Encantamento Com A Literatura Infantil Contribuições A Prática Pedagógica para Formação de Leitores
Encantamento Com A Literatura Infantil Contribuições A Prática Pedagógica para Formação de Leitores
Encantamento Com A Literatura Infantil Contribuições A Prática Pedagógica para Formação de Leitores
PORTO VELHO
2015
ENCANTAMENTO COM A LITERATURA INFANTIL: CONTRIBUIÇÕES À
PRÁTICA PEDAGÓGICA PARA FORMAÇÃO DE LEITORES
UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
NÚCLEO DE CIÊNC IAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ESCOLAR
MESTRADO PROFISSIONAL
PORTO VELHO
2015
ANDREIA DOS SANTOS OLIVEIRA
PORTO VELHO
2015
Ao meu pai, por me apresentar ao mundo
encantado da leitura literária.
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora pela paciência e dedicação que teve comigo durante todos
esses meses.
Aos professores, colaboradores dessa pesquisa, sem os quais esse estudo não se
concretizaria.
Aos meus amigos de sala do IFRO, por também ouvirem minhas angústias e me
incentivarem.
Ao Silvio Luiz, meu namorado, por me incentivar, ajudar, ouvir e acreditar em mim.
RESUMO
ABSTRACT
5 AÇÃO-REFLEXÃO-AÇÃO 88
5.1 Temáticas que emergiram no processo 88
5.1.1 Formação inicial e continuada 89
5.1.2 Concepções e conceito da literatura infantil 92
5.1.3 Saberes temporais 95
5.1.4 Prática em sala de aula 96
5.1.4.1 Planejamento das atividades de leitura 96
5.1.4.2 Critérios das escolhas das obras 99
5.1.4.3 Dificuldades no trabalho com a leitura literária 101
5.1.4.4 Estratégias de motivação para a leitura literária e interpretação 103
textual
5.1.4.5 Contação de histórias 105
5.1.4.6 Momento escolhido para a leitura de fruição 109
5.1.4.7 Estratégias de incentivo à leitura literária 110
5.2 Planejamento da ação 112
5.3 As oficinas 117
5.3.1 Oficina 1 (08 de novembro de 2014) 117
5.3.2 Oficina 2 (15 de novembro de 2014) 122
5.3.3 Oficina 3 (22 de novembro de 2014) 127
5.3.4 As duas últimas oficinas (22 de novembro de 2014) 130
5.4 Proposta de ação: o plano de ação 131
REFERÊNCIAS 142
APÊNDICE B 148
APÊNDICE C 150
APÊNDICE D 152
APÊNDICE E 154
APÊNDICE F 155
APÊNDICE G 156
APÊNDICE H 157
ANEXO A 158
ANEXO B 159
12
Tarefa árdua decidir por onde começar a escrever as palavras iniciais, ou, de
uma forma mais acadêmica, a introdução de minha dissertação. São tantos
acontecimentos, ideias, concepções. Mas é preciso começar por algum lugar. E
essa dúvida me persegue e me remete a Guimarães Rosa (2001, s/d): “Quando
escrevo, repito o que já vivi”. Decidi, então, iniciar meu texto apresentando minhas
vivências pessoais de leitora de textos infantis e para reviver minha infância, tomei
emprestado da boneca Emília 1 um pouco de seu pó de “pirlimpimpim” que me
transportou para lugares outrora adormecidos.
Estudei minha 2 1ª série (hoje 1° ano do ensino fundamental) em uma escola
rural multisseriada. Nela não havia biblioteca nem livros de literatura. Líamos apenas
“textos” presentes na cartilha Pipoca que muito tempo depois compreendi que não
passavam de um amontoado de frases. Minha sala de aula não era um ambiente
letrado, os papeis nas paredes se limitavam a cópias de figuras trazidas pelo
professor para colorirmos ao final de cada lição. Lembro em especial de uma panela
cheia de pipocas que colori de vermelho. Toda turma riu, afinal nunca tinham visto
pipocas daquela cor. Morávamos todos na zona rural, raramente íamos a uma
cidade e se íamos nunca tínhamos visto pipoca doce e colorida. Anos depois
descobri que minha “arte” não estava tão “errada” assim.
Nasci e cresci sendo contemporânea em uma escola tradicional que não
sabia a importância de nos apresentar ao maravilhoso mundo da leitura. Ao mundo
encantado dos contos de fadas, bruxas, princesas e castelos. Mas , felizmente, meu
pai conhecia essa importância, e desde muito cedo me apresentou esse mundo.
Nunca mais saí dele. Não me presenteava com bonecas e nem pelúcias, mas sim
com coleções encantadoras de livros literários. Ganhei livros tão lindos, coloridos, e
1
A boneca Emília foi criada pelo escritor brasileiro Monteiro Lobat o em 1936. A boneca sempre que
deseja se transportar para outros lugares faz uso de um pó mágico chamado por ela de pirlimpimpim.
2
Apenas a introdução deste trabalho encontra-se redigida na 1ª pessoa do singular. As demais
seções encontram -se na 1ª pessoa do plural, tendo em vista tratar-se de uma pesquisa construída de
forma colaborativa.
13
com histórias tão encantadas que não me cansava de ler e reler. Ele não apenas me
dava livros, mas também contava histórias, algumas inventadas por ele mesmo.
Histórias lindas, mágicas e muitas vezes tão tristes que sempre chorava no final.
Nunca mais parei de ler e me encantar com tudo que a leitura proporciona,
principalmente com a literária: a emoção a cada página lida, ouvida, o adentrar na
história e a inserção no papel da protagonista. Sentia ainda os medos com as
histórias de terror, a emoção com finais tristes. Lia, aprendia, deliciava -me. Não tive
um professor mediador de leitura, mas tive um pai a quem devo o prazer de viver
entre esses objetos encantados.
Ironicamente, ou, o mais surpreendente é que meu pai era o meu professor.
Por falta de uma formação adequada, ele não sabia da importância de fazer em sala
de aula aquilo que fazia em casa. Muitos alunos da sala não desenvolveram o hábito
de ler. Faltaram-lhes os dois: professor e pais incentivadores da leitura. Lendo A
Cinderela, Branca de Neve, Os sete anões, O pequeno Polegar...cresci.
Escolhi e graduei-me em Letras e tive a chance de fazer em sala de aula o
que meu professor não fez, mas aprendi com meu pai. Porém, trabalhava apenas
com alunos dos Anos Finais do Ensino Fundamental e com o Ensino Médio. E
muitos deles chegavam a mim já com verdadeira ojeriza à leitura, ao que infiro ter
sido fruto da forma como esta lhes fora apresentada. No entanto, durante o ano,
apresentava a leitura literária a esses alunos da forma mais agradável e significativa
possível. Iniciava dizendo que podiam escolher o livro que desejassem para ler.
Como estavam acostumados a realizar a leitura de forma obrigatória, ficavam meio
assustados. Então, íamos todos à biblioteca escolar e solicitava que olhassem as
prateleiras, tocassem os livros, admirassem as imagens (caso houvesse), podiam
até mesmo sentir o cheiro do papel, às vezes envelhecido, outros novinhos em folha.
Após essa prática e já todos com um livro, dizia a eles que, caso não gostassem
daquela leitura, poderiam retornar à biblioteca e substituir por outra.
Posterior a isso, todos os dias fazia a leitura de um texto. Aproveitava o
momento também para questioná-los sobre o livro que estavam lendo. Muitos se
mostravam animados com a leitura. Com o passar dos dias, os próprios alunos
pediam para escolher um texto para ler em sala. Ao final de cada mês também
fazíamos uma roda de conversa sobre as obras lidas. Abria a roda falando da leitura
realizada por mim naquele mês. A primeira vez que fazia isso com a turma, sempre
14
3
O Programa de formaç ão continuada GES TA R I fez part e do P rograma de Melhori a do Rendimento
Escolar do ME C. O programa iniciou em Rondônia no ano de 2006 e atendeu os professores de 1º
aos 5º anos do ensino fundamental com as disciplinas de Língua Port uguesa e Matemática. Já o
programa P ró-letrament o foi um programa de formação co ntinuada oferecido pelo ME C, para a
melhoria da qualidade da aprendizagem da leitura/escrita e matemática nos anos iniciais do ensino
fundamental. Em Rondônia, o programa foi oferecido no ano de 2012.
15
4
Prova Brasil é uma avaliação diagnóstica, em larga escala, desenvolvida pelo Instituto Nacional de
Estudos e P esquisas Educacionais Anísio Teixeira, que tem o objetivo de avaliar a qualidade do
ensino oferecido pelo sistema educacional brasileiro. As questões são de Língua Port uguesa com
foco na leitura e Matemática com foco em cálculo.
16
5
Nesse trabalho usarei a sigla LI para referir-me a Literatura Infantil.
17
7
Para manter o anonimato, opt ou-s e por chamar P1 para “P rofessora 1” e P2 para a “P rofessora 2”,
sendo que estas siglas não apresentam nenhum juízo de valor.
8
Para proteger a identidade da escola daremos a ela, nesse trabalho, o pseudônimo de escola X.
20
9
Professores de 1º ao 3º ano do Ensino Fundament al que participam do Programa Pacto Nacional
pela Alfabetização na Idade Certa (PNA IC) receberam uma caixa contendo 35 livros de Literatura
Infantil.
10
O Plano Nacional da Biblioteca Escolar foi c riado em 1997 pelo governo federal e objetiva
promover o acesso a cultura e leit ura por meio de distribuição de livros literários , pesquisas e
referências a todas as escolas públicas que atuam desde o ensino infantil, ensino fundamental (anos
iniciais) e educação de jovens e adultos.
21
2.2 Objetivos
2.2.1Objetivo geral
11
Para obter essas informaç ões utilizamos o Projeto Político Pedagógico da Escola.
22
12
Conforme já apont ado na seção 2, para manter o anonimato, opt ou-s e por chamar P1 para
“Professora 1” e P2 para a “Professora 2”, sendo que estas siglas não apresentam nenhum juízo de
valor.
25
b) Observação
Essa etapa ocorreu durante o ano de 2014 nos dias 14, 15, 16, 17, 20, 21 e
22 de outubro, sendo que na sala da P1 a observação ocorreu das 7h30min às
11h30min da manhã e as aulas da P2 foram observadas das 13h30min às 17h30min
da tarde. Os registros das observações foram feitos em um diário de campo. Em
alguns momentos, fotografamos algumas atividades que estavam sendo
desenvolvidas em sala. As observações foram definidas anteriormente com as
professoras, logo após a fase da entrevista. No diário foram anotados todos os
acontecimentos da aula. Porém, para a descrição neste trabalho elaboramos um
recorte e utilizaremos apenas as práticas de sala de aula que têm relação com a LI.
26
d) Formulário
A leitura do quadro deixa entrever que muitos escritos abordam a temática LI,
porém quando se trata do tema formação de professor para trabalhar com a leitura
de textos literários ainda há escassez de produções acadêmicas. Os textos
selecionados para estudos e fichamentos sobre a formação de professores para
trabalhar com a LI apresentavam o resultado de pesquisas-ação de duas
pesquisadoras em turmas do Ensino Fundamental (SANTOS, 2005, OLIVEIRA,
2014) (Anos Iniciais). O que os escritos têm em comum é o fato de abordar a
necessidade de uma formação inicial que contemple mais teoria e prática da LI. Já o
texto que aborda a formação de pedagogo é resultado de uma pesquisa de
doutorado (CARVALHO, 2014) que tem como tese a invenção do pedagogo
generalista.
13
O convite, realizado e exposto no mural, está no apêndice “E” desse trabalho.
30
Os dias definidos para a realização das oficinas foram 08, 15, 22, 29 de
novembro e 06 de dezembro, das 8horas às 12 horas da manhã. Porém houve
alteração nas duas ultimas datas, porque discutiam e abordavam temáticas, ao
nosso ver, dependentes uma da outra: uma abordava o cantinho da leitura e a outra
a produção de materiais para o trabalho com a LI. Como ambas exigiam o trabalho
manual, os professores solicitaram que elas fossem feitas no mesmo dia, pois teriam
mais tempo para confeccionar o material. Conversamos com a diretora e ela
dispensou um dia de aula para a realização dessas atividades que ocorreram no dia
05 de dezembro das 7h30min às 17h30min havendo pausa apenas para o almoço.
Os temas definidos pelas P1 e P2 para as oficinas, durante o momento de reflexão
após a observação, que será descrita na seção 5 desse trabalho foram: Literatura
Infantil e seus diversos gêneros; Planejando as aulas de leitura da Literatura Infantil;
Contação de histórias; Organizando o cantinho da leitura; Produção de materiais
para o trabalho com a Literatura Infantil.
As oficinas iniciavam sempre com a leitura de um texto da LI, sendo que a
primeira iniciou com a leitura da obra Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque de
Holanda. Apenas a oficina de contação de histórias iniciou com uma contação. Após
essa fase, exceto na primeira oficina, destinávamos um espaço logo após a leitura
para que os professores relatassem sobre as atividades de LI desenvolvidas em sala
durante a semana.
À medida que os temas eram discutidos em sala, os professores tinham a
oportunidade de dizer como trabalhavam antes de ter o conhecimento teórico e
sempre saiam das oficinas com uma atividade planejada para desenvolver em sala
ou o encaminhamento para o planejamento. Ao final das oficinas, os professores
faziam uma avaliação, por escrito, que consistia em responder as perguntas: o que
eu já sabia sobre o assunto, o que eu já sabia e pude aprofundar o que ainda
preciso saber, e sugestões para o próximo encontro. Eram momentos em que elas
podiam avaliar as oficinas, e a pesquisadora avaliar o andamento da pesquisa e
intervenção.
McNiff (2002 apud TRIPP, 2005, p.449) afirma que:
[...] a pesquisa-ação implica em tomar consciência dos princ ípios que nos
conduzem em nosso t rabalho: temos de ter clareza a respeit o, tanto do que
estamos fazendo, quanto do porquê estamos fazendo.
31
Esse fato levou todo o grupo a concluir que antes da realização das oficinas,
elas tinham dificuldade em trabalhar com a LI pela falta de conhecimento, estudo,
reflexão sobre o assunto, e se esses momentos de estudo (vivenciados nas oficinas)
acabassem poderia ser que quando outras dificuldades surgissem e eles não
tivessem a quem recorrer desistissem de trabalhar com a LI ou trabalhassem de
forma inadequada. Vimos, portanto, mais uma vez a necessidade de mudar o
planejamento e produzir um plano de ação que visasse a continuidade dessa
formação na escola.
Na seção 3, apresentaremos o resultado da revisão bibliográfica ocorrida ao
longo de todo o processo da pesquisa. Convidamos os leitores a refletir sobre a
temática LI e para isso perpassamos por vários temas, desde a evolução sofrida por
esse gênero no decorrer do tempo à sua utilização em sala de aula.
33
O menino ia no mato
E a onça comeu ele.
Depois o caminhão passou por dentro do corpo do
menino
E ele foi cont ar para a mãe.
A mãe disse: mas se a onça comeu você, como é
que o caminhão passou por dentro do seu corpo?
É que o caminhão só passou renteando meu
corpo
E eu des viei depressa.
Olha, mãe, eu só queria inventar uma poesia.
Eu não preciso de fazer raz ão.
que para ser considerada literária uma obra deve ser tecida com espaços vazados 14,
ser obra aberta, demonstrar a visão do mundo e universalismo.
Ao definir LI, Filho (2009) nos chama a atenção para o elemento
caracterizador “infantil”, haja vista que esse adjetivo, segundo o autor, não deve
servir para subjugar os textos literários produzidos para crianças. O autor esclarece
que o termo infantil manifesta-se apenas na textualidade, já que os temas e valores
debatidos na LI são valores humanos resultantes da trajetória humana ao longo da
história, e não meramente, como muitos acreditam, assuntos presentes apenas no
universo infantil da contemporaneidade. O autor afirma ainda que sendo um dos
objetivos da LI expressar experiências humanas por meio de uma linguagem literária
e adequada ao público infantil torna-se complexa sua definição exata.
A literatura infantil é considerada como tal, por trazer temas de interesse das
crianças e ser escrita em uma linguagem mais simples, contudo, mesmo nessa
simplicidade devem estar evidenciadas as características literárias. Colomer (2003)
afirma que o limite para que um texto seja considerado literatura infantil é o fato de
seu conteúdo e linguagem serem compreensíveis às capacidades de interpretação
dos leitores e também trazer temas que se julguem adequados aos interesses das
crianças.
No Brasil, conforme apontado por Oliveira (2008), a LI surgiu no final do
século XIX, porém com finalidades bem distintas das que conhecemos hoje. A LI
servia primeiramente para ensinar e moralizar e, secundariamente, para divertir os
pequenos leitores. Desde o seu surgimento até os dias atuais foram visíveis as
transformações sofridas nessa forma de arte.
A LI brasileira, em sua origem, sofreu influências das tendências europeias.
Mas até mesmo pelo atraso educacional ocorrido no país, os contos que o francês
Charles Perrault resgatou na França e os contos populares resgatados na Alemanha
pelos irmãos Grimm chegaram ao Brasil apenas um século após terem sido
descobertos. Isso aconteceu no império de Dom Pedro II. Escolas foram abertas e a
educação ganhou um espaço maior e nesse contexto esteve presente a LI. Porém,
esta servia meramente como instrumento pedagógico. Era principalmente por meio
da LI que eram disseminados normas e comportamentos à sociedade brasileira.
Segundo Oliveira (2008, p. 55), nessa época “[...]a existência da LI só se justificava
14
Espaços vazados são lacunas deixadas propositalmente pelo escritor para serem preenchidas
pelo leitor no ato da leitura.
35
para fins didáticos.” A exemplo disso podemos citar o poema Paulina Pega-fogo de
Henrique Hoffmann, publicado em 1844:
A LI brasileira pode ser definida antes e depois de Monteiro Lobato, uma vez
que antes de suas publicações a LI servia apenas como instrumento pedagógico e
moralizador. Na visão de Filho (2009), eram assuntos dos livros para crianças temas
como: moralismo religioso, honestidade e solidariedade. Mas com o surgimento das
36
Para Lobato, nem a criança nem a literatura é algo menor, por isso prezava
a qualidade literária e gráfica. Segundo ele, esse produto cultural (o livro)
era uma semente de trans formação. Como semente, deveria germinar e da r
frutos; portanto, não bastava só editar bons livros, era preciso fazer chegar
aos leitores (OLIVEIRA, 2008, p. 78).
Para Coelho (2000), Lobato foi o precursor para que as inovações ocorridas
na Literatura decorrentes do Modernismo 15 também atingissem a LI.
Outra década de suma importância para a LI fora a de 1970. Nesse período
ocorreu o “boom” da LI. Oliveira (2008), ao se pronunciar a respeito dessa época,
constata que nos anos de 1970 a sociedade brasileira sofreu grandes mudanças e
essas influenciaram a LI. O objetivo era produzir textos literários para crianças que
fossem mais inventivos e com características literárias qualitativas. Essas obras
deveriam estimular a imaginação infantil. Assim como já havia inaugurado Lobato,
confirmava-se a necessidade de uma linguagem concisa, clara e objetiva que desse
15
Modernismo foi o movimento literário ocorrido na Europa e no B rasil que objetivou a renovação e
se manifestou contra o tradicionalismo. No B rasil o Modernismo ocorreu no século XX após a
Semana de Arte Moderna em 1922.
37
Hoje, há uma produç ão literária/art ística para as crianç as que não nasce
apenas da necessidade de se transformar em mero recurso pedagógico,
mas cujas principais funções são o lúdico, o catártico e o libertador, além do
cognitivo e do pragmático, já que visa preparar o indivíduo para a vida num
mundo repleto de diversidades (FILHO, 2009, p. 30).
_Meu real pai, peço desculpas. Mas, se o casamento é meu, quem resolve
sou eu. Só caso com quem eu quiser e quando quiser. O Príncipe é muito
simpático, valente, tudo isso. Mas nós nunca convers amos direito. E eu
ainda quero conhecer o mundo. Até hoje eu nem sabia que o sol voltava
todo dia tão bonit o. Tem muita cois a mais que eu quero saber. Isso de ficar
a vida inteira fec hada num castelo é muito bonito, mas eu vi que aqui fora,
nesses campos e nesses bos ques, tem muita coisa mais. Não quero me
casar. (2005, p. 48).
16
Parâmet ros Curriculares Nacionais.
39
de provocar tantas emoções em uma pessoa? De que forma ela pode contribuir no
processo de alfabetização e na formação de leitores? Para Cavalcante (2002, p.12):
valores importantes para a vida, tornam-se sujeitos críticos. Arce e Martins apontam
que:
Costa (2007) aponta dois principais motivos pelos quais a LI deve ser
trabalhada em sala de aula. Um dos fatores é de ordem cultural e outro de ordem
educacional. É sabido que a literatura, independente de qual seja, é um suporte para
que os indivíduos tenham contato com a cultura de povos de várias épocas. Quanto
à ordem social, é de conhecimento geral que duas funções indispensáveis da escola
são: ensinar a ler e escrever. E para isso, ela deve proporcionar o contato de seu
público aos mais variados textos: literários e não literários. Porém, sabemos que
através da literatura, temas discutidos no cotidiano aparecem de uma forma
diferente por causa da linguagem trabalhada e sua função estética. Por conseguinte,
o papel de ler e escrever torna-se mais prazeroso quando se constitui por meio da
literatura. Por essas razões explicitadas nesse parágrafo notamos que a
importância do trabalho com a LI extrapola os limites das aulas de Língua
Portuguesa. Costa (2007, p.11) acrescenta uma contribuição importante ao ressaltar
a importância da LI para as disciplinas escolares:
Solé (1998) acentua essa ideia sobre a importância da leitura. Para a autora,
a leitura é requisito indispensável para que os alunos aprendam a aprender. Quando
a autora fala de leitura, não está especificando se literária ou não. Mas é verdade
que a LI é instrumento importante na formação de novos leitores, sendo assim,
trabalhar esses escritos é criar condições para formar leitores aptos a aprenderem.
Apesar da família ter papel importante na formação de leitores, é a escola que
tem como objetivo primordial a formação de leitores. Nessa perspectiva , cabe a essa
instituição oferecer os instrumentos necessários para que essa prática seja cumprida
com eficiência.
Por tudo que fora dito até o momento, percebemos que são muitas as
contribuições da LI para a formação do leitor e do sujeito, “[...] seja no espontâneo
convívio leitor/livro, seja no diálogo leitor/texto estimulado pela escola.” (COELHO,
2000, p. 15). Como muitas crianças têm contato com a LI apenas no ambiente
escolar, torna-se fundamental o bom uso desse material para a formação do
indivíduo. Trabalhar com a LI em sala de aula é proporcionar aos seres em
desenvolvimento o contato com as diversas culturas e ideologias de um povo,
proporcionar a descoberta e construir uma percepção crítica da realidade, e ainda
permitir o desenvolvimento da escrita e oralidade, tudo isso por meio de uma
linguagem criativa, artística e plurissignificativa.
Como já foi dito anteriormente nesse capítulo, muitos alunos têm contato com
a leitura de forma geral e também com a leitura literária apenas no ambiente escolar.
Dessa forma, cabe à escola e aos professores elaborarem estratégias criativas e
eficientes que incentivem a formação de novos e bons leitores literários. Mas para
elaborar boas estratégias necessário se faz, segundo opinião de Costa (2007),
conhecer as especificidades do texto literário e também as características dos
diversos gêneros textuais que compõem a LI.
A apresentação dos mais variados gêneros textuais é o primeiro passo para
isso. Os PCNs de Língua Portuguesa (primeira a quarta séries) (BRASIL, 1997)
destacam a importância do trabalho com a diversidade textual, considerando essa
uma das estratégias mais importantes para a prática da leitura. Dessa forma,
proporcionar o contato dos alunos com os variados gêneros da LI, tais como
poemas, contos, histórias em quadrinhos e fábulas já se constitui em uma
importante estratégia de formação de leitores, desde que esses textos selecionados
46
criança em uma fase de aprendizagem é preciso ter consciência dos itens elencados
acima para propor atividades que possam levar primeiro a reflexão e em seguida,
caso seja da vontade do pequeno leitor, absorção dos valores presentes nas obras.
Oliveira (2008) acrescenta ainda outro fator preponderante no trabalho com a
literatura infantil: a escolha da obra adequada com as necessidades de vida dos
pequenos. Esse fato torna a leitura muito mais participativa e dinâmica, tendo em
vista que eles estarão lendo e discutindo sobre assuntos de reais interesses.
Importante também é permitir que o aluno escolha a obra que quer levar para casa,
ou então ler numa aula de leitura. O que muitas vezes acontece em sala de aula é o
professor indicar a mesma obra para todos os alunos, esquecendo que esses têm
histórias, culturas e interesses diferenciados. Abramovich (2003) sugere que o
professor ao levar seus alunos à biblioteca pode permitir que esses folheiem ,
manuseiem, encontrem o livro mais adequado aos seus interesses .
Filho (2009) elabora alguns itens que podem ser trabalhados com os alunos a
partir da leitura de uma obra literária. São eles: a relação do texto verbal com o não
verbal e aprender a ouvir o que as crianças têm a dizer. O primeiro é importante
porque há a necessidade da criança perceber a relação entre os dois tipos de
linguagem, ao mesmo tempo em que descobre as lacunas deixadas de forma
proposital pelo texto escrito para ser preenchido pelas imagens. Já o segundo,
contribui para as crianças externarem suas opiniões e emoções, proporcionando a
realização das leituras emocionais e sensoriais.
As ações elencadas acima podem ser desenvolvidas, segundo o autor, por
meio de atividades como: rodas de leitura e contação de histórias, oficinas de
dramatização, a hora da novela, propaganda do livro. Enfim, são muitas as
possibilidades de trabalho com a literatura infantil no intuito de formar novos leitores,
e disseminar a cultura de um povo. Mas também, é preciso conhecimento por parte
do professor dos elementos essenciais de uma obra literária, para que o trabalho
não se reduza a meras fichas de leitura que deverão ser preenchidas pelos alunos
ao final da leitura de uma obra.
Trabalhar de maneira correta com a LI em sala de aula também requer a
distinção do que seja uma obra de LI e aqueles livros que têm como função à
aprendizagem de assuntos escolares. Muitas vezes, por terem a presença de
personagens, diálogos e cenários, os professores os utilizam em sala de aula como
se fossem literatura. Costa (2007) afirma a necessidade do professor saber
48
17
Citação extraída do livro do Pró-let ramento- Programa de Formação Continuada de P rofessores
dos anos/séries iniciais do ensino fundamental, Alfabetização e Linguagem, 2008.
50
Se o livro estiver fora do alc ance da leitura das crianç as, o professor deve
avaliar qual ou quais as razões dessa recusa. A partir desse conhecimento,
cabe a ele realizar o necessário ajuste de critério para melhorar as próximas
escolhas. Se a dificuldade não for intransponível, cabe ao professor mediar
mais intensamente a leitura, auxiliando mais na compreens ão de seus
alunos. Se o tema for complexo, ou o tratamento dele for obscuro ou
profundo, sempre será oport unidade para o professor debater, esclarecer,
encorajar os alunos a perseverarem na leitura e aprenderem a lidar com as
dificuldades de textos mais complexos (COS TA, 2007, p.77).
Em suma, por tudo o que foi dito até o momento, percebemos que são muitas
as estratégias que os docentes, família e escola podem desempenhar para contribuir
com a formação de leitores literários. Essas estratégias vão desde a escolha das
obras, o espaço adequado para a leitura, os questionamentos que devem ser feitos
antes, durante e após o texto bem como promoção da escola de estratégias que
incentivem os professores no trabalho com a leitura literária.
Rego (1995) afirma que o ouvir histórias contribui com o sucesso escolar de
muitas crianças. Ao ouvir histórias a criança entra em contato com as estruturas da
língua e isso contribui para o desenvolvimento de estratégias de processamento de
linguagem importantes para o aprendizado escolar.
Mas essa contação de histórias ou leitura em voz alta, em sala de alunos
ainda não alfabetizados, deve ser feita por professores preparados. Nesse momento
é importante usar as várias possibilidades da voz, e expressão corporal.
Abramovich (2003, p.18) alerta que no momento de contação de história,
independente do gênero ou da tipologia textual é importante saber como contar.
“Contar histórias é uma arte... e tão linda!!! É ela que equilibra o que é ouvido com o
que é sentido[...]” (ABRAMOVICH, 2003, p.18).
54
18
Esse tópico foi escrito por considerarmos a importância da LI para as crianças em fas e de
aprendizado da leitura de forma sistematizada. Porém, em momento algum desconsideramos a
importância e a contribuição de outras formas de s e trabalhar c om a LI em sala de aula, como por
exemplo, a leitura silenciosa e a oral realizadas tanto por professores quanto pelos alunos. O
pretendido é que o professor escolha a melhor forma de se trabalhar com esses textos para contribuir
com a formação de leitores e o letramento literário.
57
Para que o professor possa exercer seu papel no ensino de LI, é preciso
que ele identifique em uma obra literária infantil características que a tornem
“um convite” a descobrir o gosto pela leitura, que possam contribuir para o
desenvolvimento pessoal e social da crianç a. Isto implica em ter uma
linguagem adequada, um discurso interativo, ilustrações atraentes,
presença de valores humanos e éticos, compondo assim, o legado cultural,
somando-se àquilo que a humanidade já conquistou.
Ao selecionar uma obra literária para levar para a sala de aula, o professor
não pode esquecer que sua finalidade maior é o caráter literário, lúdico, criativo,
questionador. Costa (2007) ratifica essa ideia ao informar que o docente não pode
esquecer o que caracteriza um bom texto da LI brasileira é o ludismo, a presença de
uma linguagem de qualidade, que discuta os mais variados temas, tudo isso numa
perspectiva questionadora. A autora conclui sua ideia exemplificando autores atuais
que obedecem a esses critérios. Dentre esses, citamos: Eva Furnari, Ziraldo, Ângela
Lago, Ricardo Azevedo, Silvia Ortrhof, dentre outros.
Zilberman (2003) afirma que para formar novos leitores, os docentes devem
ser capazes de escolher obras que sejam apropriadas ao público infantil e também
de desenvolver estratégias que estimulem a leitura, a compreensão e a verbalização
do conhecimento construído. Infelizmente, muitos professores de séries iniciais
concluem os cursos de licenciatura sem ter tido a disciplina de Literatura Infantil em
seus currículos. E dessa forma, reprod uzem a maneira tradicional com a qual
tiveram contato com a LI em seus processos de alfabetização. Costa (2007) afirma
que ao selecionarmos textos da L I para levarmos para sala de aula devem ter a
presença de: suspense, humor, terror, lirismo, conhecimentos, afetos e ludismo.
58
19
Nesta dissertação, consideramos o papel da escola imprescindível para a formação de leitores,
tendo em vista o fato de muitas famílias não terem o hábito e nem condições materiais para realizar a
leitura.
59
precárias” (2003, p.21). Silva, em uma vertente crítica, defende também que todos
os seres humanos nascem com potencial tanto para realizar a leitura do mundo
como dos diferentes códigos existentes nele. Para ele, o fato de uma pessoa ler
mais ou menos, ter prazer ou não em realizar a leitura depende das incitações do
meio social em que vive (família, escola e sociedade), isto é, dos estímulos
recebidos e das relações traçadas com os livros, leitores e situações de leitura .
Também as condições do ambiente escolar são importantes nessa tarefa de
formar leitores. Conforme já dito em momentos anteriores dessa dissertação, a
escola precisa oferecer infraestrutura adequada, dispor de uma biblioteca, sala de
leitura e também se preocupar com a formação do grupo de professores que são
aqueles que necessitam desenvolver práticas de leitura em sala de aula. Por isso,
concordamos com os questionamentos feitos por Silva:
[...] aqui existe uma biblioteca escolar cujo acervo atende às necessidades e
interesses do corpo docente e discente; os serviços bibliotec ários são
colocados de forma e atuante no quadro das decisões curriculares e nos
projetos de desenvolvimento comunitário. O próprio currículo, nesse tipo de
escola, prevê a sequenciação e integração das habilidades e conteúdos de
leitura bem como os momentos e os espaços para a pesquisa, debate,
discussão e outras formas de confront o com textos (SILVA, 1997, p. 92).
Podemos dizer que essa dificuldade inicia pela própria função da Literatura
Infantil. É ela elemento apenas de passatempo ou tem função pedagógica? É bom
deixar claro que a Literatura Infantil, apesar de também encantar aos adultos, é feita
para as crianças e essas estão em fase de aprendizagem. Logo, todo material além
de cumprir outras funções, em contato com o ser criança em desenvolvimento,
cumpre também com o papel pedagógico. Não há como separar Literatura Infantil de
vocação pedagógica. Nem se prete nde isso, já que uma complementa a outra. E
isso torna o ato de lê-la ainda mais importante, pois além de servir como elemento
de entretenimento, fruição, é também ato de aprendizagem. Aprende-se a estrutura
linguística, valores, emoções, distinção entre o bem e o mal, a ver o mundo pela
ótica da arte das palavras.
Sabemos que em muitas escolas brasileiras estratégias não são
desenvolvidas no intuito de formar leitores. Muitas vezes professores utilizam
práticas ultrapassadas, repetitivas e insignificantes que em vez de incentivar os
alunos a lerem, causam ojeriza aos mesmos. Silva (1997) classifica a leitura que
vem sendo desenvolvida em sala em quatro dimensões: passos de ganso, passos
de cágado, passo incerto e passos largos.
Para o autor, o que esses três primeiros passos têm em comum é a maneira
como, ano após ano, o professor insiste em trabalhar com a leitura de forma
mecanizada e sincronizada, excluindo do seu planejamento o caráter dinâmico e
inovador. Por meio da tortura e da redundância os alunos passaram a ter ojeriza
pela leitura. Diante de textos descontextualizados, sem substância, sem significado,
sem sequência, sem unidade e aprofundamento, dia após dia, a rotina monótona da
grade curricular destrói a curiosidade do leitor. Para Martins:
Pedagogia não tiveram o contato adequado com essa temática, pois sabemos que
muitas instituições de ensino superior que ofertam o curso de Pedagogia ainda não
oferecem a disciplina de LI em sua grade curricular. Oliveira (2008, p.91) afirma:
Filho (2009) alerta que os docentes precisam ter alguns conhecimentos sobre
a Literatura Infantil para usá-la em sala de aula. Esses conhecimentos podem ser
resumidos, a grosso modo, em: entender que a criança é um ser social, aprendiz da
cultura e a escola deve proporcionar isso. Compreender que uma obra literária é
resultado da experiência social e cultural de seu autor, conscientizar-se de que não
existe literatura desvinculada do contexto social, compreender a leitura como um
processo dinâmico, em que um leitor, com suas experiência, emoções se depara
com um texto escrito por alguém em uma determinada época, portanto, muitas
vezes com emoções e experiências bem diferentes do leitor, mas isso é algo
enriquecedor, porque essa fusão de leitura permite o surgimento de um novo texto.
E por fim compreender que o espaço escolar serve como porta para relação da
criança com a sociedade.
É fundamental a importância do professor como mediador da leitura de LI.
Porém, para cumprirem essa função com qualidade é preciso que as instituições de
ensino superior que formam professores das séries iniciais os habilitem para
64
É nos anos iniciais do ensino fundamental que a criança tem maior contato
formal com a linguagem escrita. Por isso, torna-se papel da escola e do professor
criar estratégias para que ela aprenda a ler convencionalmente os mais variados
gêneros textuais. Desde a década de 1980 usa-se o termo letramento para abordar
práticas de leitura e escrita em que há a compreensão da utilidade dos mais
diversos gêneros textuais na sociedade.
65
Rojo (2006, p.28 apud SANTOS; MORAES, 2013, p.26) afirma que “Em
práticas de alfabetização como estas, ao se alfabetizar, os alunos terão interesse e
prazer bem como compreenderão a utilidade da escrita e de sua circulação social,
de suas finalidades e formas”.
Nesse sentido, podemos afirmar que proporcionar o contato das crianças com
textos da literatura infantil contribuem, na opinião de Rego (1995) para que ocorra
aquisição da língua escrita. Para a autora:
68
Usar a literatura infantil nas turmas dos primeiros anos é de suma importância
como foi argumentado nos parágrafos acima, porém, Rego (1995) afirma que ainda
é um desafio para os professores usar a literatura durante o processo de
alfabetização. Segundo a autora essa dificuldade inicia com a qua ntidade de alunos
na sala. No momento da leitura em casa, os alunos estão em família apenas com a
presença do pai e ou da mãe e irmãos, quando há. Mas na sala de aula, há um
único livro para vários alunos. Por isso, a posição da professora no momento da
leitura é fundamental para a interação das crianças com o texto. “A professora
deverá encontrar a posição mais natural e adequada para que todas as crianças
tenham acesso visual ao livro que está sendo lido” (REGO, 1995, p.53).
Rego (1995) também aborda a necessidade do professor motivar os alunos
para elaborar questionamentos e tecer comentários a respeito do texto lido. Pois um
texto literário permite o despertar da criatividade, imaginação e contato com diversas
culturas. Requer-se também que ao planejar a leitura de um texto literário o
professor realize uma leitura que tenha qualidade. Rego (1995, p.54) complementa
ainda:
Para que uma estória realmente prenda a atenç ão da criança, deve entretê -
la e despertar sua curiosidade. Mas para enriquecer sua vida, deve
estimular-lhe a imaginação: ajudá-la a desenvolver seu intelecto e a tornar
claras suas emoções; estar harmonizada com suas ansiedades e
aspirações; reconhec er plenamente suas dificuldades e, ao mesmo tempo,
sugerir soluções para os problemas que a pert urbam [...].
Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far -se-á
em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em
universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação
mínima para o exerc ício do magistério na educação infantil e nos 5 (cinco)
primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio na
modalidade normal (BRAS IL, 1996).
Por definição, o pedagogo não pode ser nem um puro e simples prático nem
um puro e simples teórico. Ele está entre os dois. A ligação deve ser ao
mesmo tempo permanente e irredutível, porque não pode existir um fosso
entre teoria e a prática. É esta abert ura que permite a produção pedagógica.
Em consequência, o prático em si mesmo não é um pedagogo, é mais um
utilizador de elementos, de ideias ou de sistemas pedagógicos. Mas o
teórico da educ ação como tal não é também um pedago go; pensar o ato
pedagógico não basta. Somente será considerado pedagogo aquele que
fará surgir um “mais” na e pela articulação teoria -prática na educação. Tal é
a caldeira da fabricação pedagógica.
Outra crítica feita por Carvalho (2011) às DCNP é o caráter polivalente dos
egressos do curso de Pedagogia. Caráter este já evidenciado no artigo 4º citado
acima e também no artigo 5º descrito abaixo:
20
Por questões metodológicas não citaremos o nome da Universidade e daremos a ela o nome
fictício de Y.
76
21
Por questões éticas não citaremos o nome da Instituição de Ensino Superior.
78
Os processos educ ativos são suficientemente complexos para que não seja
fácil reconhec er todos os fat ores que os definem. A estrutura da prática
obedece a múltiplos determinantes, tem sua justificação em parâmetros
institucionais, organizativos, tradições metodológicas, possibilidades reais
dos professores, dos meios e condições físicas existentes, etc. Mas a
prática é algo fluido, fugidio, difícil de limitar com coordenadas simples e,
além do mais, complexa, já que nela se expressam múltiplos fatores, ideias,
valores, hábitos pedagógicos, etc.
Dentre esses saberes, podemos citar a reflexão. Porém, para Gadotti (2003)
falar em professor reflexivo é uma red undância, tendo em vista que a profissão já
exige isso. O autor prossegue seu discurso afirmando que a reflexão deve ser
crítica, pois não basta refletir é preciso dar sentido ao que foi refletido.
Freire (2011) aborda a importância do professor ser crítico e avaliativo. Para
ele, o docente deve a todo momento avaliar e repensar sua prática. Mas para ele, é
o bom-senso que permite o professor avaliar e refletir sobre sua prática.
Ainda segundo o educador (2011, p. 32) a criticidade também é indispensável
ao professor. Todavia “A superação e não a ruptura se dá na medida em que a
curiosidade ingênua, sem deixar de ser curiosidade, pelo contrário, continuando a
ser curiosidade, se criticiza”.
Gadotti (2003, p.40) aborda o domínio de saberes ou competência como
sendo crucial ao professor. Para ele, independente da época:
Para exercer sua profissão com qualidade é preciso também que o professor
seja um pesquisador. E ser um pesquisador não é uma qualidade docente e sim
uma exigência. Para Gadotti (2003), a pesquisa é inerente ao ato de ensinar, tendo
em vista que a profissão docente exige constante indagação, busca e pesquisa.
81
Não posso ser professor se não percebo cada vez melhor que, por não
poder ser neutra, minha prática exige de mim uma definição. Uma tomada
de posição. Decisão ruptura. Exige de mim que escolha entre isto e aquilo
(FRE IRE, 2011, p.100).
Freire (2011) afirma que a educação deve fazer sentido, mas para ele, para
que isso aconteça há a necessidade de respeitar os saberes dos educandos, e
propor discussão e reflexão juntamente com os alunos a respeito dos motivos de
alguns desses saberes. Para o autor “O fundamental é que professor e alunos
saibam que a postura deles, do professor e dos alunos, é dialógica, aberta, curiosa,
indagadora e não apassivada, enquanto fala ou enquanto ouve” (FREIRE, 2011, p.
83).
Como podemos observar, são muitos os saberes inerentes à prática
pedagógica. Tardif (2014, p. 36) corrobora da mesma ideia e defende:
Pode-se definir o saber doc ente como um saber plural, formado pelo
amálgama, mais ou menos coerente, de saberes oriundos da formação
profissional e de saberes disciplinares, curriculares e experienciais.
prática cotidiana em todas as suas dimens ões. Eles constituem, por assim
dizer, a cultura docente em ação.
[...] é alguém que deve conhecer sua matéria, sua disciplina e seu
programa, além de possuir certos conheciment os relativos às ciências da
educação e à pedagogia e desenvolver um saber prático baseado em sua
experiência cotidiana com os alunos.
É preciso que para uma prática eficiente haja a relação teoria-prática. O autor
defende a importância dos professores de profissão 22 tornarem-se também
pesquisadores e organizarem os discursos, interesses, objetivos, tanto individuais
quanto coletivos em uma linguagem que prime pela objetivação. Porque:
Ainda em relação aos saberes docentes, Tardif (2014) defende que eles são
temporais, plurais e heterogêneos, personalizados e situados, e que carregam
marcas dos seres humanos.
O saber temporal do professor deve -se ao fato de que muitas concepções
que possuem sobre o ensino é resultado de experiências adquiridas ao longo de sua
vida. Tardif afirma que pesquisas realizadas na América do Norte apontam que
muitos alunos passam pela formação inicial de professores, porém suas crenças de
antes continuam a existir. Dizer que o saber docente é temporal, também significa
confirmar que os primeiros anos de prática docente são cruciais para a estruturação
da prática pedagógica.
Os saberes profissionais são plurais e heterogêneos. Primeiro, e como já foi
explicitado nesse capítulo, é sabido que esses saberes advêm de distintos lugares e
meios. Segundo, porque em meio à ação profissional são muitos e diferentes os
objetivos que os professores devem alcançar, e para isso precisam mobilizar
diferentes conhecimentos, competências ou aptidão (TARDIF, 2014).
Para Tardif (2014, p.265) dizer que os saberes são personalizados e situados
significa que “Um professor tem uma história de vida, é um ator social, tem emoções,
um corpo, poderes, uma personalidade, uma cultura, ou mesmo culturas, e seus
pensamentos e ações carregam as marcas dos contextos nos quais se inserem.”
22
Professor de profissão não é somente alguém que aplica conhecimentos produzidos por out ros,
não é somente um agente determinado por mecanismos sociais: é um ator no sentido forte do termo,
isto é, um sujeito que assume sua prática a partir dos significados que ele mesmo lhe dá, um s ujeito
que possui conhecimentos e um s aber-fazer provenientes de sua própria atividade e a partir das
quais ele a estrutura e a orient a. (TARDIF, 2014, p.230).
86
profissional, venham de cima para baixo, mas que a partir de suas dificuldades e
anseios possam elaborar formações dentro da própria escola.
Na próxima seção analisaremos, à luz dos teóricos já citados na revisão
bibliográfica, os dados coletados nas entrevistas, observação, reunião e em seguida
apresentaremos as discussões realizadas nas oficinas e, por fim, o Plano de Ação
que está sendo desenvolvido na escola no ano de 2015. Plano de ação neste
trabalho é o conjunto de estratégias traçadas para atingir o resultado esperado após
a fase de coleta de dados e intervenção da pesquisa. Ele terá como objetivo propor
meios para que as atividades de formação continuada em Literatura Infantil na
escola X tenham continuidade.
88
5 AÇÃO-REFLEXÃO-AÇÃO
23
Segundo informações extraídas no site do Ministério da Educação, O Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa é um compromisso formal assumido pelos governos federal, do Distrito
Federal, dos estados e munic ípios de assegurar que todas as crianç as estejam alfabetizadas até os
oito anos de idade, ao final do 3º ano do ensino fundament al. As ações do programa centram -se em
89
quatro eixos de atuação: formação continuada presencial dos professores, materiais didáticos,
avaliações, gestão, mobilização e controle social.
90
O que é proposto por Tardif são pesquisas que tenham o caráter colaborativo,
dessa forma, os professores pesquisadores e formadores de professores podem
juntamente com outros docentes refletirem sobre a realidade da prática em sala de
aula e, posteriormente propor alternativas que contribuam qualitativamente com os
cursos de formações de professores.
Não desconsideramos nesse trabalho a importância da teoria para a prática
docente. Apenas a união de formações iniciais que envolvam tanto aspectos teóricos
quanto práticos. Libâneo (2002, p. 35) também defende uma formação de qualidade
dos professores que envolva o trabalho teórico e prático de forma aprofundada. Para
ele, o aprofundamento na teoria é requisito para a análise reflexiva da prática:
inicial citada também por Tardif (2014). Trata-se da forma fragmentada com as quais
as disciplinas são trabalhadas com os acadêmicos. Ele denuncia que além dessas
disciplinas serem fragmentadas, curtas, ainda não possuem relação entre si. Isso
contribui para que o impacto do estudo não seja o desejado para os alunos.
Esses problemas da formação inicial de professores, segundo Tardif (2014),
resultam de problemas epistemológicos do modelo universitário de formação de
professores. Trata-se de um modelo aplicacionista, em que os alunos passam
alguns anos assistindo aulas, em seguida vão para o estágio aplicar os
conhecimentos aprendidos, e quando se formam vão para as escolas aprenderem o
ofício na prática. Esse modelo de formação traz alguns problemas, dentre eles o fato
dos cursos de formação de professores serem “[...] idealizados segundo uma lógica
disciplinar e não segundo uma lógica profissional centrada no estudo das tarefas e
realidades do trabalho dos professores” (TARDIF, 2014, p.271).
Outro problema também evidenciado por Tardif é o fato de que a lógica
disciplinar é diferente da lógica da prática. “Numa disciplina, aprender é conhecer.
Mas na prática, aprender é fazer e conhecer fazendo”. (TARDIF, 2014, p.271).
Comungamos com Tardif (2014) que é urgente também a necessidade de quebrar a
lógica das disciplinas nos cursos de formação de professores. Claro que não é
extremizar no sentido de aniquilar de vez as disciplinas dos cursos de formação,
mas encontrar meios em que elas possam contribuir de outras formas e não
controlar a organização dos cursos (TARDIF, 2014). Compactuamos dessas ideias
citadas aqui e defendemos uma formação inicial de professores não fragmentada,
que una teoria à prática, contribuindo com a formação de professores aptos a
desenvolverem atividades pedagógicas, principalmente as práticas pedagógicas que
envolvam a leitura literária.
24
Definição dada sobre LI pela Professora 01 durant e a entrevista ocorrida no dia 13 de outubro de
2014.
25
Definição apresentada sobre LI pela Professora 02 durante a ent revista ocorrida no dia 13 de
outubro de 2014.
94
26
Neste trabalho comungamos com o conceito de Filho (1995) e Costa (2007) de que t extos literários
são aqueles que possuem preocupação estética, linguagem vazada e permite ao leitor comparar,
refletir, investigar, emocionar-se, entreter-se, tudo isso proporcionando visão de mundo e
universalismo. A literatura infantil possui todas essas características do t exto literário, ac rescentando-
se o fato de trat ar de temas de interesse das crianç as e possuir linguagem e conteúdos adequados
às capacidades de interpretação dos leitores.
95
P1: Dar aquela ênfase ainda não. Todo dia eu procuro fazer uma leitura.
Leitura del eite. Todos dos dias eu procuro estar lendo pelo menos uma
parte da história c om eles. E procuro ent regar livros pros alunos. Pelo
menos uma vez na semana levarem livros para casa.
P2: Mais ou menos. Eu leio algumas histórias
27
O termo habitus surge na obra de Bourdieu (1963), como sendo ferramenta fundamental
interpretativa da realidade no contexto de uma sociologia interessada em dissolver as fronteiras ent re
indivíduo e sociedade.
98
28
Destacamos que mais experiente não significa com maior tempo de carreira, pois alguns doc entes
fizeram seus há muito tempo e pouco lhes foi apresentado sobre literatura infantil. Como vimos que
não há formação espec ífica na escola, estes mais antigos no cargo não, necessariamente, terão mais
conhecimento ou experiência nesse campo especifico.
100
Pra falar a verdade aqui no c olégio tem poucos livros. Fica uns em cima do
meu armário. Ai como eu não t enho muito tempo pra ficar escolhendo ai eu
pego os que estão lá em cima do armário. Aí eu vejo nossa, esse é
interessante, por exemplo, do Chapeuzinho vermelho, esse é int eressante
pra eles (ENTREVIS TA, P2, 2014).
29
Comungamos nesse trabalho com a definição de gênero textual proposta por Marcuschi “gêneros
textuais são textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam
características sócio-comunicativas definidas por conteúdos, proprie dades funcionais, estilo e
composição característica. Disponível em:
http://www.google.com.br/url?s a=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd= 1& ved=0CB4QFjAA&url=http
102
elas afirmaram já ter ouvido falar, mas que não havia trabalhado com esses gêneros
até o momento. A diversidade de gêneros usados pelas professoras em sala
realmente foi limitada. Restringiram em usar livros contendo o texto verbal e não
verbal e uma única vez fizeram a leitura de fábulas. Os poemas, gênero textual tão
apropriado para a fase de alfabetização não foi usado uma única vez.
Durante a primeira oficina que teve como um dos objetivos abordar as
características dos variados gêneros textuais, notamos mais uma vez o
desconhecimento tanto das professoras pesquisadas a respeito das características
dos gêneros: poemas, contos, fábulas, história em quadrinho, textos visuais, quanto
dos demais professores presentes. Conhecimentos simples como o fato do poema
ser composto por versos e estrofes eram desconhecidos por alguns dos presentes.
No momento que uma dupla de professores abordou as características dos poemas,
limitou-se a dizer que possuíam estruturas distintas dos demais gêneros textuais.
Quando questionamos o que seria essa distinção não souberam explicar. Conhecer
as especificidades de cada gênero textual é imprescindível para uma prática de
leitura que leve em conta a adequação do gênero literário aos objetivos
preestabelecidos pelo professor. Bamberger (2000, p. 25 apud Costa 2007, p. 49)
ratifica dessa ideia:
%3A%2F%2Fwww.uems.br%2Fsite%2Fnehms%2Farquivos%2F53_2014-04-04_12-17-
14.pdf&ei=EaAmV e6DBsKENqP XgegE& usg=AFQjCNGRMP 6QP_IVps5Ouu8ba_gasQ29Kw& bvm=b
v. 90237346,d.eXY. Acesso em 09/04/2015. São exemplos de gêneros textuais literários: crôni cas,
contos, romances, história em quadrinhos, fábulas, lendas, poemas, apólogo, novela, dentre outros.
103
É preciso insistir que tudo quanto fazemos em aula, por menor que seja,
incide em maior ou menos grau na formação de nossos alunos. A maneira
de organizar a aula, o tipo de incentivos, as expectativas que depositamos,
os materiais que utilizamos, cada uma destas decisões veicula
determinadas experiências educativas, e é possível que nem sempre
estejam em consonância com o pensamento que temos a respeito do
sentido do papel que hoje em dia tem a educação (ZABA LA, 1998, p. 29).
105
outros surpreenderam a todas nós. Como, por exemplo, a P1, que em pouco tempo
leu a história de Tirim e Cocoricó e fez uma maravilhosa apresentação.
ela se considerava uma professora que não incentivava os alunos a lerem. Ela
afirmou que para isso contava histórias, mas era raro eles quererem ler um livro.
Em um determinado dia da observação, a P2 estava trabalhando com os
alunos uma atividade referente ao programa Pacto na Alfabetização. Segundo a
professora, a formadora do curso havia solicitado a elas que apresentassem aos
alunos textos pertencentes aos gêneros: contos, fábulas, receitas e notícia. Para
isso, a P2 chegou em sala, escreveu no quadro os nomes desses gêneros te xtuais e
começou a ler a definição de cada um deles. Feito isso, sem entregar os textos
pertencentes a cada gênero textual para os alunos para que eles acompanhassem a
leitura e verificassem a estrutura do texto no papel, leu uma receita. Em seguida, a
professora entregou aos alunos livros de contos e disse que era para eles verem.
Foi a única ocasião, durante os dias da observação, que os alunos tiveram contato
com livros de LI. Também foi o único momento em que todos ficaram em silêncio
olhando os livros coloridos com ar de admiração, evidenciando-se a atração que os
livros de LI exercem sobre as crianças, pois o fascínio que os textos não verbais
causam é importante para o desenvolvimento da imaginação e criatividade na
constituição de narrativas.
Outro aspecto que muito nos chamou a atenção, ainda com essa atividade, foi
que, como os alunos, em sua maioria, não sabiam ler convencionalmente, eles
folheavam os livros, fazendo leitura das imagens, mas a P2 os advertiu dizendo que
não adiantava eles folhearem, mas que, no entanto, deveriam tentar encontrar
alguma palavra. Nesse momento a professora entregou a receita de bolo para os
alunos e disse que era para eles entenderem como ela era organizada. Sem
explorar as obras de LI que estavam com os alunos, a P2 limitou-se a questionar
que livros eram aqueles que as crianças estavam nas mãos. Eles responderam que
eram livros de ler, a professora os corrigiu afirmando que eram livros de contos.
Nesse momento, dois alunos foram até a professora perguntar se ela possuía mais
livros para emprestar para eles. Ela respondeu que eles não estavam tentando ler
palavras e apenas folheando e que isso não adiantava de nada. Um dos alunos
respondeu que não sabia ler e a professora retrucou dizendo que ele deveria, ao
menos, tentar. Nesse momento, ela entregou aos alunos uma folha contendo uma
fábula, mas os alunos continuaram concentrados nos livros coloridos.
Um aluno, só, em sua carteira, folheava as páginas do livro, à medida que
inventava a história baseado nas figuras, tão concentrado que parecia não perceber
112
o que acontecia ao seu redor. Mas a professora, sem explorar mais o momento,
solicitou que os alunos devolvessem as obras literárias, pois eles iriam fazer outra
atividade, já que agora todos sabiam o que era uma fábula, receita, conto e notícia.
E assim, mais uma vez a docente desperdiçou um momento importante para
trabalhar com a LI de forma qualitativa. Certamente por desconhecer a importância
desse momento em que os alunos elaboram leituras a partir da imaginação. Ou,
como registrou Costa (2007, p.47), “Em suas hipóteses de leitura, elas exercitam o
olhar e a imaginação, num trabalho que prepara a leitura de textos de maior
extensão e complexidade nas séries futuras”. Ainda sobre esse assunto, dessa
maneira se pronunciou o autor:
histórias com temas diferentes e que sejam do interesse dos alunos. O apontamento
das professoras é relevante, tendo em vista que a criança demonstra maior relação
dialógica com a história e os personagens no momento em que esses vivenciam
fatos parecidos com os acontecimentos ocorridos na vida dos pequenos leitores. No
entanto, explicamos que não é porque uma obra literária tem o enredo mais extenso
que não devemos utilizá-la em sala de aula. Ao contrário, podemos aproveitar esses
textos para despertar a curiosidade dos alunos fazendo a “hora da novela”, conforme
orienta Filho (2009).
Como as pedagogas não abordaram a ausência do planejamento da leitura
como um dos fatores responsável pela falta de interesse dos alunos, c hamamos a
atenção delas para esse fato. Perguntamos como eram os planejamentos das
leituras que presenciamos na observação. Ambas afirmaram não fazerem o
planejamento dessa atividade e nem lerem o texto antes de realizar a leitura oral
para os alunos. Disseram que antes da leitura diária, vão até o armário da sala e
pegam um livro para ler e geralmente escolhem a leitura pela capa ou título.
Apontamos que todos os textos, literários ou não, requerem uma leitura prévia antes
de serem lidos em voz alta, porque caso isso não seja feito, a leitura oral fica
prejudicada, como aconteceu várias vezes durante a leitura das professoras em sala
de aula. Problemas como “tropeçar” nas palavras, não realizar a entonação
adequada ao momento e aos personagens, não saber o enredo da história que será
lida (caso o texto seja narrativo) para elaborar questionamentos que motivem a
participação dos alunos à leitura é prejudicial para a participação dos alunos na
atividade de leitura. Como problemas elas identificaram o fato de não planejarem as
leituras e nem ao menos realizarem a leitura prévia dos textos, muito menos
escolherem as obras de acordo com a faixa etária dos alunos. Como possibilidade,
perceberam a necessidade do planejamento de suas leituras como o de qualquer
outra atividade a ser realizada em sala.
Durante essa discussão, a P2 lembrou-se do dia em que leu a fábula da lebre
e a tartaruga para os alunos e no momento da leitura solicitou que dois alunos
viessem à frente da sala para simularem ser os personagens. Ela acredita que a
atividade foi produtiva, já que os alunos participaram mais da leitura. Mesmo essa
atividade não sendo planejada, pois durante a aula ficou claro que a professora não
havia lido a fábula com antecedência e nem mesmo os alunos sabiam o que
deveriam fazer ali na frente da sala, foi evidente que os alunos se envolveram mais,
115
tanto que alguns solicitaram também fazer parte da “dramatização”. Momentos como
esse tendem a despertar os alunos para as atividades, porque fazem com que saiam
de suas rotinas e atribuam significado ao ato de ler. Portanto, há a necessidade de
se planejar mais situações em que a leitura seja vista como atividade prazerosa, de
encantamento, haja vista que muitas vezes a didatização dos textos literários
acabam por desencantar os leitores em formação. Práticas como essas são
importantes em todos os níveis de escolaridade. A pesquisadora lembra-se em
especial de uma turma do 6º ano em que desenvolveu um projeto de leitura de
fábulas. Os alunos, durante alguns dias, leram, discutiram, produziram e
dramatizaram esse gênero textual. A proposta era provocar um diálogo entre o
discurso das fábulas e as vivências desses educandos. Fizeram também uma
análise das morais existentes nesses textos e sua aplicabilidade em outros
contextos. A atividade foi significativa e prazerosa para os aprendizes.
Interpelamos as pedagogas sobre quais critérios utilizam para afirmar que os
textos encontrados dentro do armário e lidos para os alunos são literários. Tanto
uma quanto outra afirmaram que as únicas características levadas em consideração
é o texto ser ficcional e ter a presença de ilustrações. Durante a observação,
percebemos essa dificuldade das professoras, tanto que em uma das aulas a P1 leu
histórias da Bíblia e a P2 leu o livro “A destruição das florestas” como se estes
fossem do gênero Literatura Infantil. As educadoras afirmaram ter dificuldades em
caracterizar um texto literário e como possibilidade apontaram a realização de
estudos sobre as características de texto literário, mais especificamente da LI.
O terceiro problema apontado por elas fora o fato de não saberem como
explorar mais a leitura. Afirmaram (e também percebemos pela observação) que
apenas leem, mas não exploram a leitura, a atividade não permite que os alunos
pensem sobre a história, compare m esta com os acontecimentos da vida, enfim que
construam um novo conhecimento a partir da leitura. A p1 nos questionou se há
outra forma de se trabalhar com os textos além da leitura. Mostrou-se em dúvida
sobre a possibilidade ou não de interromper a leitura para fazer questionamentos
aos alunos sobre o texto que está sendo lido. Como possibilidade indicaram estudo
sobre estratégias para motivação e interpretação dos textos. A P1 afirmou ainda
considerar pouco para a motivação apenas informar o título do texto, mas ao mesmo
tempo, considerou desconhecer outras formas de apresentação e motivação.
Mencionamos, portanto, a contação de histórias. Perguntamos se elas sabiam a
116
diferença entre leitura oral e contação de histórias. Elas disseram que não e nem
conheciam estratégias que poderiam ser usadas nesse momento. Mostramos a elas
algumas imagens no computador de materiais que podem contribuir para a contação
de histórias e motivação dos alunos para esse momento. Como a escola não
possuía esses materiais, as professoras manifestaram interesse de um tempo para
confeccioná-los.
Interpelamos a P1 sobre a prática de solicitar aos alunos que levassem livros
literários para casa e em seguida realizar roda de conversa para discutirem sobre a
leitura, pois, na entrevista, ela afirmou fa zer isso todas as semanas, mas não
verificamos essa prática durante a observação. A P1 justificou que havia deixado de
desenvolver esse ato em sala de aula, porque muitas vezes os alunos levavam os
livros, mas não os liam. Indagamos se elas atribuíam essa falta de interesse dos
alunos pela leitura exclusivamente a eles, ou se a forma como elas estavam
apresentando a leitura literária, suas motivações, o contato proporcionado entre os
alunos e os livros tinham relação. As professoras afirmaram ter dificuldades em
incentivar a leitura e proporcionar um contato mais significativo e lúdico dos alunos
com os textos literários.
Por ultimo as professoras apontaram como problema a falta de contato dos
alunos com as obras da LI. Como sugestão, afirmaram a importância de um
“cantinho da leitura”. Disseram que desde o início do ano pensam em organizar um
espaço na sala de aula para leitura, mas que ainda não o fizeram. Um dado
apresentado por elas como justificativa para isso foi o fato da escola estar passando
por uma reforma. Porém, durante o tempo em que lá estivemos soubemos que o
cantinho da leitura não havia sido organizado por nenhuma das professoras no ano
de 2014. Inferimos que talvez não o tivessem feito até o momento porque não
atribuíssem importância a esse espaço, tendo em vista que a escola dispunha de
condições materiais para organizá-lo, tanto que após as oficinas, as educadoras
organizaram esse espaço independente das reformas ocorridas. As pedagogas
solicitaram que em uma das oficinas organizássemos tanto o cantinho da leitura,
quanto estudo sobre o uso adequado desse espaço.
Foi assim que durante esses momentos de reflexão definimos os temas de
nossos 05 (cinco) encontros. Seguindo as orientações de Tripp (2005, p.459) “[...] ao
facilitar um projeto de pesquisa-ação, não se pode especificar os tópicos sobre os
quais trabalhará, pois esses surgirão da análise da situação e serão selecionados
117
pelos participantes.” Os temas das oficinas foram: Literatura Infantil e seus diversos
gêneros; Planejando as aulas de leitura da Literatura Infantil; Contação de histórias;
Organizando o cantinho da leitura ; Produção de materiais para o trabalho com a
Literatura Infantil.
5.3 As oficinas
31
Pauta disponível no apêndice F.
119
32
Os textos foram retirados da seguinte obra: OLIVEIRA, Maria Alexandre. A literatura para
crianças e jovens no Bra sil de ontem e hoje : caminhos de ensino. São P aulo: Paulinas, 2008.
33
O quadro foi retirado da obra: COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: Teoria. Análise.
Didática. São Paulo: Moderna, 2000.
120
34
Os depoiment os foram retirados do livro: MINIS TÉ RIO DA E DUCAÇÃ O E CULTURA. Pró
letramento: alfabetização e linguagem. Brasília: [s/n], 2008.
126
discentes também com o texto escrito, por isso deve saber selecionar. Em relação
aos conhecimentos que ainda objetivam aprender, a P1 demonstrou interesse em
conhecer a importância e a estratégia de contação de histórias e como motivar os
alunos para esse momento. A P1 registrou a seguinte opinião sobre essa oficina:
Gostei bastante do encontro apres entado com um texto visual “Uma história
de amor” e fomos questionados sobre o texto e convidadas a mudar o final
da história, em seguida, pudemos compartilhá -la. Dessa forma pode-se
perceber o quanto a leit ura de determinado livro contribui na formação de
leitores críticos capazes de interpret ar e demonstrar as emoções como o de
perdoar ou não uma traição. Preenchemos a rotina realizada em s ala de
aula, podendo perceber a importância que está sendo dado à leitura em
sala de aula e até mesmo modificar o horário para leitura sem devidas
interrupções, assim como os exemplos de leitura de duas professoras, uma
privilegia a leitura e outra deixa em último plano, deix ando os próprios
alunos entenderem assim que a leitura é tida como sem import ância.
Escolhemos um livro de Regina Chamlian para montarmos um
planejamento, e nessa leitura foi poss ível elaborar várias estratégias para
serem trabalhadas com as figuras geométricas , recontar a história at ravés
da ilustração. Essa história cita além das diferenças e discriminação por ser
um pintinho diferente as variadas formas geométricas. Elaboramos a partir
dessa leitura estratégias diferenciadas para motivar os alunos e cont ribuir
com a compreensão textual. (Depoimento P1).
35
E.V.A. é a abreviação de Etil Vinil Acetato. Trata-se de uma borracha não tóxica usada em
diversas atividades artes anais. Também é um material muito usado no meio educacional enquanto
ferrament a didática.
130
36
Optamos por apresent á-lo no corpo do t exto e não colocá-lo soment e como apêndice por
considerá-lo parte important e desta pesquisa-ação.
132
5.4.3 Justificativa
Nesse mesmo sentido se pronuncia Freire (2011, p.40) ao afirmar que “na
formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão
crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que
se pode melhorar a próxima prática”.
Para a formação continuada, Gadotti (2003) propõe ainda que os trabalhos
em grupos, os chamados grupos de reflexão têm uma função relevante. A troca de
experiências entre os profissionais podem ser realizadas por meio de oficinas,
relatos de experiências ou até mesmo grupos de trabalhos. Esses grupos precisam
ser mais incentivados na escola. Nós professores precisamos compreender que
para nos formarmos continuamente em nossa profissão não precisamos ficar
esperando as políticas públicas de formação continuadas, que muitas vezes tratam
de problemas tão distantes de nossas realidades, e sim elaborarmos nossas
próprias formações, aprendendo juntos na escola, através da colaboração.
Sintetizando, nas palavras de Gadotti (2003, p.32):
[...] a nova formação do professor deve estar cent rada na escola sem ser
unicamente escolar, sobre as práticas escolares dos professores,
desenvolver na prática um paradigma colaborativo e cooperativo entre os
profissionais da educação (grifos do autor).
5.4.5 Avaliação
5.4.6 Referências
CONSIDERAÇÕES FINAIS
que não nasceu pronta, com livros e apostilas feitos para que eles estudassem.
Antes disso, alguém, no caso a pesquisadora, foi até esse ambiente escolar, entrou
nas salas de aulas, sentou nas carteiras minúsculas feitas para as crianças,
compartilhou os momentos e até dos problemas vivenciados pelos alunos e
professores. Ela estava lá no dia em que um aluno veio descalço para a escola e a
direção mandou chamar a mãe para explicações e ela disse que o filho estava vindo
descalço porque algum aluno havia jogado o chinelo dele no telhado da escola. Viu
o dia em que as crianças estavam animadas para a professora ler um livro que o
coleguinha trouxe para a sala de aula, mas que por falta de uma formação adequada
ela não soube aproveitar esse momento.
Portanto, a diferenciação dessas oficinas e o que melhor ela proporcionou aos
professores daquela escola, foi o fato de dar vozes aos sujeitos. Eles perceberem
que não precisam ficar esperando alguém de fora da escola que nem conhece a
realidade vir e trazer uma solução. Porque isso não é possível nem na escola X,
nem em qualquer outra do mundo. Mas é possível sim, os educadores serem
responsáveis por suas formações, criarem o hábito e sentirem a necessidade de
constantemente estarem refletindo sobre sua prática pedagógica.
E por fim, esperamos que com a formação proposta no Plano de Ação, cada
vez mais os professores da escola X possam refletir sobre o trabalho com a
Literatura Infantil, e que essas aulas possam ser momentos de muito aprendizado e
gostosura para os pequenos leitores. Que os docentes consigam pensar e
desenvolver estratégias capazes de formar apaixonados leitores literários.
Desejamos a esses alunos um professor bem diferente do meu professor do
primeiro ano, mas que se pareça muito com o meu pai. Pois foi ele quem me fez
encantar pelo mundo da leitura literária.
Aprendemos muito ao longo dessa caminhada. Como diz o grande escritor
contemporâneo amazonense Márcio Souza “A vida é um eterno aprendizado.
Aprende-se em casa, aprende-se nas escolas, aprende-se com os velhos, aprende-
se com os jovens, enfim, aprendemos com as lições da vida, a sempre boa e
experiente escola do mundo”. Aprendemos fatos que ficam como sugestões para
trabalhos futuros, entre eles, citamos a necessidade percebida, meses depois, de ter
gravado as oficinas. Mesmo tendo registrado os acontecimentos em um diário,
sentimos a conveniência de rever e ouvir alguns acontecimentos. Também
encontramos algumas pedras no meio do caminho, a maior de todas é o tempo que
141
o professor possui para planejar e se capacitar. Muitas vezes, como ocorreu nessa
pesquisa, eles precisam abdicar de seu tempo ao lado da família nos fins de semana
para estudarem.
Essa pesquisa trouxe à tona várias questões importantes que abrem espaços
para pesquisas futuras que podem ser realizadas tanto pela própria pesquisadora
quanto por aqueles que desejam compreender e contribuir um pouco mais com a
formação de leitores literário no Brasil. Dentre essas temáticas merecedoras de
maior investigação citamos o letramento literário, termo tão importante e necessário,
pois a criança letrada literariamente possui uma inserção privilegiada ao mundo da
escrita, portanto cada vez mais devemos nos preparar, enqua nto professores, para
formarmos não só alunos letrados, mas letrados literariamente. Perpassou todo esse
trabalho também a questão das políticas públicas de formação continuada no Brasil,
tão importante para colaborar com a formação de professores em desenvolvimento
de sua profissão. Não podemos deixar de considerar ainda os diálogos tão
necessários para o desenvolvimento de qualquer formação continuada. A partir
deles percebemos as reais necessidades dos professores e do ambiente escolar . E
por fim, abordamos as ações pedagógicas dos professores com a LI. Esse tema de
grande relevância não só para esse trabalho, mas também para o educador que
pretende instigar a imaginação dos sujeitos, o exercício da sensibilidade durante a
leitura dos textos.
Concluímos, portanto, considerando que a forma como o professor conduz a
leitura literária em sala de aula depende de muitos fatores relacionados ao contexto
social, a formação inicial e continuada, sua relação com a leitura construída ao longo
do tempo, entre outros. Portanto, muitos podem dizer que é difícil, até uma utopia, a
formação de um docente que consiga formar verdadeiros apaixonados pela leitura
literária. Mas para esses “incrédulos” cito Mario Quintana, quando nos lembra que:
DAS UTOPIAS
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!
(QUINTANA, 2005)
142
REFERÊNCIAS
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Ática, 1995.
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Acesso em: 21 dez. 2014.
SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6.ed. Tradução Cesar Coll. Porto Alegre:
Artmed, 1998.
ZABALA, Antoni. A Prática Educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.
ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. 11. ed. São Paulo: Global,
2003.
b)Fone:
c)Endereço:
d)Horário de funcionamento:
f) Quantidade de professores:
g)Quantidade de funcionários:
h)Quantidade de alunos:.
2-ASPECTOS ESTRUTURAIS
a)Número de salas de aula:
Acervo:
Responsável:
Acervo:
Responsável:
d)Sala de Informática ( )SIM (__)NÃO
Condições de funcionamento: _
Número de computadores:________________
Horário de funcionamento:
______________________________________________________________
Pessoa responsável (Formação e horário de trabalho):
150
Prezados professores,
Pauta
Literatura Infantil e seus diversos gêneros