APA CABECEIRAS DO RIO CUIABA - Versão Final
APA CABECEIRAS DO RIO CUIABA - Versão Final
APA CABECEIRAS DO RIO CUIABA - Versão Final
Resumo 1. Introdução
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Possíveis nascentes: APA estadual Cabeceiras do Rio Cuiabá
registro de parte das espécies destes instalação de novos projetos nessa área
ambientes, o que representou forte estratégica para proteção da água e da
justificativa para sua criação. biodiversidade.
Nesta APA foi registrada a presença de No interior da APA está localizado o
animais emblemáticos, como grandes Parque Estadual Águas do Cuiabá, UC criada
mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes, no ano de 2002, com 10.859 hectares de área,
alguns deles, inclusive, relacionados no Livro que se encontra atualmente sem qualquer tipo
Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de de gestão e é objeto de ações judiciais em que
Extinção; além de outras espécies são questionados pagamentos feitos pelo
consideradas como criticamente ameaçadas então governo do Estado, classificados como
e/ou vulneráveis, que podem estar sob grande indevidos pelo Ministério Público, no valor de
ameaça. Ademais, devido ao relevante R$7.000.000,00.
posicionamento geográfico da APA, não se Diante da possibilidade de realização de
descarta a possibilidade de descoberta de desmatamentos na área, em decorrência da
espécies ainda não conhecidas pela ciência. aprovação do Projeto de Lei nº 591/2017, bem
A APA Cabeceiras do Rio Cuiabá está como da ocorrência de graves danos às
inserida na lista de áreas prioritárias para a nascentes que formam o Rio Cuiabá,
conservação e é classificada como de vislumbrou-se a possibilidade de utilizar os
prioridade extremamente alta (MMA/SBF, procedimentos metodológicos desenvolvidos
2007). Como recomendações para sua pelas equipes do projeto Água para o Futuro,
conservação, o Ministério do Meio Ambiente com conhecimento científico multidisciplinar e
sugere a criação de novas Unidades de alta tecnologia, comprovadamente eficazes
Conservação (UCs), além da transformação para a realização de mapeamento preliminar,
de parte da APA em UC de uso indireto, o que confirmação e caracterização de nascentes.
aumentaria a proteção das nascentes do Rio Até o momento, o projeto já mapeou, confirmou
Cuiabá. Sugere-se ainda a elaboração de e caracterizou 180 nascentes somente no
plano de manejo da APA e a implementação perímetro urbano de Cuiabá (MPMT, 2018).
de ações de fiscalização. Este trabalho objetiva, portanto, mapear
Em direção contrária aos ganhos com a remotamente possíveis áreas de nascentes
proteção dessa importante área, o PL nº existentes no interior da APA Estadual
591/2017, se aprovado na ALMT e sancionado Cabeceiras do Rio Cuiabá, incluindo o Parque
pelo governador do Estado, permitirá a Estadual Águas do Cuiabá. O mapeamento
realização de novos desmatamentos e a dessas áreas representa o passo inicial para os
instalação de projetos agropecuários nessa estudos de confirmação e caracterização de
área de grande relevância ecológica, nascentes, mas demandam a coleta de dados
comprometendo fortemente as funções ambientais in loco, nas estações de chuva e de
ambientais prestadas pela APA, em especial a seca, para contemplar a sazonalidade.
conservação das águas superficiais e
subterrâneas (qualidade e quantidade) e 2. Metodologia
proteção da biodiversidade do Cerrado e da
Amazônia. 2.1. Área de estudo
No modelo atual de produção agrícola,
inevitavelmente, parte da grande quantidade O mapeamento de áreas de possíveis
de insumo utilizado (fertilizantes e nascentes contemplou a APA Estadual
agrotóxicos) é carreada para os corpos Cabeceiras do Rio Cuiabá, localizada na região
hídricos ou se infiltram no subsolo, atingindo o centro-sul do Estado de Mato Grosso e que
lençol freático e comprometendo a qualidade abrange uma área de 473.411,00 hectares,
da água. distribuídos nos territórios dos municípios de
Ressalta-se que o Estado de Mato Rosário Oeste (51%), Nova Brasilândia
Grosso apresenta abundantes áreas (22,2%), Nobres (15,05%), Santa Rita do
agricultáveis em outras regiões e fora de áreas Trivelato (9,38%), Chapada dos Guimarães
protegidas, não justificando a necessidade de (1,65%) e Planalto da Serra (0,01%).
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Possíveis nascentes: APA estadual Cabeceiras do Rio Cuiabá
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Possíveis nascentes: APA estadual Cabeceiras do Rio Cuiabá
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Possíveis nascentes: APA estadual Cabeceiras do Rio Cuiabá
representam aproximadamente 67% da área Tabela 2. Classes de declive da APA Cabeceira do Rio
total mapeada. A grande variação de altitude Cuiabá de acordo com intervalos de classe da EMBRAPA
(1979).
na APA (530m) confere condições e recursos
diversificados, gerando um mosaico de
diferentes tipos de ambientes que possibilitam
o estabelecimento de muitas espécies de
plantas e animais (RAHBEK, 1995;
LOMOLINO, 2001). A variação das cotas
altimétricas, associada à grande quantidade
de corpos hídricos, pode justificar parte da
biodiversidade já observada na APA.
A declividade do terreno foi mapeada
por ser uma variável básica do terreno para a
fragmentação de áreas em muitos
planejamentos territoriais. Processos de A declividade do terreno é expressa
transporte gravitacional, como, por exemplo, como a variação de altitude entre dois pontos
escoamento, erosão e deslizamentos, do terreno em relação à distância que os separa
possuem estreita relação com a declividade e, segundo Moore et al (1993), é um atributo
do terreno. Além disso, é importante ressaltar primário que pode ser calculado diretamente a
que áreas com declividade maior que 45° são partir do Modelo Digital de Elevação. As seis
consideradas Áreas de Preservação classes distintas de declividade (tabela 2)
Permanente (APP) (BRASIL, 2012). O mapa geradas neste trabalho seguem orientações
de declividade da APA elaborado a partir do sugeridas pela EMBRAPA (1979).
MDE consta na figura 3.
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Possíveis nascentes: APA estadual Cabeceiras do Rio Cuiabá
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Possíveis nascentes: APA estadual Cabeceiras do Rio Cuiabá
Figura 6. Mapa de possíveis localizações das nascentes da APA Cabeceira do Rio Cuiabá.
de nascentes da APA foi realizado com a base Tabela 2. Área e número de nascentes de cada sub-
de dados TOPODATA, que apesar de ser bacia contida na APA Cabeceiras do Rio Cuiabá.
disponível gratuitamente, possui resolução
espacial de 30m x 30m. Dessa maneira, o
menor objeto mapeado tem resolução
espacial de 30m, para ser identificado no
MDE. Analogamente, os objetos visíveis na
imagem Landsat 8 utilizados também
possuem a mesma resolução espacial. Com
base nos dados de origem disponíveis até o
ortorretificadas e Modelo Digital do Terreno de
momento para o mapeamento, pode-se inferir
alta precisão e resolução, a partir de missões
que o número de nascentes foi subestimado
previamente planejadas que podem ser
neste relatório, ou seja, pode haver um
utilizadas como base para delimitação,
n ú m e r o m a i o r d e n a s c e n t e s n a A PA
identificação e caracterização das áreas de
Cabeceiras Rio Cuiabá.
preservação permanente das nascentes,
S e g u n d o Va l e r i a n o ( 2 0 0 3 ) , o
dentre outras aplicações.
mapeamento em escala de 30m é
Uma possível área pré-selecionada
aconselhável apesar dos erros de estimativa
remotamente para o mapeamento com RPAS
calculados, porém, com a tecnologia do
pode ser observada na figura 7. Os critérios
projeto Água para o Futuro existe a
utilizados para a seleção foram o adensamento
possibilidade de um mapeamento de alta
de drenagem, a facilidade de acesso e a
resolução espacial com o uso de aeronaves
conservação ecológica.
remotamente pilotadas (RPAS - Remoted
Pilot Aircraft System),obtendo-se imagens
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Possíveis nascentes: APA estadual Cabeceiras do Rio Cuiabá
Figura 7. Mapa de uma área selecionada para um futuro mapeamento utilizando RPAS/drone.
Detalhe para o grande número de possíveis nascentes não mapeadas neste trabalho.
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Possíveis nascentes: APA estadual Cabeceiras do Rio Cuiabá
LOMOLINO, M.V. 2001. Elevation gradients ROSA, R.S. & LIMA, F.C.T. 2008. Os peixes
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Metodológicos para Mapeamento,
Caracterização, Monitoramento e
Reparação de Danos Ambientais das
Nascentes Urbanas de Cuiabá./
Coordenado por Gerson Natalicio Barbosa e
organizado por Abílio José Ferraz de Moraes.
Cuiabá-MT: Projeto Água para o Futuro, 2018.
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Anexos
Mapas ampliados
tamanho A3