As Religiões No Rio
As Religiões No Rio
As Religiões No Rio
s a n s
G a y e t é
(Montaigne, Des livres)
E x L i b r i s
J o s é M i n d l i n
JOÃO DO RIO
(PAULO IMUUETO)
A j S
RELIGIÕES NO
GAZETA DE NOTICIAS
1904
a,
a n u e í J J o z g e d e Ô l í v e í z a c f y o c h a o
meu amigo.
•
A religião'? Um myslerióso sentimento, mixlo de terror e de esperança, a
sijmhnlisaçâo lugubre oa alegre de um poder que não lemos e almejamos ter, o
desconhecido avassalador, o equivoco, o medo, a perversidade...
O Rio. como todas as cidades nestes tempos de irreverência, tem em cada rua
um templo e em cada homem uma crença diversa.
Ao ler os grandes diários imagina a gente que está rínm paiz essencialmente
calhnlico. onde alguns mathemalicos são positivistas. Entretanto, a cidade pul-
lula de religiões. Basta parar em qualquer esquina, interrogar. A diversidade
dos cultos espanlar-vos-á. São swendeborgcanos, pagãos litterarios, physiolatras,
defensores de dogmas exóticos, auclores de reformas da Vida, reveladores do Fa-
turo, amantes do Diabo, bebedores de sangue, descendentes da rainha de Sabá,
judeus, schismaticos, espiritas, babalãos de Ldos, mulheres que respeitam o oceano,
Iodos os cultos,todas as crenças, todas as forças do Susto. Quem atra vez a calma do sent-
ada iite lhes adivinhará as tragédias da alma? Quem na^eu andar tranqnillo de homens
sem paixões irá descobrir os reveladores de ritos novos, os mágicos, os nevros
palhas, os delirantes, os possuídos de Salanaz, os myslagogos da Morlc, do Mar e
do Arco íris? Quem poderá perceber ao conversar com estas crealuras a lucla
fralricida por causa da interpretação da Biblia, a lucla que faz mil religiões, à
espera de Jesus, cuja reapparição está marcada para qualquer destes dias, e a vinda
do A nle-Chrislo, que talvez ande por ahi ? Quem imaginará cavalheiros dislinetos'
em intimidade com as ahnas desencarnadas, quem desvendará a conversa com os
anjos nas chambergas frtidas?
Elles vão por ahi, papas, prophctas, crentes e re veladores, orgulhosos cada um
di "'u culto, o único que é a Verdade . Faltai-lhes boamente, sem a lenção de ag-
gredil-os, e cllrs se confessarão : porque só numa cousa é impossível ao homem
enganar o seu semelhante, na fé.
Foi o que fiz na reportagem a que a «Gazela de Noticias» emprestou uma
lãn larga hospitalidade e um tão grande ruído; foi esle o meu esforço : levantar
um pouco o mgslerio das crenças nesta cidade.
Não è um trabalho completo. Longe disso. Cada uma dessas religiões daria
farta mésse para um volume de revelações. Eu apenas entrevi a bondade, o mal e
o bizarro dos cultos, mas tão convencido e com tal desejo de ser e.cacto que bem
pode servir de epigraphe a este livro aphrase de Montaigne:
*
O S F E I T I C E I R O S
A n t ô n i o 6 c o m o d q u e í l c s adolescentes africanos de que
falia o e s j r i p t o r írígíez. Os adolescentes sabiam dos deusès
c a t h o l i c o s e d o s seus p r ó p r i o s d e u s e s , m a s só verierávám o
wiskey e o schilling.
À n t o n i o c o n h e c e m u i l o b e m N . S. d a s D o r e s , e s t á f â m i -
h a n s a d o c o r n o s orixalás da A t r i e a , mas s ó respeita o papel
moeda e o vinho do Perto. Graças a esses d o ü s poderosos
agentes, gozei da i n t i m i d a d e de A n t ô n i o , n e g r o intelligchte
e vivaz ; graças á A n t ô n i o , C o n h e c i as casas d a s ruás de
S ã o D i o g o , B a r ã o de S. í^elix, í l o s p i c i o , N ú n c i o e d a A m è r i c á ,
o n d e se r e a í í s a m os candomblés e v i v e m os p a i s de santo. E
r e n d i g r a ç a s á Deus, p o r q u e n ã o ha de certo, em toda a
cidade, meio t â o interessante.
— V a i V . S. a d m i r a r m u i t a c o u s a ! d i z i a A n t ô n i o a ábr 1
O lo rêxa la rê ca um ra ride
O l p r ê x a l a r ê ca u m r a ridê
a n d o a r m a ç o e s d e f e r r o o n d e se g u a r d a o Ogum, o S ã o Jorge
da África.
N o d i a s e g u i n t e á c e r i m o n i a a yauô lava-se e v a i á pre-
s e n ç a d o p a i p a r a v e r se t e m e s p í r i t o s c o n t r a r i o .
S e os e s p í r i t o s e x i s t e m , o p a i p o d e r o s o a f a s t a a i n f l u e n »
c i a n e f a s t a p o r m e i o d e ebôs e ogunguns. A yauô é obrigada a
n ã o falar a n i n g u é m : q u a n d o deseja a l g u m a cousa, bate
p a l m a s e s ó a a j u d a nesses d i a s a m ã i p e q u e n a o u Iaque-que-rê.
As danças para p r e p a r o de santo r e a l i s a m - s e n o s i ° 3 . 7°
0
12 , e n o
o
16 d i a o s a n t o
o
revela-se.
—Mas que adeanta isso á s yauô}
— N a d a . O p a i de santo d o m i n a - a s . Ô erô o u segredo
q u e lhes d á pode r e t i r a l - o q u a n d o l h e apraz, o p o d e r de as
t r a n s f o r m a r e f a z e r - l h e s m a l esta e m v i r a r o santo sempre
que t e m vontade.
— E q u a n d o essascreaturas m o r r e m ?
—Faz-se a o b r i g a ç ã o r a s p a n d o u m p o u c o d e c a b e l l o p a r a
s a b e r se o s a n t o t a m b é m v a i , e o babaloxd procura u m col-
lega para lhe t i r a r a m ã o do f i n a d o .
Q u a n d o ayauô não tem dinheiro, ou o pai vende-a em
leilão ou a g u a r d a c o m o serva. Desta c o n v i v ê n c i a é q u e a l -
g u m a s c h e g a m a ser m ã i s d e santos, p a r a o q u e basta dar-
l h e o babaloxd uma navalha.
—E ha m u i t a m ã i de santos ?
—Umas c i n c o e n t a , c o n t a n d o c o m as f a l s a s . Se agora
l e m b r o a Josepha, a C a l ú Boneca, a H e n r i q u e t a da Praia, a
Maria Marota, que vende á porta do Glacier. a Marido do
B o m f i m , a M a r t i n h a da rua do Regente, a Zebinda, a Xica
de Vava, a A m i n a m p é - d e - b o i , a Maria Luiza, que é t a m b é m
s e d u c t o r a de senhoras honestas, a F l o r a Coco P o d r e , a D u d ú
do Sacramento, a Bitaiô, que está agora g u i a n d o seis o u
oito filhas, a Assiata.
26
E s t a é de f o r ç a . N ã o t e m n a v a l h a , finge d e m ã i d e s a n t o
e t r a b a l h a c o m t r e z ogans falsos, J o ã o Ratão, um moleque
c h a m a d o Macario e certo cabra pernóstico, o Germano. A
Assiata m o r a n a r u a da A l f â n d e g a 304. A i n d a o u t r o d i a h o u v e
lá u m e s c â n d a l o dos d i a b o s p o r q u e a A s s i a t a m e t t e u n a festa
d e Lêman-jà a l g u m a s yauô feitas por ella. Os pais de santo
p r o t e s t a r a m , a n e g r a d a m n o u , e teve q u e p a g a r a m u l t a m a r -
cada pelo santo. E s s a é u m a das f e i t i c e i r a s cie e m b r o m a ç ã o .
Nesse m e s m o d i a A n t ô n i o v e i o b u s c a r - m e a t a r d e .
— A casa a q u e vae V . S . é d e u m g r a n d e f e i t i c e i r o ; verá
se n ã o h a f a c t o s v e r d a d e i r o s .
Q u a n d o c h e g á m o s , a sala e s t a v a enfeitada. Em derre-
dor sentavam-se m u i t o s negros e negras mastigando olobó,
ou k o l a a m a r g o s a , c o m as r o u p a r l a v a d a s e as f a c e s r e l u z e n -
tes. A u m canto, os músicos, physionomias extranhas, fa-
" z i a m soar, c o m sacolejos compassados, o xequerêe, atabaques
e ubaíAs, c o m m o v i m e n t o s de b r a ç o desvairadamente regu-
lares. N ã o se r e s p i r a v a b e m .
A cachaça, circulando sem cessar, e n s a n g ü e n t a v a os
olhos amarellos dos assistentes.
— A ' s vezes t u d o é m e n t i r a s á custa de cachaça e fingi-
mento, diz A n t ô n i o . Q u a n d o o santo não vem, o pai fica
desmoralisado. Mas a q u i è de verdade. ..
O l h e i o c e l e b r e p a i d e s a n t o , c u j a s filhas s ã o s e m conta.
E s t a v a s e n t a d a á p o r t a da c a m a r i n h a , m a s l e v a n t o u - s e l o g o e
a n e g r a i n i c i a d a e n t r o u , de c a n l i s o l a b r a n c a , c o m o l e q u e de
metal. F u l a , c o m u m a e x t r a o r d i n á r i a f a d i g a nos membros
lassos, os seus o l h o s b r i l h a v a m s a t â n i c o s sob o c a p a c e t e de
p i n t u r a s bizarras c o m que lhe t i n h a m b r o c h a d o o eraneo.
D i a n t e d o p a i e s t i r o u - s e a f i o c o m p r i d o , b a t e u c o m as faces
no asoalho, a j o e l h o u o b e i j o u - i h e a m ã o . Babáloxá fez u m
gesto de b e n ç ã o e ella f o i , r o j o u - s e do n o v o d i a n t e de o u -
27
— Q u e v a i elle fazer?
—Cala, c a l a . . . é o pai, é o pai grande, balbucia A n t ô n i o .
A s c a n t i g a s r e d o b r a m c o m u m f u r o r q u e n ã o se a p r e s s a .
S ã o c o m o u m a a n c i ã d e d e s e s p e r a d o essas c a n t i g a s , c o m o a
a g o n i a de u m m e s m o gesto a r r a n c a d o dos olhos a mesma
l a m i n a d e f a c a , s ã o a t r o z e s ! O babaloxd colloca o cangirâo
a r d e n t e n a c a b e ç a d a yauô, q u e n ã o cessa d e d a n s a r d e l i r a n t e ,
insensivel, e, a l t e a n d o o b r a ç o c o m u m gesto d o m i n a d o r e
u m s o r r i s o q u e l h e p r e n d e o b e i ç o aos o u v i d o s , e n t o r n a n a s
brasas f u m e g a n t e s u m a l g u i d a r cheio de azeite de dendê.
Ouve-se o c h i a r d o azeite nas c h a m m a s , a n e g r a , b e m n o
meio da sala s a c o l e j a - s e n u m jeguedê l a n c i n a n t e , e pela sua
cara suada, do c a n g i r ã o ardente, e que n ã o lhe q u e i m a a
p e l l e , e s c o r r e m fios a m a r e l l o s d e a z e i t e . . .
Ye-man-já ato uàuô
continuava a turba.
— N ã o q u e i m o u , n ã o q u e i m o u , elle é g r a n d e , fez An-
tônio.
E u a b r i r a os o l h o s p a r a v e r , p a r a s e n t i r b e m o m y s t e r i o
da inaudita selvageria. Havia u m a hora, a negra d a n ç a v a sem
p a r a r ; pela sua face o d e n d ê quente escorria benéfico aos
santos. De r e p e n t e , p o r é m , ella estacou, cahiu de joelhos,
deu u m grande grito.
—Emim oid bonmiml bradou.
— E ' o n o m e delia, o santo disse pela sua bocca o nome
que vai ter.
A sala r e b e n t o u n u m d e l í r i o i n f e r n a l . O babaloxd gri-
t a v a , c o m os o l h o s a r r e g a l a d o s , p a l a v r a s g u t t u r a e s .
— Q u e d i z elle ?
— Que é grande, que vejam como é grande !
Creaturas r o j a v a m - s e aos p é s d o p a i , b e i j a n d o - l h e s os
dedos; negras uivavam, c o m as m ã o s empoladas de bater
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A c a b e i j u l g a n d o os babaloxds s á b i o s na sciencia da f e i t i -
ç a r i a c o m o o Papa J o ã o X X I I e n ã o via negra mina na rua
s e m r e c o r d a r l o g o o b i z a r r o saber das f e i t i ç e i r a s de d ' A n n u n -
zio e do Sr. S a r d o u . A Iisonja p o r é m e o d i n h e i r o , a m o e d a
r e a l d e t o d a s as m a c h i n a ç õ e s dessa o p e r a p r e g a d a aos i n c a u -
tos, f i z e r a m - m e s a b e d o r dos m a i s c o m p l i c a d o s f e i t i ç o s .
Ha f e i t i ç o s de t o d o s os m a t i z e s , f e i t i ç o s lugubres, poé-
ticos, risonhos, sinistros. O feiticeiro joga c o m o A m o r , a
V i d a , o D i n h e i r o e a M o r t e , c o m o os m a l a b a r i s t a s d o s c i r c o s
c o m o b j e c t o s de pesos diversos. T o d o s e n t r e t a n t o s ã o de u m a
ignorância absoluta e affectam intimidades superiores, col-
locando-se l o g o na alta p o l í t i c a , n o clero e na magistratura.
E u f u i saber, a t e r r a d o , de u m a conspiração política com os
f e i t i c e i r o s : n a d a m a i s n a d a m e n o s q u e a m o r t e de u m passado
presidente da Reublica. A p r i n c i p i o achei impossível, mas
os m e u s i n f o r m a n t e s c i t a v a m c o m s i m p l i c i d a d e n o m e s q u e
estiveram publicamenle implicados em conspirações, homens
a q u e m tiro o m e u c h a p é o e aperto a m ã o . Era impossível a
duvida.
— O presidente e s t á b e m c o m os s a n t b s , d i s s i - m e o f e i -
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s e n d o q u e d u r a n t e a o p e r a ç ã o n ã o se d e v e d e i x a r d e d i z e r o
ojó, oração. Se e u a m a n h ã desejar a d e s u n i ã o de u m casal,
e n r o l o o n o m e da pessoa c o m p i m e n t a da costa, m a l a g u e t a
e linha p r e t a , d e i t o isso n o f o g o c o m s a n g u e , e o casal d i s -
s o l v e - s e ; se r e s o l v e r t r a n s f o r m a r C a t ã o , o h o n e s t o , n o mais
d e s b r i a d o g a t u n o , a r r a n j o t o d o esse n e g o c i o a p e n a s c o m u m
b o m tira, u m rato e alumas hervas ! E ' m a r a v i l h o s o .
Ha t a m b é m feitiços porcos, o mantucá, por exemplo,
p r e p a r a d o c o m e s c r e m e n t o de v á r i o s animaes e cousas q u e a
d e c ê n c i a nos salva de d i z e r e f e i t i ç o s c ô m i c o s como o ter-
r í v e l xuxüguruxúo.. Eese faz-se c o m u m e s p i n h o de S a n t o
A n t ô n i o besuntado de ovo e enterra-se á p o r t a d o inimigo,
b a t e n d o t r e s vezes e d i z e n d o :
— Xuxú-gumxú io le bard ..
P a r a o h o m c n ser a b s o l u t a m e n t e f a t a l , D . J u * . 'Xots-
child. Nicoláo I I e M o r n y recolhi c o m carinho uma aceita
i n f a l í v e l : E ' m a s t i g a r orobó quando pragueja, trazer alguns
Ura o u b r e v e s e s c r i p t o s e m á r a b e n a c i n t a , u s a r d o ori para
o feitiço n ã o pegar, ter a l é m d o xorá, d e f e s a p r ó p r i a , o es-
siqui, c o b e r t u r a e o irocó, d e f u m a ç ã o da^ r o u p a s m i m foga
r e i r o e m q u e se q u e i m a a z e i t e d e d " ~ i d A
c a b e ç a s de biçhp'.; e
h e r v a s , v i s i t a r os bjbaloxás e j o g a r d e vez e m q u a n d o o ité ou.
a praga. Se apezar de t u d o isso a amante desse homem
f u g i r , ha u m s u p r e m o r e c u r s o : espera-sea hora do meio-dia
e crava-se u m p u n h a l de t r á s da p o r t a .
Mas o que n ã o sabem os q u e s u s t e n t a m os x e i t i c e i r o s e
que a base. o f u n d o d e t o d a a sua s c i e n c i a é o Livro de S.
Cypriano. Os m a i o r e s a l u f á s , os m a i s c o m p l i c a d o s pais de
santo, t e m e s c o n d i d a e n t r e os t i r a s e a b i c h a r a d a u n i a e.h
n a d a p h a n t a s t i c a d o S . C y p r i a n o . E m q u a n t o e r e a t u -as o a o
r o s a s e s p e r a m os q u e b r a n t o s e as m i s t u r a d a s f a t a e s os n e g
soletram o S. C y p r i a n o , á l u z dos c a n d i e i r o s . . . O feitiço
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c o m p o e - s e a p e n a s cie h e r v a s a r r a n c ã c l a s a o c a m p o d e p o i s d e
lá d e i x a r d i n h e i r o p a r a o sacy, de sangue, de o r á ç õ e s , de
gallos, cabritos, kagados, azeite de d e n d ê e d o l i v r o idiota.
E ' o d e s m o r o n a m e n t o de u m s o n h o !
Os f e i t i c e i r o s p o r é m , p e d e m retratos, e x i g e m dos clien-
tes c o i s a s d e u m a depravação sem n o m e para agir depois
f a z e n d o o egum, o u e v o c a ç ã o dos e s p í r i t o s , o m a i o r m y s t e r i o
e a maior pândega dos pretos : e quasi todos roubam com
descaro, d a n d o e m troco de d i n h e i r o sardinhas c o m p ó de
m i c o , cebollas c o m q u a t r o pregos espetados, cabeças de
p o m b o e m s a l m o r a para f o r t a l e c e r o a m o r , u m a i n f i n i t a serie
de extravagâncias. Os trabalhos são tractados como nos
consultorios-medicos, a simples cousulta d e seis a dez m i l
r é i s , a m o r t e de h o m e m s e g u n d o a sua i m p o r t â n c i a social e
o recebimento da i m p o r t â n c i a por partes. Q u a n d o é doença,
p a g a - s e n o a c t o — p o r q u e os b a b a l o x a s s ã o m é d i c o s , e c u r a m
c o m c a c h a ç a , u r u b u s , pennas de papagaio, sangue e hervas.
A policia visita essas casas c o m o consultante. Soube
nesses a n t r o s que u m antigo delegado estava amarrado a
uma paixão, g r a ç a s aos p r o d í g i o s de u m gallo p r e t o . A po-
l i c i a n ã o sabe p o i s q u e a l g u n s desses c o v i s f i c a m d e f r o n t e d e
casas s u s p e i t a s , q u e ha u m tecido de patifarias inconsci-
entes l i g a n d o - a s . Mas n ã o é possível a u m a s e g u r a n ç a tran-
s i t ó r i a acabar com o grande Vicio, com o Feitiço. Se u m
i n s p e c t o r v a s c u l h a r a m a n h ã os j a b o t y s e as figas d e u m a d a s
b a i u c a s , á t a r d e , n a d e l e g a c i a os p e d i d o s c h o v e r ã o . . .
Eu vi senhoras de alta p o s i ç ã o saltando, ás escondidas
de c a r r o s de p r a ç a , c o m o nos f o l h e t i n s - r o m a n c e , p a r a c o r r e r ,
t a p a n d o a c a r a c o m v é o s espessos, a essas casas; e u vi sessões
e m q u e m ã o s e n l u v a d a s t i r a v a m das carteiras ricas notas e
n o t a s aos g r i t o s d o s n e g r o s m a l c r i a d o s q u e b r a d a v a m .
— Bota dinheiro aqui !
41
C o n t i n u a r é descer o m e s m o a b y s m o v e n d o a m e s m a cidade
mysteriosamente rojar-se diante do F e i t i ç o . . .Basta !
— V . S. n ã o passou dos p r i m e i r o s q u a d r o s d a r e v i s t a .
E p r e c i s o v e r as l o u c u r a s q u e o F e i t i ç o f a z , as b e b e r a g e n s
q u e m a t a m , os h o m i c i d i o s n a s c a m a r i n h a s que nunca a po-
licia soube, é preciso chegar á apotheose. Venha...
fí A n t ô n i o a r r a s t o u - m e p e l a r u a General Gomes Car-
neiro.
A C A S A D A S A L M A S
i
Os negros c a b i n c l a s cio R i o g u a r d a m c o m terror a his-
t o r i a de u m b r a n c o , q u e lhes a p p a r e c e u c e r t a vez e m p l e n o
s e r t ã o a f r i c a n o . Q u a n d o o rei d e u p o r elle, q u e p o r alii v i n h a
c a l m o , c o m as s u a s b a r b a s d e s o l , p r e c i p i t o u - s e m a i s a t r i b u
e m attitude feros. O branco t i r o u da c i n t a u m p e q u e n o f e i -
t i ç o de m e t a l e p r o s t o u m o r t o , g o l p h a n d o sangue, o babalácr
— E c h ú ! Echú! g a n i u a t r i b u r e c u a n d o de c h o f r e .
— Q u e m é s t ú , santo que eu n ã o c o n h e ç o ? fez t r e m u l o
o poderoso r e i .
— Sou o que p ô d e tudo, bradou o branco. V ê .
E s t e n d e u a m ã o de n o v o e m a t o u o u t r o s negros.
— S ó t e d e i x a r e i e m p a z se m e m o s t r a r e s t o d o s os t e u s
feitiços.
Sua Magestade, apavorada, levou-o á tenda real e d u -
rante o dia e d u r a n t e a noite, sem parar, lhe deu t u d o q u a n t o
sabia.
— P e r d ó o - t e , fez o b r a n c o . A d e u s ! L e v o para o mys-
t e r i o a r a i n h a . A c o n c h e g o u o f e i t i ç o , q u a p a r e c i a ogum, o
d e u s d a g u e r r a , n o seio d a p r e f e r i d a , d e i x o u - a c a h i r , e. p a r -
t i u de vagar pela estrada a f o r a . . .
N ã o precisei dos meios v i o l e n t o s d o C a r a m u r ú da A f r i c ã ,
para sabar do mais t e r r í v e l m y s t e r i o da r e l i g i ã o dos m i n a s :
— o ogum o u e v o c a ç ã o das a l m a s . N a q u e l l a m e s m a n o i t e e m
que encontrara A n t ô n i o , o negro serviçal levou-me a uma
casa n a s i m m e d i a ç õ e s d a p r a i a d e S a n t a Luzia.
— Em tudo é preciso m y s t e r i o d i z i a elle. V . S. v a i á
46
— Yê-man-]á!
N o u t r o d i a , p o u c o m a i s o u m e n o s á m e i a - n o i t e , estava-
m o s n o ilé-saim o u casa d a s a l m a s .
O ogum é uma c e r i m o n i a q u a s i p u b l i c a , a q u e os f e i t i -
ceiros c o n v i d a m certos brancos para presenciar a p a n t o m i m a
do seu extraordinário p o d e r . Esses c u r i o s o s fetiches, que
p a r a f a z e r o g u i n c h o de santo O s s a i m a m a r r a m nas p e r n a s
bonecas de borracha, com assobio; cujos santos s ã o u m
p r o d u c t o de bebedeiras e de hypnose, t e m na e v o c a ç ã o dos
e s p í r i t o s a m á x i m a e n s c e n a ç ã o d a sua f o r ç a sobre o i n v i s i v e ,
Q u a n d o m o r r e a l g u é m , quando todos estão diante do corpo
um dos pretos esconde-se e d á u m grito. N o m e i o da con-
l u s a o g e r a l , e n t ã o , m u d a n d o a v o z , esse n e g r o g r i t a :
-Emim, toculâmi mopé, cd-um-pé, mim! Eu que
m o r r i hoje, quero que c h a m e m por m i m .
Os d o n o s d o d e f u n t o a r r a n j a m o d i n h e i r o para a evo-
c a ç ã o , pessoas e s t r a n h a s a j u d a m t a m b é m c o m a sua q u o t a
p a r a a p r o v e i t a r e s a b e r d o f u t u r o O babaloxd n ã o faz o o*um
e m q u a n t o n ã o t e m pelo menos tresentos m i l réis. A r r a n j a d a
a quantia, começa a cerimonia.
Q u a n d o e n t r a m o s n a sala d a s a l m a s , á l u z f u m a r e i d o s
c a n d i e i r o s , a scena era estranha. H a v i a brancas, m e r trizes
d e g r a n d e s r o d e l l a s d e c a r m i m nas f a c e s , m u l a t a s e m c a m i s a
mostrando os b r a ç o s com" desenhos e miciaes e m azul dos
proprietários d o seu a m o r , e n e g r o s , m u i t o s n e g r o s . Esses
ú l t i m o s , sentados e m r o d a d o assoalho, estavam quasi n ú s
e algumas negras m e s m o i n t e i r a m e n t e nuas c o m os seios
p m d e n t e s e a c a r a p i n h a cheia de banha.
— P o r q u e e s t ã o e l l e s a s s i m .-
— Para mais f a c i l m e n t e receber o espirito.
J u n t o á p o r t a d o f u n d o , tres n e g r o s de vara e m punho
quedavam-se estáticos. Eram os anrríckans, que faziam
4
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g u a r d a a o saluin o u q u a r t o d o s e s p í r i t o s . O u v i d e n t r o d o sa-
luin u m b a r u l h o de pratos, de copos tocados, de garrafas
desarrolhadas; u m m o m e n t o pareceu-me o u v i r ate o estouro
f o r t e d a champagne barata.
— H a gente lá d e n t r o ?
— A s a l m a s . E s t ã o se b a n q u e t e a n d o . O banquete f o i
p a g o pelos presentes. M a s , p s i u ! D a q u i a p o u c o começarão
as c a n t i g a s , q u e n i n g u é m c o m p r e h e n d e . O s a f r i c a n o s i n v e n -
t a m n o m e s p a r a a scena parecer m a i s f a n t á s t i c a ,
Com effeito, m i n u t o s d e p o i s , aos p r i m e i r o s sons dos
a t a b a q u e s , as n e g r a s b r a d a r a m :
— Aluá! o espirito! e r o m p e r a m u m a cantiga assustada
e tropega.
Anu-ha, a o ry au od d
San-nd elê-o ou baba
Locd-alò.
Eguninhansan,e n o m e i o d e sete e s p i r i t o s a p p a r e c e o i n v o c a -
d o . E n t r e t a n t o o d o m i u ó Babagum batia furiosamente no
c h ã o c o m a sua vara de m a r m e l l o , e n o a l a r i d o augmentado
a p p a r e c e u aos p u l o s o u t r o d o m i n ó , o Mabà, q u e p o r sua vez
t a m b é m se p o z a b a t e r . E r a o ritual da entrega das almas.
Por f i m appareceu Ousaim, entiaçlo n u m a fantasia de bebê,
de x a d r e z v a r i a d o , c o m d u a s m a s c a r a s : u m a nas costas, o u -
tra tapando o rosto.
— Q u e m é esse . :
— G u i l h e r m i n a o c ê percisa g o s t á de A n t o n h o . . . J o s é t e m
q u e f a z ê ebô p a r a e s p i r i t o m á o .
X í c a , u m h o r a e h a de v i a h i , o c é vai c o m e l l e . . .
— V e j a V . S. o chanlagc, m u r m u r o u A n t ô n i o . Os n e g r o s
recebem d i n h e i r o antes dos h o m e n s e o b r i g a m as c r e a t u r a s
p e l o t e r r o r a t u d o q u a n t o q u i z e r e m . P o r isso q u e m d e s c o b r e
o ogum, morre.
A X i e a , u m a m u l a t i n h a , coitada! tremia convulsivamente
m a s j á o u t r a s , n u a s , e m c a m i s a , s a c u d i n d o os m e m b r o s las-
sos, g a n i a m d e l o n g e b a t e n d o as v a r a s n u m t e r r o r exhaus-
tivo.
— E eu ? e eu ?
— O c é tá dereita,sua vida vai p ra f r e n t e .
— E eu e eu ? g a r g o l e j a r a m outras boccas em ester-
tores.
— O c ê e s t á p r a traz, percisa ebô.
A p p r o x i m e i - m e de u m dos e s p i r i t o s ; c h e i r a v a a e s p i r i t o
de v i n h o ; estava l i t t e r a l m e n t e bebedo.
Q u a n d o a c e r i m o n i a a t t i n g i a ao d e s v a r i o e j á os e s p i r i t o s
t i n h a m p a s t o s i d a d e s n a v o z , c a h i u n a sala c o m o u m bendegó
Inhansam, u m negro f i n g i n d o de santo m a t e r i a l i s a d o , e c m
m e i o d o p a v o r g e r a l , ao s o m d a s c a n t i g a s , e s t i c o u a m ã o s i -
n i s t r a , f o i p e d i n d o a c a d a c r e a t u r a 16 o bis, 16 orobôs, 16 g a l -
l o s , 16 g a l l i n h a s , 16 p i m e n t a s d a C o s t a , 16 m i l r é i s , u m ca-
brito, u m carneiro. Ao chegar ás meretrizes brancas Inhan-
sam ferozmente exgia p e ç a s de chita, fazendas e objectos
caros. A tnrba gritava toda : Inhansam! Inhansam! gente
n o v a e n t r a v a n a s a l a , e d e r e p e n t e , c o m o t o d o s se v o l t a s s e m
a n m g r i t o d a p e r t a , os e s p i r i t o s d e s a p p a r e c e r a m . . . T i n h a m
f u g i d o t r a n q u i l l a m e n t e pelo c o r r e d o r .
— E s t á a c a b a d o , f e z A n t ô n i o . Os e s p i r i t o s v â o e despir,e
v o l t a m d a h i â p o u c o p a r a v e r se o p e s s o a l a c r e d i t o u mesmo...
t
53
A scena m u d a r a e n t r e t a n t o . D i s s i p a d o o s u d a r i o apavo-
r a d o , todas aquellas carnes hyperestisadas erguiam-se a i n d a
vibrantes para a bacchanal. O álcool e a queda na realidade
estabeleciam o desejo. Negros arrastavam-se para o quintal,
para os c a n t o s , l o n g o s s o r r i s o s l u b r i c o s a b r i a m e m b o c e j o s
as b o c c a s e s p u m a n t e s , r i s i n h o s r e b e n t a v a m e n e g r o s fortes,
e s t e n d i d o s n o c h ã o , r o l a v a m as c a b e ç a s n u m a s é d e d e g o z o .
H a e n t r e as n e g r a s u m a p r o p e n s ã o s i n i s t r a p a r a o t r i b a -
d i s m o . E m pouco, naquella casinhola suja e m a l cheirosa.
eu via c o m o u m a c a r i c a t u r a h o r r e n d a as s c e n a s d e deboche
dos romances h i s t ó r i c o s e m m o d a . Mais dous negros entra-
ram.
— E n t ã o ogum esteve b o m P
— E eu que n ã o cheguei e m tempo..
— V e j a , m o s t r o u A n t ô n i o , lá e s t á o B o n i f á c i o Eruousaim
v e n d o se c a u s o u e f i e i t o f a n t a s i a d o d e bebe. V e n h a a t é o q u a r t o
do banquete.
Fomos. Antônio e m p u r r o u u m a p o r t a e logo nos achá-
mos numa sala c o m garrafas pelo chão, pratos servidos,
c o p o s e n t o r n a d o s , r o l h a s , os d e s t r o ç o s d e u m a f o m e voraz,
N u m canto a Xica dizia baixinho.
— E' você que o espirito disse...
Q u a n d o r e a p p a r e c e m o s , babaloxa murmurava:
almas.
s n o v o s f e i t i ç o s d e S a n i n
— P o i s seja! d i s s e Antônio, tomando coragem. V S.
p o d e i r , m a s n ã o c u s p a , n ã o f u m e e n ã o c o m a nessa c a s a . E u
não vou.
— Acompanbas-me até a porta.
— A t é a esquina, Ficarei de a l c a t é a . S a n i n e O j ô s ã o ca-
pazes de m e acabar c o m a v i d a .
A v i d a d e A n t ô n i o é u m a v i d a s o b t o d o s os t i t u l o s p r e c i -
osa, e n a q u e l l e m o m e n t o a i n d a o e r a m a i s , p o r q u e a s u s t e n -
tava eu. Reflecti e concordei.
— Está d i r e i t o , ficas á e s q u i n a . . .
Chovia a cântaros. Antônio, sem guarda-chuva,mettido
num capote, que lhe ia a t é aos p é s , accendia constante-
mente u m charuto, que apagava.
— M a s , q u e é esse S a n i n , a f i n a l ?
— U m feiticeiro damnado !
— M a s babaloxé,, babalaô, t r a f i c a n t e ?. .
— 'Babalaô, n ã o senhor. Para ser babalaô é preciso
m u i t a c o u s a . S ó de n o v i c i a d o , leva-se m u i t o t e m p o , annos a
fio, e a c e r i m o n i a é d i f f i c i l l i m a . Quando u m iniciado quer
s e r babalaô, tem que levar ao babalaô q u e o sagra d o u s ca-
britos pretos, duas galinhas d'Angola. duas galinhas da
t e r r a , d o u s patos, dous p o m b o s , dous bagres, duas preás,
u m k i l o d e l i m o , u m ori, u m p e d a ç o d e ossum, u m p e d a ç o de
g i z , d o u s gansos, d o u s gallos, u m a esteira, dous caramujos
e u m a p o r ç ã o de pennas de papagaio encarnadas.
— E'difficil.
58
— E n ã o é t u d o . T e m que levar t a m b é m u m k i l o de s a b ã o
d a c o s t a q u e se c h a m a ochô-i- biílaiê, e n ã o entra para o ibodo-
i f f á o u q u a r t o dos santos s e m estar de r o u p a n o v a e levar na
algibeira pelo menos 200S000. O futuro babalaô fica sete
d i a s n o ibodô, onde n ã o entra ninguém para n ã o ver o se-
gredo .
— O segredo?
— O s e g r e d o é u m o v o d e p a p a g a i o . V . S . já v i u u m o v o
de papagaio ? N u n c a ! E ' difficil. E quem vê u m ovo desses
a r r i s c a - s e a ficar c e g o . O ovo e m africano chama-se odidô
e g u a r d a m d e n t r o d e u m a c u i a o u ybadú. O i n i c i a d o fica i n -
t e i r a m e n t e n ú , senta-se na esteira e o v e l h o b a b a l a - ô i n d a g a
se c d e seu g o s t o f a z e r o i f f a . Se a r e s p o s t a for affirmativa,
lavam-se quarenta e dous caroços de d e n d ê com diversas
h e r v a s e nessa a g u a o babalaô novo toma banho.
Depois raspa-se-lhe a c a r a p í n h a , guardando-a para o
grande despacho, pinta-se-lhe o c r a n e o c o m g i z e faz-se a
matança.
— Todos os a n i m a e s ?
— T o d o s c a h e m ao g o l p e d a s n a v a l h a s a f i a d a s , o s a n g u e
e n c h e os al g u i e i a r e s , e s c o r r e p e l a casa, m a s ninguém sabe,
p o r q u e lá d e n t r o , cie v i v o s , s ó h a os d o u s babahôs e o aco-
íyto. O p r i m e i r o s a c r i f í c i o é p a r a echú. Mistura-se o sangue
do gallo c o m tabatinga, forma-se u m boneco recheiado c o m
os p é s , o f í g a d o , o c o r a ç ã o , e a c a b e ç a d o s b i c h o s , mettem-
se e m f o r m a cie o l h o s , n a r i z e bocea q u a t r o busios e está
f e i t o o echú. Em seguida esfaqueiam-se os outros bichos.
s a c r i f i c a n d o aos i f f à . O n o v o b a b a l a - ô r e c e b e n a cabeça um
p o u c o desse s a n g u e , o a c o l y t o ou ogiboiyjjfc amara-lhe na
testa uma penna de papagaio com linha p r e t a e, assim
prompto, o novo mathematieo fica seis d i a s aprendendo a
p r a t i c a de a l g u n s f e i t i ç o s t e m í v e i s e r e z a n d o á o s ndü i f f à .
59
S A T A N I S M O
s a t a n i s t a s
— Satanaz! Satanaz i
—• (Jue voi ?
— N ã o o sabes t u r Q u e r o o a m o r , a r i q u e z a , a sciencia,-
o poder.
— C o m o as c r i a n ç a s , as b r u x a s e os d o i d o s — s e m fazer
nada p a r a os c o n q u i s t a r .
O p h i l o s o p h i c o T i n h o s o t e m nesta grande cidade um
u l u l a n t e p u n h a d o d e s a c e r d o t e s , e, c o m o s e m p r e q u e o s e u
n o m e apparece, arrasta comsigo o galope da l u x u r i a , a a n c i ã
da v o l ú p i a e do c r i m e , eu, que já o vira Echú, pavor dos
n e g r o s f e i t i c e i r o s , f u i e n c o n t r a l - o p o l u i n d o os r e t á b u l o s c o m
o seu d e b o c h e e m q u a n t o a t h e o r i a b a c c h i c a dos depravados
e das d e m o n í a c a s estorcia-se n o p a r o x i s m o d a o r g i a . . . Sata-
naz é c o m o a flecha de Z e n o n , parece que partiu mas está
parado—e firme nos c o r a ç õ e s . S u r g e m os c u l t o s , d e s a p p a -
r e c e m as c r e n ç a s , e s m a g a - s e a s u a recordação, mas, impal-
pavel, o E s p i r i t o do M a l espalha pelo m u n d o amordacidade
d e seu r i s o cynico e resurge quando menos se e s p e r a no
infinito poder da tentação.
C o n h e c i a l g u n s d o s s a t a n i s t a s a c t u a e s n a casa de S a y ã o ,
o e x ó t i c o h e r b a n a r i o d a r u a L a r g a d e S. J o a q u i m , o t a l q u e
t e m á p o r t a as a r m a s da Republica. Sayão é um doente.
A t o r d o a - o a l o u c u r a s e n s u a l . F a c e i r a n d o e n t r e os m o l h o s d e
hervas,cuja p r o p r i e d a d e quasi sempre desconhece, o a m b í g u o
homem d i s c o r r e , c o m gestos m e g a l o m a n o s , das mortes e
das curas q u e t e m f e i t o , d o s seus. a m o r e s e d o assedio das
m u l h e r e s e m t o r n o da sua g r a ç a . A conversa de S a y ã o é u m
coleio de lesmas c o m urtigas. Q u a n d o fala cuspinhando,
os O l h i t o s a t a c a d o s d e s a t y r i a s i s , t e m a gente vontade de
e s p a n c a l - o . A casa d e S a y ã o é , p o r é m , u m c e n t r o d e obser-
v a ç ã o . L á v ã o t e r as c a r t o m a n t e s , os m a g o s , o s negros dos
ebos, as m u l h e r e s q u e p a r t e j a m , t o d a s as g a m m a s d o crime
religioso, do s a c e r d ó c i o lugubre.
C o m o u m a c e r t a v e z , u m a n e g r a e s t i v e s s e a c o n t a r - m e as
propriedades mysteriosas da cabeça do pavão, eu recordei
que o p a v ã o no K u r d i s t a n é venarado, é o p á s s a r o maravi-
lhoso, cuja cauda e m leque reproduz o schema secreto do
deus ú n i c o dos iniciados pagãos.
— O senhor conhece a m a g i a ? fez a m e u lado u m h o m e m
e s q u á l i d o , c o m as a b a s d a s o b r e c a s a c a a a d e j a r .
Immediatamente Sayão apresentou-nos.
— O D r . Justino de M o u r a .
O h o m e m abancou, olhando c o m desprezo para o herba-
n a r i o , l i m p o u a testa' i n u n d a d a d e s u o r e m u r m u r o u lyrica-
mente.
— O h ! a Asia ! a Asia...
E u n ã o c o n h e c i a a m a g i a , a n ã o ser a l g u m a s f o r m a s d e
s a t a n i s m o . O D r . J u s t i n o p u x o u m a i s o seu b a n c o e c o n v e r -
s á m o s . Dias depois estava r e l a c i o n a d o c o m q u a t r o o u c i n c o
f r u s t e s , m a i s o u m e n o s i n s t r u i d o s , q u e c o n f e s s a v a m c o m des-
caro vicios horrendos. Justino, o mais exquisito e o mais
sincero, guarda avaramente o d i n h e i r o para comprar car-
neiros e chupar-lhes o sangue; o u t r o rapaz m a g r i s s i m o , que
f o i e m p r e g a d o dos C o r r e i o s , satisfaz a p e t i t e s m a i s inconfes-
sáveis ainda, quasi sempre cheirando a álcool; u m outro
m o r e n o , de g r a n d e s bigodes, é u m a f i g u r a das praças, que
se p ô d e e n c o n t r a r á s h o r a s m o r t a s . . . Se d e S a t a n a z e l l e s f a l l a -
v a m m u i t o , q u a n d o lhes p e d i a p a r a assistir á m i s s a n e g r a , os
73
h o m e n s t o m a v a m a t t i t u d e s de r o m a n c e e e x i g i a m o pacto e
a cumplicidade. v
A religião do Diabo sempre existiu entre n ó s , mais ou
m e n o s . Nas c h r c n i c a s d o c u m e n t a t i v a s dos satanistas actuaes
e n c o n t r e i casos d e envoulement e de malefícios, anteriores
aos f e i t i ç o s cios n e g r o s e a P e d r o I . A E u r o p a d o s é c u l o XVII
praticava a missa negra e a missa branca. E ' natural que
a l g u m feiticeiro f u g i d o plantasse a q u i a semente da a d o r a ç ã o
do m a l . Os d o c u m e n t o s — d o c u m e n t o s esparsos sem. conca-
t e n a ç ã o q u e o D r . J u s t i n o m e m o s t r a v a d e vez e m q u a n d o —
c o n t a m as e v o c a ç õ e s d o p a p a A v i a n o em 1745. O s
avianis-
t a s d e v i a m ser n e s s a t e m p o apenas clientes c o m o ê hoje a
m a i o r i a dos f r e q ü e n t a d o r e s dos espiritas, dos magos e das
cartomantes. No século passado o numero dos fanáticos
cresceu, o a v i a n i s m o transformou-se adaptando correntes
e s t r a n g e i r a s . A p r i n c i p i o s u r g i r a m os p a l l a d i s t a s os lucifc-
ristas que a d m i r a v a m Lucifer, i g u a ! de Acionai, i n i c i a l do
B e m e deus da L u z .
Esses f a z i a m u m a f r a n c o - m a ç o n a r i a , c o m u m c u l t o p a r t i -
c u l a r , q u e e x p l i c a v a a v i d a d e Jesus d o l o r o s a m e n t e . G u a r d a m
a i n d a os s a t a n i s t a s c o n t e m p o r â n e o s a l g u n s nomes da con-
fraria que insultava a V i r g e m c o m palavras stercorarias : —
E d u a r d o de Campos, Hamilcar Figueiredo, T h e o p o m p o d e
Souza, Teixera W e r n e c k e outros, usando pseudônimos c
c o m p o n d o u m r o s á r i o de n o m e s c o m s i g n i f i c a ç õ e s o c e u l t i s t a s
e s y m b o l i c a s . Os palladistas n ã o m o r r e a a m de toclo, antes
se t r a n s f u s a r a m e m f o r m a s p o é t i c a s . N o P a r a n á , o n d e h a u m
m o v i m e n t o o c e u l t i s t a a c c e n t u a d o — c o m o h a t o d a s as f o r m a s
da c r e n ç a , sendo o povo de poetasimpressionaveis,—existem
actualmente escriptores luciferistas que estão dans le train
dos processos da c r e n ç a na Europa. A franco-maçonária,
m o r t o o seu a n t i g o chefe, u m padre italiano Victorio Sen-
74
E q u e v i d a a d e l l e s ! A g o r a q u e o b o n d passava p e l l o ca-
n a l d o M a n g u e e a l u a b a t i a n a c o m a das p a l m e i r a s , o p o b r e
homem, tremendo c o n t a v a - m e as suas n o i t e s de agonia.
S i m , o D r . J u s t i n o t e m i a os l é m u r a s e as l a r v a s , d o r m i a c o m
u m a navalha debaixo do travesseiro, a n a v a l h a d o C a m b u c á ,
u m assassino q u e m o r r e r a de u m t i r o . As larvas s ã o f r a g -
m e n t o s de i d é a s , e m b r y õ e s de coleras e ó d i o s , restos de r a i -
vas d a m n a d a s que sobem do sangue dos c r i m i n o s o s e do
s a n g u e r e g u l a r d a s e s p o s a s e v i r g e n s aos a s t r o s p a r a envol-
v e r as c r e a t u r a s , s ã o os d e s e s p e r o s q u e se t r a n s f o r m a m e m
t o i r o s e e l e p h a n t e s , s ã o os a n i m a e s d a l u x u r i a . E esses a n i -
78
d ú b i o s t r a t a v a m - s e e n t r e si d e c o m a d r e s , c o m as f a c e s pin-
tadas, e a u m c a n t o o e m p r e g a d o dos C o r r e i o s , esticando o
pescoço depennado de condor, fixava na p e n u m b r a a presa
f u t u r a . N ã o era u m a r e l i g i ã o ; era u m c o m e ç o de s a t u r n a l .
Senti que me tocavam no braço. Voltei-me. Era um
poeta m u i t o vermelho, que cultivara outr'ora, n u m a revista
de arte, o satanismo l i t t e r a r o . Desequilibrado, mattoide, o
C a r o l i n o estava a l l i . e m p a r a d a i n t i m a de p e r v e r s ã o p o é t i c a .
— T a m b é m t u ? fez a p e r t a n d o - m e a m ã o entre as suas
viscosas d o s u o r . C u r i o s o , h e i n ? Mas p a l h a ç a d a , filho, pa-
l h a ç a d a ! E ' a s e g u n d a a q u e eu assisto. U m a m i s s a n e g r a de
j o r n a l d e P a r i s c o m i l l u s t r a ç õ e s ao v i v o . . . I m a g i n a q u e n e m
h a padres: O o f f i c i a n t e é o d e g e n e r a d o q u e a n d a á n o i t e pelas
praças.
— E as h ó s t i a s
— A s h ó s t i a s , essas ao m e n o s s ã o a u t h e n t i c a s roubadas
ás igrejas. Dizem a t é . . . Esticou-se, c o l l o u a bocca ao meu
ouvido como quem vai fazer u m a espantosa revelação:
d i z e m a t é que ha u m s a c r i s t ã o na cidade a mercadejal-as. E '
p a r a q u e m q u e r . , . h ó s t i a s a dez t o s t õ e s E ' boa ?
Mas q u e d i f f e r e n ç a , m e u c a r o , d a m i s s a a n t i g a , d a ver-
dadeira !
— N ã o se m a t a n i n g u é m
— E ' lá p o s s i v e l ! E a policia } J á n ã o estamos no t e m p o
de Griles de Rais n e m d a M o n t e s p a n . . . B o m t e m p o esse !
Pousou os d e d o s n o peito, r e v i r o u os olhos saudosos.
E r a c o m o se t i v e s s e t i d o r e l a ç õ e s pessoaes c o m o Gilles ea
Montespan.
A t u r b a e n t r e t a n t o c o n t i n u a v a a p i a r . l edas á s janellas
fechadas f a z i a m da sala um forno. Carolino encostou-se
t a m b é m e deu-me i n f o r m a ç õ e s curiosas. Estava vendo eu
uma rapariga loura, com uma fistula no queixo e óculos
85
t r a v a aos e n c o n t r õ e s d a n d o - s e b i l i s c õ e s , c o r a o o l h a r g u l o s o
e devasso. E n t r á m o s também.
C o m o era rasoavel a d e s i l l u s â o de Carolino ! A missa
n e g r a q u e eu assisti era u m a p a r o d i a carnavalesca e sádica.
u m a m i s t u r a d e v a r i a s m i s s a s c o m i n v e n ç õ e s pessoaes d o sa-
cerdote. Havia phrasesdo officio da Observância, trechos
s a c r i l e g o s d o a b b a d e G u i b o u r g , a m i s s a d e V i n t r a s , esse d o i d o
formidável, a p a r a t o s c o p i a d o s aos Ansariés da Syria e um
desmedido deboche, o deboche d o theatro S. Pedro e m noite
d e c a r n a v a l , se a p o l i c i a n ã o c o n t i v e s s e o d e s e j o e as portas
se f e c h a s s e m . C a r o l i n o t i n h a r a z ã o .
O e r o t i s m o a m b i c i o s o de o u t r ' o r a d e v i a ser mais inte-
ressante. G u i b o u r g aspergindo dágua benta o corpo n ú
da Montespan deitada nos evangelhos d o s r e i s , os p o m b o s
queimados, a paixão de Nossa Senhora lida c o m os pés
d e n t r o d ' a g u a , o c i b o r i o c h e i o cie s a n g u e i n n o c e n t e n o c e n t r o
d a s s e n s a ç õ e s , t i n h a m u m fim. A m i s s a d e E z e q u i e l , o o f f i c i o
s u p r e m o e m que, a l é m de Satan, a p p a r e c e m B e l z e b u t h , A s -
tarob, A s m o d e u , Belial, Moloch e B a a l - P h a g o r , era religio-
s a m e n t e t e r r í v e l . A q u e os m e u s o l h o s v i a m n ã o p a s s a v a d e
phantasia de debochadas e hystericas necessitando d o refie
policial e do chicote.
A casa d e j a n t a r e s t a v a t r a n s f o r m a d a n u m a c a p e l l a . Ao
f u n d o levantava-se o altar-mór, ladeado de u m pavão em-
palhado c o m a cauda aberta—o pavão symbolo do Vicio
Triumphal. Nos q u a t r o cantos do tecto, morcegos deitados
em c o r a ç õ e s de papelão vermelho, pareciam assustados.
Pannos pretos c o m cruzes de p r a t a voltadas cobriam as
j a n e l l a s e as p o r t a s .
D o a l t a r - m ó r , q u e l i n h a tres degraus cobertos por um
pellego encarnado, descia, a b r i n d o e m f o r m a de l e q u e , u m
duplo r e n q u e de q a s t i ç a e s altos, s u s t e n t a n d o t o c h a s accésas
87
d e c e r a v e r m e l h a . E r a essa t o d a a l u z d a sala. 0 b a n d o t o m o u
posições. Alguns r i a m ; outros, p o r é m , t i n h a m as f a c e s p a l -
"lidas. o l h e i r e n t a s , d o s a p a v o r a d o s . N ó s , e u e o p o e t a , ficamos
no fim. U m silencio c a h i u . Do alto, pregado a cruz tosca.
u m a escultura i n f a m e pretendia representar Christo, o doce
Jesus ! E r a u m b o n e c o t o r p e , de b i g o d e s retorcidos, total-
m e n t e e x c i t a d o , q n e o l h a v a os fieis c o m u m o l h a r t r o c i s t a e
o beicinho revirado.
— E' horrendo.
— Se e s t a m o s n a casa d o h o r r e n d o ! G u a r d e a s u a eme-
ç ã o . T u d o isso é r e l i g i ã o . 0 m e s m o f a z e m c o m I s k a r i o t e n o
s a b b a c l o d e A l i e l u i a os m e n i n o s c a t h o l i c o s .
G u a r d e i . V i n h a m a p p a r e c e n d o aos s a l t i n h o s , n u m a n d a r
de m a r r e c o s presos, q u a t r o s a c r i s t ã e s c o m as sotainas em
c i m a d a p e l l e . Esses e p h e b o s d i a b ó l i c o s , d e f a c e s c a r m i n a d a s
e s o r r í s i n h o s e q u í v o c o s , p a s s e a v a m p e l a sala c o m o menagérés
p r e o e c u p a d a s c o m u m j a n t a r de c e r i m o n i a , d a n d o a ultima
de m ã o á mesa. Depois s u r g i u u m n e g r i n h o de batina ama-
r e l l a c o m os p ê s n u s e as u n h a s pintadas cie o i r o . T r a z i a os
b r a z e i r o s p a r a o imeeriso e q u a n d o passava pelos h o m e n s er-
g u i a de vagar o b a l a u d r a u c ô r de e n x o f r e , A p r i n c e z a , ado-
r a d o r a d o f o g o , o l h o u - o c o m g u l a e ia talvez f a l a r q u a n d o a p -
pareceu o Sacerdote acompanhado de u m o u t r o sacristão
exoctico. A ' l u z d o s c i r i o s q u e esta l i d a v a m , n e s s a l u z vacil-
Iante e agonica, o m u l a t o era theatral. Alto, grosso, com
o bigode trincado, as o l h e i r a s p a p u d a s , os b e i ç o s s e n s u a e s
pendentes, fez a a p p a r i ç ã o de capa e n c a r n a d a e b a c u l o de
p r a t a , c o m os s y m b o l o s d e S h i v a potente.
—• E s s e h o m e m é d o i d o ?
— U m sádico intelligente. T e m como prazer único o
c r i m e de u m p r í n c i p e que ha u m a n n o a g i t o u a m o r a l a r c h i -
duvidosa de Londres... Ainda não conversou com elle?
88
— Deus! m u r m u r e i .
- G u a r d e a sua e m o ç ã o meu amigo. E' do rito. Elles
d i z e m q u e Jesus, f o i a p r i n c i p i o , d e Lucifer...
— E ' preciso encarnar o mágico, continuava o homem,
neste p e d a ç o de pão,-é preciso magoal-o, fazel-o soffrer,
mostrar-lhe que és ú n i c o , i m p a s s í v e l e a d m i r á v e l . Que seria
d a h u m a n i d a d e se n ã o f o s s e o t e u A u x i l i o , ó Portador dos
gozos, ó D e s m a s c a r a d o r das hypocrisias ? Todo o mundo
soluça o teu Nome, a Pérsia, a Kaldea, o Egypto, a Grécia, a
Roma dos roubadores da tua Pompa. Olha pelo mundo
a v i c t o r i a , os p h i l o s o p h o s , os s á b i o s , os m é d i c o s , as m u l h e r e s .
O s p h i l o s o p h o s d e s v i a m o a m o r d o O u t r o , os s á b i o s a l u g a m
a crença, os m é d i c o s a r r a n c a m dos ventres a m a t e r n i d a d e ,
f a z e m as a x e s u a d a s d e l i r a n t e s , e s m a g a m as c r i a n ç a s , as mu-
lheres escorrem a lasciva e o o u r o ! N ó s todos prostrados
adoramos-te, diante do impostor, do mentiroso, desse que
aconselha a renunciar á Carne ! Que venha o dinheiro, que
v e n h a a C a r n e ! Q u e se e s m a g e os seios d a s m u l h e r e s e se l h e s
crave o p u n h a l da luxuria em f r e n t e ao i m p o s t o r . . . Jesus
ha de descer á h ó s t i a ; t u queres !
Deixou cahir o braço. N a face dos e r o t o m a n o s a l o u c u r a
p u n h a r i c t u s de a n g u s t i a .
O sacerdote e s p u m a v a , e a f u m a ç a dos incesarios de t ã o
espessa, parecia envolver-lhe a indecorosa nudez n'uma
c h l a m y d e de c i n z a , estrellada de c i r i o s .
— O ' R e i p o d e r o s o d a s s a t i s f a ç õ e s , os q u e t e acreditam
a b a n d o n a m as c o v a r d i a s d a v e r g o n h a , a s p r e g r a s d o p a v o r e
a estupidez da r e s i g n a ç ã o . Envia-nos A s t a r o h . d a - n o s o a m o r ,
faz-nos gozar o prazer, faz-nos. . .
Um p a l a v r ã o silvou, sagrado c o m o na Bíblia. H o u v e u m
c o m p l e x o de u r r o s e g u i n c h o s .
— Amen ! caearejaram os pequenos.
90
— Q u e v a i e l l e f a z e r .-
— V a i ao s i n i s t r o b a n a l . . .
Q u e D e u s s e r i a esse ? l a p e r g u n t a r a o p o e t a , m a s n ã o t i v e
tempo. U m dos s a c r i s t ã e s t r e p a r a ao a l t a r , c o m o cálice na
mão. C o m o c o r o a d o pelos pés do Christo, o pequeno com
tremores pelo corpo, tics bruscos, g a r r õ e s d e nervos, o olhar
embaciado sujeitava-se a e x t r i p a ç ã o do b a p t i s m o da hóstia,
e emquanto o braço do Sacerdote n u m movimento cruel
saccudia-o, a sua voz i a d i z e n d o :
I
Houve u m grande combate nos c ê o s . Miguel e os
anjos combatiam contra o dragão que luctava com
os s e u s . Estes, porem, não tiveram a victoria e desde en-
tão f o i impossivel reachar o logar nos céos. O dragão, a
antiga serpente chamada diabo ou seductor do universo,
foi precipitado com os maus anjos sobre a terra. E esse
dragão t i n h a sete c a b e ç a s , dez cornos, sete diademas e
a sua c a u d a arrastou a terça parte das estrellas...»
Assim f a l i a S. J o i o de P a t h m o s . O d r a g ã o e as e s t r e l -
las f a z e m o m u n d o diabólico, inspiram o mal, arrastam
a t h e o r i a f u r i o s a das hystericas e mais do que em qual-
quer outra terra fazem aqui as e n d o m o n i n h a d a s . Pela clas-
se baixa, nas r u a s e s c u s a s , as possessas a b u n d a m . D e r e -
pente creaturas perfeitamente boas c a h e m com ataques,
escabujam, arquejam, cusparam uma baba espessa, com
os c a b e l l o s tezos e os o l h o s ardentes. Vem os médicos
chamam a isso h y s t e r i a , v e m os espiritas, dão outra ex-
plicação, mas as c r e a t u r a s s ó t o r n a m á v i d a natural quan-
do u m s a c e r d o t e as e x o r c i s m a . J á v i n a Gamboa uma mu-
lher que ficava dous palmos acima do sólo com os b r a ç o s
e m cruz gargolejando i n j u r i a s ao Creador; tenho a histo-
ria de u m a outra que babava verde e passava horas e
noras enrodilhada, com soluços seccos, e a t i r a v a pu-
nhadas aos crucifixos n u m a anciã incrível. S ã o sem con-
ta os casos d e p o s s e s s a s . .
— E toda essa gente é exorcismada ?
96
— A s vezes.
1
— H o j e n ã o . A c t u a l m e n t e é p r e c i s o ser u m h o m e m d e s -
t i t u í d o das vaidades do m u n d o , é p r e c i s o ser velho e p u r o
dotado de u m a força imperecivel. O b i s p o f a z t o c a r ao p a -
dre exorcista o livro das formulas dizendo « Accipe et
c o m m e n d a memorae, et habem potestatem i m p o n e n d i m a -
nos super energúmenos...» Aqui no Rio ha exorcistas
falsos, m a l a n d r o s exploradores, h a os j e s u í t a s , alguns la-
zaristas e o superior da o r d e m dos Capuchos que tem li-
cença do bispo. C o n h e ç o f r e i Piazza? E ' u m a excellente
creatura, feita de b o n d a d e e de paz. Nunca recebe mal
Para cada i n j u r i a tem u m carinho e guarda como máxi-
ma a g r a n d e v e r d a d e de q u e u m frade vale p o r u m exer-
to. Que f i g u r a ! Elle pelo m e n o s vale p o r u m e x e r c i t o c o m
a sua caricia ea sua f o r ç a . E' u m destes entes que não
param, um m i l i t a n t e . A n d a , sai, i n d a g a , conversa, prote-
ge, a j u d a , converte, exorcisma. Já o vi u m a vez vaiado
por alumnas de uma escola e rapazes grosseiros, á
toa, s e m r a z ã o d e ser, a p e n a s p o r q u e era f r a d e . F r e i Piazza,
m u i t o calmo, agradecia com beijos a vaia e cada beijo
seu n o ar petrificava a bocca de u m dos impiddentes i n -
sultadores. E ' o nosso p r i m e i r o e x o r . i s t a , o grande com-
batente dos Diabos. V ã interrogal-o de preferencia a ou-
tro qualquer.
— Mas ha diabos?
4 d a m a n h ã as 4 d a t a r d e , t r a b a l h o sem descanço. Só no
a n n o d e 1903 e x o r c i s m e i m a i s d e 300 d e m o n í a c a s . Esses e x o r -
cismos s ã o feitos de p r e f e r e n c i a na i g r e j a , mas quando., me
c h a m a m , vou t a m b é m á casa d o s p a c i e n t e s . S a t a n m a i s , d o
q u e n u n c a a m e a ç a D e u s . Esse m a c a c o d o D i v i n o , c o m o d i z o
padre Goud, arrasta as creaturas para as profundas do
i n f e r n o , q u e a sciencia considera u m c e n t r o de f o g o n o meio
d a t e r r a , a u c t o r d o s v u l c õ e s e d o a b a l o das m o n t a n h a s . . . A h !
meu filho, é u m a vida bem dura !
— Oexorcismo é publico ?
— N e m s e m p r e . O d i a b o pela bocca dos p o s s é s s o s c o n t a
ávida de todos, i n j u r i a os p r e s e n t e s . N ã o é conveniente.
F i c a m alguns amigos que sejam sérios e piedosos.
— E c o m o se p r a t i c a m os e x o r c i s m o s ?
— Segundo o Rituale.
— C o n t a m tanta cousa...
— E' b e m simples. Leio-lhe a cerimonia.
Foi-se c o m o seu passo apressado, v o l t o u trazendo os
ó c u l o s e u m l i v r o de m a r r o q u i m vermelho com lettras de
ouro.
— E s t á escripto q u e o h o m e m n ã o v i v e r á s ó de p ã o , m a s
d a s p a l a v r a s d e D e u s , d i s s e S. P a u l o .
S e n t á m o - n o s . F r e i Piazza a b r i u o Rituale, escripto e m
vermelho e negro...
O o f f i c i o d e e x o r c i s m o c o m e ç a c o m as l i t a n i a s normaes
e o p s a l m o L H . D e p o i s , o s a c e r d o t e d e r i g i - s e ao E n e r g ú m e n o .
— Q u e m q u e r q u e sejas, o r d e n o - t e , e s p i r i t o i m m u n d o ,
c o m o aos t e u s c o m p a n h e i r o s , q u e o b e d e ç a m a e s t e s e r v i d o r d e
Deus, e m n o m e dos m y s t e r i o s da I n c a r n a ç ã o , da P a i x ã o , da
Resurreição e d a A s c e n s ã o de Nosso S e n h o r Jesus C h r i s t o ,
e m n o m e do Espirito Santo, que digas o teu n o m e e i n d i q u e s
p o r u m s i g n a l q u a l q u e r o clia e a h o r a e m q u e e n t r a s t e n e s t e
100
é o b s c e n o . S a i , i m p i o , s a i , s c e l e r a d o , s a i c o m as t u a s men-
tiras, p o r q u e Deus q u i z f a z e r seu t e m p l o deste c o r p o . O b -
d e c e ao Deus deante do q u a l se ajoelham os homens :
cedeo l o g a r a N . S. J. C. que d e r r a m o u o seu sangue
sagrado pela h u m a n i d a d e ; cede ao Espirito Santo, que
p e l o s seus b e m a v e n t u r a d o s a p ó s t o l o s v e n c e u - t e no mago
Simon. q u e c o n d e m n o u as t u a s i n f â m i a s e m A n a m a s e S a -
p h i r a , q u e te curvou em erodes, que te cegou no mago
Elyma. Sai agora, sai, seductor. O deserto é a tua mo-
rada, a serpente a tua h a b i t a ç ã o . Eis que apparece Deus,
o Senhor; o fogo arderá os i n i m i g o s se n ã o fugirem. Se
pudeste enganar um homem, não poderás embair Deus
Escoi r a ç a r - t e - á O que tem tudo em seu poder, far-te-á
sahir O que preparou a gehena eterna, Aquelle de c u j a
b o c e a sai o g l a d i o a g u d o , q u e v i r á j u l g a r os v i v o s os m o r t o s
e o século pelo f o g o .
E, emquanto as endemoninhadas, flexuosas, prague-
jando, batendo c o m o craneo, espectoram Satanaz, o s p a t e r ,
os psalmos e n v o l v e m - n a . Q u a n d o ella cai p r o s t r a d a , sal-
va, o t r i u m p h a d o r g r i t a :
— Eis-te refeita santa. Deixa de peccar para que te
não a c o n t e ç a m o u t r o s d e s a s t r e s . V a i p a r a casa e a n n u n c i a
aos t e u s , as g r a n d e s cousas que Deus fez p o r t i e toda a
sua m i s e r i c ó r d i a . . -
Eu tinha acabado de ler o l a t i m illuminado. Fre
Piazza , m u i t o doce, murmurava.
— l ia o u t r a s f o r m a s d e e x o r c i s m o q u e i n v o c a m os santos
a V i r g e m ...
— Mas, superior, ha mesmo m u i t o s casos a q u i ?
— N ã o i m a g i n a ! P r i n c i p a l m e n t e nas classes b a i x a s , sem
impeza. O diabo ama a immundicie. E' quasi incrivel
103
de senhoras.
— N ã o é possível negar a influencia positivista na nossa
política, sobre os b r a s i l e i r o s c u l t o s , ia eu d i z e n d o , m a s o
publico...
— Os jornaes..,
—... o grande publico n ã o comprehende e irrita-se.O
108
— E c o m t a l excesso q u e c o n c o r r í a m o s p e c u n i a r i a m e n t e
para o subsidio sacerdotal da igreja e m Pariz. L e m o s i n f l u i o
de t a l m o d o sobre T e i x e i r a Mendes que p o u c o t e m p o depois
e s t e t a m h e m se c o n v e r t i a . F o i , l i g a d a a L a f f i t e q u e a nossa
i g r e j a i n i c i o u as c o m m e m o r a ç õ e s da caracter religioso c o m
a t e s t a d e C a m õ e s e m 1886 ; q u e se c o m m e m o r o u o 22- p a s -
s a m e n t o d e C o m t e e a f e s t a d a H u m a n i d a d e ; e é dossa é p o c a
que data a primeira procissão civica no R i o de Janeiro,
111
A t y p o g r a p h i a fica e m b a i x o , c o r r e s p o n d e n d o a toda a
e x t e n s ã o da nave e m cima. E' completa. Pergunto respei-
t o s o o n u m e r o dc p u b l i c a ç õ e s dessa o f f i c i n a .
— As obras de m a i o r v a l o r s ã o o A n n o sem Par, a B i o
g r a p h i a d e B e n j a m i n C o n s t a n t , a V i s i t a aos L o g a r e s S a n t o s
do Positivismo, a Chimica P o s i t i v a , ,as Ultimas Concep-
ç õ e s de A. Comte (onde se a c h a a t h e o r i a dos números
sagrados) todas obras de Raymundo Mendes. A publicação
de f o l h e t o s é talvez s u p e r i o r a 600.
— M a s os s u b s c r i p t o r e s s ã o m u i t o s ?
— S ã o sufflcientes. A Igreja do Brazil tem recebido
t a m b é m a u x í l i o s de Londres.
O pavimento em baixo n ã o é só occupado pela typo-
graphia. H a t a m b é m o g a b i n e t e l u x u o s o de Miguel Lemos
e a sala D a n i e l E n c o n t r e o n d e T e i x e i r a M e n d e s e x p õ e aos
jovens discipulos da h u m a n i d a d e , e a q u e m quizer ouvil-o,
as s e t e s c i e n c i a s . O u v e m - n o l e n t e s d e a c a d e m i a s e profes-
sores n o t á v e i s .
— E :
grande o numero de positivistas ?
— No Brasil os orthodoxos d e v e m ser uns 700. Os
s y m p a t h i c o s n ã o se p ô d e m a i s c o n t a r . A s g e r a ç õ e s q u e s a e m
da nosso Escola M i l i t a r s ã o quasi que compostas de sym-
pathicos
— E a influencia moral augmenta ?
O positivista confessou c o m tristeza.
— V a i se t o r n a n d o f r a c a . N ã o se a d m i r e . S e r á p o r f r a q u e z a
d o s a p ó s t o l o s ? S e r á p o r q u e o p u b l i c o se a f a s t a d a realidade,
c o r r o m p i d o m o r a l m e n t e ? O facto é patente. A i n d a ha p o u c o
o privilegioftmerariouma.ca.mpa.nha p e r d i d a . . . Mas entremos.
C o m o c h a p é o na m ã o , n ó s entramos. Havia luxo e c o n -
f o r t o . De u m lado a secretaria, onde se v e n d e m as obras
e d i t a d a s p e l a i g r e j a , d e o u t r o , a sala o n d e e s t á a e s c a d a p a r a
114
E m q u a n t o isso, R a y m u n d o M e n d e s d o a l t o d a cathedra,
r e l a m p e j a v a . N a c a t a d u p a das p a l a v r a s faltavam rr, havia
repetições do pensamento, de phrases, mas na explicação
cultuai, de repente, iconoclastamenté, o azerrague partia
c o n t r a os f a c t o s , c o n t r a a a n a r c h i a actual.
Fiquei enlevado a ouvil-o. Esse m e s m o homem, pura
como u m christal, que t e m o s a b e r nas mãos, eu já o vira
u m a vez, de m a n h ã , carregando com dignidade um em-
b r u l h o de c a r v ã o . . .
As m u l h e r e s s o r r i a m , em toda a translúcida claridade
parecia v i b r a r a alma do grande philosopho terno e bom»
e do alto, Clotilde, a Humanidade, abria como u m lirio a
g r a ç a suave d o seu l á b i o .
A S S I N A G O G A S
Hontem, 14 d e Hadar de 1664 e u assisti â s c e r e m o -
nias d o carnaval nas s y n a g o g a s da S i o n f l u m i n e n s e . O es-
perto Mardocheu, que tudo conseguira com a perfumada
belleza de Esther, ao c o m m u n i c a r de Suza a sua l u m i n o -
sa v i c t o r i a , o r d e n a i a p a r a t o d o o s e m p r e d i v e r s õ e s e a l e g r i a
nesse d i a . Os filhos d e I s r a e l o b e d e c e m e, c o m o a p á t r i a de
Israel é o mundo, nenhuma cidade ainda soffreu por n ã o
festejar data t ã o preciosa. N o R i o , t a m b é m h o n t e m , cerca
de q u a t r o m i l f a m í l i a s d i v e r t i r a m , r i r a m e beberam. Diver-
t i r a m c o m discreção, é certo, beberam sem violência, riram
c o m calma, exactamente porque a gente do p a i z d e j u d á t e m a
tristeza n'alma e a tenacidade na vida.
As festas do peisan foram copiadas dos persas pelos
romanos. Os povos m o d e r n o s c o p i a r a m dos r o m a n o s , a u g -
m e n t a n d o os d i a s d e p r a z e r e d e s t r u i n d o a i n t e n ç ã o c u l t u a i
da ceremonia. Q u e m assistiu á orgia c o n t i n u a dos batu-
ques carnavalescos, talvez n ã o possa c o m p r e h e n d e r como
cerca de dez m i l judeus c o m m e m o r a m 14 d e Hadar, com
tanta modéstia e tanta correcção.
Esses d e z m i l judeus divertiram-se, trocaram presen-
tes, cantaram, ouviram mais uma vez a historia da linda
E s t h e r , l i d a p e l o hhasan nos sagrados livros, e cada u m re-
colheu u m momento o espirito para pensar e m M a r d o c h e u ,
no rei A s s u é r o e na maneira por que 6Q m i l h õ e s de ante-
passados f o r a m salvos da m o r t e e do, p a t i b u l o .
120
S u b i m o s m a i s u m a escada de p e d r a n ú a , n o p a t a m a r da
qual nos r e c e b e o sr. Frederico Braga. Esse cavalheiro
a m á v e l é u m a e s p é c i e de « d i l e t t a n t e » dos cultos. D i z e m que
já f o i a t é f â k i r f a z e n d o crescer bananeiras de um momento
para outro. Neste momento porém limita-se a fazer-nos
e n t r a r p a r a u m a s a l a s i m p l e s e, e m q u a n t o n ó s v a g a m e n t e o
i n t e r r o g a m o s , passeia d a p o r t a p a r a a janella.
130
O S r . F r e d e r i c o B r a g a m o s t r a - n o s as revistas allemàes
e i n g l e z a s , o New Chnrch Messager, a New Church Review,
onde v ê m reproduzidas e m p h o t o g r a v u r a as fachadas dos
novos templos a t r a v é s d o mundo.
o b r a i n t e r m i n á v e l d e S w e d e n b o r g d e s d e os Arcania Cceiestia
a t é o Tratado do Cavallo Branco do Apocalypse.
— N à o comas tanto, m e u f i l h o !
D e l a F a y e t t e n ã o p r e c i s o u desse c e l e s t e c o n s e l h o . Pra
ticou-o antes da revelação; — e foi por isso q u e , mezes
depois, c o m e ç o u , d u r a n t e o s o m n o , a receber ensinamentos
do m u n d o espiritual a respeito da palavra de Deus. Desde
esse t e m p o o S r . L e v i n d o f o i g u i a d o p e l o c é o , e c h e g o u a t é a
Bibliotheca Nacional.
— Q u e l i v r o h e i de p e d i r ? i n t e r r o g o u aos seus b o t õ e s o
h o m e m feliz.
132
— Pede S w e d e n b o r g ! b r a d a r a m os e s p í r i t o s bons de
d e n t r o do sr. Levindo.
O i l l u m i n a d o p e d i u os Arcania C ceies lia, e m l a t i m , p o r q u e
a l é m de c i n c o l í n g u a s vivas, lé c o r r e n t e m e n t e a lingua em
q u e C a t u l l o escreveu t ã o bellos versos e t ã o suggestivas pati-
f a r i a s . L e u os Arcana, foi a igreja da rua T h o u i n , conversou
comMme. H u m a n n que o recebeu ineffavelmente doce, e
mezes, depois, era baptisado n a n o v a i g r e j a .
E m a g o s t o d e 1893, o s r . d e l a F a y e t t e , q u e é mineiro,
v e i u para o R i o , mas q u a n d o a q u i c h e g o u a revolta estalara,
h a v i a estado de sitio, e n ã o teve r e m é d i o s e n ã o abalar para
as montanhas do seu Estado. A cidade de Lamim, em
Minas, foi onde p r i m e i r o se fallou no Brasil da Nova Je-
rusalém.
De v o l t a ao R i o , o p a s t o r fez u m adepto, o sr. Carlos
Frederico Braga, também mineiro. A adhesão foi rápida.
O sr. C a r l o s c o n c o r d o u logo c o m o sr. de la F a y e t t e , como
concordava naquelle i n s t a n t e e m q u e e u os o u v i a . Dahi por
diante Levindo foi o texto do credo e Carlos Frederico o
commentario enthusiasmado. Esses dous homens atira-
ram-se pela cidade a explicar a Nova Jerusalém, a fazer
comprehender pelos h o m e n s i n t e l l i g e n t e s as sagradas i n -
t e r p r e t a ç õ e s do prolixo S w e d e n b o r g , escriptas s o b as v i s t a s
de C h r i s t o Deus, que é u m s ó . Q u a t r o annos depois reuni-
r a m n a r u a M i n e r v i n a c i n c o e n t a swedenborgianos, fundando
duas sociedades: — a A s s o c i a ç ã o de P r o p a g a n d a da Nova
J e r u s a l é m , pela i m p r e n s a , conferências e leitura das obras
d o m e s t r e , e u m a s o c i e d a d e d e b e n e f i c ê n c i a p a r a a u x i l i a r os
i r m ã o s brasileiros.
U m j o r n a l , a Nova Jerusalém, f o i logo p u b l i c a d o e existe
ha oito annos; o c i r c u l o da p r o p a g a n d a a u g m e n t o u , a m i g o s
e m v i a j a m l e v a r a m a n o t i c i a ao P a r á , ao R i o G r a n d e d o S u l ,
133
ci M i n a s e, a f ó r a esses a d e p t o s , c e r c a d e d u z e n t o s szvedenbor-
gianos reunem-se aos d o m i n g o s p a r a ouvir d e la Fayette
n a r r a r o s y m b o l o de A d ã o , e x p l i c a r o s e n t i d o ú n i c o de cada
p a l a v r a e m t o d o s os l i v r o s d a B i b l i a e l o u v a r S w e d e n b o r g .
— S w e d e n b o r g ! e u n ã o p r e c i s o d i z e r - l h e q u e m f o i esse
e x t r a o r d i n á r i o espirito que tudo descobriu da terra e do
c é o . N a sua é p o c a , c h a m o u a a t t e n ç ã o de grandes cérebros
comoGcethe, K a n t , W e s l e y , de Wleland, Klopstosk...
N ó s b a t e m o s as p a l p e b r a s , g e s t o q u e S w e d e n b o r g con-
sidera signal de e n t e n d i m e n t o e sabedoria. Gcethe puzerao
p h i l o s o p h o n o Fausto com o pseudonymo de Pater Sera-
phicus, K a n t fallando delle recorda e c u m p r i m e n t o do seu
cocheiro a T y c h o Brahe: « o Sr. p ô d e ser m u i t o entendido
nas cousas d o c é o , m a s neste m u n d o n ã o passa d e u m d o ' d b » .
Ü s outros n ã o t i n h a m sido mais a m á v e i s . Mas para que d i s -
cutir ? O m i n i s t r o da Nova J e r u s a l é m continuava contado
a a t t e n ç ã o e curisiodade dos povos m o d e r n o s pelo extraor-
d i n á r i o propheta do N o r t e . Depois parou.
— O que é, e m synthese, a Nova J e r u s a l é m ? p e r g u n t o u .
S w e d e n b o r g ao m o r r e r e m casa d e u m b a r b e i r o , a c h a v a
d e s n e c e s s á r i o r e c e b e r os s a c r a m e n t o s p o r ser de ha muito
c i d a d ã o d o o u t r o m u n d o . A r e s p e i t o dessa r e g i ã o o cidadão
e s c r e v e u e n o r m e s v o l u m e s ex auditis etvisis, isto é , sobre o
oue vira e ouvira.
O s Arcania, o tratado do C é o e do Inferno,o tratado das
Representações e Correspondências, a Sabedoria Angélica
s o b r e o d i v i n o A m o r e a d i v i n a S a b e d o r i a , a Doutrina Novaz
lüerosalymce, as t e r r a s d o n o s s o m u n d o s o l a r e n o c é o a s t r a l ,
a t é o Amor Conjugai, com umas m á x i m a s arriscadas sobre
o a m o r s c o r t a t o r i o , e x p l i c a r a m b e m as suas e x t r a o r d i n á r i a s
viagens.
S w e d e n b o r g esteve no inferno e conversou comtaniÊa
134
eom as r e d e s , os p e t r e c h o s d e pesca e o c a l ã o , o p i t t o r e s c o
calão m a r í t i m o
O oceano i m p r i m i - l h e s u m c u n h o especial, s ã o p r o p r i e -
dades do mar. N u n c a reparaste nos pescadores ? T ê m os
p é s d i f f e r e n t e s d e t o d o s , u n s p é s c o n t r a c t e i s q u e se c r i s p a m
nas pranchas c o m o os d o s macacos; andam a bambolear,
balouçando como um barco e a sua pelle l u s t r o s a t e m o
macio g r o s s o d o s v e l l u d o s . A a l m a dessa g e n t e conserva-se
ondeante, maravilhosa e simples.
— M a s os p e s c a d o r e s s ã o c h r i s t ã o s ?
— E s t á claro. Mas christãos puros é difficil encontrar
h o j e a f ó r a os
; e v a n g e l i s t a s e os s y r i o s .
— L e m b r o - m e d a festa de Nossa S e n h o r a , na L a p a .
— E ' o u t r a cousa.
— V i em Santa Luzia a d e v o ç ã o de S. Pedro.
— Era promessa de u m rapaz, que, p o r falta de meios
não a continua. Deixemos N . S e n h o r a e S. P e d r o . F a l l o d e
u m c u l t o q u e e m a n a n o i n t i m o r e s p e i t o d a s o n d a s . T o d o s os
pescadores das praias e das ilhas p r ó x i m a s festejam, sacri-
f i c a m ao m a r e t ê m u m o b j e c t o e s p e c i a l d e d e v o ç ã o . N ã o h a
nenhum q u e n ã o t e m a a M ã i d ' A g u a , a S e r e i a , os T r i t õ e s e
que n ã o respeite a Lua. C o n h e ç o tres m a n i f e s t a ç õ e s desse
culto. A Mãi d' A g u a e n t r e os p e s c a d o r e s d e S a n t o C h r i s t o
e de Santa L u z i a , a da L u a e d o M a r e a d o A r c o Ires.
— O arco-ires ?
* * *
— E m Sepetiba. E ' dos m a i s c o m p l e t o s e dos m a i s bellos,
tendo c o m o sacerdote u m a m u l h e r . . . .
O arco-ires, a a d o r a ç ã o de u m d e u s q u e se c u r v a nas
nuvens p o l y c h r o m o e vago, q u e e r g u e das ondas u m f a c h o
de 1 uzes b r a n d a s e desapparece, o terror daquillo que se~
d e s f a z , s e m q u e se s a i b a c o m o l E r a u m a p h a n t a s i a 1 M a s os
141
c o s m o l a t r a s i n v e n t a m t a n t a cousa p a r a p e r f u m a r a sua i g n o -
r â n c i a q u e b e m p o d i a ser.
— N ã o h a d u v i d a s , disse o m e u a m i g o . O arco-ires, é
uma a n t i q u i s s i m a d i v i n d a d e , u m a n n u n c i o dos c é u s . L e m -
b r a - t e disso e a c o m p a n h a - m e .
Acompanhei-o, durante u m inverno, muito humido e
muito estrellado. Os pescadores têm um temor incalcu-
lável d a policia. Desde que u m curioso apparece, g u a r d a m
s e g r e d o das suas c r e n ç a s e negam toda e qualquer copar-
ticipação e m religião que n ã o seja a c a t h o l i c a . C o m o s ã o
primitivos e r u d i m e n t a r e s , p o r é m , a bondade que t e m é f u n -
damental, t r a n s f o r m a - o s e n ã o h a n e n h u m q u e n ã o acabe
confiante e f a l l a d o r , e x a g g e r a n d o p a r a e s p a n t a r os m y s t e -
r i o s c o s m o l o g i c o s . Esses m y s t e r í o s s ã o de u m a belleza d e l i c a -
da e antiga, de u m a belleza de rhapsodos q u e r e l e m b r a a s
fantasias scandinavas e helenas, u m m o n t ã o de lendas e de
ritos enervantes. H a nas p r a t i c a s e nas i d é a s trechos de
Hesiodo, de Christo e dos pretos m i n a s e a gente afunda-se,
q u a n d o os q u e r g u a r d a r , n u m b a n h o d e c r y s t a l b a t i d o p e l o
sol.
— Quasi s e m p r e os d i r e c t o r e s d a s f e s t a s , os s a r c e c l o t e s
n ã o s ã o pescadores. E m Santo C h r i s t o é o padeiro Carvalho,
homem de posses, d i z o m e u a m i g o . Os s a c r i f í c i o s s ã o f e i t o s
geralmente á noite.
V a m o s os d o u s i n t e r r o g a r os p e s c a d o r e s . Essa gente
teme a Mai d' Agua, tendo a longigua r e c o r d a ç ã o de que
ella apparece v e s t i d a de b r a n c o , seguida de h o m e n s b a r b a -
dos de v e r d e . A a p p a r i ç ã o f e m i n i n a g r i t a de repente, apaga
as luzes na barca, f a z as cerrações, a f a s t a os p e i x e s , e as
vezes c a n t a .
— Como a.Darclée ?
— C o m o as s e r e i a s meu caro. Os pescadores t ê m que
142
cahir no f u n d o da b a r c a t a p a n d o os o u v i d o s . U l y s s e s a m a r -
rava-se . . .
Para aplacar a d e u s a d o m a r , ser i m p a l p a v e l e l i n d o , os
pescadores fazem o sacrifício de u m carneiro. Matam
o b i c h o á b e i r a d o o c e a n o , o s a n g u e cae numa cova aberta
na areia. Depois partem canoas levando p e d a ç o s do a n i m a l
com presentes que deixam cahir no f u n d o da bahia com
uma oração votiva.
U m rapazola, l i n d o c o m o o A p o l l o do Belveder, respon-
d e as nossas perguntas:
— E u f u i baptisado patrão.
— M a s sabe a h i s t o r i a d a M ã i d ' A g u a ?
— Sei s i m . A q u i , para Mãi d ' A g u a ser boa fazem-se
despachos. Na ilha do Governador c o m p r a m tudo do mais
f i n o , p õ e m a mesa á beira da praia, c o m talheres de prata,
copos b o n i t o s , a toalha alva e gallinhas sem c a b e ç a , para a
santa c o m e r .
pescador, J o s é B e l c h i o r . O v e l h o recebe-o c o m i n t i m i d a d e e
c c n t a - m e o q u e pensa deste m u n d o . E'curiosissimò.
Para José o m a r representa o h o m e m , o principio activo.
Por isso o mar é superior em tudo á terra, que como a
m u l h e r s ó serve para o d e s c a n ç o . O oceano c i r c u n d a a t e r r a
n u m longo a b r a ç o . O m a r só soffre u m a influencia, a da
lua, que mostra a sua face de t r i n t a em t r i n t a dias e o
faz inquieto e a a r f a r . Nella mora Nossa Senhora com o
seu. f i l h o , J e s u s , e esse d o c e a l a m p a d a r i o de o u r o desenca-
d e i a os v e n t o s , f a z as t e m p e s t a d e s , e s c o n d e os p e i x e s , baixa
as m a r é s e g u i a as n a v e s . Se N o s s a S e n h o r a q u i z e s s e , p a r a v a
a l u a q u a n d o ella v e m cheia e t u d o seria então magnifico.
C o m o as c o u s a s n ã o s ã o a s s i m , f a z e m - s e p r o m e s s a s , pede-se
aos s a n t o s p a r a i n t e r c e d e r e, n a s n o i t g s d e l u a r f a z e m uma
passeata e m b a r c a ç õ e s c o m v e l a s d e c e r a accesas n a mão e
rezando baixinho.
T o d a s essas p e q u e n a s modalidades reunem-se em Se-
petiba no culto geral do Arco íris. H a festas de tres em
tres mezes, despachos simples e u m a grande solemnidade
que já f o i feita a 2 de f e v e r e i r o e a c t u a l m e n t e se r e a l i s a e m
j u n h o , no dia de S. Pedro.
E s t i v e Ia n e s s e d i a . A s a c e r d o t i s a é u m a portugueza re-
f o r ç a d a , q u e se chama Maria Mattos da Silva. S ó são per-
m i t t i d o s n a f e s t a p e s c a d o r e s e os p e s c a d o r e s v ã o de t o d a a
p a r t e a o c u l t o s i n g u l a r . A casa d e M a r i a d a S i l v a f i c a m e s m o
no p o n t o dos bonds, e nos dias de festa está toda a d o r n a d a
de folhagens e galhardetes. Todos lavados e de roupas
claras, a d o n a da da d e v o ç ã o m a n d a buscar os n e g r o s f e i t i -
csiros para preparar os ebós e f a z e r a matança dos ani-
maes.
Ella p r ó p r i a d e i t a as c a r t a s para saber quem deve i r
ievar os s a c r i f í c i o s e os d e s e j o s subtis do Arco-íris,
144
— E' costume.
E' costume t a m b é m p a g a r e m t o d a s as r e l i g i õ e s . T a n -
to os f e i t i c e i r o s , como os c o n d u c t o r e s das barcas rece-
bem dinheiro. Os remadores pertencentes ao Arco-íris
t ê m seis m i l r é i s , os d a M ã i d ' a g u a tres e os a c o m p a n h a -
dores n o v e . A ' noite, já no c é o negro o crecente l u n a r , de-
pois dos b ú z i o s e dos baralhos t e r e m indicado os d i a s e m
q u e n ã o se p o d e r á p e s c a r , começa o sacrifício.
F o r ç a d o a ficar de longe, e m b r u l h a d o n u m paletot e m
que tiritava, vi sahir da casa d a Maria u m a theoria de
c a m i s o l a s b r a n c a s c o m as lanternas de azeite de boto na
mão, acompanhando dous homens, um vestido de seda
outro de setim.
O p r i m e i r o era o voga da canoa d o A r c o - í r i s , o segundo
ia d i r i g i r a da M ã i d ' A g u a . As canoas f o r a m arrastadas pa-
ra o m a r . Na d o A r c o - í r i s i a m os m a i s f i n o s presentes c o m
os d e s p a c h o s , na da M ã i d ' A g u a objectos caros e femini-
nos. Q u a n d o as c a n o a s p a r t i r a m e m d i r e ç ã o ao Norte, le-
vando aquelles estranhos remadores vestidos de morim
b r a n c o , os q u e f i c a r a m n a p r a i a levantaram os b r a ç o s e a
Maria da Silva, na t u r b a , s o r r i a c o m o q u e m se desobriga
de u m a promessa sagrada.
— E ao v o l t a r e m , o q u e h a ? i n d a g u e i ao rapaz.
— V o l t a m de costas, de frente para o mar, entram as-
s i m e m casa; os r e m a d o r e s , m e n o s os d o A r c o - í r i s , batem
coma c a b e ç a n o c h ã o , e a festa continua.
— M a s q u e é o Arco íris, afinal ?
O A r c o í r i s i n d i c a se a g e n t e e s t á b e m c o m D e u s . E ' u m
aviso, o signal da u n i ã o , o nnico meio por que o mar se
deixa ver...é a crença.
Olhei mais- o oceano soluçante sob o vento al-
gida.
146
F r e q ü e n t e i os t e m p l o s d o f n t u r o . Só em uma semana
visitei oitenta, encontrando~os sempre cheios de fieis. O ka~
l e n d e s c o p i o a l l u c i n a n t e das a d v i n h a s f a z a v i d a livremente.
Em algumas casas e n c o n t r e i tres e q u a t r o , gyrando sob
uma única firma.
Só na r u a d o H o s p í c i o , p o r e x e m p l o , ha c i n c o o u seis.
Nos outros pontos conversei com M m e . Jorge da rua da
A j u d a , a L i b e r a t a na r u a da A l f â n d e g a , a Joanna Maria da
Conceição na rua Figueira de Mello, a A m é l i a de Aragão
a L u i z a B a r b a d a n a r u a B a r ã o d e S. F e l i x , a A m é l i a d o P e -
dregulho, a A m é l i a Portugueza, a C â n d i d a , a M m e . . . da rua
dos A r c o s 4, a X i m e n e s n a r u a d a P r a i n h a 19, M a r i a de Je-
sus na ruaDr. Maciel 7, C a s t o r i n a Pires e m S. D i o g o , a
A m é l i a da rua d o L a v r a d i o , donã M a r t i n s na rua Mariz e
Barros, a A l e x a n d r i n a na r u a da A m e r i c a , M m e . H e r m i n i e
na r u a Senador Pompeu, Maria Bahiana na rua do Costa,
aGenovava da r u a d o V i s c o n d e de Itauna, Dona Z . . , da
r u a d a I m p e r a t r i z 15, a Corcundinha celebre a d v i n h a de acto-
res e de reporters na deixa u m ror infindável. Todas f a l a m
d o seu desinteresse e x i g i n d o d i n h e i r o e a l g u m a s v e n d o o f u -
t u r o nas m ã o s n e m ao m e n o s s a b e m as l i n h a s e s s e n c i a e s se-
g u n d o o e n g r a ç a d i s s i m o Desbarolles. A observação nessas
casinholas é i n c o l o r . Fica-se e n t r e os f e i t i ç o s dos minas e
a magia medieva, n u m a athmosphera de b u r l a .
M a s é l á p o s s í v e l n ã o a c e r t a r as vezes ? A v i d a humana
t e m u m a linha geral. Tanto a m a m as h e r o i n a s d e Bourget
c o m o as l a v a d e i r a s , g o s a m e g o s t a m d e ser g o s a d o s os fre-
q ü e n t a d o r e s d a haute-gomme c o m os d a n ç a r i n o s d o s b e c c o s
esconsos. As vidas têm uma parecença em bloco, uma
uniformidade de sentimentos. Por mais ignorantes que
sejam, as sacerdotisas tem o habito da observação, i n -
151
A R o s a , c o m a s f o n t e s s a l t a d a s , o q u e e m m a g i a se c h a m a
cornos de M o y s é s , é um assombro de observação. Esse
e x e m p l a r ú n i c o de astrolatria conhece m e s m o algumas pra-
ticas antigas. Q u a n d o a f o m o s p r o c u r a r , olhou-nos bem»
152
— P o r q u e v e i o , se n u n c a acreditará ?
— Estou numa situação difficil.
— O u ç a a voz de Deus.
— Mas a m i n h a a l m a soffre.
— O h o m e m t e m muitas almas...
— M a s se p o s s o s a b e r o f u t u r o i r a g u a ?
— A a g u a é o n d e se se m i r a m os a s t r o s q u e t e m a vida
da gente.
— C o m o se consulta ?
M m e . de F . . . esteve n a I n g l a i e r r a ; e m estado n a t u r a l
discute o psychismo, e quando somnambulisada apparece
n u m a t ú n i c a preta. Dizem que predisse os acontecimentos
da nossa p o l i c i a e p r e v ê u m futuro desagradável da pen-
d ê n c i a brasileira c o m o Peru. E' lugubre. A roda que a
f r e q ü e n t a da-se como ultra chie.
M m e . M a t h i l d e , a c a r t o m a n t e d o h i g h - l i f e , já teve c r i a -
dos de casaca e possue u m a linda galeria de quadros. De
t o d o s os t e m p l o s , o d e s s a s e n h o r a e o m a i s e x c ê n t r i c o . M m e .
M a t h i l d e , p a r a os Í n t i m o s a p r i n c e z a M a t h i l d e , e u m a crea-
t u r a que falia c o m vulubilidade.
V a i - s e a M m e . c l e T h e b e s c o m o se j o g a u m a p a r t i d a d e
b o s t o n . E ' u m a necessidade elegante, M m e , de Thebes t e m
hoje u m a fortuna.
— E erra sempre.
— Nunca,
— E ' sacerdotiza por v o c a ç ã o ?
— S e m p r e e s t u d e i as sciencias occultas p o r d i l e t t a n t i s -
mc. Das s c i e n c i a s occultas sahiram as sciencias exáctas,
disse u m g r a n d e m e s t r e . Desde c r i a n ç a a m e i a a n t i g ü i d a d e ,
t i v e o d e s e j o d e r e m o n t a r o Z o r o a s t r o , ao Z e n d - A v e s t a e aos
Magos, c o m o prazer de d e s c a n ç a r á b e i r a d o N i l o , de co-
n h e c e r P l o t i n o e os l i v r o s herméticos.
Depois, s e m p r e f u i d o t a d a de u m a g r a n d e f o r ç a n e r v o -
sa. U m a v e z , l e v a n d o a m i g a s á casa d e u m a somnambula,
r e s o l v i e s t u d a r os írucs das m e r c a d o r a s e d ' a h i a m i n h a c o n -
versão.
Nesse m o m e n t o , como a prophetisa ria, estendendo as
mãos, v i - l h e na s i n i s t r a v á r i o s a n n e i s c o m p l i c a d o s , e pren-
di-lhe os d e d o s , c u r i o s o das jóias e da m ã o .
— E s t á v e n d o os m e u s a n n e i s ? E s t e é a f r i c a n o , p a r t i d o .
Tem os s i g n o s d o z o d i a c a — o t e m p o . E s t e outro guarda no
f u n d o u m b e r y l l o , p o r o n d e se e n x e r g a a a l m a . N a t u r a l m e n -
te é descrente ?
— S o u filho d e u m a c i v i l i s a ç ã o muito parecida com a
d aquelle i m p e r a d o r que precavidamente levantava t e m p l o
aos d e u s e s d e s c o n h e c i d o s . H a e m t u d o a l g u m a c o u s a a te-
m e r — o i n e x p l i c á v e l . A h i s t o r i a é u m a a f f i r m a ç ã o de orácu-
los, d e s o m n a r a b u l i s m o d e predicções....
E u guardara com religião a m ã o da pithonisa, M m e . M a -
thilde, porém, ergue-se, agitando os seus perfumes.
— E n ã o t e m e }'è n ã o l h e p a r e c e s u g g e s t i v o e s t e interi-
o r MNflo receia q u e d ' a q u e l l c c a n t o e s c u r o surjam pharttaa*
155
m a s , q u e , a g a r r a n d o a s u a m ã o , l e i a n'essas l i n h a s a d e s g r a -
ça irremediável ?
— Se f o r a s s i m , d i s s e d o c e m e n t e , q u e se h a d e f a z e r ? E '
a vontade do F u t u r o . . .
— Pois m e u caro, pode ter a certeza de q u e n ã o somos
Só as s a c e r d o t i s a s do terrível Destino, somos as C o n s o l a d o -
r a s , a T h e o r i a d o B e m , as S o f f r e d o r a s d a IUusão.Não sorria.
S e m n ó s , q u e seria das c i d a d e s ? Os s m h o r e s andamá
cata do d o c u m e n t o humano. N ó s temos á m ã o , todos os
d i a s , as t r a g é d i a s , os d r a m a s e as c o m é d i a s de q u e se f a z o
mundo. A ' n o s s a c a s a v ê m as m u l h e r e s c i u m e n t a s , os que
d e s e j a m a m o r t e e os q u e desejam amor. O s a d u l t é r i o s , os
crimes, os remorsos, a luxuria, as v e r g o n h a s fervilham.
Nós consolamos.
D i a r i a m e n t e , n a s casas d e q u e tomou o numero para
indical-as á policia, encontram-se os conquistadores, os
homens b e m vestidos d e q u e a p o l i c i a i g n o r a os m e i o s de
v i d a ; os senadores, os d e p u t a d o s , as pessoas n o t á v e i s , as
a c t r i z e s , as cocottes, as s e n h o r a s c a s a d a s , os i m b e c i s pro-
p o n d o c o u s a s i n d e c o r o s a s e as a l m a s dolorisadas.
N ó s a todos damos o favo da i I l u s ã o . . . Qaundo morre
m e u pai ? M e u m a r i d o abandona-me ! Será minha a mulher
de S i c r a n o ? Fulana é fiel? Realisa-se o negocio? E nós
a q u i e t a m o s os i n s t i n c t o s c o m o l e n i t i v o do b e m . Ainda ha
pouco tempo, entrou por esta sala uma menina em
p r a n t o s . E r a d o m i n g o . N ã o d e i t o c a r t a s aos d o m i n g o s .
Neguei-me. Soluçou, pediu, ajoelhou. Logo que a v i ,
p e r c e b e n d o a sua a g i t a ç ã o , e s p a l h e i as c a r t a s ao a c a s o , A
m e n i n a vai c o m m e t t e r u m desatino! Ella o l h o u - m e espan-
tada. S i m , ia dalli suicidar-se, porque a abandonara o
a m a n t e , g r á v i d a e s e m t r a b a l h o . F i z as cartas d i z e r e m que
o amante voltava e a pequena nâo morrêu.
156
— Cartas salvadoras!
— D i a s a n t e s a p p a r e c c r a una m a r i d o a i n t e r r o g a r - m e a
r e s p e i t o d o seu ménage, derruido por i n c o m p a t i b i l i d a d e de
g ê n i o s . Ella escrevia-lhe cartas pedindo para voltar. Que
d e v o f e z e r ? V o l t a r ! Mas teve a m a n t e s ! E ' boa. A b a n d o n a d a
sem saber t r a b a l h a r e sem recursos queria o senhor que a
pobre morresse? Depois f o i - l h e o Sr. fiel ? N ã o ! Era lá
p o s s í v e l a ella d e i x a r de t e r u m amante...
Ou mesmo dous ?
— Quasi sempre.
Ergui-me, e vi numa o u t r a sala f o r r a d a de esteiras da
Índia, u m oratório onde a r d i a m lamparinas. Os s a n t o s , s o b
o h a l o d e l u z , q u e a s c i e n c i a e x p l i c a p e l o s r a i o s n, c o m o o es-
f o r ç o da a t t e n ç ã o — t i n h a m u m olharzinho redondo e inex-
pressivo. Q u e d i r i a m os c o i t a d o s , s a n t o D e u s d o F u t u r o ?
— Neste m e i o de adivinhas, chiromantes e somnam-
b u l a s é m e l h o r ser i m p a s s í v e l , dizia M m e . Mathilde, A's
v e z e s p r o t e g e m a m o r e s , s ã o casas a m b i g u a s .
— M a s as s u a s e x p e r i ê n c i a s ?
— P r a t i c o o s o m n a m b u l i s m o c o m o as c a r t a s , a t e l e p a t h i a
e a chiromancia, indo directamente á alma, a alma que n ó s
temos no f u n d o . T u d o é d o m i n i o . As ultimas experiências
d o m e u d o m i n i o tive-as c o m o c o n h e c i d o p i n t o r Helios Seel-
15S
— E a transmissão do pensamento?
— Q u e r vel-as ?
Tocou o t y m p a n o , appareceu u m pequeno loiro com u m
sarcophago de prata em relevo. M m e , M a t h i l d e — a p r i n -
ceza para os í n t i m o s — a b r i u - o c o m c u i d a d o , e cie d e n t r o
n u m a s o m b r i a a p o t h e o s e d e o i r o s e c o r e s , as c a r t a s d o larot,
a papesse, o d o i d o , o az d e o i r o , o e n f o r c a d o , o biteleur esca-
moteador surgiram tenebrosamente.
— Q u e m sois v o s ?
— Sou c duque do E g y p t o e v e n h o c o m os c o n d e s e
barOea,
159
Os s y r i o s , a r r a s t a d o s n a sua i m m e n s a necessidade de
amisade e amparo, davam com a muralha de uma lingua
e s t r a n h a , n u m p a i z q u e os n ã o s u p p o r t a v a . Agremiaram-se,
fizeram v i d a á p a r t e e, c o m o a c o l ô n i a a u g m e n t a v a , foram
por a h i , mascates a credito, fiando a toda a gente, monta-
r a m botequins, armarinhos, fizeram-se negociantes. Quem
os amparou? Ninguém! Só, por u m acaso, Ferreira de
Araújo, o Mestre admirável, escreveu defendendo-os. Os
sacerdotes m a r o n i t a s r e s p e i t a m - l h e a memória, e na data
da sua morte rezam-lhe missas por alma, guardando
delicadamente uma gratidão duradoura.
N o m a i s , a h o s t i l i d a d e , os e s p i n h o s d a p h r a s e papal.
— Os s y r i o s c h e g a m , g a n h a m d o u s m i l r é i s p o r d i a e já
estão contentes. N u n c a s e r ã o v e r d a d e i r a m e n t e ricos p o r q u e
a p p a r e n t a m ter oito q u a n d o apenas t ê m d o u s .
E s t e f e i t i o os h a d e f a z e r c o m p r e h e n d i d o s d o s b r a s i l e i r o s .
M a s os m a r o n i t a s , s o b a p r o t e c ç ã o do velho santo aus-
tero s ã o essencialmente bons, de u m a bondade á flor da pelle,
q u e se d e s f a z e m g e n t i l e z a s ao p r i m e i r o c o n t a c t o c o m o um
bonbon. O s h o m e n s f a l i a m s e m p r e , as m u l h e r e s olham com
os s e u s l i q u i d o s o l h o s i n s o n d a v e i s e p o r t o d a s essas casas h a ,
i n s e p a r á v e l da vida, o m y s t e r i o da religião, no a m o r que as
mulheres, algumas i n e f f a v e l m e n t e b e l l a s , p r o p o r c i o n a m , nos
n e g ó c i o s , nas i d é a s e nas refeições. Quando um maronita
e n f e r m a , a p r i m e i r a cousa que faz é c h a m a r u m padre p a r a
se c o n f e s s a r ; q u a n d o u m n e g o c i o v a i m a l , a c o n s e l h a - s e com
o s a c e r d o t e , s ó c a s a p e l o seu r i t o , o ú n i c o v e r d a d e i r o , e tra-
balhando para viver, f u n d a irmandades, c o l l e g i o s e, p e n s a
e m edificar capellas.
D e 1900 d a t a a f u n d a ç ã o d a I r m a n d a d e M a r o n i t a , p o s t e -
r i o r a o u t r a s d u a s q u e se d e s f i z e r a m . F o r a m sócios funda-
dores: Dieb A i c a l , Arsanius M a n d u r , Galep T o y a m , Seba
reodP Curi, Miguel C a r m o , Acle Miguel, João Facad, A n -
tônio Nicoláo,Antônio Kairur, Bichara Bueri, Gabriel Ranie,
169
ó c u l o s e s ã o s u a v e m e n t e e r u d i t o s . T r a h , p o r e x e m p l o , este-
ve o i t o a n n o s n a B é l g i c a e discursa .como u m regato tran-
quillo ; Chidiak é professor, e cada palavra sua v e m repas-
sada de doçura.
E' sabido que a r e c o n c i l i a ç ã o dos m a r o n i t a s c o m a i g r e -
ja r o m a n a d a t a d e i 182. A reconciliação foi incompleta a
principio, mas hoje é quasi integral. Os p a d r e s , p o d e n d o
casar, abandonam essa idéa; ha o maior respeito pelo
Summo Pontífice, e a política do Vaticano consegue aos
poucos outras reformas.
C o m o os p a d r e s me levassem a ver o t e r r e n o donde a
igreja maronitá surgirá, interroguei-os a respeito do rito
da sua seita.
— E ' q u a s i i d ê n t i c o ao r o m a n o , d i z e m - m e . A l i t u r g i a ê
redigida em syriaco. E' u m a necessidade. Ha syrios que
sabem de c ó r o sacrifício da missa. Talvez o m e s m o n ã o
aconteça n u m a igreja romana, que conserva o latim.
— A começar pelos s a c r i s t ã e s .
170
— Os p h y s i o l a t r a s , os q u e p r a t i c a m a m a g i a o r t h o l o g i c a
n ã o precisam d e l o c a l d e t e r m i n a d o . S ã o os n o v o s homens,
f a z e m e x c u r s õ e s pelos prados, m o n t e s e lagos e m Fraterias
Estheticas, Philosophicas ou Orthologicas, conforme o g r ã o
dos ludambulos.
— Ludambulos ?
— U m a palavra da l i n g u a u n i v e r s a l !
— O volapuck? O esperan/o}
— Não, u m a lingua inventada por m i m , o Al-tâ.
— Mas q u e v e m a ser o A l - t á ?
—• A p p l i c a n d o a O r t h o l o g i a ( o u L ó g i c a Universal) aos
factos da L i n g u a g e m , verifica-se que os elementos phonc-
ticos, sons e i n t o n a ç õ e s (ou consoantes e vogaes) são por
t o d a a p a r t e i d ê n t i c o s . Decluz-se q u e s ã o o r i u n d o s das mes-
m a s i m p r e s s õ e s e r e s u l t a n t e s das m e s m a s a p t i d õ e s e x p r e s s i o -
naes. C o l l o c a n d o e m syncse, descobre-se que os sons,- que
e x p r i m e m relações, formam uma escala semitonal, como a
d a m u s i c a , e c o m p o s t a ' d e irese notas, ou graves primarias
como todas as escalas, aliás:—U (grave fundamenta!) A
(dominante e geratriz) e I (sensivel superior) estabelecem
t o d a s as relações synésicas :
A I (o I I )
I I (geratriz)
D e t a l h a n d o , e m f i m , o valor f r a c c i o n a l dos p h o n è m a s em
geral, obtem-se, por d e d u c ç ã o l ó g i c a , a expressão natural;—
de q u a l q u e r e s p é c i e de i m p r e s s ã o :—sensacional, emocional
ou accional.,. e a Lingua Universal está, emtim, racional-
mente instituída.
177
Exemplo perfunctorio:
K é a r a i z cie Corpo, concreto, etc.
A s i g n i f i c a o actual e acçãü,
d'onde :
A c t i v o : K A — o C o r p o q u e se a p r e s e n t a e se m ô v e .
e
Passivo : A K—o C o r p o que é impellido ou sofíre a a c ç ã o .
Wl é o s y m b o l o d o s e n t i r e a g i r ,
donde :
Passivo : A M—Eu=amo^sou...
e
Q u e m s o u b e r i d e n t i f i c a r - s e c o m o seu N o m e de Regenerado,
e s t á , ipso facto, isento de toda e q u a l q u e r p e r t u r b a ç ã o sub-
jectiva, causada habitualmente pelos a t a q u e s malévolos da
Canalha humana. M a s a adopção v o l u n t á r i a do novo N o m e é,
a l é m disso, u m acto bellamente revolucionário, e u m pro-
t e s t o s o l e m n e c o n t r a t o d a s as velharias e c o n v e n ç õ e s hypo-
c r i t a s e p e r v e r s i v a s . Q u e m escolheu o seu próprio NOME, também
r o m p e u , ipso Jacto, com t o d a s as Imposições e Imposturas
que tendan a tyrannizar a sua V o n t a d e e t o l h e r a sua L i -
berdade de I n d i v í d u o ! . . . M i l outros motivos ha que advo-
g a m esse 'Rito da Adopção.
— Eil-os s
E t y m o l o g i a ; — S . . . - s y m b o l o d e Fonte e de Brilho
e m sua m á x i m a i n t e n s i d a d e e, p o r t a n t o , s y m b o l o d e
S O L ; — N . . . s y m b o l o de i n f i n i t o e i n d e f i n i d o , de espa-
ç o e de e s p i r i t o , p o r t a n t o : num ponto indefinido do
Espaço. A quer dizer : —presente, ou visível, donde
S A N — S o l acima do horizonte visual. I significa o que
está para v i r e o que s ó b e , d o n d e S I N — o Sol que vai
nascer o u nascituro. U quer dizer o que está embaixo,
donde —SUN o Sol no Nadir.
as p e r i p a t é a s , a r e f o r m a d a t e r r a — t u d o isso a s s u s t a v a . R e -
f l e c t i e n t r e t a n t o . M a g n u s era u m vasto saber, c a l m o e p r a -
tico, formado em Kabala, tendo viajado o mundo in-
teiro.
S e a p e n a s n e s s a q u a l i d a d e dissesse t e r i n v e n t a d o o m o -
t u - c o n t i n u o n a s azas d a s b o r b o l e t a s , e u , d e p l o r a n d o - o , l e v a l -
o-ia ao h o s p í c i o . Mas Sondhal inventara u m a religião, a
r e l i g i ã o q u e é o b a l s a m o das almas, u m a religião brasileira,
e c o m o J e s u s á b e i r a d o l a g o T i b e r i a d e , e n s i n a v a aos inicia-
dos á beira d a l a g ô a R o d r i g o de F r e i t a s e d a l a g ô a dos P a t o s .
Era mais u m propheta, v e n e r e i - o , e a s s i m f a z e n d o q u i z sa-
ber q u e m c o m m i g o o venerava. A physiolatria é u m a re-
l i g i ã o d e d o u t o r e s ; n u m a l i s t a d e 200 o r t h o l o g o s , s e s s e n t a
por cento são b a c h a r é i s .
As listas s ã o feitas c o m p o m p a , e e m cada u m a eu l i : —
D r s . T o l e d o de L o y o l a , Tavares Bastos, Jango F i s c h e r , F l a v i o
de Moura, Luiz Caetano de Oliveira, Antônio Ribeiro da
Silva Braga, A d o l p h o Gome%de Albuquerque, Floripes Ro-
sas J ú n i o r , J o s é V i c e n t e V a l e n t i m , U l y s s e s F a r o , B a r b o s a R o -
d r i g u e s J ú n i o r . . . U m a s é r i e i n t e r m i n á v e l de b a c h a r é i s !
Tantos doutores devem assegurar a doutrina doutís-
sima. Fui então procurar o hierophante n o seu t e m p l o , q u e
tem percorrido varias casas n a C i d a d e N o v a . M a g n u s S o n -
d h a l r e c e b e u - m e c o m o seu i n a l t e r á v e l s o r r i s o e o seu i n a l t e -
rável pince-nez.
— H a t a n t o s d o u t o r e s n a s u a r e l i g i ã o , hierophante, que eu
a considero.
•—Pois, ergonte, u m a das i d é a s d a m i n h a r e l i g i ã o é acabar
c o m os d o u t o r e s !
S e n t á m o - n o s d i v i n a m e n t e e eu o i n t e r r o g u e i :
— A sua r e l i g i ã o t e m q u a l q u e r cousa de p o s i t i v i s m o ?
182
— A r e f o r m a é e n t ã o geral ?
E m q u a n t o essas l o u c u r a s e r a m d i t a s , M a g n u s S o n d h a l
sorria.
;ETHOS
KOSMOS OXTOS e
ESTHETOS
(ERGONOMIA
EIDONOMIA o EIMOLOGIA ; e
EROSTERGIA
I Gráo 2° Gráo
o
3 Gráo
o
Physiolatria
A p a l a v r a M A G I A é e m p r e g a d a n o s e n t i d o de sua etymo-
l o g i a Altaica, isto é. d e r i v a d a de M A C — F o r ç a o u A c ç ã o e 1—
sobre ou para o F u t u r o . Representa o estado superior da
V i d a , e m q u e o E s p i r i t o o u a R a z ã o d i r i g e a Fo?-ça Inconsciente.
A magia começa a r e v e l a r - s e nas próprias iniciações
m a ç o n i c a s pela a d o p ç ã o de u m nome esotérico que liberta
das m á s influencias. S ó eu aposso empregar, porque sou o
ú n i c o a c o n h e c e r a h y p e r k i m i c a o r t h o l o g i c a , o u as leisnatu-
raes das i n f l u e n c i a s psychicas.
184
l a r e m o s a c o r r u p ç ã o d o s V i v o s d e c a d e n t e , q u e s ã o de mais na
superfície do Planeta!.,..»
D e m a i s ! os q u e s ã o de m a i s ! e u a l l i d e n t r o estava de
mais ! E n t ã o abri a porta, sahi, olhando para traz, aterra-
d o d o sati-ár, dos nuros, desci agarrado aos balaustres da
escada e q u a n d o sentei na soleira da porta, fatigado, com
o c é r e b r o vazio, senti que suava e que me ardiam as
faces...
No outro dia encontrei o physiolatra Magnus acompa-
nhado de vários iniçiados.
—Vou fundar uma Universidade no L y c ê o de Artes e
Officios. N ã o deixe de i r assistir ás conferência prepara-
tórias.
—Mas h o n t e m , h o n t e m que f i z e r a m vocês P
Houve u m a pausa.
—Aleditámos a t é de m a n h ã á beira da Sabedoria para
que a Sabedoria viesse.
E Magnus Soudhal, c o m usa v o l u m e de Nietzche de-
b a i x o d o b r a ç o , s e g u i o c o m os i n i c i a d o s p e l a r u a a f ó r a , c o m o
se f o s s e u m ser natural...
O M O V I M E N T O E V A N G É L I C O
V
I g r e j a F l u m i n e n s e
— A I g r e j a F l u m i n e n s e d a t a d e 1858. F o i a p r i m e i r a c o n -
g r e g a ç ã o e v a n g é l i c a estabelecida n o B r a s i l , g r a ç a s ao e s p i r i t o
de u m h o m e m rico e feliz.
O S r . R o b e r t R e i d Kalley t r a b a l h a v a na ilha da M a d e i r a
q u a n d o , e m 1855, l e m b r o u - s e d e v i r ao R i o d e J a n e i r o . Era
escossez, r n e d i c o , m i n i s t r o e v a n g é l i c o e p o s s u í a b e n s d e f o r -
t u n a . Ao deixar o c l i m a delicioso da i l h a p o r esta cidade,
naquelle tempo f ó c o de algumas moléstias terríveis, não o
e n v i a v a n e n h u m board estrangeiro, vinha espontaneamente
a p e n a s p o r a m o r d o e v a n g e l h o d e Jesus C h r i s t o .
O Brasil sempre f o i u m c e n t r o de r e u n i ã o de coloniãs
d i v e r s a s p r a t i c a n d o as s u a s c r e n ç a s c o m a m a i s i n t e i r a l i b e r -
dade.
E n t r e a pratica da religião, p o r é m , e a p r é g a ç ã o á g r a n d e
massa vai u m a d i f f e r e n ç a r a d i c a l . R o b e r t Kaley v i n h a para u m a
m o n a r c h i a c a t h o l i c a , e m q u e a I g r e j a era u m desdobramento
do Estado ; aportava a u m a t e r r a e m que cada data festiva
fazia repicar n o a r os s i n o s d a s cathedraes e desdobrava por
s o b r e a c i d a d e os p a l l i o s e as sedas r o x a s d o s p a r a m e n t o s sa-
c o s ; v i n h a p r é g a r ao p o v o , a m a n t e d e p r o c i s s õ e s , q u e r o j a v a
n a p o e i r a d a s r u a s q u a n d o p a s s a v a m as i m a g e n s s e g u i d a s d e
soldados. E K a l l e y v e i u e p r é g o u c o n t r a os p a l l i o s , c o n t r a as
imagens e contra o povo a rojar, escudado na doce crença
de Jesus...
í a m o s , os dous, eu e o Rev. Marques pelo asphalto
194
N o E n c a n t a d o , a l é m de d u a s o u t r a s , n ó s , que estamos
e m c a m i n h o de ter u m templo, vamos organisar agora o
Esforço Christão Juvenil.
— Mas u m a evangelisação assim constante?
— Os rapazes d i s t r i b u e m f o l h e t o s , f a z e m a expedição
pelo Correio, vão de p o r t a e m p o r t a c o m s u b s c r i p ç õ e s para
m a n d a r c o m p a n h e i r o s e s t u d a r n a E u r o p a . E u l h e posso c i t a r
os n o m e s d e J o ã o M e n e z e s , Isaac G o n ç a l v e s , L u i z Fernandes
Braga, A n t ô n i o Maria de Oliveira... S ã o tantos! E todos bra-
sileiros.
H a v i a na voz d o pastor u m j u s t o o r g u l h o . E u e m m u d e c i
u m i n s t a n t e , a c o m p a n h a n d o - o . Nesta cidade de e o m m e r c i o ,
e m que o d i n h e i r o parece o único deus, homens moços e
f o r t e s p r é g a m a b o n d a d e d e p o r t a e m p o r t a , c o m o os p o b r e -
sinhos p e d e m p ã o ! O u eu d e l i r a v a , o u aquelle cavalheiro
c a l m o , de r e d i n g o t e de alpaca, dava-me o favo da illusào,
como outr'ora Platão entre arvores mais bellas e discípulos
mais argutos.
—A igreja t e m hoje u m p a t r i m ô n i o grande? fiz c o m o
desejo de v o l t a r á r e a l i d a d e .
— S e m p r e a u g m e n t a d o , mas r e g u l a d o a i n d a pelos esta-
t u t o s de 1886, a p p r o v a d o s pelo governo imperial, quando
197
Eu trouxe a salvação
Dos altos c é o s l o u v o r ,
E' livre o m e u perdão,
E' grande o meu amor.
rei a m - n o á p e d r a . C o n c e i ç ã o , c o m a B i b l i a de e n c o n t r o ao
peito, t r o p e ç a n d o , f u g i a sob a saraivada, e a t u r b a só o
d e i x o u fóra da cidade q u a n d o o v i u e m sangue cambalear e
cahir. Ao chegar a Sorocaba, o martyr estava andrajoso,
q u a s i a m o r r e r , e, m o r t o , os seus ossos f o r a m exhumados,
p o r o r d e m do bispo D . L a c e r d a , para serem atirados fóra do
c e m i t é r i o , ao v e n t o . . .
Os pastores t r a b a l h a v a m t a n t o que S i m o n t o n m o r r e r a ,
aos t r i n t a e q u a t r o a n n o s , de cansaço. Eram os primeiros
tempos ! A a d h e s ã o religiosa v e m datenacidade. A tenaci-
d a d e dessas c r e a t u r a s d e a ç o a t t r a h i u os fiéis, d e s d e os a n a l -
p h a b e t o s aos h o m e n s i l l u s t r e s , a i g r e j a r e c e b e u n o seu seio
médicos, engenheiros, litteratos, architectos, professoras
p u b l i c a s , h o m e n s r u d e s , lentes de escolas superiores e cada
u m q u e d a q u i s a h i a l e v a v a p a r a as i g r e j a s d o s E s t a d o s com
a carta d e m i s s o r i a u m elemento de p r o p a g a n d a . Por ultimo
os p a s t o r e s foram brasileiros, a d e r r a d e i r a etapa estava
ganha, a igreja, p o n t o inicial da e v a n g e l i s a ç ã o brasileira, f o i
construida luxuosamente e o Rev. Trajano, com verdade
e poesia o a f f i r m o u :—depois cie p e r e g r i n a r p o r seis t e c t o s
e s t r a n g e i r o s , s ó n o s é t i m o a nossa i g r e j a d e s c a n ç o u .
F o i nesse d e s c a n ç o q u e eu d i a s d e p o i s v o l t e i a c o n v e r s a r
com o D r . Á l v a r o Reis. A casa do pastor fica ao l a d o es-
q u e r d o d o t e m p l o , o c c u l t a nos roseiraes. O protestantismo
t r o u x e p a r a os n o s s o s c o s t u m e s 1 i t i n o - a m e r i c a n o s n ã o sei se
a p u r e z a da a l m a , de q u e o m u n d o s e m p r e desconfia, mas o
asseio i n g l e z , o r e g i m e n i n g l e z , a s a t i s f a ç ã o de b e m c u m p r i r
os d e v e r e s r e l i g i o s o s e de v i v e r c o m c o n f o r t o .
L o g o q u e v i e r a m a b r i r a p o r t a e u t i v e essa i m p r e s s ã o .
— O Pastor?
206
M i n a s ; o de C u r i t y b a , no P a r a n á ; o da B a h i a , da F r e i r a de
Santa A n n a , e o da Cachoeira, na B a h i a ; o das L a r a n j e i r a s ,
em Sergipe ; o do Natal, no Rio Grande do Norte ; e ainda
v a r i a s escolas gratuitas.
— E' natural que u m a t ã o copiosa propaganda tenha
u m a f o r m a d e g o v e r n o ? fiz v a g a m e n t e .
— T e m . A i g r e j a é g o v e r n a d a p o r u m a s e s s ã o de i g r e j a
p r e s i d i d a p e l o p a s t o r e c o m p o s t a d e seis o f f i c i a e s , q u e t ê m o
t i t u l o de presbyteros. A sessão da igreja apresenta annual-
mente a c t a s e r e l a t ó r i o s ao p r e s b y t e r i o d o R i o , c o n c i l i o su-
perior composto de t o d o s os m i n i s t r o s p r e s b y t e r i a n o s que
t r a b a l h a m no R i o , no sul de M i n a s e no E s p i r i t o Santo.
N o P r e s b y t e r i o , c a d a s e s s ã o se f a z r e p r e s e n t a r p e l o p a s -
tor e u m presbytero. Além d o P r e s b y t e r i o d o R i o ha o de
S ã o P a u l o , o de M i n a s , o d o oeste de S. P a u l o , o de P e r n a n -
b u c o e o d o S u l d o B r a s i l . Esses seis p r e s b y t e r i o s , r e u n i d o s
d3 tres e m tres annos e m u m a só a s s e m b l é a , f o r m a m o su-
p r e m o concilio da i g r e j a , c o m o n o m e de S y n o d o Presbyte-
riano Brasileiro. E' a h i q u e se d i s c u t e m os i n t e r e s s e s g e -
raes da causa.
— A defesa t e m jornaes }
— Alguns. Venha ver.
E n t r á m o s n a b i b l i o t h e c a de Á l v a r o Reis, u m a sala c o n -
f o r t á v e l , f o r r a d a de altas estantes de c a n e l l a . Por toda a
parte, em ordem, livros, papeis, b r o c h u r a s , cartas, photo-
graphias.
— V e j a . A q u i n o R i o t e m o s o Presbyteriano e o Puritano.
H a e m S . P a u l o % Revida das Missões Nacionaes, em Araqua-
ty 6 Evangelista, o Despertador e m R i o C l a r o , a Vida em Flo-
r i a n ó p o l i s e o Século no Natal.
208
— E c o m t a n t o s j o r n a e s os s e n h o r e s n ã o v i v e m e m guerra
constante ?
—Contra quem?
— C o n t r a as o u t r a s i g r e j a s , os b a p t i s t a s , os methodis-
t a s . . . U m j o r n a l s ó basta p a r a fazer a d i s c ó r d i a ; dez jornaes
fazem o conflicto universal!
Depois, c o m tristeza:
— T a l v e z e n t r e os d e casa n ã o e x i s t i s s e essa h a r m o n i a h a
b e m p o u c o t e m p o . . . E- b e m s i m p l e s . N a u l t i m a r e u n i ã o d o
Synodo Presbyteriano houve uma scisão que se reflectiu
f r a n c a m e n t e na igreja d o Rio. U m m e m b r o do concilio i m a -
ginou que a maçonaria fazia p r e s s ã o nas d e l i b e r a ç õ e s do
S y n o d o , p r o p o n d o l o g o q u e a i g r e j a , banisse d o seu seio a
heresia maçonica. N ã o era verdade a pressão. O concilio dis-
c u t i u largamente e approvou a seguinte resolução- — « O Sy-
n o d o j u l g a i n c o n v e n i e n t e legislar sobre o a s s u m p t o ! » A t o -
l e r a n t e a p p r o v a ç ã o d e u e m r e s u l t a d o s e p a r a r e m - s e sete m i -
nistros, que formaram uma igreja independente e anti-
m a ç o n i c a . A ' nova igreja ligaram-se e x - m e m b r o s da nossa.
d a p r a ç a c o m os p h a r ó e s a c c e s o s , c a r b u n c u l a n d o . . . E u assis-
tira a u m casamento sensacional.
No dia seguinte fui á r e s i d ê n c i a do pastor Camargo.
N o a n n o d e 1739 f a l l a r a m c o m J o h n W e s l e y , e m L o n d r e s ,
o i t o pessoas q u e e s t a v a m c o n v e n c i d a s d o p e c a d o e anciosas
pela redempção. Essas creaturas tementes da ira futura
d e s e j a v a m q u e c o m ellas John gastasse algum tempo em
oração. Wesley marcou um dia na semana e dahi surgiu
a sociedade u n i d a . Aos que desejam entrar para a sociedade
só se e x i g e u m a c o n d i ç ã o : o desejo de f u g i r e m da ira v i n -
doura e de s e r e m salvos d e s e u s peccados.
Muita gente ha no Brasil receiosa da d i t a i r a . A I g r e j a
Methodista, que é u m desdobramento da episcopal, come-
ç o u os seus trabalhos, ha v i n t e e sete a n n o s , no Cattete,
n a casa onde está hoje installada a p e n s ã o A l m e i d a . T i n h a
a p e n a s sete m e m b r o s e o s m i s s i o n á r i o s m a n d a d o - : p e l o board
a m e r i c a n o , os R e v s . Ransom, Cowber, Tarbou Kennedy,
sabiam q u e desses sete j á q u a t r o eram methodistas nos
Estados U n i d o s . Hoje a Igreja conta cinco m i l membros,
t o d o s os annos o n u m e r o augmenta, as i g r e j a s surgem.
fundam-se collegios e as missões levam aos recessos d o
paiz, perseguidas, corridas á pedra, a p a l a v r a de C h r i s t o .
S ó o t e m p l o da p r a ç a J o s é de A l e n c a r c u s t o u 107 c o n t o s ; h a
missões e igrejasem Petropolis,naParahyba, em S.Paulo, em
ltapecerica, S. Roque, Piracicaba, Capivarv, Taubaté,
C u n h a , A m p a r o ; t o d o o E s t a d o de Minas e o Rio Grande
e s t ã o cheios de methodistas, e os missionários chegaram
até Cruz Alta e Forqueta, no desejo tenaz de prolongar
a fé.
Os m e t h o d i s t a s t ê m u m g r a n d e d i s p e n d i o annual. No
R i o c o n t r i b u e m p a r a as d e s p e s a s d o p a s t o r e m c a r ç o . pres-
217
Os m e u s c o m p a n h e i r o s K e n n e d y e G u i l h e r m e da Costa
c o m m e n t a r a m esse m a n i f e s t o q u e o m o m e n t o exigia. N ó s
t e m o s u m a l e i q u e n o s i n h i b e esse c r i m e . Q t f e r v e r ?
E r g u e u - s e , f o i cá e s t a n t e , a b r i u u m p e q u e n o l i v r o de ca-
pa p r e t a .
— E s t a é a nossa d i s c i p l i n a , leia.
Ambos curvámos a c a b e ç a , p r o c u r a n d o os c a r a c t e r e s á
luz fugace do anoitecer e ambos na m e s m a pagina lemos :
— « O s m i n i s t r o s de nossa i g r e j a s e r ã o p r o h i b i d o s de celebra-
r e m os r i t o s d o m a t r i m ô n i o e n t r e pessoas d i v o r c i a d a s , s a l v o
o caso d e pessoas i n n o c e n t e s , q u e t e m s i d o d i v o r c i a d a s pela
ú n i c a cousa de q u e falia a E s c r i p t u r a . . . »
220
se p e r d e e m e r u d i ç õ e s t h e o l o g i c a s , nessa n o i t e c h a m a c o m
o órgão do Senhor os c a r n e i r o s s e m f é . E é u m a cousa que
se n o t a l o g o . A p r o p a g a n d a , a a t t r a c ç ã o d a I g r e j a é a m u s i c a .
Ganha-se mais fieis e n t o a n d o u m h y m n o que tazendo um
sábio discurso cheio de virtudes. O Sr. Soren, o pastor
calmo,irreprehensivel,parece comprehender osqueofrequen-
tam, s e m esquecer sua m i s s ã o e v a n g é l i c a . E ' p o s i t i v a m e n t e o
professor. S e m o p e r f u m e dos h y m n a r i o s e s e m aquellas l e t -
tras negras na parede, a gente e s t á como se e s t i v e s s e numa
aula de canto d o I n s t i t u t o de Musica, o u v i n d o o ensaio de
u m c ô r o p a r a q u a l q u e r creche mundana. . .
— V a m o s mais u m a vez, d i z elle c o m u m leve assento i n -
glez, Este h y m n o é m u i t o bonito! Cantado por duzentas
vozes faz u m e f f e i t o ! S a b e m a lettra? V a m o s . . . A d a m a , c o m
u m ar de bondade i n d i f f e r e n t e , c o r r e o teclado, acordando
no ó r g ã o g r a v e s e p r o f u n d o s sons q u e se p e r d e m n o ar va-
garosamente. Depois, receiosa,acompanhando cada aecorde,
a sua v o z , s e g u i d a d a d o p a s t o r , c o m e ç a :
Oh ! Se-e-e-nhor!...
— Vamos repetir. J á se a d i a n t a r a m . U m , d o u s , t r e s !
Oh ! Se-e-e-nhor!. ..
Oh ! Se-e-e-nhor!
Esse h o m e m é a m a b i l i s s i m o . N a s c i d o n o R i o , de uma
f a m i l i a [ f r a n c e z a q u e f u g i a á s p e r s e g u i ç õ e s religiosas da F r a n ç a ,
e s t u d o u nos E s t a d o s U n i d o s e é b a c h a r e l . N o seu gabinete,
ao f u n d o , l i m p o e b r u n i d o , o n d e se m o v e c o m p a u s a , t u d o
r e s p i r a asseio e a u s t e r i d a d e . Soren mostra a bibliotheca,
encadernações americanas de p e r c a l i n e e c o u r o , bate nos
l i v r o s r e c o r d a n d o as d i f f i c u l d a d e s d o e s t u d o , a a r i d e z , o q u e
certos auctores custavam.
— P a r a t u d o isso h a a c o m p e n s a ç ã o d a v e r d a d e q u e c o n -
forta, diz.
A v e r d a d e d e v e c o n f o r t a r c o m o u m beef. Guardo, porém,
essa c o m p a r a ç ã o .
Os b a p t i s t a s , firmados na Bíblia, assim como p r a t i c a m
o baptismo por i m m e r s ã o , n ã o c o m e m carne c o m sangue...
L i m i t o - m e a dizer.
— A sua crença?
—Mas n ó s cremos que a Biblia f o i escripta por homens,
d i v i n a m e n t e inspirados, que t ê m Deus c o m o a u c t o r e salva-
ção como fim; c r e m o s q u e a s a l v a ç ã o dos peccados é t o t a l -
m e n t e d e g r a ç a p e l o s o f f i c i o s m e d i a n e i r o s do- filho d e D e u s ;
cremos que a grande b e n ç ã o do E v a n g e l h o q u e C h r i s t o as-
s e g u r o u é a j u s t i f i c a ç ã o ; e cremos na p e r s e v e r a n ç a , no E v a n -
gelho, no p r o p ó s i t o de g r a ç a , na s a t i s f a ç ã o que começa na
r e g e n e r a ç ã o e é sustentada n o c o r a ç ã o dos crentes.
O Sr. Soren p á r a u m instante.
— C r e m o s t a m b é m , c o n t i n u o u , q u e o g o v e r n o c i v i l é de
a u c t o r i d a d e d i v i n a , para o interesse e boa o r d e m d a socie-
dade e que devemos o r a r pelos magistrados...
— E c r ê e m n o fim d o mundo?
— . . . Q u e se a p p r o x i m a .
Emquanto, porém, o fim n ã o a p p a r e c e , a propaganda
229
— Deus ! e m tã pouco t e m p o o ?
— Dias propheticos equivalentes a u m a n n o . Os aclven-
tistas j u l g a v a m que 02.300 era o anno de 1844 e q u e a
justificação ou purificação do s a n t u á r i o i m p o r t a r i a e m ser
queimada a t e r r a c o m a v i n d a de C h r i s t o .
Esperavam pois a v i n d a de Jesus.
Olhei o crente. O s seus o l h o s eram beatos como os
olhos dos puros.
— O r a o t e m p o passou e C h r i s t o n ã o veiu...
— S i m , fez elle, e claro ficou o erro. Ou houvera
falta na contagem dos 2.300 dias ou a purificação do
s a n t u á r i o n ã o era a p u r i f i c a ç ã o d a t e r r a na segunda v i n d a de
Christo. Mas a q u e s t ã o agitara o estudo. A cousa f o i exa-
m i n a d a e d u a s o p i n i õ e s se f o r m a r a m . Uns j u l g a v a m que o
p e r í o d o prophetico ainda n ã o decorrera, outros, c o m lento
trabalho, chegaram á convicção de que o erro existia na
palavra santuário.
— Então o santuário?
— Não tem applicação á terra, mas verdadeiramente
a o c é o , o n d e J e s u s C h i s t o e n t r o u n o fim desse período de
tempo, para purifical-o com o seu p r ó p r i o sangue, con
forme está descripto.
A classe q u e acceitou essa i n t e r p r e t a ç ã o é a que se
chama adventistas do 7 ° d i a . Não marcamos tempo nem
cremos que qualquer periodo prophetico assignalado na
B i b l i a se estenda a t é n ó s .
— Então a c c e i t a m c o m o base d a f é .
— A Biblia Sagrada, a palavra de Deus, sem tradi-
ções e a auctoridade de qualquer igreja. Christo é o
Messias promettido, só por e l l e se o b t é m a salvação. As
pessoas s a l v a s o b s e r v a m os d e z m a n d a m e n t o s , inclusive o
248
— N ã o é p o s s i v e l . E s t á c h e i o d e e s p i r i t o s m á o s ! e, c o m o
apparecesse o u t r o i n t e i r a m e n t e c h e i o , a g a r r o u - s e ao balaus-
t r e e veio d e p é a t é á c i d a d e .
D e s d e q u e se d e i x a a traficancia do baixo espiritismo,
q u e se c o n v e r s a n a s r o d a s i n t e l l e c t u a e s c u l t i v a d a s , esse e s t a -
do allucinante torna-se n o r m a l .
Ao subirmos as escadas da F e d e r a ç ã o , o m e u a m i g o i a
dizendo.
r i c o , e n c a s a c a d o s e cie g a r d ê n i a a o p e i t o , c o m m u n i c a v a m - s e
no hotel dos Estrangeiros comas almas do o u t r o m u n d o ,
por intermédio d e u m a c a n t o r a , médium ultra-assombroso.
A ' t a r d e n a C o l o m b o , esses s e n h o r e s c o m b i n a v a m a partic
de plaisir, e á n o i t e nos corredores d o L y r i c o , e m q u a n t o o
Caruso r o u x i n o l e a v a c o r p u l e n t a m e n t e para e n c a n t o das a l -
m a s s e n t i m e n t a c s , elles p r e l i b a v a m as r e v e l a ç õ e s s o m n a m -
b u l i c a s d a médium musical.
Esses tactos s ã o r a r o s , p o r é m , e as e x p e r i ê n c i a s assom-
b r o s a s m u l t i p l i c a m - s e ; os médiuns curam creaturas a mor-
rer, L e o n c i o de A l b u q u e r q u e , q u e tratava c a r i d o s a m e n t e a
Saúde e m peso, anuuncia,sem tocar no doente, o p r i m e i r o
caso d e peste b u b ô n i c a , e c a d a vez m a i s a u g m e n t a o n u m e -
ro dos crentes.
O meu amigo dizia-me :
— N u n c a se v i u u m a c r e n ç a q u e c o m t a l r a p i d e z a s s o m -
b r a s s e c r e n t e s . S e o Figuro dava para Paris c e m m i l espiri-
tas, o R i o deve ter quasi igual s o m m a de fieis. O Brasil,
pela j u n c ç ã o de u m a raça d e s o n h a d o r e s c o m o os p o r t u -
guezes c o m a phantasia dos negros e o pavor i n d i a n o d oi n -
visível, está f a t a l m e n t e á beirados abysmos de ondese entre-
vê o além. A Federação publicou u m a e s t a t í s t i c a de jornaes
espiritas no m u n d o inteiro. Pois b e m . E x i s t e m n o m u n d o
96 j o r n a e s e r e v i s t a s , s e n d o q u e 56 e m t o d a a E u r o p a e 19 s ó
no Brasil...
— C o m o se r e c o n h e c e m as n o s s a s aptidões litterarias !
— N ã o r i a . T u d o n a t e r r a t e m a sua d u p l a s i g n i f i c a ç ã o .
— E q u a e s s ã o essas r e v i s t a s e j o r n a e s ?
—Mensageiro, e m M a n á o s , A m a z o n a s . Luze FéeSophia,
e m B e l é m , P a r á . A Cruz, e m A m a r a n t e , P i a u h y . Doutrina de
Jesus, e m Maranguape, Ceará. A Semana, (sciencias e l e t -
258
\
2m
sua t r a n s f i g u r a ç ã o , r e c o b r a n d o a voz h a b i t u a l e a c o r t e z i a de
sempre.
F a ç o , r e c e i o s o , u m c u m p r i m e n t o aos seus d o t e s sagrados.
— A h ! s i m ? f a z e l l e , p a s m a d o , c o m o se n u n c a se t i v e s s e
ouvido.
E n t ã o p e g u e i n o c h a p é o s o r r a t e i r a m e n t e . Esse c o n s t a n -
t e e s t a d o f l u c t u a n t e e n t r e a r e a l i d a d e e o i n v i s í v e l , essas f u g i -
d a s ao espaço p a r a c o n v e r s a r c o m os e s p i r i t o s , a c a r i d a d e
evangelicado h o m e m á beira do real, e r a m allucinantes. Desci
as e s c a d a s d e v a g a r , aquellas escadas p o r o n d e s u b i a s e m p r e
a r o m a r i a cios e n f e r m o s ; n a r u a e n x u g u e i a f r o n t e , o l h a n d o
o edifício, menoamvsterioso que qualquer club p o l í t i c o . E
c o m o passasse u m b o n d i n t e i r a m e n t e v a z i o , r e f l e c t i q u e esse
b o n d p o d i a b e m ser c o m o o d o m a r e c h a l Q u a d r o s e v o l t e i , a
p é , d e v a g a r , p a r a n ã o d a r e n c o n t r õ e s nas pessoas q u e t a l v e z
c o m m i g o tivessem passado t o d o a q u e l l e d i a d o o u t r o m u n d o .
O s e x p l o r a d o r e s
False Sphinx ! False Sphinx! by reedy Styx
Old Charon learning on his oar
Waits for my coin. Go thou before ...
F o i e n t ã o q u e c o m e ç á m o s a m b o s a p e r c o r r e r os c e n t r o s ,
os f o c o s d e s s a t r i s t e z a .
O R i o e s t á m i n a d o d e casas e s p i r i t a s , d e p e q u e n a s s a l a s
m y s t e r i o s a s o n d e se e x p l o r a m a m o r t e e o d e s c o n h e c i d o . Esta
270
pacatacidade,que h a 50 a n n o s f e s t e j a v a a p e n a s a c o r t e c e l e s t e
e tinha como supremo m y s t e r i o a m a n d i n g a o preto escra-
v o , é h o j e c o m o B y z a n c i o , o c i d a d e das c e m r e l i g i õ e s , l e m b r a
a R o m a d e I l e l i o g a b a l u . o n d e t o d a s a s s e i t a s e t o d a s as c r e n ç a s
existiam. O e s p i r i t i s m o d i f f u n d i u - s e na populaça, enrai-
zou-se, s u b s t i t u i n d o o b r u x e d o e a f e i t i ç a r i a . A l é m dos r a "
ros grupos onde se p r o c e d e com relativa honestidade, os
d e s b r i a d o s e os v e l h a c o s s ã o os seus a g e n t e s . Os médiuns ex-
ploram a c r e d u l i d a d e , as s e s s õ e s m a s c a r a m c o u s a s t o r p e s e
d e c a d a u m desses v i v e i r o s d e f e t i c h i s m o a l o u c u r a b r o t a e a
hysteria surge. Os ingênuos e os s i n c e r o s , q u e se j u l g a m
com qualidades de m s d i u m n i d a d e , a c a b a m presas de p a t i -
fes c o m a r m a z é n s de cura para a e x p l o r a ç ã o dos c r é d u l o s ;
e a v e l h a c a r i a e a s e m - v e r g o n h i c e e n c o b r e m as c h a g a s v i v a s
com a capa santa d o e s p i r i t u a l i s m o . Q u a n d o se c o m e ç a a
estudar esse m u n d o d e desequilibrados é c o m o se v a g a r o -
s a m e n t e se descesse u m abysmo torturante e sem f u n d o .
A p o l i c i a sabe mais ou menos as casas dessa g e n t e sus-
p e i t a m a s n ã o as o b s e r v a , n ã o as a t a c a , p o r q u e a m a i o r i a d a s
auctoridades tem medo e fé. Ainda ha tempos, u m delega-
do moço freqüentava a casa d e u m e s p i r i t a d a praia For-
mosa para se curar d a s y p h i l i s . Se os d e l e g a d o s s ã o a s s i m
apavorados do f u t u r o , reduzindo a mentalidade á crença
n u m a p a n a c é a m y s t e r i o s a , o pessoal s u b a l t e r n o d e l i r a . . .
— Veja você, disse-nos o a m i g o e s p i r i t a , t o d a a nossa
religião r e s u m e - s e nas palavras de C h r i s t o á S a m a r i t a n a :
« D e u s é e s p i r i t o e e m e s p i r i t o q u e r ser a d o r a d o » . E s s a g e n -
te n ã o c o m p r e h e n d e n a d a disso, m a r a v i l h a - s e apenas c o m a
parte phenomenal, com a canalhice e a magia. E' h o r r í v e l .
Os proprietários dos estabelecimentos de c u r a a n i m i c a a
preço reduaido exploram; o p o v a r é o v a i t o d o , a l l i a n d o aa
271
D e r e p e n t e , o médium e s t a r r e c e e p o r t i á s d o s seus d e n -
tes, o u v e - s e u m a voz de p a l h a ç o :
— C o m o e s t á s , m i n h a f i l h a , vais b e m ?
— A m ã i ! A m ã i ! m u r m u r a a p o r t u g u e z i t a infeliz, ater-
r a d a , e m m e i o o palpitante silencio.
— Q u e deve fazer sua filha ? pergunta o evocador.
— Ter c o n f i a n ç a e m Deus. E u devia estar n o i n f e r n o . A
misordia perdoou a m ã i delia. T o d a a d e s g r a ç a v e m de u m
b r u x e d o que puzeram na soleira da p o r t a . . .
— Q u e m f o i ? faz a p o r t u g u e z a n u m a voz de m e d o .
— Uma m u l a t a escura que gostado seu h o m e m . E l l e
vai ficar b o m . D ê - l h e o r e m é d i o que eu receitar e crave um
p u n h a l no travesseiro tres noites a fio...
— E ' o b u r r o , é o b u r r o ! g r i t a e m estado s o m n a m b u -
lico, e a rodinha toda joga no b u r r o .
No Andarahy Grande o curandeiro é d i v e r t i d o e baila-
r i n o . E m v é s p e r a s de S. J o ã o dá u m b r o d i o de estalo c o m
c e i a c o p i o s a e v i n h a ç a de p r i m e i r a . Este t e m a especialidade
d a s m u l h e r e s b a r a t a s . A r u a d e S. J o r g e , a d a C o n c e i ç ã o , a
d o S e n h o r d o s Passos, a do V i s c o n d e de I t a ú n a lá estrava-
sam a a l m a s e n t i m e n t a l das m e r e t r i z e s , dos soldados e dos
rufiões. O nosso h o m e m cura tudo : darthros, feridas m á s ,
constipações, amores mal r e t r i b u í d o s , ódios. E' phantastico!
As m u l h e r e s t ê m - l h e u m a íé doida. O e s p i r i t i s m o p a r a ellas
é o milagre, a i n t e r v e n ç ã o dos e s p i r i t o s j u n t o de u m poder
s u p e r i o r . A n t e s de i r á c o n s u l t a , a j o e l h a m n o o r a t ó r i o e v ã o
com t o d o s os seus b e n t i n h o s , as figas de g u i n é , o espanta
m á o olhado das negras m i n a s . Alas o c a v a l h e i r o d o A n d a -
r a h y é sagrado. T o d a e s s a f é e m a n a , d i z e m , de u m a sua p r e -
dicçâo feliz. U m a m u l h e r que voltava da M i s e r i c ó r d i a rece-
b e u p o r seu i n t e r m é d i o c o m m u n i c a ç ã o de q u e seria honesta;
etres mezes depois u m h o m e m s é r i o levou-a. A s u b u r r a do
R i o v e n e r a - o , f r e q u e n t a - l h e as f e s t a s e s u s t e n t a - o .
— S ã o i n f a m e s . O l e m m a d o e s p i r i t a é: s e m c a r i d a d e n ã o
ha salvação. Seja a c a r i d a d e delles. Q u a n d o n ã o s ã o isso,
f a z e m das s e s s õ e s , c o m o o T o r t e r o l l i , s e s s õ e s de o r g i a p u b l i -
c a . . . N ã o posso m a i s !
Afinal, naquella noite t í n h a m o s resolvido acabar a t r a -
vessia pelos bas-fonds da crença, com a alma entristecida
p e l a v i s ã o d e salas indenticas, onde o espiritismo substituía
a bisca, os espiritos servem de f e i t i c e i r o s e d ã o r e m é d i o s
p a r a p e s c a r a m a n t e s ; d a s salas q u e , c o m o n a r u a d e S. D i o g o ,
m a s c a r a m as casas d e q u a r t o s p o r h o r a . A casa d a r u a t r a n s -
versal á p r a ç a Onze seria a u l t i m a a v i s i t a r .
275
— E n t r e , disse o m e u a m i g o .
Enfiámos por u m corredor escuro, s u b i m o s . No pata-
m a r u m b i c o de gaz s i l v a v a , b a t i d o pelo v e n t o d a r u a .
— P a p a i , d o u s h o m e n s , b r a d o u u m a voz de c r i a n ç a .
L o g o appareceu, e m m a n g a s de camisa, u m m u l a t o de
b i g o d e s c o m p r i d o s , q u e se d e s m a n c h o u e m r i s o e a m a b i l i d a -
des p a r a o m e u companheiro.
— A q u e d e v o as h o n r a s ? d i s s e s i b i l a n d o os ss.
— As honras, c o m o d i z , d e v e - a s a l l i ao i r m ã o . E ' u m
sympathico que q u e r crer e anda, na d u v i d a , á p r o c u r a da
verdade. Que diz você da verdade ?
— Verdade ? Ora esta ! V e r d a d e é o e s p i r i t o !
— Bravo !
F o m o s e n t r a n d o p a r a a sala de j a n t a r , c o m m o v e i s de v i -
nhatico e garrafas p o r t o d o s os a p a r a d o r e s .
— N e m de preposilo, fez o cabra. O médium está alli
proseando c o m a gente.
O médium é um t y p o d e hèbèté, de quasi c r e t i n o . L o i -
r i n h o , d e u m l o i r o d e e s t o p a , c o m a f a c e c ô r d e o c a e as g e n -
g i v a s s e m d e n t e s , é c a r t e i r o de 2 classe dos C o r r e i o s . T e m a
a
f a r d a s u j a e a g r a v a t a de l a d o . D u r a n t e t o d o o t e m p o e m q u e
o mulato n o s c o n t a as s u a s c u r a s , e l l e sopra monosyllabos
e remexe a cabeça, dolorosamente, c o m o se lhe estivessem
e n t e r r a n d o alfinetes na nuca.
Um mal estar nos i n v a d e , c o m o o a n n u n c i o de u m a
grande desgraça.
— IIa typos que u s a m hervas para fingir que é espirito,
diz o curandeiro. E u n ã o ; cá c o m m i g o é a verdade. U m
desses araras p õ e n o x v o m i c a n a a g u a p a r a os d o e n t e s l a n ç a -
r e m e d i z q u e é o e s p i r i t o l i m p a n d o lá d e n t r o . Peccado! A p r e !
E u a g o r a t e n h o u m d o e n t i n h o , V e i u - l h e u m a febre de q u e i -
276
— E ' o t a l q u e e u l h e s d i z i a . N ã o se a s s u s t e , D . A n n i n h a .
E u j á l h e disse q u e o p e q u e n o ficava b o m ; os e s p i r i t o s q u e -
r e m . . . E para n ó s : v e n h a m ver.
L e v o u - n o s ao t e r r a ç o , ao f u n d o , m e r g u l h o u u m l i t r o v a -
zio numa tina dágua, encheu-o, collocou-o e m c i m a da
mesa.
— Durma, Zezé, d u r m a !
E e s f r e g o u as m ã o s na cara do carteiro, s u b i t a m e n t e e m
p r a n t o . O h o m e m r e v i r a v a os o l h o s , s a c u d i a a c a b e ç a .
— E' o espirito ; veiu, quer q u e seu filho fique bom.. .
E d e r e p e n t e o d i a b ó l i c o c o m e ç o u a e s t e n d e r as m ã o s d o c a r -
t e i r o c h o r o s o ao g a r g a l o do litro.
A Religião ' i
A o Mundo
r
dos Feitiços 3
Os Feiticeiros 5
As í a u ô iç
O Feitiço 31
A Casa das A l m a s 43
Os n o v o s f e i t i ç o s de S a n i m 55
O Satanismo 67
Os satanistas 69
A missa negra 81
Os exorcismos 93
A igreja positivista .- 105
As Synagogas 117
A Nova Jerusalém 1-27
O Culto do Mar 137
As Sacerdotizas do F u t u r o 147
Os M a r o n i t a s 161
Os P h y s i o l a t r a s . . (71
O Movimento Evangélico 189
A Igreja Fluminense 191
A Igreja Presbyteriana. 201
A Igreja Methodista 21 r
Os Baptistas 221
A. A . C. M . 2
3 x
I r m ã o s e adventistas 241
O Espiritismo • 25 r
E n t r e os s i n c e r o s 253
Os exploradores 267
FIM
i
I
!
*•
I