Admin, A Técnica Do Incidente Crítico
Admin, A Técnica Do Incidente Crítico
Admin, A Técnica Do Incidente Crítico
JOHN C. FLANAGAN··
l. Introdução
Nos últimos 10 anos o autor e vários colaboradores têm-se empenhado
em desenvolver e utilizar um método que foi denominado "técnica do
incidente crítico". É propósito deste artigo descrever o desenvolvimento
desta metodologia, seus princípios fundamentais e sua condição atual.
Além disso, serão revistas, de maneira breve, as descobertas de conside-
rável número de estudos que utilizam a técnica do incidente crítico, e
alguns possíveis usos posteriores serão indicados.
Esta técnica consiste em um conjunto de procedimentos para a coleta
de observações diretas do comportamento humano, de modo a facilitar
sua utilização potencial na solução de problemas práticos e no desen-
volvimento de amplos principios psicológicos, delineando também proce-
dimentos para a coleta de incidentes observados que apresentem signifi-
cação especial e para o encontro de critérios sistematicamente definidos.
* Traduzido do Psychological Bulletin. v. 51, n. 4. ]uly 1954.
... Do American Institute for Research e da Universidade de Pittsburgh.
Arq. bras. Psic. apl., Rio de ] aneiro, 25 (2) :99-141, abr./jun. 1973
Por incidente entende-se qualquer atividade humana observável que
seja suficientemente completa em si mesma para permitir inferências e
previsões a respeito da pessoa que executa o ato. Para ser crítico um inci-
dente deve ocorrer em uma situação onde o propósito ou intenção do
ato pareça razoavelmente claro ao observador e onde suas conseqüências
sejam suficientemente definidas para deixar poucas dúvidas no que se
refere aos seus efeitos.
Certamente a técnica do incidente crítico tem muito pouco de novo
em seus amplos esboços e abordagens básicas. Pessoas têm observado ou-
tras pessoas durante séculos. O trabalho de muitos dos grandes escritores
do passado indica que eles eram agudos observadores de seus semelhan-
tes. Alguns destes escritores devem ter confiado em anotações detalhadas
de suas observações. Outros devem ter tido habilidades incomuns para
reconstruir imagens da memória em detalhes nítidos. Alguns devem, mes-
mo, ter feito uma série de observações relativamente sistemáticas a res-
peito de muitos exemplos de um tipo particular de comportamento. Talvez
o mais visivelmente necessário para suplementar estas atividades seja um
conjunto de procedimentos que analise e sintetize tais observações em
um número de relações que possam ser testadas por observações adicio-
nais, sob condições mais cuidadosamente controladas.
108 A.B.P.A.2/73
Nos últimos anos, muitos outros indivíduos ou grupos têm feito uso
das técnicas descritas, ou de suas modificações em ampla variedade de
estudos. Alguns destes estudos a respeito dos quais relatórios estão sendo
publicados, vão ser revisados brevemente na seção a respeito das aplica-
ções.
no A.B.P.A. 2/73
se o objetivo geral do chefe de turma fosse relacionar-se bem com os em-
pregados sob sua direção. Por outro lado, esta mesma ação poderia ser
avaliada como ineficaz, se o seu objetivo geral principal fosse a produção
imediata de materiais ou serviços.
No caso das atividades vocacionais comuns deve-se esperar que os
supervisores forneçam esta orientação. Em outros tipos de atividades,
tais como cívicas, sociais e recreativas, freqüentemente não existe su-
pervisor. Os objetivos da participação na atividade devem, então, ser
determinados a partir dos próprios participantes. Em alguns exemplos,
estes não podem ser verbalizados em grau suficiente para tornar possível
a sua obtenção direta.
Infelizmente, na maioria das situações não existe um objetivo geral
que seja o correto. Da mesma maneira, raramente existe uma pessoa ou
grupo de pessoas que constituem uma fonte de autoridade absoluta no
objetivo geral da atividade. Em uma organização manufatureira típica,
o chefe de turma, o gerente da fábrica, o presidente e os acionistas pode-
riam definir o objetivo geral dos trabalhadores em uma seção particular
de modo diferente. Não é possível dizer que um destes grupos conheça
o objetivo geral correto e que os outros estejam errados. Isto não signi-
fica que um objetivo geral seja tão bom quanto o outro, e que o propó-
sito da atividade não seja importante como nós definimos. Significa,
realmente, que não podemos esperar obter uma finalidade geral completa-
mente objetiva e aceitável para uma atividade específica. O critério prin-
cipal na formulação dos procedimentos para se estabelecer o objetivo geral
da atividade seria o uso proposto da descrição funcional da atividade.
A menos que o objetivo geral usado seja aceitável para os usuários em
potencial, nas afirmativas detalhadas das exigências, todo o esforço na
formulação destas afirmativas vai ser perdido.
As afirmativas mais úteis de propósitos parecem centralizar-se em
torno de alguma frase simples ou lema. Tais palavras fornecem o má-
ximo de comunicação com um mínimo possível de más interpretações.
Palavras tais como "apreciação", "eficiência", "desenvolvimento", "produ-
ção" e "serviço" parecem ser proeminentes nas afirmações de objetivos
gerais. Por exemplo, o objetivo geral de um professor na escola primária,
nas aulas de arte, seria o desenvolvimento de uma apreciação das várias
formas de artes visuais por parte dos estudantes. O objetivo geral do bom
cidadão poderia ser tomado como a participação efetiva no desenvolvimen-
to e aplicação das normas e procedimentos, pelos quais os indivíduos e
grupos são orientados para a obtenção de suas várias metas.
Com a ajuda de um formulário do tipo apresentado na figura 1 as
idéias de numerosas autoridades bem qualificadas podem ser coletadas.
Espera-se que em resposta à questão sobre o principal propósito da ativi-
dade, muitas pessoas dêem uma declaração razoavelmente longa e deta·
lhada. Espera·se também que o pedido para sumariar as leve a conden-
sar esta declaração de forma mais breve e comum. Tais declarações deve-
riam ser associadas a fim de obter-se a declaração-teste do objetivo geral,
que deve ser submetida às autoridades para se conseguir uma declaração
5 .5 Interpretação e relatório
126 A.B.P.A.2/73
ser continuado; publicações ocasionais, tais como esta afirmação, não re-
presentam nenhum ponto de conclusão no processo em andamento de
definição dos padrões éticos - elas são um meio de compartilhar de uma
disciplina mais essencial de exame da experiência profissional, formulando
hipóteses a respeito da conduta profissional e testando estas hipóteses com
referência ao bem-estar das pessoas afetadas por elas.
Além do estudo feito por Smit, mencionado na seção anterior (58),
vários outros estudos a respeito do uso dos procedimentos da técnica do
incidente crítico como base para a avaliação da eficácia do ensino foram
relatados. Um destes estudos foi conduzido sob o patrocínio conjunto da
Corporação da Pesquisa Educacional e da Escola Graduada de Educação
da Universidade de Harvard, com fundos fornecidos pelo Conselho de
Desenvolvimento da Escola de Nova Inglaterra e pelo Fundo George
F. Milton. Foi um trabalho exploratório da competência do professor,
relatado por Domas (6). Aproximadamente mil incidentes críticos foram
coletados de professores, diretores e outros supervisores. Embora fosse um
estudo exploratório, sentiu-se que daria importante contribuição para o
problema de relacionar-se o salário à competência do professor.
O segundo destes estudos foi realizado como parte da avaliação das
características do professor, e patrocinado pelo Conselho Americano de
Educação e subsidiado pela Fundação Grant. E' relatado por ]ensen (32).
Professores, administradores e professores em treinamento na área de Los
Angeles, contribuíram com mais de I 500 incidentes críticos do compor-
tamento do professor. Os incidentes foram classificados em qualidades pes-
soais, profissionais e sociais. A formulação de categoria indicou cerca
de 20 exigências críticas distintas. Estas foram recomendadas como base
para avaliação do professor e como ajuda para o desenvolvimento de pro-
fessores em serviço.
Outro estudo foi o de Smith e Staudohar (59), que determinou as exi-
gências críticas para o treinamento básico de instrutores táticos na Força
Aérea dos Estados Unidos. De 130 supervisores de treinamento, 555 ins-
trutores táticos e de 3802 alunos foram obtidos um total de 6615 inci-
dentes utilizáveis. Os autores comentam que:
Outro estudo foi o de Smith e Staudohar (59), que determinou as
exigências críticas para o treinamento básico de instrutores táticos na
Força Aérea dos Estados Unidos. De 130 supervisores de treinamento, 555
instrutores táticos e de 3082 alunos foram obtidos um total de 6615
incidentes utilizáveis. Os autores comentam que:
"Os supervisores de treinamento relatam uma predominância de inci-
dentes ineficazes nas áreas principais de: 'Estabelece um bom exemplo e
mantém as relações de pessoal efetivo'. 'Os instrutores táticos relatam
incidentes mais ineficazes na área de: 'Torna as suas expectativas claras'.
'Os alunos treinados mostram uma predominância de incidentes inefi-
cientes em três áreas': 'Estabelece um bom exemplo'. 'Considera as neces-
sidades dos alunos', e 'Mantém as relações pessoais efetivas'" (59, p. 5).
6.3 Treinamento
Muitas das aplicações da técnica do incidente crítico para problemas de
treinamento têm sido executadas para militares em situações especiais, de
maneira que os relatórios são classificados como informações de segurança.
Além do trabalho de Preston, Glaser e R. L. Weislogel, R. B. Miller e
Folley, utilizaram-se técnicas dos incidentes críticos no estabelecimento de
exigências de treinamento para tipos específicos de mecânico de manu-
tenção (47) em um estudo para o Centro de Pesquisa dos Recursos Hu-
manos.
De forma semelhante, Ronan usou os incidentes críticos como base
para o desenvolvimento de programa de treinamento para procedimentos
de emergência em aviões de vários motores (54), em estudo para o La-
boratório de Pesquisa de Operações dos Fatores Humanos da Força Aérea
dos Estados Unidos. Com base em milhares de incidentes relatados pelas
tripulações e relacionados com emergências, três dispositivos de avaliações
foram preparados. Estes envolviam um tipo convencional de teste de múl-
tipla escolha: um teste especial de múltipla escolha planejado para me-
dir a informação do indivíduo nas situações de emergência, as iniciativas
apropriadas a serem tomadas, as dificuldades ou causas básicas de emer-
gência e um "exame de vôo" a ser usado na avaliação de desempenho dos
membros da tripulação nos simuladores eletrônicos de vôo.
A relevância óbvia dos comportamentos envolvidos nos incidentes crí-
ticos e os detalhes específicos incluídos tornam tais incidentes uma base
ideal para o desenvolvimento de programas de treinamento e de mate-
riais de treinamento.
Um estudo recente de Collins (5) usa os incidentes críticos como base
para a avaliação da eficácia de um programa de treinamento. Os tipos
de incidentes relatados pelas mães, depois de duas semanas de um curso
de treinamento, foram significativamente diferentes daqueles relatados no
início do programa, em numerosos aspectos relevantes para os objetivos
Pouca atenção tem sido dada ao projeto científico de trabalhos para pro-
mover uma eficiência completa. Onde um grupo tem diferentes tipos de
tarefas a desempenhar, é freqüentemente possível projetar os trabalhos
de cada um dos membros de maneira que somente algumas das várias
tarefas sejam envolvidas. Se os trabalhos forem estudados pelo uso da
técnica do incidente crítico, é possível selecionar e treinar cada membro
do grupo para somente dois ou três dos elementos críticos do trabalho.
Isto tende a tornar máxima a eficácia de desempenho, com respeito a cada
um dos vários tipos de tarefas. Embora tais procedimentos tenham quase
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sempre uso informal no planejamento dos grupos de trabalho, a técnica
do incidente crítico facilita a coleta de dados essenciais para este tipo de
purificação de trabalho.
Algum trabalho preliminar sobre este problema foi executado no Ins-
tituto Americano para Pesquisa. Espera-se que recomendações resultantes
destes estudos para a redução de número de elementos de trabalho reque-
ridos em certos serviços comuns de manutenção conduzam à economia
de milhões de dólares em custos de treinamento bem como à melhora
do desempenho de serviço.
G. 8 Motivação e liderança
7. Resumo e conclusões
140 A.B.P.A.2/73
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versidade de Pittsburgh BulI., 1950, v. 46, p. 331-9. (abstract).
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the requirements of aircrew jobs in terms of testable traits. USAF. Sch.
Aviat. Med., Proj. n. 21-29-010, n. I, 1951.
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sonnel. Pittsburgh, American Institute for Research, 1950.
70. Weislogel, Mary H. Procedures for evaluating research personnel with
a performance record of critical incidents. Pittsburgh, American Institute
for Research, 1950.
71. Weislogel, Mary H. The development of tests for evaluating research
proficiency in physics and chemistry. Pittsburgh, American institute for
Research, 1951.
72. Weislogel, R. L. CriticaI requirements for life insurance agency
heads. Universidade de Pittsburgh Bull., 1952, v. 48, p. 300-5. (abstract).
73. Weislogel, R. L., & Schwarz, P. A. Some practical and theoretical
problems in situational testing. Pittsburgh, American Institute for Re-
search, 1953. (Manuscrito inédito.)
74. Wickert, R. Psychological research on problems of redistribution.
Washington, US Government Printing Office, 1947. (AAF Aviat. Psy-
choI. Program Res. Rep. n. 14.).
BONUS DA UNESCO