Seminário Sociologia

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SOCIOLOGIA

SEMINÁRIO E DEBATE DE TEXTO


Disciplina: Sujeito, desenvolvimento e políticas de proteção social

Prof. Responsável: Ricardo Luiz Sapia de Campos


autores & obras
. EGRI, A.COCCO. G. Biopoder e Luta numa América Latina globalizada. Rio de
Janeiro: Record, 2005. p. 29 – 112

. COCCO, G. Os impasses das velhas categorias: o exemplo do debate sobre


política social, In MundoBraz: o devir mundo do Brasil e o devir Brasil do Mundo,
Rio de Janeiro: Record, 2009. pp. 93-110
Na obra Biopoder e luta numa América Latina globalizada são três os países
analisados: Argentina, Brasil e México, os quais, segundo os autores, registram uma
influência dos Estados Unidos. Em função da exploração das matérias-primas e do
mercado consumidor desses países, houve inúmeros traços de intervenções políticas
dos governos estadunidenses na administração local. Fica evidente que após a
colonização “a nação transforma-se em uma herança, não uma conquista, uma etapa
de uma linha contínua e não uma ruptura radical: o passado sobre determina o
presente” (NEGRI; COCCO, 2005, p. 43).
Os autores apresentam as ditaduras e as promessas de um milagre econômico
sob as rédeas de um biopoder que elimina as liberdades democráticas. Dessa
forma o projeto desenvolvimentista é desnudado como crescimento sem democracia,
riqueza sem igualdade e produção econômica sem direitos. O resultado é claro para os
autores: ditadura política utilizando seus instrumentos: prisões, torturas e outros tipos
de ataques. culminando na hiperinflação e, em seguida, o neoliberalismo: como
alternativa apresentada pelo biopoder como forma de manter o obstáculo à
democracia.
Na década de 80, após a democratização os países latino-americanos
novamente se vêem diante de problemas parecidos, dentre eles a dívida externa.
Com o crescimento da dependência internacional há também o aumento das
desigualdades sociais. Surgindo como soluções nada novas as medidas neoliberais
propostas pelo Consenso de Washington – com a abertura de mercado e privatizações.

Todavia, o fracasso do passado inspira a esperança no presente. A construção atual da


democracia se torna possível, segundo Cocco & Negri.
Em suma, é possível compreender, que devemos nos ater a corrigir os rumos,
pois a desigualdade é uma constante em nossos territórios. A democracia
construída depende de uma integração, agindo de baixo para cima, seja se tratando de
cidades ou das ditas classes sociais, é preciso a convergência das forças em torno
de valores comuns, como a educação, a segurança e soluções para os problemas
urbanos.
No livro O devir-mundo do Brasil e o devir-Brasil do mundo o autor procura
estabelecer prós e contras da centralidade do Brasil na globalização e discute
diretamente os rótulos neoliberais que rondam o país. o texto permite mapear
horizontes e dificuldades enfrentadas pelo país frente ao mundo e à tão falada
globalização para, a partir daí , moldar possíveis soluções para os problemas
decorrentes de sua posição no cenário internacional.
Essa obra dialoga aprofundundando e desenvolvendo algumas
reflexões feitas com Negri sobre a Globalização e a América Latina (obra
anterior) Em MundoBraz a proposta é pensar o mundo, o império, o trabalho,
a partir de um ponto de vista brasileiro. Para isso o autor dialoga com a
antropologia de Eduardo Viveiros de Castro. A relação entre o Brasil e o mundo
é uma velha história que ainda segue mal contada. Ela diz respeito à própria
constituição da economia-mundo pela colonização européia do novo mundo.
A centralidade do Brasil é dupla, positiva e negativa, e, mesmo quando é
positiva, acontece pelo avesso do que afirmam os regimes de discurso hegemônicos
(sejam eles conservadores ou progressistas). O autor nos mostra que a inovação não
está na construção da soberania, mas no governo da interdependência (o G20, os Brics
— acrônimo para Brasil, Rússia, Índia e China). Também em termos de
desenvolvimento, a novidade não está na homogeneidade social proporcionada pelo
crescimento industrial, mas na mobilização pela política social das condições de
desenvolvimento, de um outro tipo possível de desenvolvimento.
O devir-Brasil do mundo está nessas dinâmicas, na “autonomia-em-rede” de
sua política externa, na política social tendo como exemplo (o Bolsa-família e as
reservas indígenas) como base de um desenvolvimento democrático, na política cultural
(os pontos de cultura e políticas de cotas para pobres e para negros) como base de
uma política da diferença. O devir-Brasil não é soberano, nem identitário e ainda menos
nacional. Por isso, o devir-Brasil do mundo é ao mesmo tempo um devir-mundo do
Brasil: uma desconstrução do Brasil, como diria o Eduardo Viveiros de Castro.
O autor cunha o termo Brasilianização sendo este o lado negativo dessa
centralidade. É o Brasil do latifúndio, da monocultura de soja ou da pecuária
extensiva, da mega barragem de Belo Monte, da violência metropolitana, da
desigualdade. Enfim, é o Brasil do Morro do Bumba, para lembrar uma tragédia
recente. O campo de concentração dos pobres se transforma em algo como um
campo de extermínio; as vitimas (os pobres) são responsabilizadas pelos
governantes e pela mídia por suas próprias mortes, como se as merecessem. A
prefeitura do Rio de Janeiro, a mídia do Rio de Janeiro são atores fundamentais
da brasilianização como política contra os pobres, pela remoção dos
pobres. De maneira escandalosa, transferem suas responsabilidades para as
vítimas e criminalizam o pouco que foi feito.
Por outro lado, Mundobraz é tudo que desloca isso para outra noção de
tempo: não mais a cronologia do crescimento que nos levaria do
subdesenvolvimento ao desenvolvimento, mas o devir como
transformação da noção de desenvolvimento: não mais remover as favelas
(como pensam os reacionários e os progressistas neste momento no Rio de
Janeiro), mas nelas encontrar (e reconhecer) a potência da vida, a potência dos
pobres. O Brasil não precisa se tornar igual aos países desenvolvidos, não
precisa passar por um neo-desenvolvimentismo, que necessariamente implica
um nacionalismo que esvaziaria a riqueza de sua política externa, por um
industrialismo que acabaria com o meio ambiente e não resolveria as questões
do emprego, por um identitarismo que destruiria a criatividade de suas
diferenças: de uma multidão composta por índios, negros, mestiços, pobres e
tantos outros.
O autor nos adverte para o cuidado com os rótulos neoliberais. O problema
desses rótulos é que eles alimentam aqueles especulares que assim pensam que,
para responder a essa globalização, é preciso reconstruir uma soberania, uma
identidade e uma separação: nos termos que as novas extremas direitas europeias
fazem para discriminar os migrantes internacionais.

A globalização é um processo aberto, é nele que devemos lutar para construir


novas alternativas, por exemplo, entre “brasilianização" do mundo e devir-Brasil do
Mundo. A América do Sul e o Brasil anteciparam a crise de valores do neoliberalismo
que agora se transformou em crise da bolsa de valores.
Mas não temos outro modelo. A crise está aberta, ela pode ser uma perspectiva de
construção, de invenção de outros valores.

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