizada apenas uma aplicação para produtividade em relação aos demais tratamentos dentro
controle de do pulgão M. sorghi no híbrido de sorgo 1G100 da mesma classificação (60 ou 86%), com exceção de
em 60% de infestação, que neste caso foi no momento em a Sulfoxaflor na classe 60% (Figura 1), provavelmente
lavoura se encontrava em Estádio 5 – (Emborrachamento), devido ao menor efeito residual observado nas avaliações
o efeito residual dos tratamentos foi suficiente apenas até de infestação por M. sorghi no híbrido de sorgo 1G100
o florescimento (Estádio 6), assim as plantas passaram o (Tabela 2).
enchimento de grãos (Estádio 7 e 8) com altas infestações Outro ponto importante no manejo do pulgão
de pulgão o que refletiu, de forma geral, em redução da M. sorghi na cultura do sorgo está relacionado com a
produtividade em relação a quando esta única aplicação tecnologia de aplicação. Além de respeitar as condições
foi realizada em 86% de infestação, que neste caso foi no ambientais adequadas no momento da aplicação, não
momento em a lavoura se encontrava ente o Estádio 6 e 7, é aconselhável a utilização de volumes de aplicação
assim o efeito residual dos tratamentos foi suficiente para reduzidos, pois, maior quantidade de calda aplicada por
que as plantas passaram o enchimento de grãos (Estádio área pode proporcionar melhor cobertura e deposição do
7 e 8) com baixas infestações de pulgão. inseticida no terço inferior da planta, local onde geralmente
O Clorpirifós isolado tanto aplicado na infestação se inicia a infestação desta praga.
de 60%, quanto de 86%, apresentou redução da
36 Entomologia
CLUBE DE REVISTAS
SANTOS, N. M.; LIMA, P. F.; SANTOS, V. M. C. dos;
CONCLUSÃO
SIMEONE, M. L. F.; PARRELLA, R. A. da C.; MENEZES, C. B.
de; OLIVEIRA, I. R. de; MENDES, S. M. Manejo do pulgão
No controle do pulgão M. sorghi na cultura
da cana-de-açúcar (Melanaphis sacchari/sorghi) na
do sorgo, o inseticida Clorpirifós isolado perdeu o efeito
cultura do sorgo. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo,
residual mais rapidamente. A presença dos princípios
2021. 24 p. (Comunicado Técnico, 249).
ativos sistêmicos Tiametoxam, Acetamiprido e Sulfoxaflor
HARRIS-SHULTZ, K.; ARMSTRONG, J.S.;
aumenta o efeito residual. O controle é melhorado com
CARVALHO, G., JR.; SEGUNDO, J.P.; NI, X. Melanaphis
a mistura do Clorpirifós com Acetamiprido, com efeito
sorghi (Hemiptera: Aphididae) clonal diversity in the United
sinérgico.
States and Brazil. Insects, v. 13, n. 416, p. 1-8, 2022.
O tratamento padrão, com duas aplicações,
LAHIRI, S.; XINZHI, N.; BUNTIN,G. D.; PUNNURI,
para controle do pulgão M. sorghi na cultura do sorgo
S.; JACOBSON, A.; REAY-JONES, F. P. F.; TOEWS, M. D.
proporcionou maior produtividade que os tratamentos
Combining host plant resistance and foliar insecticide
com apenas uma aplicação. Tratamentos com diferenças
application to manage Melanaphis sacchari (Hemiptera:
no efeito residual e diferentes épocas de aplicação
Aphididae) in grain sorghum. International Journal of
interferem na produtividade de grãos de sorgo.
Pest Management, v. 67, n. 1, p. 10-19, 2019.
LIMA, D. T.; FERNANDES, R. H.; ALMEIDA, D. P.
AGRADECIMENTOS
Timing de aplicação para o pulgão da cana-de-açúcar
na cultura do sorgo. In: FURTINI NETO, A. E.; LIMA, D. T.;
À equipe de campo, pesquisadores e estagiários
ALMEIDA, D. P.; NASCIMENTO, H. L. B.; FERNANDES,
do CTC pelo apoio na implantação e condução do
R. H.; BILEGO, U. O. (Eds.). Anuário de Pesquisas
experimento.
Agricultura – 2ª Safra 2020/2021. Rio Verde: Instituto de
Ciência e Tecnologia COMIGO, 2021. p. 34-41.
REFERÊNCIAS
NIBOUCHE, S.; COSTET, L.; MEDINA, R. F.;
HOLT, J. R.; SADEYEN, J.; ZOOGONES, A. S.; BROWN,
ALMEIDA, D. P.; FURTINI NETO, A. E.; LIMA,
P.; BLACKMAN, R. L. Morphometric and molecular
D. T.; FERNANDES, R. H.; FREITAS, B. V.; ROSA, V. C. S.;
discriminaton of the sugarcane aphid, Melanaphis
JESUS, E. S.; SCHNEIDER, S. A. O. Épocas de semeadura
sacchari, (Zehntner, 1897) and the sorghum aphid
de híbridos de sorgo em segunda safra 2018/2019:
Melanaphis sorghi (Theobald, 1904). PLoS ONE, v. 16, n.
produtividade de grãos. In: FURTINI NETO, A. E.; LIMA, D.
3, p. 1-17, 2021.
T.; ALMEIDA, D. P.; NASCIMENTO, H. L. B.; FERNANDES,
SILVA, M. L.; ROCHA, D. A.; SILVA, K. T. B. Potential
R. H.; BILEGO, U. O.(Eds.). Anuário de Pesquisas
population growth of Melanaphis sacchari (Zethner)
Agricultura – Resultados 2020. Rio Verde: Instituto de
reared on two hosts plants. Current Agricultural Science
Ciência e Tecnologia COMIGO, 2020. p. 203-210.
and Technology, v. 20, p. 21-25, 2014.
CONAB. Companhia Nacional de
SINGH, B. U.; PADMAJA, P. G.; SEETHARAMA,
Abastecimento. 11º Levantamento - Safra 2022/23.
N. Biology and management of the sugarcane aphid,
Disponível em: <https://www.conab.gov.br/info-agro/
Melanaphis sacchari (Zehntner) (Homoptera: Aphididae),
safras/graos/boletim-da-safra-de-graos>. Acesso em: 20
in sorghum: a review. Crop Protection, v. 23, n. 9, p. 739-
ago. 2023.
755, 2004.
FERNANDES, F. O.; SOUZA, C. da S. F.; AVELLAR,
G. S. de; NASCIMENTO, P. T.; DAMASCENO, N. C. R.;
Entomologia 37
CLUBE DE REVISTAS
Fertilidade
do Solo e
Fertilizantes
38 Fertilidade do Solo e Fertilizantes
CLUBE DE REVISTAS
APLICAÇÃO ANTECIPADA DE
NITROGÊNIO EM COBERTURA NO
SORGO
SARKIS1, Leonardo Fernandes; RODRIGUES2, em segunda safra no cerrado. Dessa forma, a cultura tem
Matheus Silva; BUENO3, Amanda Magalhães; ganhado espaço como opção alternativa, principalmente
HARA4, Eduardo; FREITAS5, Andréia Victor em épocas de semeaduras tardias. Ainda assim, o
atraso na semeadura pode reduzir o potencial produtivo
1
Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutorando devido as perdas por adversidades climáticas, como
em Ciência do Solo. Pesquisador Agronômico deficiência hídrica, fotoperíodo e baixa temperatura do
no Centro Tecnológico COMIGO (CTC). E-mail:
ar (FORNASIERI FILHO e FORNASIERI 2009). Na região
[email protected]
2
Engenheiro Agrônomo, Mestre em Ciências Agrárias/ sudoeste de Goiás, semear o sorgo até o último decêndio
Agronomia. Coordenador Técnico da Agricultura de fevereiro, associado a outras práticas de manejo, ajuda
de Precisão COMIGO (AP COMIGO). E-mail:
a garantir altas produtividades conforme observado para
[email protected]
3
Engenheira Agrônoma, Dr. em Agronomia. diversos híbridos (ALMEIDA et al. 2019; ALMEIDA et al.
Pesquisadora Agronômica no Centro Tecnológico 2020; ALMEIDA et al. 2021).
COMIGO (CTC). E-mail: amandamagalhães@comigo.
Dentre as práticas de manejo que podem
com.br
4
Engenheiro Agrônomo, Gerente de Geração e incrementar a produtividade de grãos, a adubação
Difusão de Tecnologia do Centro Tecnológico COMIGO nitrogenada em cobertura tem apresentado resultados
(CTC). E-mail: [email protected]
positivos para a cultura do sorgo (ALMEIDA et al.,
5
Discente de graduação da Faculdade de Agronomia
do Instituto Federal Goiano (IFGoiano), campus Rio 2022). No entanto, aplicações tardias de nitrogênio (N)
Verde. Estagiário no Centro Tecnológico COMIGO em superfície podem resultar em elevadas perdas por
(CTC). E-mail: [email protected]
volatilização de amônia (NH3) e baixa eficiência no uso
do nutriente pela cultura devido ao final do período de
chuvas, o que dificulta a incorporação do fertilizante
INTRODUÇÃO e absorção pelas raízes. Nesse cenário, ajustar as
estratégias de adubação pode contribuir com ganhos
O sorgo granífero possui tolerância superior expressivos em produtividade dos híbridos modernos de
ao déficit hídrico quando comparado ao milho elevado potencial.
(FORNASIERI FILHO e FORNASIERI 2009; ALMEIDA As tecnologias para fertilizantes são opções
et al., 2019), principal espécie atualmente cultivada interessantes para aumentar a eficiência de uso de
Tabela 1. Tratamentos avaliados no experimento de adubação nitrogenada com ureia e ureia turbo® em
cobertura na cultura do sorgo. Rio Verde (GO), 2023.
Dose
Tratamentos Época de aplicação DAS*
( kg ha-1 de N)
Controle 0 - -
Ureia convencional Estágio 2 15
Ureia convencional Estágio 4 27
Ureia convencional Estágio 5 35
Ureia turbo® 60 Estágio 2 15
Ureia turbo® Estágio 4 27
Ureia turbo® Estágio 5 35
*DAS: dias após semeadura.
Figura 1. Precipitação acumulada (mm), temperaturas máximas (°C) e umidade relativa (%) após as épocas
da adubação nitrogenada com ureia e ureia turbo® em cobertura na cultura do sorgo. Rio Verde (GO), 2023.
Adubação com
N apenas na
semeadura:
400kg ha-1 de
15 15-15
Figura 2. Produtividade do sorgo cultivado no experimento de adubação nitrogenada com ureia e ureia
turbo® aplicadas em cobertura em diferentes épocas. Rio Verde (GO), 2023.
*Letras maiúsculas comparam dentro da mesma época: ureia convencional e ureia turbo® (Tukey, P<0,05).
*Letras minúsculas comparam as épocas de aplicação das fontes (Tukey, P<0,05).
0-20 4,84 1,97 0,84 0,04 2,49 5,65 0,36 139,51 17,09 1,76 56,28 44,45
Com base nos resultados da análise de BioAg), 0,1 L ha-1 do coinoculante Biomax Azum,
solo (Tabela 1) realizada antes da implantação (Azospirillum brasilense, concentração mínima 3,0
do experimento (2021/2022), calculou-se a dose x 103 UFC mL-1, Biosoja), 0,5 L ha-1 do inseticida
necessária para elevar a saturação de bases a 70%, biológico Meta-Turbo SC (Metarhizium anisopliae
a qual foi de 1,7 toneladas de calcário ha . O calcário
-1
IBCB425, concentração mínima de 1,0 x 108
utilizado na pesquisa possuía 79% de poder relativo propágulos viáveis mL-1, Biovalens), 0,2 L ha-1 Nódulos
de neutralização total (PRNT), poder de neutralização Gold (13,9 g L-1 de Cobalto, 139g L-1 de Molibdênio,
de 90% (PN), teores de 43 % de óxido de cálcio e 6% BIOSOJA) 0,4 L de Verango Prime L ha-1 . O volume
de óxido de magnésio. aplicado foi de 60 L ha-1. Já no dia 25 de outubro de
No dia 11 de outubro de 2021 aplicou-se 2021 aplicou-se 56 kg ha-1 Sulfurgran.
102 kg ha-1 de microgram 12 e no dia seguinte Após a colheita da soja, foi realizado a
houve aplicação de 202 kg ha de KCl, baseado nos
-1
implantação da cultura do sorgo no dia 09 de março
resultados da análise de solo da área experimental. de 2022, sendo utilizado o híbrido AG 1070, com 10,5
Na presente área, realizou-se a semeadura da soja sementes por metro (população final na colheita de
no dia 21 de outubro de 2021, sendo a densidade de 210 mil plantas ha-1). Referente aos adubos utilizados,
semeadura de aproximadamente 9,6 sementes por aplicou-se 295 kg ha-1 do formulado 08-20-18 no sulco
metro (população final na colheita de 192 mil plantas de semeadura. As adubações de cobertura foram no
ha ). No que se refere aos adubos, aplicou-se 201
-1
dia 25 de março de 2022, aplicando-se 200 kg ha-1 de
kg ha-1 de Fosfato Monoamônico MAP no sulco e 20-00-20 e no dia 14 de abril de 2022 aplicando-se
1,0 L ha do inoculante Cell Tech (Bradyrhizobium
-1
150 kg ha-1 de ureia.
japonicum Estirpe SEMIA 5079 e SEMIA 5080, No segundo ano agrícola, a semeadura
concentração mínima 3,0 x 109 UFC mL , Monsanto
-1
da soja foi realizada de forma mecanizada no dia
Figura 1. Produtividade do sorgo de 2022 em função das doses de calcário e formas de aplicação.
144
142
y = -0,0076x3 + 0,2223x2 - 0,7379x + 132,94
140 R² = 0,8826
138
136
134
132
130
128
0 2 4 6 8 10 12 14
Dose de calcário (t ha-1)
Figura 2. Produtividade do sorgo de 2023 em função das doses de calcário e formas de aplicação.
COMPATIBILIDADE DE DIQUAT E
OCTABORATO NA DESSECAÇÃO
PRÉ-COLHEITA DA SOJA E
IMPACTOS DO BORO NO SORGO
EM SUCESSÃO
Figura 1. Precipitação acumulada (mm), temperaturas máximas e mínima (°C) e umidade relativa
(%) durante o período de condução do experimento. Rio Verde (GO), 2023.
Dose Dose
Tratamentos1/ Ingrediente ativo
(L ou kg p.c. ha-1) (g i.a. ou kg B ha-1)
Testemunha sem herbicida - - -
Reglone® 1,0 Diquat 200
Reglone® 1,5 Diquat 300
Reglone® 2,0 Diquat 400
Reglone® + octaborato de sódio 1,0 + 5,0 Diquat + Boro 200 + 1,0
Reglone® + octaborato de sódio 1,0 + 10,0 Diquat + Boro 200 + 2,0
Reglone® + octaborato de sódio 1,5 + 5,0 Diquat + Boro 300 + 1,0
Reglone® + octaborato de sódio 1,5 + 10,0 Diquat + Boro 300 + 2,0
Reglone® + octaborato de sódio 2,0 + 5,0 Diquat + Boro 400 + 1,0
Reglone® + octaborato de sódio 2,0 + 10,0 Diquat + Boro 400 + 2,0
1/
Adicionado espalhante adesivo Agral® na dose de 0,5% V/V.
Os tratamentos foram aplicados quando as pragas e doenças sem deixar que estes influenciassem
plantas de soja se encontravam no estádio R7.3, o negativamente no desenvolvimento da cultura.
qual indica que as plantas apresentam mais de 75% Para determinar o efeito dos tratamentos, foram
das vagens maduras (amareladas). A aplicação dos realizadas avaliação de porcentagem de dessecação e
tratamentos no dia 13/02/2022 (109 DAS). No momento desfolha aos 1, 3, 5 e 7 dias após a aplicação (DAA) dos
da aplicação o solo estava úmido e o céu estava com a tratamentos. A desfolha visual foi avaliada adotando-se
presença de poucas nuvens, estando a temperatura, escala em que 0 representa ausência de desfolha nas
umidade relativa do ar e velocidade do vento, mínima e plantas e 100% representa desfolha completa, sendo
máxima, em valores equivalentes a 22,8 e 26,7,oC, 80,6 e conferidas notas para todos os tratamentos, incluindo a
82,9% e 0,8 e 1,8 km h-1, respectivamente. As aplicações testemunha sem herbicida, na qual as plantas passam
foram realizadas utilizando-se um pulverizador de por um processo de desfolha natural. A dessecação foi
pesquisa pressurizado por CO2 com patente junto ao avaliada por meio de escala visual em que 0 representa
INPI (BR102016007565-3), montado em um trator (LS ausência de sintomas de necrose no tecido foliar e 100%
60, 60 cv, Landini). A barra de aplicação foi equipada representa tecido foliar completamente necrosado em
com dez pontas espaçadas 0,5 m entre si, mantida a todas as plantas.
uma altura de 0,5 m da cobertura vegetal. A pressão de Ademais, na ocasião da colheita foi realizada
trabalho nas pontas de pulverização de jato duplo plano avaliação produtividade e umidade de grãos da soja
com indução de ar (ADIA/D 110015; Magnojet) foi de e do sorgo. Para determinação da produtividade de
300 kPa (43,5 psi) e o volume de aplicação 100 L ha-1. grãos, foi realizada o arranquio manual de todas as
Durante o desenvolvimento da soja no período plantas (no sorgo panículas) presentes na área útil
de safra e do sorgo na safrinha, todos os tratos culturais de cada unidade experimental, onde posteriormente
foram realizados de acordo com as recomendações este material foi submetido aos processos de trilha,
técnicas, procedendo ao controle de plantas daninhas, embalagem, identificação, pesagem e correção da
Tabela 3. Umidade de grãos (UG) e produtividade (PRO) da soja e do sorgo cultivado em sucessão.
Rio Verde (GO), 2022/2023.
Fisiologia e
Nutrição de
Plantas
Fisiologia e Nutrição de Plantas 61
CLUBE DE REVISTAS
Figura 1. Precipitação pluvial diária e acumulada ao longo dos estádios vegetativos e reprodutivos
da cultura da soja, temperaturas máxima, média e mínima na área experimental da Fazenda Monte
Alegre (COMIGO) no intervalo dos dias 07/10/2022 a 20/02/2023, Rio Verde, Goiás, safra 2022/23.
O solo da área experimental foi classificado camadas de 0-20 cm e 20-40 cm de profundidade, para
como LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico, de análise dos atributos químicos e granulometria do solo
textura argilosa (>35% de argila). Antes da instalação (Quadro 1).
dos experimentos, foram realizadas amostragens nas
Profundidade P K Ca Mg S B Zn Cu Fe
P K Ca Mg S pH V
Figura 3. Diagnose do estado nutricional pelo método DRIS, em função das épocas e doses de
aplicação de fósforo (P2O5) via foliar na cultura da soja, cultivada em área experimental da Fazenda
Monte Alegre (COMIGO), Rio Verde, Goiás, safra 2022/23.
Nós haste
Ramos laterais Vagens Produtividade
Tratamentos principal
(n° planta-1) (n° planta-1) (sc ha-1)
(n° planta-1)
Doses totais de P2O5 Doses totais
(D) de MAP
0 kg ha-1 0 kg ha-1 12,77 1,22 37,05 71,88
Interação (DxE)
Figura 4. Número de ramos laterais por planta (a) e produtividade de grãos (sc ha-1) (b), em
função das e doses de aplicação de fósforo (P2O5) via foliar na cultura da soja, cultivada em área
experimental da Fazenda Monte Alegre (COMIGO), Rio Verde, Goiás, safra 2022/23.
Ao avaliar as interações entre as fontes ha-1 P2O5, ocorreram nos estádios V5, R3 e R5.1, ocorreu
de variação (dose de P2O5 x época de aplicação), incremento médio de 1,11 ramos laterais em relação à
observou-se que as aplicações de 6 e 12 kg ha P2O5
-1
testemunha. Por fim, quando ocorreu a aplicação de 6 kg
nos estádios V2, V5, R3 e R5.1, foram as doses nesse ha-1 P2O5 em V5 e R3, observou-se a maior ramificação
estádio, que promoveram maior ramificação lateral, em relação aos demais tratamentos, em torno de 2,11
em média 2,03 mais ramos em relação à testemunha mais ramos em comparação à testemunha (Figura 5a).
(Figura 5a). Quando as divisões das doses de 3 e 6 kg
Figura 5. Número de ramos laterais (a) e produtividade de grãos (sc ha-1) (b), em função da interação
entre as épocas e doses de aplicação de fósforo (P2O5) via foliar na cultura da soja, cultivada em
área experimental da Fazenda Monte Alegre (COMIGO) em Rio Verde, Goiás, safra 2022/23.
Observou-se que ocorreram incrementos à testemunha (ganho de 14,1 sc ha-1). Quando as doses
produtivos, em praticamente todas as doses e épocas de MAP purificado foram divididas em três aplicações, o
de aplicação de fósforo via foliar na cultura da soja, maior incremento produtivo se deu com a aplicação de
exceto com a divisão da dose de 3 kg ha de P2O5 em
-1
3 kg ha-1 de P2O5 (1,66 kg ha-1 de MAP por pulverização
quatro aplicações (1,25 kg de MAP por aplicação). Nesta foliar), sendo 18% superior à testemunha (+ 16,34 sc ha-
forma de parcelamento (V2, V5, R3 e R5.1), o melhor 1
) (Figura 5b). Por fim, na última forma de parcelamento
resultado produtivo ocorreu com a aplicação da dose da adubação foliar, onde as doses foram divididas em
total de 9 kg ha de P2O5, totalizando 3,75 kg de MAP
-1
V5 e R3, o maior índice produtivo encontrado foi obtido
por aplicação alcançando produtividade 16% superior com a aplicação de 9 kg ha-1 de P2O5 (7,5 kg ha-1 de MAP
BUENO1, Amanda Magalhães; FREITAS2, Andréia produtos advindos da cultura, movimentou cerca de
Victor; DELGADO3, Vanderson Aparecido Diego; 673,7 bilhões de reais no país (CEPEA; ABIOVE, 2023).
SILVA4, Linconl Lima O Brasil é um dos principais produtores e exportadores
mundiais de soja grão e seus derivados (exportação de
1
Eng . Agrônoma, Dr . em Agronomia, Pesquisadora
a a
178,65 mil toneladas em 2022) (CEPEA; ABIOVE, 2023).
Agronômica em Fisiologia e Nutrição de Plantas do Regiões como o estado de Goiás e o sudoeste goiano
Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil.
E-mail: [email protected]; desempenham papel fundamental nessa produção. Na
2
Estudante de Graduação em Agronomia no Instituto safra do ano agrícola 2022/23, Goiás obteve produção de
Federal Goiano. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: 17,74 milhões de toneladas em uma área de 4,54 milhões
[email protected];
3
Estudante de Graduação em Agronomia da UniRV. de hectares, com grande contribuição da região sudoeste
Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: vandersomdelgado@ (CONAB, 2023). A importância dessa cultura para essa
hotmail.com; região está relacionada não apenas ao seu impacto
4
Estudante de Graduação em Agronomia no Instituto
Federal Goiano. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: econômico, mas também aos benefícios socioambientais
[email protected]. e à segurança alimentar (AVELAR; TANNUS, 2022).
A nutrição adequada é fator determinante para
INTRODUÇÃO o crescimento e desenvolvimento saudável da cultura
(MALAVOLTA, 2006). Para alcançar altas produtividades
Vista como uma das culturas de maior e qualidade de grãos, é indispensável fornecer nutrientes
influência econômica mundial, a soja (Glycine max (L.) à soja, dentre eles o magnésio (PRADO, 2008). Embora
Merrill), ocupa posição de destaque, e se apresenta, o fornecimento convencional (via solo) seja a alternativa
para o Brasil, como a mais importante cultura em recomendada, e que para cultura, a principal fonte
termos de produção e exportação de grãos. Somente do nutriente seja o calcário (SOUZA; LOBATO, 2004),
em 2022, a comercialização de grãos e demais a adubação foliar com magnésio vem ganhando
Figura 1. Precipitação pluvial diária e acumulada ao longo dos estádios vegetativos e reprodutivos,
temperaturas máxima, média e mínima na área experimental da Fazenda Monte Alegre (COMIGO)
no intervalo dos dias 07/10/2022 a 20/02/2023, Rio Verde, Goiás, safra 2022/23.
O solo da área experimental foi classificado amostragens nas camadas de 0-20 cm e 20-40 cm de
como LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico, de profundidade, para análise dos atributos químicos e
textura argilosa (>35% de argila). Foram realizadas textura do solo (Quadro 1).
Profundidade P K Ca Mg S B Zn Cu Fe
P K Ca Mg S pH V
Figura 2. Descrição gráfica das épocas e doses de aplicação de Mg via foliar na cultura da soja
cultivada em área experimental da Fazenda Monte Alegre (COMIGO), Rio Verde, Goiás, safra
2022/23.
Cinco dias após a última aplicação dos Creste e Echer (2010), na qual estabelece como faixa de
tratamentos (estádio R5.1), foram coletadas 20 folhas equilíbrio, os valores entre (–(4σ)/3) e (+(4σ)/3) (σ: desvio
por parcela, sendo a terceira completamente expandida padrão), que para o banco de dados em questão, foram
a partir da haste principal, sem o pecíolo (MALAVOLTA considerado como adequados, os índices entre -17 e
E VITTI, 1997). As amostras de tecido vegetal foram 17. Os valores abaixo (negativos) ou acima (positivos)
analisadas conforme metodologia proposta por dessa faixa, são considerados em desequilíbrio por
Silva (2009), a partir das quais foram determinados deficiência ou excesso, respectivamente (Figura 3).
os teores de N, P, K, Ca, Mg, S, B, Cu, Fe, Mn e Zn. O A colheita foi realizada no dia 07/02/2023,
resultado médio dos teores foliares de nutrientes foram totalizando o ciclo de 124 dias (da semeadura à colheita).
interpretados conforme metodologia DRIS (Sistema Foram realizadas amostragens de produtividade com
Integrado de Diagnose e Recomendação), utilizando a coleta das plantas em dois pontos de 3 metros e
as normas estabelecidas por banco de dados DRIS 3 linhas (4,50 m²) por área útil de cada parcela. As
COMIGO – SOJA, elaborado na safra 2022/2023, para amostras foram secas, trilhadas, pesadas e aferidas a
as regiões do sudoeste goiano, com altitude superior umidade. A umidade das amostras foi corrigida para
a 700 m. 13%. Na data da colheita foram avaliados o número
Os índices DRIS foram calculados a partir da de nós reprodutivos na haste principal, número de
população de referência com produtividade superior ramos laterais e número total de vagens, de três plantas
à 80 sc ha . Foi utilizada metodologia proposta por
-1
coletadas aleatoriamente na área útil de cada unidade
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 3. Diagnose do estado nutricional pelo método DRIS, em função das épocas e doses de
aplicação de Mg via foliar na cultura da soja, cultivada em área experimental da Fazenda Monte
Alegre (COMIGO), Rio Verde, Goiás, safra 2022/23.
A aplicação das doses de magnésio via foliar, resultados, com incremento médio de 5 vagens por
influenciou de forma significativa, o número de nós planta, em relação à testemunha (Tabela 1). Quanto à
reprodutivos na haste principal a produtividade de produtividade, os resultados demonstram que, quando
soja (Tabela 1). As épocas de aplicação das doses de o parcelamento das doses de Mg ocorreu em V5, R3
magnésio, avaliadas individualmente, apresentaram e R5.1 e em R3 e R5.1, foram atingidos os melhores
influência direta no número de nós reprodutivos índices produtivos, com incremento médio em torno
na haste principal, de modo que o as plantas com de 10,34 sc ha-1 relação à testemunha (Tabela 1). Os
parcelamento das doses de Mg nos estádios V5, dois parcelamentos, apresentaram em comum, as
R3 e R5.1, apresentaram 3 nós a mais, em relação à aplicações nos estádios R3 e R5.1, momentos esses de
testemunha (Tabela 1). maior demanda nutricional para a cultura, em função do
Para o número de vagens por planta, o início de formação das vagens e posterior enchimento
parcelamento da adubação nos estádios V5, R3 e R5.1 de grãos.
e em V3 e R3, foram os que alcançaram os melhores
Nós haste
Ramos laterais Vagens Produtividade
Tratamentos principal
(n° planta-1) (n° planta-1) (sc ha-1)
(n° planta-1)
Doses
Doses totais
totais de
de Mg (D)
MgSO4
0 g ha-1 0 kg ha-1 15 2,30 45 71,88
200 g ha -1
2,22 kg ha -1
17 2,44 47 80,70
400 g ha -1
4,44 kg ha -1
15 2,44 45 83,95
800 g ha -1
8,88 kg ha -1
18 2,44 50 82,00
1600 g ha -1
17,76 kg ha -1
15 2,55 48 78,70
p-valor - 0,002** 0,579 ns
0,269 ns
0,002**
Épocas de
aplicação (E)
sem aplicação - 15 b 2,30 45 b 71,88 c
V5, R3 e R5.1 - 18 a 2,58 50 a 82,35 a
V5 e R3 - 16 b 2,41 50 a 79,57 b
R3 e R5.1 - 16 b 2,33 44 b 82,10 a
p-valor - 0,001** 0,335 ns
0,017** 0,012**
Interação
(DxE)
p-valor - 0,000** 0,554ns 0,004** 0,022**
média - 16 2,41 47,40 80,61
C.V. (%) - 7,04 21,27 10,52 4,23
ns
e **, não significativo a 5% e significativo a 1% de probabilidade pelo teste F, respectivamente. Médias seguidas por mesma letra
na coluna e diferem entre si, pelo Teste de Scott-Knott (p-valor <0,05). C.V. (Coeficiente de Variação)
Após realizado os desdobramentos das ha-1 atingida com a aplicação de 1190 g de Mg ha-1, o
equações geradas a partir da análise de regressão, que demandaria a aplicação total de 13,22 kg de sulfato
estimou-se que a aplicação de 900 g de Mg ha via foliar, -1
de magnésio (9% de Mg2+), independente da época de
independentemente do parcelamento do fertilizante, é parcelamento da aplicação (Figura 4b).
a que acarreta no maior número de nós reprodutivos
na haste principal (17,43 nós/planta) (Figura 4a). A
máxima produtividade de grãos estimada é de 88,39 sc
a b
Figura 4. Número de nós reprodutivos por planta (a) e produtividade de grãos (sc ha-1) (b), em
função das e doses de aplicação de Mg via foliar na cultura da soja, cultivada em área experimental
da Fazenda Monte Alegre (COMIGO), Rio Verde, Goiás, safra 2022/23.
Ao avaliar as interações entre as fontes tratamentos (Figura 5a). O número de vagens por planta
de variação (dose de Mg x época de aplicação), foi influenciado apenas quando a adubação foliar com
observou-se que as aplicações de Mg nos estádios magnésio ocorreu nos estádios V5, R3 e R.1, com as
V5, R3 e R5.1, bem como em V5 e R3, resultaram em doses de 200 e 800 g ha-1 de Mg, promovendo em
maiores alterações, sendo a dose de 800 g ha-1 de média incrementos em torno de 18% em relação à
Mg, aquela que nas duas situações, promoveu maior testemunha (+10 vagens/planta) (Figura 5b).
quantidade de nós reprodutivos em relação aos demais
Médias seguidas por mesma letra a cima das barras, não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (p-valor <0,05).
Figura 5. Número de nós reprodutivos na haste principal (a), número de vagens por planta (b) e
produtividade de grãos (sc ha-1) (c), em função da interação entre as épocas e doses de aplicação
de magnésio via foliar na cultura da soja, cultivada em área experimental da Fazenda Monte Alegre
(COMIGO) em Rio Verde, Goiás, safra 2022/23.
ALTARUGIO, L. M.; LOMAN, M. H.; NIRSCHL, Effect of organic and bio fertilization and magnesium
M. G.; SILVANO, R. G.; ZAVASCHI, E.; CARNEIRO, foliar application on soybean production. Egyptian
L. de M. e. S.; VITTI, G. C.; LUZ, P. H. de C.; OTTO, R. Journal of Soil Science, vol. 63, no. 1, p. 127–
Yield performance of soybean and corn subjected 141, 2023. DOI 10.21608/ejss.2023.185631.1564.
doi.org/10.1590/S0100-204X2017001200007. pdf.
ALVARES, C. A.; STAPE, J. L.; SENTELHAS, P. C.; EPSTEIN, E.; BLOOM, A. J. Mineral plant
DE MORAES GONÇALVES, J. L.; SPAROVEK, G. Köppen’s nutrition. 3rd ed. Amsterdan: Elsevier, 2006.
climate classification map for Brazil. Meteorologische MALAVOLTA, E.; VITTI, G. C.; OLIVEIRA, S.
Zeitschrift, vol. 22, no. 6, p. 711–728, 2013. https://doi. A. Avaliação do estado nutricional das plantas:
BOLDRIN, P. F.; BRUCCELI, R.; KUBELKE, M. Associação Brasileira para Pesquisa da Potássio e do
fertilization increase quality and soybean grain yield nutrição mineral de plantas. [S. l.]: Agronomica Ceres,
qualidade e o rendimento de grãos de soja. Revista AVELAR, M.; TANNUS, S. P. Indicadores das
delos desarrollo local sostenible, vol. 16, no. 45, p. Exportações Brasileiras de Soja em Grão. Journal of
System , its application and use in agriculture . A review NACHTIQAÜ, G. R.; NAVA, G. Adubação foliar:
I . Introduction. vol. 18, no. 3, p. 29–46, 2021. . Fatos e mitos. Agropecuária Catarinense, vol. 23, no.
PIB, empregos e comércio exterior. São Paulo, , p. 82, PARENT, L. E.; DAFIR, M. A Theoretical concept
Figura 1. Precipitação pluvial, temperaturas máxima, média e mínima diária e acumulada ao longo
dos estádios vegetativos e reprodutivos do milho, cultivado em área experimental do Centro
Tecnológico Comigo (CTC) Rio Verde, Goiás, 2° safra 2022/23 – período de 09/03/2023 a 09/08/2023.
O solo da área experimental foi classificado camadas de 0-20 cm e 20-40 cm de profundidade, para
como LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico, de análise dos atributos químicos e granulometria do solo
textura argilosa (>35% de argila). Antes da instalação (Quadro 1).
dos experimentos, foram realizadas amostragens nas
Profundidade P K Ca Mg S B Zn Cu Fe
Profundidade P K Ca Mg S B Zn Cu Fe
Dose
Tratamentos Garantias
L ou kg ha-1
1 Testemunha - -
Nutriplenus 5% N; 8% P2O5; 5% K2O; 1% Ca; Mg 1%; 0,4% B; 0,2% Cu; 0,5% Mn;
4 1,00
Completo® Zn 1,0%
5 Niphokam® 10% N; 8% P2O5; 8% K2O; 1% Ca; 1% Zn; 0,5 Mg; 0,5% B 1,00
7 Biozyme® 1% N; 5% K2O; 0,08% B; 0,4% Fe; 1% Mn; 1% S; 2% Zn; 3,5% C.O.T. 0,25
1% N; 3,1% S; 0,09% B; 0,06% Co; 1,3% Fe; 1% Cu; 1,1% Mn; 0,04%
9 Crop+® 0,50
Mo; 2,3% Zn; 6% C.O.T.
12% N; 3% K2O; 1 % Mg; 9,5 % S; 2%B; 0,1 % Cu; 6,5% Mn; 9,0% Zn;
10 Profol Exclusive® 1,50
0,1% Mo
Figura 2. Descrição gráfica das épocas de aplicação dos tratamentos contendo fertilizantes foliares
bioestimulantes, na cultura do milho, cultivado em área experimental do Centro Tecnológico
Comigo (CTC) Rio Verde, Goiás, 2° safra 2022/23.
O plantio foi realizado com o híbrido de milho Foram realizadas amostragens de produtividade com a
B2401 PWU (Brevant) de ciclo classificado como coleta das plantas em dois pontos de 3 metros e 3 linhas
superprecoce, e população final de 2,8 plantas m -1
(4,50 m²) por área útil de cada parcela. As amostras
(56.000 plantas ha ). Cada parcela foi composta por
-1
foram secas, trilhadas, pesadas e aferidas a umidade.
12 linhas espaçadas em 0,50 m, contendo 10 m de A umidade das amostras foi corrigida para 13%. Na
comprimento (60 m por parcela). As avaliações foram
2
data da colheita foram coletadas 3 espigas por parcela
realizadas nas seis fileiras centrais, excluindo-se 0,50 m e avaliados o número de fileiras de grãos por espiga,
das extremidades (área útil de 27 m ). As pulverizações
2
número de grãos por fileira, tamanho e diâmetro de
foliares foram realizadas de acordo com o estádio da espiga e porcentagem de espigas com falha de grãos
cultura. Para pulverização das unidades experimentais, na extremidade.
utilizou-se um pulverizador de parcelas pressurizado A análise estatística se deu por meio da análise
por CO2 (Patente: BR102016007565-3) montado em de variância pelo teste F a 5% de probabilidade, para
trator. O pulverizador possui barra de 5,0 metros com avaliação das significâncias dos resultados. Quando
10 bicos de pulverização espaçados em 0,5 m. Utilizou- significativos, os resultados de caráter qualitativo
se pontas modelo ADIA 015.D da marca Magnojet. A tiveram suas médias comparadas a partir do teste
calibração do equipamento foi ajustada com pressão Scott-Knott a 5% de probabilidade.
de trabalho em 2,7 bar (39,1 PSI) e volume de aplicação
de 150 L ha-1. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A colheita foi realizada no dia 09/08/2023,
totalizando o ciclo de 153 dias (da semeadura à colheita). As aplicações foliares dos bioestimulantes,
Tabela 1. Porcentagem de falhas de grãos, número de fileiras, número de grãos por fileira e
diâmetro de espiga, em função da aplicação de fertilizantes foliares bioestimulantes na cultura do
milho, em área experimental do Centro Tecnológico Comigo (CTC) Rio Verde, Goiás, 2° safra 2023.
MédiasMédias seguidas
seguidas por mesma
por mesma letra aletra
cimaacima das barras,
das barras, não não diferem
diferem entre
entre si pelo
si pelo teste
teste de Scott-Knot
de Scot (p-valor
-Knot ( p-valor <0,05).
<0,05).
Figura 4. Tamanho de espiga (cm) (a) e produtividade e grãos (sc ha-1) (b) em função da aplicação
de fertilizantes foliares na cultura do milho, cultivado em área experimental do Centro Tecnológico
Comigo (CTC) Rio Verde, Goiás, 2° safra 2023.
De acordo com SOUZA et al. (2023), os efeitos plantas, como manutenção da fototossíntese e redução
benéficos da utilização de bioestimulantes nas do gasto energético pelo fornecimento de compostos
principais culturas agrícolas do Brasil estão associados à orgânicos como aminoácidos. Além disto, também,
presença condições de estresses como o déficit hídrico promovem o equilíbrio hormonal das plantas,
e variações térmicas extremas, semeadura realizada favorecendo a expressão do seu potencial genético
fora da janela adequada, entre outros. Os efeitos (FERREIRA et al., 2007).
benéficos observados pelo uso dos bioestimulantes,
podem ser associados à suas funções fisiológicas à
Figura 1. Precipitação pluvial, temperaturas máxima, média e mínima diária e acumulada ao longo
dos estádios vegetativos e reprodutivos do sorgo, cultivado em área experimental do Centro
Tecnológico Comigo (CTC) Rio Verde, Goiás, 2° safra 2022/23 – período de 09/03/2023 a 24/07/2023.
O solo da área experimental foi classificado camadas de 0-20 cm e 20-40 cm de profundidade, para
como LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico, de análise dos atributos químicos e granulometria do solo
textura argilosa (>35% de argila). Antes da instalação (Quadro 1).
dos experimentos, foram realizadas amostragens nas
Profundidade P K Ca Mg S B Zn Cu Fe
Profundidade P K Ca Mg S B Zn Cu Fe
Dose
Tratamentos Garantias
L ou kg ha-1
1 Testemunha - -
5 Niphokam® 10% N; 8% P2O5; 8% K2O; 1% Ca; 1% Zn; 0,5 Mg; 0,5% B 1,00
Figura 2. Descrição gráfica das épocas de aplicação dos tratamentos contendo fertilizantes foliares
bioestimulantes, na cultura do sorgo, cultivado em área experimental do Centro Tecnológico
Comigo (CTC) Rio Verde, Goiás, 2° safra 2022/23.
O plantio foi realizado com o híbrido de sorgo Foram realizadas amostragens de produtividade com a
AG1070 (Bayer) de ciclo classificado como precoce, e coleta das plantas em dois pontos de 3 metros e 3 linhas
população final de 10,5 plantas m (210.000 plantas ha
-1 -
(4,50 m²) por área útil de cada parcela. As amostras
). Cada parcela foi composta por 12 linhas espaçadas
1
foram secas, trilhadas, pesadas e aferidas a umidade. A
em 0,50 m, contendo 10 m de comprimento (60 m 2
umidade das amostras foi corrigida para 13%. Na data
por parcela). As avaliações foram realizadas nas seis da colheita foram coletadas 3 panículas por parcela e
fileiras centrais, excluindo-se 0,50 m das extremidades foram avaliados o tamanho, largura e peso de panícula.
(área útil de 27 m ). As pulverizações foliares foram
2
A análise estatística se deu por meio da análise
realizadas de acordo com o estádio da cultura. Para de variância pelo teste F a 5% de probabilidade, para
pulverização das unidades experimentais, utilizou- avaliação das significâncias dos resultados. Quando
se um pulverizador de parcelas pressurizado por CO2 significativos, os resultados de caráter qualitativo
(Patente: BR102016007565-3) montado em trator. O tiveram suas médias comparadas a partir do teste
pulverizador possui barra de 5,0 metros com 10 bicos Scott-Knott a 5% de probabilidade.
de pulverização espaçados em 0,5 m. Utilizou-se pontas
modelo ADIA 015.D da marca Magnojet. A calibração RESULTADOS E DISCUSSÃO
do equipamento foi ajustada com pressão de trabalho
em 2,7 bar (39,1 PSI) e volume de aplicação de 150 L As aplicações foliares dos bioestimulantes,
ha .-1
não foram capazes de influenciar significativamente
A colheita foi realizada no dia 24/07/2023, as variáveis biométricas apresentadas na Tabela 1. As
totalizando o ciclo de 140 dias (da semeadura à colheita). panículas de sorgo apresentaram em média, 28,54 cm
Tamanho da
Tratamentos Largura da panícula Peso da panícula
panícula
A aplicação dos fertilizantes foliares na cultura em relação à não adubação foliar. Em seus estudos,
do sorgo se mostrou efetiva em promover incrementos FERREIRA et al. (2019), observaram incremento de
produtivos quando aplicados os tratamentos 3, 4, 5, 7, 10 produtividade, na cultura do sorgo, em torno de 12%,
e 11, que em média produziram 5,4% mais em relação que representou em torno de 25,66 sc ha-1, com a
a testemunha, totalizando 5,39 sc ha-1. Os demais aplicação de bioestimulantes foliares, associados à
produtos, não promoveram incrementos significativos adubação com nitrogênio via solo.
Médias
Médias seguidas
seguidas porpor mesma
mesma letra
letra acimadas
a cima dasbarras,
barras,não
nãodiferem
diferementre
entresisipelo
peloteste
teste de
de Scot
Scot-Knot
-Knot (p-valor<0,05).
( p-valor <0,05).
Figura 3. Produtividade e grãos (sc ha-1) em função da aplicação de fertilizantes foliares na cultura
do sorgo, cultivado em área experimental do Centro Tecnológico Comigo (CTC) Rio Verde, Goiás,
2° safra 2022/23.
Fitopatologia
108 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
O CONTROLE DE DOENÇAS
COMEÇA CEDO: FUNGICIDAS EM
FASE VEGETATIVA DA SOJA
FERNANDES1, Rafael Henrique; LIMA2, Diego território brasileiro (GODOY et al., 2016; YORINORI et al.,
Tolentino de; BRAZ3, Guilherme Braga Pereira; 2005; SINCLAIR E HARTMAN, 1999). As diversidades
SILVA4, Lincoln Lima; DELGADO5, Vanderson edáficas e as condições climáticas de cada safra, são
Aparecido Diego
fatores preponderantes para as diferentes severidades
e importância econômica de cada doença (EMBRAPA
1
Eng. Agrônomo, Dr. em Fitotecnia, Pesquisador
2010). Estes patógenos podem causar problemas em
Agronômico em Fitopatologia do Centro
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: todos os tecidos da planta, contudo, as doenças foliares
[email protected] são as mais comuns, com frequência e intensidade
2
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador
bastante variáveis ao longo das regiões produtoras
Agronômico em Entomologia do Centro
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: (JULIATTI et al., 2004).
[email protected] Na região Centro-Oeste, doenças como a
3
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador
mancha-alvo (Corynespora cassiicola), antracnose
Agronômico em Manejo e Controle de Plantas-
Daninhas do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, (Colletotrichum truncatum), mancha olho de rã
GO, Brasil. E-mail: [email protected] (Cercospora sojina), septoriose (Septoria glycines) e
4
Graduando em Agronomia pelo Instituto Federal
crestamento foliar de cercóspora (Cercospora kikuchii)
Goiano, Campus de Rio Verde. Rio Verde, GO, Brasil.
E-mail: [email protected] estão amplamente disseminadas nas regiões produtoras
5
Graduando em Agronomia pela Universidade de da oleaginosa. Estes patógenos têm capacidade de
Rio Verde – UniRV. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail:
sobreviverem em restos de cultivo durante a entressafra e
[email protected]
quando encontram hospedeiros suscetíveis e condições
ambientais favoráveis, infectam novamente as lavouras e
podem causar prejuízos acima de 30% (JULIATTI et al.,
INTRODUÇÃO
2004; KLINGELFUSS e YORINORI, 2001; GODOY et al.,
2016).
Já foram descritos mais de 100 patógenos
A soja está sujeita à infecção destes patógenos
causando alguma injúria na cultura da soja (Glycine
em qualquer estádio fenológico, na verdade podem
max (L.) Merril) em todo o mundo, sendo que cerca
ocorrer desde a semente até a colheita. Muitas vezes
de 40 destes (fungos, bactérias, vírus e nematoides)
a penetração e colonização de tecidos ocorrem
já foram identificados causando doenças em
prematuramente na planta, mas nem sempre acontece a
Fitopatologia 109
CLUBE DE REVISTAS
manifestação dos sintomas característicos das doenças vegetativos (FERNANDES et al., 2020; ANDRADE,
logo em seguida. Este intervalo entre a infecção e 2019; GUIMARÃES, 2008). Contudo, cada vez mais esta
aparecimento dos sintomas é o chamado período de prática tem ganhado espaço, pois além dos benefícios
latência, que pode variar de acordo com o patógeno e diretos sobre a produtividade, é necessário refletir
condições climáticas. sobre a produção e sobrevivência de inóculos para os
A utilização de materiais com resistência às cultivos subsequentes.
doenças foliares tem sido a principal ferramenta A diversidade dos sistemas produtivos e de
adotada, pois não altera as demais atividades de manejo cultivares disponíveis, somado ao número elevado
da cultura é de fácil execução. No entanto, na maioria de fungicidas disponíveis no mercado, muitas das
das vezes, as doenças acontecem de forma simultânea vezes tem deixado técnicos e produtores com dúvidas
na lavoura e os diferentes níveis de resistência e/ referentes aos posicionamentos para as aplicações em
ou tolerância das cultivares à estas doenças podem estádios vegetativos. Por algum tempo, produtos de
permitir que alguma delas se sobressaia. Somam- menor custo, ou remanescentes de safras passadas,
se ao controle genético, o controle químico com eram destinados para esta aplicação. Entretanto, ao
fungicidas, rotação de culturas, controle biológico, passo que a prática foi se estabelecendo, busca-
pousio da área, controle cultural, entre outros. No se o posicionamento mais adequando em relação
entanto, existem entraves técnicos e econômicos que às moléculas e, principalmente, organismos alvo da
dificultam a adoção de algumas delas pelos produtores, aplicação.
principalmente o pousio da área e a rotação de culturas. Assim, o objetivo foi avaliar o desempenho de
Assim, a utilização do controle químico com fungicidas diferentes fungicidas comerciais quando aplicados em
torna-se indispensável. fase vegetativa da soja, bem como os seus possíveis
Tem crescido a prática de aplicações de incrementos na eficiência de controle de doenças
fungicidas de forma antecipada, em estádio vegetativo foliares e na produtividade da cultura.
da soja visando justamente o controle destas doenças
que podem infectar a planta precocemente. Geralmente, MATERIAL E MÉTODOS
esta aplicação é feita com as plantas em estádio V3 ou
V4, em associação com a aplicação de herbicida em O experimento foi conduzido em condições de
pós-emergência. As aplicações de fungicida nesta campo, na área experimental do Centro Tecnológico
fase favorecem a deposição de moléculas fungicidas Comigo, localizado em Rio Verde-GO (S 17°45’44”
em quantidade adequada em toda a planta, incluindo O 51°02’03” e altitude média de 835 metros), com
o ‘futuro baixeiro’. Sabe-se que, nas aplicações em predominância de áreas com latossolo Vermelho
estádios mais avançados, após o fechamento completo Distrófico (SANTOS et al., 2018).
das entrelinhas, a deposição da calda de aplicação A semeadura da área experimental foi realizada
pode ser desigual entre os terços da planta (HOLTZ et no dia 14 de outubro de 2022, com a cultivar Bônus IPRO
al., 2014; SILVA et al., 2014; WEBER et al., 2017). (8579 RSF). As sementes foram tratadas industrialmente
Na literatura são encontrados dados com 48 g de Ciantraniliprole + 1 g de Metalaxil + 2,5
divergentes quanto a eficiência e viabilidade técnica g de Fludioxonil para cada 100 kg de sementes (80
e econômica de realizar aplicações em estádios mL de Fortenza 600 FS + 100 mL de Maxim XL / 100
110 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
kg sementes). A densidade de semeadura utilizada
foi de 11,3 sementes por metro. No sulco de plantio
foram aplicados: o inoculante Nitrogin Cell Tech HC
(Bradyrhizobium japonicum – Semia 5079 e Semia
5080, com 3 x 109 células viáveis/mL, Monsanto BioAg)
na dose de 1,0 L ha-1 + Biomax Azum, Vittia (Azospirillum
brasilense, 3 x 108 células/mL) na dose de 0,1 L ha-1 + o
inseticida biológico Meta-Turbo SC, Vittia (Metarhizium
anisopliae IBCB425, concentração mínima de 1 x
108 propágulos viáveis mL-1) na dose de 0,5 L ha-1 + o
fertilizante Nodulus Gold, Vittia (1 % de Co, 10% de Mo)
na dose de 0,2 L ha-1 + o nematicida Verango Prime,
Bayer (Fluopiram, 500 g i.a. L-1, SC) na dose de 200 g
de i.a. ha-1. Todos aplicados com Micron e volume de
aplicação de 60 L ha-1.
A adubação foi realizada na semeadura, com
280 kg ha-1 do fertilizante formulado 08:20:18 (N:P:K),
aplicado no sulco de plantio. E após a semeadura, com
152 kg de KCl (60% de K2O) aplicado à lanço em área
total, no dia 24/10/2022.
O delineamento experimental utilizado foi o
de Blocos Casualizados (DBC), com 14 tratamentos e
quatro repetições, totalizando 56 parcelas. As parcelas
foram compostas por 10 linhas de plantio, espaçadas a
0,5 metros, e oito metros de comprimento, totalizando
40 m2 (8 x 5 m). Como parcela útil foram considerados
os seis metros centrais das seis linhas centrais (6 x 3
m, 18 m2).
Os tratamentos consistiram na aplicação de
diferentes fungicidas comerciais em fase vegetativa
da soja (Tabela 1). Mais precisamente, esta aplicação
ocorreu aos 30 DAE (dias após emergência), com a
cultura em estádio fenológico V5 (cinco nós e quarta
folha trifoliada desenvolvida). Foi conduzido também um
tratamento controle, que não recebeu a aplicação em
estádio vegetativo, mas recebeu as demais aplicações
de fungicidas. Além de um tratamento testemunha,
sem nenhuma aplicação.
Fitopatologia 111
CLUBE DE REVISTAS
Tabela 1. Descrição dos tratamentos com diferentes fungicidas comerciais, ingredientes ativos
e doses utilizadas nas aplicações de fungicidas em fase vegetativa da soja. Centro Tecnológico
Comigo, Rio Verde-GO, safra 2022/2023.
Produto Comercial (p. c.) e dose Ingrediente Ativo (I. A.) e concentração Dose (g de I.A.
Trat.
(L ou kg ha-1) (g L-1 ou kg L-1) ha-1 )
Controle
13. - -
(Sem aplicação no vegetativo)
Testemunha
14. - -
(Sem aplicações de fungicidas)
1
Adicionado Aureo (0,25% v/v); 2Adicionado Mees (0,5 L ha-1); 3Adicionado Ochima (0,25 L ha-1); 4Adicionado Nori (0,25% v/v); 5Adicionado
Iharol Gold (0,15% v/v)
112 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
(Unizeb Gold, 1,5 kg ha-1; 1.125 de i.a.). E na última de pulverização foi acondicionada em tanques
aplicação, também conhecida como aplicação de tipo post-mix com capacidade de 10 L. As pontas
fechamento de ciclo, Difenoconazol + Ciproconazol utilizadas para pulverização foram modelo AD-IA/D
(Cypress, 0,3 L ha ; 75 g + 45 g de i. a.) + 720 g de
-1
110.015, da marca Magnojet. O equipamento foi
Clorotalonil (Bravonil 720, 1,0 L ha ). -1
calibrado com pressão de trabalho na ponta de 3,8
Todas as aplicações foram realizadas bar (55,11 PSI) e volume de aplicação de 150 L ha-1.
com pulverizador pressurizado por CO2 (Patente: Durante as aplicações, as condições meteorológicas,
BR102016007565-3) montado em trator (MF 275, temperatura (°C), umidade relativa do ar (%) e
Massey Ferguson, 75 cv). O pulverizador possui velocidade do vento (km h-1) foram mensuradas com
barra de pulverização com 5,0 m de largura e 10 o equipamento termo-higro-anemômetro (Tabela 2).
bicos de pulverização espaçados a 0,50 m. A calda
O controle de plantas daninhas foi realizado em O controle de pragas foi empregado com base
dois momentos. Inicialmente no pré-plantio da soja, no manejo integrado, sendo realizadas avaliações
visando basicamente a dessecação e formação de e levantamentos semanais quanto à ocorrência,
palhada de Brachiaria ruziziensis, que foi realizada no nível populacional e dano das principais pragas. As
dia 30/09/2022 com glyphosate (Roundup Ultra, 650 g recomendações de inseticidas priorizaram a rotação
e. a. kg ) na dose de 1.625 g e. a. ha . E também em
-1 -1
de mecanismos de ação e ingredientes ativos. As
pós-emergência da cultura, em estádio fenológico aplicações visaram, prioritariamente, o controle de
entre V2 e V3, quando foi aplicado glyphosate (Xeque coleópteros desfolhadores (família Chrysomelidae) em
Mate, 500 g e. a. L ) com dose de 1.000 g e. a. ha . Estas
-1 -1
fases iniciais, lagartas e percevejos (principalmente
aplicações foram realizadas com volume de aplicação percevejo-marrom, Euschistus heros) ao longo do ciclo.
de 150 L ha .-1
Fitopatologia 113
CLUBE DE REVISTAS
Foram realizadas cinco avaliações de severidade, na área experimental foram o crestamento foliar
nos dias anteriores às aplicações de fungicidas, e duas de cercóspora (Cercospora kikuchii), mancha -alvo
avaliações aos 15 e 40 dias após a última aplicação. As (Corynespora cassiicola) e mancha-parda (Septoria
escalas diagramáticas utilizadas para a quantificação glycines). Outras doenças, com incidência e severidade
das doenças no campo foram as propostas por Martins pouco expressivas, foram a antracnose (Colletotrichum
et al. (2004), para o complexo de doenças de final de spp.) e mancha-olho-de-rã (Cercospora sojina). Estas
ciclo da soja (Septoria glycines e Cercospora kickuchii) doenças se manifestaram em diferentes estádios
e Soares et al. (2009) para mancha-alvo (Corynespora fenológicos das plantas. Contudo, as severidades de
cassiicola). As avaliações foram feitas nos terços inferior crestamento tiveram maior destaque após o início do
e médio de cinco plantas selecionadas aleatoriamente enchimento de grãos.
na parcela útil. Os dados de severidade obtidos ao Os valores de severidade final e AACPD do
longo do o ciclo da cultura, foram utilizados para tratamento testemunha foram superiores aos demais,
determinar a Área Abaixo da Curva do Progresso da tanto para DFC quanto para mancha-alvo (Tabela 3).
Doença (AACPD – variável utilizada como ferramenta O que evidencia a capacidade destes patógenos em
para quantificar doença no campo) (CAMPBELL e comprometer os tecidos foliares quando não é feita a
MADDEN, 1990). Enquanto que, os dados mensurados intervenção através dos fungicidas.
na última avaliação, com as plantas em estádio De maneira geral, observa-se que os tratamentos
fenológico R7 (iniciando a maturação fisiológica das com programas de aplicações incluindo estádio
vagens), representaram a severidade final das doenças. vegetativo foram capazes de melhorar o controle da
A colheita foi realizada no dia 27/02/2023, mancha-alvo e também das DFCs (Tabela 3). Para
totalizando um ciclo de 136 dias. Para determinação mancha-alvo, apenas a aplicação com Picoxistrobina
da produtividade foram colhidos três metros de três (66,5 g) + Epoxiconazol (25 g) obteve severidade final
linhas da parcela útil. As amostras foram identificadas semelhante à do tratamento controle (Tabela 3). Para
e trilhadas, em seguida a massa (kg) e umidade a severidade de mancha-parda + crestamento de
mensuradas. Os dados foram ajustados para 13% cercóspora (DFC), os tratamentos com Trifloxistrobina
de umidade dos grãos, a estimativa de produtividade (50 g) + Tebuconazol (100 g) e Azoxistrobina (60 g) +
corrigida em função do número de plantas colhidas e Tebuconazol (100 g) obtiveram valores semelhantes
a população (plantas ha-1), e apresentados em sacas de onde não foi realizada aplicação no vegetativo. Já
60 kg por hectare (sc ha-1). para AACPD-DFC, as aplicações neste estádio foram
Os dados foram submetidos à análise de capazes de reduzir esta variável, independentemente
variância e quando verificada diferença significativa do fungicida que foi aplicado (Tabela 3). Com
entre as médias, as comparações foram realizadas destaque ligeiramente superior para as aplicações
através do teste de Scott-Knott (P<0,05) pelo software com Trifloxistrobina (50 g) + Tebuconazol (100 g),
SISVAR (FERREIRA, 2014). Picoxistrobina (78) + Epoxiconazol (48 g), Azoxistrobina
(60 g) + Difenoconazol (39,5 g), Azoxistrobina (60 g)
RESULTADOS E DISCUSSÃO + Tebuconazol (120 g), Metominostrobina (66 g) +
Tebuconazol (99 g).
As principais doenças foliares observadas
114 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
Tabela 3. Valores médios de severidade final e área abaixo da curva do progresso de doenças
(AACPD) para as doenças de final de ciclo (DFC) e mancha-alvo, com diferentes fungicidas aplicados
em fase vegetativa da soja. Centro Tecnológico Comigo, Rio Verde-GO, safra 2022/2023.
Mancha-alvo DFC+
Trat. Fungicida Vegetativo Severidade AACPD Severidade AACPD
1. Score Flexi 5,0 a 136,3 a 6,0 a 238,4 b
2. Aproach Power 5,0 a 140,0 a 5,8 a 223,3 b
3. Nativo 5,3 a 115,2 a 7,0 b 202,4 a
4. Abacus 5,2 a 116,6 a 5,5 a 196,8 a
5. Opera 7,3 b 158,7 a 6,5 a 245,2 b
6. Prisma Plus 5,7 a 141,7 a 6,5 a 245,2 b
7. Priori Top 4,3 a 105,3 a 6,2 a 196,7 a
8. Helmstar Plus 4,5 a 105,8 a 6,5 a 192,0 a
9. Teburaz 5,8 a 131,1 a 7,2 b 228,5 b
10. Comet 6,0 a 120,5 a 6,0 a 220,1 b
11. Cypress 5,0 a 116,2 a 6,7 a 225,4 b
12. Fusão 4,0 a 117,3 a 6,0 a 199,9 a
13. Controle 7,4 b 213,0 b 8,3 b 291,9 c
14. Testemunha 10,8 c 308,6 c 16,7 c 442,9 d
C.V. 14,67 16,90 13,92 12,59
+
DFC = Mancha-parda + Crestamento foliar de cercóspora
C.V. (%) = Coeficiente de variação
Médias seguidas de letras iguais na coluna não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (P<0,05)
Fitopatologia 115
CLUBE DE REVISTAS
a a a a a a a a a
80 b 70,0 b b b
70,4 70,6 68,8 69,2 68,4 69,4 69,3 68,8 c
Produ�vidade (sacas ha-1)
Figura 1. Produtividade média de sacas de soja, cultivar Bônus, em razão dos diferentes fungicidas
aplicados na fase vegetativa da cultura. Centro Tecnológico Comigo, Rio Verde-GO, safra 2022/2023.
C.V. = 7,75%
CONCLUSÕES AGRADECIMENTOS
116 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
EMBRAPA, Empresa Brasileira de Pesquisa G.M.S; MATTIAZI, P.; LOURENÇO, S.A.; AMORIM,
Agropecuária. Tecnologias de Produção de Soja – L. Escala diagramática para a quantificação do
Região Central do Brasil 2011. Londrina: Embrapa complexo de doenças foliares de final de ciclo em soja.
Soja, Sistemas de Produção 14, 2010, 255 p. Fitopatologia Brasileira, v. 29, n. 2, p. 179-184, 2004.
FERNANDES, R. H.; ALMEIDA, D. P.; LIMA, D. T.; SANTOS, H.G.; JACOMINE, P.K.T.; ANJOS, L.H.C.;
FURTINI NETO, A. E. Aplicação de fungicidas em fase OLIVEIRA, V.A.; LUMBRERAS, J.F.; COELHO, M.R.;
vegetativa em cultivares de soja de ciclo precoce e ALMEIDA, J.A.; CUNHA, T.J.F.; OLIVEIRA, J.B. Sistema
tardio. Anuário de Pesquisas Agricultura – Instituto brasileiro de classificação de solos. Centro Nacional
de Ciência e Tecnologia Comigo. v. 3, n. 1, p. 132-142, de Pesquisa de Solos. 5 ed. Brasília: Embrapa Produção
2020. de Informação; Rio de Janeiro: Embrapa Solos. 2018.
FERREIRA, D. F. Sisvar: a Guide for its Bootstrap 588 p.
procedures in multiple comparisons. Revista Ciência e SILVA, B. M.; RUAS, R. A. A.; SICHOCKI, D.;
Agrotecnologia, v.38, n.2, p.109-112, 2014. DEZORDI, L. R.; CAIXETA, L. F. Deposição de calda de
GODOY, C. V.; ALMEIDA, A. M. R.; COSTAMILAN, pulverização aplicada com pontas de jato plano em
L. M.; MEYER, M. C.; DIAS, W. W.; SEIXAS, C. D. diferentes partes da planta de soja (Glycine max) e
S.; SOARES, R. M.; HENNING, A. A.; YORINORI, J. milho (Zea mays). Engenharia na Agricultura, v. 22, n.
T.; FERREIRA, L. P.; SILVA, J. F. V. In: AMORIM, L.; 1, p. 17-24, 2014.
REZENDE, J. A. M.; BERGAMIN FILHO, A.; CAMARGO, SINCLAIR, J. B.; HARTMAN, G. L. Soybean Rust.
L. E. A. Doenças de plantas cultivadas, 5. Ed. Ouro In: HARTMAN, G. L.; SINCLAIR, J. B.; RUPE, J. C. (Eds);
Fino: Agronômica Ceres, v. 2016, 810 p. Compendium of Soybean Disease. 4 ed. Saint Paul.
GUIMARÃES, L. S. Mancha Parda (Septoria APS Press, p. 25-26, 1999.
Glycines Hemmi) na soja: Aspectos etiológicos SOARES, M. R.; GODOY, C. V.; OLIVEIRA, M. C. N.
e controle soja. 157 f. Tese (Doutorado) - Curso de Escala diagramática para a avaliação da severidade da
Ciências Biológicas, Universidade de Brasília, Brasília, mancha alvo da soja. Tropical Plant Pathology, v. 34, n.
2008. 5, p.333-338, 2009.
HOLTZ, V.; COUTO, R. F.; OLIVEIRA, D. G.; REIS, E. WEBER, N. C.; SANTOS, E. M.; RUSSINI, A.;
F. Deposição de calda de pulverização e produtividade SILVA, F. F. Deposição de calda ao longo do dossel
de soja cultivada em diferentes arranjos espaciais. na cultura da soja utilizando pulverizador equipado
Ciência Rural, v. 44, n. 8, p. 1371-1376, 2014. com controlador de fluxo. Revista de Engenharia na
JULIATTI, F. C.; POLIZEL, A. C.; JULIATTI, F. C. Agricultura, v. 25, n. 5, p. 459-468, 2017.
Manejo integrado de doenças na cultura da soja. Ed. YORINORI, J. T.; PAIVA, W. M.; FREDERICK, R. D.;
UFU, Universidade Federal de Uberlândia –UFU, 2004, COSTAMILAN, L. M.; BERTAGNOLLI, P F.; HARTMAN,
327p. G. E.; GODOY, C V.; NUNES JUNIOR, J. Epidemics of
KLINGELFUSS, L. H.; YORINORI, J. T. Infecção soybean rust (Phakopsora pachyrhizi) in Brazil and
latente de Colletotrichum truncatum e Cercospora Paraguay form 2001 to 2003. Plant Disease, v. 89, n. 6,
kikuchii em soja. Fitopatologia Brasileira, v. 26, n. 2, p. 675-677, 2005.
p.158-164, 2001.
MARTINS, M.C.; GUERZONI, R.A.; CÂMARA,
Fitopatologia 117
CLUBE DE REVISTAS
DIFERENTES FUNGICIDAS NO
CONTROLE DA FERRUGEM
ASIÁTICA DA SOJA, SAFRA
2022/2023 EM RIO VERDE-GO
DELGADO1, Vanderson Aparecido Diego; SILVA2, primeiros casos da doença no Brasil foram identificados
Lincoln Lima; FERNANDES3, Rafael Henrique; no Paraná (JACCOUD FILHO et al., 2001; YORINORI
LIMA4, Diego Tolentino de; BRAZ5, Guilherme et al., 2002). Duas safras depois, a doença já havia se
Braga Pereira
espalhado pela maioria do território brasileiro (YORINORI
et al., 2005).
1
Graduando em Agronomia pela Universidade de
Desde então, a ferrugem asiática da soja vem
Rio Verde – UniRV. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail:
[email protected] sendo monitorada de perto por centros de pesquisa,
2
Graduando em Agronomia pelo Instituto Federal públicos e privados, espalhados pelo Brasil. Esta doença
Goiano, Campus de Rio Verde. Rio Verde, GO, Brasil.
causa grande preocupação entre os produtores, pois
E-mail: [email protected]
3
Eng. Agrônomo, Dr. em Fitotecnia, Pesquisador além de apresentar elevada severidade, é facilmente
Agronômico em Fitopatologia do Centro disseminada. As estruturas responsáveis pela
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail:
disseminação da doença são chamadas uredósporos,
[email protected]
4
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador que são carregados pelo vento e podem percorrer
Agronômico em Entomologia do Centro longas distâncias, infectando novas plantas e iniciando
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail:
novos ciclos da doença (YORINORI e WILFRIDO, 2002).
[email protected]
5
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador O controle químico é considerado oneroso e pouco
Agronômico em Manejo e Controle de Plantas- eficiente após o aparecimento dos sintomas na cultura.
Daninhas do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde,
Um método eficaz para o manejo da ferrugem
GO, Brasil. E-mail: [email protected]
asiática da soja é o uso de cultivares precoces, que
passam menos tempo no campo, o que permite o
cultivo com menores chances de exposição ao fungo.
INTRODUÇÃO Além disso, é importante realizar o plantio antecipado,
respeitando o vazio sanitário e o calendário de semeadura
A ferrugem asiática da soja, causada pelo de cada estado. O monitoramento constante da lavoura
fungo Phakopsora pachyrhizi, é considerada uma das também é fundamental, pois, temperaturas entre 16 e
principais doenças que afetam a cultura. Em 2001, os 28°C e elevada umidade relativa do ar são fatores que
118 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
favorecem o desenvolvimento do fungo (YORINORI & ciclo médio de 115 dias. É um material estável, com alto
WILFRIDO, 2002). potencial produtivo e população recomendada entre
Devido a pouca diversidade de cultivares 260 e 320 plantas por hectare. A cultivar CZ 37B43
resistentes à ferrugem, o uso de defensivos agrícolas IPRO possui resistência ao acamamento, tolerância
tem aumentado para combater a doença. Este é o meio à podridão cinzenta (Macrophomina sp.) e sistema
mais utilizado, mas deve ser realizado de forma racional radicular vigoroso.
para não inviabilizar a cultura (GODOY e CANTERI, A semeadura foi realizada tardiamente de modo
2004). que houvesse maior chances de exposição da área
A adoção de cultivares de soja resistentes à experimental à Ferrugem Asiática da Soja (FAS), por
ferrugem asiática e o uso de produtos fitossanitários, isso foi realizada no dia 16/12/2022 com densidade de
como os fungicidas, são fundamentais para a 16 sementes por metro. As sementes foram tratadas
prevenção e controle da doença no campo. É industrialmente (TSI) com 5 g de Piraclostrobina + 45
importante que todas as decisões sejam tomadas de g de Tiofanato Metílico + 50 g de Fipronil para cada
forma técnica, considerando todos os fatores para a 100 kg de sementes (Standak Top – 200mL /100kg
escolha de produtos com alta performance. O controle sementes). Na semeadura também foram aplicados:
químico é adotado de forma preventiva ou no início o inoculante Nitrogin Cell Tech HC (Bradyrhizobium
do aparecimento dos sintomas da doença, buscando japonicum Semia 5079 e Semia 5080, com 3 x 109
controlar os esporos de P. pachyrhizi por meio de células viáveis/mL, Monsanto BioAg) na dose de 1,0
fungicidas. L ha-1, o co-inoculante Biomax Azum (Azospirillum
A maioria dos fungicidas comerciais é composta brasiliense, 3 x 108 células mL-1) na dose de 0,1 L ha-
por moléculas de diferentes grupos químicos, que 1
, o inseticida biológico Meta-Turbo SC (Metarhizium
devem ser utilizadas preferencialmente em combinação. anisopliae IBCB425, concentração mínima de 1 x 108
É fundamental avaliar a eficiência desses produtos e propágulos viáveis mL-¹) na dose de 0,5 L ha-¹ e 0,2 L ha-¹
monitorar a sensibilidade do fungo às moléculas, para do fertilizante Nodulus Gold (1 % de Co, 10% de Mo)
garantir que os fungicidas utilizados sejam eficazes no com Micron e volume de aplicação de 60 L ha-¹. No dia
controle da ferrugem asiática da soja. 24/10/2022, foram aplicados 152 kg ha-1 de KCl (cloreto
Diante disso, foi realizado um estudo para de potássio, 60% de K2O) e 450 kg ha-1 do fertilizante
avaliar a eficiência de diferentes fungicidas no controle Super Simples (20% de P2O5).
da ferrugem asiática da soja durante o ano agrícola O experimento foi conduzido em delineamento
2022/2023 em Rio Verde, Goiás. experimental em blocos casualizados (DBC), com 16
tratamentos e quatro repetições/blocos, totalizando
MATERIAL E MÉTODOS 64 parcelas. Cada parcela foi composta por 10 linhas
de plantio, com espaçamento de 0,5 m, e 10 metros de
O experimento foi realizado em condições de comprimento, totalizando 50 m2. A parcela útil, utilizada
campo, na área experimental do Centro Tecnológico para as avaliações, foi considerada, descartando-se
Comigo (CTC), em Rio Verde - GO, com a cultivar de dois metros das extremidades e duas linhas laterais de
soja CZ 37B43 IPRO. Essa cultivar possui hábito de bordadura, totalizando 18 m2.
crescimento indeterminado, grupo de maturação 7.4 e Foram realizadas quatro aplicações sequenciais
Fitopatologia 119
CLUBE DE REVISTAS
de diferentes fungicidas, iniciando aproximadamente (1ª 25/01/2023; 2a 09/02/2023; 3a 24/02/2023; 4a
30 dias após a emergência das plântulas, com a 10/03/2023). Os tratamentos que compuseram o
cultura entre os estádios V5 e V6, e intervalos entre experimento foram diferentes fungicidas aplicados
as aplicações de aproximadamente quinze (15) dias para o controle da ferrugem asiática da soja (Tabela 1).
Tabela 1. Descrição dos tratamentos, produtos comerciais, ingredientes ativos e doses dos
fungicidas utilizados para o controle da ferrugem asiática da soja. Centro Tecnológico Comigo, Rio
Verde- GO, safra 2022/2023.
Tratamentos Dose
Produto Comercial – p.c. (ingredientes ativos – I.A.) L ou kg p.c ha -¹ g I.A ha -¹
Testemunha - -
Adicionado Mees (0,3 L ha-¹); 2 Adicionado Auero (0,25% v/v); 3Adicionado Strides (0,25% v/v); 4Adicionado Agris (0,5 L ha-¹);
1 5
120 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
As aplicações foram realizadas com pulverizador Magnojet. O equipamento foi calibrado com pressão
pressurizado por CO2 (Patente: BR102016007565-3) de trabalho na ponta de 3,8 bar (55,11 Psi) e volume
montado em trator (MF 275, Massey Ferguson, 75 cv). de aplicação constante de 150 L ha-1. Durante as
Pulverizador dotado com barra de cinco metros com aplicações, as condições meteorológicas, temperatura
10 bicos de pulverização espaçados a 0,50 m. A calda (°C), umidade relativa do ar (%) e velocidade do vento
preparada foi acondicionada em tanques tipo post-mix (km h-1) foram mensuradas com o equipamento termo-
com capacidade de 10 L. As pontas utilizadas para higro-anemômetro (Tabela 2).
pulverização foram modelo AD-IA/D 110.015, da marca
Tabela 2. Datas das aplicações e dados meteorológicos mensurados nas aplicações dos diferentes
fungicidas para o controle da ferrugem asiática da soja. Centro Tecnológico Comigo, Rio Verde-GO,
safra 2022/2023.
A eficiência dos tratamentos para o controle da umidade dos grãos e a estimativa de produtividade
ferrugem foi estimada por meio de seis avaliações de corrigida em função do número de plantas colhidas e
severidade, seguindo a escala diagramática sugerida a população (plantas ha-¹) e apresentados em sacas de
por Godoy et al. (2006). As avaliações foram realizadas 60 kg por hectare (sacas ha-¹). Através da avaliação da
em cinco plantas aleatórias dentro da parcela útil, no severidade ao longo do ciclo foram calculados a área
terço médio e no inferior da planta. A média de cada abaixo da curva de progresso da doença – AACPD
parcela foi composta pela média da severidade nas (CAMPBELL e MADDEN, 1990), neste caso AACP-
diferentes porções das plantas. As avalições foram Ferrugem, e eficiência de controle (%).
realizadas um dia antes das aplicações, e aos 10 e 30 Os dados de severidade final da ferrugem
dias após a última aplicação. A produtividade de grãos asiática, AACP-Ferrugem e de produtividade foram
foi avaliada realizando a colheita de três metros de três submetidos à análise de variância e quando verificado
linhas centrais de cada parcela, totalizando 9 metros diferença significativa entre as médias, as comparações
de colheita. As amostras foram submetidas a trilharem, foram realizadas através do teste de Scott-Knott (P<0,05)
medindo a umidade (três vezes) e pesagem da massa pelo software SISVAR (FERREIRA, 2014).
fresca (kg). Os dados foram ajustados para 13% de
Fitopatologia 121
CLUBE DE REVISTAS
RESULTADOS E DISCUSSÃO
122 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
Tabela 3. Médias da Severidade Final, Área abaixo da curva do progresso da ferrugem (AACP-
Ferrugem), eficiência de controle (%) e produtividade média de sacas de soja por hectare após a
aplicação dos diferentes fungicidas para o controle da ferrugem asiática da soja. Centro Tecnológico
Comigo, Rio Verde- GO, safra 2022/2023.
Fitopatologia 123
CLUBE DE REVISTAS
de controle de cada produto comercial, e também, com os dados de produtividade (Tabela 3 e Figura 1),
dá indícios sobre a suscetibilidade de Phakopsora fica evidente as diferenças de grupos de fungicidas
pachyrhizi quanto aos diferentes ingredientes ativos com melhor desempenho que possibilitaram maiores
e combinações aqui testadas. Pois, ao analisar os produtividades. Da mesma forma, o grupo que
dados relacionados ao desenvolvimento da doença apresentou valores medianos das variáveis avaliadas.
e eficiência de cada produto (Tabela 3) juntamente
Figura 1. Produtividade média após a aplicação dos diferentes fungicidas para o controle da
ferrugem asiática na soja. Centro Tecnologia COMIGO – CTC, Rio Verde-GO, safra 2022/2023.
70,0 a a a
a
Produtividade média (sacas ha-1)
a a a a
60,0 a b b b
b b b
50,0 c
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
Versa�lis
Fox Supra
Mitrion
Belyan
Sphere Max
Fusão
Evolu�on
Aproach Power
Alade
Excalia Max
Blavity
Orkestra
Testemunha
Fox Xpro
Viovan
Vessarya
O uso de fungicidas sítio-específicos, como produtos comerciais. Deve-se priorizar, sempre que
os triazóis (IDM), estrobilurinas (IQe) e carboxamidas possível, realizar aplicações associadas de fungicidas
(ISDH), aplicados de forma isolada e por períodos sítio-específicos e multissítios, pois, além de aumentar
sequenciais representam médio a alto risco de indução a eficiência de controle das doenças, são aliados
de resistência do agente patogênico P. pachyrhizi no manejo da resistência do fungo aos fungicidas
(BALARDIN et al., 2017). Assim, é importante ressaltar (GARCÉS-FIALLOS e FORCELINI, 2013).
que os programas de aplicações avaliados, com Diante disso, é necessário pontuar que, o grande
aplicações sequenciais do mesmo produto, sendo número de fungicidas comerciais disponíveis no
muitos deles misturas de ingredientes ativos de sítio- mercado, bem como as quase infinitas combinações
específicos e sem multissítio em sua composição, possíveis de ingredientes ativos, têm apresentado
não são recomendações técnicas para o manejo da desempenho variável frente a ferrugem asiática da soja.
ferrugem asiática da soja. São exclusivamente realizados Os resultados aqui obtidos, devem ser analisados para
para fins científicos e avaliação do desempenho de auxiliar nas decisões para a formação do programa
124 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
de aplicações que será adotado para cada realidade. to Plant Disease Epidemiology. New York, NY. Wiley.
Levando em conta, principalmente, o risco de exposição 1990.
da lavoura à ferrugem. FERREIRA, D.F. Sisvar: a Guide for its Bootstrap
procedures in multiple comparisons. Revista Ciência e
CONCLUSÃO Agrotecnologia, v.38, n.2, p.109-112, 2014.
GARCÉS-FIALLOS, F. R; FORCELINI, C. A.
Os fungicidas apresentam diferentes níveis de Controle comparativo da ferrugem asiática da soja com
desempenho quanto ao controle de ferrugem asiática fungicida triazol ou mistura de triazol + estrobilurina.
e impacto na produtividade de grãos. Revista Bioscience Journal, Uberlândia, v. 29, n. 4, p.
No tratamento testemunha, sem a aplicações 805-815, 2013.
de fungicida a doença atingiu elevados patamares GODOY, C. V.; UTIAMADA, C. M.; MEYER, M. C.;
de infecção e comprometeu drasticamente a CAMPOS, H. D.; LOPES, I. de O. N.; DIAS, A. R.; MUHL,
produtividade. O que reforça a forte dependência da A.; WESP-GUTERRES, C.; PIMENTA, C. B.; ANDRADE
adoção do controle químico para o manejo da ferrugem JUNIOR, E. R. de; MORESCO, E.; KONAGESKI, F. T.;
asiática e viabilidade do cultivo em condições com alto BONANI, J. C.; ROY, J. M. T.; GRIGOLLI, J. F. J.; NUNES
risco de exposição ao patógeno. JUNIOR, J.; ARRUDA, J. H.; NAVARINI, L.; BELUFI, L.
Foi possível identificar grupos de fungicidas M. de R.; SILVA, L. H. C. P. da; SATO, L. N.; GOUSSAIN
com desempenhos semelhantes. Sendo que, o grupo JUNIOR, M. M.; SENGER, M.; MULLER, M. A.;
composto pelos fungicidas: Excalia Max, Fox supra, DEBORTOLI, M. P.; MARTINS, M. C.; TORMEN, N. R.;
Fox Xpro, Blavity, Belyan, Evolution, Viovan, Mitrion e BALARDIN, R. S.; MADALOSSO, T.; KONAGESKI, T. F.;
Fusão, se destacaram quanto a redução nos processos CARLIN, V. J. Eficiência de fungicidas para o controle
epidemiológicos da doença e permitiram a obtenção da ferrugem-asiática da soja, Phakopsora pachyrhizi,
de maiores produtividades. na safra 2019/2020: Resultados sumarizados dos
ensaios cooperativos. Londrina: Embrapa Soja, 2020.
pesquisadores do CTC pelo apoio na execução do ferrugem da soja causada por Phakopsora pachyrhizi,
Fitopatologia 125
CLUBE DE REVISTAS
T. P. Epidemia de ferrugem de soja no Paraguai e na
Costa Oeste do Paraná, em 2001. In: REUNIÃO DE
PESQUISA DE SOJA DA REGIÃO CENTRAL DO
BRASIL, 23., 2001, Londrina: Embrapa Soja, 2001.
p.117-118. (Embrapa Soja. Documentos, 157).
YORINORI, J. T; PAIVA, W. M.; FREDERICK, R.
D.; COSTAMILAN, L. M.; BERTAGNOLLI, P. F.; GODOY,
C. V.; NUNES JUNIOR, J. Epidemics of soybean rust
(Phakopsora pachyrhizi) in Brazil and Paraguay from
2001 to 2003. Plant Disease, v. 89, p. 675-677, 2005.
YORINORI, J.T.; WILFRIDO, M.P. Ferrugem
da soja: Phakopsora pachyrhizi Sydow. Londrina:
Embrapa Soja, 2002.
126 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
PRODUTOS BIOLÓGICOS E
QUÍMICOS E NO CONTROLE
DE FITONEMATOIDES COM
OCORRÊNCIA SIMULTÂNEA NA
CULTURA DA SOJA
Fitopatologia 127
CLUBE DE REVISTAS
e Helicotylenchus, que causam danos as raízes, estrutura responsável por armazenar em média de
prejudicam o desenvolvimento da planta e reduzem sua 200 a 600 ovos, estrutura essa também, resistente às
produtividade. adversidades do ambiente (CARES e BALDWIN, 1995).
Os fitonematoides do gênero Pratylenchus O ciclo de vida dessa espécie partindo da eclosão dos
são endoparasitas migradores, ou seja, possuem juvenis até o desenvolvimento dos cistos, é em média
a capacidade de se locomover pelo solo, adentrar de 20 a 30 dias. Após esse período, cada fêmea produz
nas raízes e se mover dentro do tecido radicular em média 400 ovos, morrendo e se transformando em
para se alimentar, deixando a raiz suscetível a outros cisto (EMBRAPA, 1997). Estes cistos contendo ovos,
patógenos e atrapalhando também a absorção de podem ficar no solo, viáveis até oito ou mais anos,
água e nutrientes. O órgão responsável por permitir característica essa que dificulta ainda mais o completo
que esses fitonematoide ataquem o tecido radicular controle dessa praga, já que essa estrutura facilita sua
é denominado estile, tendo em vista que esse tipo de dispersão e aumenta a proteção da próxima geração
aparelho bucal não está presente em nematoides de (YOUNG, 1992).
vida livre, e consequentemente eles não conseguem Um dos gêneros que vem ganhando grande
atacar o tecido radicular das plantas (GOULART, 2008). relevância principalmente em relação ao cultivo da soja
Seu deslocamento dentro do tecido radicular é em é o gênero Helicotylenchus spp. fitonematoide esse,
direção ao córtex por meio de processos mecânicos classificado como espécies de importância secundária.
e enzimáticos para o rompimento da parede celular e Porém, isso vem mudando graças ao aumento de sua
outros tecidos (FERNANDES et al., 2020a). Os danos disseminação e incidência (MACHADO et al., 2019).
causados ao sistema radicular são manifestados na O fitonematoide em questão, tem a capacidade de
parte aérea da planta, dentre eles é comum observar se mover no solo e também no sistema radicular e
plantas com porte reduzido, sintomas de deficiência sua alimentação traz grandes prejuízos para a planta
nutricional. Uma das características do ataque dos pois ocorre o extravasamento do conteúdo celular
fitonematoides em geral é a ocorrência dos sintomas consequentemente a morte e necrose dos tecidos
na forma de reboleira. Dependendo da gravidade do (BLAKE, 1966).
problema na cultura da soja pode ocorrer perdas de Deste modo, considerando os impactos
até 50 % de produtividade pelo ataque do Pratylenchus negativos na planta causados pelos fitonematoide dos
brachyurus, sendo espécie de relevância para à soja gêneros Pratylenchus, Heterodera e Helicotylenchus,
(FRANCHINI et al., 2014). é necessário entender sua dinâmica no solo para
A espécie Heterodera glycines popularmente adotar medidas que reduzam a multiplicação e
conhecido como o nematoide de cisto da soja é consequentemente diminuam os potencias prejuízos.
um endoparasita sedentário, o que significa que Nesse âmbito, dentre as formas de manejo eficazes no
essa espécie de nematoide não se move livremente controle desse fitonematoides está o controle cultural,
pelo sistema radicular, porém ao penetrar na raiz, que consiste na escolha de cultivares resistentes e
diminui a absorção de água e nutriente pela planta. que não favorece a multiplicação desses nematoides
Este gênero se caracteriza pela formação de cistos fitoparasitas, quebrando seu ciclo de vida. Além disso,
de cor amarronzada, que são estruturas formadas fatores como a aplicação de controle varietal, por
pelo corpo da fêmea após a sua morte, sendo essa meio de cultivares de soja resistentes, lavagem dos
128 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
implementos agrícolas que entram em contato com o
MATERIAL E MÉTODOS
solo, e a implantação do controle biológico e químico, e
também interfere diretamente no controle populacional
O experimento foi conduzido em condições de
desses fitonematoides.
campo, na Fazenda Três Barras, que fica localizada às
Diante disso, o objetivo foi avaliar a eficiência
margens da BR - 060 na Zona Rural de Rio Verde – GO
de nematicidas químicos e biológicos no controle de
(Figura 1). A área do experimento está localizada nas
fitonematoides dos gêneros Pratylenchus, Heterodera
coordenadas S 17°48'36.8” e W 51°09'25.4" e altitude
e Helicotylenchus em área de produção naturalmente
média de 852 metros. Segundo Thornthwaite (1948)
infestada. Além disso, acompanhar o a flutuação
o clima de Rio Verde - GO é classificado em B4 rB’4a’
populacional ao longo do ciclo da soja e avaliar seus
(úmido; pequena deficiência hídrica; mesotérmico;
possíveis impactos na produtividade da cultura.
evapotranspiração no verão menor que 48% da
evapotranspiração anual).
Foram avaliados 9 tratamentos, constituídos 45 unidades experimentais, cada uma com dimensões
de nematicidas químicos e biológicos, aplicados de 6,0 m de largura (12 linhas) e 15 m de comprimento,
via sulco de plantio (SP) e também via tratamento de totalizando 90 m2.
semente (TS) (Tabela 1), com 5 repetições, totalizando
Fitopatologia 129
CLUBE DE REVISTAS
Tabela 1. Relação dos tratamentos aplicados com os diferentes produtos comerciais, tipo de aplicação (TS
– Tratamento de semente; SP – Sulco de Plantio), ingredientes ativos, doses e volume de aplicação.
9 Testemunha - - - - -
* Para 100 kg de sementes; ** Por hectare; (+) dose usada em aplicação terrestre em pós-emergência da cultura (entre V2 e V3); #
não informado.
No dia 03 de novembro de 2022, foi semeada a 1,0 x 108 UFC mL-1 (500 mL ha-1) no sulco de plantio
cultivar DS 7417 IPRO que possui hábito de crescimento (SP) e com um volume de calda de 60 L ha-1 utilizando
indeterminado, com o ciclo estimado de 118 dias, com o equipamento pulverizador de jato dirigido (Micron)
o grupo de maturação 7.4 e com uma população de acoplado à semeadora-adubadora. A adubação foi
300.000 plantas ha (15 sementes m ). A semeadura foi
-1 -1
realizada em sulco de semeadura de 400 kg ha-1 do
realizada por uma semeadora-adubadora pneumática fertilizante super simples (00-20-00).
(SM700, 6 linhas a 0,5 m, VENCE TUDO) montada em Para caracterização química do solo, foram
um trator (6155J, 115 cv, John Deere), regulada para coletadas amostras na camada de zero (0) a vinte
densidade de semeadura de 15 sementes m . Além -1
centímetros de profundidade (0-20 cm) em oito (8)
disso, foram aplicados, em todos os tratamentos, pontos aleatórios na área experimental, formando uma
produtos à base de microrganismos, com o intuito de amostra composta para homogeneização e envio de
promover a fixação biológica de nitrogênio, crescimento amostra simples para o laboratório. Os resultados estão
radicular e controle de pragas do solo, sendo eles: Cell apresentados no Quadro 1.
Tech Max 3,0 x 10 UFC mL (750 mL ha ), Bio Max
9 -1 -1
130 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
Quadro 1. Atributos do solo na profundidade de 0-20 cm no local de condução da pesquisa, Rio
Verde – GO, safra 2022/2023.
Para realizar a identificação de quais espécies de 61 dias após o plantio do experimento; População
fitonematoides estavam presentes na área experimental, Inicial na Raiz (Pir) que representa a quantidade de
foram realizadas amostragens de solo em três épocas juvenis de Pratylenchus spp., Heterodera glycines,
diferentes. A primeira época foi na implantação do Helicotylenchus spp. presente na raiz 61 dias após o
experimento (03/11/2022), realizando a amostragem plantio; População Inicial (Pi) que representa a soma
de solo na profundidade de 0-25 cm com o auxílio de da quantidade de juvenis de cada gênero, Pratylenchus
uma pá de corte. Ao todo, foram realizadas na primeira spp., Heterodera glycines, Helicotylenchus spp.
época, 45 coletas na área experimental, um ponto em presente no solo e nas raízes aos 61 dias após o plantio
cada parcela. As amostras foram separadas por bloco do experimento (Pis+Pir); População final no solo (Pfs),
e homogeneizadas, formando 5 amostras. Na segunda que representa a quantidade de juvenis de Pratylenchus
e terceira época, 3 de janeiro de 2023 e 28 de fevereiro spp., Heterodera glycines, Helicotylenchus spp. no solo
de 2023, foi feito a coleta de solo e raiz em 3 pontos no final do cultivo; População final na Raiz (Pfr), que
aleatórios dentro da unidade experimental, formando representa a quantidade de juvenis de Pratylenchus
uma amostra composta por parcela, totalizando 45 spp., Heterodera glycines, Helicotylenchus spp. na raiz
amostras em cada época. no final do cultivo; População final (Pf), que representa
Para a determinação populacional de a soma de (Pfs) (Pfr); Flutuação populacional (Fp), que
fitonematoides presentes na área experimental, é feita por meio da razão entre Pf e Pi (Pf / Pi). Essas
as amostras de solo e raiz foram enviadas para um interações auxiliam na interpretação da dinâmica
laboratório especializado, onde foram processadas populacional dos fitonematoides estudados durante
seguindo a metodologia conforme Jenkins (1964), e as determinado período de tempo. Nesse sentido, fatores
amostras de raízes conforme Coolen & D’Herde (1972). que influenciam na população destes fitonematoides,
De forma a avaliar os efeitos dos diferentes provavelmente irão causar variações na Fp. Desse
produtos sobre a população de Pratylenchus spp., modo, podemos inferir que: Fp <1, a população foi
Heterodera glycines, Helicotylenchus spp. durante reduzida; Fp = 1, a população se manteve; Fp > 1, a
o ciclo da soja, foi avaliado a dinâmica populacional população aumentou. Sendo assim, a análise dessas
dos três diferentes fitonematoides. Sendo assim, variáveis pode auxiliar na interpretação sobre da
as avaliações seguiram os seguintes parâmetros: eficiência ou ineficiência de determinado tratamento
População inicial no solo (Pis), que representa a (FERNANDES et al., 2020b).
quantidade de juvenis de Pratylenchus spp., Heterodera Ao final do experimento, as plantas foram
glycines, Helicotylenchus spp. presentes no solo colhidas em 3 linhas centrais da parcela com 4 metros
Fitopatologia 131
CLUBE DE REVISTAS
de comprimento, totalizando 12 metros lineares (parcela Heterodera glycines e Helicotylenchus spp., sendo os
útil), sendo essas plantas trilhadas, pesadas e corrigindo valores expressos em juvenis para os três gêneros /
sua umidade para 13%, sendo a produtividade de grãos 100 cm3 de solo, e juvenis dos três gêneros / grama de
calculada em sacas de 60 kg ha-1. Os dados obtidos raiz, além de ser expresso também valores para cisto
foram submetidos à análise de variância e teste de viáveis e inviáveis para a espécie Heterodera glycines.
médias Scott-Knott a 5 % de probabilidade utilizando o A população de fitonematoides do gênero
programa estatístico SISVAR (FERREIRA, 2008). Pratylenchus spp. no solo, teve ligeiro aumento em
todos os tratamentos, comparando as duas épocas de
RESULTADOS E DISCUSSÃO coleta (Figura 2), exceto a população do tratamento 1
(Inlayon). Já a população na raiz diminuiu em todos os
Foram identificados três diferentes gêneros tratamentos, exceto nos tratamentos 7 (Nemat + Eco
de fitonematoides, sendo eles: Pratylenchus spp., Trich) e 9 (testemunha).
175 175
150 150
125 125
100 100
75 75
50 50
25 25
0 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Média de Praty - Raiz Média de Praty - Solo Média de Praty - Solo Média de Praty - Raiz
Figura 2. Média da população de Pratylenchus spp. em raiz e solo em duas épocas de coleta. Número dos
tratamentos seguindo a ordem descrita na Tabela 1.
132 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
Coleta no dia 03/01/2023 Coleta no dia 28/02/2023
250
250
225 225
Juvenis H. glycines/100cm3
Juvenis de H. glycines/100 cm3
200 200
175 175
150 150
125 125
100 100
75 75
50 50
25 25
0 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Figura 3. Média da população de Heterodera glycines em raiz e solo em duas épocas de coleta. Número
dos tratamentos seguindo a ordem descrita na Tabela 1.
200 200
175 175
150 150
125 125
100 100
75 75
50 50
25 25
0 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Média de Heli - Raiz Média de Heli - Solo Média de Heli - Solo Média de Heli - Raiz
Figura 4. Média da população de Heterodera glycines em raiz e solo em duas épocas de coleta. Número
dos tratamentos seguindo a ordem descrita na Tabela 1.
Fitopatologia 133
CLUBE DE REVISTAS
Em todas as análises em que se observou a antagonista ainda não está bem elucidado (MONDIN
diminuição populacional dos fitonematoides, havia 2020).
algum agente de biocontrole. Esse fator pode estar Ao analisar os valores de Flutuação
ligado à ação de determinados microrganismos populacional do gênero Pratylenchus spp., é possível
que compõe o produto (seja fungo ou bactéria) e identificar diferenças na dinâmica populacional entre
que possui a capacidade de colonizar a rizosfera e os tratamentos. Tendo em vista que valores de Fp >1,
sintetizar fitohormônios que induzem a planta a emitir indica aumento na população e Fp < 1, diminuição.
novas raízes, além de liberar metabólicos secundários Desse modo, os únicos tratamentos que demonstraram
que são capazes de repelir e ocultar substâncias Fp > 1, foram Nemat + Eco Trich (Paecilomyces lilacinus
químicas que atraem o fitonematoide, ou até mesmo + Trichoderma harzianum) e o tratamento testemunha
liberar substâncias toxicas à praga, porém esse efeito (Quadro 2).
Quadro 2. Dados não normalizados de Pratylenchus spp. em raiz e solo em duas épocas de coleta sendo: Pis
(População inicial no solo), Pir (População inicial na raiz), Pi (População Inicial de solo + raiz), Pfs (População
final no solo), Pfr (População final na raiz), Pf (População final de solo + raiz) e Fp (Flutuação populacional).
Acrescent Raiz F +
0 60 60 13 29 42 0,7
Acrescent Solus F
Testemunha 7 33 40 12 41 53 1,32
Níveis populacionais de Pratylenchus spp.: baixo ( ); médio ( ); alto ( )
Na Tabela 2 está descrito a classificação estavam com o nível médio e alto. Já a população
dos níveis de Pratylenchus spp. para raiz e solo. A final na raiz (Pfr), os valores se mostraram baixos para
população inicial no solo (Pis) em todos os tratamentos todos os tratamentos, com exceção do tratamento com
foi considerado baixo. Já a população inicial na raiz Nemat + Eco Trich.
(Pir), somente os tratamentos Tricho-Turbo + No-Nema,
Acrescent Raiz F + Acrescent Solus F e a testemunha
estavam com a população baixa, os outros tratamentos
134 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
Tabela 2. Valores de referência para níveis populacionais de Pratylenchus spp. em raiz e solo.
Pratylenchus spp.*
Nível Raiz (Nematoides/ g de raiz) Solo (Nematoide / 100cc)
Baixo 0-80 0-50
Médio 80-160 50-100
Alto >160 >100
*Adaptado de Stephen Koenning, Universidade da Carolina do Norte, EUA (2007)
Quadro 3. Dados não normalizados de Heterodera glycines em raiz e solo em duas épocas de coleta
sendo: Pis (População inicial no solo), Pir (População inicial na raiz), Pi (População Inicial de solo + raiz), Pfs
(População final no solo), Pfr (População final na raiz), Pf (População final de solo + raiz) e Fp (Flutuação
populacional).
Tricho-Turbo + No-
49 0 49 62 0 62 1,25
Nema
Na Tabela 3 está descrito a classificação dos tratamento com Inlayon, que estava alto. Ao final do
níveis de Heterodera glycines para raiz e solo. A experimento houve uma redução da população final no
população inicial no solo (Pis) em todos os tratamentos solo (Pfs) para os tratamentos com Inlayon, Presence,
foi considerado baixa e média com exceção do Verango Prime, Avicta 500 e Nemat + Eco Trich.
Fitopatologia 135
CLUBE DE REVISTAS
Tabela 3. Valores de referência para níveis populacionais de Heterodera glycines em raiz e solo.
HETERODERA GLYCINES**
Nível Solo (Nematoide / 100cc) Cisto
Baixo 0-100 0-2
Médio 100-200 2-5
Alto >200 >5
**Adaptado de Asmus e Andrade, 1999; Garcia et al., 1999; Inomoto et al., 2010.
Ao analisar os valores de Flutuação populacional demonstrou que grande parte dos produtos biológicos
do gênero Helicotylenchus spp., o único tratamento trazem resultados positivos para a redução no número
que demonstrou Fp > 1 foi Verango Prime (Fluopiram) e multiplicação da população de fitonematoides.
(Quadro 4). Nesse âmbito, mais uma vez o experimento
Quadro 4. Dados não normalizados de Helicotylenchus spp. em raiz e solo em duas épocas de coleta
sendo: Pis (População inicial no solo), Pir (População inicial na raiz), Pi (População Inicial de solo + raiz), Pfs
(População final no solo), Pfr (População final na raiz), Pf (População final de solo + raiz) e Fp (Flutuação
populacional).
Acrescent Raiz F +
161 103 264 122 7 129 0,48
Acrescent Solus F
136 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
as injúrias causadas no sistema radicular podem servir um acompanhamento para que se consiga implantar
de porta de entrada para microrganismos patogênicos. diversas formas de controle. Desse modo, os resultados
(KIRSCH et al.,2016). do experimento não se expressaram em produtividade
O manejo de nematoides envolve diversas pois não diferenciaram estatisticamente (Figura 5).
práticas agronômicas com o intuito de atingir controle Todavia, é possível observar pontos interessantes no
significativo, principalmente no quesito de redução quesito de manejo, reforçando a importância do uso
populacional. O que torna difícil a tarefa de avaliar a de produtos químicos e biológicos de forma assertiva
avaliação da redução populacional de fitonematoides e frequente, para que o manejo se estruture ao longo
somente em uma safra. Afinal, é um processo gradual dos anos.
e que envolve um nível de conhecimento técnico e
80
ns
70
Produtividade (sacas ha-1)
60
50
40
30
20
10
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9
Figura 5. Produtividade média de grãos de soja (sacas ha-1), safra 22/23, Rio Verde – GO.
Fitopatologia 137
CLUBE DE REVISTAS
populacional < 1. ABASTECIMENTO. Acompanhamento de safra de
Portanto, os resultados reforçam a importância grãos safra 2021/22. Disponível em: https://www.
da adoção de medidas de controle de forma conjunta conab.gov.br/info-agro/safras/graos/boletim-da-safra-
para o manejo de Pratylenchus spp., Heterodera de-graos. Acessado em: 01 de setembro de 2022.
glycines e Helicotylenchus spp. Pois a adoção de COOLEN, W. A.; D’HERDE, C. J. A method for the
do controle químico ou biológico, de forma pontual quantitative extraction of nematoides from plant tissue.
e isolada não é suficiente para se atingir níveis de Ghent: State Agricultural Research Center, 1972, 77p.
controle satisfatórios, sobretudo, frente a misturas EMBRAPA – EMPRESA BRASILEIRA DE
populacionais com diferentes gêneros fitonematoides. PESQUISA AGROPECUÁRIA. Nematoide de cisto da
Além do mais, é necessário enxergar que o manejo soja. Londrina, PR. 1997.
deve ser constante, e reforçado a cada safra com as FERNANDES, G. A.; ANCHIÊTA, A. L. M.;
inovações que abastecem o conhecimento técnico e o CASSINO, A. A.; OLIVEIRA, L.A.; FERNANDES, A. A.; DA
mercado. SILVA, E. H.; PEREIRA, I.S. Métodos de controle do
fitonematoide Pratylenchus brachyurus na cultura da
AGRADECIMENTOS soja. Multidisciplinary Reviews, 3, 2020a.
FERNANDES, R. H.; VILELA JUNIOR, M. P.; LIMA,
Aos cooperados Acássio Teles de Castro e DIEGO TOLENTINO DE; FURTINI NETO, ANTÔNIO
Acássio Júnior por disponibilizarem a aérea para EDUADRO. Produtos Biológicos e Químicos, em
a montagem do experimento. Aos funcionários da Tratamento de Semente e Sulco de Plantio, para o
Fazenda Três Barras pelo acompanhamento e auxílio manejo de Pratylenchus brachyurus em soja. Anuário
na condução da lavoura. Ao Engenheiro Agrônomo de Pesquisas Agricultura – Instituto de Ciência e
e consultor do Departamento de Assitência Técnica Tecnologia Comigo, v.3, n.1, p. 177-186, 2020b.
da COMIGO, Fernando Bessa Araújo por todas as FERREIRA, D. F. SISVAR: Um programa para
contribuições que permitiram a execução do trabalho. análises e ensino de estatística. Revista Symposium
E por fim, a toda equipe de campo e pesquisadores do (Lavras), v. 6, p. 36-41, 2008.
Centro Tecnológico Comigo – CTC. FRANCHINI, J. C.; DEBIASI, H.; DIAS, W. P.; RAMOS
JUNIOR, E. U.; SILVA, J. F. V. Perda de produtividade
BLAKE, C. D. The histological changes in banana In: BERNARDI, A. C. de C.; NAIME, J. de M.; RESENDE,
roots caused by Radopholus similis and Helicotylenchus A. V.; BASSOI, L. H.; INAMASU, R. Y. (Ed.). Agricultura de
multicinctus. Nematropica v.12, p.129-137. 1966. Precisão: resultados de um novo olhar. Embrapa, 2014.
formadores de cistos o gênero Heterodera. In: LUZ, GOULART, A. M. C. Aspectos gerais sobre
W. C; FERNADES, J M.; PRESTES, A. M; PICININI, E.C. nematoides das lesões radiculares (gênero
138 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
technique for separating nematodes for soil. Plant
Desease Reporter, v. 48, p. 629, 1964.
KIRSCH, V. G.; KULCZYNSKI, S. M.; GOMES,
C. B.; BISOGNIN, A. C.; GABRIEL, M.; BELLÉ, C.;
LIMAMEDINA, I. Caracterização de espécies de
Meloidogyne e de Helicotylenchus associadas à soja
no Rio Grande do Sul. Nematropica, n.46, v.2, 197-208.
2016.
HIRAKURI, M. H.; LAZZAROTTO, J. J. O
agronegócio da soja nos contextos mundial e brasileiro.
O mercado mundial de produtos do complexo
agroindustrial da soja. Londrina, ed. 1, p. 9-11, 2014.
MACHADO, A. C. Z.; AMARO P.M.; SILVA, S.A.D.
Two novel potential pathogens for soybean. PLoS One,
v.14, n.8, 2019.
MANDARINO JOSÉ, M. G. Origem e história
da soja no Brasil. 2017. Disponível em:<https://blogs.
canalrural.com.br/embrapasoja/2017/04/05/origem-
e-historia-da-soja-no-brasil/>. Acesso em: 03 maio.
2020.
MONDIN, Márcia Leite. Bacillus
amyloliquefaciens como uma potente ferramenta
para solos supressivos a nematoides. SoluBio,
18 set. 2020. Disponível em: https://www.
solubio.agr.br/post/bacillus-amyloliquefaciens-
como -uma-potente -ferramenta-parasolos-
supressivos-anematoides#:~:text=Bacillus%20
amyloliquefaciens%20%C3%A9%20uma%20ri-
zobact%C3%A9rias,prote%C3%A7%C3%A3o%20
contra%20certos%20pat%C3%B3genos%20vegetais.
Acesso em: 10 jul. 2017.
YOUNG, L. D. Epiphytology and life cycle. In: RIGGS,
R.D.; WRATHER, J.A. Biology and management of the
soybean cyst nematode. Saint Paul: APS Press, 1992, p. 27-
36.
Fitopatologia 139
CLUBE DE REVISTAS
PROGRAMAS DE APLICAÇÕES DE
FUNGICIDAS NO CONTROLE DE
HELMINTOSPORIOSE DO MILHO
140 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
de 2,9%), com produtividade média de 5.855 kg/ha mancha de turcicum ou mancha de HT, é causada pelo
(aumento de 11,7%) (CONAB, 2023a). Em Goiás, a fungo Exserohilum turcicum e apresenta elevadas
produção de milho deve totalizar 12,59 milhões de severidades em condições de plantio em segunda
toneladas (aumento de 29,2%), com produtividade safra. Os sintomas incluem lesões necróticas,
de 6,74 toneladas por hectare (alta de 32,8%) e área elípticas, medindo de 2,5 cm a 15 cm de comprimento
plantada de 1,87 milhões de hectares (GOVERNO DE com coloração que varia de cinza a marrom e, no
GOIÁS, 2023). interior das lesões, observa-se intensa esporulação
Na região do Sudoeste Goiano, o clima do patógeno. A disseminação do fungo ocorre pelo
adverso, com a ocorrência de baixas temperaturas transporte de conídios pelo vento a longas distâncias
e precipitações tardias, entre junho e julho, e as primeiras lesões aparecem, normalmente, nas
favoreceram o enchimento dos grãos em lavouras folhas inferiores. O patógeno apresenta capacidade
mais tardias, propiciando o aumento das estimativas de sobrevivência em restos culturais e pode utilizar o
de produtividade média. Em contrapartida, o ritmo sorgo, o capim sudão, o sorgo de halepo e o teosinto
de colheita manteve-se mais lento, pois além de como hospedeiros (COSTA & COTA, 2021).
atrasar também a perda de umidade dos grãos, os O controle da helmintosporiose no milho inclui
baixos preços do milho no mercado e a falta de rede medidas como uso de cultivares geneticamente
armazenadora, contribuíram para que os produtores resistentes, plantio em época adequada, rotação
aguardassem a redução natural da umidade em de culturas não suscetíveis, manejo adequado da
campo visando diminuir os custos (CONAB, 2023a). lavoura (CASELA et al., 2006) e o controle químico,
Embora as condições climáticas nesta medida muito utilizada principalmente quando se
segunda safra propiciarem um aumento na objetiva o controle rápido e preciso da doença.
produtividade, é importante destacar que umidade Estudos relatam avaliações com diversos
relativa do ar acima de 60% e temperaturas elevadas programas de aplicação de fungicidas com
também são fatores que contribuem para maior diferentes grupos químicos e ingredientes ativos.
incidência e severidade de doenças foliares no milho Camera et al. (2019a) relatam que os fungicidas
(COTA et al., 2017). protioconazol + trifloxistrobina apresentam a maior
Diversas doenças e patógenos podem eficiência de controle químico de helmintosporiose
desempenhar papel limitante para o desenvolvimento e a menor AACPD (Área Abaixo da Curva de
da cultura e causar elevado potencial de perdas. Progresso da Doença). Em outro trabalho, Camera et
Entretanto, a região de cultivo, a época de cultivo, al. (2019b) relatam que os fungicidas protioconazol
o genótipo cultivado, as condições edafoclimáticas, + trifloxistrobina apresentaram a menor taxa de
a altitude e as estratégias de manejo utilizadas expansão de lesão de E. turcicum quando aplicado
constituem variáveis para incidência e severidade dos curativamente. Pesquisadores da Fundação MS
sintomas apresentados (FERNANDES et al., 2022). (2020) avaliaram diferentes fungicidas aplicados
Dentre as doenças, a helmintosporiose destaca- em três estádios de desenvolvimento (V8, pré-
se como uma das principais doenças fúngicas que pendoamento e 15 dias após) e obtiveram controle
afetam a produção do milho. da doença acima de 80%.
A helmintosporiose, também conhecida como Em um manejo fitossanitário eficiente
Fitopatologia 141
CLUBE DE REVISTAS
para obtenção de altas produtividades, além de kg ha-1 do fertilizante Ureia protegida, tratada com
conhecer o desempenho do material cultivado e NBPT ([N-(n-butil) Triamida Tiofosfórico]; inibidor de
realizar o monitoramento frequente da lavoura, o urease).
controle químico tem sido cada vez mais utilizado. O controle de plantas daninhas foi realizado
Atualmente, existe uma gama de ingredientes com uma aplicação de S-Metolacloro (Dual Gold,
ativos, grupos químicos, diferentes condições de 960 g L-1, EC, Syngenta), na dose de 1,44 kg de i. a.
manejo e posicionamentos, que variam segundo ha-1, Aatrazina (Gesaprim, 500 g L-1, SC, Syngenta) na
clima, histórico da área, cultivar escolhida e nível dose de 1,0 kg de i. a. ha-1 e Glyphosate (Crucial, 540
econômico do produtor. Desta forma, torna-se g e. a. L-1, SL, Sumitomo) na dose 1,08 kg de e. a. ha-1,
fundamental conhecer as moléculas fungicidas, os realizada no dia da semeadura da área experimental.
produtos comerciais e programas de aplicação que Posteriormente, em pós-emergência da cultura (em
apresentem maior eficiência de controle e maior estádio fenológico V3) foram aplicados Glyphosate
custo/benefício da aplicação. (Crucial, 540 g e. a. L-1, SL, Sumitomo), na dose de 0,81
Diante disso, o objetivo foi avaliar a eficiência kg de e. a. ha-1, Atrazina (Proof, 500 g L-1, SC, Syngenta)
de controle de helmintosporiose no milho com na dose de 1,0 kg de i. a. ha-1 e adjuvante óleo mineral
diferentes posicionamentos de programas de (Iharol Gold, 756,8 g L-1, EC, Ihara), na dose de 0,302 kg
aplicações de fungicidas em condições de segunda e. a. ha-1. Também foram realizadas duas aplicações
safra. de inseticidas visando principalmente o controle
da cigarrinha do milho (Dalbulus maidis) e lagartas,
MATERIAL E MÉTODOS variando com os seguintes produtos: Talisman (0,5 L
ha-1), Wild (1,0 L ha-1), Premio (0,1 L ha-1), Sperto (0,3 L
O experimento foi conduzido em condições de ha-1) e Engeo Pleno (0,3 L ha-1).
campo na área experimental do Centro Tecnológico Os tratamentos consistiram na execução de
Comigo (CTC), no município de Rio Verde-GO programas de aplicações de fungicidas, com duas
(S 17°45’45” e 51°01’03” W), com 837 metros de aplicações (Tabela 1).
altitude, com predominância de áreas com Latossolo
Vermelho Distrófico (SANTOS et al., 2018).
O material de milho utilizado foi o híbrido NK
520 VIP3 (Syngenta®). Semeadura e colheita foram
realizadas nos dias 01/03/2023 e 31/07/2022,
respectivamente, totalizando um ciclo de 152
dias. Na semeadura foram aplicados 400 kg ha-1
do fertilizante formulado 15:15:15 (N:P:K) no sulco
de plantio. A densidade de semeadura foi de 2,8
sementes por metro e o estande final de plantas foi
de 54.000 plantas por hectare (estande avaliado com
a cultura em estádio V3). A adubação de cobertura
foi realizada em 16/03/2023, com a aplicação de 150
142 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
Tabela 1. Descrição dos tratamentos contendo a relação dos programas de aplicações de fungicidas,
ingredientes ativos (I. A.), doses de I. A. aplicados no híbrido NK 520 VIP3. Centro Tecnológico
Comigo, Rio Verde-GO, safra 2022/2023.
1ª Aplicação 2ª Aplicação
2 Priori Xtra (0,3) + Score Flexi (0,2)/1 Priori Top (0,3) + Bravonil 720 (1,0)/1
3 Aproach Power (0,6) + Unizeb Gold (1,5) Aproach Power (0,6) + Unizeb Gold (1,5)
9 Abacus (0,35) + Unizeb Gold (1,5)/2 Fox Xpro (0,5) + Unizeb Gold (1,5)/3
Fitopatologia 143
CLUBE DE REVISTAS
A primeira aplicação, realizada em 14/04/2023, (temperatura, umidade relativa do ar e velocidade do
foi com a cultura em estágio vegetativo (entre V6 e V7) vento) foram mensurados com o auxílio do aparelho
e a segunda, em 25/04/2023, no pré-pendoamento da termo-higro-anemômetro (Tabela 2).
cultura. Durante as aplicações os dados meteorológicos
Tabela 2. Datas das aplicações e dados meteorológicos mensurados nas aplicações de fungicidas
no milho em segunda safra, híbrido NK 520 VIP3. Centro Tecnológico Comigo-CTC, Rio Verde-GO,
safra 2022/2023.
144 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
(Figuras 1 e 2).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os programas de aplicações de fungicidas
avaliados obtiveram desempenho semelhante, com
Os resultados referentes à severidade final
reduções do desenvolvimento da doença no campo,
e AACP-Helmintosporiose (Figuras 1 e 2) tiveram
reduzindo satisfatoriamente a severidade final e
comportamento semelhante. Destacam-se os altos
também a AACP-Helmintosporiose (Figuras 1 e 2). A
níveis de severidade e AACP-Helmintosporiose
redução média na severidade final foi de 60,7% com
observados no tratamento testemunha, com
execução dos programas de aplicações, variando de
quase 20% de tecido foliar afetado e AACP-
18,6% na testemunha a 6,5% de tecido foliar afetado
Helmintosporiose elevada (468,0), com ambas as
nos tratamentos 1 e 6 (Figura 1).
variáveis diferenciando-se dos demais tratamentos
b
Severidade (% de tecido foliar afetado)
20,0
15,0
10,0 a
a a a a
a a a a
5,0
0,0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Tratamentos
Médias comcom
Médias letras iguais
letras acima
iguais acimadas
dasbarras
barras não diferementre
não diferem entresi si pelo
pelo teste
teste de Sco�-Kno�
de Scott-Knott (P<0,05)
(P<0,05)
Figura 1. Severidade final de helmintosporiose no híbrido NK 520 VIP3 com diferentes programas
de aplicações de fungicidas. Centro Tecnológico Comigo, Rio Verde-GO, safra 2022/2023.
Em relação a eficiência de controle entre os Flexi / 2ª Miravis Duo), 2 (1ª Priori Xtra + Score Flexi /
programas de aplicações, também foram obtidos 2ª Priori Top + Bravonil 720), 6 (1ª Tridium / 2ª Tridium),
resultados similares. A eficiência de controle ficou em 7 (1ª Tamiz + Troia / 2ª Tamiz + Troia) e 9 (1ª Abacus +
torno de 60% independentemente do programa de Unizeb Gold / Fox Xpro + Unizeb Gold), que obtiveram
aplicações. Vale aqui, destacar de forma discreta, os valores acima de 60% de controle da doença (Figura 2).
programas dos tratamentos 1 (1ª Priori Xtra + Score
Fitopatologia 145
CLUBE DE REVISTAS
500,0 100
90
b
AACP-Helmintosporiose
Médias com letras iguais nas barras não diferem entre si pelo teste de Sco�-Kno� (P<0,05)
146 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
120,0 a a
a a a a a
100,0 a a
b
Produtividade (sacas ha-1)
80,0
60,0
40,0
20,0
0,0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Tratamentos
Médias com
Médias com letras
letrasiguais
iguaisacima
acimadas
dasbarras
barrasnão diferem
não entre
diferem si pelo
entre teste
si pelo de Scott-Knott
teste (P<0,05)
de Sco�-Kno� (P<0,05)
C.V. =
C.V. 11,14%
= 11,14
Figura 3. Produtividade média do híbrido NK 520 VIP3 após a execução de diferentes programas
de aplicações de fungicidas. Centro Tecnológico Comigo, Rio Verde-GO, safra 2022/2023.
a serem utilizadas dentro do manejo de doenças pesquisadores do CTC pelo apoio na execução deste
Fitopatologia 147
CLUBE DE REVISTAS
article e0082018, 2019a. Safrinha 2019. LOURENÇÃO, A. L. F.; GRIGOLLI, J.
CAMERA, J, N.; KOEFENDER, J.; GOLLE, D. P.; F. J.; GITTI, D. C.; BEZERRA, A. R. G.; MELOTTO, A. L.
FLORES, E. F.; BORTOLOTTO, R. P.; SCHOFFEL, A.; (Eds.). Maracaju (MS): Midiograf, 2020. 102p.
DEUNER, C. C. Aplicação preventiva e curativa de GOVERNO DE GOIÁS. Goiás se isola na
fungicidas para controle da helmintosporiose em liderança da produção de sorgo e girassol
milho. HOLOS, v. 2, artigo e6467, 2019b. no país. 2023. Disponível em: https://www.
CASELA, C. R.; FERREIRA, A. S.; ALMEIDA goias.gov.br/s ervic o/43- e c onomia/128588-
PINTO, N. F. J. Doenças na Cultura do Milho. goi%C3%A1s-se-isola-na-lideran%C3%A7a-da-
Circular Técnica 83, Sete Lagoas (MG), p. 1-14, produ%C3%A7%C3%A3o-de-sorgo-e-girassol-no-
dezembro, 2006. pa%C3%ADs.html. Acesso em agosto de 2023.
CONAB – COMPANHIA NACIONAL DE LAZAROTO, A.; DOS SANTOS, I.; KONFLANZ,
ABASTECIMENTO. Acompanhamento da safra V. A.; MALAGI, G.; CAMOCHENA, R. C. Escala
brasileira de grãos – Safra 2022/2023 – 11º diagramática para avaliação de severidade de
Levantamento. Brasília (DF), v. 10, n. 11, agosto, helmintosporiose comum em milho. Ciência Rural,
2023a. v. 42, n. 12, p. 2131-2137, 2012.
CONAB – COMPANHIA NACIONAL DE SANTOS, H.G.; JACOMINE, P.K.T.; ANJOS,
ABASTECIMENTO. Produção de grãos é estimada L.H.C.; OLIVEIRA, V.A.; LUMBRERAS, J.F.; COELHO,
em 320,1 milhões de toneladas com ganhos M.R.; ALMEIDA, J.A.; CUNHA, T.J.F.; OLIVEIRA, J.B.
de área e produtividade. 2023. Disponível em: Sistema brasileiro de classificação de solos.
https://www.conab.gov.br/ultimas-noticias/5116- Centro Nacional de Pesquisa de Solos. 5 ed. Brasília:
producao-de-graos-e-estimada-em-320-1-milhoes- Embrapa Produção de Informação; Rio de Janeiro:
de-toneladas-com-ganhos-de-area-e-produtividade. Embrapa Solos. 2018. 588 p.
Acesso em agosto de 2023b.
COTA, L. V.; COSTA, R. V.; SILVA, D. D. Manejo
de Doenças. p. 299-327. In: GALVÃO, J. C. C.; BORÉM,
A.; PIMENTEL, M. A (Eds.) Milho: do plantio à
colheita. 2ª ed. Viçosa (MG): Ed. UFV, 2017.
COSTA, R. V.; COTA, L. V. Doenças foliares no
milho. 2021. Disponível em: https://www.embrapa.
br/agencia-de-informacao-tecnologica/cultivos/
milho/producao/pragas-e-doencas/doencas/
doencas-foliares. Acesso em agosto de 2023.
FERNANDES, R. H.; LIMA, D. T.; ALMEIDA, D.
P. Programas de aplicações de fungicidas no controle
de doenças no milho em segunda safra. Anuário de
Pesquisas de Agricultura 2ª Safra – 2021/2022,
v. 5, n. 2, p. 39-48, 2022.
FUNDAÇÃO MS. Tecnologia e Produção:
148 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
FERNANDES1, Rafael Henrique; LIMA2, Diego mundo. Do ponto de vista agronômico, é classificado em
Tolentino de; BRAZ3, Guilherme Braga Pereira; cinco grupos: granífero, sacarino, forrageiro, vassoura e
BUENO4, Amanda Magalhães; SARKIS5, Leonardo biomassa. O primeiro grupo é utilizado na alimentação
Fernandes
humana e animal, inclui tipos de porte baixo adaptados
à colheita mecânica, e apresenta maior destaque
1
Eng. Agrônomo, Dr. em Fitotecnia, Pesquisador
Agronômico em Fitopatologia do Centro na produção, consumo e, consequentemente, na
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: economia (SILVA, 2019). O sorgo forrageiro é utilizado
[email protected] principalmente por sua eficiência como complemento
2
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador
Agronômico em Entomologia do Centro alimentar de ruminantes, na forma de silagem ou pastejo
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: (OLIVEIRA, 2015). Já os sorgos do tipo sacarino e biomassa
[email protected] são voltados para produção de bioenergia, enquanto o
3
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador
Agronômico em Manejo e Controle de Plantas- grupo vassoura apresenta panícula longa transformada
Daninhas do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, em vassouras artesanais para uso doméstico (FOLTRAN,
GO, Brasil. E-mail: [email protected] 2012).
4
Eng. Agrônoma, Dra. Em Agronomia, Pesquisadora
Agronômica em Fisiologia e Nutrição de Plantas do O sorgo é semeado em quase sua totalidade no
Centro Tecnológico Comigo. Rio Verde, GO, Brasil. período de segunda safra, pois apresenta tolerância
E-mail: [email protected] ao estresse hídrico e adaptações ao clima quente,
5
Eng. Agrônomo, Ms. em Ciência do Solo,
Pesquisador Fertilidade e Fertilizantes do Centro como sistema radicular bem desenvolvido, extenso e
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: fibroso, e faixa de temperatura ideal entre 33°C e 34°C
[email protected] (MAGALHÃES et al., 2000). O ciclo de vida do sorgo, de
forma geral vai de 90 a 120 dias, mas pode apresentar
variações dependendo da cultivar e do local onde é
INTRODUÇÃO plantado, podendo chegar próximo aos 140 dias para
alguns cultivares de sorgo granífero. Tais vantagens
O sorgo (Sorghum bicolor L.) é um vegetal de competitivas do sorgo estão acompanhadas de menor
origem tropical e o quinto cereal mais plantado no custo de produção, pois quando comparado ao milho há
Fitopatologia 149
CLUBE DE REVISTAS
redução de 20 a 30%. Além disso, é uma ótima opção e pragas e pelo aperfeiçoamento de profissionais.
para a segunda safra caso a janela se encurte no plantio Apesar do alto rendimento na produção de grãos
da primeira safra (VIANA, 2022). e matéria seca, o cultivo do sorgo ainda carece de
Segundo a Companhia Nacional de incentivos consistentes dos setores público e privado
Abastecimento (Conab), a produção brasileira de para a ampliar a competitividade e seus horizontes de
sorgo deverá totalizar 4,326 milhões de toneladas no mercado. A falta de estruturação da cadeia produtiva
ano agrícola 2022/2023, aumento de 38,7% quando e logística do transporte, com altos preços de frete e
comparado ao ano anterior, quando foram colhidas 3,12 combustível, a perda de grãos no transporte, a falta
milhões de toneladas. Em relação à área cultivada, houve de locais de armazenamento e o valor do sorgo sendo
aumento de 20,9%, com 1,130 milhões de hectares em balizado pelo preço do milho constituem desafios para
2021/2022 para 1,367 milhões de hectares nesta safra. a expansão da cultura no país (VIANA, 2022).
A produtividade também apresentou incremento de Outro fator desafiador no cultivo do sorgo é o
14,7%, sendo estimados 3.165 kg ha-1 em contrapartida déficit de produtos fitossanitários registrados para
ao rendimento de 2.760 kg ha-1 na última safra (CANAL a cultura, pois são diversas as doenças que atacam
RURAL, 2023). e comprometem a produtividade, como antracnose
Dentre os produtores nacionais de sorgo, (Colletotrichum graminicola – sin. Colletotrichum
Goiás é estado com maior produção (1,44 milhões de sublineolum P. Henn., Kabat e Bulbak), helmintosporiose
toneladas), seguido de Minas Gerais (1,20 milhões (Exserohilum turcicum), míldio (Peronosclerospora
de toneladas) e Mato Grosso do Sul (0,48 milhões de sorghi), ergot/doença açucarada do sorgo (Claviceps
toneladas) (CONAB, 2023). O alto rendimento das africana), ferrugem (Puccinia purpurea), cercosporiose
lavouras goianas foi favorecido por fatores como a (Cercospora sorghi) e a podridão seca (Macrophomina
continuidade das chuvas em abril, favorecendo o phaseolina) (SILVA et al., 2012). É inevitável as
enchimento de grãos; baixa precipitação e baixas comparações com o cultivo do milho, visto que para
temperaturas na segunda quinzena de julho, este cereal existem dezenas de produtos disponíveis,
contribuindo para a perda de umidade dos grãos nas estratégias bem definidas de aplicações e incentivos
lavouras; e pelo manejo de pragas, como o pulgão, financeiros para o desenvolvimento de novas moléculas,
com controle mais assertivo do inseto, impedindo que enquanto tais estratégias de controle são bem mais
a infestação alcançasse níveis de dano econômico em escassas no cultivo do sorgo. Além disso, anualmente
grande parte das lavouras (CONAB, 2023). Deste modo, são lançados híbridos de milho que apresentam
Goiás deve produzir cerca de 32 milhões de toneladas tolerâncias e/ou resistência à patógenos, enquanto
de grãos na safra 2022/2023, colocando o estado que para o sorgo este número é notadamente menor
em terceiro lugar entre os maiores produtores (Mato (FERNANDES et al., 2022).
Grosso e Paraná) (GOVERNO DE GOIÁS, 2023). Baseado na dificuldade de acesso a produtos
O aumento de área cultivada e produtividade nas fitossanitários, na escassez de produtos registrados e
últimas safras aliado ao avanço da cadeia produtiva do na falta de informações e pesquisas sobre o controle
sorgo nos últimos anos pode ser considerado reflexo químico de doenças no sorgo, há a necessidade de
do desenvolvimento de materiais melhor adaptados às conhecimento e avaliação de programas de aplicação
regiões de cultivo, com maior resistência a doenças e do custo/benefício do uso de fungicidas, visando
150 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
alavancar os índices de produtividade. Várias são as a aplicação na pré-semeadura do sorgo com Glyphosate
moléculas e grupos químicos utilizados em outras (Crucial, 540 g e. a. L-1, SL, Sumitomo) na dose de 1,08
culturas, como a soja e o milho, que devem ser kg ha de e. a., Carfentrazona-Etílica (Aurora, 400 g i. a.
analisadas quanto ao seu uso e eficiência no sorgo, L.-1, FMC, EC) na dose de 0,028 kg de i. a. ha-1 e Atrazina
pois podem auxiliar no manejo das doenças. (Proof, 500 g i. a. L.-1, SC, Syngenta) na dose de 1,0 kg
Desta forma, o objetivo foi avaliar a eficiência de i. a. ha-1. Posteriormente, cerca de 20 dias após a
de aplicações de fungicidas no controle de doenças semeadura, foram aplicados em pós-emergência das
foliares no sorgo, especialmente antracnose e plantas daninhas o herbicida Atrazina (Proof, 500 g i.
helmintosporiose. a. L-1, SC, Syngenta), na dose de 1,5 kg i. a. ha-1, com
adição 0,400 L ha-1 de adjuvante óleo mineral (Iharol
MATERIAL E MÉTODOS Gold, 760 g L-1, EC, Ihara). Para o controle de pragas
foram realizadas avaliações semanais e aplicações de
O experimento foi conduzido na área inseticidas recomendados quando atingido o nível de
experimental do Centro Tecnológico Comigo (CTC), controle. As principais pragas que acometeram a área
localizado em Rio Verde-GO (S 17°45’46’’ e W 51°02’03’’, experimental foram lagarta-do-cartucho e pulgões.
835 m de altitude), com áreas predominantes de O delineamento experimental utilizado foi o de
Latossolo Vermelho distrófico (SANTOS et al., 2018). Blocos Casualizados, com 12 tratamentos e quatro
O material utilizado foi o híbrido de sorgo repetições/blocos, totalizando 48 parcelas. As parcelas
1G100 (Brevant®), semeado no dia 28/02/2023, com foram compostas por 10 linhas, espaçadas a 0,50 m
densidade de semeadura de 10,5 sementes por metro. e com 10 metros de comprimento, equivalente a uma
As sementes foram tratadas com 2,5 g de Fludioxinil, área de 50 m2 (10,0 x 5,0 m), sendo considerada como
2,0 g Metalaxil e 15 g de Tiabendazol (Maxim Advanced, parcela útil seis metros das seis linhas centrais (18 m2).
0,1 L /100 kg de sementes ); 40 mL kg Fluxofenin Os tratamentos foram compostos por duas
(Benefic, EC, 40 mL / 100 kg de sementes); 62,5 g aplicações (sequenciais) de diferentes fungicidas,
Clorantraniliprole (Dermacor 0,1 L / 100 kg sementes). contendo misturas duplas e duas misturas triplas
No sulco de semeadura foram aplicados o inseticida de moléculas fungicidas, além de um tratamento
biológico Meta-Turbo SC, Biovalens (Metarhizium testemunha (Tabela 1). A primeira aplicação foi
anisopliae IBCB425, concentração mínima de 1 x realizada cerca de 40 dias após a emergência e a
108 propágulos viáveis mL-1) na dose de 0,5 L ha-1, o segunda aplicação realizada 10 dias após, culminando
co-inoculante Biomax Azum, Biosoja (Azospirillum com a fase de pré-emborrachamento da cultura.
brasilense, 3 x 108 células/mL) na dose de 0,15 L ha-1 e Durante as aplicações as condições meteorológicas
RayNitro Zn News (7% de N, 7% de P2O5 e 4% de Zn), na de temperatura (°C), umidade relativa do ar (%) e
dose de 0,25 L ha-1. velocidade do vento (km h-1) foram mensuradas com o
Na adubação de plantio foram aplicados 400 equipamento termo-hidro-anemômetro (Tabela 2).
kg ha-1 do formulado 15:15:15 (N:P:K). Além disso, foi
realizada uma adubação de cobertura com 150 kg ha-1
de Ureia protegida com NBPT, em 17/03/2023.
O controle de plantas daninhas foi realizado com
Fitopatologia 151
CLUBE DE REVISTAS
Tabela 1. Relação dos tratamentos com diferentes produtos comerciais, composição de ingredientes
ativos e doses utilizadas nas aplicações no sorgo 1G100. Centro Tecnológico Comigo-CTC, Rio
Verde-GO, Safra 2022/2023.
As aplicações foram realizadas com pulverizador post-mix com capacidade de 10 L. As pontas utilizadas
pressurizado por CO2 (Patente: BR102016007565-3) para pulverização foram modelo ADIA 110 015/D,
montando em trator (MF 275, Massey Ferguson, 75 cv). da marca Magnojet. A calibragem do equipamento
O pulverizador é dotado com barra de cinco metros, ajustada para pressão de trabalho na ponta de 3,8 bar
com 10 bicos de pulverização espaçados a 0,50 m. A (55,1 PSI) e volume de aplicação de 150 L ha-1.
calda preparada era acondicionada em tanques tipo
152 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
Tabela 2. Dados meteorológicos nas aplicações de fungicidas no sorgo, híbrido 1G100. Centro
Tecnológico Comigo-CTC, Rio Verde-GO, safra 2022/2023.
Fitopatologia 153
CLUBE DE REVISTAS
(+) obteve valores semelhantes aos melhores apresentados para cada doença separadamente.
tratamentos. No entanto, entende-se que no cenário de cultivo do
Em valores absolutos a maior eficiência de sorgo no Sudoeste Goiano, há a necessidade de que
controle foi obtida pelo tratamento com aplicações os produtos tenham boa performance para ambas as
de Azoxistrobina + Tebuconazol + Mancozebe, com doenças. Diante disso, pode-se ressaltar os valores
65% (Tabela 3). Lembrando que, esta variável remete de eficiência de controle acima de 60%, obtidos pelas
a eficiência de cada fungicida em reduzir a severidade aplicações com: Difenoconazol + Ciproconazol,
de uma determinada doença, no caso deste trabalho, Mefentrifluconazol + Piraclostrobina, Piraclostrobina
as avaliações levaram em consideração a ocorrência e + Epoxiconazol (++) e Azoxistrobina + Tebuconazol
severidade de duas das principais doenças da cultura + Mancozebe (Tabela 3), com 60, 64, 61 e 65%
de forma simultânea. Por isso, os valores aparentemente respectivamente.
baixos, certamente seriam maiores se fossem
154 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
Os dados de pluviometria obtidos através de uma Que ocorreu simultaneamente após dias com baixas
estação meteorológica automática (Plug Field) na área temperaturas e estresses hídricos moderados. Ainda
experimental do CTC, indicam que após a semeadura assim, a severidade das doenças foliares (e antracnose
foi registrado um volume pluviométrico de 399 mm, no colmo) saíram de não mais que 3% nos tratamentos
sendo eles distribuídos em 289 mm no mês de março, com aplicações (dados não apresentados), para até o
76 mm em abril, 12 mm em maio e 22 mm no mês de dobro deste valor em alguns tratamentos (Tabela 3).
junho. É notório que o volume considerável de chuvas Em relação à produtividade, todos os programas
após a semeadura da área experimental, sobretudo de aplicações de fungicidas obtiveram valores
no mês de março e meados de abril, possibilitou bom superiores aos do tratamento testemunha (Figura 1). O
desenvolvimento vegetativo da cultura, bem como ganho médio foi acima de 15 sacas por hectare. Estes
pode ter sido fundamental para as infecções iniciais resultados, reforçam novamente o grande potencial
observadas já na primeira avaliação de severidade, em de utilização de fungicidas no controle de doenças no
16/04. A partir daí, a progressão da doença avançou de sorgo e na manutenção da sanidade, com impactos
forma lenta até a fase de enchimento pleno dos grãos. diretos sobre a produtividade das lavouras.
a a a a a a a
a a a a
100,0
Produtividade (sacas ha-1)
b
80,0
60,0
40,0
20,0
0,0
Opera
Abacus
Alade
Aproach Power
Fusão
Tamiz
Orkestra
Melyra
Score Flexi
Tridium
Testemunha
Cypress
Médias seguidas por letras iguais acima das barras não diferem entre si pelo teste de Sco�-Kno� (P<0,05)
C.V. (Coeficiente de Variação) = 8,13%
Figura 1. Gráfico com a produtividade média de sorgo (sacas por hectare) do híbrido 1G100 após
as aplicações dos diferentes ingredientes ativos fungicidas. Centro Tecnológico Comigo-CTC, Rio
Verde-GO, safra 2022/2023.
Fitopatologia 155
CLUBE DE REVISTAS
Ganhos expressivos de produtividade com a experimento.
aplicação de fungicidas na cultura do sorgo têm sido
observadas nos últimos anos, não somente em anos REFERÊNCIAS
com volumes e distribuição pluviométrica favoráveis,
como neste ano agrícola. Mas também em anos com CANAL RURAL. Sorgo: Conab projeta safra
desafios hídricos, seja por déficits acentuados ou brasileira de 4.326 mi de toneladas em 22/23. 2023.
geadas intensas, o controle de doenças tem contribuído Disponível em https://www.canalrural.com.br/radar/
com incrementos produtivos consideráveis (Fernandes sorgo-conab-projeta-safra-brasileira-de-4326-mi-de-t-
et al., 2022). em-22-23/. Acesso em agosto de 2023.
CONAB – COMPANHIA NACIONAL DE
CONCLUSÃO ABASTECIMENTO. Acompanhamento da safra
brasileira de grãos – Safra 2022/2023 – 11º
As doenças que acometem a cultura do sorgo Levantamento. Brasília (DF), v. 10, n. 11, agosto, 2023.
atingem níveis elevados de severidade e comprometem FERNANDES, R. H.; LIMA, D. T.; ALMEIDA,
a produtividade da lavoura quando não são adotadas D. P. Controle químico de doenças foliares no sorgo
medidas de controle com elevada eficiência. Estes granífero. Anuário de Pesquisas de Agricultura 2ª
impactos podem acontecer tanto em anos com volumes Safra – 2021/2022, v. 5, n. 2, p. 49-55 2022.
pluviométricos satisfatórios ou mesmo naqueles com FERREIRA, D.F. Sisvar: a Guide for its Bootstrap
déficits hídricos mais severos. procedures in multiple comparisons. Revista Ciência e
Os fungicidas avaliados apresentam efetividade Agrotecnologia, v.38, n.2, p.109-112, 2014.
na redução dos níveis de doenças severidade e AACP- FOLTRAN, D. E.; SAWAZAKI, E.; FREITAS, R. S.
Manchas foliares, no campo. Contudo, foi possível Novos cultivares de sorgo vassoura para agricultura
identificar misturas de ingredientes ativos com regional. Pesquisa e Tecnologia, vol. 13, n. 1, janeiro
desempenho ligeiramente superior. Misturas contendo – junho, 2016.
os ingredientes ativos: Tebuconazol, Mefentrifuconazol, GOVERNO DE GOIÁS. Goiás se isola na
Priclostrobina (com doses mais altas), Azoxistrobina e liderança da produção de sorgo e girassol no
Metominostrobina, estão entre os que apresentaram país. 2023. Disponível em: https://www.goias.gov.br/
melhor desempenho. servico/43-economia/128588-goi%C3%A1s-se-isola-
Realizar aplicações de fungicidas é prática na-lideran%C3%A7a-da-produ%C3%A7%C3%A3o-
primordial para proteção do cultivo e obtenção de de-sorgo-e-girassol-no-pa%C3%ADs.html. Acesso em
melhores resultados de produtividade. Os produtos agosto de 2023.
aqui avaliados proporcionaram incrementos produtivos, MAGALHÃES, P. C.; DURAES, F. O. M.;
independentemente de qual tenha sido aplicado. SCHAFFERT, R. E. Fisiologia da planta do sorgo. Sete
Lagoas, MG: Embrapa Milho e Sorgo. Circular Técnica,
AGRADECIMENTOS 3. 2000.
OLIVEIRA, N. S. S. Características
Á equipe de campo, estagiários e demais bromatológicas de genótipos de sorgo submetidos
pesquisadores do CTC pelo apoio na execução do a diferentes densidades de plantas em diferentes
156 Fitopatologia
CLUBE DE REVISTAS
épocas de corte. 2015. Trabalho de Conclusão de
Curso (Bacharelado em Agronomia) - Universidade
Federal de São João Del Rei, 2015.
SANTOS, H.G.; JACOMINE, P.K.T.; ANJOS, L.H.C.;
OLIVEIRA, V.A.; LUMBRERAS, J.F.; COELHO, M.R.;
ALMEIDA, J.A.; CUNHA, T.J.F.; OLIVEIRA, J.B. Sistema
brasileiro de classificação de solos. Centro Nacional
de Pesquisa de Solos. 5 ed. Brasília: Embrapa Produção
de Informação; Rio de Janeiro: Embrapa Solos. 2018.
588 p.
SILVA, D. D.; COTA, L. V.; COSTA, R. V.
Doenças. In: Cultivo do Sorgo, RODRIGUES, J. A. S.
(ed.). Embrapa Milho e Sorgo, Sistema de Produção
Embrapa, 2, 2012. Disponível em <https://www.spo.
cnptia.embrapa.br/conteudo?p_p_id=conteudoportlet_
WAR_sistemasdeproducaolf6_1ga1ceportlet&p_p_
lifecycle=0&p_p_state=normal&p_p_
mode=view&p_p_col_id=column-
1&p_p_col_count=1&p_r_p_-76293187_
sistemaProducaoId=8301&p_r_p_-996514994_
topicoId=9206>. Acesso em agosto de 2023.
SILVA, L. C. M. Cinética de secagem dos
grãos e caracterização física e química durante o
armazenamento de farinha de sorgo granífero. 2019.
Tese de Doutorado - Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia Goiano – Campus Rio Verde, 2019.
VIANA, G. Produção de sorgo no Brasil sobe
mais de 36% em apenas uma safra. Embrapa Milho
e Sorgo. 2022. Disponível em https://www.embrapa.
br/busca-de-noticias/-/noticia/73811127/producao-
de-sorgo-no-brasil-sobe-mais-de-36-em-apenas-uma-
safra. Acesso em agosto de 2023.
Fitopatologia 157
CLUBE DE REVISTAS
Fitotecnia
158 Fitotecnia
CLUBE DE REVISTAS
PRODUTIVIDADE DE SOJA
CULTIVADA SOBRE A PALHADA DE
Panicum maximum EM SISTEMAS
DE INTEGRAÇÃO LAVOURA
PECUÁRIA
NASCIMENTO¹, Hemython Luis Bandeira do; Agronômica em Fisiologia Vegetal e Nutrição de Plantas
BILEGO², Ubirajara Oliveira; MARQUES³, Bruno do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil.
de Souza; LIMA4, Diego Tolentino; FERNANDES5, E-mail: [email protected]
Rafael Henrique; BRAZ6, Guilherme Braga Pereira;
8
Eng. Agrônomo, Me. em Ciência do Solo, Pesquisador
Agronômico em Fertilidade do Solo e Fertilizantes do
BUENO7, Amanda Magalhães; SARKIS8, Leonardo
Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil.
Fernandes; COSTA9, Kátia Aparecida de Pinho; E-mail: [email protected]
9
Zootecnista, Dsc. Professor do IF Goiano – Campus de
1
Eng. Agrônomo, Dr. Zootecnia, Pesquisador em Rio Verde – GO. E-mail: [email protected]
Forragicultura do Instituto de Ciência e Tecnologia
COMIGO, Rio Verde-GO.
E-mail: [email protected] INTRODUÇÃO
2
Médico Veterinário, Dr. em Ciência Animal,
Pesquisador em Produção Animal do Instituto de
A produção e consumo global de alimentos têm
Ciência e Tecnologia COMIGO, Rio Verde-GO.
E-mail: [email protected] gerado preocupações socioeconômicas e ambientais,
3
Médico Veterinário, mestrando do programa de pós- tornando a agricultura sustentável uma prioridade
graduação em Zootecnia do IF Goiano, Rio Verde-GO.
(ALLAOUI et al., 2018). Nesse cenário sistemas integração
E-mail: [email protected]
4
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador lavoura-pecuária surgem como uma estratégia para
Agronômico em Entomologia do Centro atender às altas demandas alimentares promovendo
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail:
conservação ambiental (VALANI et al., 2021; MUSCAT et
[email protected]
5
Eng. Agrônomo, Dr. em Fitotecnia, Pesquisador al., 2021). A adoção de práticas sustentáveis é essencial
Agronômico em Fitopatologia do Centro para equilibrar aumento de produtividade e conservação
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail:
do meio ambiente (ROESCH-MCNALLY et al., 2018).
[email protected]
6
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador O sinergismo observado nos sistemas integrados
Agronômico em Manejo e Controle de Plantas- lavoura-pecuária entre culturas agrícolas e criação de
Daninhas do Centro Tecnológico COMIGO. Rio Verde,
animais, proporciona diversos benefícios. A diversificação
GO, Brasil. E-mail: [email protected]
7
Eng.a Agrônoma, Dra. em Agronomia, Pesquisadora de atividades em uma mesma área contribui para maior
Fitotecnia 159
CLUBE DE REVISTAS
produção de alimentos em espaços limitados (VALANI que favorecem a produtividade da soja. A utilização
et al., 2021). A relação entre as atividades agrícolas do sistema integrado lavoura-pecuária na forma de
e pecuárias permite a reciclagem de nutrientes e a sucessão forrageira proporciona maior cobertura do
melhoria das propriedades do solo (RYSCHAWY et al., solo ciclagem de nutrientes pelo melhor aproveitamento
2017). das excretas dos animais, do que o cultivo do milho em
A biomassa de forrageiras contribui para a sucessão, resultando em maior produtividade da soja
estabilidade do solo (FRANZLUEBBERS E GASTAL (DIAS et al., 2020; MUNIZ et al., 2021). Vale ressaltar
2019), protegendo-o de condições climáticas adversas que a escolha adequada das forrageiras, associada
e promovendo ciclagem de nutrientes (PETERSON et a implantação correta do pasto safrinha e ao manejo
al., 2020). A sucessão forrageira na segunda safra após adequado dos sistemas integrados são cruciais para
a colheita da soja é uma técnica eficaz para a produção otimizar esses benefícios e garantir uma agricultura
de biomassa, melhorando a cobertura do solo e mais resiliente e sustentável.
proporcionando alimentação para o gado (ANDRADE Objetivou-se com esse estudo avaliar a influência
et al., 2020). do cultivo de forrageiras do gênero Panicum maximum
A persistência da palhada do milho e de outras durante a segunda safra em sistemas de Integração
culturas como a de forrageiras tropicais é crucial para Lavoura Pecuária sobre as características do solo e
a conservação do solo. A composição dos resíduos, produtividade da soja no Cerrado Goiano.
rica em materiais lignificados, confere resistência à
decomposição, mantendo-a por mais tempo sobre o solo MATERIAL E MÉTODOS
(CECCON, 2013). A relação C:N dos resíduos vegetais
desempenha papel fundamental na decomposição, O experimento foi conduzido na fazenda
afetando a disponibilidade de nutrientes (ACOSTA et experimental do Centro Tecnológico COMIGO, em
al., 2014; DIAS et al., 2020) que atenderam à demanda Rio Verde – GO. Segundo Thornthwaite (1948) o
da soja, resultando em maior rendimento de grãos clima de Rio Verde - GO é classificado em B4 rB’4a’
(MUNIZ et al., 2021). Forrageiras tropicais, como as (úmido, pequena deficiência hídrica, mesotérmico e
dos gêneros Panicum e Brachiaria, contribuem para evapotranspiração no verão menor que 48%). A área
maior produção de biomassa e ciclagem de nutrientes, utilizada para o ensaio encontra-se sob as coordenadas
promovendo a reciclagem de nitrogênio e carbono 17⁰45’48’’ S e 51⁰02’14’’ W, com altitude de 832 m,
e melhorando a qualidade do solo (BAPTISTELLA et ocupando aproximadamente 5,15 ha, divididos em dois
al., 2020). Estudos realizados por Muniz et al. (2021) blocos (Figura 1). O solo da área é do tipo LATOSSOLO
mostraram que a Brachiaria brizantha BRS Paiaguás e o VERMELHO Distrófico (SANTOS et al. 2018), com tores
Panicum maxímum BRS Tamani apresentaram relação médios de 35,6% de argila, 7,6% de silte e 56,8% de
carbono:nitrogênio (C:N) superior a 30:1, indicando areia.
lenta decomposição dos resíduos vegetais e maior No bloco 01 o sistema de integração Lavoura-
persistência da palhada no sistema. Pecuária é utilizado desde a safra 2011/2012, no bloco
Neste contexto, deve-se considerar os benefícios 02 esse sistema começou a ser utilizada um pouco
que o componente animal traz ao sistema em termos mais recente a partir do ano agrícola 2016/2017. No
de produção de biomassa e liberação de nutrientes, estudo, foram avaliados três sistemas de produção, dois
160 Fitotecnia
CLUBE DE REVISTAS
com integração lavoura pecuária (ILP), nos quais após de culturas (SS), onde é plantada a soja na safra e o
a colheita da soja é plantado o capim para pastejo dos milho na segunda safra.
animais na entressafra, e um tradicional com sucessão
Figura 1. Foto aérea da área do experimento durante a safrinha. (Fonte: Pedro Cabral)
Antes da implantação da cultura da soja na safra ao laboratório para determinação das características
2022/2023 foram realizadas coletas de solo na área químicas (Tabela 1).
experimental na profundidade de 0 a 20 cm e enviadas
Fitotecnia 161
CLUBE DE REVISTAS
Tabela 1. Capacidade de troca catiônica (CTC), matéria orgânica (MO) e teores de nutrientes do
solo em sistemas de Integração Lavoura Pecuária e de Sucessão (SS) na região de Rio Verde – GO.
MO CTC Ca Mg Al K P(Mehlich) B
Sistema
% ----------cmolc dm ---------
-3
--------- mg dm --------
-3
162 Fitotecnia
CLUBE DE REVISTAS
L-1 i.a. Tiofanato Metílico e 250 g L-1 i.a. Fipronil). No completos casualizados (DBC), com três sistemas
momento da semeadura foram aplicados no sulco de produção (SS, ILP-Zuri e ILP-Quênia), dois blocos
1,0 L ha -1 do inoculante Cell Tech (Bradyrhizobium e duas repetições dentro de cada bloco, totalizando
japonicum Estirpe SEMIA 5079 e SEMIA 5080, assim 12 unidades experimentais. Os dados foram
concentração mínima 3,0 x 109 UFC mL-1, Monsanto analisados utilizando o método de modelos mistos
BioAg), 0,1 L ha -1 do coinoculante Biomax Azum com estrutura paramétrica especial na matriz de
(Azospirillum brasilense, concentração mínima covariância, por meio do procedimento MIXED do
3,0 x 103 UFC mL-1, Biosoja), 500 mL ha -1 de Meta software estatístico SAS (LITTELL et al., 2006). As
Turbo (Metarhizium anisopliae), 200 mL ha -1 de forrageiras foram consideradas efeitos fixos, blocos
Nodulus Gold (Ascophyllum nodosum) e 400 mL e repetições foram considerados efeito aleatório.
ha -1 de Verango Prime (FLUOPIRAM). O volume de Para escolher a matriz de covariância foi usado o
aplicação utilizado no sulco foi de 60 L ha -1. critério de informação de Akaike (WOLFINGER et al.,
Após a semeadura, foram realizadas duas 1993). As médias dos tratamentos foram estimadas
aplicações de herbicidas para controle de plantas pelo “LSMEANS” e a comparação foi realizada pelo
daninhas, aos 28 dias após a semeadura (DAS) teste de Tukey com nível de significância de 10%.
foram aplicados 2 L ha -1 de Xeque Matt + 1,22 L
ha -1 de Podium EW. O manejo de doenças e pragas RESULTADOS E DISCUSSÃO
foi realizado adotando um cronograma com cinco
aplicações. A primeira com Score flexi + Seven Durante o ciclo de desenvolvimento da
(0,150 e 1,5 L ha -1 respectivamente). A segunda cultura da soja, verificou-se temperatura média
com Ampligo 0,2 L ha -1. A terceira com Unizeb Gold variando entre 22 e 23 °C, e um acumulado de
+ Sulfato de Magnésio + Excalia Max + Proclaim + chuvas de 1.252 mm, com chuvas bem distribuídas
Nomolt + Agris (1,5 + 2,0 + 0,5 + 0,2 + 0,2 + 0,5 L ha -1 durante todo o ciclo da cultura (Figura 2).
respectivamente). A quarta com Viovan + Bravonil
720 (0,6 + 1,0 L ha -1 respectivamente). E na quinta
com Bravonil 720 + Cypress + Fastac Duo + Cordial
(1,0 + 0,3 + 0,5 + 0,25 ha -1 respectivamente). Ao final
do ciclo da soja foi realizada a dessecação com
Reglone + Agral (2,0 + 0,5 L ha -1 respectivamente).
Para estimativa da produtividade de grãos,
foram coletadas quatro fileiras centrais com 3,0
metros de comprimento dentro de cada parcela
útil. Os grãos foram colhidos, trilhados e secos.
Foi calculada a produtividade por hectare,
considerando-se a umidade padrão de 13% para
comercialização do grão, tomado como medida a
saca de 60 kg.
O delineamento experimental foi blocos
Fitotecnia 163
CLUBE DE REVISTAS
164 Fitotecnia
CLUBE DE REVISTAS
A B
Figura 3.Residual de palhada (A) e de raiz (B) deixados pelas culturas cultivadas
na safrinha de 2022 nos sistemas de Integração Lavoura Pecuária (ILP Zuri e ILP
Quênia) e de sucessão (SS) na região de Rio Verde, GO.
Médias seguidas por letras diferentes nas barras, diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 10%.
Apesar das diferenças verificadas entre os sistemas para a produtividade de Soja (p = 0,4912), que
sistemas de produção para o residual de palhada, não em média foi de 5.364 kg ha-1 (Figura 4), correspondendo
foram verificadas diferenças significativas entre os a aproximadamente 91 sacas ha-1.
Fitotecnia 165
CLUBE DE REVISTAS
166 Fitotecnia
CLUBE DE REVISTAS
A B C
Durante a safrinha 2021/2022 ocorreu um forte sistema ILP também foram afetadas pela falta de chuva
veranico na fase de enchimento de grãos do milho durante o período, porém em menor intensidade que o
comprometendo significativamente a produtividade da milho safrinha. Um resumo da produtividade obtida nos
cultura no sistema de sucessão, produzindo em média sistemas de produção durante a safrinha 2021/2022 e
apenas 32,5 sacas de milho ha-1. As forrageiras do na safra 2022/2023 pode ser verificado na Tabela 2.
Tabela 2. Produtividades obtidas nos sistemas de produção na segunda safra do ano agrícola
2021/2022 e na safra do ano agrícola 2022/2023.
Sucessão (Soja x Milho) Milho 32,5 sacas ha-1 89,6 sacas ha-1
Fitotecnia 167
CLUBE DE REVISTAS
qualidade para o cultivo da soja na safra posterior, Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, v.37, p. 204-212.
sem comprometer a palatabilidade e produtividade da 2013.DIAS, M. B. C.; COSTA, K. A. P.; SEVERIANO, E. C.;
cultura. BILEGO, U.; FURTINI NETO, A. E.; ALMEIDA, D. P.; et
al. Brachiaria and Panicum maximum in an integrated
REFERÊNCIAS crop-livestock system and second-crop corn system in
succession with soybean. The Journal of Agricultural
ACOSTA, J. A. A.; AMADO, J. C.; SILVA, L. S.; Science, v. 158, n. 4, p. 349-349, 2020.
SANTI, A.; WEBER, M. A. Decomposição da fitomassa FRANZLUEBBERS, A. J.; GASTAL, F. Building
de plantas de cobertura e liberação de nitrogênio em agricultural resilience with conservation pasture-crop
função da quantidade de resíduos aportada ao solo sob rotations. In: Agroecosystem diversity. Academic Press,
sistema plantio direto. Ciência Rural, v. 44, n. 5, p. 801- 2019. p. 109-121.
809, 2014. LITTELL. R. C.; MILLIKEN, G. A.; STROUP,
ALLAOUI, H.; GUO, Y.; CHOUDHARY, A.; & W. W et al.. 2006. SAS for mixed models. Second
BLOEMHOF, J. Sustainable agro-food supply chain ed. Journal of Biopha. Stat. 17:363–365.
design using two-stage hybrid multi-objective decision- doi:10.1080/10543400601001600
making approach. Computers & Operations Research, MARTINS, A.P.; GOMES, M. V. ; DENARDIN, L. G.
v. 89, p. 369-384, 2018. O. ; FREITAS, T. F. S. ; ANGHINONI, I. ;
ANDRADE, C. A. O., BORGHI, E., BORTOLON, L., MUNIZ, M. P.; COSTA, K. A. P.; SEVERIANO, E. C.;
BORTOLON, E. S. O., DE CAMARGO, F. P., AVANZI, J. C., ... BILEGO, U. O.; ALMEIDA, D. P.; NETO, A. E. F.; VILELA, L.;
& FIDELIS, R. R. Forage production and bromatological LANA, M. A.; LEANDRO, W. M.; DIAS, M. B. C. Soybean
composition of forage species intercropped with yield in integrated crop-livestock system in comparison
soybean. 2020. to soybean-maize succession system. The Journal of
BAPTISTELLA, J. L. C.; DE ANDRADE, S. A. L; Agricultural Science, v. 159, n. 3-4, p. 188-198, 2021.
FAVARIN, J. L.; MAZZAFERA, P. Urochloa in Tropical MUSCAT, A.; DE OLDE, E. M.; RIPOLL-BOSCH,
Agroecosystems. Frontiers in Sustainable Food R.; VAN ZANTEN, H. H.; METZE, T. A.; TERMEER, C. J.;
Systems v. 4, p. 119, 2020. VAN ITTERSUM, M. K.; DE BOER, I. J. Principles, drivers
BILEGO, U. O.; NASCIMENTO, H. L. B.; ALMEIDA, and opportunities of a circular bioeconomy. Nature
D. P.; FERNANDES, R. H.; LIMA, D. T.; SILVA, C. C. M.. Food v. 2, n. 8, p. 561-566, 2021.
Características da forragem e desempenho de bovinos NASCIMENTO, H. L. B; BILEGO, U. B.; FURTINI
de corte em pastagem de Panicum maximum Zuri e NETO, A. E.; ALMEIDA, D. P. Produtividade de soja
Quênia em sistema de integração lavoura-pecuária. e indicadores de qualidade do solo em sistemas de
Anuário de Pesquisa CTC Pecuária - Resultados integração lavoura-pecuária. Anuário de Pesquisas
2021-2022. 12. Ed. - Rio Verde, GO: Centro Tecnológico Agricultura – 1ª Safra – 2020/2021. V. 4. P. 90-98. 2021.
COMIGO, 2022.V. 5. P. 67-76. 2022. https://drive.google.com/file/d/1yRLeeWkDlcaO1VP
CECCON, G.; STAUT, L. A.; SAGRILO, E.; ZF37lTqdCaKVhIqut/view
MACHADO, L. A. Z.; NUNES, D. P.; ALVES, V. B. Legumes PETERSON, C. A.; DEISS, L.; GAUDIN, A. C. M.
and forage species sole or intercropped with corn in Commercial integrated crop-livestock systems achieve
soybeancorn succession in midwestern Brazil. Revista comparable crop yields to specialized production
168 Fitotecnia
CLUBE DE REVISTAS
systems: A meta-analysis. PLoS One, v. 15, n. 5, p.
e0231840, 2020.
ROESCH-MCNALLY, G. E.; ARBUCKLE, J. G.;
TYNDALL, J. C. Barriers to implementing climate resilient
agricultural strategies: The case of crop diversification
in the US Corn Belt. Global environmental change, v. 48,
p. 206-215, 2018.
RYSCHAWY, J., MARTIN, G., MORAINE, M.,
DURU, M., & THEROND, O. Designing crop–livestock
integration at different levels: Toward new agroecological
models?. Nutrient Cycling in Agroecosystems, v. 108, p.
5-20, 2017.
SANTOS, H.G.; JACOMINE, P. K. T.; ANJOS, L.
H. C.; OLIVEIRA, V. A.; LUMBRERAS, J. F.; COELHO,
M. R; ALMEIDA, J. A.; ARAÚJO FILHO, J. C.; OLIVEIRA,
J. B.; CUNHA, T. J. F.; Latossolos. In: _____ Sistema
Brasileiro de Classificação de Solos. 5. Ed. Brasília
:Brasília: Embrapa. 2018. Cap. 10 p. 195 – 199.
THORNTHWAITE, C. W.; An approach toward a
rational classification of climate, Geographical review.
V. 38. N. 1. P. 55-94. 1948.
VALANI, G. P.; MARTÍNI, A. F.; SILVA, L. F. S.; BOVI,
R. C.; COOPER, M. Soil quality assessment in integrated
crop-livestock-forestry systems: a review. Soil Use and
Management, v. 37, n. 1, p. 22-36, 2021.
Wolfinger R (1993) Covariance structure
selection in general mixed models. Commun
Stat Simul Comput 22:1079–1106. https://doi,o
rg/10,1080/03610919308813143
Fitotecnia 169
CLUBE DE REVISTAS
DESEMPENHO PRODUTIVO DE
HÍBRIDOS DE MILHO CULTIVADOS
NA SEGUNDA SAFRA
LIMA1, Diego Tolentino, TAVARES2, Rose Luiza O milho pode ser cultivado na primeira safra, bem
Moraes, PAIVA3, Lucas Barros; BORDIGNON3, João como na segunda (também conhecida como safrinha),
Guilherme Queiroz possibilitando maior disponibilidade do grão no mercado
durante todo o ano. Das quase 130 milhões de toneladas
de grão de milho desta safra estimadas pela CONAB
1
Eng. Agrônomo, Dr. em Agronomia, Pesquisador (2023), 100 milhões são das lavouras de segunda safra,
Agronômico em Entomologia do Centro
Tecnológico COMIGO. Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: na qual houve um incremento de 4,5% em área plantada
[email protected] (17,1 milhões de hectares) e 11,6% de produtividade (5,8
2
Eng.a Agrônoma, Dra. em Engenharia Agrícola, toneladas por hectare). Essa estimativa de 100 milhões
Professora da Universidade de Rio Verde (UniRV). Rio
Verde, GO, Brasil. E-mail: [email protected] de toneladas na segunda safra corresponde a um
3
Graduando em Agronomia - Universidade aumento de 16,6% em relação a última safra, já as 130
de Rio Verde (UniRV). Rio Verde, GO, Brasil. milhões de toneladas estimadas da produção total reflete
E-mail: [email protected];
[email protected] em aumento de aproximadamente 15% (CONAB, 2023).
De acordo com a CONAB (2023), no sudoeste
goiano, principal região produtora do estado, as chuvas
tardias e baixas temperaturas ocorridas, entre junho e
INTRODUÇÃO julho, também atrasaram a perda de umidade dos grãos
e o ritmo da colheita. Por outro lado, estas precipitações
O milho (Zea mays) é uma importante espécie favoreceram o enchimento de grãos das lavouras mais
cultivada no Brasil, por deter alto teor nutritivo, pode tardias e propiciaram o aumento nas estimativas de
ser destinada à fabricação de diversos produtos produtividades médias na região.
para alimentação humana, animal, bem como para No mercado atual existe grande número de híbridos
a produção de biocombustíveis, além do país ser um de milho, por volta de 90% das áreas cultivadas no Brasil
dos grandes exportadores do cereal. Diante disso, são provenientes de sementes híbridas, especialmente
essa cultura possui grande importância econômica híbridos simples e triplos, uma vez que apresentam
para o país, sendo o terceiro maior produtor de milho maiores produtividades e uniformidade (SOUZA, 2018).
em quantidade e em área plantada, ficando atrás É essencial que durante o período de crescimento e
apenas dos Estados Unidos e da China (USDA, 2021). desenvolvimento do milho, haja disponibilidade hídrica,
170 Fitotecnia
CLUBE DE REVISTAS
temperatura, fotoperíodo favorável, fertilidade do solo em segunda safra, em sucessão a soja, verificando
adequada, manejo adequado de doenças e insetos- assim, a produtividade final de grãos.
pragas, pois são requisitos que contribuirão para altas
produtividades. MATERIAL E MÉTODOS
Desse modo, se faz fundamental possuir
conhecimento a respeito da qualidade do material O experimento foi conduzido em condições de
utilizado, conhecer as características agronômicas e campo, na área experimental da Fazenda Monte Alegre,
produtivas dos híbridos de milho, visto que influenciará da Cooperativa COMIGO, localizada no município de
diretamente na produtividade final. As culturas Rio Verde – GO (S 17°33'14.8" O 50°58'44.1", altitude
quando cultivadas em condições edafoclimáticas média de 790 metros). O solo da área é caracterizado
ideais, tendem a expressar seu total potencial. Assim, como Latossolo Vermelho Distrófico (SANTOS et al.,
conhecer os melhores híbridos para a região de cultivo, 2018). Em área colhida anteriormente com soja foi
em especial o estado de Goiás é aconselhado para realizada a semeadura dos híbridos, listados na Tabela
auxiliar o produtor na tomada de decisão, garantindo 1, no dia 14 de fevereiro de 2023. A maioria dos híbridos
melhores produtividades (COSTA et al., 2019). recebeu tratamento industrial padrão da empresa e os
O objetivo do presente trabalho foi avaliar demais foram tratados com CropStar, na dose de 1,5 L
o desempenho de diferentes híbridos de milho para 100 kg de sementes.
disponíveis no mercado, em condições de semeadura
Fitotecnia 171
CLUBE DE REVISTAS
Tabela 1. Híbridos de milho e população de plantas no estabelecimento da cultura. Fazenda Monte
Alegre, Centro Tecnológico COMIGO (CTC), Rio Verde- GO, safra 2022/2023.
172 Fitotecnia
CLUBE DE REVISTAS
aplicação de inseticidas para o controle de lagarta-do- Os grãos foram trilhados e secos, e a produtividade por
cartucho (Spodoptera frugiperda), com uma aplicação hectare foi calculada tendo em conta a umidade padrão
de 1,5 L ha-1 de Regio + 0,1 L ha-1 de Premio. de 13%, bem como a medida da saca de 60kg de grãos.
Aos 30 dias após a semeadura, foi avaliada Por fim, os dados de produtividade foram submetidos
a população de plantas (Tabela 1), na qual foram a análise de variância (ANOVA) pelo teste F. No caso, o
escolhidos de forma aleatória em cada híbrido um efeito dos tratamentos foi significativo, assim as médias
ponto por parcela, contabilizando o número de plantas foram comparadas pelo teste de Scot-Knott (P<0,05),
em três linhas de três metros. Com 147 dias após a pelo software SISVAR (FERREIRA, 2014).
semeadura (11/07/23) alguns híbridos começaram a
apresentar umidade dos grãos próximo a 13%, e a partir RESULTADOS E DISCUSSÃO
daí a umidade dos grãos foi medida duas vezes por
semana para cálculo do ciclo (dias até atingir 13% de A produtividade média de grãos dos híbridos de
umidade dos grãos) de cada um dos híbridos. A fazenda milho no presente trabalho foi de 114,5 sacas ha-1. Os
possui estação meteorológica própria (Plugfield), híbridos que obtiveram maiores produtividades foram:
para registro de dados climáticos. O experimento foi B2800 VYHR, B2360 PWU, AG3500 RR, AG8480 PRO4,
instalado próximo à estação e os dados de precipitação B2401 PWU, AG8700 PRO4, SYN555 VIP3, AG8600
foram coletados para o presente trabalho. PRO4 e AG8701 PRO4, com média de 126,78 sacas ha-1.
A colheita dos híbridos de milho foi realizada Quanto aos que apresentaram menores produtividades,
no dia 02/08/2022 (169 dias após a semeadura). A se enquadram B2620 PWU, NK511 VIP3, AG3510 RR,
produtividade foi obtida em dois pontos aleatórios NK520 VIP3, STATUS VIP3, AG8088 PRO2, FEROZ VIP3
dentro da parcela útil e em cada ponto foram colhidas e AG7098 TER, com média de aproximadamente 100,70
três linhas de semeadura com três metros de sacas ha-1 (Figura 1).
comprimento, totalizando nove metros em cada ponto.
Fitotecnia 173
CLUBE DE REVISTAS
140 133
126 127 129 129 130
122 122
120 118
109 110 112
105
Produtividade (saca ha )
95 96
-1
100
87 88
b a a a a a a
80 b b b b b b b b a a a
60
40
20
0
U
AG RO ER
51 RR
U
B2 60 P R
HR
NK S 2
AG 0 V 3
4
AG 55 O4
ST 88 P3
B2 PR 3
AG 401 O4
B2 500 4
NK 510 3
AG 620 IP3
U O
RO
52 IP
00 IP
3 IP
R
87 PW
84 PW
80 W
I
AT PR
86 PR
N PR
T
VY
V
80 V
87 5 V
B2 1 V
AG P
FE 98
Z
AG 01
SY 0
80
0
70
3
0
3
AG
Figura 1. Produtividade dos diferentes híbridos de milho cultivados na segunda safra. Fazenda
Monte Alegre, Centro Tecnológico COMIGO - CTC. Rio Verde - GO, safra 2022/23. Coeficiente de
variação (C.V.) = 12,84%. Médias seguidas por letras iguais, não diferem entre si pelo teste de
Scott-Knott (p<0,05).
174 Fitotecnia
CLUBE DE REVISTAS
180
167 167 167 167 169 169 167
164 164
160 157 157
153 153 153
147 147 147
140
120
Ciclo (dias)
100
80
60
40
20
0
86 PR U
AG 0 P U
VY U
NK US 2
NK 51 3
8 0P 3
SY 00 O4
87 5 V 4
84 1 P 4
B2 500 4
ST 88 IP3
AG 20 P3
B2 0 P 3
HR
80 Z V R
51 RR
B2 60 R
3 VIP
AG 62 VIP
IP
O
AG 55 RO
AG 40 O
3 RO
AG 701 W
8 W
80 W
AG RO TE
R
5 I V
AT PR
P
0
N P
B2 1
FE 98
0
70
3
AG
Figura 2. Ciclo (dias), para atingir naturalmente 13% de umidade nos grãos, dos diferentes híbridos
de milho cultivados na segunda safra. Fazenda Monte Alegre, Centro Tecnológico COMIGO - CTC.
Rio Verde - GO, safra 2022/23.
A maioria (66,67%) dos híbridos tardios, com de produção, houve disponibilidade hídrica de 153,9
mais de 160 dias de ciclo (NK511 VIP3, NK520 VIP3, mm. Todavia no mês seguinte, em abril, choveu apenas
STATUS VIP3, AG8088 PRO2, FEROZ VIP3 e AG7098 58,2 mm, período no qual iniciou o pendoamento-
TER), ficaram no grupo dos menos produtivos. As espigamento, momento esse em que a cultura possui
exceções foram B2800 VYHR, AG8480 PRO4 e SYN555 alta sensibilidade ao estresse hídrico, seguindo os
VIP3 que ficaram no grupo dos mais produtivos (Figura meses de maio, junho e julho com 19,8 mm (porém sem
1). nenhuma chuva significativa, acima de 10,0 mm).
De acordo com o registro pluviométrico (Figura Segundo Doorenbos e Kassan (1994), as
3), o mês de fevereiro no qual ocorreu a semeadura maiores produções observadas na cultura do milho
dos híbridos, houve precipitação de 285,0 mm, porém ocorrem com consumos de água variando entre 500 e
após a semeadura no dia 14/02/23 houve somente 800 mm, em todo o ciclo da cultura. A precipitação total
99,6 mm deste total. Referente ao mês de março, logo registrada durante o ciclo da lavoura experimental foi de
no início, o milho estava no estágio V3, compreendido 331,5 mm. Como visto, houve uma redução significativa
no momento em que ocorre a definição do potencial na disponibilidade hídrica, desse modo, a produtividade
Fitotecnia 175
CLUBE DE REVISTAS
média pode ter sido afetada negativamente. Além hídrico (período de pendoamento-espigamento), após
disso, em 15 de abril todos híbridos já pendoados e esse período choveu apenas 17,0 mm dos apenas 58,2
com espigas formando, o período crítico a estresse mm totais do mês de abril.
350
300
250
Precipitação (mm)
200
150
100
50
0
Fev Mar Abr Mai-Jul TOTAL
Figura 3. Registro pluviométrico (chuvas – mm) no período do experimento. Fazenda Monte Alegre,
Centro Tecnológico COMIGO - CTC. Rio Verde - GO, safra 2022/23. Fonte: Estação Meteorológica
instalada na própria fazenda (Plugfield). *Dados de Fevereiro contabilizados somente após a
semeadura em 14/02/23.
Assim, é fundamental que o produtor tenha Porém ainda assim os riscos vão ocorrer. No
conhecimento das condições climáticas favoráveis presente experimento, os híbridos foram cultivados
para a implantação da lavoura, optar por híbridos na janela de plantio ideal para o milho segunda safra,
com as melhores características para seu sistema período compreendido na região do sudoeste goiano,
produtivo e buscar realizar o melhor manejo do solo, entre janeiro e fevereiro, visando melhores condições
adubação, controle de insetos pragas e doenças que climáticas durante os estágios de desenvolvimento
podem afetar o desenvolvimento da cultura ao longo da cultura. Mas, como discutido, faltou chuva em
de seu ciclo. É essencial realizar o planejamento momentos determinantes do potencial produtivo
do milho segunda safra desde o início do cultivo da da lavoura, especificamente na propriedade onde o
cultura de verão, visando liberar a área o mais cedo trabalho foi conduzido, o que provavelmente reduziu
possível, reduzindo os riscos de perdas por estresse as médias em relação às observadas de forma geral
hídrico. na região (CONAB, 2023).
176 Fitotecnia
CLUBE DE REVISTAS
DOORENBOS, J.; KASSAM, A. H. Efeito da
CONSIDERAÇÕES FINAIS
água no rendimento das culturas. Campina
Grande: UFPB, 1994. 306p. Estudos FAO. Irrigação e
Diversos fatores podem influenciar na média
Drenagem, 33.
de produtividade final, como visto, condições
FERREIRA, D. F. Sisvar: a guide for its bootstrap
edafoclimáticas como a disponibilidade hídrica, no
procedures in multiple comparisons. Ciência e
qual pode afetar as atividades fisiológicas da planta,
Agrotecnologia, v.38, n.2, p. 109-112, 2014.
interferindo diretamente no acúmulo de matéria
SANTOS, H.G.; JACOMINE, P.K.T.; ANJOS,
seca produção e produção de grãos. Portanto, nas
L.H.C.; OLIVEIRA, V.A.; LUMBRERAS, J.F.; COELHO,
condições do presente experimento, os híbridos
M.R.; ALMEIDA, J.A.; CUNHA, T.J.F.; OLIVEIRA, J.B.
que obtiveram maiores produtividades foram: B2800
Sistema brasileiro de classificação de solos.
VYHR, B2360 PWU, AG3500 RR, AG8480 PRO4,
Centro Nacional de Pesquisa de Solos. 5 ed. Brasília:
B2401 PWU, AG8700 PRO4, SYN555 VIP3, AG8600
Embrapa Produção de Informação; Rio de Janeiro:
PRO4 e AG8701 PRO4, com média de 126,78 sacas
Embrapa Solos. 2018. 588 p.
ha-1. E com menores produtividades, B2620 PWU,
SOUZA JR., C. L. Seleção Recorrente. In:
NK511 VIP3, AG3510 RR, NK520 VIP3, STATUS VIP3,
DELIMA, R. O.; BORÉM, A. Melhoramento de Milho.
AG8088 PRO2, FEROZ VIP3 e AG7098 TER, média de
Viçosa, MG: Editora UFV, 2018, 1 ed, 295-306.
100,70 sacas ha-1.
USDA. UNITED STATES DEPARTMENT
OF AGRICULTURE, 2021. Word Agricultural
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Procuction-Foreign Agricultural Service/ USDA,
march/2021. <://usda.library.cornell.edu/concern/
BERGAMASCHI, H.; DALMAGO, G.A.; G.A.;
publications/5q47rn72z?locale=em>. Acessado em:
COMIRAN, F.; BERGONCI, J.I.; MULLER, A.; FRANÇA,
15 de agosto de 2022.
G.S.; SANTOS, A. O.; RADIN, B.; BIANCHI, C.A.M.;
PEREIRA, P.G. Déficit hídrico e produtividade na
cultura do milho. Pesquisa agropecuária Brasileira,
v. 41, n.2, p.243-249, 2006.
CONAB. Companhia Nacional de
Abastecimento. 11º Levantamento - Safra 2022/23.
Disponível em: <https://www.conab.gov.br/info-agro/
safras/graos/boletim-da-safra-de-graos>. Acesso
em: 20 ago. 2023.
COSTA, R. V.; CAMPOS, L. J. M.; ALMEIDA, R. E.
M.; PEREIRA, L. A. O. A.; COTA, L. V.; SILVA, D. D. da;
BERNARDES, F P.; AMORIM, F. R. Comportamento
de híbridos de milho na safrinha em Tocantins. Sete
Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, 2019. (Embrapa
Milho e Sorgo. Circular Técnica, 258).
Fitotecnia 177
CLUBE DE REVISTAS
DESEMPENHO AGRONÔMICO DE
HÍBRIDOS DE SORGO GRANÍFERO
EM DUAS ÉPOCAS DE SEMEADURA
BRAZ1, Guilherme Braga Pereira; LIMA2, Diego que o torna importante contribuinte para a economia
Tolentino de; FERNANDES3, Rafael Henrique; agrícola local. O cultivo do sorgo em Goiás tem ganhado
SILVA4, Linconl Lima; DELGADO5, Vanderson destaque devido a sua boa adaptação às condições
Aparecido Diego; FERREIRA6, Camila Jorge
edafoclimáticas da região, por apresentar tolerância ao
Bernabé
estresse hídrico, além da sua capacidade de crescimento
em solos contrastantes e menores custos de produção
1
Engenheiro agrônomo, Doutor em Agronomia.
Pesquisador Agronômico no Centro Tecnológico comparado a cultura do milho (BUFFARA et al., 2018).
COMIGO (CTC). E-mail: [email protected]. Apesar da crescente demanda pelo cultivo de sorgo no
br 2 Engenheiro agrônomo, Doutor em Agronomia. país, ainda existem muitas dúvidas quanto a adequações
Pesquisador Agronômico no Centro Tecnológico
COMIGO (CTC). E-mail: [email protected]. para garantir maior rendimento da cultura na época de
br 3 Engenheiro agrônomo, Doutor em Fitotecnia. segunda safra (safrinha), sendo necessário definir, entre
Pesquisador Agronômico no Centro Tecnológico outras técnicas, a adequação da época de semeadura e
COMIGO (CTC). E-mail: : rafaelhenrique@comigo.
a escolha do híbrido de sorgo.
com.br 4 Discente de graduação da Faculdade de
Agronomia do Instituto Federal Goiano (IFGoiano), Em Goiás, o cultivo do sorgo é uma prática
campus Rio Verde. Estagiário no Centro Tecnológico frequentemente adotada em período de safrinha após a
COMIGO (CTC). E-mail: [email protected]
colheita da soja. O momento ideal para semear o sorgo
5
Discente de graduação da Faculdade de Agronomia
da Universidade de Rio Verde (UniRV). Estagiário granífero nessa região é determinado por múltiplos
no Centro Tecnológico COMIGO (CTC). E-mail: fatores, incluindo as condições climáticas e o cronograma
[email protected]
de semeadura das safras anteriores (FERREIRA et al.,
6
Engenheira agrônoma. Doutora em Agronomia.
Professora na Universidade de Rio Verde. E-mail: 2020). Embora o sorgo tenha uma boa capacidade de
[email protected] se adaptar a condições de menor disponibilidade de
água, é essencial sua implantação em épocas mais
antecipadas para assegurar que a demanda hídrica da
INTRODUÇÃO cultura seja atendida durante o seu ciclo de crescimento,
em especial nas fases de florescimento e formação dos
O Estado de Goiás é o maior produtor de sorgo grãos, as quais são especialmente sensíveis à falta de
granífero no Brasil, representando aproximadamente água. Neste sentido, a definição da época de semeadura
35% da produção nacional (CONAB, 2023), fato mais adequada é fator limitante ao seu desenvolvimento.
178 Fitotecnia
CLUBE DE REVISTAS
Além da época de semeadura, a seleção de no município de Rio Verde (GO) (S 17°45'42" O 51°02'09",
híbrido de sorgo apropriado é fundamental para altitude de 827 m). Em cada experimento foi avaliado o
o sucesso do seu cultivo. No estado de Goiás, os desempenho produtivo de híbridos de sorgo granífero,
agricultores devem avaliar uma série de fatores, variando entre estes a época de semeadura, onde a
incluindo condições climáticas, qualidade do solo e primeira e segunda época de semeadura ocorreram
características desejadas, a fim de tomar decisões sobre em 14/03/2023 e 29/03/2023, respectivamente.
qual híbrido de sorgo cultivar (STARCHAK et al., 2022). O clima de Rio Verde é classificado como B4
Um dos principais fatores preponderantes ao optar rB’4a’, o qual se caracteriza como úmido, de pequena
por um híbrido de sorgo incluem a adaptação deste às deficiência hídrica, mesotérmico e evapotranspiração
condições climáticas, o que deve ser conciliado com a no verão menor que 48% da evapotranspiração anual
escolha da época de semeadura mais adequada. (THORNTHWAITE, 1948). Os dados climatológicos
Neste sentido, este trabalho teve como objetivo relacionados a temperatura máxima e mínima do
avaliar o desempenho agronômico de híbridos de sorgo ar e precipitações durante o período de condução
em diferentes épocas de semeadura. dos experimentos estão apresentados na Figura 1.
É oportuno destacar que o volume de precipitação
MATERIAL E MÉTODOS acumulado durante o ciclo do sorgo, para a primeira e
segunda época de semeadura, foi de 198 e 125 mm,
Foram conduzidos dois experimentos na área respectivamente, havendo maiores concentrações de
experimental do Centro Tecnológico COMIGO sediada chuvas durante os primeiros meses de implantação dos
experimentos.
Fonte: INMET - Ins�tuto Nacional de Meteorologia. Estação de coleta: Rio Verde (GO).
Figura 1. Temperaturas máxima e mínima e precipitações observadas durante o período de condução dos
experimentos. Rio Verde (GO), 2023.
Fitotecnia 179
CLUBE DE REVISTAS
A área em que os experimentos foram instalados Turbo (ureia + NBPT).
haviam sido cultivadas com soja na safra de verão. O solo Em ambos os experimentos, o delineamento
de ambas as áreas experimentais foi classificado como utilizado foi o de blocos ao acaso (DBC), avaliando-se
Latossolo Vermelho Distrófico (SANTOS et al., 2018). sete tratamentos com três repetições. Os tratamentos
Antes da semeadura da soja nas áreas experimentais, foram compostos por diferentes híbridos de sorgo
foi realizada a análise de amostras do solo coletadas na granífero, os quais apresentam recomendação para
profundidade de 0 a 20 cm, a qual revelou as seguintes o cultivo em segunda safra no Estado de Goiás. Os
propriedades físico-químicas para a primeira época de híbridos avaliados foram AG1070, AG1077 e AG1085,
semeadura: pH em CaCl2 de 5,11; 3,19 cmolc dm-3 de H+ pertencentes ao portfólio da Sementes Agroceres,
+ Al+3; 2,11 cmolc dm-3 de Ca+2; 0,55 cmolc dm-3 de Mg+2; 1G100 e 1G211, pertencentes ao portfólio da Brevant,
104,39 mg dm-3 de K; 9,31 mg dm-3 de P; 25,60 g dm-3 de e ADV1151 IG e ADV1277 AX, pertencentes ao
M.O.; 37,62% de areia; 6,96% de silte e 55,42% de argila; portfólio da ADVANTA. As unidades experimentais
e segunda época de semeadura: pH em CaCl2 de 5,36; foram compostas por seis linhas de semeadura, com
2,51 cmolc dm-3 de H+ + Al+3; 3,10 cmolc dm-3 de Ca+2; comprimento de 5,0 m (15,0 m2). Considerou-se como
0,83 cmolc dm-3 de Mg+2; 130,74 mg dm-3 de K; 17,02 mg área útil para as avaliações apenas as seis linhas
dm-3 de P; 25,30 g dm-3 de M.O.; 52,03% de areia; 9,00% centrais de cada unidade experimental, excluindo-se
de silte e 38,97% de argila. 0,5 m de cada extremidade.
Para eliminar as plantas daninhas emergidas Durante o desenvolvimento do sorgo foram
nas áreas experimentais, imediatamente após a realizados tratos culturais de acordo com as
semeadura de cada experimento foi realizada aplicação recomendações técnicas, procedendo ao controle
da mistura entre os herbicidas glifosato (1400 g e.a. de plantas daninhas, pragas e doenças sem deixar
ha-1) + atrazina (1000 g i.a. ha-1) + Iharol Gold® (300 mL que estes influenciassem negativamente no
p.c. ha-1). Em ambos os experimentos, a semeadura desenvolvimento da cultura. Para o controle de plantas
direta foi realizada de forma mecanizada, adotando- daninhas, foi realizada aplicação em pós-emergência
se espaçamento entrelinhas de 0,5 m e densidade de do sorgo do herbicida atrazina (1500 g i.a. ha-1) + Iharol
10,5 sementes por m. As sementes foram tratadas com Gold® (300 mL p.c. ha-1) aos 20 dias após a emergência
o inseticida CropStar (1,0 L p.c. 100 kg-1 de sementes). da cultura. Para o controle de pragas e manchas
A adubação de semeadura foi realizada com 400 kg foliares foi realizada uma aplicação da mistura entre o
ha-1 do formulado 15-15-15. Ademais, no momento da inseticida Wild (0,5 L p.c. ha-1) e o fungicida Orkestra +
semeadura foram aplicados no sulco via micron (volume Unizeb Gold (0,35 L + 1,5 kg p.c. ha-1), adicionando-se
de aplicação 60 L ha-1) o Biomax Azum (Azospirillum o óleo vegetal Mees (0,5 L p.c. ha-1) aos 35 dias após a
brasilense, concentração mínima 3,0 x 108 UFC mL-1) na emergência da cultura.
dose de 0,15 L p.c. ha-1 + Meta-Turbo SC (Metarhizium Para mensurar o desempenho produtivo
anisopliae IBCB425, concentração mínima de 1,0 x 108 dos híbridos de sorgo granífero para a primeira e
propágulos viáveis mL-1) na dose de 0,5 L p.c. ha-1 + segunda época de semeadura, nos dias 31/07/2023 e
RayNitro Zn News (83,3 g L-1 de N, 83,3 g L-1 de P2O5 e 04/08/2023, respectivamente, foi realizada a colheita
47,6 g L-1 de Zn) na dose de 0,25 L p.c. ha-1. A adubação manual de todas as panículas presentes na área útil
de cobertura foi realizada com 150 kg ha-1 de Ureia de cada unidade experimental, onde posteriormente
180 Fitotecnia
CLUBE DE REVISTAS
este material foi submetido aos processos de trilha,
embalagem, identificação, pesagem e correção da
umidade dos grãos para 13%. A análise estatística foi
realizada com o programa computacional SISVAR. Os
dados foram submetidos à análise de variância pelo
teste F (p≤0,05) e, quando houve efeito significativo,
aplicou-se o teste de comparação de médias LSD de
Fisher (p≤0,05).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Fitotecnia 181
CLUBE DE REVISTAS
Para o experimento instalado na segunda época da cultura, considerando a produtividade dos sete
de semeadura, período no qual é considerado tardio em híbridos avaliados, verificou-se decréscimo médio
termos de implantação da cultura do sorgo no Estado de 24 sacas ha-1 devido à semeadura tardia, havendo
de Goiás (29/03/2022), observou-se comportamento reduções em valores variando de 7 a 45 sacas ha-1
de redução na produtividade de grãos quando se a depender do material. A redução nos patamares
comparou o desempenho produtivo isolado de cada produtivos de todos os híbridos de sorgo é explicada
híbrido de sorgo entre as épocas de semeadura (Figura pela menor disponibilidade hídrica na segunda época
2). Para se ter uma noção da redução no rendimento de semeadura (125 mm).
de grãos de sorgo em função da época de implantação Acerca do desempenho produtivo dos híbridos
182 Fitotecnia
CLUBE DE REVISTAS
na segunda época de semeadura, observou-se
CONCLUSÕES
que AG1077 e 1G100 apresentaram produtividade
superior em comparação com o AG1085 (Figura
Independentemente da época de semeadura,
2). Diferentemente do observado para a primeira
se for levado em consideração o volume de chuvas
época de semeadura, neste segundo experimento,
durante o período de condução dos experimentos,
os patamares produtivos dos híbridos ADV1151 IG e
contata-se que os híbridos de sorgo apresentam
ADV1277 AX ficaram mais próximos dos materiais que
patamares produtivos satisfatórios (1ª época
compuseram o grupo de tratamentos com maiores
produtividades variando de 86 e 119 sacas ha e 2ª -1
Fitotecnia 183
CLUBE DE REVISTAS
FERREIRA, R.V.; TAVARES, R.L.M.; MEDEIROS,
S.F.D.; SILVA, A.G.D.; JÚNIOR, J.P.D.S. Carbon stock
and organic fractions in soil under monoculture and
sorghum bicolor–urochloa ruziziensis intercropping
systems. Bragantia, v.79, n.3, p.425-433, 2020.
SILVA, L.L.; ALMEIDA, D.P.; LIMA, D.T.;
FERNANDES, R.H. Diferentes épocas de semeadura de
híbridos de sorgo na 2ª safra do ano agrícola 2021/22:
Produtividade de grãos. Anuário de Pesquisas
Agricultura: 2a Safra - 2021/2022, Centro Tecnológico
COMIGO, v.5, n.2, p.84-94, 2022.
STARCHAK, V.I.; STEPANCHENKO, D.;
MATVIENKO, E. Use of factor analysis in grain sorghum
breeding. BIO Web of Conferences, v.43, e.01020, p.1-
10, 2022.
THORNTHWAITE, C.W. An Approach toward
a Rational Classification of Climate. Geographical
Review, v. 38, n 1., p. 55-94, 1948.
184 Fitotecnia
CLUBE DE REVISTAS
Plantas
Daninhas
Entomologia 185
CLUBE DE REVISTAS
DESEMPENHO AGRONÔMICO DE
CULTIVARES DE SOJA SUBMETIDAS
A APLICAÇÃO DE HERBICIDAS
RESIDUAIS EM DIFERENTES
MODALIDADES
Fonte: INMET - Ins�tuto Nacional de Meteorologia. Estação de coleta: Rio Verde (GO).
Figura 1. Temperaturas máxima e mínima e precipitações observadas durante o período de
Figura 1. Temperaturas máxima e mínima e precipitações observadas durante o período de
condução dos experimentos. Rio Verde (GO), 2022/2023.
O solo da área experimental é classificado como utilizadas nos experimentos foram: HO Iguaçu IPRO
Latossolo Vermelho Distrófico (Santos et al., 2018). (GMR: 6.4; 18 sementes m-1), HO Corumbá IPRO
Antes da instalação dos experimentos, foi realizada a (GMR: 6.7; 16 sementes m-1), ST 700 I2X (GMR: 7.0; 16
análise de amostras do solo coletadas na profundidade sementes m-1), NS 7474 IPRO (GMR: 7.4; 12 sementes
de 0 a 20 cm, a qual revelou as seguintes propriedades m-1), HO Aporé IPRO (GMR: 7.5; 16 sementes m-1), CZ
físico-químicas: pH em CaCl2 de 5,3; 2,31 cmolc dm-3 de 37B43 IPRO (GMR: 7.4; 16 sementes m-1), M 7601 I2X
H+ + Al+3; 2,73 cmolc dm-3 de Ca+2; 0,79 cmolc dm-3 de (GMR: 7.6; 12 sementes m-1), HO Maracaí IPRO (GMR:
Mg+2; 153,70 mg dm-3 de K; 8,45 mg dm-3 de P; 23,80 g 7.7; 12 sementes m-1) e BMX Bônus IPRO (GMR: 7.9;
dm-3 de M.O.; 47,61% de areia; 16,61% de silte e 35,77% 12 sementes m-1). Todas as sementes utilizadas nos
de argila (textura argilo-arenoso). experimentos receberam tratamento industrial com
O controle das plantas daninhas (dessecação fungicidas e inseticidas, bem como foi realizada a
de pré-semeadura) presentes na área experimental foi prática de inoculação visando assegurar o processo
realizado com duas aplicações de herbicidas, sendo de fixação biológica de nitrogênio. Visando realizar a
a primeira realizada quinze dias antes da semeadura prática de adubação da cultura, foi aplicado à lanço em
com a aplicação de glifosato (1400 g e.a. ha ) + 2,4-D
-1
área total o equivalente a 200 kg ha-1 de KCl + 20 kg ha-1
amina (804 g e.a. ha-1) e a segunda realizada no dia da de ulexita + 25 kg ha-1 de Mix Complex. No momento
semeadura, com a aplicação de diquat (400 g i.a. ha-1) + da semeadura, a adubação foi realizada com aplicação
Ochima (400 mL p.c. ha ).
® -1
no sulco do equivalente à 250 kg ha-1 de 10-46-00 +
Para todos os experimentos, a semeadura direta 9% de S. A emergência das plântulas de soja das nove
foi realizada de forma mecanizada no dia 25/10/2022, cultivares ocorreu no dia 01/11/2022.
adotando-se espaçamento entrelinhas de 0,5 m. As Em todos os experimentos, o delineamento
cultivares de soja, o grupo de maturidade relativa utilizado foi o de blocos ao acaso (DBC), avaliando-
(GMR) e as respectivas densidades de semeadura se dez tratamentos com quatro repetições (Tabela
A primeira aplicação dos tratamentos nos 63,4%, respectivamente, o céu estava com a presença
experimentos foi realizada em pré-emergência da de poucas nuvens e a velocidade do vento em valores
soja, na modalidade plante e aplique. Esta aplicação próximos de 1,8 km h-1.
foi realizada no dia 26/10/2022. No momento da As aplicações foram realizadas utilizando-se um
aplicação o solo apresentava-se com boa umidade e o pulverizador de pesquisa pressurizado por CO2 com
céu estava com a presença de poucas nuvens, estando patente junto ao INPI (BR 102016007565-3), montado
a temperatura, umidade relativa do ar e velocidade do em um trator (LS 60, 60 cv, Landini). A barra de aplicação
vento, mínima e máxima, em valores equivalentes a 27,4 foi equipada com dez pontas espaçadas 0,5 m entre si,
e 31,6oC, 53,6 e 72,4% e 0,8 e 2,6 km h-1, respectivamente. mantida a uma altura de 0,5 m da cobertura vegetal.
A segunda aplicação foi realizada em pós-emergência A pressão de trabalho nas pontas de pulverização de
da soja no dia 24/11/2022 (23 dias após a emergência jato duplo plano com indução de ar (ADIA/D 110015;
da soja). Nesta ocasião, as plantas de soja estavam Magnojet) foi de 300 kPa (43,5 psi) e o volume de
no estádio V3/V4 (cultivares tardias) e V4 (cultivares aplicação 150 L ha-1.
precoces), apresentando altura variando entre 15 e 20 Para eliminar possíveis interferências das falhas
cm. No momento da aplicação o solo encontrava-se no controle das plantas daninhas entre os herbicidas
com boa umidade, a temperatura e a umidade relativa avaliados influenciando nos resultados, e com o objetivo
do ar, mínima e máxima, eram de 24,3 e 24,5oC e 60,1 e de deixar as plantas de soja expostas apenas ao efeito
HO Iguaçu HO Corumbá ST 700 NS 7474 HO Aporé CZ 37B43 M 7601 HO Maracaí BMX Bônus
Plantas Daninhas
Dose
Tratamentos IPRO IPRO I2X IPRO IPRO IPRO I2X IPRO IPRO
(g ou L p.c. ha-1)
Estande (plantas por m)
Eddus (Pré) 2,5 17,25 14,83 15,94 10,00 13,44 15,39 11,97 10,47 10,77
Eddus (Pós) 2,0 16,94 14,30 14,61 9,75 14,75 15,89 11,67 10,27 13,47
Eddus (Pré/Pós) 2,5/2,0 18,08 14,55 15,36 9,58 13,61 15,30 12,16 10,36 12,74
Reator (Pré) 2,5 17,00 15,83 15,10 10,36 13,86 14,83 11,94 9,97 14,25
Reator (Pós) 2,0 17,94 16,75 14,89 9,72 13,94 14.67 12,27 9,97 13,69
Reator (Pré/Pós) 2,5/2,0 17,86 16,47 15,55 9,89 14,22 16,16 12,27 9,97 14,36
Kyojin (Pré) 0,3 17,44 14,16 14,77 9,94 13,55 14,41 12,11 9,41 13,47
Spider (Pré) 30 17,22 14,77 15,19 9,55 12,52 14,08 12,25 10,05 13,58
ZethaMaxx (Pré) 0,5 17,16 15,66 17,05 9,55 14,00 15,11 11,77 9,89 12,50
Testemunha - 17,94 15,33 14,66 9,11 13,30 15,28 12,00 10,27 12,55
FCalculado 1,40ns 1,96ns 2,10ns 0,71ns 2,31ns 1,44ns 1,46ns 1,35ns 1,93ns
CV (%) 4,17 8,37 6,67 8,13 5,68 7,05 2,89 5,16 11,50
Produtividade de grãos (sacas ha-1)
Eddus (Pré) 2,5 79,5 81,2 85,7 83,4 78,7 82,4 75,0 70,1 62,5
Eddus (Pós) 2,0 87,0 80,2 83,7 75,3 77,8 79,4 77,0 79,2 60,0
Eddus (Pré/Pós) 2,5/2,0 84,4 83,2 81,1 73,8 77,0 77,9 80,6 75,6 61,8
Reator (Pré) 2,5 80,1 74,5 77,8 79,0 76,8 72,4 82,3 74,2 66,1
Reator (Pós) 2,0 85,0 74,8 81,3 78,1 81,0 81,4 76,3 74,1 62,9
Reator (Pré/Pós) 2,5/2,0 84,9 80,7 82,3 82,4 82,1 75,3 77,3 71,8 61,3
Kyojin (Pré) 0,3 83,0 82,1 84,4 75,7 78,1 71,9 74,9 71,3 57,6
Spider (Pré) 30 81,1 86,8 79,3 77,1 77,9 79,1 82,5 71,8 60,4
ZethaMaxx (Pré) 0,5 81,3 87,4 76,0 75,1 81,3 71,7 79,2 80,1 63,4
Testemunha - 91,7 88,7 80,0 77,9 81,9 79,4 77,0 73,0 65,3
FCalculado 3,05ns 2,07ns 1,10ns 1,77ns 0,67ns 1,12ns 0,90ns 1,97ns 0,80ns
CV (%) 5,04 8,24 7,10 6,10 6,39 9,75 7,54 6,38 9,02
ns
Não significativo pelo teste F (p≤0,05).
CLUBE DE REVISTAS
CLUBE DE REVISTAS
Em relação à produtividade de grãos, de maneira (SANTOS et al., 2012). Neste sentido, ao optar-se pela
análoga aos resultados de estande de plantas, em prática de posicionar um herbicida residual em pós-
todas as cultivares de soja, nenhum dos tratamentos emergência (produtos à base de S-metolachlor ou
herbicidas proporcionou reduções nos valores desta clomazone), buscar rotacionar o ingrediente ativo que
variável (Tabela 2). Os resultados do presente trabalho foi utilizado em pré-emergência.
indicam que a seletividade dos tratamentos avaliados
indefere quanto ao material genético semeado CONCLUSÕES
(cultivar), bem como da modalidade de aplicação em
que os herbicidas foram posicionados, desde que Os níveis de fitointoxicação na soja decorrentes
sejam respeitadas as doses recomendadas em bula. da aplicação dos herbicidas foram baixos ou ausentes a
Comparando os resultados de produtividade depender do tratamento avaliado. A aplicação em pós-
entre as cultivares de soja, pode-se notar uma emergência da mistura formulada entre [fomesafen +
tendência de que as cultivares de grupo de maturação S-metolachlor] proporcionou injúrias às plantas de soja,
maior (tardias) apresentaram menores rendimentos em sendo estas caracterizadas como de baixa intensidade.
detrimento das mais precoces. Este comportamento Nenhum dos tratamentos herbicidas
não corrobora com os relatos descritos na literatura, proporcionou reduções no estande da soja,
nos quais, de maneira geral, cultivares com ciclo mais independentemente da cultivar avaliada.
extenso tendem a apresentar maiores patamares Todos os tratamentos herbicidas, nas doses e
produtivos (BIANCHI et al., 2010; MEOTTI et al., 2012). modalidades de aplicação avaliadas, apresentaram
Contudo, os resultados de produtividade entre as seletividade para as cultivares de soja.
cultivares de soja visualizados no presente trabalho
podem ser explicados pela época de semeadura REFERÊNCIAS
(25/10/2022), bem como distribuição pluviométrica ao
longo da condução dos experimentos (Figura 1), fato ALONSO, D.G.; CONSTANTIN, J.; OLIVEIRA JR.,
que acabou por favorecer os materiais mais precoces R.S.; SANTOS, G.; DAN, H.A.; OLIVEIRA NETO, A.M.
a não passarem por um período de veranico durante o Seletividade de glyphosate isolado ou em misturas para
desenvolvimento da cultura. soja RR em aplicações sequenciais. Planta Daninha,
Compilando os resultados dos experimentos, v.31, n.1, p.203-212, 2013.
verifica-se a viabilidade de uso de todos os tratamentos ALONSO, D.G.; CONSTANTIN, J.; OLIVEIRA JR.,
herbicidas nas combinações de doses e modalidades R.S.; ARANTES, J.G.Z.; CAVALIERI, S.D.; SANTOS, G.;
de aplicação avaliadas para o manejo de plantas RIOS, F.A.; FRANCHINI, L.H.M. Selectivity of glyphosate
daninhas na soja. É oportuno destacar que em relação tank mixtures for RR soybean. Planta Daninha, v.29,
aos tratamentos com a aplicação do mesmo herbicida n.4, p.929-937, 2011.
em pré e pós-emergência da soja, apesar da viabilidade BIANCHI, M.A.; FLECK, N.G.; LAMEGO, F.P.;
técnica de uso quanto a seletividade, recomenda-se AGOSTINETTO, D. Papéis do arranjo de plantas e
evitar a utilização desta prática, visto que por se tratar do cultivar de soja no resultado da interferência com
de herbicidas com atividade residual no solo, pode plantas competidoras. Planta Daninha, v.28, n.5, p.979-
haver riscos de carryover para culturas de safrinha 991, 2010.
RESIDUAL DE PICLORAM EM
NOVAS ÁREAS AGRÍCOLAS:
IMPACTOS, DETECÇÃO E MEDIDAS
PARA ATENUAÇÃO
Figura 1. Injúrias provocadas na soja pela presença de resíduos de herbicidas auxínicos no solo.
Os prejuízos oriundos das injúrias provocadas observados. Apenas para fins de elucidação da
pela presença dos resíduos de picloram na soja irão sensibilidade da soja ao picloram, em trabalho realizado
impactar no desenvolvimento morfofisiológico das no Centro Tecnológico COMIGO, com o intuito de
plantas e a depender da intensidade irá resultar na correlacionar a concentração deste herbicida no solo
incapacidade de produção de grãos nestas áreas. e a produtividade de diferentes cultivares, foi observado
Em condições de sintomatologia mais branda, devido que a cada 0,05 mg i.a. de picloram kg-1 de solo houve
às menores concentrações de picloram no solo, os uma redução na produtividade desta cultura em valores
prejuízos estarão relacionados a falhas no estande variando de 5,2 a 8,7 sacas ha-1, sendo a intensidade
da cultura, plantas com menor porte e índice de de perdas dependente da cultivar de soja plantada
área foliar e capacidade fotossintética reduzida. (Figura 2).
Independentemente do cenário, se há presença de
resíduos de picloram no solo disponíveis para absorção
das plantas, prejuízos na produtividade da soja serão
Além dos prejuízos diretos oriundos da presença poderá dar um direcionamento mais assertivo para
de picloram no solo, uma outra problemática relacionada identificar se uma área apresenta risco potencial para
ao uso deste herbicida refere-se ao fato de por vezes o cultivo de soja ou não devido a presença de resíduos
esta molécula não ser degradada mesmo após passar deste herbicida auxínico.
pelo trato intestinal de animais como bovinos (FERRELL A primeira metodologia que pode ser empregada
et al., 2017). Nesta situação, o animal se alimenta da para elucidar se um solo apresenta ou não risco de ter
pastagem na área em que houve histórico de aplicação resíduo de picloram refere-se a análise do histórico
do picloram e após o processo de digestão, ainda há de uso de herbicidas ao longo dos anos anteriores.
possibilidade de haver contaminação do esterco, fato Por meio do registro histórico de uso dos herbicidas
que inviabiliza a utilização deste resíduo para fins posicionados nas áreas de pastagem, torna-se possível
agrícola. identificar quais produtos comerciais foram aplicados,
doses, modalidade de aplicação e intervalo entre o
MÉTODOS PARA DETECÇÃO DE uso do herbicida e a possível época para implantação
Atualmente existem diferentes possibilidades soja em uma determinada área. A grande dificuldade
que podem ser empregadas com o objetivo de na adoção desta metodologia refere-se à organização
detectar se uma determinada área apresenta resíduo do produtor em termos de arquivar de forma correta
de picloram no solo. Apesar disto, ainda há gargalos todo o histórico de aplicação dos herbicidas aplicados
Figura 3. Modelo de caderno de campo para registro do histórico de uso de herbicidas em áreas
de pastagem.
Uma outra metodologia que pode ser empregada não sendo possível a extrapolação por todo o talhão.
visando identificar resíduos de picloram no solo refere- Tendo em vista que por vezes os produtos comerciais
se ao uso de plantas bioindicadoras, as quais devem à base de picloram são utilizados em aplicações
apresentar grande sensibilidade ao ingrediente ativo, localizadas, a metodologia de bioensaio pode não
pois desta forma será possível a visualização das injurias ser capaz de identificar reboleiras específicas com a
oriundas da ação do herbicida mesmo em dosagens presença do herbicida se a área amostrada não incidir
muito baixas. Para o herbicida picloram, constituem-se na área com histórico de aplicação.
como alternativas de espécies para serem utilizadas Por fim, nas últimas safras uma metodologia
nos bioensaios tomate, pepino, beterraba (SANTOS et que vem sendo empregada para a detecção de
al., 2013), feijão, e a própria soja (CARMO et al., 2008). resíduos de picloram no solo se constitui na técnica de
Entre os pontos positivos da adoção desta metodologia cromatografia líquida ou gasosa. Nesse procedimento
de detecção refere-se ao custo baixo para execução, analítico é possível quantificar a presença de picloram
sendo necessária apenas a aquisição das sementes no solo. Para que se aumente a precisão no uso desta
da espécie bioindicadora, além da rapidez na obtenção metodologia, é fundamental assegurar que a coleta do
dos resultados, visto que as injúrias oriundas da ação solo seja realizada de acordo com as recomendações
tóxica do picloram costumam aparecer poucos dias técnicas do laboratório, uma vez que este procedimento
após a emergência das plântulas. realizado de forma errônea poderá resultar em um erro
Em contraponto, a utilização do bioensaio ainda na interpretação.
apresenta alguns gargalos, como a não possibilidade Outro ponto importante em relação ao uso
de quantificação real da concentração de picloram no da cromatografia para mensuração dos resíduos de
solo, uma vez que se trata apenas de uma metodologia picloram no solo refere-se aos desafios na interpretação
qualitativa, para a qual constata-se se há ou não a analítica das amostras, uma vez que há situações em
presença do herbicida. Outro entrave em relação ao que a análise detecta a presença do herbicida (leitura
uso das espécies bioindicadoras refere-se ao fato de > que o limite de detecção), mas a concentração fica
que os resultados irão demonstrar o comportamento abaixo do limite de quantificação, cenário no qual
específico para a área em que foi realizado o bioensaio, não é possível ter uma segurança sobre a viabilidade
Após a demonstração dos impactos provocados sorgo há possibilidade de ter algum lucro num cenário
desta molécula no solo, no último tópico da presente Por fim, para as áreas em que foi constatado
que podem ser empregadas para atenuar os prejuízos concentrações foram baixas (valores < limite de
oriundos do uso deste herbicida em áreas pecuaristas detecção), uma possibilidade que tem sido estudada
antecedendo ao cultivo de soja. Como primeiro passo, pelo Centro Tecnológico COMIGO refere-se ao uso
sugere-se que antes da utilização dos produtos à base de cultivares com tolerância diferencial em termos de
de picloram, seja realizada uma análise minuciosa sensibilidade ao herbicida (Figura 1). Apesar de todas
acerca da possibilidade de migração ou não da área de as cultivares serem sabidamente sensíveis a presença
pecuária para o mercado de grãos, e mediante a esta de resíduos do picloram no solo, em situações que
MATERIAL E MÉTODOS
Fonte: INMET - Ins�tuto Nacional de Meteorologia. Estação de coleta: Rio Verde (GO).
Figura 1. Temperaturas máxima e mínima e precipitações observadas durante o período de condução dos
experimentos. Rio Verde (GO), 2019/2020 e 2022/2023.
O solo na área experimental foi classificado como cmolc dm-3 de H+ + Al+3; 3,86 cmolc dm-3 de Ca+2; 1,03
Latossolo Vermelho Distrófico (Santos et al., 2018). cmolc dm-3 de Mg+2; 164,7 mg dm-3 de K; 28,1 mg dm-3 de
Antes da instalação dos experimentos, foi realizada a P; 28,44 g dm-3 de M.O.; 50,39% de areia; 11,56% de silte
análise de amostras do solo coletadas na profundidade e 38,05% de argila (textura franco-argiloso).
de 0 a 20 cm, a qual revelou as seguintes propriedades Independentemente do ano agrícola, em
físico-químicas para o 1º ano agrícola: pH em CaCl2 todos os experimentos as unidades experimentais
de 5,77; 0,14 cmolc dm de H + Al ; 3,61 cmolc dm
-3 + +3 -3
foram compostas por seis linhas de semeadura, com
de Ca ; 1,28 cmolc dm de Mg ; 167,70 mg dm de K;
+2 -3 +2 -3
comprimento de 15,0 m (45,0 m2). Considerou-se como
42,52 mg dm-3 de P; 31,58 g dm-3 de M.O.; 58,00% de área útil para as avaliações apenas as quatro linhas
areia; 4,25% de silte e 37,75% de argila (textura argilo- centrais de cada unidade experimental, excluindo-
arenoso); e 2º ano agrícola: pH em CaCl2 de 5,75; 1,90 se 0,5 m de cada extremidade. Ademais, todas as
Umidade
Velocidade Precipitação acumulada
Data Intervalo Temperatura
do vento entre aplicação e semeadura Relativa do ar Solo
170 mm
1ª: 22/09/22 48 DAS 23,6oC 6,4 km h-1 80,6 % Úmido
109 mm
2ª: 30/09/22 40 DAS 25,2 C
o
3,6 km h-1
69,1 % Úmido
59 mm
3ª: 11/10/22 29 DAS 27,45 C
o
3,5 km h-1
74,1% Úmido
49 mm
4ª: 18/10/22 22 DAS 27,8oC 7,2 km h-1 48,7% Úmido
20 mm
5ª: 25/10/22 15 DAS 33,8oC 7,5 km h-1 65,1% Úmido
DAS = dias antes da semeadura
* Significa�vo*aSignifica�vo
5% de probabilidade pelo teste F. pelo teste F.
a 5% de probabilidade
Figura 2. Produ�vidade de grãos dade
Figura 2. Produ�vidade soja subme�da
grãos da soja asubme�da
aplicação adeaplicação
doses crescentes
de doses de diuron de diur
crescentes
Figura 2. Produtividade de grãos da soja submetida a aplicação de doses crescentes de diuron na
dessecação pré-semeadura da cultura. Rio Verde (GO), 2019/2020.
Tendo em vista que a mistura entre MSMA uma mistura contendo dois herbicidas, observando
+ diuron apresenta eficácia no controle de plantas as propriedades físico químicas da molécula MSMA,
daninhas, em especial sob populações de capim- a qual apresenta elevado valor de coeficiente de
pé-de-galinha entouceiradas e rebrotadas após adsorção, conforme já mencionado anteriormente,
roçada mecânica (ALMEIDA et al., 2022), aliado ao é possível inferir que as injúrias visualizadas nas
fato de que aparentemente em doses menores de plantas de soja são ocasionadas pelo efeito residual
diuron apresenta potencial de uso para manejo da do diuron no solo.
comunidade infestante em aplicações realizadas na Para ambas as cultivares de soja (CZ 37B43
entressafra, ainda há a necessidade de se determinar IPRO e M 7110 IPRO), não foram observadas diferenças
qual o melhor período entre aplicação da mistura de no estande de plantas (dados não apresentados),
MSMA + diuron e a semeadura de cultivares de soja. demonstrando que apesar de aplicações da mistura
entre MSMA + diuron mais próximas a data da
2º Ano agrícola: Período entre aplicação semeadura da soja incrementaram os níveis de
de MSMA + diuron e semeadura de cultivares de intoxicação, a ação fitotóxica dos herbicidas não
soja promoveu a redução na emergência da cultura ou
De maneira semelhante ao apresentado no até mesmo morte de plantas. Em contraponto, para
experimento realizado no 1º ano agrícola, para os produtividade de grãos, verifica-se que para ambas
experimentos do 2º ano agrícola, os sintomas de as cultivares, que a mistura entre MSMA + diuron
fitointoxicação da cultura foram caracterizados como (2370 + 1750 g i.a. ha-1) proporciona redução na
de baixa intensidade (dados não apresentados). produção da cultura à medida em que há diminuição
Novamente, visualizou-se plantas com leve clorose no intervalo entre aplicação dos herbicidas e a
no tecido foliar naqueles tratamentos em que houve semeadura da soja (Figura 3).
menor intervalo entre aplicação da mistura de MSMA
+ diuron e a semeadura da soja. Apesar de se tratar de
Com base nas equações ajustadas para de plantas daninhas em áreas onde não se pretende
ambas as cultivares, verifica-se redução de ≈ 1 saca fazer o cultivo em segunda safra. Para aplicações em
ha -1
para cada diminuição de quatro dias entre o período de entressafra é necessário aguardar um
intervalo de aplicação da mistura entre MSMA + acumulado de chuva de no mínimo 180 mm, aliado a
diuron e semeadura da soja. Para os tratamentos um intervalo de tempo de pelo menos 48 dias entre
com menor intervalo entre aplicação e semeadura aplicação e semeadura da soja, para assegurar que
da soja (15 DAS), as reduções na produtividade de o residual imposto pelos herbicidas não afete o
grãos em comparação com os valores obtidos com desenvolvimento e produtividade da cultura. Ademais,
o maior intervalo (48 DAS) foram de 15,1 e 17,3%, para uma maior assertividade no posicionamento
respectivamente, para as cultivares CZ 37B43 IPRO destes tratamentos, torna-se necessário a realização
e M 7110 IPRO. Nos tratamentos com aplicação da de novos estudos em condições edafoclimáticas
mistura entre MSMA + diuron aos 48 DAS da soja, distintas, em especial para solos com texturas
as produtividades observadas nas cultivares foram contrastantes ao da área em que o presente trabalho
de 73,1 e 67,7 sacas ha-1, respectivamente, para foi realizado (ex.: solo arenoso).
CZ 37B43 IPRO e M 7110 IPRO. Para este intervalo
de aplicação, foi observado um volume total de CONCLUSÕES
precipitação na área experimental equivalente a 170
mm. Dentro do intervalo de doses de diuron
Compilando os resultados, há maior segurança avaliado, o aumento do volume aplicado deste
na utilização deste tratamento visando ao controle herbicida proporciona reduções na produtividade da
OLIVEIRA, I.G.; LOPES, I.A.; MORAIS, E.B.; PEREIRA, TAKANO, H.K.; OLIVEIRA JR., R.S.;
L.S.; TIMOSSI, P.C. Capim-pé-de-galinha é tolerante CONSTANTIN, J.; BRAZ, G.B.P.; PADOVESE, J.C.
ou resistente a herbicidas? Como controlar? Anuário Growth, development and seed production of
de Pesquisas Agricultura: 1a Safra - 2021/2022, goosegrass. Planta Daninha, v.34, n.2, p.249-257,
CORREIA, N.M.; ARAÚJO, L.S.; BUENO JÚNIOR, CONSTANTIN, J.; SILVA, V.F.V; MENDES, R.R.
R.A. First report of multiple resistance of goosegrass Chemical control of glyphosate-resistant goosegrass.
to herbicides in Brazil. Advances in Weed Science, Planta Daninha, v.36, e018176124, 2018.
GHENO, E.A., OLIVEIRA JR., R.S.; CONSTANTIN, a Rational Classification of Climate. Geographical
J.; TAKANO, H.K.; GEMELLI, A. Residual activity of Review, v. 38, n 1., p. 55-94, 1948.
Realização:
Parceiros:
INSTITUTO
FEDERAL
Goiano
Campus
Rio Verde
214 Entomologia