Platão Contra A Arte - Muniz, Fernando
Platão Contra A Arte - Muniz, Fernando
Platão Contra A Arte - Muniz, Fernando
UM POSSÍVEL ENCONT RO DA VERDADE A PART IR DA ART E A possible encount er of t rut h from art
Braulio Giordano
Platão contra a arte•
Fernando Muniz
(publicado em Haddock-Lobo, R. Os Filósofos e a Arte. RJ: Ed. Rocco, 2010, pp
15-42.)
Shelley
jamais conheceu.”
Nietzsche
Introdução
poesia, pertencem a estratégias diferentes. Com a doutrina do Entusiasmo, Platão retira dos
ele caça a cidadania da própria poesia. Veremos no decorrer do texto que Entusiasmo e
Mímesis são conceitos mutuamente excludentes e que aparecem nos Diálogos sempre em
diferentes contextos dramáticos. A despeito do fato de terem sido cunhados com o propósito
parece ser o destino de Platão - seja em relação à arte, seja em relação aos demais tópicos
filosóficos: as regras do jogo reflexivo estabelecidas por ele mostram-se tão definitivas que,
ainda que se queira reverter o jogo platônico, o resultado parece sempre previsto na trama
fez mais do que colocar “notas de pé de página nos Diálogos de Platão”. Se tomarmos como
exemplo a filosofia da arte, seremos forçados, ainda que perplexos, a concordar com ele.
Entusiasmo Platão tenha chegado à Mímesis, e da Mímesis, à sua palavra final sobre a arte.
longo de dez livros, uma Cidade (“de palavras”2) justa que corresponde ao Indivíduo justo.
sentido bem amplo3 - no centro da cena dramática de A República. A tradição grega, desde
suas mais profundas raízes orais, sempre reconheceu na poesia sua principal fonte de
conhecimento - uma “enciclopédia tribal” como propõe Havelock4 - e, nos poetas, suas
autoridades supremas. Do ponto de vista de Platão, a pretensão da poesia de responder às
grandes questões sobre a vida humana, em outras palavras, de disputar com a filosofia no
experiência que ela promove para demonstrar a sua total incapacidade de guiar a vida
profundo da realidade, Platão detecta na arte algo bem mais grave: uma ameaça inseparável
de seu próprio modo de operar, pois os prazeres que proporciona destroem as condições de
acesso ao conhecimento. Dotada de uma potência corrosiva, a arte arruína o intelecto;
instaura, dentro da alma do indivíduo e, fora dela, na Cidade, o reinado injusto de “déspotas
selvagens”.
Ao privar desse modo a arte de sua independência e de seu valor próprio, Platão
autonomia, ou seja, a arte tomada como valor separável dos valores éticos, políticos ou de
qualquer outro tipo de valor. Levados muitas vezes por essa crença profundamente
tomaram a crítica platônica como uma visão equivocada e seus argumentos, irrelevantes,
não merecendo, portanto, nenhuma resposta séria5. Alguns, movidos pelo espanto ou pela
indignação, tentaram defender a arte das acusações de Platão. Outros quiseram ainda
defender Platão dele mesmo, salvando a arte e o filósofo-poeta - mesmo que para isso
tivessem que esquecer seus textos6. Tais atitudes mantiveram tenso o campo de batalha da
“antiga disputa entre a Filosofia e a Poesia” (607b7) de que nos fala Platão no final de A
República. Ali, julgando acertar um golpe de misericórdia na arte agonizante, faz Sócrates
proclamar uma das sentenças mais perturbadoras de toda história da filosofia: “Nosso
argumento nos força a expulsar a poesia da Cidade”. Longe de ser um gesto isolado, esse
dos Diálogos não é uma tarefa simples. Os modos de abordagem são vários, os conceitos
da teia em que essa questão se equilibra implica observar seus múltiplos aspectos sem
perder de vista a motivação persistente que a sustenta. Nos primeiros diálogos compostos
positiva desse mesmo processo, atribuindo ao artista uma atividade produtora que responde
pela “autoria” da obra. Por serem doutrinas incompatíveis, Platão tem o cuidado de não as
associar em nenhum contexto7. Mas essa incompatibilidade deve ser relativizada. Cada
Entusiasmo
Nos primeiros diálogos, como já foi dito, a doutrina do Entusiasmo domina a reflexão sobre a
poesia. Sócrates faz referência explícita a ela na Apologia (22 a-c) e no Mênon (99c-d), mas só
O diálogo narra o encontro entre Íon, o rapsodo, e Sócrates, o filósofo. Íon está
imediato sua “inveja e admiração” pelos rapsodos. Não apenas por estarem sempre “tão
mais divino de todos, Homero”. Difícil não perceber a ironia nessa confissão de inveja de
Sócrates. A menção às vestimentas e aos adornos coloca sob suspeita não apenas esses,
convivência com os poetas. Mas, com essa confissão de inveja, Sócrates ganha a atenção
vaidosa de Íon e pode, assim, desenvolver seu argumento.
cor” não apenas os versos, mas também “o pensamento” do poeta: “É impossível que ele
possa desempenhar belamente sua atividade se não entender o sentido das palavras do
poeta” (430c). Sócrates oferece então uma primeira explicação para a suposta habilidade do
Platão utiliza esse termo chave em sua estratégia para desqualificar a pretensão do rapsodo
linguístico: o tradutor conhece o sentido dos versos – na realidade, fala a língua do poeta e
traduz o sentido dos versos para a audiência. Com isso, Platão faz do artista performático
uma espécie de “crítico literário”10 que fundamenta sua prática numa hermenêutica da
(em 530c) afirma: “foi isso o que me deu mais trabalho na minha téchne”. E acrescenta um
ponto crucial. Ele se diz detentor de um conhecimento sobre (peri) Homero. Colocada assim,
palavras, Íon não pode, para resolvê-la, fazer uma exibição, mas precisa, sim, fazer uma
demonstração por meio do exame socrático, o elenchos. Neste exame, a pretensão de Íon é
facilmente refutada por Sócrates: se a questão da poesia for colocada em termos cognitivos,
Íon deve ser dotado de um conhecimento rigoroso (téchne) sobre toda a poesia, e não apenas
sobre Homero. Mas Íon insiste: “só falo bem Homero, qualquer outro me deixa sem ter o que
dizer”.
Somos conduzidos, então, à questão decisiva. Se Íon não canta Homero por téchne,
se não tem um conhecimento especializado, o que efetivamente acontece com ele? Para
responder esta questão, será preciso antes saber, afinal, o que é uma téchne. A tradução
deste termo costuma provocar mais confusão do que esclarecimento, como no caso da
tradução usual por “arte”. Uma téchne nada tem a ver com o que chamamos de arte11.
poesia naquilo que ela nada tem de poética?13 Ao acusar Íon de não ter competência técnica
sobre os assuntos de que trata Homero, Platão não estaria ignorando os traços mais
relevantes do que chamamos experiência estética? Teria Platão destacado e reconhecido
essa dimensão própria do fenômeno da arte? Voltaremos a estas questões mais a frente.
objetos ou de eventos, como explicá-la? Como explicar que o rapsodo, esse ingênuo e
ainda mais profundamente, por que essa experiência é valorizada pelo público?
Platão, longe de ignorar essas questões, responde a todas elas com a doutrina do
Entusiasmo. Na verdade, Sócrates apresenta a doutrina com pretexto de dar conta do fato
enigmático de Íon ser dotado de uma especialidade não-técnica. Este fenômeno é explicado
em termos de intervenção divina. Quando canta, Íon está possuído pelas Musas, está
enthusiasmós, o estado resultante desta intervenção psíquica. O emprego usual dos termos -
éntheos, enthusiasmós - no contexto grego arcaico não implica necessariamente perda de
consciência, possessão ou transe. Platão inventa um novo sentido para esses termos,
criando, assim, um grau extremo de Entusiasmo que altera a visão de sua época sobre a
poesia14.
Em 533-d-e:
nos outros... [os poetas], portanto, se são bons, não são por
Aqui, Platão irá retomar o termo hermeneús, não mais no sentido de “tradutor”, mas,
acontecimento poético por excelência. Em grego, epídeixis nomeia a ação de mostrar algo
diálogo, Íon se propõe a fazer para Sócrates, mas que este recusa. O desprezo de Sócrates
pela performance é um dos tópicos centrais da crítica platônica à arte e permanecerá no foco
da discussão até A República. Quando, na única oportunidade, Íon recita Homero, Sócrates
acordo com seu reconhecimento dos aspectos valorosos da poesia. A despeito do efeito
poético eletrizante da performance, o direito que a poesia tem de falar em nome das “muitas
rapsodo é reprovado no teste, não demonstra saber do que fala. É capaz de fazer uma
epídeixis (performance), mas não uma apódeixis (prova, demonstração)15.
os transmissores; e outra, dialética, mais afinada com a prática filosófica, construída a partir
“muitas coisas belas” (Íon, 533e, 534d, 534e), no mesmo ato em que impedem que haja um
demonstrativa, eles fazem com que os homens saibam que os verdadeiros autores da poesia
são eles, os deuses.
rapsodos ao conhecimento “das muitas coisas admiráveis” de que, por intervenção divina,
cantam. Nele não há nenhuma menção à Mímesis16. Se Platão, naquele momento, já refletia
sobre ela, não há como saber. Sabemos, entretanto, que a entrada da Mímesis na cena dos
que o poeta está engajado, como produtor, e pode ser responsabilizado por isso. Resta saber
Transições
Não há, como vimos, no Íon, nem uma compreensão do modo de fabricação da poesia, nem
apenas indireto: a ameaça implícita na autoridade infundada atribuída a pessoas como Íon
para responder a questão fundamental sobre como devemos viver e conduzir as nossas
vidas.
Mas se, por um lado, poetas e rapsodos são excluídos da discussão sobre as coisas
valorosas - sob o pretexto de não terem conhecimento do que falam -, por outro, a evidência
de que a poesia produz, por seus próprios meios, certos efeitos, permanece inabalável. Não
sendo pela técnica, por qual procedimento seriam então produzidos? Íon fala de seu grande
esforço para desenvolver o que chamou de sua técnica, e demonstra ter consciência dos
efeitos que produz na audiência. Nesse sentido, o Górgias dá um passo adiante. Um passo
que marca uma transição epistêmica que permitirá a passagem da postura meramente
condições necessárias para o exercício desse gênero de produção (463a): (i) “alma
perspicaz e arrojada”; (ii) “habilidade natural nas relações humanas”; (iii) “experiência”; e
(iv) “dedicação”.
Cálicles, em 502b: “E quanto a augusta e maravilhosa poesia da tragédia, terá outro objetivo
senão fornecer prazer aos espectadores?” Cálicles concorda. “Então”, segue Sócrates, “se
alguém retirar de todas as composições poéticas a melodia, o ritmo e o metro, não sobrariam
apenas palavras?”... E conclui: “Não é retórica, então, o que fazem os poetas nos teatros?”
conseguem fazer o que fazem. Que tipo de coisa fazem. E, principalmente, como fazem, qual
Para dar conta da existência dessas “práticas de prazer”, Platão apresenta, pela
primeira vez nos Diálogos, a distinção inequívoca entre corpo e alma20. A distinção é
técnica. Para tal, Sócrates parte do seguinte argumento: como há um corpo e uma saúde
do corpo (464a-b), e uma saúde da alma. Há técnicas que dizem respeito ao corpo e
outras que dizem respeito à alma: para o corpo, a Ginástica e a Medicina e, para a alma,
Tendo estabelecido, assim, uma série divergente de elementos, Sócrates passa a expor a
gênero das práticas de prazer] dando-se conta disso - quero dizer, não
dos bens, por outro, persegue o que é mais prazeroso e engana a falta
A partir dessa gênese das práticas de prazer, Sócrates introduz uma nova
expressão para caracterizar a Retórica. Ela seria não uma técnica, mas “o eidolon de uma
que estás dizendo”, diz Górgias, “dize-me em que sentido estás falando da Retórica como
escolha dessa palavra para designar a natureza desses procedimentos terá implicações
papel, um “status fenomênico particular”, uma semelhança que não mais diz respeito ao
existência desses domínios diferenciados. A indicação não deixa espaço para dúvidas: o
existem entre o médico e o cozinheiro. Uma ameaça que fará com que o Estrangeiro, no
Sofista (231a), alerte: “Tal como entre o lobo e o cão, entre a fera mais selvagem e a mais
vida.
e a poesia em A República. Fornece os meios para que a exclusão seja realizada a partir
são os seguintes:
naturais para o exercício profissional das práticas de prazer fornece uma explicação
de prazer, poderá responder pela “cumplicidade tão íntima que faz passar, para a alma
faz crer, cria convicções, promove uma visão do mundo. No Fédon, este ponto está bem
estabelecido (Fédon, 83c-d): “Consiste numa inferência inevitável que se impõe à alma de
todo homem, no instante mesmo em que experimenta uma sensação intensa de prazer ou
dor: é-se levado a tomar a causa da afecção como a coisa mais evidente e verdadeira,
ainda que não o seja - já que se trata de coisas visíveis”. Na sequência, Sócrates não
deixa dúvidas: “são afecções desse tipo que irão encadear cada vez mais estreitamente a
alma ao corpo. De modo que cada prazer ou cada dor funciona como pregos que prendem
a alma ao corpo, fixando-a nele e dando a ela uma forma corporal, “a ponto de fazer com
que ela tome por verdadeiro tudo o que o corpo afirma ser”. Em suma, é o prazer, por sua
sensível/inteligível, arte/filosofia.
Mímesis e Ética
Em A República, Platão está preparado para enfrentar a arte com novas e velhas armas. Nos
livros 2 e 3, Sócrates dá uma detalhada explicação sobre o papel da poesia na formação dos
indispensável para a formação do caráter dos futuros governantes. Afinal, eles serão os
Guardiões da Cidade e devem ser treinados como “cães de guarda”. A metáfora indica a
formação de um “caráter refinado” e raro, combinação de bravura e docilidade, impulsividade
e natureza filosófica. Mas como, à sombra do cão, descansa sempre o lobo, a tarefa
de lobos em vez de cães de guarda, déspotas selvagens em vez de guardiões justos. Esta
fronteira perigosa que confunde as semelhanças, como vimos no Górgias, precisa ser vigiada
e controlada. Eis por que a poesia e as artes em geral, como práticas de prazer, precisam
passar pelo rigoroso crivo de análise que avalia seus efeitos sobre os jovens.
Não há, nos livros 2 e 3, nenhuma condenação explícita à arte. Pelo contrário,
Sócrates prevê uma educação tradicional em que elementos artísticos – simetria, proporção,
ritmo - são importantes na formação do caráter. Fica claro que, para Platão, uma sociedade
não pode prescindir do valor formativo das artes. Em 401c, a mensagem é clara: é
necessário que os jovens sigam as pegadas que nos conduzem na direção do belo e da forma
graciosa. Para isso, belas obras devem atingir seus olhos e ouvidos, como uma brisa salutar,
e “levá-los, sem que se deem conta, desde a infância, à semelhança, à amizade, à harmonia
com a beleza da razão”. Que a educação pelas artes (mousiké) seja capital, explica-se pelo
fato de que “o ritmo e a harmonia penetram mais fundo na alma, e afetando-a, assim, mais
fortemente, dando-lhe uma graciosa forma” (401d). Fica reconhecida assim a potência
formação.
os referidos efeitos de criação dos cães de guarda, como pode criar os lobos. Como diz
Sócrates em 401b, “podem produzir tanto a ausência de forma graciosa, o mau ritmo, a
desarmonia, irmãs do discurso mau e do mau caráter, ou produzir qualidades opostas,
irmãs e imitações do caráter temperante e bom”. A vigilância deve atingir não apenas os
poetas, mas também os outros produtores. Qualquer que seja a obra – “seja em imagens de
seres vivos ou edifícios ou qualquer tipo de produção” - deve ser proibida de tratar do vício,
da licença, da baixeza, da ausência de forma graciosa. Para que as imagens do mal não
mal na alma.
poética. No que diz respeito ao conteúdo (ou seja, sobre o que deve ser dito), a análise expõe
uma série de aspectos eticamente negativos da representação poética dos deuses e heróis.
Segundo Sócrates, tais traços não combinam com a perfeição das divindades. A imobilidade
e a unidade, sim, dizem respeito à perfeição. Os heróis, por sua vez, não podem ser
descontrolado. Tal análise sugere, assim, uma reforma religiosa, uma nova teologia, e uma
correspondente censura que corrija a natureza e a imagem ética dos deuses e heróis.
Quanto à forma (ou seja, sobre o modo como essas coisas devem ser ditas), Sócrates
simples é aquela em que o relato não envolve a adoção do ponto de vista dos personagens; a
mista, os dois modos de expressão são empregados. A forma do discurso direto24, em que o
autor aparece escondido, simulando ser cada um dos personagens, ganha atenção especial
Sócrates pretende agora explicar racionalmente este efeito. O magnetismo surge agora como
verbo, significa agir como alguém, agir na forma de emulação. O foco da discussão,
portanto, concentra-se na performance artística. Mas qual seria agora a ameaça? Vimos, no
Íon, que a ameaça implícita era deixar que a questão sobre como devemos viver fosse
respondida por quem não sabe do que fala. Agora, temos outro contexto: a força da
instinto profundo do ser humano, uma espécie de apetite enraizado na alma humana - não,
porém, na sua melhor parte – que exige ser saciado. Mas qual seria esse instinto e qual o
malefício por ele gerado? Que mal pode haver no jogo imaginativo e lúdico que faz o
espectador experimentar ser outro? Para sermos justos com Platão, é preciso recolocar a
questão em termos platônicos: quais hábitos, atitudes, crenças e desejos estão sendo
treinados com a Mímesis das ações? Se a Mímesis modela o caráter, é preciso saber, em
primeiro lugar, que tipo de caráter ela modela, qual o tipo de atitude que ela estimula, que
espécie de crença ela forja; não podemos julgar a Mímesis sem responder essas questões.
mesma maneira na vida real” (395d). Para Platão, portanto, a arte (pelo menos a que
transformar a vida.
Daí Sócrates condenar de modo tão severo o tipo de coisa que se imita e o prazer que
dotado de versatilidade. Esta é maior objeção política de Platão à “imitatividade”. Ela faz
variar a especialização, abole o princípio que prescreve para cada cidadão o exercício de uma
O espetáculo poético, quando funciona bem, não pode deixar de produzir variação das
emoções nem uma experiência com a alteridade27, mas qual o pressuposto geral desse
argumento? Platão não distingue qualitativamente emoções e prazeres estéticos e não-
estéticos. As emoções despertadas pela arte não se distinguem das emoções da vida real. Se
ele está certo, devemos acreditar que a poesia envolve imaginativamente nossa vida
emocional, e aceitar também que ele tem razão em afirmar que esse engajamento emocional
funciona como um canal (similar à cadeia transmissora do Íon) por onde valores, atitudes e
crenças são transferidos da obra de arte para a mente do espectador. A performance pública
eficientes que os apresentados no Íon, são ainda insuficientes para levar a cabo projeto
platônico de exclusão da arte. O anúncio dessa exclusão, em vários momentos dos livros 2 e
3, indica-nos, na realidade, que essa promessa só será completamente cumprida quando
pessoas e imitar todas as coisas chegasse a nossa Cidade e quisesse fazer uma performance
de seus poemas (...) diríamos a ele que esse não existe esse tipo de homem em nossa Cidade
e nem sequer é permitido que haja. Depois de derramar mirra em sua cabeça, e coroá-lo com
louros, mandá-lo-íamos para outra Cidade.” Cabe na Cidade ideal apenas um tipo de poeta,
o “austero”, aquele que só imita os modelos prescritos pela própria Cidade28. Mas quem de
O livro 10 é o principal texto platônico sobre a arte desde que seja lido como o cume de um
processo, o resultado conclusivo de uma investigação iniciada nos primeiros diálogos. Neste
para que os argumentos contra a arte do livro 10 sejam entendidos em toda sua
processo acumulativo quando garante que a necessidade de recusar a poesia mimética fica
livros 5-7, Platão pode apresentar uma noção geral da Mímesis e, a partir dela, dar a sua
palavra final sobre a arte. O tema central do livro 10 retoma o conceito de Mímesis dos livros
2 e 3, mas desta vez não mais do ponto de vista ético-político ou educacional. A Mímesis
responder antes à questão central: qual é esse novo sentido da Mímesis? Nos livros
diretamente associada à atuação dramática. No livro 10, ela é apresentada com outro
sentido, mais geral e mais ambicioso que engloba o anterior e o qualifica. Inventando uma
ponto de vista, a Mímesis teria, como que inscrita na sua própria natureza, a
como aparecem. Como representam a aparência das coisas, as artes miméticas mantêm
com o original - do qual pretendem fornecer a cópia - uma relação tênue, forjada por uma
semelhança superficial.
comentadores29 vejam uma contradição insolúvel entre os livros 2 e 3 e o livro 10. Afinal,
vimos que a Mímesis não é rejeitada na sua totalidade nos primeiros livros. Algumas
exceções são permitidas (396b-398b). No livro 10, ao contrário, toda poesia é Mimética e
deve ser banida (595a). Mas, na verdade, o que parece ser uma incoerência é um
O ataque agora, muito mais radical e profundo, toma a Mímesis como um procedimento
peculiar, a doutrina das Formas dá apoio à revelação da natureza das artes miméticas. A
intenção de Sócrates, desta vez, não é fazer uma aplicação rigorosa da doutrina das Formas,
seguinte: quando um carpinteiro constrói uma mesa, podemos claramente separar a ideia,
em que o artesão fixou sua atenção para construir a mesa, e a mesa, produto da criação do
carpinteiro. Sócrates supõe aqui que a ideia não é criada pelos artesãos, mas pergunta sobre
mais simples, diz Sócrates, seria mover um espelho produzindo aparições de todas as coisas
existentes. Dentre esses produtores de coisas desprovidas de existência real, ainda que
imagem pintada da cama. Temos então o trio: a Forma da cama; a cama, objeto sensível; a
cama, imagem-aparência. A cama real, a Forma, é separável da cama sensível, mas mantém
com ela uma relação de profunda semelhança. Essa semelhança dá ao objeto sensível certo
grau de realidade. Já a cama pintada, por ser uma imitação a partir da aparência, encontra-
semelhança profunda com a coisa imitada. A questão passa, portanto, do campo ético-
político para o metafísico-epistemológico: que tipo de coisa a arte produz? Que tipo de
conhecimento seus praticantes possuem? Conhecimento para ser verdadeiro precisa ser
mimética só pode ser imagem da imagem: aparência da aparência. Mas se, por um lado, isso
explica o estatuto ontológico dos produtos artísticos, por outro, não dá conta do modo como
funcionam e obtêm o seu êxito. É nesse ponto capital que o estudo da natureza da arte
avança31.
que sua deficiência seja exposta. A arte oculta a deficiência do sensível. Mas de que
maneira? Tornando-o autossuficiente. Daí, a educação artística produzir massas de plateias
fanáticas pelo audiovisual, fanáticas pelos espetáculos de imagens e sons. É nesse sentido
que a arte é um treinamento para a estetização da experiência humana. Aqui, onde nós,
modernos, poderíamos ver a fresta de uma luz apolínea, Platão vê as trevas da Caverna. Os
prazeres intensos que a arte produz fomentam nas massas a crença de que só coisas belas
merecem crédito. As ditas coisas belas são produtos da força cognitiva dessas experiências
de prazer intenso. São elas que permitem que a Imagem seja tomada como o Original. Na
verdade, a arte apaga a fronteira entre a imagem e o Original. Muito distantes da Beleza em
si, os espectadores “extasiam-se com as cores, as formas, os sons e com todas as obras
feitas com esses elementos, embora o seu espírito seja incapaz de discernir e de amar a
natureza do Belo em si.” (476b4-c7) Neste ponto, revela-se a cumplicidade congênita entre
inteligível e sensível, episteme e doxa, corpo e alma, prazer e bem. Aqui reside a grande
ameaça metafísica das artes miméticas: as imagens miméticas escondem suas próprias
Vemos, portanto, que a arte não se reduz à mera fruição, mas permite a valorização
da própria experiência enquanto tal. Por esta valorização, o fruidor perde a capacidade de
julgar por si mesmo o que experimenta, deixando que ela, a própria experiência, modele
suas atitudes, crenças, desejos e emoções33. A causa eficiente dessa transformação psíquica,
como já anunciara Sócrates no Fédon, é o prazer. Por meio de uma estranha afinidade entre
Conclusão
Iris Murdoch
O leitor moderno, diante do gênio literário de Platão, tem dificuldade de aceitar as posições
defendidas por ele em relação à arte. Dificilmente poderíamos supor que ele não reservasse
para a arte um lugar de honra no processo de acesso à Beleza e à Verdade. Mas, ainda que
isso possa parecer chocante pra nós, Platão não reservou lugar algum para a arte na busca
pela Beleza. Como diz Beardsley sobre o Banquete: “É estranho demais que Diotima e
A Beleza para Platão está muito distante do nosso conceito moderno. Como valor
estético, em primeiro lugar, ela é entendida como algo inteiramente separável dos outros
valores. Quando dizemos que uma obra de arte é bela, não queremos implicar nesse juízo
nenhum valor ético, ou epistêmico, ou útil. Em segundo lugar, o valor estético está sempre
satisfação, elevação, prazer, que no próprio ato de experimentação revela seu valor
intrínseco. Platão, sem dúvida, nega os dois pressupostos principais da Estética moderna.
Daí, ser tomado por muitos por Filisteu34, obcecado pela Verdade e pela Ética. Alguns
comentadores, porém, buscam uma reconciliação forçada entre Platão e a arte. Movidos por
uma “relutância natural”, como diz Havelock, “em tomar de maneira literal o que ele diz”,
esses “admiradores de Platão”, ainda Havelock, “normalmente tão atentos aos mínimos
a olhar em volta à procura de uma porta de emergência e encontram uma que julgam ter
sido fornecida pelo autor.”35 Uma das portas de emergência mais célebres é a imagem do
poeta ou artista como uma espécie de criador-divino, um homem com poderes especiais de
imaginação que teria a capacidade de dar forma a ideias intuitivas e visionárias. Desde a
Renascença, o modelo do artista que tem acesso privilegiado a um plano de realidade que
ultrapassa os limites da experiência humana tem tido um lugar cativo nas discussões sobre
o valor da arte36.
a diversidade dificilmente pode ser defendida; uma ética desenvolvida a partir de um ponto
inerente à vida humana37; o conhecimento concebido como técnica não é o mais pertinente
para avaliar o papel cognitivo da arte; compreender o prazer envolvido nas experiências
emocionais sempre como desvio da razão acaba por extirpar da vida humana aspectos
essenciais.
Mas os aspectos positivos exigem, sim, resposta. Quando Sócrates solicita dos
admiradores da arte uma defesa, ele parece bastante sincero. Mas o que seria uma defesa
eficiente do ponto de vista de Platão? Defesas negativas, como as que afirmam que Platão vê
uma ameaça que não existe porque a arte não representa perigo algum, respondem a
questão anulando-a. Pois se a arte é inofensiva, pura distração, não teria nenhum valor
significativo. Não altera a vida, não tem importância alguma. Mas se aceitamos sua função
transformadora, temos um problema. E Platão tem razão, sim, em perguntar: além do prazer
imediato, qual o benefício que ela oferece para a vida humana? Não temos respostas tão
boas para esta questão. Se afirmarmos a utilidade da arte como o benefício além do prazer,
aceitamos a função social e política que Platão atribui a ela, o que nos leva de volta aos
Diálogos.
Uma posição que faça mais justiça a Platão e sua visão da arte deve reconhecer que
ele não deixou de perceber a força do fenômeno estético, as emoções que ela desencadeia, o
prazer intenso que ela fornece. Platão entendeu perfeitamente que esse prazer disputa com a
razão a função de medida para a vida, que a alma humana é atraída por objetos belos:
palavras, formas, sons etc. O enigma histórico, na expressão de Havelock, foi o fato de, a
despeito de reconhecer o poder da arte, ele tenha decidido resistir a ela. Vimos as razões que
Platão apresenta ao longo dos Diálogos para reconhecer na arte um perigo. Mas, além dos
riscos mencionados, a corrupção do caráter e a destruição do intelecto – a ameaça maior,
pressentida por Platão desde o Górgias, deve ser reconhecida no risco que corre a própria
Bibliografia
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Criticism. Cambridge: CUP, 1989.
Nehamas, A. “Plato on Imitation and Poetry in Republic 10”. In: Moravcsik and
Temko (eds.), Plato on Beauty, Wisdom, and the Arts. Devon: Ed. Rowman &
Littlefield, 1982.
1 Danto, A. (1986), p. 13, p. 16. Ver também Murdoch (1971) e Janaway (1995).
2
República:à a :à ossaàCidadeà deàpala as .àTodasàasàt aduçõesàs oà aseadasà aàediç oàdeàJoh à
M.Cooper: Plato: Complete Works (1997), com modificações.
3
Poesia, nesse sentido amplo, traduz o termo grego mousiké, artes das Musas. A poesia grega antiga é
fundamentalmente oral, composta e executada em função de determinadas situações da vida
sociopolítica, como festivais, banquetes etc. Pressupõe sempre um auditório; implica a performance de
um cantor que se faz acompanhar de um instrumento musical, seja a lira, a flauta ou a cítara. Responde,
enfim, às exigências de uma prática social específica. Dificilmente, portanto, poder-se-ia compreendê-la
a partir de critérios da nossa tradição literata ocidental, de onde vieram a se desenvolver uma série de
gêneros narrativos de apelo meditativo, confessional, reflexivo etc. Para isso ver Gentilli (1988).
4
Havelock (1998), cap. 4: A enciclopédia homérica: em que a narrativa oral é vistaà o oàu aàesp ieà
deà ute sílio ,àusadaà o oà aliseàlite ia,à oleç oàdeà ostu es,à o e çõesàeàp o edi e tosàt i os à
(p.81).
5
Contra a ideia pronta de que os gregos não tinham noção de arte, afirma Halliwell (1991), p. 323: A
alegação constanteme teà epetidaà deà ueà osà G egosà oà ti ha à u à o eitoà deà a teà oà ossoà
se tido à ài justifi ada e teàd sti a... . Ver também Janaway (1995), p. 51.
6
Poiesis (poesia) designa qualquer tipo de fabricação, e Poietés (poeta), qualquer tipo de produtor. Os
românticos quiseram ver nesses termos gregos a presença da criação e do criador estético. Os textos,
entretanto, não confirmam as aspirações deles. No Banquete 205b- ,à le os:à poiesis é uma coisa
múltipla. Tudo que faz algo passar do não-ser ao ser é poiesis”...”e os que fabricam algo são, todos,
poietai”.
7
Platão nunca menciona os dois conceitos num mesmo contexto dramático. Em A República não há uma
só referência ao Entusiasmo, assim como a Mimesis está completamente ausente do Íon. Será preciso
entender em que sentido a Mímesis produz efeitos mais drásticos que o Entusiasmo na estratégia de
neutralização da poesia. Na verdade, Téchne e Entusiasmo aparecem associados uma única vez nas Leis
(719 c1-d3). Nada de novo, no entanto, é acrescentado. Ver Halliwell (1988), p.4.
8
Alguns intérpretes querem ver no Fedro uma reabilitação da poesia via inspiração. Ver para isso
Nussbaum (1986). Uma visão mais cautelosa não iria tão longe. Em 284d, o poeta é classificado em 6º.
lugar na hierarquia, depois de mestre de ginástica e do médico. Para uma crítica dessa visão, ver
Nehamas (1982), p. 60.
9
Hermeneus, intérprete, de onde deriva hermenêutica, interpretação.
10
Guthrie (1975)p. 201 afirma que não há nenhuma evidência de que os rapsodos faziam, além da
exibição, comentários ou críticas. Trata-se, pelo visto,de mais um artifício do drama platônico.
11
O fato de não haver em Platão – ou na Grécia antiga - uma palavra que traduza o que nós entendemos
por arte não significa que os Gregos não tivessem uma experiência artística. Realmente Platão não
conhecia a Arte com A maiúsculo, mas sabia muito bem do que estava falando. Nós, pelo contrário,
temos o conceito, mas já não sabemos, com certeza, quais objetos ele reúne. Danto (1986), 1-21,
resume mais ou menos assim a situação contemporânea: não sabemos exatamente o que é arte, muito
menos o valor que devemos atribuir a ela.
12
Levando em conta esses aspectos, passo a traduzir, daqui em diante, téchne por técnica.
13
Curiosamente, Collinwood (1938) acusa Platão de fazer da arte uma técnica,àouàseja,àu à pode à deà
p oduzi àu à esultadoàp e o e idoàpo à eioàdeàu aàaç oàdi etaàeà o s ie te e teà o t oladaà theà
po e à toà p odu eà aà p e o ei edà esultà à ea sà ofà o s iousl à o t olledà a dà di e tà a tio . à
Entretanto, segundo ele, duas características da técnica não podem ser atribuídas à arte: (i) a téchne
produz coisas que resultam de processos; (ii) e tal resultado está previsto no próprio planejamento.
Co oàafi aàJa a a à ,p. ,à aà is oàdeàPlat oàest à aisàp ó i aàdaà deàCollinwood do que ele
pe sa .
14
A inspiração como invenção platônica: ver Tigerstedt (1970) e Murray (1981).
15
Para a apódeixis e a prosa ver Nagy (1989), p. 8-9.
16
Deàfato,à oàe isteà e hu aà efe iaàdi etaà àMímesis poética ou artística (em qualquer sentido)
nos primeiros diálogos. Mas, das obras do período médio adiante, encontramos uma crescente
apli aç oàdaàli guage àdaà í esis. àHalliwell (1988), p.5.
18
Pa aàoà a te à t a si io al àdoàGórgias ver Gosling e Taylor, p. :à Go giasàisà t a sitio al .à
18
A frequente manifestação de hostilidade de Platão em relação ao fato de a poesia satisfazer os
desejos das massas pode ser observada nos seguintes exemplos: Apol. 18 c-d, Górgias 501d-2d, A
República 6.493. Sobre a teatrocracia e o teatro como prática de adulação das massas, ver Banquete
175e. Ver comentário de Halliwell (1988) para A Repúplica 602b3.
19
Janaway 28: a transparência da matéria da poesia e a sua não-transmissão de conhecimento
permanecem fundamentais para a crítica platônica da arte: está no centro do livro 10.
20
Dodds (1990), ad loc:à a antítese platônica... aparece aqui talvez pela primeira vez à -d7).
21
Para ressaltar o papel dessa proto-Mímesis no processo genético das práticas de prazer, é importante
justificar a nossa tradução de dois verbos dessa passagem hypodýo e prospoiéo. A leitura da passagem
sugere a acentuação do caráter teatral desses dois verbos, daí, a escolha por travestir-se em hypodýo e
por atuar em prospoiéo.
22
Na Repúplica os poetas produzem apenas imagens, nunca aà e dade.à E à e,à todosà osà poetas,à
começando por Homero, enquanto imitadores produzem apenas imagens (eidola àdeà i tudes ,à u aà
apreendendo a verdade. No Banquete a,à Oà a a teà daà Fo aà oà aià ge a à imagens (eidola) da
virtude, já que ele não apree deà e asài age s,à asàaà e dadei aà i tude;àap ee deàaà e dade .
23
Vernant (2001), p. :à áàteo iaàdaà í esis, elaborada de forma totalmente sistemática por Platão,
marca o momento em que, na cultura grega, a versão de uma presentificação do invisível à imitação da
apa iaà foià ealizada .à N oà foià se à p o o a à i uietaç oà eà íti aà ueà aà i age ,à dei a doà deà
encarnar o invisível, o além, o divino, pôde constituir-seà o oài itaç oàdaàapa ia. à
24
No livro 10, há uma radicalização: toda poesia, dramática ou não, promove a simpatia em relação aos
personagens descritos, e essas emoções promovem um efeito permanente na vida mental da audiência
do poeta (606b5-8). O aprofundamento desse aspecto psicológico explica o retorno de Platão a esse
tema no final de A República.
25
Imitar (mimeisthai àalgu à à to a -se semelhante a alguém na voz ou no aspecto (393c). O maior
equívoco em relação à Mímesis é tomá-la como reprodução mecânica, mero reflexo, cópia fotográfica.
Sobre isso ver Halliwell (1986), cap.4.
26
áà i itati idade à desejoàeàha ilidadeàdeài ita à ual ue à oisa à àu àte oàusadoàpo àJa a a ,àBelfio ià
(1984), que utilizaàaàe p ess oà i itaç oà e s til à e satileài itatio ; Ferrari adota a mesma expressão.
Ver em 395a2 definição implícita no termo mimetikos.
27
Para a função cognitiva de emoções e desejos, ver Burnyeats (1999).
28
Austeridade, que significa subordinação da poesia à busca racional pela verdade. Segundo Janaway
,à p. :à Plato´sà o à po t a alà ofà philosophi alà dialogueà a dà hisà thi al Word-painting
e e plif àtheà ightàki dàofàsu o di atio …
29
Vários comentadores recusam a visão da arte apresentada no livro 10. Parte dessa reação deve-se à
aparente contradição entre as teses sobre o banimento apresentadas nos livros 2 e 3 e as novas teses
doàli oà .àVe àá asà ,àpo àe e plo:à Noàli oà àeà àaàpoesiaàe aàape asàu aàdasàa tes,àe o aàaà
mais importante. Aqui [no 10], Platão a destaca para o ataque que de um modo impossível de conciliar
o àoàli oà . àCo t aàá as,à ejasàasàa lises de Nehamas (1982), Halliwell (1986), Jannaway (1995).
30
Doisàg ausàdeà dist ia à àu aà et fo aà eti adaàdaà li guage àdaàsu ess oà asàli hage sà o es.à
Em grego, conta-se três. Há que se notar que não há continuidade entre os três elementos da série.
Apenas entre os dois primeiros.
31
Agora, a performance poética do livro 3 é uma instância da Mímesis do livro 10: quem se faz de outro
imita uma aparência.
32
Ver Muniz (2002).
33
A poesia é um modo de treinamento de estetização da vida. Ferrari (1989), p.138.
34
Ver sobre isso Janaway (1995).
35
Havelock (1996), p. 21.
36
Halliwell (1986), p. 16.
37
Ponto de vista defendido por Martha Nussbaum (1986).
38
Halli ellà ,àp.à :à Se Platão não tinha uma teoria estética, isso não quer dizer que ele falhou em
buscar uma, mas por que tinha razões para realmente negar tal necessidade .