Liberdade de Ser Mulher

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“Liberdade de ser Mulher”, por Fátima Lopes

“Fecha as pernas”, dizia-me a minha mãe quando eu era pequena…

“Esconde a barriga, onde já se viu, uma menina com a barriga à mostra?”, dizia-me a
minha avó…

Isto da Liberdade ainda é um tema um pouco controverso quando se trata de mulheres.


Por mais que já se tenha feito caminho ao nível da igualdade de género, há ainda muitos
condicionamentos e preconceitos “escondidos” numa sociedade aparentemente liberal.

Uma liberdade condicionada em pleno século XXI!


Para uma observação simples escolhi o exemplo dos anúncios de pensos higiénicos. Eu não
entendia o porquê do sangue menstrual ser apresentado como um líquido azul. Qual seria o
problema de mostrar o sangue menstrual vermelho como ele é? Mais tarde percebi que há uma
razão para isso: o sangue menstrual ainda não é bem-vindo e é considerado como algo sujo e
mau!

Este exemplo, apesar de parecer algo banal e sem importância, ilustra bem a falta de liberdade que
as mulheres ainda têm em pleno século XXI.Senão vejamos: Que tipo de liberdade é esta onde não
se fala de menstruação, onde o sangue é azul e se incentiva as mulheres a não gostarem de
menstruar, a não aceitarem o seu próprio corpo e a procurarem ser algo que não são? Que tipo de
liberdade é esta onde se vende o “corpo ideal” que, por sinal, é um corpo desnutrido e infeliz,
levando milhões de mulheres a competir e adoecer na busca pela suposta “perfeição”? Que tipo de
liberdade é esta onde se continua a fomentar uma cultura da “mulher objeto” que tem de ser sexy,
disponível, jovem e competente para poder receber o amor e a aceitação do mundo? Que tipo de
liberdade é esta onde se castram e proíbem as meninas de conhecer o prazer através do seu corpo,
levando à culpa e falta de auto-estima?

Liberdade com limites!


Neste tipo de “liberdade” as mulheres ainda não são donas do seu corpo, nem das suas escolhas…
Esta “liberdade” é apenas uma ilusão que esconde a profunda prisão e manipulação de uma cultura
patriarcal.

Muitas mulheres já estão a despertar para a verdadeira


liberdade.
Muitas mulheres já estão a acordar deste sono profundo. Muitas mulheres já estão a despertar e a
perceber que a verdadeira Liberdade começa em amar o seu próprio corpo e em honrar o seu
sangue menstrual como algo sagrado, pois é o seu Poder criador e o verdadeiro néctar da Vida.

As diferentes formas de liberdade…


A verdadeira liberdade está em aceitar as suas formas perfeitas, a sua beleza natural a sua
singularidade.

A verdadeira liberdade está em escutar a voz interna antes do ruído exterior e confiar na bússola
que vive no seu coração.

A verdadeira liberdade está na expressão livre de preceitos e preconceitos…


A verdadeira liberdade está em cuidar de si e do seu corpo como um templo, colocando limites
claros e só aceitando na sua intimidade quem a respeita e honra como uma Deusa!

A verdadeira liberdade é amar esta abundância que é ser cíclica: mulher selvagem, mulher sábia,
mulher menina, mulher mãe…

A verdadeira liberdade!
A verdadeira Liberdade é regressar ao centro, re-ligar o coração ao ventre, voltar a correr descalça
pela natureza, sentir as raízes bem profundas como as árvores e relembrar que Somos Filhas da
Terra. Que a nossa alma está viva e sempre esteve à espera deste Despertar. E, que a conquista da
nossa verdadeira Liberdade é a esperança para Libertar toda a Humanidade!

Equilíbrio constante
“Ser mulher é lidar o tempo todo com linhas tênues. É a tentativa diá ria de se equilibrar
entre a independência e a intimidaçã o. É quase nunca saber se a abordagem de um
homem tem algum interesse além daquele que ele diz ter. É ter sua competência medida
na relaçã o (des)proporcional de sua aparência física. É acelerar o passo numa rua escura
e pouco movimentada, mas, ainda assim, ter vontade de explorar a noite, as ruas, as
curvas. É ter de ouvir os homens dizendo como você deve se sentir, vestir e agir. Mas é,
ao mesmo tempo, dizer nã o a isso e saber que só cada uma sabe o que se passa dentro de
si.”
Mariana Queiroz Barboza, repórter de Internacional de IstoÉ

Força selvagem
“Ser mulher é entender que dentro de mim habita uma força que habita em todas as
fêmeas, uma força selvagem que nos foi tirada ao longo dos milênios para nos
domesticar e sermos moldadas conforme nos impõ em a cultura e a religiã o da sociedade
patriarcal. É lutar contra o machismo, pela livre escolha e poder da mulher sob o seu
corpo, por ser reconhecida pelos talentos, pelo fim da ditadura da beleza e da rivalidade
entre mulheres, pela igualdade de gênero, pelo simples sair na rua sem ter medo de que
seu espaço e seu corpo sejam invadidos. Ser mulher pra mim é lutar.”
Kareen Sayuri, diretora de arte de Menu

Reflexo da diversidade
“Encontrei a mulher que hoje existe em mim quando em um dia de trabalho enxerguei o
abismo que nos separa dos homens. Nã o teve volta. Percebi que ser mulher é ter
sensibilidade para olhar o mundo. Das histó rias que passaram por mim quis contar a das
índias de Dourados, rejeitadas nas delegacias, porque causava angú stia. Quis ouvir as
mã es que perderam seus filhos em confronto com a polícia porque vi amor. Tentei
transcrever a vontade das jovens que usam as redes sociais para mobilizar umas as
outras porque inspira. Me emocionei ao ouvir negras falando firmes contra o racismo. Vi
força quando conheci as mulheres trans. Fui representada quando todas foram à s ruas
para assegurar nossos direitos na saú de pú blica. Senti o arrepio na espinha das que
foram assediadas no transporte pú blico. Sinto orgulho quando assisto a uma de nó s
assumir um cargo pú blico. Olho no espelho e vejo um pouco de cada uma delas em mim.
Ser mulher é refletir essa diversidade. E cada dia que enxergo melhor essas diferenças,
concluo: nã o há como voltar atrá s.”
Fabíola Perez, repórter de Comportamento e Sociedade da IstoÉ

Ideias sempre abertas


“Para mim, ser mulher é ser uma exceção à regra. Em criança, não me
sentia à vontade em vestidos e cores brandas. Queria ser menino, apenas
por não caber em mim. Não me bastavam as fronteiras do universo
concebido às mulheres, enquanto meu avesso sinalizava tanta liberdade,
tanto riso, tantas aventuras e diversões. Meu desejo era me transformar
em Pedro e ser o que eu quisesse. Mas rapidamente vi a impossibilidade
de me converter em um ser masculino (eu já era enfeitiçada e talhada
pelas incríveis mulheres à minha volta), e também a possibilidade de me
tornar uma criação original. Assumi – com facilidade até – trajes, corpo,
sonhos e paladares femininos, guardando para sempre a gargalhada alta e
debochada, o andar firme e as ideias sempre abertas, que me permitiram
voar alto, sendo mulher neste mundo que já era tão essencialmente
masculino.”
Maria Clara Vergueiro, diretora da Rocky Mountain Livros

Força especial
“Difícil se sentir diferente de um homem quando sempre fui tratada como
igual. Sim, posso me considerar privilegiada por nunca ter sofrido abuso,
ter sido alvo de comentários machistas e por ter vivido em ambientes –
seja na família ou na faculdade – formados por mulheres em sua maioria.
Isso se deve muito à luta de gerações anteriores por posições de
igualdade (um legado que continua). Mas a natureza me mostrou
recentemente como ser mulher é especial e nos faz ter uma força que,
duvido, chegue perto do que o homem possa sentir: ser mãe.”
Beatriz Marques, redatora-chefe de Menu

No ataque
“Antes de ser mulher, o que valorizo é ser gentil, ser determinada, ser
energética, ser ética. Essas são qualidades que, a meu ver, qualquer ser
humano deve cultivar e aprimorar em vida. Independentemente de
gênero, orientação sexual, raça, religião, estado civil, gosto, etc., etc.
Agora, se há discriminação, desconsideração ou desprezo envolvendo a
condição feminina, parto pro ataque.”
Paula Alzugaray, diretora da revista Select

Batalha cotidiana
Esse é um conceito muito variável que vai mudar conforme a época, a
classe social, o ambiente em que vive, o país, a religião e até mesmo de
acordo com o sexo, já que muitas pessoas podem ser mulher, sem ter
nascido mulher. Para mim, hoje, ser mulher é lutar para mostrar para a
sociedade que é ser o que quiser, como quiser, onde quiser e quando
quiser. Conquistar o direito de não seguir padrões e regras
predeterminados. É lutar, diariamente, para ter os mesmos direitos que os
homens, como aqueles mais básicos, como a liberdade social de não ser
desrespeitada, julgada ou assediada pelo simples fato de ser mulher. De
querer ou não querer ser mãe, querer ou não querer ser forte, querer ou
não querer ser vaidosa, querer ou não querer ser do lar. E, enquanto isso,
lidar diariamente com os micromachismos já tão normalizados na nossa
rotina.
Ana Carolina Nunes, repórter de IstoÉ Online

“Ser mulher é ser. Pensar. Acreditar. E, logo, existir.”


Gisele Vitória, diretora de redação de PLANETA

Direito de escolha
“Definir o que é ser mulher passa inevitavelmente pela ideia de
construção histórica e social do feminino. Depende do tempo, do lugar, do
contexto. Se em 1930 havia mulheres que iam pras ruas brigar pelo
direito ao voto, outras cuidavam da casa e esperavam o marido voltar do
trabalho. Se em 1960 havia quem exigisse o direito de tomar a pílula,
havia também quem se casava virgem. Se nos anos 2000 há quem lute
contra o machismo gritando, mostrando os seios e manchando o corpo de
tinta vermelha, há quem prefira ser ‘bela, recatada e do lar’. Todas, e
muitas outras, são mulheres. O importante é que o papel a ser ocupado
por cada uma de nós possa ser uma escolha livre e consciente, e não uma
obrigação. Meu tempo, meu lugar e meu contexto me permitiram ser uma
mulher que luta pelo direito de fazermos essa escolha.”
Camila Brandalise, repórter de IstoÉ

Luta diária
“Ser mulher é ter de provar, a todo o momento, que é capaz de ser e
fazer o que quiser, quando quiser e como quiser. É se fazer ouvir, mesmo
quando querem calar. É lutar, diariamente, pela liberdade de ser feliz.
Usar a razão e o coração como guia para não desistir, nunca, do direito à
igualdade.”
Paula Bezerra, repórter de IstoÉ Dinheiro

Vontade própria
“Seria um estado de espírito? Uma identidade? Uma luta? Uma condição?
Ser mulher é uma quantidade tão vasta de coisas que me parece errado
tentar encaixar em um conceito único. Independentemente do que os
outros falem ou do que a sociedade imponha, é o que uma mulher quiser
ser. É descobrir-se. Tornar-se. Definir-se, transformar-se. E, acima de
tudo, aprender a se amar como mulher.”
Helena Borges, repórter da sucursal do Rio de Janeiro de IstoÉ

Inteligência emocional
“Ser mulher é ter força para aguentar o dia a dia, o trabalho, o chefe, o
marido, os filhos e todas as necessidades que eles demandam. Além de
força, é preciso ter doçura e serenidade para que esse dia a dia seja mais
leve e gratificante. Ser mulher é ter paciência para ouvir piadas de mau
gosto e o machismo velado que há por aí. É ser feminina, saber falar com
um olhar, ter inteligência emocional. Enfim, ser mulher é ter um
encantamento que vem da alma, do mais profundo ser feminino que mora
em cada uma de nós.”
Cinthia Behr, chefe de arte de IstoÉ Dinheiro

Seguir em frente
“Ser mulher é andar com medo na rua à noite. É organizar o tempo para
acomodar a jornada tripla. É ensinar para a filha que é preciso reparar
mais nas ações do que nas palavras. É saber que um abraço cura (quase)
tudo. É falar o que precisa ser dito. É seguir em frente, sempre. É lutar
pela igualdade”.
Flavia Galembeck, editora assistente de Finanças de IstoÉ
Dinheiro

União e coragem
“Ser mulher em 2016 é – com as bênçãos das companheiras que há
décadas estão nas trincheiras e abrem caminhos para que, inclusive,
possamos escrever esses depoimentos – saber que há, ainda, muita luta
pela frente. Vivemos num país extremamente intolerante e
preconceituoso, onde o machismo está impresso em todos os ambientes e
relações. Às vezes, velado, educadamente sutil. Algumas vezes,
explosivo, violento. Em todas as situações, muito doloroso. Em 2016, nós,
mulheres de todas as gerações, temos de continuar a lutar e a dizer não.
As conquistas vieram e virão, mas só por meio de nós, da nossa união e
da nossa coragem.”
Débora Crivellaro, editora de IstoÉ

“Ser mulher é não pensar muito na diferenças entre os dois sexos.”


Suzana Barelli, editora de vinhos de Menu

Em busca de harmonia
“Apesar da força interior que sinto por ser quem sou – o que inclui ser
mulher –, tenho consciência de que gasto muito da minha energia
defendendo o lugar que quero ocupar ‘apesar de não ser homem’, e me
desgasto em lidar com opiniões e atitudes machistas de homens e
mulheres. E pra quê? Por acreditar no ideal de um mundo mais harmônico
e equilibrado, com liberdade de escolha pra qualquer ser humano?
Exatamente! E pra isso vale o esforço!”
Renata Valério de Mesquita, repórter de PLANETA

Simplicidade complexa
“É usar saia e salto alto. É usar calça e tênis baixo. É usar maquiagem. É
andar de cara lavada. É ser feminina. É ser rainha do lar. É ser da rua. É
gritar por liberdade no meio da multidão. É fazer uma pequena revolução
dentro de casa. É ser bem-sucedida na carreira. É ter tempo de manter o
corpo em forma. É ser mãe de seus filhos. É não ser mãe. É ter um órgão
sexual que te define. É ser a desconstrução de tudo isso. É ser
simplesmente mulher, em toda sua complexidade.”
Cíntia Oliveira, repórter de Menu

Rumo à igualdade
“Ser mulher é uma corrida de obstáculos. É viver tentando driblar todos
os ‘nãos’ que já vêm com o fato de ter apenas nascido mulher. É vencer
cada tabu, mas não antes de tentar entender o porquê de cada um deles,
e mesmo sem entender onde está a razão de tudo aquilo, ir em frente.
Avós, mães, filhas, todas percorreram esse mesmo caminho fortes, lindas
e livres quanto puderam, para que o amanhã seja de igualdade.”
Iara Spina, diagramadora de IstoÉ Dinheiro

Esforço dobrado
“Ser mulher ainda é ter que se esforçar o dobro para conseguir o mesmo
resultado que um homem. Seja na conquista por respeito, credibilidade ou
reconhecimento profissional. Mas é uma luta conjunta para que a
peculiaridade e a beleza de cada gênero sejam determinadas sem
hierarquização social, apenas por seus cromossomos sexuais: XX para
elas, XY para eles.”
Débora Bergamasco, diretora da sucursal de Brasília de IstoÉ

Poder fazer tudo e nada


“Sempre me julguei, desde menina. Lembro de ter chorado e sentido
medo de ser eu mesma. Passei a podar minhas vontades. Aos 19 anos,
comecei a namorar e mais tarde conheci o feminismo. Mas ainda havia
resquícios machistas dentro de mim. Cansei de depender da opinião de
outras pessoas para ser quem sou. O feminismo me libertou. Ser mulher,
para mim, é fazer exatamente tudo o que eu tenho vontade, sem medo
de ser oprimida. É poder escolher a profissão que eu quiser, usar a roupa
que desejar e ter o corpo que eu conseguir. Não precisamos da aprovação
de ninguém. Posso ou não ser mãe. Hoje vejo o mundo de outra forma.
Compreendo o ponto de vista de qualquer mulher. E as defendo, não
importa o que aconteça. Afinal, me sinto mais forte por ter tantas
mulheres incríveis ao meu redor. Cada uma de nós tem sua beleza e
qualidade. Ninguém deve ser piloto do nosso avião, além de nós mesmos.
Ser mulher é poder fazer tudo e nada. Simplesmente o que sentir
vontade.”
Ludmilla Amaral, repórter de Comportamento de IstoÉ

Múltiplos papéis
“Ser mulher é deixar de lado a falta de colo para ser porto seguro de
alguém. É ser forte e ser frágil. É ser a heroína com coração de mocinha.
É desempenhar quantos papéis for preciso e ter prazer em todos eles. É
ter muitos medos, mas não se curvar diante de nenhum. É falar e calar.
Amar e disciplinar. Proteger e exortar. Ansiar e esperar. Ser mulher é
desafiador, mas não há nada mais bonito!
Carol Gandara, designer de IstoÉ

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