Implantação e Desenvolvimento Do Protestantismo Na Paraíba
Implantação e Desenvolvimento Do Protestantismo Na Paraíba
Implantação e Desenvolvimento Do Protestantismo Na Paraíba
Resumo: Com a abertura dos portos (1808) e os acordos firmados entre a coroa portuguesa
e a Inglaterra, os protestantes puderam a se estabelecer de forma continua no Brasil. Na
Paraíba não foi diferente do restante do país tendo relatos de protestantes no estado como
os de José Bates (1825) e Perish Kidder (1839). Todavia, o primeiro trabalho missionário
que resultou na implantação duradoura de uma igreja protestante na Paraíba só aconteceu
em 1878. A sua implantação e desenvolvimento no estado não foi tranquilo passando por
perseguição em diversos lugares que iam desde de apelidos a assassinato. Os piores casos
aconteceram no interior o estado e quando as Santas Missões estavam na cidade.
Palavras chaves: História das religiões. Protestantismo. Antiprotestantismo.
Abstract: With the opening of the ports (1808) and the agreements signed between the
Portuguese crown and England, the Protestants were able to establish themselves
continuously in Brazil. In Paraíba it was not different from the rest of the country with reports
of Protestants in the state such as José Bates (1825) and Perish Kidder (1839). However,
the first missionary work that resulted in the lasting implantation of a Protestant church in
Paraíba only happened in 1878. Its implantation and development in the state was not
smooth, going through persecution in several places ranging from nicknames to murder. The
worst cases happened in the interior of the state and when the Holy Missions were in the
city.
Keywords: History of religions. Protestantism. Anti-Protestantism.
Introdução
1
O jansenismo defendia diversas liberdades para as igrejas locais. Ele “aportou em terras brasileiras
no século XVIII através dos padres educados em Coimbra, como por exemplo, Dom José Joaquim da
Cunha de Azeredo Coutinho (1742 – 1821), que era parente de Pombal. Como Bispo de Olinda (1799
– 1806), Dom Azeredo Coutinho estabeleceu o Seminário de Olinda (1800), cujo quadro de
professores foi trazido de Portugal” (SOUSA JÚNIOR, 2015, p. 33).
2
“O ultramontanismo, do século XIX, caracteriza-se, entre outras coisas, pela concentração do poder
em Roma, o que consequentemente deixava a igreja local com menor autonomia. No Brasil, o
crescimento das ideias ultramontanas foi lento, porém contou com o apoio das ordens religiosas dos
Lazaristas, dos capuchinhos e dos Jesuítas” (VASCONCELOS, 2005, p. 42).
3
A romanização, para Sousa Júnior (2015), tinha como objetivo implantar os cânones da reforma
tridentina no Brasil. Ela lançou as bases para uma maior centralização e consolidação do poder
clerical em Roma.
4
A grande maioria dos missionários enviados para o Brasil eram americanos. Isso ocorreu
principalmente no ultimo terço do século XIX, devido ao “sentimento nacional expansionista
combinado com motivos teológicos. O desejo de salvar os ‘pagãos’ da danação eterna originava-se
no espírito da teologia dos avivalismos que enfatizava a conversão instantânea e o consequente
redirecionamento da vida para a obtenção da perfeição. Para muitos a pregação da salvação era
urgente; devia ser feita antes da segunda vinda de Cristo, do milênio portanto” (MENDONÇA, 1984, p.
57). Alguns missionários também chegavam a acreditar que o avanço dos interesses políticos e
econômicos norte-americanos beneficiariam a todos.
5
Fountain Elliot Pitts (1808-1874) foi pastor e missionário metodista do sul dos Estados Unidos. Ele
foi enviado em 1835 para América do Sul para sondar o território para ver a possibilidade de iniciar o
trabalho missionário nesse lugar. Ele esteve no Rio de Janeiro (Brasil), Buenos Aires (Argentina) e
em Montevidéu (Uruguai).
uma sociedade metodista no Rio de Janeiro entre os anglo-saxões. Em 1836, ele
retorna aos Estados Unidos e aconselha o envio de missionários.
Como resultado, foram enviados para o Brasil os Reverendos Justin
Spaulding (1836) e Daniel Parish Kidder 6 (1837) acompanhado pela esposa.
Spaulding fundou uma escola para crianças brasileiras e estrangeiras e Kidder
dedicou-se à difusão da Bíblia. Devido à falta de recursos e a esposa de Kidder ter
adoecido devido ao clima, os missionários retornaram ao país de origem.
As sociedades bíblicas inglesa e norte-americana fizeram o pastor
presbiteriano James Cooley Fletcher7 seu representante no Brasil no início da
década de 1850. Fletcher atuou fortemente na distribuição de Bíblia e através de sua
influência no dia 10 de maio de 1855 chega ao Rio de Janeiro Robert Reid Kalley 8
que tinha como objetivo iniciar um trabalho sistemático de propaganda que
resultaria, mais tarde, na construção da primeira igreja protestante do Brasil.
O trabalho de Kalley resultou no batismo de Pedro Nolasco de Andrade no dia
11 de junho de 1858 sendo este o primeiro brasileiro dos tempos modernos a
pertencer a uma igreja protestante. O dia do batismo também é considerado como o
dia da fundação da Igreja Evangélica, que mais tarde seria a chamada de
Fluminense
Na década de 1860, o protestantismo
6
Daniel Parish Kidder (1815-1891) foi um missionário metodista norte-americano. Ele viajou por
diversas partes do Brasil na primeira do século XIX com o objetivo de propagar a fé protestante.
7
James Cooley Fletcher (1823 -1901) foi pastor e missionário norte-americano. Ele atuou vários anos
no Brasil como missionário e foi amigo de várias pessoas influentes chegando a ter acesso livre ao
palácio do imperial.
8
Robert Reid Kalley (1809-1888) era médico e pastor escocês. Ele trabalhou em Portugal, na Ilha da
Madeira, como missionário, mas a forte perseguição fez com que ele fugisse para os Estados Unidos.
Lá ele soube da necessidade de missionários protestantes para serem enviados ao Brasil. Ele chegou
ao Rio de Janeiro no dia 10 de maio de 1855 e tempos depois organizou a primeira igreja protestante
no Brasil.
constituição vigente não autorizava os não católicos contraírem casamentos,
registrarem os filhos e sepultamentos dos seus mortos. Como forma de mudar isso,
no dia 8 de outubro de 1859 foi criado um projeto para reconhecer os casamentos
realizados em igrejas evangélicas.
No dia 11 de setembro de 1861 o projeto foi promulgado, mas haveria de se
esperar decreto de número 3.069 de 17 de abril de 1863 que regularizava o
casamento das religiões toleradas (religiões admitidas pelo Estado) para ter seus
direitos garantidos. Esse mesmo decreto estabelecia que os nascimentos e
sepultamentos fossem registrados no cartório de paz e que os cemitérios públicos
teriam um lugar separado para as suas sepulturas.
No início de setembro de 1863, Kalley foi ordenado pastor pela sua
comunidade que foi nomeada de Igreja Evangélica Fluminense. Esse ato foi
registrado na Secretaria do Império no dia 23 de outubro no mesmo ano. Os
esforços de Kalley não só fundaram a primeira Igreja Protestante do Brasil como
também asseguraram o respeito das autoridades e reconhecimento das suas
atividades civis e religiosas.
No dia 12 de outubro de 1859, o Reverendo Ashbel Green Simonton 9
desembarcou no Rio de Janeiro. Ele havia sido enviado pela Igreja Presbiteriana dos
Estados Unidos e, como não conhecia a língua, sua primeira atividade foi servir de
capelão entre os anglo-saxões da capital do país. No ano seguinte, recebeu o auxílio
de sua irmã e de seu cunhado.
De dezembro de 1860 a março de 1861, Simonton distribuiu Bíblias e viajou
entre as colônias dos anglo-saxões e dos alemães. De acordo com Leonard (1981),
no dia 19 de maio de 1861, ele começou a pregar em português em uma sala na
Rua do Ouvidor e no dia 12 de janeiro de 1862 batizou seus primeiros convertidos. A
constituição oficial da Igreja Presbiteriana no Rio de Janeiro deu-se no dia 15 de
maio de 1863, alguns meses antes da igreja de Kalley, mas isso foi só formalidade.
Os missionários presbiterianos dividiram-se buscando expandir seus
trabalhos para São Paulo. Simonton continuou na sede da missão no Rio de Janeiro
9
Ashbel Green Simonton (1833 - 1867) foi pastor presbiteriano e missionário norte-americano. Ele
fundou a primeira Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro (1862) e do Brasil, criou o Jornal Imprensa
Evangélica (1864), organizou o presbitério do Rio de Janeiro (1865) e fundou o Cemitério Primitivo
(1867). Faleceu ainda muito jovem aos 34 anos. “Entre a chegada de Simonton (1859) e o fim do
Império (1889), os presbiterianos já tinham mais de cinquenta igrejas, quatro presbitérios (unidades
regionais eclesiásticas), um seminário para preparar pastores nacionais, dois colégios e diversos
periódicos” (MENDONÇA, 1984, p. 24).
enquanto seu cunhado, Blackford10, mudou-se para São Paulo. A comunidade
protestante de São Paulo era pequena e era composta, na sua maioria, por
estrangeiros. Isso começou a mudar devido a José Manoel da Conceição11.
Conceição foi visitado por Blackford que o procurou devido à alcunha de
padre protestante. Blackford o converteu e o batizou no dia 23 de outubro de 1864.
Conceição auxiliou os missionários no evangelismo em Brotas, São Paulo, onde
havia sido a sua última paróquia. O trabalho missionário neste lugar gerou a
formação do primeiro núcleo protestante verdadeiramente brasileiro e que se tornou,
junto com a igreja do Rio de Janeiro, as duas maiores igrejas protestantes do Brasil.
De acordo com Leonard (1981), ele faleceu no final de 1873 em uma
enfermaria militar a caminho de se encontrar com Blackford nas imediações do Rio
de Janeiro.
Após a morte de Conceição (1873), uma pessoa muito importante uniu-se ao
presbiterianismo: Miguel Vieira Ferreira12. Ele pertencia a uma família muito
importante do Maranhão e tornou-se um dos principais propagandistas do
protestantismo no Brasil utilizando-se de toda a sua influência para isso. Devido a
discordâncias teológicas, ele rompeu com a Igreja Presbiteriana e fundou no dia 11
de setembro de 1879 a Igreja Evangélica Brasileira.
Várias igrejas protestantes enviaram missionários para o Brasil. Elas
instalaram-se ao lado da congregacionalista Igreja Fluminense e da primeira Missão
Presbiteriana. As mais importantes foram: “Missão Metodista Episcopal, em 1870, a
missão presbiteriana dos Estados Unidos do Sul, em 1871, a Missão Batista, em
1881, a Missão Episcopal, em 1890, sem esquecer ainda a ‘Help for Brasil’,
congregacionalista, 1893” (LEONARD, 1981, p.74). Também em 1893 foram
enviados os primeiros missionários adventistas ao Brasil de acordo com Borges
(2020).
10
Alexander Latimer Blackford (1829 – 1890) foi missionário norte-americano, pastor, professor e
editor do Jornal Imprensa Evangélica. Era cunhado de Simonton e o auxiliou no trabalho missionário
no Rio de Janeiro. Ele também implantou o presbiterianismo em São Paulo sendo a igreja organizada
em 5 março de 1865.
11
José Manuel da Conceição (1822 – 1873) era um ex-padre católico romano que foi convertido ao
presbiterianismo por Blackford. Ele tornou-se o primeiro brasileiro ordenado a pastor, mas nunca teve
uma igreja fixa dedicando-se apenas ao evangelismo. De acordo com Leonard (1981), ele faleceu no
final de 1873 em uma enfermaria militar a caminho de se encontrar com Blackford nas imediações do
Rio de Janeiro.
12
Miguel Vieira Ferreira (1837-1895) era abolicionista, republicano, matemático, engenheiro e
jornalista. Vinha de uma família muito importante do Maranhão e utilizou toda a sua influência para
propagar o presbiterianismo. Contudo, depois de um tempo abandonou o presbiterianismo e fundou a
Igreja Evangélica Brasileira.
As três primeiras destas novas missões estavam ligadas à Guerra de
Secessão13. O impacto da guerra fez com que muitos americanos, principalmente do
sul dos Estados Unidos, imigrassem para o Brasil. Muitas dessas famílias se fixaram
em Santa Barbara do Oeste, São Paulo, onde existe um Cemitério Confederado, e
seus arredores sendo, em sua maioria, metodistas, presbiterianos e batistas. Dentre
eles estavam alguns pastores que até 1870 organizaram três capelas que
pertenciam às três denominações já citadas.
As igrejas do Sul dos Estados Unidos também começaram a enviar
missionários para o Brasil. Com o passar do tempo, os estrangeiros foram sendo
substituídos por brasileiros principalmente quando as igrejas protestantes brasileiras
ficaram independentes das igrejas mães, sediadas em outros países.
Com a proclamação da república (1889) o protestantismo estava livre das
restrições referentes à evangelização e, desta forma, poderia expandir-se
livremente. Essa expansão é perceptível ao olhar os censos de 1890 e 1950. Em
1890, a primeira vez que os protestantes foram contados no recenseamento,
existiam cerca de 143,743 (cento e quarenta e três mil e setecentos e quarenta e
três) protestantes no Brasil e em 1950, último ano de recorte temporal deste
trabalho, havia 1.741.430 (um milhão, setecentos e quarenta e um mil e
quatrocentos e trinta) (IBGE, 2020). Um aumento de mais de dez vezes no período
de sessenta anos.
13
A guerra de secessão ou guerra civil Americana (1861-1865) foi travada nos Estados Unidos entre
o Norte e o Sul do país e tinha como causa, entre outros motivos, a controvérsia da escravidão.
Lá ele tornou-se protestante e retornou ao estado em 1631 e durante o período
holandês chegou a ser Regedor dos Índios da Paraíba. No dia 19 de fevereiro de
1649, Pedro Poti foi preso pelas tropas portuguesas e enviado para Cabo de Santo
Agostinho, Pernambuco, onde foi torturado por não negar a fé protestante, de
acordo com Ribeiro (2003). Ele foi morto, em 1652, em um navio que o levava preso
para Lisboa.
Em 1810, como resultado dos acordos entre a coroa portuguesa e a
Inglaterra, protestantes voltaram a colocar os pés na Paraíba. Desta forma, temos o
relato, nesse mesmo ano, do protestante Henry Koster14 que viajou para vários
lugares do Nordeste e havia também passado na Paraíba. José Bates, um dos
fundadores da Igreja Adventista do Sétimo Dia, também esteve algumas vezes na
Paraíba, mas como capitão do seu navio em 1825.
A Paraíba também foi visitada por um dos primeiros missionários protestantes
do país, Daniel Perish Kidder, em julho de 1839, passando por Tambaú, Cabo
Branco e subiu pelo Rio Paraíba. Ele chegou a distribuir panfletos e a presenciar a
Festa das Neves no dia 5 de agosto daquele ano.
Seguindo o decreto de número 3.069 de 17 de abril de 1863 do império que
regularizava o registro de casamento, nascimento e óbito das religiões toleradas, foi
criado um espaço separado no Cemitério Senhor da Boa Sentença, na capital
paraibana, para enterrar os protestantes. Uma das pessoas enterradas nessa parte
foi o inglês Ricardo Rogers, que era dono das terras que formam hoje o Bairro do
Roger em João Pessoa, seu registro de óbito consta o seguinte: “faleceu de moléstia
interior o adulto Ricardo Rogers, brasileiro, morador dessa freguesia. Seu cadáver
foi sepultado segundo o rito protestante na área destinada aos dissidentes no
cemitério público desta cidade” (CAVALCANTI, 1883, p. 133).
Em 1875 foram enviados colportores, missionários de sustento próprio que
vendiam literatura, à Paraíba por uma Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro,
conforme Ribeiro (2003), e converteu algumas pessoas. Já em 1877 já ocorriam
pequenas reuniões para o estudo da Bíblia na casa de alguns convertidos. O
primeiro trabalho missionário, que resultou a implantação duradoura de uma igreja
protestante Paraíba, aconteceu em 1878. Alguns leigos da igreja presbiteriana
14
Henry Koster (1784-1820) possuía pais ingleses, mas havia nascido em Lisboa, Portugal. Devido a
problemas de saúde em 1809 veio morar em Pernambuco onde se tornou senhor de engenho e
viajou para diversas partes do Nordeste brasileiro. Em 1815, ele foi à Inglaterra onde publicou um
livro sobre as suas viagens retornando à Pernambuco em 1817 e falecendo no início de 1820.
realizaram uma evangelização e convidaram o Reverendo John Smith 15 que
trabalhavam em Recife, Pernambuco, desde 1873.
A evangelização aconteceu no Teatro Santa Cruz, na capital paraibana, e
formou um grupo ligado à Igreja Presbiteriana. Entre 1880 a 1884, as reuniões
desse pequeno grupo de protestantes eram realizadas em uma casa na Rua da
Areia, 21. A igreja foi oficialmente organizada no dia 21 de dezembro de 1884 em
uma casa na Rua da Ponte. Em 1896 o Teatro Santa Cruz foi comprado pela Igreja
Presbiteriana, sendo o primeiro culto realizado no dia 12 de abril do mesmo ano.
No ano de 1900, essa igreja chegou a ter 120 membros e iniciaram os
esforços para se expandir no interior do estado. Alguns lugares que tiveram
presença protestante nesse período foram: “Lucena, Mandacaru, Cachetu, Engenho
do Tabu, Santa Rita, Usina São João e no sertão, em Barra de Santa Rosa”
(VASCONCELOS, 2005, p. 38). Como em outras partes do Brasil, os protestantes
criaram escolas que, de acordo com Mendonça (1984), serviam de estratégias
indiretas do evangelismo.
Em 1938, a Igreja Presbiteriana tinha o seu templo sede na Praça 1817 e
filiais em Jaguaribe, avenida Vera Cruz, povoação Índio Piragibe, avenida
Redenção, Torrelândia, avenida 3 de maio e uma na cidade de Santa Rita (VIDA...,
1938). Alguns anos depois, em 1948, mais duas Igrejas Presbiterianas foram
fundadas na Paraíba: Igreja Cristã Presbiteriana de Betel e a Igreja Cristã
Presbiteriana de Imburainha (ANÚNCIOS..., 1948). Ambas foram organizadas
segundo a constituição das Igrejas Presbiterianas do Brasil.
Surge, em 1949, a Igreja Presbiteriana Testemunhas de Cristo (IGREJA...,
1949). Diferente das demais citadas anteriormente, ela se separou da Igreja
Presbiteriana do Brasil tornando-se independente. A sua primeira reunião foi no dia
27 de março de 1949 na casa de um dos seus presbíteros na Praça João Pessoa.
Em 1950, as reuniões foram mudadas para Avenida Camilo de Holanda, 500
(IGREJA..., 1950).
15
John Rockwell Smith (1846- 1918) foi um missionário da Igreja Presbiteriana do Sul dos Estados
Unidos. Nasceu em Lexington, Kentucky, estudou na Universidade da Virgínia, Charlottesville, e
formou-se em Teologia pelo seminário Union (1868-1871), Virginia. Foi licenciado ao presbitério em
1871 e ordenado em dezembro de 1872. Chegou em Pernambuco no dia 15 de janeiro de 1873 onde
trabalhou como missionário e educador chegando a organizar a Igreja Presbiteriana no Recife no dia
11 de agosto de 1878. Ele foi um dos principais missionário protestantes do Nordeste e por isso
recebeu a alcunha de Simonton do Norte (MATOS, 2018).
A história da Igreja Batista na Paraíba também está ligada com Pernambuco.
Em abril de 1886, foi organizada a primeira Igreja Batista em Recife, Pernambuco,
contudo, devido a várias dificuldades, ela foi reorganizada em 1893. Com o objetivo
de expandir-se para outras localidades do Nordeste, na virada de 1900 para 1901 foi
organizada a convenção União Batista Leão do Norte. A partir de então surgiu a
Igreja Batista na capital paraibana.
Os primeiros batistas da Paraíba começaram a se reunir na Rua Capitão José
Pessoa, Jaguaribe, e com o tempo conseguiram reunir um grupo de cerca de cem
pessoas que construíram um templo na Rua Índio Piragibe que foi inaugurado no dia
19 de janeiro de 1914. Em 1938, foi fundado através dos batistas da capital, o seu
primeiro colégio.
Em 1938, já existiam duas Igrejas Batistas em João Pessoa: a Primeira Igreja
Batista localizada na Rua Índio Piragibe, 142 (VIDA..., 1938) e a Segunda Igreja
Batista que continuava na Rua Capitão José Pessoa, 379 (VIDA...., 1937). Além das
Igrejas Presbiterianas e Batistas, em 1940, João Pessoa também já tinha a Igreja
Assembleia de Deus na rua 1º de Maio, Jaguaribe (VIDA..., 1940) e a Igreja
Adventista do Sétimo Dia, na Rua Artur Aquiles, 111.
De acordo com Firino (2021), a Igreja Adventista também iniciou os trabalhos
missionários na Paraíba no início do século XX. Em 1911 forma-se o primeiro grupo
de adventistas do estado em Pirpirituba, também havia presença adventista em
Cabaceiras, São José das Pombas (atual Parari), São José dos Cordeiros (1921),
Moreno (atual Solânea, 1921), Baixa Verde (Queimadas, 1925), Campina Grande
(1935), São Tomé (atual Sumé, 1936), João Pessoa (1937), Gravatá de Mulungu
(1937), Pombal (1937), Serra Branca (1939), Cabedelo (1940), Catolé do Rocha
(1943), São Bento (1945) e Natuba (1948).
De acordo com Câmara (1988), o protestantismo chegou a Campina Grande
em 1912. A Igreja Evangélica estava localizada na Rua do Açude Novo e o seu
pastor era Sinfrônio Costa. Em 1920, o templo foi inaugurado e já possuía trinta
membros. A Igreja Batista instalou-se em Campina Grande dois anos depois (1922)
na Rua Silvestre e o seu Pastor era Augusto Santiago.
No dia 8 de janeiro de 1924, a Igreja Assembleia de Deus foi fundada na Rua
da Areia. Na Rua Treze de Maio, no dia 30 de junho de 1927, foi inaugurada, com a
chegada do pastor João Clímaco Ximenes16, a Igreja Evangélica Congregacional que
possuía noventa membros e uma escola Dominical com cento e cinquenta alunos.
No início de década de 1930, um grupo de membros da Igreja Evangélica
Congregacional deixa as suas terras em Itabaiana, não se tem registro de quando se
iniciou o protestantismo nessa cidade, e se instala na Avenida Cruz das Armas, João
Pessoa, 733. O grupo cresceu sendo organizada oficialmente como igreja no dia 16
de junho de 1932 e em 1944 contava com Grêmio Eclesiástico Auxiliadora Feminina
(VIDA..., 1944).
Antiprotestantismo na Paraíba
23
Os vigários que assumiram a paróquia de Catolé do rocha durante os anos de conflito foram “o
padre Luiz Gomes Vieira, de 1923 a 1928; o monsenhor Constantino Vieira da Costa, de 1929 a
1932; o padre Manoel Otaviano, que vai do período de 1932 a 1934; o padre Francisco Lopes, de
1934 a 1936; o padre Belisário Dantas, que fica na paróquia entre os meses de fevereiro a dezembro
de 1936; o Padre Joaquim de Assis, que foi o protagonista do período mais crítico dos conflitos com
os protestantes, em 1938 a 1939, e seu paroquiado durou de 1936 a 1942; o Padre Américo Maia, de
1942 a 1945” (ARAÚJO, 2020, p. 87).
anos de 1930 e 1940 foram o monsenhor Constantino Vieira da Costa, o padre
Manoel Otaviano e o Padre Joaquim de Assis.
Assim que o monsenhor Constantino Vieira chegou a cidade deu ciência aos
seus paroquianos de que “aos protestantes, nós católicos, não damos morada, não
compramos, não vendemos coisa alguma, nem permitimos a ele o fornecimento de
água” (FIGUEIREDO, 2016, p.23). A perseguição era tanta que os protestantes
foram privados de algo extremamente importante para sobrevivência, a água. Os
proprietários de açudes ou de outros reservatórios pararam de fornecer água aos
protestantes sendo Hercílio Maia a pessoa que impediu que eles morressem de
sede (SYLVESTRE, 2014).
José Doroteia Dutra era um comerciante protestante que sofreu com a
intolerância religiosa em várias cidades do Sertão paraibano inclusive em Catolé do
Rocha. O padre Manoel Otaviano de Moura Lima24, padre que assumiu após o
monsenhor Constantino Vieira, chegou a ficar em frente ao comércio de Dorotéia
dizendo aos seus fiéis que não comprassem dele senão seriam amaldiçoados. Além
disso, fiéis católicos tentaram envenenar a água de Doroteia. Devido às
perseguições, que se intensificavam com as Santas Missões, Dorotéia mudou-se
diversas vezes, mas sempre voltava para Catolé do Rocha.
O padre Octaviano, da mesma forma que o frei Damião, convocava pastores
para debates públicos e muitas vezes eles não apareciam devido à falta de garantias
quanto à sua integridade física. As perseguições em Catolé do Rocha foram tão
intensas que, em 1938, causou a destruição do templo da Igreja Evangélica
Congregacional e houve uma tentativa de assassinato do reverendo Josué Alves de
Oliveira25.
Na semana que ocorreu esse conflito, o pastor local, reverendo Lindônio
Almeida, estava realizando uma série de conferências na igreja que ficava na
principal praça da cidade, próxima a paróquia de Nossa Senhora dos Remédios e da
residência do padre Joaquim de Assis Ferreira. Para ser o preletor foi chamado o
reverendo Josué Alves de Oliveira e os temas foram sobre idolatria.
24
Manoel Otaviano de Moura Lima assumiu a gestão da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios no
dia 17 de abril de 1932 e permaneceu nela até 24 de fevereiro de 1934. De acordo com Araújo
(2020), com a chegada do padre Manoel Otaviano, os conflitos se aprofundaram.
25
Josué Alves de Oliveira (1912-1999) nasceu em vitória de Santo Antão, Pernambuco. Ele cursou o
seminário no Instituto Bíblico do Recife sendo ordenado a pastor e assumindo a Igreja Evangélica
Congregacional de Caruaru, Pernambuco.
Os católicos da cidade se sentiram ofendidos e começaram a surgir rumores de
que um confronto poderia estourar a qualquer momento. A liderança da Igreja
Congregacional suspendeu a conferência do sábado e agendaram um ensaio de
hinos para o culto público que ocorreria no domingo. Porém essas medidas não
foram o suficiente para impedir o confronto que aconteceu no dia 18 de junho de
1938.
Oliveira descreve a destruição da igreja da seguinte forma:
Conclusão
Apesar do protestantismo na paraíba ter se iniciado na capital do estado, ele
se desenvolveu de forma mais intensa no interior do estado onde não havia muita
presença do clero católico. É perceptível uma forte presença das igrejas
Presbiterianas, Batistas, Congregacionais, Pentecostais e Adventista do Sétimo Dia.
A implantação dessas igrejas na Paraíba não foi algo tranquilo. A Igreja
Católica que já estava bem estabelecida na região não aceito muito bem a chegada
dessas igrejas no seu território e passou a persegui-las. No jornal a Imprensa e os
protestantes eram representados de forma negativa enquanto os católicos de forma
positiva. Desta forma, a Igreja Católica buscava se reafirma na sociedade para não
perder mais espaço na sociedade e manter a sua estabilidade quanto grupo
religioso.
Algumas vezes a Igreja Católica mostrava uma certa contradição, pois ao
mesmo tempo em que escrevia no jornal a Imprensa que os católicos deveriam amor
os protestantes e odiar o protestantismo, ele incitava os fiéis a desprezar
protestantes que eram vistos como ladrões, pessoas de mal caráter etc. Em alguns
momentos a perseguição partia para a parte física como ataques a igrejas e a
membros resultando destruição de igrejas e assassinatos.
Muitos dos casos mais sérios aconteceram enquanto se realizavam as Santas
Missões. Elas reforçavam a identidade católica aconselhavam os fieis a não terem
nenhum contato com protestantes fazendo com que os protestantes no interior do
estado passassem por necessidades e fossem privados de água. Desta forma, eles
eram forçados a mudar de cidades e essa situação se prolongou até o último grande
conflito entre católicos e protestantes na paraíba ocorreu em patos em 1950 com a
depredação de três igrejas protestantes.
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