EXDESERFILOSOFIA
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All content following this page was uploaded by Eric Machado Paulucci on 13 February 2023.
FICHA TÉCNICA
Editor-chefe
Lucas Almeida Dias
Projeto gráfico
Paulo Ricardo Cavalcante da Silva
Diagramação
Tatiane Santos Galheiro
Revisão
Gradus Editora
Inclui bibliografias.
ISBN --- --- --- --
CDD 331.0
SUMÁRIO
Então, 1, 2, 3 e já!
Ousamos iniciar falando sobre a capacidade de amar, tão cara à filosofia.
Talvez o leitor se pergunte o porquê da necessidade de amar num contexto... (Não
vamos contar!)
Do lado avesso aos primeiros (quem serão esses?!), para os peregrinos as
paragens são estações pelo caminho, são domicílios. Os peregrinos constroem re-
lações com as pessoas dos lugares, pois nas próximas peregrinações esse encontro
tornará a acontecer, realizando comprometimento com o futuro, diferentemente
dos turistas que não desejam que os acontecimentos do hoje se liguem ao amanhã.
Sim, ainda estou aqui. As experiências acontecem, mas noto com certa an-
gústia a dificuldade que possuo em enxergá-las. Será o véu da ignorância pre-
conizado por John Rawls essa sombra que paira sob os olhares estigmatizados
da sociedade pós-moderna? Culpados inexistem, no entanto, poder de escolha,
posso tirar o véu de meus olhos e acordar com minhas experiências adormecidas,
rememorar e ressignificar os momentos já vividos.
Paula e Denis,
São Carlos, setembro de 2022.
1
Mestre em Filosofia pelo Programa de Pós-Graduação Profissional em Filosofia (Pro-
f-Filo – UFSCar – SP). Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Educação Es-
colar (FCLAr – UNESP – SP). Professor da Rede Estadual de Ensino de São Paulo – SE-
DUC-SP.
2
Nos referimos à pesquisa de mestrado já defendida sobre a temática e realizada com
apoio da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Bra-
sil), bem como a continuidade desta pesquisa, em nível de doutorado, com o objeti-
vo geral de pesquisar a dimensão discursiva e reflexiva das vítimas e dos algozes do
bullying, tendo como subsídio as concepções dos filósofos da Teoria Crítica, sobretudo
Theodor Adorno.
Experiência e Filosofia
Bullying e preconceito
Aqueles que acabam absorvidos pelo gosto pelas coisas, pelos equipa-
mentos, pelas máquinas, está muito próximo dos algozes de Auschwitz, pois
deixam de lado a sua energia vital de amar pessoas. Não se trata, entretanto,
de uma escolha autônoma, mas resultado de uma semiformação que danifica
os sujeitos a ponto de que o amor não faça sentido para estes.
O gosto pelos equipamentos, o gosto por utilizar um smartphone para
registrar imagens do outro sendo exposto e violentado – como fora retrata-
do pelo professor na imagem 2 – nos ajuda a perceber não só a presença da
incapacidade de amar, mas a absorção do tempo de vida em um gosto por
coisas. As pessoas acabam coisificadas, por fim. Por isso, um estado de coisas
gerador de violência acaba fazendo tanto sentido, quando não seria razoável.
A pesquisa sobre esta problemática escancara uma demanda extrema-
mente desafiadora. Uma realidade que, num olhar apressado, parece intrans-
ponível.
O que podem os estudantes e os professores diante de tão grande de-
safio? Pela característica da problemática e pela característica dialética da
filosofia adorniana, que nos mobiliza, estamos todos num campo de aprendi-
zagem, reflexão e, sobretudo, de abertura para o outro, proporcionando, pela
experiência filosófica, o espaço necessário para que estudantes e professores
possam construir juntos um legado, pela Filosofia. A postura que desejamos,
sobretudo de nossos estudantes, é que possam se manifestar, sendo ouvidos e
falando aquilo que pensam e, sobretudo, expressando o desejo de resistência
à barbárie.
3
Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar (FCLAr – UNESP –
SP).
4
Zygmunt Bauman (1927-2017) professor e sociólogo, o grande escritor polonês cons-
truiu algumas das críticas mais pertinentes da sociedade contemporânea. Sua expres-
são “Modernidade Líquida” classifica a fluidez do mundo atual na qual os sujeitos não
possuem mais padrão de referência.
Para o autor, a estratégia de manter curto cada jogo quer dizer alertar-
-se na presença de compromissos que podem ser tomados como de longo
prazo, é recusar a fixação de uma maneira ou de outra, não se amarrando a
nenhum lugar, ou mesmo a ninguém. E continua,
5
Zygmunt Bauman (1927-2017) professor e sociólogo, o grande escritor polonês cons-
truiu algumas das críticas mais pertinentes da sociedade contemporânea. Sua expres-
são “Modernidade Líquida” classifica a fluidez do mundo atual na qual os sujeitos não
possuem mais padrão de referência.
6
Turista da palavra: narrativas possíveis das sobras de experiência na escola. Leonardo
Teixeira Gomes, 2019. (Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação
Escolar da Faculdade de Ciências e Letras - Unesp - Campus Araraquara).
A aluna encerra sua história afirmando que não havia entrado lá para
bagunçar e que apenas iria fazer um favor. A pergunta da funcionária da es-
cola delimita os espaços de ocupação permitidos. Como uma turista, a aluna
deve reconhecer os lugares que se pode entrar. Além disso, o silenciar da alu-
na para evitar uma má resposta demonstra desconforto e consciência de que
a regra imposta para disciplinar pode variar conforme a situação e a pessoa.
Outro aspecto que gerou debate em nossas conversas, em relação à
apropriação afetiva dos espaços escolares e o sentimento de pertencer, foi a
reorganização escolar das salas de aula ocorrida entre o segundo e terceiro
ano Ensino Médio. Nessa escola a reorganização reduziu nove salas de segun-
dos anos em quatro salas de terceiros. Alguns professores comentaram que
essa reorganização atrapalhou muito o desenvolvimento do trabalho, pois
Ela está faltando muito, tem sério risco dela reprovar, dela
repetir, tento sempre motivá-la a vir, porque também lá é
assim, minha sala é toda misturada, é diferente, fica meio
desmotivado para vir para a escola, você vai chegar na sala e
não vai ter os mesmos outros, que você tinha assim uma certa
amizade, mas o que que eu vou fazer?
Pedimos que ampliasse sua explicação, e ela nos diz: “é porque separa-
ram as salas sabe, no começo do ano né as salas do segundo ano”. Outra aluna
a auxilia: “Separaram os terceiros, é que tipo assim, cada um tem o seu grupo,
sabe, ninguém é junto, unido tudo”. Outro acrescenta “é que no primeiro e se-
gundo ano a gente era da mesma sala, aí eles cataram todo mundo do segundo
e colocaram um pouquinho em cada sala”. Insistimos se a causa das faltas e
a desmotivação da aluna em perigo de repetência era a mudança das turmas.
Ela responde com a cabeça afirmativamente. Lembramos da figura baumam-
niana do peregrino: a estalagem é um domicílio. De que vínculo com a sala
de aula estamos tratando? Indagamos o que eles acharam dessa mudança.
A aluna verbaliza que foi horrível. A outra que havia interferido antes para
auxiliar discorda: “eu até gostei né porque era um trem muito bagunceiro né”.
“Ah, mas eu preferia”. Retoma a fala a aluna descontente e continua sua argu-
mentação: “a nossa sala assim num era das melhores salas (...)” Eles começam
a rir e dizem que era a pior sala da escola. Perguntamos em que sentido a pior
da escola. Eles falam ao mesmo tempo: bagunceira, todos, de estudo! A prin-
cipal interlocutora retoma a fala: “É assim, que a gente falava muito, e fomos
ameaçados de separar várias vezes, aí no final do ano separou”. Um aluno
que até o momento ouvia e olhava envolve-se na conversa: “Mas tipo todos os
professores se queixavam que a nossa sala era a pior, tal e etc., mas quando
a nossa sala pegava para estudar a nossa era boa”. Outro aluno relembra que
eles falavam muito. “Mas as nossas notas eram boas, os professores sempre
Referências
BAUMAN, Z.. O mal-estar da pós-modernidade. Tradução Mauro Gama,
Cláudia Martinelli Gama; revisão técnica Luís Carlos Fridman. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Ed., 1998.
Introdução
Neste estudo refletirei sobre instantes que acompanham os sujeitos. Es-
ses instantes, muitas vezes, estão eternizados em imagens através de fotos
que em princípio retratam momentos felizes, momentos em que os sujeitos
mostram para os que compartilham a mesma rede social que são sujeitos da
felicidade.
Essa mesma foto é compartilhada através das mídias sociais por apli-
cativos e sites ligados automaticamente a um infinito número de sujeitos.
Sujeitos de muitos lugares, sujeitos de muitas histórias, sujeitos, talvez, da
experiência, sujeitos da felicidade ou sujeitos da ausência dela.
Sujeitos em sua maioria desconhecidos que passam a conhecer novos
sujeitos através da foto, ou mesmo de mensagens compartilhadas. Essa pu-
blicação na rede social recebe o nome de stories.
Os stories possuem um prazo de 24 horas para estarem visíveis nas re-
des sociais. Dentro desse espaço de tempo, você que compartilhou suas fotos
ou mensagem na rede social, agora passa a ser o sujeito dos stories. Todavia,
depois desse período, caso você não compartilhe uma nova informação, vol-
tará a ser o sujeito? E caberá a ele a escolha sobre qual sujeito passará a ser
nesse momento? Talvez o sujeito da escolha?
Talvez seus stories tenham produzidos uma nova amizade ou a reme-
moração da amizade adormecida, porém muitos sujeitos viram seus Stories,
7
Mestre em Filosofia pelo Programa de Pós-Graduação Profissional em Filosofia (Pro-
f-Filo – UFSCar – SP). Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Educação Es-
colar (FCLAr – UNESP – SP). Professora da Rede Estadual de Ensino de São Paulo –
SEDUC-SP.
O sujeito da experiência
O sujeito da experiência somos todos nós, desde que desejemos. O sujei-
to que aprende com os órgãos do sentido, que aprende com a experiência dos
outros, mas aprende desde sua autonomia, de seu momento, de sua intenção.
Parafraseando Larrosa, é o sujeito que se abre para o desconhecido com cal-
ma e sabedoria.
O sujeito do stories
Stories é uma palavra da língua inglesa traduzida como histórias. De
fato, muitas histórias. Quantas histórias existem dentro de cada sujeito? Sou
o produtor de minha história, estou conduzindo-a ou o final dela está pronto?
Ou sou apenas o sujeito que atua seguindo os padrões muitas vezes criados
por outras histórias e seguirei os paradigmas?
O sujeito da ambivalência
Obstaculizada, revejo meus stories, alguns já arquivados. Rememoro
momentos com o auxílio das imagens, busco resgatar a significância de cada
imagem. São muitas, confesso. A grande maioria não traduz minha experiên-
cia de sujeito da felicidade. Já não sei onde fui feliz de fato.
Referências
ADORNO, T.W. A indústria cultural. In: COHN, Gabriel (Org.). Comunicação e indús-
tria cultural. 4.ed. São Paulo: Nacional, 1979.
ADORNO, Theodor. Educação – Para Quê? Trad. Wolfgang Leo Maar. In:
______. Educação e emancipação. 3. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003. p. 139-
154.
Percepções foucaultianas
Um exercício filosófico na concepção foucaultiana conduz a uma inves-
tigação da atualidade. Ao contextualizarmos a escola, tal princípio nos instiga
a buscar por um diagnóstico dessa instituição. Por isso, o conceito de aconte-
cimento definido pelo autor sustenta nossas análises a respeito das experiên-
cias dos sujeitos inseridos no espaço escolar.
O pensamento de Michel Foucault9 nos estimula uma reflexão de nós
mesmos e daquilo que nos constitui. Para Foucault (1995) o sujeito é uma
construção histórica. Do mesmo modo, a escola para Masschelein e Simons
(2021) também se apresenta como uma invenção histórica. A partir dessas
criações, a instituição escolar tem a oportunidade de oferecer aos sujeitos
experiências10 diferenciadas de outros espaços, posto que o que a diferencia
de acordo com estes autores é, precisamente, a sua capacidade de renovar
o mundo, bem como reiterar o sentido de ela oferecer uma liberação na sua
faculdade de libertar os conteúdos de um uso comum.
8
Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar (FCLAr – UNESP –
SP). Professora da rede Municipal de Araraquara (Centro de Educação)
9
Os estudos do autor: Arqueologia, Genealogia e Ética ou estética da existência foram
denominados por Veiga-Neto (2010) de “domínios foucaultianos”. A expressão “domí-
nio” compreende as investigações foucaultianas sem divisões. Nesses três domínios
são investigados os processos de subjetivação dos sujeitos. O primeiro relaciona-se ao
campo de saberes – por meio de uma “escavação” além do que fora apresentado pela
ciência, ou seja, investigação que não se limita aos discursos, mas sim ao não discurso.
O segundo relaciona-se a uma descrição e interpretação da história imersa nas rela-
ções de poder. E o último diz respeito a uma análise em como o próprio sujeito vê a si
mesmo.
10
Compreende-se a experiência definida por Larrosa (2002) por algo profundo com a
capacidade de atravessar o próprio sujeito.
14
Larrosa (2002) esclarece a educação sob dois pares: o primeiro denominado ciên-
cia/técnica e o segundo teoria/prática. Este primeiro possui um caráter disciplinador
e busca uma ciência aplicada, e o segundo compreende a educação por meio de uma
reflexão crítica.
15
Citação presente em Ditos e Escritos (vol. I).
Considerações finais
Diante do exposto compreendemos a educação inserida em um comba-
te. Nesse confronto, de um lado temos o aspecto neoliberal, que visa ao de-
senvolvimento de um capital humano, no qual a constituição do sujeito res-
tringe-se ao homo oeconomicus, e este se vê impedido de exercer uma reflexão
de si e dos acontecimentos.
Por outro lado, ao pensarmos a educação imbuída de um exercício fi-
losófico, a plausibilidade de um diagnóstico da atualidade possibilita a sus-
pensão. A partir desse fato, o tempo não produtivo tende a propiciar uma
experiência, isto é, um saber da experiência. A educação compreendida em
sua capacidade de renovação cria condições de diagnosticar a sua realidade
no cumprimento de uma suspensão. Nesse sentido, a acontecimentalização
representada pela própria tomada de consciência das rupturas, nos auxilia na
Referências
CASTRO, E. Vocabulário de Foucault: um percurso pelos seus temas, con-
ceitos e autores. Tradução: Ingrid Müller Xavier. 1. ed. Belo Horizonte: Autên-
tica Editora, 2009.
A começar
Na pergunta – e no encontro – pelo, com, sobre e entre o outro, a alteri-
dade nos acena e, com esse gesto, (re)cobra, ecoa, inventa alargamentos dos
sentidos e das fronteiras da palavra procedida do prefixo latino alter. Pelo
traço e pelas entrelinhas do filósofo franco-argelino Jacques Derrida que nos
provoca a pensar que a coisa mesma sempre escapa, a saber, que na conside-
ração daquilo ou daquele que é outro e, portanto, adiante dos acercamentos
do meu, do seu, do nosso domínio, há o pressuposto de um pensamento de de-
cisão. A decisão na perspectiva derridiana, se trata de uma deliberada posição
em presença de uma condição, a priori, indecidível. Dito de outro modo, ao
reconhecer o outro de fato e estimá-lo entre as aberturas e fechamentos que
nos são apresentados, sem qualquer espera inócua pela totalidade, nos co-
locamos diante de uma singularidade, de uma imprevisibilidade que nos faz
encontrar com um não-saber e que, assim, nos exige uma responsabilidade.
Esse outro que, por definição, é aquele que evade (e invade); o comple-
tamente desconhecido, incógnito, estrangeiro e não nomeável. Apartado da já
conhecida prescrição da mesmidade, nos convoca ao deparamento dos abis-
mos do desejo de apreensão, apropriação, de saber e, portanto, de poder que
essa presença nos retira (ainda que imaginariamente) dada a sua inabarcável
outridade.
18
Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar (FCLAr – UNESP –
SP). Professora formadora na Educação Infantil, na Rede Municipal de Ensino de Ara-
raquara – SP.
(I)nomináveis
Estimulados pelas escrituras de Jacques Derrida ao pensarmos ainda
quem (nos) chega, somos de antemão atravessados por uma herança, por
um arquivo. Em consonância com o filósofo franco-argelino, é crível pensar
o arquivo em uma perspectiva psicanalítica, assim como o desejo de arqui-
var como um desejo mesmo. Sendo o arquivo essa categoria que não existe
apartada de sua repetição, engendrando, desta forma, a lógica conflitiva, o
arquivo fomenta bordas à sua conservação, no entanto, também anseia pela
decomposição e, com ela, a possibilidade de um porvir. Essa repetição, - um
Referências
BORRADORI, G. e DERRIDA, J. Autoimunidade: Suicídios Reais e Simbólicos
– Um diálogo com Jacques Derrida. In: Filosofia em tempo de terror: diá-
logos com Jünger Habermas e Jacques Derrida. Rio de Janeiro Jorge Zahar
Ed., 2004
Introdução
A formação continuada dos professores em exercício é crucial para a
excelência profissional. Mas, para tanto, a formação continuada desses su-
jeitos deve estar atrelada às questões sociais e levar em consideração os alu-
nos que fazem parte desse cenário educacional, na medida em que a escola é
um espaço de resistência frente aos processos massificatórios, que vendem
ideais e destroem o processo de individuação por uma ilusão que as pessoas
que manipulam as massas precisam que acreditemos: o de se vender blocos
do nosso tempo para se comprar aquilo que vendem e, assim, sermos felizes
sem questionar.
Nesse sentido, é imperioso que as pessoas que trabalham na escola pen-
sem nela, em seus alunos e em seus múltiplos universos, além da sociedade
que se encontra. Isto é, uma escola cujos sujeitos que ali atuam vislumbrem
as expectativas e demandas dos educandos conforme o exposto em fomentos
e regulamentações da educação maior e que busquem caminhos para uma
formação que contemple os indivíduos dali, por meio do rigor metódico, da
generosidade e do respeito às diferenças na perspectiva de formar sujeitos
dotados de criticidade e autonomia.
Neste texto delimitou-se discorrer sobre a formação continuada de pro-
fessores em exercício a partir da experiência filosófica e apresentar um olhar
20
Doutorado e Pós-doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar
(FCLAr – UNESP – SP). Coordenador de Gestão Pedagógica na EE “Abílio Alves Mar-
ques” – SEDUC-SP.
21
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar (FCLAr – UNESP –
SP). Professora de Educação Infantil da Secretaria Municipal de Bebedouro – SP.
22
Para saber mais, acesse: https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atuacao/avalia-
cao-e-exames-educacionais/saeb. Data de acesso: 12/08/2022.
23
Para saber mais, acesse: https://saresp.fde.sp.gov.br/. Data de acesso: 12/08/2022.
24
Para saber mais, acesse: https://www.educacao.sp.gov.br/avalia-
cao-aprendizagem#:~:text=Avalia%C3%A7%C3%A3o%20identifica%20n%C3%AD-
vel%20de%20aprendizagem,Avalia%C3%A7%C3%A3o%20de%20Aprendizagem%20
em%20Processo. Data de acesso: 06/08/2022.
25
Para saber mais, acesse: https://institucional.caeddigital.net/tecnologias-2/sequen-
cias-digitais-de-atividades.html. Data de acesso: 06/08/2022.
Considerações finais
Partiu-se de Kant (2009; 2004; 1999) para apresentar argumentos que
envolvem a Filosofia, o filosofar e, ainda, a atitude, o saber e o fazer filosófico
através de uma conduta de estranhamento e de desnaturalização, encarando
a Filosofia a partir da sua essência radical, rigorosa e de conjunto (SAVIANI,
1973) frente ao que é posto como verdade para o senso comum e, seguido a
isso, buscou-se em Larossa (2002) o conceito de experiência para que a partir
dela possamos compreender a relação da experiência e da não-experiência
(da informação) e, com isso, a imprescindibilidade de se valorar pela expe-
Referências
AUGÉ, M. Não lugares: Introdução a uma antropologia da sobremodernida-
de. 1ª ed. Lisboa: 90 Graus, 2005.
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Kafka: por uma literatura menor. Rio de Janei-
ro: Imago, 1997.
Introdução
O presente texto traz temática de caráter multidisciplinar, pois envolve
duas ou mais áreas do conhecimento: dança e educação. É interdisciplinar,
porque essas áreas estão relacionadas entre si, e transdisciplinar, já que a
partir da relação entre essas áreas pode surgir um novo objeto de estudo e de
conhecimento.
Segundo Santos (2008), a teoria da complexidade e transdisciplinarida-
de surge em contraposição à fragmentação do conhecimento e dicotomia da
dualidade, como uma outra forma de pensar os novos desafios resultantes da
globalidade no século XXI. O autor enumera diversos estudos e teorias peda-
gógicas que seguem essa abordagem: Libâneo (1991, 2005) classifica como
“holística”, Aranha (1996) identifica essas características como paradigmas
emergentes, Gadotti (2003) chamou-os de paradigmas holonômicos, Edgar
Morrin (1991) sistematizou como o pensamento complexo e Basarab Nico-
lescu (1999) como transdisciplinaridade. “Recomendados nos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs) (Brasil, 2001), os temas transversais recorrem
a essa lógica quando articulam os conhecimentos das diversas disciplinas”
(SANTOS, 2008). Em suas considerações finais o autor denuncia que a frag-
mentação do conhecimento influencia atitudes e o modo de pensar de toda
comunidade educacional e suas estruturas organizacionais, sendo insuficien-
te para um dos principais propósitos da educação que é conferir sentido à
existência humana e a devida importância do conhecimento para a vida.
26
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar (FCLAr – UNESP
– SP). Professora de musicalização infantil na Maple Bear, em Araraquara-SP. Bolsista
de estudos da UNIVESP.
Com base nos discursos coletados, os autores concluem que tais práti-
cas possibilitaram a afetividade, trabalho em grupo, a amizade e a convivên-
cia mais próxima entre os alunos da turma. A dança circular contribuiu para a
possibilidade da inclusão escolar dos alunos com deficiência intelectual e dos
demais alunos também ajudou na socialização de quem era antissocial, na
autoestima, na confiança entre os alunos. Enfim, possibilitou uma abertura
para formação de amizades e afastou o medo de se relacionar com outras pes-
soas antes consideradas diferentes. Entretanto, a proposta desse estudo não é
criar uma fórmula, mas sim incentivar outros professores a criarem suas pró-
Considerações Finais:
A partir desta revisão bibliográfica, foram levantados alguns pontos
para pensar as danças circulares como disparadoras de reflexões na forma-
ção de professores. Nos trabalhos descritos, temas transversais foram con-
templados como a ludicidade, a educação para as relações étnico-raciais e as
práticas pedagógicas de inclusão. A proposta aqui não é encontrar respostas
para tais problemáticas, já que assim como na infância e na filosofia a busca
está justamente em “desconhecer todas as coisas, questioná-las, desaprender
o que sabemos, afirmar o valor do não saber e do buscar responder, com to-
das as suas forças, questões que não podem ser respondidas.” (KOHAN, 2015,
p.221). Entretanto, pretende-se oferecer como possibilidade a inserção do
corpo em movimento como forma de expressão além das palavras. Um modo
alternativo de provocar aprendizagens, tanto a respeito de si mesmo como
sobre os gestos envolvidos no encontro coletivo, entre vidas compartilhadas.
Referências
ANDRADA, Paula Costa de; SOUZA, Vera Lúcia Trevisan de. Corpo e docên-
cia: a dança circular como promotora do desenvolvimento da consciência.
Psicologia Escolar e Educacional, v. 19, n. 2, p. 359-368, 2015.
GADOTTI, Moacyr. História das idéias pedagógicas. São Paulo: Ática, 2003.
PRANIS, Kay. Processos circulares. São Paulo: Palas Athena, v. 40, 2010.
Vygotsky, L. S. (2001). Psicologia da Arte (2ª Ed.) São Paulo: Martins Fontes.
(Trabalho original publicado em 1925).
Apresentação
Na história do pensamento ocidental muitos estudos já foram realizados
sobre o legado epistemológico durante o período histórico da modernidade.
Não obstante o monumental acervo cultural produzido durante os períodos
históricos anteriores – Antiguidade e Idade Média – na Idade Moderna se con-
figurou as bases do pensamento científico que prevalece até os dias atuais.
Considerando que o conteúdo do pensamento individual e coletivo de
uma determinada época tem origem nas condições objetivas do mundo, não
é possível discorrer sobre as alterações produzidas na epistemologia da mo-
dernidade sem antes apresentar o contexto em que elas se originaram. Para
tanto, ao abordarmos aqui o pensamento do filósofo francês René Descartes
temos a tarefa primeira de expor o conteúdo histórico que motivou as princi-
pais questões filosóficas da sua época sobre as quais ele refletiu.
Apesar dos quatro séculos transcorridos entre o momento histórico vi-
vido por Descartes e os nossos dias, sua filosofia permanece viva, norteando
muitas pesquisas na atualidade em diversos temas.
Ao longo desse estudo buscaremos, portanto, destacar os aspectos es-
senciais do pensamento cartesiano inserindo-os no contexto histórico em
que ele viveu e procurando demonstrar em que sentido as suas reflexões filo-
sóficas significaram uma experiência para ele.
27
Doutor em Educação pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Supervisor
de Ensino da Secretaria Municipal da Educação de Votuporanga–SP.
28
MARCONDES, 2010, p. 142
Considerações finais
Ao analisar a filosofia de Descartes e expor as principais diretrizes do
seu pensamento no âmbito do contexto histórico do início da Idade Moderna,
procuramos demonstrar as circunstâncias polêmicas no âmbito da cultura
europeia em que esse filósofo conseguiu formular as bases de uma epistemo-
logia que permanece viva até a atualidade.
Da mesma forma, buscamos refletir sobre a experiência filosófica de
Descartes resultante da tentativa de desenvolvimento de algo novo que pro-
porcionasse um avanço significativo para a filosofia sem que, ao mesmo tem-
po, rompesse decisivamente com a filosofia cristã da época.
Ao discutir a relação entre tempo e experiência a partir de Deleuze,
Kohan (2007, p. 92) afirma que: “[...] A história não é a experiência, mas o
conjunto de condições de uma experiência ou acontecimento”. Considerando
esse raciocínio podemos afirmar que as condições objetivas do período his-
tórico que Descartes vivenciou constituíram os meios pelos quais lhe foi pos-
sível a experiência do pensamento na criação do novo pela ação do filosofar.
Assim, as assertivas de Descartes na sustentação lógica do seu méto-
do, bem como as reflexões acerca da possibilidade de se conhecer a verdade
a partir do uso correto da razão atreladas aos princípios da filosofia cristã,
tiveram seu significado histórico. Mesmo a estratégia da retórica cautelosa
adotada por ele como tentativa de contornar os riscos provenientes das per-
seguições religiosas precisa ser compreendida a partir das razões pelas elas
foram necessárias, e não simplesmente como mera resignação, por exemplo.
Reiterando, devemos a Descartes boa parte dos avanços que a ciência
moderna alcançou a partir da sua produção intelectual. Nas palavras de Co-
ttingham (1995, p. 11) “Descartes articulou alguns dos pressupostos centrais
daquilo que hoje denominamos perfil ‘científico moderno’; ao final da sua
Referências
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. Trad. Ivone Castilho Benedetti. 5
ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
DÁRIO JR., I. R.; SILVA, L. F. da. A escola como experiência: entrevista com
Walter Omar Kohan. In: Revista Eletrônica de Educação. Vol. 12, n. 01. São
Carlos. UFSCar, 2018. p. 298-304. Disponível em: https://www.reveduc.ufs-
car.br/index.php/reveduc/article/view/2297/685. Acesso em: 02 set. 2022.
Nos últimos anos Eliane Brum, Ailton Krenak e tantos outros autores
têm me ajudado a notar algumas ignorâncias antes não percebidas. Uma de-
las diz respeito ao meu sedentarismo auditivo. Acostumado a escutar apenas
palavras, não decifro os sons dos rios; não respondo às montanhas; não re-
colho os signos da chuva; poucos são os animais que acredito me comunicar.
Quando muito, sou pego por uma das camadas do aniquilamento da Amazô-
nia ou de uma pandemia que perdura por mais de dois anos. Agora, sei que o
rio fala – e que também há quem o entenda -, mas eu, até o momento, não fui
capaz de entendê-lo. Aprendi que isso tudo tem a ver com minha maneira de
habitar a terra, atravessada pela branquitude e por um modo muito específi-
co de ocupar o espaço. Espaço ou terra ou casa ou corpo ou natureza, que no
íntimo, se não são a mesma coisa, são conceitos vizinhos que se conhecem
muito bem.
33
Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Fede-
ral de Minas Gerais (UFMG). Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Educação
Escolar (FCLAr – UNESP – SP).
Uma das coisas que mais me entristece hoje é ver uma casa
infeliz, e uma casa infeliz é aquela que você entra e está tudo
arrumado. É uma casa sem uso. Você vai à sala e as almofadas
estão no lugar, como se a revista caras fosse entrar para
fotografar, uma casa que não tem nada fora do lugar é uma
casa morta. Onde há vida, há perturbação da ordem. Aliás, a paz
não é a paz dos cemitérios, e a vida não é a do congelamento da
criogenia. Vida, é vibração, vibração é movimento molecular e
nessa hora, a casa em ordem, é uma casa triste, é a casa que não
se vive mais nela, para muita gente o lugar de estar feliz em
algumas situações.34
34
Palestra de Mário Sérgio Cortella. Disponível em: https://www.youtube.com/wat-
ch?v=Zv0zDodNLKQ (min 52:43). Acesso em 01 de setembro de 2022.
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Claudio Ulpiano – Pensamento e Liberdade em Spinoza. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=oBDEZSx6xVs&t=5861s. Acesso em 01 de setembro de 2022.
37
Não faltam exemplos de preocupações inventadas: a crise da economia como anor-
malidade ou irresponsabilidade; a insegurança; os “insultos” contra a moral e os bons
costumes; etc.
***
Referências
BOULOS, G. Por que ocupamos? Uma introdução à luta dos sem-teto. São
Paulo: Scortecci, 2014.
DELEUZE, G.; PARNET, C. Diálogos. Trad. Eloisa Araújo Ribeiro, São Paulo:
Escuta, 1998.
GROS, F. Caminhar, uma filosofia. Trad. Lília Ledon da Silva. São Paulo: É
Realizações, 2010.
KRENAK, A. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Editora Compa-
nhia das Letras, 2019.
Introdução
O interesse pela escrita deste artigo surge como forma de retomar um
pouco do caminho e experiência como integrante do Grupo de Estudos e Pes-
quisas em Filosofia para Crianças (GEPFC) nos últimos 19 anos, tempo em
que participei como estudante de graduação, mestrado, doutorado e sigo vin-
culada como pesquisadora.
Considero este grupo um espaço potente, por variados motivos. Inicial-
mente, por garantir o tripé – ensino, pesquisa e extensão na universidade,
articulando na área da educação, saberes essenciais para formação integral
do profissional pedagogo. Ainda, temos neste grupo algo que, durante minha
trajetória em diferentes espaços universitários, pouco me deparei, que é a ca-
pacidade de dialogar para além dos muros da universidade sem prescritivi-
dade, articulando educação, filosofia e vida de forma ampliada e horizontal.
Rompe-se com a lógica da educação transmissora de conhecimentos
formais e necessários para o mundo do trabalho, útil, hierarquizada e cria-se
a educação questionadora, construtora do conhecimento e experiência. Há
uma relação horizontalizada, de compartilhamento, troca, uma brecha, um
espaço de fuga aos procedimentos homogeneizantes.
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Doutora e Pós-doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar
(FCLAr – UNESP – SP). Pedagoga na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
onde atua na Coordenadoria de Diversidade Sexual e Enfrentamento de Violência de
Gênero (PROAFE -SAAD).
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Centro Atendimento Sócio-educativo ao Adolescente, nova denominação para anti-
ga FEBEM (fundação do bem-estar do menor).
Conclusões
O objetivo aqui não é apresentar uma visão geral e sistemática das no-
ções de aprisionamento, subjetivação, sociedade ou história. Ao contrário, a
intenção é, como nos ensina Foucault, traçar um diagnóstico do presente, dei-
xando aberto o campo das indagações sobre a sociedade, a história, o sujeito e
o poder e mostrando que a verdade não está posta, não é algo que alcançamos
apenas porque sabemos que ela está ali, definida, à espera de ser lograda pe-
los que acreditam nela. Entendemos que a verdade é produzida por discursos
que carregam poder e saber - ela não está fora do poder e nem é possível sem
ele.
Interessou-nos, especificamente, analisar as relações e mecanismos
de subjetivação nos grupos em questão, refletindo sobre os diferentes mo-
dos pelos quais os seres humanos tornam-se sujeitos. Podemos dizer que os
mecanismos de objetivação e de subjetivação acontecem como processos de
constituição do indivíduo, sendo, os primeiros, mecanismos que tendem a fa-
zer do homem um objeto, ou seja, se referem aos processos disciplinares que
Referências
FREIRE, Paulo. Política e Educação. São Paulo, Cortez, 1995.
Introdução
Quando pensamos em Filosofia e em Educação logo pensamos nas pa-
lavras. Essas duas áreas vivem de certas relações com a palavra. E tanto em
uma quanto em outra há palavras que se fazem dominantes. Assim, há na
contemporaneidade um lugar para o que já foram – Filosofia e Educação –
que depende também de um olhar do presente. Esse olhar pode ser de conti-
nuidade ou de ruptura, mas por algum motivo continuar parece sempre mais
fácil. Os caminhos de ruptura dependem de mudanças nos modos de nos re-
lacionarmos com as palavras e/ou de mudanças de palavras.
Apesar de mais raro, em ambas as áreas há pessoas que conseguiram
eleger novas palavras ou novas relações com elas que foram responsáveis por
verdadeiros “giros” nos pensamentos dominantes. Às vezes algo que parece
muito pequeno tem um potencial avassalador e nos coloca diante de um novo
lugar.
O que propomos está longe de qualquer pretensão maior ou mais am-
pla, mas, por outro lado, pretende sim ser um “giro” para nós, sujeitos dessa
experiência, quanto a certos lugares ocupados na prática filosófica, especial-
mente os de leitura, escrita, escuta e fala. E quem sabe poderá ser exemplo de
um caminho para encontro de outros caminhos.
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Professores do Departamento de Educação e do Programa de Pós-Graduação em
Educação Escolar (FCLAr – UNESP – SP). O tema foi apresentado por Paula Ramos
de Oliveira em uma comunicação no IV Congreso Latinoamericano en Filosofía de la
Educación, realizado em Buenos Aires – Argentina, 2017, e posteriormente reelaborado
como texto com a colaboração de Denis Domeneguetti Badia.
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Grupo coordenado por Paula Ramos de Oliveira e Denis Domeneghetti Badia, com
atividades desde 1998, na Faculdade de Ciências e Letras, Campus de Araraquara (FCL/
Car), da Universidade Estadual Paulista (UNESP), e cadastrado no diretório do instituto
de pesquisa “Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico”(CNPq).
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Em outro texto, ainda não publicado, as vozes de Lígia e Mariana foram citadas.
Escrita no desenho: “Falo do que não sei, mas falo do que não sei em
função do que sei”.
Fala: O meu foi assim: duas coisas que me chamaram mais a atenção, a
compreensão ser um tipo de leitura. A compreensão é uma leitura. E a coisa
das duas asas. Meu desenho está horrível, mas é assim: é um passarinho... Co-
mecei a ver que passarinho parece peixe! É um passarinho com as asas assim.
Daí eu imaginei um passarinho juntando uma asa na outra e escrevi assim:
“Duas leituras diferentes se tocam e se distanciam, pois de outro modo o ´dito´
se desfaria tal como um pássaro que, ao ligar uma asa à outra por um tempo
pouca coisa maior que o mínimo, não venceria a resistência do ar.” Então as
Escrita: “Ler não filosoficamente. Só a partir do que sei ... o que não sei.”
Escrevi em um espaço ‘’A partir do que sei’’ deixando sair dele letras indo
ao encontro com o que escrevi ‘’O que não sei’’, com o intuito de demonstrar
a frase de Deleuze ‘’Falo do que não sei, mas falo do que não sei em função do
que sei’’. Pensei que muitas vezes falamos sobre determinado assunto que não
sabemos, ou que não temos uma visão profunda. Isso representa o que não
sei. No entanto quando falamos isso, não deixamos sair de nossas bocas sim-
plesmente palavras sem sentido. Penso que a partir desse ‘’não sei’’, buscamos
em nossa mente algo que se assemelhe com aquele determinado assunto, por
exemplo, eu posso não saber matemática, no entanto eu sei filosofia. Logo a
partir do que eu sei, filosofia, posso falar de matemática, ou seja, ter um olhar
filosófico da matemática, falar de matemática a partir da filosofia, pensar em
filósofos que pensaram em matemática e em seus conceitos. Penso que nun-
ca poderemos possuir todo o saber, já que há conhecimentos que ainda nos
faltam. No entanto, se esperarmos saber de tudo minuciosamente para falar
Fala: “A parte que mais me pegou no texto foi a questão que ele fala que
o pássaro não pode voar sobre uma asa; precisa de duas. Aí eu pensei nessa
dualidade de pensamento que a gente tem todo dia, de pensar uma coisa e ao
mesmo tempo pensar outra totalmente oposta. E me remeteu à ideia de que
Fala: “Bom, o meu, acho que vai ao encontro do que as pessoas já fala-
ram. É um homem e dentro da cabeça dele tem um universo. Então ao mesmo
tempo em que ele se situa no universo a cabeça dele é um universo. Da mes-
ma forma que a gente não conhece o universo a gente não conhece o nosso
universo. E o olhar dele, ele sempre vai de acordo com um. Aqui no caso foi
um planeta que influenciou um olhar dele. Então, a cada momento a gente
tem um ângulo de visão para alguma coisa e também não só nós mesmos a
cada dia, mas existem também as especialidades, os filósofos, cientistas, as
diferentes lentes, como se fossem diferentes lentes para você enxergar o uni-
verso. Então, são várias lentes. E aqui na verdade era um poeminha, um versi-
nho, que eu já havia feito há algum tempo atrás e eu lembrei dele. Eu vou ler.
´Tanto se fala de muito/ Pouco se fixa de tudo/ A maior parte de tudo/ parece
se esvair/ na atmosfera do outro´.”
A nossa leitura
Em “N de neurologia”, Deleuze (1997, p. 50)44 afirma: “É verdade que a
neurologia sempre me fascinou, mas por quê? É o que acontece na cabeça de
alguém ao ter uma idéia. Prefiro quando alguém tem uma idéia, senão é como
um flipperama.”
E um pouco adiante:
No verbete estudado, uma das partes que mais nos chamou a atenção
foi a ideia de que a compreensão é “uma” leitura. Normalmente o professor,
mesmo em uma aula de filosofia – onde se supõe que a problematização seja
absolutamente necessária -, identifica a compreensão do texto por parte do
aluno no momento em que esta coincide com a sua: o especialista, o não-lei-
go, o que leu mais sobre filosofia, o que leu mais vezes o texto em questão,
o professor, etc. Nesta perspectiva, a compreensão liga-se muito mais facil-
mente à ideia de verdade – até pelo argumento de autoridade - do que à uma
leitura possível.
Diz Deleuze (1997, p. 50):
Referências
DELEUZE, Gilles. O abecedário de Gilles Deleuze. Entrevista com G.Deleuze.
Editoração: Brasil, Ministério da Educação, TV Escola, 2001. Paris: Éditions
Montparnasse, 1997, VHS, 459min.