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Artículo de investigación
URBAN AGRICULTURE IN BRAZIL: A BIBLIOMETRIC STUDY FOR
THE PERIOD 2008 TO 2017
ESTUDOS SOBRE AGRICULTURA URBANA NO BRASIL NO PERÍODO DE 2008 A 2017
ESTUDIOS SOBRE AGRICULTURA URBANA EN BRASIL EN EL PERÍODO DE 2008 A 2017
Written by:
Paula Fernanda Nóvoa Souza Lara41
Maria Mirtes Cortinhas dos Santos42
Izaura Cristina Nunes Pereira Costa43
Thiago Almeida Vieira44
Abstract Resumo
Currently, agriculture is the focus of several A agricultura atualmente é foco de vários estudos
studies on the use of urban and periurban spaces sobre o uso dos espaços urbanos e periurbanos no
in Brazil, as well as the perception of the subjects Brasil, bem como de percepção dos sujeitos que
that participate in this activity in these spaces. participam desta atividade nesses espaços.
Thus, this paper aimed to analyze urban Assim, o trabalho objetivou analisar a agricultura
agriculture in Brazil, from 2008 to 2017, based on urbana no Brasil, no período de 2008 a 2017, a
the scientific production generated on the theme. partir da produção científica gerada sobre o tema.
We searched the databases provided by the Portal Realizou-se busca nas bases de dados
Periódicos CAPES. It was observed that in the disponibilizadas pelo Portal de Periódicos
last decade of the 21st century, there are still few CAPES. Observou-se que na última década do
articles about urban agriculture, although the século XXI, ainda são escassos os artigos sobre
theme has potential and social, environmental and tema agricultura urbana, embora o tema tenha
economic relevance. State support for potencial e relevância social, ambiental e
agricultural production in urban areas may favor econômica. O apoio do Estado à produção
the adoption of urban agriculture practices and agrícola em espaços urbanos pode favorecer a
the promotion of studies on urban agriculture. adoção de práticas da agricultura urbana e da
promoção de estudos sobre ela.
Keywords: Agricultural production; urban
spaces; bibliometry. Palavras-Chave: produção agrícola; espaços
urbanos; bibliometria.
Resumen
La agricultura actualmente es foco de varios estudios sobre el uso de los espacios urbanos y periurbanos en
Brasil, así como de percepción de los sujetos que participan de esta actividad en esos espacios. Así, el
trabajo objetivó analizar la agricultura urbana en Brasil, en el período de 2008 a 2017, a partir de la
producción científica generada sobre el tema. Se realizó búsqueda en las bases de datos disponibilizadas
por el Portal de Periódicos CAPES. Se observó que en la última década del siglo XXI, todavía son escasos
los artículos sobre tema agricultura urbana, aunque el tema tiene potencial y relevancia social, ambiental y
económica. El apoyo del Estado a la producción agrícola en espacios urbanos puede favorecer la adopción
de prácticas de la agricultura urbana y la promoción de estudios sobre ella.
41 Licenciada em Geografia pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). E-mail: [email protected]
42 Doutora em Educação. Professora do Programa de Mestrado em Sociedade, Ambiente e Qualidade de Vida (PPGSAQ/Ufopa).
E-mail: [email protected]
43 Doutora em Desenvolvimento Socioambiental. Professora do Programa de Mestrado Profissional em Propriedade Intelectual e
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1. INTRODUCTION
em pequena escala; estratégia para melhorar a
A agricultura é uma das práticas mais antigas de segurança alimentar; redução dos desertos
que se tem notícia, dada a necessidade humana alimentares (Amato-Lourenço, 2018).
de ter acesso a recursos naturais para alimentação
de uma forma mais fácil e prática o que De acordo com Wandscheer e Medeiros (2012),
desencadeou o processo e o seu desenvolvimento a agricultura urbana abarca a produção nos
ao longo da evolução das civilizações. Essa limites do espaço urbano, de caráter e dinâmica
atividade sempre esteve associada a locais rurais, multidimensional, podendo envolver produção e
enquanto as cidades se constituem como grandes transformação. Distingue-se das atividades
polos consumidores da produção agrícola, urbanas comuns, mas envolve diversidades de
entretanto a presença de agricultura em áreas uma série de outras atuações citadinas, vincula
urbanas e periféricas aumenta cada dia mais potenciais de comercialização e articulação entre
(Siviero et al., 2011). locais e localidades próximas. Porém, conserva
com ela (transformando, adaptando e (re) criando
A crescente demanda dos centros urbanos por o processo produtivo) a centralidade no alimento,
recursos naturais promove uma grande pressão este mais comum ao campo, porém não ausente
no setor rural, sendo que o desenvolvimento no urbano, ainda que com maiores dificuldades
urbano sustentável, a gestão de recursos naturais no tocante a área.
e ambientais e preservação de ecossistemas
ecológicos e a produção agrícola, tornam-se Rostichelli (2013) acena que cultivos em
assuntos inter-relacionados (Dubbeling et al., pequenos recipientes ou em terraços mesmo que
2017). dentro do espaço urbano, não pode ser visto
como agricultura urbana. Para esta autora, a
O processo acelerado e descontrolado de prática da agricultura urbana envolve uma
urbanização pode ser visto como produto do mau diversidade de sujeitos e um conjunto de técnicas
planejamento urbano de uso da terra (Hernández para cultivar alimentos, que podem ser
et al., 2018). A agricultura urbana pode ser uma produzidos para venda e para o autoconsumo,
atividade produtiva de baixo impacto ecológico, mas todos consomem o que produzem.
podendo promover inclusão social. Logo,
entende-se que a agricultura no espaço urbano Revela-se que os quintais urbanos se constituem
deve ser incentivada à sociedade, no sentido de como áreas propícias à agricultura urbana. Estes
promover às famílias de baixo fator aquisitivo espaços são ditos locais ecológicos dentro das
uma renda familiar, na melhoria do bem-estar da cidades, que propiciam a diversidade de espécies
prole. cultivadas, sendo um tipo de sistema de
agroflorestal, que possui um importante papel na
Enfatiza-se que a agricultura em centros urbanos implementação de sistemas sustentáveis (Amaral
vem propiciando múltiplos benefícios & Guarim Neto, 2008). E, que em vários países
ambientais, urbanísticos, sociais e de saúde reportam altos níveis de diversidade genética de
pública à população incluindo: criação de plantas e notadamente, de variedades de culturas
refúgios para microfauna e avifauna; preservação tradicionais e crioulas que estão sendo
da biodiversidade vegetal por meio do cultivo de conservadas nestes ambientes (Galluzzi et al.,
plantas alimentares não convencionais (PANC); 2010).
arrefecimento de zonas de calor geradas por áreas
concretadas; acesso e incentivo à alimentação Considerando os benefícios que a agricultura
mais saudável; realização de atividades de urbana pode oferecer ao desenvolvimento social
educação ambiental; redução do estresse da vida em espaços urbanos, bem como sua contribuição
urbana; redução de resíduos orgânicos pela à conservação ambiental, este trabalho tem por
compostagem; redução do uso de combustíveis objetivo analisar agricultura urbana em nível
fósseis para o cultivo e transporte de alimentos; nacional, nos últimos 10 (dez) anos, a partir da
criação de comunidades mais unidas e com produção científica gerada sobre o tema, visando,
habilidades de tomada de decisão e interação assim, compreender as potencialidades e
social; melhora da saúde física e mental e a barreiras a serem superadas no tratamento dessa
conexão com a natureza; uso eficiente da água; prática.
oportunidade recreativa; oportunidade de
empreendedorismo para a produção de alimentos
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Revista de
Hortas Escolares: Possibilidades de Anunciar e
Educação em
Silva et al. Denunciar Invisibilidades nas Práticas Educativas 2015
Ciência e
sobre Alimentação e Saúde
Tecnologia
É bem notado que, dentre as revistas que para o desenvolvimento desses setores
publicaram artigos que determinam o objeto (Horticultura Brasileira, 2018).
investigado, a Horticultura Brasileira teve Com relação ao tempo, a evolução de publicação
destaque, com 02 (dois) artigos, embora seja bem dos artigos ao longo período estudado mostra-se
perceptível que outras revistas também que o ano de 2015 constituiu o de maior
divulgaram artigos, embora com o menor publicação, com 05 (cinco) artigos, e que o ano
número. Foram identificados 02 (dois) artigos de 2017, apenas 04 (quatro) registros de
publicados em língua inglesa e um em espanhol publicações, conforme demonstra a Figura 1.
(Quadro 1).
Figura 1. Número de publicações sobre
Sobre a Revista de Horticultura Brasileira é agricultura urbana no Brasil, a partir de 2008 a
considerada trimestral destinada à publicação de 2017. Fonte: Elaborado pelos autores a partir de
artigos técnico-científicos que envolvam dados do Portal da Capes.
hortaliças, plantas medicinais, condimentares e
ornamentais e que contribuam significativamente
6
5
5
Número de artigos 4
4
3
3
2
2
1 1
1
0 0 0 0
0
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Ano
Observa-se que o tema estudado, de certa forma, para as presentes e futuras gerações’’ (Brasil,
já apresenta certo interesse pela Ciência, embora 1988).
se faça necessário dar maior visibilidade, haver Desta forma, o cuidado com o meio ambiente é
maior estímulo aos pesquisadores sobre a responsabilidade de todos os brasileiros, e
temática estudada. Para isso é necessário ainda precisam-se cultivar espaços urbanos, sendo as
que as políticas públicas elaboradas sejam mais hortas urbanas uma das alternativas na geração
estimulantes àqueles que se dedicam à prática de de oportunidades de renda, sobretudo para
agricultura urbana, no sentido de geração e famílias de baixo poder aquisitivo. Este cultivo
ocupação do espaço urbano, e por práticas pode proporcionar uma alimentação variada,
sustentáveis. embora sejam necessárias para a construção e
acompanhamento de tais hortas, pessoas
Acredita-se ainda que se deva incentivar a especializadas e o devido apoio do governo
geração das vivências de educação ambiental, municipal.
como alternativa de aproveitar reaproveitamento
de espaços urbanos; além de que, um trabalho Ademais, as hortas urbanas, a partir das espécies
envolvendo a educação ambiental pode garantir cultivadas, permitem alcançar a harmonização da
a busca da responsabilidade de manter o espaço funcionalidade e equilíbrio do corpo humano,
organizado, tal como buscar a sensibilidade e a bem como proporcionar o prazer na hora da
consciência ambiental dos envolvidos. alimentação, mas é necessário que haja um
consenso de todos os envolvidos na hora da
Neste sentido, práticas de educação ambiental escolha das espécies a serem cultivadas,
aliadas à agricultura urbana devem ser um oportunizando o momento do respeito à
incentivo à participação coletiva, política e a coletividade a qual participam.
vivência do espírito solidário e cidadão de
diferentes sociedades, no sentido de promover Dada a esta condição, a educação ambiental é
uma ação conjunta, com responsabilidade, na parte indispensável para possíveis mudanças e
certeza de garantir uma alimentação com sensibilização ambiental, tanto em espaço
produtos saudáveis, contribuindo ao bem-estar escolar até sua ampliação em sociedade para
humano, como também o cuidado com o meio outros atores sociais, tais como ONGs
ambiente. (Organizações Não-Governamentais) e
cooperativas, por exemplo, pois exercita o
A respeito do meio ambiente, a atual conceito de meio ambiente, sustentabilidade e
Constituição da República Federativa do Brasil, diversidade biológica e cultural, oportunizando o
em seu artigo 225, trata das questões do meio melhor discernimento entre o homem, natureza e
ambiente destaca: “Todos têm direito ao meio sociedade em suas diversas dimensões, em
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de qualquer espaço, seja ele urbano ou rural.
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade Lemos et al. (2015) destacam que em tempos de
de vida, impondo-se ao Poder Público e à insegurança alimentar, é de extrema importância
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo que ações de planejamento urbano devam
integrar-se às estratégias de produção de
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Entretanto, na região amazônica as mudanças Alguns artigos também abordaram uma vertente
demográficas oriundas da expansão urbanas das da agricultura urbana que difere do usual
cidades vêm cada vez mais distanciando as pensamento daquela estritamente parar fins
atividades agrícolas dos centros urbanos, ou até alimentícios, tal como farmácias vivas e como
mesmo as extinguindo, de modo que a sociedade complemento para tratamento de saúde dentro de
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produção agrícola sendo este restrito as regiões como empreendedoras na agricultura urbana
rurais. (Gamhewage et al., 2015).
A criação de um programa de fomento para
agricultura urbana e periurbana, por meio do Este contexto mostra uma concordância com a
poder público, que fomente a atividade pode Agenda 2030, a qual trata de um plano de ação
propiciar o desenvolvimento dentro e no entorno com 17 objetivos de desenvolvimento
das cidades de forma mais ampla para todos sustentável com 169 metas. A meta 5.a, dentro do
citadinos. Isto segue o contexto dos 17 objetivos objetivo 5, busca igualdade de gênero e
para transformar o planeta Terra, iniciativa empoderamento das mulheres principalmente,
lançada pela Organização das Nações Unidas visando:
(Onu, 2015), em especial o objetivo 2, que
aborda a questão da erradicação da fome no Empreender reformas para dar às mulheres
mundo e da agricultura sustentável, em especial direitos iguais aos recursos econômicos, bem
os tópicos 2.4, que visam garantir meios como o acesso a propriedade e controle sobre
sustentáveis de produção de alimentos e de a terra e outras formas de propriedade,
práticas agrícolas, que sejam resilientes, e o serviços financeiros, herança e os recursos
tópico 2.3 que busca uma melhor geração de naturais, de acordo com as leis nacionais
renda para os pequenos agricultores, com (Onu, 2015).
disponibilidade de recursos e insumos que
fomentem a produção agrícola e a valorização A compreensão entre a aproximação de campo e
dos agentes que atuam nessa produção entre eles cidade é um fator muito interessante. Araújo et
as mulheres. al. (2008), em trabalho no município de
Uberlândia, mostram que a tecnologia é fator que
A questão de gênero na produção agrícola urbana aproxima o campo e a cidade, fonte de geração
é muito importa, pois observou-se que a maioria de renda e evita o êxodo das zonas rurais para a
dos agentes que promovem a agricultura urbana zona urbana, diminuindo as grandes
é do sexo feminino. Delgado (2017) mostra que desigualdades sociais urbanas, promovendo,
a mulher é protagonista no âmbito de hortas ainda, um bem-estar rural. Isso possibilita uma
urbanas em vários países, em especial no nova dinâmica sócio espacial, pois acaba
continente europeu, e que esse protagonismo ocasionando uma urbanização das áreas rurais
deveria ser canalizado para a dinâmica nos distritos das cidades.
econômica.
Nos marcos dessa discussão, mesmo que as
Nos artigos selecionados para análise, orientações intelectuais neste estudo sobre o
praticamente todos citam a predominância desenvolvimento da agricultura urbana não
feminina na função principal da manutenção dos declarem explicitamente o posicionamento
plantios, como Siviero et al. (2011) e Comasseto capitalista, porém quando se recorre ao
et al. (2013), cujos trabalhos demonstram a levantamento da literatura do tema, é visível a
predominância de mulheres acima de 30 anos na insensibilidade de parte da sociedade aos
prática da agricultura urbana. fenômenos de uma época de acontecimentos e
fatos inusitados que se manifestam em relação ao
Branco e Alcântara (2011) justificam que essa meio ambiente.
maior presença do gênero feminino como
agentes mantedoras e promotoras da agricultura O desenvolvimento econômico não representa
urbana decorre do fato da mulher ser a mais uma opção aberta, com possibilidades
responsável pela manutenção e zelo do lar e dos amplas para o mundo. A aceitação geral da ideia
filhos, e como essas hortas, e jardins urbanos são de desenvolvimento sustentável indica que se
na maioria das vezes em quintais ou em locais fixou voluntariamente um limite (superior) para
próximos, a atuação feminina acaba sendo mais o progresso material. Adotar a noção de
presente. Contudo, para Gamhewage et al. desenvolvimento sustentável, por sua vez,
(2015), mesmo a mulher sendo responsável por corresponde a seguir uma prescrição política. O
elevar o estado nutricional da família, muitas dever da ciência é explicar como, de que forma,
vezes ela não é vista como responsável por elevar ela pode ser alcançada, quais são os caminhos
a economia familiar. para a sustentabilidade (Cavalcanti, 2001, p.165).
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