Alcoolismo: Implicações Emocionais No Sistema Familiar: Faculdade de Ciências Da Saúde - Facs Curso: Psicologia
Alcoolismo: Implicações Emocionais No Sistema Familiar: Faculdade de Ciências Da Saúde - Facs Curso: Psicologia
Alcoolismo: Implicações Emocionais No Sistema Familiar: Faculdade de Ciências Da Saúde - Facs Curso: Psicologia
CURSO: PSICOLOGIA
NO SISTEMA FAMILIAR
BRASÍLIA
JUNHO/2006
2
NO SISTEMA FAMILIAR
DEDICATÓRIA
Amo vocês!!!
4
AGRADECIMENTOS
À Deus,
pela vida e por mais essa conquista.
SUMÁRIO
RESUMO ........................................................................................................................... 06
INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 07
CAPÍTULO l
1. ALCOOLISMO: CRISE NO SISTEMA FAMILIAR .......................................... 12
1.1.Função do sintoma para a homeostase familiar .................................................. 12
1.2.Dinâmica do sistema familiar alcoolista ............................................................. 18
1.2.1. Redes sociais .................................................................................. 18
1.2.2. Negação .......................................................................................... 21
1.2.3. Segredos, Mentiras e vergonha ...................................................... 23
1.2.4. Nível de Comunicação ................................................................... 24
1.2.5. Papéis ............................................................................................ 26
1.2.6. Ciclo da embriaguez ...................................................................... 28
CAPÍTULO II
2. FAMÍLIA ALCOOLISTA: CONSTRUÇÃO DO EMOCIONAL ............................ 33
2.1. Conceito de emoção ........................................................................................... 33
2.2. Emoções do alcoolista ........................................................................................ 35
2.3. Emoções da esposa de alcoolista ........................................................................ 39
2.4. Emoções de filhos de alcoolista ......................................................................... 44
CAPÍTULO III
3. CAMINHOS TERAPÊUTICOS ................................................................................. 49
3.1. Terapia Familiar Sistêmica ................................................................................. 49
3.2. AA – Alcoólicos Anônimos .............................................................................. 55
3.3. Al-Anon ............................................................................................................ 61
CONCLUSÃO .................................................................................................................. 63
BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................. 68
6
RESUMO
ABSTRACT
The present study one consists of a bibliographical revision on the questions presented in the
relationary dynamics of the family who has, between its members, an alcoholic dependent. Its
objective consisted of developing one better understanding of the relations of the family with this
dependent in a sistêmica perspective, focusing this family as competent factor in the rescue of
this member. The function of the symptom of alcoholism in the familiar context was argued, with
intention to clarify the complex relations that the consumption of alcohol establishes with the
personal and social nets of the individual, as also the deriving emotional implications of this
alcoholic behavior that involves the familiar system. The strategies of therapeutical intervention
had had as it has supported sistêmica literature and the boarding of the communitarian groups of
support AA and Al-Anon. These used models offer enriquecedoras perspectives in this context, in
the direction to direct the dependent in such a way how much the family for the redefinition of
papers and felt re-significação of for the development of its abilities as for the subject in its
complexity, therefore it is in the family who if finds the balance and the possibility of
reconstruction of the affective bows, taking in consideration the experiences and the feelings of
each one of its members.
INTRODUÇÃO
de seus membros, uma forma de apresentar e de resolver o impasse com o qual se defrontam. A
ênfase do estudo centrou-se nas implicações emocionais geradas pela ingestão de bebidas
alcoólicas por membro da família, nas diversas dimensões. Esse tema é relevante por enfocar a
complexidade das relações na família, além de auxiliar no trabalho clínico, por fornecer ao
terapeuta subsídios para uma visão mais ampla das redes afetivas e sociais que envolvem cada
personagem inserido no contexto familiar e social do dependente alcoólico.
Segundo Keeney (1997) os termos que identificam o temor, a fúria, o amor e o ódio
levam-nos a entender que esses sentimentos operam em separado, como experiências isoladas,
em vez de pertencer a uma ecologia mais abrangente, ou seja, a um sistema recursivo de
sentimentos. Segundo esse autor, o amor anda de mãos dadas com o ódio, e o que se pode
observar, é que, tanto o amor quanto o ódio, entre outras emoções, expressam-se por turnos sobre
o cenário mais amplo do processo recursivo.
A partir do enfoque de Keeney (1997), em relação aos sentimentos, pode-se dizer que
uma conduta sintomática pode ser considerada parte de uma seqüência recursiva dentro do
comportamento e da experiência do indivíduo e da família. Sendo assim, acredita-se que o
alcoolista é uma pessoa presa a uma seqüência recursiva viciosa, que inclui sua própria conduta e
a da família para resolver o problema. Todos os esforços para eliminar esse comportamento
perpetuam seu retraimento em relação à bebida; as tentativas de superar o problema contribuem
para defini-lo e para mantê-lo. Essa conduta sintomática expressada pela alcoolista pode ser
considerada parte de uma pauta recursiva de interação dentro da família.
De acordo com Neubern (2003), a complexidade presente nos sistemas familiares que
envolvem a drogadição, revela uma reflexão de grande importância, pois nenhuma abordagem
totalitária resolveria ou responderia aos questionamentos impostos pela complexidade desse
consumo. Nessa perspectiva, o problema de bebida alcoólica pode ser compreendido dentro de
uma noção de unitas multiplex, ou seja, um todo envolto por diversas faces (individuais, sociais,
familiares e culturais dentre outras), cada uma com suas especificidades, que não se fundem ou
confundem com o todo, revelando ao mesmo tempo uma dupla identidade: a do próprio sujeito
em si e a identidade dele dentro do contexto sistêmico (social).
diferentes funções. Nesse sentido, acredita-se que o álcool funciona como um alicerce ou forma
de vínculo afetivo entre o usuário e sua família.
Bateson (1998) explana bem sobre a estrutura sistêmica da interação humana como
um recurso no estudo realizado sobre os alcoólicos anônimos que é, hoje, um clássico. Com
efeito, na cura de um alcoólico, não vale a pena partir de um ponto de vista cartesiano que
concebe uma vontade racional que funcione como uma espécie de comandante da alma. Porém,
deve-se levar em conta que toda a sua experiência depende do relacionamento e de contextos
interpessoais que ultrapassam qualquer espécie de batalha que se trave no seu interior. A posição
criticada (a crença numa vontade racional que comande a alma) resulta de uma concepção errada
de self para cuja crítica contribuem os pontos de vista da teoria sistêmica e da cibernética. Não é
possível pensar nem compreender o comportamento humano sem relação ou interação. Desse
modo, a mente é imanente a um sistema amplo: o homem mais o ambiente.
Além da abordagem sistêmica, sem que possa ser considerado tratamento, mas, sim,
um apoio importante, encontra-se a participação do dependente e de sua família em grupos de
auto-ajuda, tais como o AA e o Al-Anon. Ainda que não haja o rótulo terapêutico, essas se
constituem meios essenciais para a obtenção de resultados favoráveis no tratamento. A
participação deve ser estimulada por todos os profissionais envolvidos na assistência aos
dependentes.
A relevância de todas essas técnicas é que, tanto o dependente quanto sua família
podem desenvolver capacidades de evitar comportamentos associados ao consumo de bebida
11
alcóolica, lidando melhor com relacionamentos e com fontes de estresse, aumentando a auto-
estima e promovendo uma mudança significativa do estilo de vida desse grupo familiar.
CAPÍTULO I
Kaufman e Pattison (1981, apud Roussaux, 2000) descrevem que famílias alcoolistas
são vistas como possuidoras de uma homeostasia frágil. É como se os seus membros,
principalmente os casais, não encontrassem estratégias para administrar suas desavenças, suas
crises sexuais e determinados conflitos com o mundo exterior, fixando-se, dessa maneira, em
comportamentos rígidos e marcados por essa difícil convivência.
Segundo Bowen e Bateson (apud Roussaux, 2000) existe um paradoxo de uma falsa
autonomia, ou seja, uma falsa individuação que se desfaz no alcoolismo. Segundo ele, comparece
uma estrutura paradoxal de duplo vínculo que o desafio harmônico do alcoólico manifesta. O
indivíduo alcoólico julga-se senhor de si próprio, exatamente como a moral convencional lhe
pede. Ele demonstra esse poder mesmo correndo riscos. Assim, com o resultado da insustentável
solidão que esse tipo de controle produz, é necessário que esse risco conduza ao fracasso, ao
passo que a conexão simétrica manifestada pelo doente e por toda a família obriga a recusar esse
fracasso e a recomeçar o círculo.
agressividade, de conflitos internos ou com o mundo exterior. Essas famílias têm, durante a
intoxicação alcoólica de um dos seus membros, comportamentos muito marcados, e cuja
significação se articula com a dos períodos sóbrios. Quando estão sob o efeito do álcool,
demonstram os seus problemas não resolvidos, chegando a apresentar um tipo de solução
instável. Mas, quando o alcoolista se apresenta de volta à sobriedade, os problema, bem como as
soluções, podem ser considerados como “loucos”, uma vez, que foram vividos sob o efeito do
álcool. Dessa forma, os períodos de embriaguez são uma espécie de cartase que alivia as tensões
intrafamiliares sem com isso levar ao rompimento, mas também sem proporcionar a verdadeira
solução.
Para Castilho (1994), a dependência alcoólica é um sintoma que causa uma debilidade
crônica ao usuário, o que faz com que as pessoas à sua volta assumam as situações que ele
próprio não consegue assumir. Considera-se, que, em nível estrutural, isto significa que as
capacitações e posicionamentos na família aditiva se organizam de forma a possibilitar que os
outros membros dos subsistemas exerçam algumas funções pelo dependente, trazendo problemas
com relação à demarcação de fronteiras e posicionamentos hierárquicos.
Para Colle (2001), os sintomas ocorrem com freqüência nas tentativas que o sistema
familiar faz ao tentar dar conta de seu ciclo evolutivo. Contudo, algumas dificuldades, nas quais
pais e filhos se separam pelas contingências de seus conhecimentos, surgem como soluções
impedindo movimentos exogâmicos sofridos em famílias mais fusionadas. Em decorrência desse
fato, eles convivem em um clima emotivo indiferenciado. Nesse caso, os filhos ou o pai se
oferecem para o sacrifício em prol da estabilidade da família, e uma das maneiras de cumprir esta
tarefa é começar a beber. Beber pode ser também, uma forma de reaproximação dessa família,
embora com a utilização de estratégias de enfrentamento.
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Isso faz com que, a maioria das atenções dos outros membros sejam voltadas para ele.
E, dependendo da gravidade do sintoma, ou da função que o paciente identificado tem na família,
sua patologia passa a ser o tema do sistema familiar, ocupando sua principal área de
preocupação. Os membros da família passam a creditar à situação patogênica vivida pelo
membro identificado todas as suas angústias e frustrações.
Edwing e Fox (1968, apud Roussaux, 2000) procuraram uma explicação para o
procedimento que realizaram relativo aos grupos paralelos de alcoólicos e de cônjuges, a partir
das teorias de Bateson e de Jackson. Segundo eles, as famílias que possuem um ou vários
alcoólicos atingem um estado de equilíbrio e, através de mecanismos intrafamiliares, tentam
manter esse equilíbrio anulando os efeitos modificadores internos e externos. Nem sempre esse
estado de equilíbrio é desejável.
De acordo com Kalina (1991), as atitudes que causam desentendimento na família são
as mesmas responsáveis por sustentar a relação parental, e, conseqüentemente, o sistema familiar
(homeostase). O autor afirma que essa é a estrutura básica responsável pelo aparecimento do
adito na família, a quem chama de “o eleito”, aquele que carrega consigo todas as atribulações do
grupo familiar. Esse fato demonstra o quanto à estrutura existente na família aditiva é
conservadora e autoritária, cristalizando-se em torno da necessidade de interagir em função desse
“eleito”, que, apesar de acorrentado pelo consumo da bebida alcoólica, muitas vezes aprisiona,
também, a família com o seu comportamento dependente. O contexto do “eleito” é criado a partir
de conflitos na estruturação da família, em que há uma desilusão com relação aos papéis
idealizados e assumidos.
O autor comenta, que o convívio cotidiano traz à tona a realidade de cada membro,
que frustrados e desiludidos com o que vivenciam, preferem não ver, vivendo um “palco
ilusório”. Dessa maneira, as famílias que convivem com o alcoolismo, como qualquer outra
família que traz em seu bojo uma disfunção, encontram-se empobrecidas nas histórias que
contam sobre si mesmas. Geralmente estão aprisionadas nos problemas que o alcoolismo
promove em suas pautas conversacionais e acabam por rotular-se através desse problema. Tais
rótulos trazem o grave perigo de descarregar a culpa no paciente eleito, e as conversações podem
ficar limitadas a um só tema – o alcoolismo. O indivíduo é o grande problema de quem se fala, se
esconde ou se controla e que faz sofrer o restante da família. Assim, os terapeutas familiares têm
um papel importante ao entrar no universo relacional dos pacientes e famílias chamados
“alcoolistas”. Para além das perspectivas de mudanças que se apresentam, é também possível
observar o contexto relacional e os laços intersubjetivos do sujeito em relação ao sistema
familiar.
18
Sluzki (1997, p. 41), define a rede social pessoal como “a soma de todas as relações
que um indivíduo percebe como significativas ou diferenciadas da massa anônima da sociedade”.
Ela contribui para a própria identificação do sujeito e para sua auto-imagem. Ele ilustra bem as
características estruturais de uma rede pessoal que são: tamanho, densidade, distribuição,
dispersão, homogeneidade, tipos de funções. Essas características vão situar as pessoas que
compõem a rede do sujeito alcoolista quanto aos laços efetivos, sentimento de delegação de
responsabilidades, enrijecimento de relações, independência, papéis, comprometimento
emocional, círculo de amizades e sobrecarga de responsabilidades em cada um dos membros
quando se instala uma crise.
entendida por meio da perspectiva da família como um ambiente não compartilhado, no qual as
relações desenvolvidas entre seus membros geram experiências diferenciadas para cada um.
Sendo assim, cada membro da família vivencia, de maneira particular, a descoberta de um
membro dependente de bebidas alcoólicas.
Sluzki (1997), salienta ainda, que, com o próprio depoimento de famílias, uma das
características evidentes do alcoolista é o isolamento da rede social, ou seja, deixa de se
relacionar com a vizinhança, mantém distância emocional com a família de origem, pouca
atividade social e poucas visitas. Com isso, a rigidez de fronteiras e a pobreza de rede, relações
fragmentadas e com nível de densidade baixa, provoca uma redução dos laços afetivos pela
ausência de potencializador de cortejamento; dificuldade na manutenção de normas sociais, pois
ao perceber o olhar do próximo, sente-se questionado pelos comportamentos desviados. Dessa
forma, o isolamento social, ou seja, a redução dos contatos afetivos, contribui para a ocorrência
de comportamentos desviantes, e então, a família passa a ser um sistema fechado e sem opções,
que favorece o agravo da doença.
devem se afastar, justamente por não ser possível suportar a carga sentimental própria e ainda a
do outro cônjuge.
Nota-se, entretanto, que esse tipo de relação em que a família contava antes do
aparecimento da bebida fica abalado, levando, muitas vezes, o filho mais velho a ocupar o espaço
central nas funções que eram do dependente, em relação aos demais membros da família. Em
diversos momentos esse filho embora se encontre sobrecarregado passa a dar a suporte emocional
à mãe, inclusive se interpondo entre o casal.
relacionamentos que estas mantém entre si e também com o ambiente onde se inserem. Nota-se,
também, que os relacionamentos pessoais são mais considerados pelos indivíduos do que as
redes em si. Dessa forma, a relação familiar torna-se mais fácil de ser definida, pois se apresenta
de forma mais organizada.
1.2. 2 Negação
coloca o alcoolista numa situação de desesperança marcada pela indiferença e pelos fantasmas de
insucessos anteriores causados pela ausência de tolerância às frustrações.
Nessa visão, acredita-se que os motivos para o uso do álcool são atribuídos à
necessidade de esquecer problemas, problemas afetivos que inclui os conflitos na relação
conjugal como também a falta de encorajamento diante das condições precárias em que vivem.
Ou seja, circunstâncias frustrantes passadas vivenciadas pelo sujeito alcoolista parece ser um
peso insuportável a carregar no presente. Com efeito, o consumo de bebidas alcoólicas atuaria
como um mecanismo de defesa e fuga frente às frustrações da realidade com a qual não consegue
lidar satisfatoriamente. A família protege-se dessa dolorosa emoção e não quer admiti-la, e daí
começam os comportamentos defensivos, necessitando, assim, de um apoio para poder suportar
o problema e ajudar o dependente a superar suas dificuldades.
aniquilamento. Por isso, a guarda de segredos contribui para que a negação opere ao nível de
mentiras, segredos e silêncios para outros membros da família.
Segundo o autor, à medida que a família luta para manter o problema em segredo,
ocorre o isolamento social. A auto-estima é corroída, e uma atmosfera crescente de vergonha e
medo contribui para maior silêncio. Eventualmente, tentativas para controlar o problema são
abandonadas, e o cônjuge e os filhos reorganizam-se como uma unidade, da qual o bebedor é
excluído. O grau de silêncio mantido acerca do comportamento aditivo pode ser extremo.
chegar e poder checar as informações do mundo exterior. Dessa forma, pode-se entender que toda
estrutura familiar é organizada por meio do processo comunicativo. Se o nível de comunicação é
bom, a estrutura familiar será sólida, estável e harmoniosa, se a comunicação familiar não é
adequada, de qualidade, essa estrutura sofre soluções de continuidade e, afetivamente, os
membros tendem a se afastar emocionalmente, uns dos outros, com sérias repercussões na
dinâmica dessa família.
Nessa perspectiva, cada membro da família, vê as suas ações apenas como uma
reação aos comportamentos do outro. Cabe a um observador externo mostrar a circularidade de
sua interação, isto é, que o beber desse membro provoca o comportamento de outros membros.
Assim, a terapia familiar tem como função confrontar e romper esses padrões disfuncionais a fim
de que novas formas de comunicação e interação possam emergir.
26
1.2.5 Papéis
É possível notar que com a perda de controle devido ao uso de bebida alcoólica,
ocorre uma interação tensa baseada no silêncio. Há, ainda, uma minimização dos problemas
relativos ou não ao hábito de usar a substância, tanto por parte do cônjuge que não a usa, quanto
por parte do cônjuge que dela faz uso. Nesse sentido, com o agravamento dos problemas com
relação ao consumo de bebidas, há um crescente isolamento social da família que passa a se
organizar em torno das necessidades do usuário, com o intuito de não o expor e de não expor o
sistema. A parceria do subsistema conjugal é abalada, e intensificam-se as tentativas de controle
do cônjuge não usuário sobre o usuário. O cônjuge não usuário intensifica as manobras para
manter a família em funcionamento, começando a funcionar pelo cônjuge usuário. Os filhos
adquirem papéis disfuncionais a fim de equilibrar o sistema.
Outro fator que se observa é que a família, frente ao fracasso em controlar o processo
de dependência, reage a este manifestando raiva e rejeição. Alguns membros podem iniciar o uso
de substâncias psicoativas, enquanto o cônjuge não usuário experimenta um grande sentimento
27
de incapacidade com relação a si próprio, sentindo-se culpado por não ter conseguido controlar a
situação. O mesmo sentimento é experimentado pelo usuário.
Percebe-se, então, que o cônjuge não usuário passa a assumir a maior parte das
responsabilidades do usuário (tanto as tarefas funcionais como paternas). O usuário passa a ser
considerado como uma pessoa incapaz de assumir suas responsabilidades, não sendo mais
considerado um adulto responsável (Carter, 1995). Nesse caso, nota-se que a família sente raiva e
pena do usuário. O cônjuge não usuário se torna cada vez mais confiante em sua capacidade de
administrar a família, empenhando-se junto com os demais membros para possibilitar uma
estrutura familiar que minimize cada vez mais os efeitos que a dependência possa trazer ao
sistema. O usuário tende a ficar isolado com a sua adição, colaborando para esse novo ajuste
familiar. Havendo ou não separação desse casal, se o usuário ficar sóbrio, ao tentar restabelecer
seu papel na família encontrará muita dificuldade em organizar sua vida e em assumir os novos
papéis exigidos pela sociedade.
Podemos observar que os papéis familiares se estruturam em torno de uma escala que
vai do superfuncional ao subfuncional, estando o dependente alcoólico no extremo subfuncional
da escala. Como esses dois papéis são a tônica da dinâmica dessas famílias sempre tem alguém
que assume os extremos da escala. Esse fato é um dos principais motivadores da cristalização da
estrutura familiar.
É comum ocorrer uma inversão de papéis e funções, como por exemplo, a esposa
passa a assumir todas as responsabilidades de casa, em decorrência do alcoolismo do marido. Ou
ainda, a filha mais velha que passa a cuidar dos irmãos para que a mãe possa trabalhar fora. Isso
contribui para a exaustão emocional dos membros familiares, podendo surgir distúrbios de
comportamento e de saúde entre eles.
Nota-se, portanto, que quando as funções e os papéis não são definidos na relação
familiar, as demarcações são prejudicadas, as histórias se mesclam e as funções se invertem. As
frustrações, angústias e conflitos vivenciados por um elemento da família na sua história
particular podem romper barreiras, perpassando as fronteiras e isso vai alojar-se na história da
sua família. Dessa forma, a ausência de vínculos na relação familiar, inscreve a desordem, a
ausência da autonomia e da referência do ser individual no contexto do grupo social.
A partir da análise terapêutica dos AA (Bateson, 1977, apud Keeney, 1997), propõe
uma teoria do comportamento alcoólico que engloba, numa perspectiva sistêmica, a relação do
sujeito consigo mesmo e com o meio familiar Ele parte da afirmação do AA, no sentido de que
não existe esperança, por mais tempo que passe, se o alcoólico não se reconhece como alcoólico
permanente, mesmo em período de sobriedade. Dessa forma, esse sujeito assume-se como
alcoólico sempre e para sempre. Bateson vê nessa condição uma variação contextual fundamental
que permite que todo o sistema mude e que a conduta alcoólica dissipe-se, assim:
Nessa perspectiva, o alcoólico afirma que se controla, que domina as suas pulsões,
que tem vontade, e que sabe resistir à bebida. Nisso se configura o “orgulho do alcoólico”, de
acordo com o AA. Com o intuito de reafirmar as propostas moralizadoras do meio, ele tenta
provar a si próprio e ao meio, e por isso toma um primeiro copo numa espécie de desafio, para
demonstrar o seu controle, ou seja, que poderá parar quando quiser, mas é fatalmente o álcool
que ganha. Dessa maneira, comparece a falsa afirmação epistemológica defendida, na qual o
meio familiar rejeita-o e lembra ao alcoólico a sua falta de vontade. O orgulho obriga o alcoólico
a redemonstrar a sua capacidade de controle. O que só pode ser feito bebendo moderadamente.
Suas várias tentativa, continuarão em vão:
Para Bowen (1974, apud Carter, 1995), cada ser humano deve individuar-se ou
diferenciar-se naquilo a que chama de self (Eu). Este self representa um conjunto de regras ou de
princípios inconscientes, no qual o indivíduo organiza a sua vida, os seus desejos, as suas
satisfações, os seus interesses. Quando duas pessoas se casam, devem adaptar-se uma à outra por
meio de diversas reformulações do self, de maneira a formar uma nova entidade, um novo
sistema familiar. A maioria das pessoas consegue manter uma determinada distância emocional
entre si, distância essa, que permite a formação desse sistema e a salvaguarda da sua
individualidade. Quando essa distância emocional é insuficiente, surgem alguns conflitos que
ameaçam sem cessar o sistema de rotura. Uma forma de evitar isso é um dos parceiros sacrificar
o seu self, a sua individualidade ao domínio do outro, desenvolvendo, assim um “falso self” que o
coloca em estado de insatisfação e de fragilidade permanente.
O alcoólico provém de famílias dessa natureza. Ele é como que obrigado a submeter-
se à personalidade de um dos pais, geralmente a mãe. O nível real de apego à mãe é intenso. É
necessário a autonomização para o acesso à posição de adulto, que o deixa desarmado, Bowen
(1974, apud Carter, 1995). Ele indivíduo afetiva-se, a partir daí, por meio de uma denegação
desta dependência e de uma afirmação de sobreindependência, que não é mais do que o reverso
pseudo-autônomo do falso self dependente.
31
Para Bateson (1971, apud Keeney, 1997, p.198), o alcoolismo constitui uma maneira
cibernética de considerar como as pessoas contribuem para manter ou corrigir uma conduta
problemática. Essa teoria postula que o erro fundamental do alcoólatra é de natureza
desagregada, que é uma variável do enfrentamento entre o si mesmo e o ambiente, ou entre o
corpo e a mente. O esforço pela aquisição de controle que o alcoólatra enfrenta provém da falta
de separação entre a mente e o corpo, que às vezes se apresenta na seguinte frase: “Minha
‘vontade’ não pode resistir diante da ‘ânsia’ do meu corpo por beber”. Nesse sentido, a vontade
representa uma parte da mente consciente que procura controlar a ânsia de álcool do corpo.
O que chama a atenção para essas famílias é a forma com que suportam o ciclo
embriaguez-sobriedade: o desespero do momento claro do uso do álcool e seus efeitos e o
momento de calmaria e esperança do instante em que o usuário não está fazendo uso da droga.
Steinglass (1977, apud Trindade, 1992), explicam que algumas famílias aproveitam a sobriedade
para soluções a curto prazo; outras se unem em momentos de embriaguez. Não há uma
explicação geral e sim uma manutenção desse ciclo para algum ganho secundário.
A amplitude dessas oscilações pode aumentar até ser controlada por um processo de
retroalimentação superior. Essa organização cibernética de sistema oscilatório inclui pautas
intensificadas de ebriedade e sobriedade, assim como intensificação da magnitude destas
intensificações. Nessa perspectiva, a conduta sintomática está sempre sujeita a determinado tipo
de controle de ordem superior. O processo de mudança terapêutico iniciará quando se puder
transitar por uma forma variada de retroalimentação autocorretiva de ordem superior, a fim de
manter a organização do sistema em sua totalidade. Assim, o terapeuta vai fazer parte de um
sistema cibernético, conectando de forma corretiva, sua conduta com aquela dos outros membros
no tratamento. O objetivo está em promover uma correção do processo de ordem inferior que
interfere na intensificação sintomática.
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CAPÍTULO II
De acordo com a lei natural de vida, todo ser vivo, homem ou animal, necessita de
afeto. É uma necessidade inata, ao nascer, homens e animais necessitam do afeto da mãe que, por
sua vez, promove todos os esforços para suprir sua prole. Não se trata apenas de uma
necessidade, mas de um sistema complexo constitutivo da natureza de cada organismo vivo.
Assim, no ser humano esse sistema se apresenta como uma das configurações da personalidade e
conforme relata González Rey (2004, p. 85), “... implica simultaneamente, o interior e o exterior
no sentido subjetivo da ação”. O sentido subjetivo é uma integração entre o nível emocional e o
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A existência não pode ser aludida com explicações; quer queira quer não, ela
transcorre entre a agonia e o êxtase em seus momentos mais fortes, entre o interesse e o tédio nas
horas mais comuns. Alegria e tristeza, raiva e medo, amor e desprezo fazem parte de uma herança
humana comuns que nos irmana para além de todas as diferenças. Assim, o fato de os
sentimentos poderem distorcer o conhecimento não significa que não possam ser objeto de um
conhecimento preciso. Inegavelmente a realidade deve ser conhecida tal qual é e isto nem sempre
agrada ao sentimento.
Uma excursão pelos textos de psicologia que tratam das emoções nos mostra um
quadro diversificado de teorias e uma imensa riqueza de hipóteses inovadoras. Apesar de às vezes
aparentemente contraditórias, elas constituem uma mina inesgotável de observações cuidadosas,
de dados experimentais e clínicos, que evidenciam uma coerência e um sentido únicos.
definir com alguma certeza que tipo de emoção estamos sentindo em determinadas situações,
mesmo sendo esta conturbada.
Segundo Gonzalez Rey (2003), “as emoções estão associadas aos aspectos complexos,
dinâmicos e processuais da mesma”. O tema da subjetividade tem influenciado no aspecto do
psiquismo com um conjunto de métodos fragmentados. Muitos autores contidos por uma atitude
indiferente excluíram a emoção dos processos de construção do conhecimento. Esse pensamento
contribuiu, em grande parte, para considerar as emoções mais como resultado do que como uma
realidade constitutiva e irredutível da subjetividade humana. Assim, o estudo das emoções e das
camadas estreitamente relacionadas com elas foi um dos aspectos menos abordados pela
psicologia, em virtude das influências racionalistas e positivistas dominantes em todo o âmbito da
cultura ocidental. Da mesma maneira, as emoções como processos inerentemente subjetivos
passam a ser submetida a reduções tanto no que diz respeito a relações neurológicas, como nas
construções da linguagem.
Para Martins (2004), a emoção pode ser traduzida como sendo uma reação global do
organismo a certas situações externas ou internas. E é global porque mobiliza o ser inteiro
envolvendo a mente e o corpo. Dessa forma, entende-se que as situações que as desencadeiam
podem ser externas, como quando uma pessoa é ofendida e se enraivece, ou internas, como
quando se lembra de algo que aconteceu a algum tempo e se entristece. Assim, as emoções com e
como os processos cognitivos, constituem uma dimensão organística geradora de sentido. Em
muitas situações são elas, e apenas elas, as fontes imediatas de significação que nos permitem
entender um ato nosso ou do outro. Como exemplo, a intensidade da raiva causada por uma
grande ofensa, dará sentido a atos agressivos ou defensivos.
assim, um conjunto de reações emocionais que nutrem seu sentimento de inferioridade física,
psicológica e intelectual, fazendo com que este recorra sempre à insinceridade como mecanismo
de defesa na sua convivência cotidiana. O sentimento de solidão torna-se devastador e
insuportável porque se assenta no desmoronamento de suas esperanças decorrentes da frustração
afetiva.
Melman (2000), interpreta o alcoolista como um sujeito marcado por uma insatisfação
constante consigo mesmo devido a sua não realização pessoal na sociedade. O sujeito procura no
álcool o refúgio para alcançar sua satisfação, pois, sua existência se apresenta, na realidade,
permeada por uma sensação de insuportabilidade carregada de sofrimento. Esse autor acrescenta,
ainda, a dependência relativa do alcoolista em relação à figura feminina da qual espera sempre a
satisfação perfeita e absoluta. Melman relata que "...o discurso do alcoolista se modula por uma
submissão particular ao lugar de seu exclusivo endereçamento: à mulher, enquanto detentora e
distribuidora de um gozo cuja totalização seria para ele sempre recusada ou dissimulada" (p.16).
Esse posicionamento leva-nos a pensar que, o que faz falta ao alcoolista é o reconhecimento e o
respeito dentro da própria constelação familiar.
Deste modo, acredita-se que o alcoolismo teria como função conduzir o indivíduo ao
comportamento de fuga, devido ao sentimento de inadequação encoberto por ideais de grandeza,
de perfeccionismo e de exibicionismo, apresentados face à sua auto-imagem negativa. A
incapacidade para assumir responsabilidades num relacionamento amoroso permanente, também
é uma outra característica do alcoolista.
Acredita-se que o fato da esposa se sentir incapaz de mudar as coisas com as quais é
forçada a conviver pode causar preocupação e ansiedade constante. O comportamento do parceiro
alcoolista pode gerar incerteza e confusão adicionais, pois ele se torna cada vez mais
imprevisível. Ao sair, a esposa se preocupa com o que acontecerá na volta, ou seja, quando o
marido sai, ela teme pelo pior quando ele voltar; uma briga familiar ou alguém machucado se
houver um histórico de agressão.
Dúvidas a respeito de si própria também podem causar ansiedade. Talvez ela não
saiba como tratar o bebedor, uma vez que, se o desafiar, poderá desencadear uma discussão. Uma
discussão nesses termos pode provocar ansiedade e essa surge para a esposa de alcoolista
problemático devido às incertezas que envolvem o cotidiano ao lado de quem bebe. Ela se instala
quando se tenta prever e controlar o comportamento de um alcoolista, esperando protegê-lo e a si
próprio. Não se sabe como controlar um dependente alcoólico, mas o desejo de tentar fazer isso
pode se tornar obsessivo.
No caso de esposas de alcoolistas, a ansiedade não é causada apenas pelo que está
acontecendo à sua volta. Ela também é produzida pelos pensamentos e sentimentos sobre o que
está lhe acontecendo ou pelas expectativas irreais em relação a si própria. Talvez, esteja
esperando de si mesma algo que ninguém pode esperar, e pode estar se criticando constantemente
por não conseguir o impossível.
40
Segundo Edwards (1999), vários estudos foram realizados para explicar o que pode
acontecer num casamento que um dos parceiros é alcoolista. Cada uma dessas abordagens pode
proporcionar um entendimento útil, mas descrições esteriotipadas dessas esposas não possuem
nenhuma validade geral. Uma dessas abordagens é que a esposa na verdade deseja que o marido
continue bebendo. Observa-se o fato de haver uma grande probabilidade dessas esposas terem um
pai alcoolista, e argumenta-se, também, que essa mulher, então, se casa com um alcoolista com
quem ela pode continuar encenando seus problemas dinâmicos não-resolvidos. Sendo assim,
acredita-se que essa esposa vai atrapalhar o tratamento, de forma sutil ou abertamente. As
evidências não apóiam a noção de que todas as esposas seguem exatamente o mesmo caminho,
mas, às vezes, podemos reconhecer certas fases.
Pode-se dizer, também, que um aspecto adicional freqüente que ocorre em famílias
em que o marido é o alcoolista, é o estresse imposto pela imprevisibilidade do que vai acontecer;
a esposa nunca sabe se o marido vai chegar do bar num estado sentimental ou piegas, ou se ele
vai estar furioso e começar a atacá-la. Assim, esses problemas emocionais incluem ansiedade,
medo e infelicidade, muitas vezes existe um elemento de dúvida sobre si mesma ou auto-
acusação; ela se pergunta se o problema surgiu porque ela é má esposa, ou por ter falhado
sexualmente ou de alguma outra maneira com ele. Ela também pode ficar perplexa com o conflito
agudo dos sentimentos que nutre em relação ao marido; ela casou com esse homem porque o
amava, só que agora chega a sentir repulsa em relação a ele. Dessa forma, percebe-se que existe
um senso de privação e perda emocional – o homem com quem ela casou desapareceu. Ela
mesma começa a sentir-se desvalorizada ou esgotada.
A partir da visão desse autor, pode-se entender que as emoções como (medo, paixão,
ódio ou desejo), são manifestadas na ação social das pessoas, por ser um dos principais
processos de construção dos sentidos e não é suficiente apenas identificá-las, é necessário, na
intervenção terapêutica, compreender como essas emoções são qualificadas pelo sujeito nos
cenários sociais em que está inserido, como também é preciso que o terapeuta estabeleça algumas
referências sobre suas possibilidades e impossibilidades de tratamento, a serem elaboradas
segundo a singularidade dos processos emocionais de seus pacientes.
Esse grupo de ajuda aos familiares de alcoolistas, o Al-Anon, revela ainda que as
esposas e filhos de alcoolistas não dizem o que pensam porque preferem evitar brigas e
aborrecimentos e por receio de magoar a pessoa que o marido é em sobriedade, tendo como
conseqüência a repressão da raiva e uma transferência desse sentimento a outras pessoas, como
exemplo um filho.
De acordo com Gonzalez Rey (2003), o indivíduo é sujeito do pensamento, mas não
de um pensamento compreendido de forma específica em sua condição cognitiva, e sim de um
pensamento percebido como processo de sentido, assim, esse sujeito atua por meio de
circunstâncias e conteúdos referentes à emoção do sujeito. Desse modo, os sentimentos de raiva
e de mágoa da esposa e de filho de alcoolistas podem ser compreendidos não por seu estilo
cognitivo, mas por seu sentido subjetivo, pelas significações e emoções que se pronunciam em
43
sua manifestação. Nesse contexto, essa esposa e esse filho, são portadores de uma emoção
comprometida de forma simultânea com sentidos subjetivos de origens diferentes, mas que
comparecem no espaço familiar, no qual apresenta-se em um determinado momento de relação e
de ação.
Beattie (1997), postula que esposas de alcoolistas apresentam um comportamento
bio-psico-social que se assemelha ao próprio dependente. Tal comportamento é definido como
sendo uma condição conseqüente do contato prolongado com regras opressivas, que impedem a
abertura de sentimentos e a discussão de problemas pessoais.
Essa autora complementa, ainda, que essas mulheres não conseguem administrar suas
vidas em função da relação comprometida com o alcoólatra e que se deixaram influenciar pelo
comportamento de outra pessoa, e vivem obcecadas em controlar o comportamento desse outro; é
como se formasse uma parceria na codependência. Dessa maneira, pode-se concluir que a
codependência é “uma condição emocional, psicológica e comportamental que se desenvolve
como resultado da exposição prolongada de um indivíduo a – e a prática de – um conjunto de
regras opressivas que evitam a manifestação aberta de sentimentos e a discussão direta de
problemas pessoais e interpessoais.” (p. 45)
No estudo realizado não há referências e nem características claras sobre o seu perfil
da esposa de alcoolista, mas, segundo Edwards (1999), elas repetem alguns “estilos de
subterfúgios” (p. 61) nomeados de: afastamento – o contato é minimizado tanto quanto possível,
existe um retraimento emocional e físico; o ataque – a esposa tenta controlar o comportamento
do marido censurando-o, gritando, ameaçando deixá-lo e às vezes, atacando-o fisicamente. Ela o
avisa que já falou com o advogado. A bebida é derramada na pia; a manipulação – inclui vários
comportamentos como tentar envergonhar o marido, com a esposa mostrando sua angústia ou
enfatizando o sofrimento dos filhos, ou embriagando-se intencionalmente “para mostrar como ele
é”; o mimo – outra estratégia na qual a esposa cuida dele durante as ressacas ou lhe promete
benefícios especiais se ele melhorar seu comportamento. Dessa forma, ao invés de se prender a
uma tentativa de esteriotipar essas mulheres é mais fácil apontar sua codependência, que é a
forma com que as esposas de alcoolistas se comportam para tentar manter ou suportar o
alcoolista.
44
Dessa maneira, a emoção não consiste apenas em uma percepção de si próprio, mas
também necessita do conhecimento da situação, dos eventos (ou representação destes) em que
ocorrem, e o impacto dessa situação merece uma avaliação cognitiva. A emoção é percebida
também pelos outros, suscita reações de sua parte e certamente isso tenha por função primordial a
comunicação.
Segundo Roussaux (2000), os próprios doentes alcoólicos falam das dificuldades que
sentem em relação aos filhos. Esses pais não são insensíveis ao sofrimento que provocam ou que
provocaram. O distanciamento profundo entre eles e o seu meio, durante os períodos de
alcoolização, impede com freqüência qualquer tentativa de diálogo e obriga os filhos a
desenvolverem mecanismos de defesa para sobreviverem a isso.
Esse pai alcoólico sente por vezes impotente para assumir o seu lugar de pai, que
deixou disponível por muito tempo. A vergonha o impede de fazer qualquer tentativa de
comunicação. Em virtude disso, a vergonha é percebida como um sentimento que atinge
profundamente os filhos de alcoólicos e que os leva a isolarem-se e a calarem-se. Da mesma
forma são crucificados pela imagem de decadência do pai consumido. Para eles é doloroso terem
de suportar esses comportamentos aberrantes, os gestos e palavras incoerentes, discursos
desconexos e repetitivos, e os excessos de todo o gênero.
45
Gonzalez Rey (2003), assinala que a emoção caracteriza o estado do sujeito perante
toda ação, dessa forma, os sentimentos de filhos de alcoolistas estão associados às ações, por
meio das quais caracterizam o pai alcoolista no espaço de suas relações sociais. Assim, o sentido
subjetivo do emocionar-se é uma condição complexa da atividade humana que se manifesta pela
relação de uma emoção com outros espaços simbolicamente organizados, dentro dos quais ela
transita.
Segundo Damásio (1999), o fato de ligar, de uma forma objetiva e científica a área
emocional dos indivíduos com a razão e a racionalidade, representou uma nova rotura com o
estado da arte, uma nova mudança de paradigma. Para esse autor, à primeira vista, não existe
nada de caracteristicamente humano nas emoções, uma vez que é bem claro que os animais
também as têm. No entanto, há qualquer coisa de muito característico no modo como as emoções
estão ligadas aos ideais, aos valores, aos princípios e aos juízos complexos que só os seres
humanos podem ter, sendo nessa ligação que reside a idéia legítima de que a emoção humana é
especial.
Ainda, para esse autor, o impacto das causas da emoção e de todas as tonalidades de
emoção que estas provocam no ser humano depende dos sentimentos gerados por essas emoções.
É através dos sentimentos dirigidos para o interior tornando-se privados, é que as emoções, ao
serem dirigidas para o exterior tornando-se públicas, iniciam o seu impacto na mente. Entende-se,
aqui, que o impacto completo e duradouro dos sentimentos exige também a consciência, pois só
com o advento do sentido de si podem os sentimentos tornar-se conhecidos do indivíduo que os
experimenta. Dessa forma, a consciência tem de estar presente para que os sentimentos possam
influenciar o sujeito que os tem, para além do aqui e agora imediato.
O fato de numa família ter alguém usuário de bebida de alcoólica, aciona nos demais
membros uma série de mecanismos que visam o resgate da estabilidade perdida. Assim, a
46
alcoolização como um viés de conduta, é capaz de gerar numa família inúmeros sentimentos,
dentre eles, a ansiedade, vergonha, raiva etc., que podem por sua vez levar à culpa e à negação.
Isso acaba por determinar o isolamento social, bem como um ambiente familiar de constantes
brigas e ressentimentos.
De acordo com Trindade (1992), o relacionamento dos pais em que um dos dois é
alcoolista, este é percebido como cheio de problemas, eles acabam por adotar alguns
comportamentos do tipo: o filho mais velho se torna confidente da mãe e rival do pai, pois muitas
vezes aquele se vê tendo que cumprir a função deste; dificuldade em confiar nas pessoas devido à
falta de comunicação e o excesso de mentiras, duplos sentidos e falas promessas do alcoolista;
problemas com autoridade.
Outro problema no estudo das emoções é a diversidade com que são designadas e
encaradas em culturas diferentes, suscitando, certamente, dificuldades de comparação. Todavia, o
construto das representações sociais permite um recorte epistemológico para a investigação
relevante e factível da estruturação e representação social das emoções (Ades, 1993).
47
fator, tem se tornado uma área muito explorada e discutida dentro da literatura. Mandler (1982)
expressa essa preocupação de estabelecer conexões entre cognitivo e emocional dizendo que, da
mesma forma que as do adulto, as emoções das crianças são construídas partindo de uma
variedade de eventos, dentre os quais podemos encontrar aqueles de natureza cognitiva e aqueles
de natureza visceral, a partir de sinais culturais e idiossincráticos, e de estruturas inatas e
aprendidas.
49
CAPÍTULO III
3. CAMINHOS TERAPÊUTICOS
membros da família constituem-se também como vítimas da dependência, junto com ele. A
ocorrência de conflitos, agressões, privações, desespero vividos pelos familiares, decorrentes do
convívio com a bebida, complicam as relações familiares gerando implicações dolorosas para
todos, podendo causar uma forte desestruturação na estabilidade familiar (Edwards, 1999). Em
virtude do exposto, é preciso buscar a reorganização interna que, por sua vez, depende de sua
estrutura e funcionamento enquanto grupo e, também, de seus membros, individualmente.
Assim, a família passa, então, por um longo processo de superação até chegar à aceitação, da
negação, da raiva, da revolta e da rejeição, dentre outros sentimentos, provocados pelo
alcoolismo de um membro da família..
pensar e sentir no self e nos outros e aprender a usar a capacidade para gerir a sua própria vida e
resolver os problemas. A mudança no sistema familiar requer a reabertura de laços familiares
próximos e a destriangulação, que cria as condições para a autonomia e o crescimento individual.
Assim, os sintomas são desenfatizados (Bowen, apud Nichols, 1998). Diante do exposto, para
mudar o sistema, e permitir que os membros da família atinjam níveis mais elevados de
diferenciação, a modificação deve ocorrer no triângulo mais importante da família – aquele que
envolve o casal. Para conseguir isso, o terapeuta cria um novo triângulo, composto dele próprio e
dos dois membros principais da família. Se o terapeuta permanece em contato com os cônjuges,
embora, permanecendo emocionalmente neutro os cônjuges podem iniciar o processo de
destriangulação e diferenciação que vai mudar profunda e permanentemente o sistema familiar.
Por essa razão, a função do terapeuta não é estabelecer disputas, mas ajudar o marido
e a esposa a expressar idéias, pensamentos e opiniões para o terapeuta na presença do outro
cônjuge. Se um deles irromper em lágrimas, o terapeuta deve permanecer calmo e inquirir sobre
os comportamentos que despertaram as lágrimas. Se o casal começa a discutir, o terapeuta torna-
se mais atuante, calmamente questionando um, depois o outro, e se concentrando em seus
pensamentos.
Esse modelo retira o foco dos sintomas e o transfere para a dinâmica dos sistemas. O
tratamento desencoraja os terapeutas de tentar “fixar” os relacionamentos, e em vez disso
encoraja os clientes a começar um esforço prolongado rumo à autodescoberta. Entretanto, isto
não é apenas uma questão de introspecção, mas de realmente se fazer contato com a família. Os
clientes estão equipados para estas jornadas de autodescoberta com instrumentos cognitivos para
compreender seus próprios padrões de ligação e desengajamento emocional.
52
Dessa forma, o terapeuta tem que saber como essa família explica o sofrimento
emocional, porque tudo isso tem um sentido único. E é interessante saber nessa narrativa
dominante, qual o sentido que aparece. Observa-se, entretanto, que nenhum membro dessa
família tem parado para entender o que está acontecendo com o outro, e o terapeuta tem que
intervir nessa história para saber qual é o sentido que esse sofrimento e esse distanciamento
emocional tem para cada um especialmente para a esposa e os filhos.
Segundo Calil (1987), a terapia Familiar Estrutural enfatiza a qualidade das fronteiras
que delimitam a família e seus subsistemas. Essa qualidade é determinada pelo padrão de
interação de seus componentes, ou seja, há uma seqüência de comportamentos padronizados, de
caráter repetitivo, governados por regras que definem quem participa em cada subsistema e de
que maneira ocorre esta participação. Algumas famílias desenvolvem fronteiras muito difusas;
enquanto que outras podem desenvolver fronteiras muito rígidas e a comunicação entre seus
membros fica prejudicada. Assim, as características das fronteiras do sistema é que acrescentarão
as intervenções terapêuticas a serem utilizadas.
A terapia Estratégica Breve formulada por Paul Watzlawick e seus colegas (1974,
apud Calil, 1987), fundamenta-se no pressuposto de que diversos tipos de problemas trazidos
53
pelo paciente ao terapeuta, só persistem se forem mantidos pelo comportamento atual das pessoas
que interagem com o paciente e seus problemas. Se a rede de interação que mantém o problema
for eliminada, o problema desaparecerá, qualquer que seja sua natureza ou origem.
Pode-se perceber que algumas famílias lidam apropriadamente com este dilema.
Outras, contudo, apresentam-se incertas quanto a mudanças, as quais são percebidas como
ameaça aos padrões estáveis de relacionamento. Como resultado da incapacidade de lidar com
mudanças, os membros da família se comportam de maneira a limitar crescimento, mantendo
padrões arcaicos de disfunção interacional. Acredita-se, dessa forma, que as famílias
54
sintomáticas, no nosso caso, a família alcoolista, tem tendência a apresentar uma atitude
disfarçada: comporta-se como se o problema não existisse a nível sistêmico - mantém uma visão
linear do problema; restringem a visão da realidade ou a distorcem; agem como se fosse
intolerável obter uma informação acurada dos eventos e relacionamentos que envolvem
problema.
De acordo com Calil (1987), para o Grupo de Milão, o membro sintomático pode ser
ajudado, quando a percepção restrita de seu problema, de si mesmo e dos outros é ampliada. No
processo terapêutico o terapeuta se coloca diante da família de forma neutra e a interação entre os
membros da família, durante a entrevista deve ser desencorajada. Sendo assim, o terapeuta faz
perguntas de forma sistemática e constante (porém informal), ampliando seu campo de
exploração até se deparar com um campo de indagação significante para todo o sistema.
Nesse sentido, segundo os AA, o desgaste físico e moral do alcoólico tem como
característica o egocentrismo. De fato, percebe-se que o alcoolismo provoca um auto-
centramento – egocentrismo –, potencializando o narcizismo do alcoólico. Verifica-se que esse
indivíduo está sempre isolado e fechado em si mesmo, ele acredita que é capaz de controlar o ato
de beber a partir da própria vontade. Esse narcizismo faz com que indivíduo alcoólico acredite
ser alguém que pode tudo e que é senhor de seus atos. Com isso, ele nega para si mesmo e para os
outros que é portador da ‘doença do alcoolismo’. Como conseqüência do seu egocentrismo, o
alcoólico não vê o Outro; ele nega a alteridade exterior fechando-se em seu próprio universo.
Em virtude desse conceito, o egocentrismo absoluto pode ser visto nos casos em que
os sujeitos alcoolistas só vêem a si mesmos e se guiam por suas próprias normas, sem se importar
de atingir o outro com seu comportamento. A devoção absoluta às regras sociais fica clara, por
56
exemplo, quando qualquer situação individual não é examinada de acordo com as condições e
sim de acordo com a exigência da norma social, isto é, não há flexibilidade.
De acordo com Miller (1990, apud Edwards, 1997, p. 213), a espiritualidade foi
descrita como sendo “a dimensão silenciosa na pesquisa da adição”. Isso quer dizer que os AA
desafiam a comunidade acadêmica a pensar mais abertamente sobre o significado da
espiritualidade na recuperação da dependência do álcool. Segundo ele, o cientista enfrentará
dificuldades para aceitar uma definição operacional do que significa a dimensão espiritual, e
certo medo de que a tentativa de definições seja contaminada pelo reducionismo e ignore a
essência.
Sendo assim, acredita-se que existe uma escala para a mensuração da espiritualidade e
ela tem sido utilizada na pesquisa sobre o álcool. Foi sugerido que os AA não são um programa
de auto-ajuda, mas um programa de ajuda-de-Deus (Kurtz, 1993 apud Edwards, 1997), que
podem operar através de uma força espiritual, e que a espiritualidade é o único ingrediente do
sucesso dessa associação.
recuperação tem a ver com descobrir um caminho para Deus, embora provavelmente para outros
o importante seja descobrir que é possível estar sóbrio e feliz. A recuperação, de acordo com o
exposto, tem a ver com certas maneiras simples de olhar diferentemente a si mesmo, aos outros e
às situações, e também tem a ver com adquirir as habilidades de reagir de forma diferente os
motivos que no passado teriam levado à bebida.
Apesar de várias críticas a esse trabalho, pelo próprio conceito de doença, o AA trata
o indivíduo como alguém que não está sendo aceito e com muitos problemas, procurando a
substituição dos sintomas pelo entendimento da doença e do doente em si. Esse grupo trabalha
com os depoimentos ou comentários de outros freqüentadores, na qual a tônica constante é o
confronto usado com muita propriedade para alertar o indivíduo sobre seus próprios mecanismos
de defesa e proporcionar a oportunidade de auto-avaliação. Paralelamente, a isso, o fato de ser
recebido como alguém importante, que não vai dever nada a ninguém, mas que será
compreendido e respeitado, permite uma melhora da auto-estima tão arrasada.
suportável, geralmente as próximas 24 horas, tendo por base que, evitando o primeiro gole,
certamente será mais fácil reter todo o processo da perda do controle que a doença alcoolismo
impõe ao indivíduo acometido por ela.
Segundo Bateson (1998) amigos e parentes do alcoólatra comumente pedem que seja
“forte” e que “resista à tentação”. O que querem dizer com isto, é algo que não está muito claro,
mas é significativo que o alcoólatra mesmo quando sóbrio, está de acordo com aqueles na visão
de seu “problema”. Crê que poderia, ao menos deveria, ser o “capitão de sua alma”. Mas uma das
crises do alcoolismo é que depois “desse primeiro trago” a motivação para deixar de beber se
reduz a zero. Tipicamente, todo o problema se formula abertamente como uma batalha ente o si
mesmo e garrafa. Sutilmente, o alcoólatra pode estar planejando, e secretamente suas previsões
para a próxima taça, mas é quase impossível conseguir que o alcoólatra ainda sóbrio planeje essa
próxima taça de maneira expressa e manifesta. Aparentemente, não pode ser o “capitão” de sua
alma e querer ou partir ordens. O “capitão” só pode dar ordens na sobriedade, mas, normalmente,
não é obedecido.
Nagel (1988, apud Hill et col, 1998), investigou como os alcoolistas ajustam ou
modificam suas identidades através de metanarrativas, contando estórias sobre suas vidas em
reuniões de Alcoólicos Anônimos. O estilo que eles desenvolveram para falar de suas vidas como
alcoolistas foi chamado pelo autor de auto-generativo, e poderia ainda ser chamado de auto-
reflexivo. Em razão disso, a oportunidade para os alcoolistas conferirem suas realidades pessoais
aumenta com as narrativas, já que outros estão ouvindo o que eles dizem. Conforme seguem
falando de suas vidas, eles adotam uma perspectiva mais saudável de seus mundos-vividos
através da adoção de uma metanarrativa. Essa metanarrativa funciona como uma mensagem auto-
reflexiva, pela qual os participantes puderam rever os roteiros de suas vidas e iniciar o
movimento de mudança, de volta à sociedade.
Como membro da família, o filho de alcoolista tem um ponto de vista quanto aos
acontecimentos. Entretanto, nesse sistema vicioso (sistema alcoólico), as perspectivas não são
livremente discutidas ou compartilhadas com pessoas de dentro ou fora da família. O único modo
de conhecer a semelhança ou divergência entre perspectivas desses dependentes e dos outros é a
comunicação explícita. Sendo assim, programas de recuperação e atendimento a alcoolistas e seus
familiares, como Alcoólicos Anônimos e grupos de encontro de parentes de alcoolistas, como o
Al-Anon, envolvem processos comunicacionais.
Na busca pela recuperação possibilita ao alcoólico sua reintegração na sua rede social,
ou seja, os laços que foram rompidos ao longo do tempo do alcoolismo ativo passam a ser
61
3.3. Al-Anon
Segundo J. Ablon (1974, apud Roussaux, 2000), o cônjuge membro do Al-Anon teria
três objetivos básicos: a desvinculação afetiva – uma pessoa só tem a possibilidade de mudar por
62
Considerando, a exposição desse autor, entende-se que esse grupo leva em conta a
ansiedade gerada pela situação que muitas vezes escraviza o familiar e o faz querer resolver o
problema pelo alcoolista, ou, ainda, controlar e alterar seu comportamento sem antes ter resposta
para muitas de suas perguntas e sem poder fazer isso com suas próprias emoções. Verifica-se,
também, que os seus métodos de trabalho são muito parecidos com os do AA, por se tratar
igualmente de grupos de auto-ajuda que têm origem muitas vezes nesses outros, com o uso dos
12 passos devidamente adaptados e estrutura de funcionamento dos grupos nos mesmos moldes.
CONCLUSÃO
A realização deste trabalho, por meio de uma revisão bibliográfica, teve como
objetivo abordar questões emocionais referentes à dinâmica relacional da família de um
dependente alcoólico. A necessidade de traduzir termos técnicos numa linguagem acessível e de
explicar conceitos tão incorporados à prática que já não suscitam questões de onde ou como
surgiu tal fenômeno levou a um exercício de reflexão sobre o funcionamento da dependência
alcoólica dentro do contexto familiar.
sociais específicos. Não se pode deixar de considerar que o contexto familiar, com sua conotação
de sistema, pode ser um importante catalisador para a mudança, mas, também, pode ser precursor
de arbitrariedades, especialmente em famílias nas quais o consumo de bebidas alcoólicas está
muito presente. Neste sentido, é fundamental a mudança de paradigma possibilitadora do
entendimento desse fenômeno que envolve a família para que haja mudanças ao invés de limites.
Ficou evidente, neste trabalho, que, nas relações, as redes sociais e pessoais dos
indivíduos que as compõem são muito complexas, portanto, difíceis de serem encaixadas em
determinados padrões. O modelo proposto por Sluzki (1997) foi um instrumento que facilitou a
visualização do sistema de maneira mais didática, levando-se em conta as diversas composições
do ser humano e todas as formas que suas relações assumem.
construindo, em parceria, soluções que incluam a formação de uma rede social que apóie e
amplie as possibilidades de mudanças. É necessário considerar a importância dos membros de
uma família cuidarem uns dos outros, conforme seus papéis construídos ao longo da história
familiar, relacionando-se de forma direta, transparente e objetiva, dando à família o valor de
destaque na organização dos sentimentos.
ao misto de emoções que a leitura das narrativas dos seus personagens provoca: indignação,
revolta, culpa, vergonha, tristeza. Esses aspectos emocionais foram identificados presentes ao
longo do trabalho, atingindo-se, assim, o objetivo proposto.
Por fim, conclui-se que o trabalho do psicólogo não se deve resumir apenas à pessoa
cuja organização subjetiva foi comprometida de alguma forma, mas compreender todos os seus
familiares, nas suas relações, enquanto formadores da instituição social. Assim, acredita-se na
possibilidade de desenvolverem-se mais estudos que possibilitem discutir esse processo
67
relacional humano em sua complexidade com eficácia, visando a uma modificação voluntária dos
estados de consciência do próprio alcoolista e dos membros familiares, no que se refere às
possibilidades de mudanças da dinâmica relacional estabelecida entre esses e a sociedade. O
psicólogo deve ter a capacidade de compreender e considerar as dores emocionais presentes na
dinâmica do indivíduo e do grupo a que pertence.
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