Prática de Leitura, Escrita e Literatura Na Educação Básica
Prática de Leitura, Escrita e Literatura Na Educação Básica
Prática de Leitura, Escrita e Literatura Na Educação Básica
P912
Livro em PDF
ISBN 978-65-5939-795-2
DOI 10.31560/pimentacultural/2023.97952
CDD 372
PIMENTA CULTURAL
São Paulo • SP
+55 (11) 96766 2200
[email protected]
www.pimentacultural.com 2 0 2 3
CONSELHO EDITORIAL CIENTÍFICO
Doutores e Doutoras
CAPÍTULO 1
Lucimarly Tavares da Fonseca
Maria Alice Mota
A variação de uso dos
pronomes este e esse no processo de
referenciação de textos argumentativos...........................................13
CAPÍTULO 2
Wenis Vargas de Carvalho
Raquel Maria Cardoso Pedroso
Fernanda de Fátima Maciel
Análise sociolinguística
do fator idade da Língua Brasileira de
Sinais através de uma tirinha............................................................... 47
CAPÍTULO 3
Ana Caroline Freitas Alves
Maria Alice Mota
Argumentatividade, aspectos
socioculturais e interdisciplinares:
uma análise de produções textuais
do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM)......................................................... 67
CAPÍTULO 4
Lenilson de Almeida Feitosa
Crenças e atitudes nas escolas do campo:
o que dizem os professores sobre
os fenômenos variacionistasdo português brasileiro?.............................................95
CAPÍTULO 5
Cecília de Almeida Coelho
Maria Alice Mota
Liliane Pereira Barbosa
Welber Nobre dos Santos
Ensino remoto de Língua Portuguesa,
Plano de Estudo Tutorado
(PET) e a Linguística Textual.............................................................. 120
CAPÍTULO 6
João Pedro Viveiros Ribeiro
Arlete Ribeiro Nepomuceno
Vera Lúcia Viana de Paes
Maria Clara Gonçalves Ramos
Maria Gabriela de Souza
Gênero tirinha de Mafalda
e a multimodalidade.............................................................................. 135
CAPÍTULO 7
Maria Gabriela de Souza
Arlete Ribeiro Nepomuceno
Vera Lúcia Viana de Paes
Maria Clara Gonçalves Ramos
Letramento multimodal no gênero
cartaz de filme na mídia digital.......................................................... 153
CAPÍTULO 8
Rosemary de Souza Almeida
Maria Clara Maciel de Araújo Ribeiro
Letramento de surdos
no ensino superior:
um estudo sobre práticas letradas...................................................................... 173
CAPÍTULO 9
Maria de Lourdes Guimarães de Carvalho
Janderson de Almeida Nobre
Vanessa Menezes Oliveira
Arlete Ribeiro Nepomuceno
Linguística Textual:
princípios teóricos e práticos............................................................................. 192
CAPÍTULO 10
Maria Clara Gonçalves Ramos
Arlete Ribeiro Nepomuceno
Samuel Parrela Braga
Vera Lúcia Viana de Paes
Vulnerabilidade feminina na série
“Bom dia, Verônica”, sob o viés
de marcas avaliativas............................................................................ 219
CAPÍTULO 11
Samuel Parrela Braga
Arlete Ribeiro Nepomuceno
Maria Clara Gonçalves Ramos
Vera Lúcia Viana de Paes
Multissemioses em post
publicitário da Skol Beats................................................................... 243
CAPÍTULO 12
Arlete Ribeiro Nepomuceno
Vera Lúcia Viana de Paes
Maria de Lourdes Guimarães de Carvalho
Maria Cristina Ruas de Abreu Maia
O contexto de situação e de cultura
na tirinha de Calvin e Haroldo........................................................... 263
Sobre os autores..............................................................................279
SUMÁRIO 11
além do aparato teórico relacionado a aspectos da linguagem,
apresentam também um caráter propositivo, com abordagens
metodológicas a serem exploradas nas práticas de leitura, escrita
e literatura. Enfim, a publicação desta coletânea de estudos tem
como objetivo precípuo estabelecer comunicação entre os espaços
acadêmicos de pesquisa, os professores de Língua Portuguesa
e Literatura e a sociedade em geral. Para isso, as diferentes
abordagens são imprescindíveis no sentido de suscitarem propostas
eficazes e inclusivas para o ensino e a aprendizagem da Língua
Portuguesa e da Literatura.
SUMÁRIO 12
1
Lucimarly Tavares da Fonseca
Maria Alice Mota
A VARIAÇÃO DE USO
DOS PRONOMES ESTE E ESSE
NO PROCESSO DE REFERENCIAÇÃO
DE TEXTOS ARGUMENTATIVOS
DOI:10.31560/pimentacultural/2023.97952.1
RESUMO
O objetivo deste estudo é analisar a variação de uso dos pronomes este e
esse no processo de referenciação de textos argumentativos. Este estudo
se justifica porque possibilita ampliar o escopo dos estudos relacionados
à variação e o processo de referenciação. A pergunta que norteia este é
estudo é: os referidos pronomes, sejam nas suas formas puras, sejam nas
suas formas contraídas, em seu uso variável nos textos argumentativos,
cumprem a sua função referencial obedecendo ao critério normativo? A
nossa hipótese é que, no desempenho da sua função referencial nos tex-
tos argumentativos, esses pronomes são usados predominantemente com
função anafórica, ora obedecendo, ora desobedecendo ao critério norma-
tivo, independentemente do nível de escolaridade do escritor. O aporte teó-
rico-metodológico é feito seguindo os pressupostos da Sociolinguística
Variacionista. Quanto à metodologia, a pesquisa é de cunho bibliográfico
e exploratório, e a análise é de natureza quanti-qualitativa, nos termos de
Gil (2008), com a adoção dos seguintes procedimentos: i) aprofundamento
teórico; ii) composição do corpus, com 12 textos disponíveis em bancos
de dados virtuais; e iii) análise e discussão dos dados. Os resultados indi-
cam que os autores dos textos analisados, tendo em vista a articulação
dos argumentos, usam, de forma variável, os pronomes este e esse como
mecanismo referencial, ora com função anafórica (retomando um termo
já referido), ora com função catafórica (antecipando um termo a que se
vai referir), com predomínio de uso com função anafórica. A hipótese
levantada foi parcialmente confirmada, pois verifica-se, nesses usos, uma
variação entre os pronomes este e esse, na qual percebe-se, por vezes, a
ausência de rigor normativo que diferencie os contextos de uso de um ou
de outro pronome em suas formas puras ou contraídas. Percebe-se que os
autores dos textos, consciente ou inconscientemente, lançam mão desses
elementos para avançar e retroagir no eixo de sucessividade e retroativi-
dade em que o texto se vai organizando.
PALAVRAS-CHAVE: Pronomes demonstrativos. Referenciação. Sociolin-
guística. Textos argumentativos.
SUMÁRIO 14
INTRODUÇÃO
Os primeiros estudos sobre a linguagem humana remontam
à antiguidade clássica. Para os gregos a função da língua era
de refletir o pensamento e o conhecimento de mundo, e toda a
atividade entorno dela, centrava-se nas técnicas do discurso.
Dessa era ao final do século XIX tem-se o período dos estudos
linguísticos denominados pré-saussurianos. Nesse período os
estudos linguísticos ainda não contavam com um objeto de
estudo específico. Seguindo-se no tempo, chega-se ao período
denominado Saussuriano, no qual há plena divulgação das ideias
do mestre genebrino Saussure, as quais contribuíram para que a
linguística se constitui-se ciência, e o estruturalismo se estabelece
como corrente teórica, havendo, assim, uma dedicação maior
aos estudos da linguagem, a qual passa a ser objeto de estudo
da linguística. A publicação da obra póstuma Curso de Linguística
Geral (1916), contendo os pressupostos estabelecidos por Saussure
representa um marco desse período. Cumpre-nos ressaltar que
essas ideias foram fundamentais para a contínua evolução dos
estudos da linguagem no período posterior, o qual se denominou
pós-saussuriano. Nesse período o matemático e linguista Noam
Chomsky, com a corrente gerativista, traz novas ideias e novas
perspectivas para os estudos linguísticos, como a teoria inatista, que
concebe a capacidade inata do homem para a linguagem. Porém,
ainda nessa teoria, considera-se o caráter homogêneo da língua.
Contrapondo-se a essa ideia, surgem as correntes funcionalista e
Sociolinguística, as quais vão levar em conta, para análise, a língua
em uso nas diferentes situações comunicativas. Especificamente
a Sociolinguística vai defender veementemente a heterogeneidade
linguística motivada por fatores linguísticos e sociais, e é na esteira
dessa corrente que a pesquisa que aqui se propõe se desenvolve.
SUMÁRIO 15
Assim, a proposta, tomando por base pressupostos da
Sociolinguística, trata do tema da variação linguística tendo como
objetivo geral analisar a variação de uso dos pronomes este e esse no
processo de referenciação de textos argumentativos. Como objetivos
específicos, propomos, a saber: i) traçar um breve panorama histórico
sobre a evolução dos estudos linguísticos; ii) evidenciar os principais
pressupostos da Sociolinguística Variacionista; iii) explicitar
a abordagem de gramáticos sobre o emprego dos pronomes
demonstrativos este e esse; demonstrar a função dos pronomes
demonstrativos este e esse como elementos referenciais nos textos
argumentativos; e iv) caracterizar o tipo textual argumentativo.
SUMÁRIO 16
A conclusão a que chegamos é que os autores dos textos
analisados, tendo em vista a articulação dos argumentos, usam, de
forma variável, os pronomes este e esse como mecanismo referencial,
ora com função anafórica (retomando um termo já referido), ora
com função catafórica (antecipando um termo a que se vai referir),
com predomínio de uso com função anafórica. Percebemos que
os autores dos textos, consciente ou inconscientemente, lançam
mão desses elementos para avançar e retroagir no eixo de
sucessividade e retroatividade em que o texto se vai organizando,
algumas vezes desobedecendo aos princípios normativos que
regem esses pronomes.
1 REFERENCIAL TEÓRICO
Tendo em vista o objeto de estudo desta pesquisa, esta
seção será composta pelas seguintes seções: 1.1 Breve panorama
histórico dos estudos linguísticos, subdividida em duas subseções:
1.1.1 Os estudos pré-saussurianos e 1.1.2 Os estudos saussurianos
e pós-saussurianos; 1.2 A teoria Sociolinguística; 1.3 Os pronomes
demonstrativos na abordagem da gramática tradicional; 1.4 Os
pronomes como elementos de referenciação e coesão textual;
1.5 Os pronomes demonstrativos este e esse como elementos de
referenciação e coesão textual; e 1.6 Tipos e gêneros textuais.
SUMÁRIO 17
1.1 BREVE PANORAMA HISTÓRICO
DOS ESTUDOS LINGUÍSTICOS
SUMÁRIO 18
como o conjunto de regras que regem a síntese dos elementos que
constituem a língua. Já na Idade Média, tiveram destaque as pesquisas
em fonética de Donato (século IV d.C.), comparando o latim com o
grego, e os estudos de Prisciano (século V d.C.), que propôs a primeira
definição de sintaxe do Ocidente. As gramáticas desses autores foram
usadas como manuais de ensino durante toda a Idade Média, e os
estudos gramaticais que se seguiram tiveram como base essas obras.
1 O caráter normativo e purista da disciplina gramatical explica-se pelo fato de se admitir como
“correta” a língua usada pelos grandes escritores, ou seja, uma determinada variante da língua.
SUMÁRIO 19
a se desvincular da tradição gramatical e a desenvolver metodologias
próprias e mais específicas, encaminhando-se para a constituição
da Linguística Moderna. Passou-se a privilegiar a comparação
das línguas com o objetivo de deduzir os princípios gerais de sua
organização e encontrar um elemento comum que, talvez, explicasse
a natureza da linguagem. A gramática histórico-comparativa
ocupou-se, essencialmente, da investigação das unidades lexicais,
gramaticais e sonoras das línguas. É importante ressaltar que o
ensino da língua mantinha sua referência na tradição gramatical.
SUMÁRIO 20
universal, inata e inerente a todo ser humano, o que, em relação à
teoria saussuriana é um grande avanço como explica Criscuolo (2014):
[...] um novo modelo de análise foi proposto pelo linguista
americano Chomsky (1957; 1965), na metade do século
XX: sua proposta mais elaborada, tinha por objetivo dar
conta de fenômenos dessa natureza, não explicados até
então. De acordo com Cervoni (1989), a principal crítica
de Chomsky aos estruturalistas foi a não consideração,
por parte destes, da criatividade como característica da
linguagem. (CRISCUOLO, 2014, p. 21)
SUMÁRIO 21
A partir da década de 1960, graças ao linguista William Labov,
os estudos da língua voltados para a perspectiva social se firmaram
definitivamente, o que permite o surgimento da Sociolinguística, teoria
que parte do princípio fundamental de que a língua é heterogênea, já
que, em toda comunidade, os falantes empregam modos diferentes
de se expressar, o que representa, segundo Cyranka (2014), “uma
qualidade específica do fenômeno linguístico que, além de seu
aspecto formal e estruturado, exibe essa outra faceta, a da variação” .
SUMÁRIO 22
Conhecida também como Teoria da Variação, a Sociolinguís-
tica Laboviana, tem como objeto de estudo a variação e a mudança
da língua dentro do contexto social, e essa variação é inerente a
todas as línguas, como bem explica Mollica (2015):
Todas as línguas apresentam um dinamismo inerente, o que
significa dizer que elas são heterogêneas. Encontram-se
assim formas distintas que, em princípio, se equivalem
semanticamente no nível do vocabulário, da sintaxe e
morfossintaxe do subsistema fonético, fonológico e no
domínio pragmático discursivo.” (MOLLICA, 2015, p. 9)
SUMÁRIO 23
Os estudos sociolinguísticos oferecem valiosa contri-
buição no sentido de destruir preconceitos linguísticos
e de relativizar a noção de erro, ao buscar descrever o
padrão real que a escola, por exemplo, procura desquali-
ficar e banir como expressão linguística natural e legítima.
(MOLLICA, 2015, p. 13)
SUMÁRIO 24
discursivas, sendo essa última a que contém o subtópico importante
para esta pesquisa que é os fenômenos relacionados à coesão textual.
SUMÁRIO 25
Há situações embaraçosas para o emprego do demons-
trativo anafórico, isto é, aquele que se refere a palavras
ditas ou que se vão dizer dentro do próprio discurso (catá-
fora). Ocorre o caso, por exemplo, nas referências a enun-
ciados anteriores que envolvem afastamento da 1 pessoa
ou ao tempo em que se fala. Nestes casos, geralmente,
prevalece a preferência para nossas próprias palavras,
aparecendo, assim, o anafórico este (e flexões) em lugar
do dêictico esse (e flexões): (BECHARA, 2019, p. 206)
SUMÁRIO 26
1.4 OS PRONOMES COMO ELEMENTOS
DE REFERENCIAÇÃO E COESÃO TEXTUAL
A organização e a coesão de um texto dependem de alguns
processos entre os quais se encontra a referenciação que, segundo
Fávero (1994) pode ser situacional (algo que está fora do texto) ou
textual (dentro do texto).
SUMÁRIO 27
sua análise é predominantemente frasal, o qual não permite que se
estabeleça a compreensão da importância dos elementos coesivos
na estrutura textual.
SUMÁRIO 28
Lembrando que o referente nem sempre é uma palavra, mas pode
ser uma oração ou até mesmo uma ideia.
SUMÁRIO 29
que o domínio discursivo da comunidade ao qual integra lhe garante
êxito discursivo. Conforme Bakhtin,
Todos os diversos campos da atividade humana estão
ligados ao uso da linguagem. Compreende-se perfei-
tamente que o caráter e as formas desse uso sejam tão
multiformes quanto os campos da atividade humana, o
que, é claro, não contradiz a unidade nacional de uma lín-
gua. O emprego da língua efetua-se em forma de enun-
ciados (orais e escritos) concretos e únicos, proferidos
pelos integrantes desse ou daquele campo da atividade
humana. (BAKHTIN, 2003, p. 261)
SUMÁRIO 30
A seguir, a figura 2, no qual Nicola (2006), citado por Marques
(2015, p. 12) caracteriza os tipos textuais em narrativo, descritivo,
argumentativo, explicativo ou expositivo, instrucional ou injuntivo.
2 METODOLOGIA
Nesta seção, será apresentada a metodologia usada para
desenvolver este estudo, tendo em vista os objetivos, as hipóteses e
SUMÁRIO 31
as perguntas científicas formuladas. Assim, a descrição será feita em
duas subseções: 2.1 Princípios metodológicos; e 2.2 Procedimentos
metodológicos, esta é dividida em outras três subseções: 2.2.1
Composição do corpus; 2.2.2 Análise dos dados; e 2.2.3 Tratamento
estatístico dos dados.
SUMÁRIO 32
selecionados de maneira aleatória, sem discriminar o curso. O motivo da
escolha de duas amostras de escritores de níveis escolares diferentes
se deve à intenção de também verificar as possíveis diferenças no
uso variável dos pronomes estudados nos textos que compõem as
duas amostras. Deve levar em conta que tanto as redações quanto os
resumos expandidos passaram por revisões linguísticas, isso leva a
crer, teoricamente, que o índice maior de emprego desses pronomes
está adequado à norma gramatical.
3 ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS
Na presente seção, serão feitas as análises quanti-qualitativa
das ocorrências dos pronomes este e esse, nas duas amostras, a
saber: nos resumos expandidos FEPEG (2019) e nas redações
do ENEM (2019). Para alcançar esse intento, essa análise será
SUMÁRIO 33
dividida em duas etapas, conforme as subseções 3.1 Ocorrência dos
pronomes este e esse nos resumos expandidos publicados nos Anais
do FEPEG da Unimontes (2019); e 3.2 Ocorrências de pronomes este
e esse nos textos argumentativos do ENEM (2019).
Tabela 1 - Ocorrências de pronomes puros este e esse nas redações do ENEM (2019)
Pronomes demonstrativos N.º absoluto %
Pronome puro esse 24/53 45,28
pronome puro este 1/53 1,89
Fonte: As autoras, 2022.
1. Isso pode ser feito por meio de uma associação entre prefei-
turas, governadores e setores federais – já que o fenômeno
envolve todos esses âmbitos administrativos [...] (C1)
SUMÁRIO 35
(2019), no processo de referência endófora (textual) e anafórica (ao
que precede), conforme Koch (2012).
SUMÁRIO 36
citadinos brasileiros são responsáveis pela permanência de
costumes elitistas. (C2)
Gráfico 2 – Distribuição das ocorrências dos pronomes este e esse em contração nas
redações ENEM 2019
SUMÁRIO 37
3.2 OCORRÊNCIAS DOS PRONOMES ESTE E ESSE
NOS RESUMOS EXPANDIDOS DO FEPEG (2019)
Na análise da amostra dos resumos expandidos do FEPEG
(2019), verificou-se a ocorrência total de 98 pronomes demonstrativos
esse e este, puros e em contração. Vejam a seguir, a distribuição
dessas formas na referida amostra:
SUMÁRIO 38
7. Essa pesquisa é de caráter bibliográfico e de cunho descriti-
vo-analítico, onde analisaremos a personagem D. Madalena
a partir de trechos da obra, sob perspectiva da mulher inse-
rida no séc. XIX. (R5)
Gráfico 3 - Distribuição das ocorrências dos pronomes puros este e esse nos
resumos expandidos FEPEG 2019
SUMÁRIO 39
Comparando os dados tabelas 1 e 3 e as ilustrações dos
gráficos 1 e 3, observa-se que os candidatos ao ENEM tendem a
fazer maior uso do pronome puro esse que os escritores da amostra
dos resumos expandidos, já que nesses últimos houve maior
equilíbrio no emprego dos referidos pronomes puros. Quanto ao
referente, verificamos que houve o predomínio da anáfora em
detrimento da catáfora, resultado também encontrado na amostra
das redações do ENEM (2019).
SUMÁRIO 40
No caso das contrações dos pronomes demonstrativos
analisados, as formas nesse e deste tiveram a segunda maior
ocorrência. Na maioria das vezes, a forma nesse foi usada com função
anafórica cujo referente é uma ideia, conforme os exemplos a seguir:
SUMÁRIO 41
16. [...] nesta pesquisa, para fins metodológicos, não nos detemos
nos processos narrativos ou conceitos, que se significam a
partir da posição corporal dos participantes[...] (R1)
SUMÁRIO 42
ao gráfico 2 das redações dos candidatos ao ENEM (2019). É
interessante notar que assim como na quase inexpressividade do
pronome puro este nas redações analisadas, não houve a escolha
pelos pronomes em contração deste e neste. Esse mesmo fenômeno
não ocorre com os resumos expandidos, visto que eles apresentam
uso diversificado das formas em contração dos referidos pronomes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo desta pesquisa é analisar a variação de uso dos
pronomes este e esse no processo de referenciação de textos argu-
mentativos, partindo da hipótese de que, no desempenho da sua fun-
ção referencial nos textos argumentativos, esses pronomes são usa-
dos predominantemente com função anafórica, ora obedecendo, ora
desobedecendo ao critério normativo, independentemente do nível
de escolaridade do escritor. Teórica e metodologicamente esta pes-
quisa se embasa nos pressupostos da Teoria Sociolinguística Variacio-
nista. O corpus foi constituído por duas amostras, totalizando 12 textos
argumentativos, sendo seis redações escritas no ENEM (2019) e seis
resumos expandidos apresentados no FEPEG (2019) da Unimontes.
SUMÁRIO 43
A análise quanti-qualitativa permitiu-nos verificar que os
autores dos textos das duas amostras analisadas, tendo em vista a
articulação dos argumentos, usam, de forma variável, os pronomes
este e esse e suas contrações como mecanismo referencial, ora com
função anafórica (retomando um termo já referido), ora com função
catafórica (antecipando um termo a que se vai referir), com predomínio
de uso com função endófora anafórica, nos termos de Koch (2012).
REFERÊNCIAS
BAKTHIN,M. M. O problema dos gêneros discursivos. In: Estética da criação verbal.
Tradução Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes. 2003.
SUMÁRIO 44
BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(Inep). A redação no ENEM 2019: cartilha do participante. Brasília, 2019. Disponível em:
https://download.inep.gov.br/publicacoes/institucionais/avaliacoes_e_exames_
da_educacao_basica/a_redacao_do_enem_2020_-_cartilha_do_participante.pdf.
Acesso em: 01 ag. 2022.
CAVALCANTE, Mônica Magalhães et al. (org.). Referenciação. São Paulo: Contexto, 2003.
249 p. Vários autores.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novissíma Gramática da Língua Portuguesa. 48. ed.
São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2010.
CRISCUOLO, Ana Carolina Sperança. Breve histórico dos estudos linguísticos e sua
influência no ensino da língua. São Paulo: Editora Unesp, 2014. 12 f. Disponível em: https://
books.scielo.org/id/sxg7f/pdf/speranca-9788568334454-03.pdf. Acesso em: 26 jun. 2022.
CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo.
7. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2017. 800 p. Disponível em: https://www.pdfdrive.com/
nova-gram%C3%A1tica-do-portugu%C3%AAs-contempor%C3%A2neo-e158269812.html.
Acesso em: 22 ago. 2022.
CYRANKA, Lucia F. Mendonça. Evolução dos estudos linguísticos. Revista Práticas de
Linguagem, Juiz de Fora, v. 4, n. 2, p. 160-198, jul. 2014. Semestral. Disponível em: https://
www.ufjf.br/praticasdelinguagem/files/2014/09/160-198-Evolu%C3%A7%C3%A3o-dos-
estudos-lingu%C3%ADsticos.pdf. Acesso em: 26 jun. 2022.
FÁVERO, Leonor Lopes; KOCH, Ingedore G. Villaça. Linguística Textual: uma introdução.
3. ed. São Paulo: Cortez, 1994.
FEPEG, 13., 2019, Montes Claros. “A caolha”: reflexões sobre a deficiência e o processo de
desfiliação social. Montes Claros: Unimontes, 2019. Disponível em: https://www.fepeg2019.
unimontes.br/anais/bcbc6ef4-8512-4885-9f00-5fa10d8b45e2. Acesso em: 01 ago. 2022.
FEPEG, 13., 2019, Montes Claros. A criminalização da política retratada nas
produçoes literárias estudantis de uma escola pública baiana. Montes Claros:
Unimontes, 2019. Disponível em: http://www.fepeg2019.unimontes.br/anais/a1c6a6ac-
9c51-457c-aba4-0b595634dd56. Acesso em: 01 ago. 2022.
SUMÁRIO 45
FEPEG, 13., 2019, Montes Claros. A opressão feminina do seculo XIX representada
na obra “Frei Luis de Souza” de Almeida Garret. Montes Claros: Unimontes, 2019.
Disponível em: http://www.fepeg2019.unimontes.br/anais/7df9c663-8256-4b70-945f-
609ebe8dcc60. Acesso em: 01 ago. 2022.
FEPEG, 13., 2019, Montes Claros. Aquarela ou aquaterra? Montes Claros: Unimontes,
2019. Disponível em: https://www.fepeg2019.unimontes.br/anais/68c5ac85-0927-464a-
9b9a-610205ad2c7d. Acesso em: 01 ago. 2022.
FEPEG, 13., 2019, Montes Claros. Arranjos multissemióticos desnaturalizados da
identidade negra em uma capa da revista “Raça Brasil”. Montes Claros: Unimontes,
2019. Disponível em: https://www.fepeg2019.unimontes.br/anais/db523efd-cb62-4dec-
be55-dd9d8f746650. Acesso em: 01 ago. 2022.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Editora
Atlas - Sa, 2008. 220 p. Disponível em: ayanrafael.files.wordpress.com/2011/08/gil-a-c-
mc3a9todos-e-tc3a9cnicas-de-pesquisa-social.pdf. Acesso em: 14 nov. 2022.
KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. 22. Ed. São Paulo: Contexto, 2012.
KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender os sentidos do texto.
São Paulo: Contexto, 2013.
LABOV, William (comp.). Padrões Sociolinguísticos. São Paulo: Parábora Editorial, 2008.
392 p. Tradução de Marcos Bagno, Maria Marta Pereira Scherre, Caroline Rodrigues Cardoso.
LEITE, Jan Edson Rodrigues. Fundamentos de linguística. 2010. Disponível em: https://
grad.letras.ufmg.br/arquivos/monitoria/LEITE_2010.pdf. Acesso em: 14 nov. 2022.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais no ensino da língua. In:____.Produção
textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.
MARQUES, André Luiz Moraes. O Revisor e a referenciação por meio dos recursos
fóricos dos pronomes aquele, este/esse, isto/isso. 2015. 39 f. Monografia
(Especialização) - Curso de Pós-Gradução em Revisão de Textos, Centro Universitário
de Brasília, Brasília, 2015. Disponível em: file:///C:/Users/usuario/Downloads/O_
revisor_e_a_referenciacao_por_meio_dos.pdf. Acesso em: 12 set. 2022.
MOLLICA, Maria Cecilia; BRAGA, Maria Luiza(orgs.). Introdução à Sociolinguística:
o tratamento da variação. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2015. 200 p.
SUMÁRIO 46
2
Wenis Vargas de Carvalho
Raquel Maria Cardoso Pedroso
Fernanda de Fátima Maciel
ANÁLISE SOCIOLINGUÍSTICA
DO FATOR IDADE DA LÍNGUA
BRASILEIRA DE SINAIS ATRAVÉS
DE UMA TIRINHA
DOI:10.31560/pimentacultural/2023.97952.2
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo apresentar aspectos relacionados
às variações linguísticas da Libras, tendo como pressuposto a idade
dos participantes surdos sinalizantes. A partir de uma charge com uma
sequência de cenas, tivemos como questão problema como o fator idade
poderia influenciar na interpretação e sinalização da tirinha. Este trabalho
surgiu a partir de uma atividade proposta na disciplina de sociolinguística
do curso de Licenciatura em Letras Libras da UFSC no ano de 2020. A pes-
quisa está fundamentada a partir das perspectivas de Mccleary (2009) e
Labov (2008) que destacam sobre diferentes fatores como a idade, sexo,
nível cultural, entre outras dimensões possíveis que corroboram a variação
linguística desses falantes da Libras. O estudo é de cunho sociolinguístico
variacionista, pois, como explica Silva (2020), buscamos observar elemen-
tos do uso da língua do cotidiano. Para coleta dos dados, o formulário foi
enviado para surdos de diferentes estados através das redes sociais. A
pesquisa contou com a participação de sete surdos, sendo três do sexo
feminino e quatro do sexo masculino, com idade entre 20 (vinte) e 40 (qua-
renta) anos que apresentaram sinalizações distintas para a charge que na
sequência se referia MAGALI, MELANCIA, SUGAR/COMER, SAIR/IR/EMBORA
e SURPRESA. Os vídeos enviados pelos participantes foram transcritos e
analisados, possibilitando a identificação das variações linguísticas. Além
disso, foi observada também a variação na estrutura sintática da Libras,
algumas muito próximas da estrutura sintática do português, fato que
pode ser uma característica linguística do participante ou por influência
do direcionamento da sinalização.
Palavras-chave: Variação linguística. Fator idade. Tirinha. Libras.
SUMÁRIO 48
INTRODUÇÃO
Variações ocorrem em todas as línguas humanas, por mais que
tentem estabelecer padrões linguísticos. Essas variações, sejam em
línguas orais ou sinalizadas, são em grande parte sistemáticas; como
afirmam Pizzio, Rezende e Quadros (2010, p. 11). Segundo as autoras,
Esses fatores sociais que condicionam a variação são os
mesmos para línguas faladas e sinalizadas, como região,
idade, sexo, classe socioeconômica, etnia; outros fatores
parecem ser específicos da variação das línguas de sinais,
tal como a linguagem utilizada em casa, os sinais caseiros,
entre outros. (PIZZIO, REZENDE, QUADROS, 2010, p. 11)
SUMÁRIO 49
REFERENCIAL TEÓRICO
A língua é um organismo vivo e compõe a história de cada
pessoa. Afinal, quando uma pessoa fala, traz “impressa” em sua fala
muitas informações. É possível, muitas vezes, descobrir a procedência,
o nível cultural, o sexo, a idade. O que possibilita essa identificação
são as escolhas de vocabulário, a entonação, o sotaque, o uso de
expressões regionais, a estrutura gramatical (MCCLEARY, 2009, p. 44).
SUMÁRIO 50
Nesta pesquisa, buscou-se observar na produção de falantes
de libras, características comunicativas ou sinais que pudessem ser
atribuídos a determinada faixa etária. Contudo, o tempo de pesquisa,
as contribuições para os dados e a situação pandêmica que estamos
vivenciando não permitiram que conseguíssemos um corpus
considerável para a análise.
METODOLOGIA
Este é um estudo sociolinguístico variacionista, pois, como
explica Silva (2020, p. 1), buscamos observar elementos do uso da
língua do cotidiano. Também acreditamos que “investigar sobre a
variação linguística da Libras pode ser bastante útil para questões
linguísticas mais amplas, para determinar como a linguagem
se organiza, ou seja, como se estrutura, além de aprofundar
conhecimentos sobre a Libras.” (SILVA, 2010, p. 1).
SUMÁRIO 51
Para coleta dos dados, o formulário foi enviado para surdos
de diferentes estados, conhecidos dos participantes por rede de
contato (WhatsApp, Facebook, Instagram e E-mail), solicitando ainda
que o enviasse a outros surdos de suas relações. O formulário ficou
disponível por mais de vinte dias.
ANÁLISE DE DADOS
Nesta pesquisa, o foco da análise sociolinguística estava
voltado para o fator idade, pois a intenção era identificar sinais, ou
formas de sinalizar, que pudessem indicar traços próprios da idade
do sinalizante. Por conta disso, o questionamento sobre a idade dos
participantes apareceu como primeiro item da pesquisa, logo após a
autorização do uso da imagem e a identificação do participante. Na
sequência, além do nível de surdez dos participantes, foi questionado
também sobre outros fatores que poderiam apresentar variantes
linguísticas específicas, como gênero e formação escolar, sendo que,
neste último questionamento, focamos em saber o tipo de escola
frequentada, não o nível de formação, por entender que poderia
haver diferenças entre a sinalização de um surdo formado em escola
bilíngue e um surdo formado em escola inclusiva.
SUMÁRIO 52
Figura 1 – Faixa etária dos participantes
SUMÁRIO 53
Quanto à indicação de gênero, foram dadas três opções:
feminino; masculino; prefiro não dizer. Houve a participação de 45%
(quarenta e cinco por cento) do gêneros masculino e 50% (cinquenta
por cento) do feminino; apenas 5% (cinco por cento) optaram por
não declarar o gênero, como pode ser observado na Figura 3.
SUMÁRIO 54
Figura 4 – Tipo de escola frequentada pelos participantes
TRANSCRIÇÃO
Na segunda página do formulário de pesquisa, havia sido
disponibilizada uma tirinha e solicitado que os participantes a
recontassem em Libras, gravando um vídeo, que deveriam enviar
para os pesquisadores por WhatsApp, Telegram ou e-mail. Dos vinte
participantes que responderam ao formulário de pesquisa, apenas
sete enviaram o vídeo recontando a tirinha. Esses vídeos podem
ser conferidos acessando o link disponível no primeiro item do
Anexo deste documento.
SUMÁRIO 55
Quatro deles declararam ter surdez profunda, sendo que os outros
três participantes declararam surdez leve, severa e moderada. Em
relação à experiência educacional, apenas um participante estudou
em escola bilíngue; os outros seis estudaram em escolas inclusivas.
SUMÁRIO 56
SINAL MAGALI (M BILATERAL CABELO) + ENTRAR + CASA + ANDAR
+ OLHAR LADO PARA O OUTRO + VER + MESA+ REDONDO + SINAL MELANCIA + REDONDO
+ SINAL MAGALI + OBA + PEGAR + FACA + SEGURAR COISA REDONDA (UMA MÃO) +
CORTAR + CORTAR + PEGAR MELANCIA + VIRAR BOCA TUDO + (MÃO DIREITA) RASPAR
+ RASPAR + COMER TUDO + LIMPO + SABOROSO + BARRIGA CHEIA + COLOCAR COISA
REDONDA + ANDAR + ANDAR + ANDAR + PAI + IR + PEGAR COISA REDONDA + CORTAR +
ABRIR PARTE + CARA ASSUSTADO + ACONTECER + ESTRANHO + OLHAR DESCONFIADO +
O-QUE + PENSAR + PENSAR + PENSAR + FIM.
ISADORA MULHER + M-A-G-A-L-I + CORTAR + PEDAÇO + PEQUENO +
MELANCIA. COMER + TUDO + TER + DENTRO + MELANCIA.
SÓ + DEIXAR + FORA + C-A-S-C-A. FUGIR. TARDE + DEPOIS +
PAI + CHEGAR + NÃO-ENTENDER + ERRADO. SÓ.
JOÃO OLÁ + PESSOA + MAGALI (SINAL M - UMA MÃO LATERAL PESCOÇO)
+ ANDANDO + OLHAR + OBA + PEGAR COISA REDONDA + CORTAR + COLOCAR FACA
+ TIRAR PARTE + VIRAR BOCA + GOSTOSO + BALANÇAR FATIA + COLOCAR + ANDAR
OLHANDO + PESSOA + PEGAR FACA + CORTAR + COISA REDONDO EM CÍRCULO + ABRIR
PARTE CORTADA + CARA ASSUSTADA + OLHAR PARA O LADO.
THIAGO MULHER + M (descendo cabelo) + CAMINHAR + VER + BOLA-GRANDE + PROCURAR + PEGAR
(faca) + CORTAR + COLOCAR (faca) + LADO + PEGAR + BOLA (levar até a boca) + SUGAR-
SUGAR + COLOCAR- BOLA (mesa) + SATIRFEIT@ + BO@. MEDO + CORRER + IR-EMBORA. PAI
+ CAMINHAR + PEGAR-BOLA + PEGAR (faca) + CORTAR-BOLA +
ESTRANHAR + CORTAR-BOLA + ABRIR + ASSUSTAR(SE) + SUMIR.
Fonte: Elaborado pelos autores
QUADRO COMPARATIVO
Para realização da tabela comparativa, o grupo selecionou
alguns sinais que consideram como principais e que deveriam ser
apresentados nas gravações encaminhadas pelos participantes da
pesquisa. Assim, da sequência de imagens da tirinha disponibilizada
no formulário de pesquisa, foram destacados alguns sinais referentes
a cada quadro (Quadro 2).
SUMÁRIO 57
Quadro 2 – Quadros da tirinha e sinais selecionados
SUMÁRIO 58
PATRÍCIA CM em “M” MELANCIA Sugar (mão) ANDAR O-QUÊ?
Descendo na (expressão facial)
bochecha duas
vezes
MATHEUS CM em “M” MELANCIA Sugar (raspa limpa ANDAR ERRADO!
descendo no tudo) (movimento dos (expressão facial)
comprimento braços).
do cabelo (sinal
realizado com as
duas mãos)
SUMÁRIO 59
articulação. Alguns participantes usaram a soletração do nome
da personagem, outros fizeram a associação do gênero com a
soletração ou com o sinal.
SUMÁRIO 60
Quadro 5 – Representação do objeto melancia
SUMÁRIO 61
Quadro 6 – Representação da ação sugar
SUMÁRIO 62
Quadro 7 – Representação da ação de fugir ou ir embora
SUMÁRIO 63
Quadro 8 – Representando a surpresa do pai de Magali
SUMÁRIO 64
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa tinha como objetivo principal analisar as
possíveis variantes de dois grupos usuários da Libras com idade
pré-estabelecida (20 a 40 anos e de 40 anos em diante); porém,
infelizmente, não obtivemos o número de vídeos suficiente para
a análise, visto que os participantes que completaram a pesquisa
enviando o vídeo são todos da mesma faixa etária.
SUMÁRIO 65
casos, ao ser avisado pelo participante de que já tinha respondido
à pesquisa, o pesquisador perguntou sobre o vídeo e o participante
se mostrou surpreso (que vídeo?), sendo então orientado de que
havia uma tirinha na segunda página do formulário e que ele deveria
contar a história da tirinha em libras e gravar para enviar por um dos
meios listados no final da pesquisa.
REFERÊNCIAS
LABOV, William. Padrões sociolinguísticos. São Paulo: Parábola, 2008.
PIZZIO, Aline Lemos.; REZENDE, Patrícia Luiza Ferreira; QUADROS, Ronice Muller. Língua
Brasileira de Sinais IV. Florianópolis: UFSC,2010. Disponível em: http://www.libras.ufsc.
br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoEspecifica/linguaBrasileiraDeSinaisVI/assets/619/
TEXTO_BASE_-_LIBRAS_VIn.pdf . Acesso em 16 set 2020.
SOUSA, Mauricio de. Magali. In Blog Aula com saber. Publicado em 14 de maio de 2018.
Disponível em: https://aulaesaber.blogspot.com/2018/05/formando-frases-com-tirinhas.
html Acesso em: 28 jun 2022.
SUMÁRIO 66
3
Ana Caroline Freitas Alves
Maria Alice Mota
ARGUMENTATIVIDADE,
ASPECTOS SOCIOCULTURAIS
E INTERDISCIPLINARES:
UMA ANÁLISE DE PRODUÇÕES TEXTUAIS
DO EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO
(ENEM)
DOI:10.31560/pimentacultural/2023.97952.3
RESUMO
No presente texto, tratamos da redação exigida para o Exame Nacional do
Ensino Médio (ENEM), sendo este uma das principais portas de entrada
para o ensino superior. O objetivo geral desta pesquisa é analisar, espe-
cificamente, como os repertórios sociocultural e interdisciplinar são
cumpridos na escrita de textos que obtiveram nota máxima no referido
exame. Este estudo se justifica porque poderá contribuir para o desen-
volvimento de um trabalho profícuo em sala de aula, com vistas a desen-
volver habilidades escritoras exigidas pelo ENEM e por outras instâncias
sociais. A pergunta científica que norteia este trabalho é: Como os estu-
dantes que obtiveram a nota máxima na escrita dos textos para o ENEM
estão abordando os conhecimentos socioculturais e interdisciplinares
adquiridos anteriormente? A nossa hipótese é que, nessa escrita, os can-
didatos detêm habilidades operacionais que lhes permitem relacionar a
temática aos conhecimentos socioculturais e interdisciplinares adquiridos
anteriormente, por meio dos componentes curriculares. O aporte teórico
conta com Rojo (2009); Soares (2010), entre outros, e documentos oficiais
parametrizadores da Educação Básica e do ENEM. Quanto à metodologia,
a pesquisa é de cunho bibliográfico e exploratório, e a análise é de natu-
reza qualitativa, nos termos de Gil (2008). A amostra foi constituída por dez
redações que obtiveram a nota máxima no ENEM de 2019, entretanto, no
presente texto, iremos analisar apenas alguns trechos de algumas des-
sas redações. A análise dos dados permitiu verificar que os autores das
redações analisadas relacionam o tema a aspectos sociológicos, políticos,
históricos, geográficos, educacionais, artísticos, entre outros, promovendo
um intercâmbio de ideias por meio da intertextualidade e da interdisci-
plinaridade, deixando claro terem não só a habilidade de compreender a
temática proposta, como também de aplicar os conceitos das várias áreas
de conhecimento, selecionando, relacionado, organizando e interpretando
informações, fatos, opiniões, tendo em vista a construção da argumen-
tatividade. Essa análise suscita uma reflexão sobre o número ínfimo de
estudantes que estão formando, na Educação Básica, essas habilidades, o
que leva ao reconhecimento da necessidade premente de uma mudança
nas estratégias pedagógicas adotadas pela escola para esse fim.
Palavras-chave: Escrita. Argumentatividade. Repertório sociocultural.
Interdisciplinaridade.
SUMÁRIO 68
INTRODUÇÃO
O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) é, na
contemporaneidade, uma das principais portas de entrada para
o ensino superior, sendo assim, são milhões de estudantes de
todo o Brasil que o realizam, anualmente, objetivando o acesso à
universidade. Nesse exame, a escrita de um texto dissertativo-
argumentativo constitui-se um desafio para os estudantes.
SUMÁRIO 69
Para isso, busca-se responder ao seguinte questionamento:
Como os estudantes que obtiveram a nota máxima na escrita
dos textos para o ENEM estão abordando os conhecimentos
socioculturais e interdisciplinares adquiridos anteriormente?
Com esse propósito, a nossa hipótese é que, nessa escrita dos
textos exigidos pelo ENEM, para obter o êxito esperado, os
candidatos devem, em primeiro lugar, entender a proposta e deter
habilidades operacionais que lhes permitem relacionar a temática
aos conhecimentos socioculturais e interdisciplinares adquiridos
anteriormente, por meio dos componentes curriculares, sobretudo
os conhecimentos socioculturais.
REFERENCIAL TEÓRICO
LETRAMENTO
Nas palavras de Soares, “letramento é o resultado da ação de
ensinar e aprender as práticas sociais de leitura e de escrita” (2003,
p. 31). Sendo assim, a partir do conjunto das atividades e práticas
sociais no ensino e aprendizagem, através da leitura e escrita, há o
letramento, que, de forma geral, envolve as capacidades do indivíduo
em desenvolver competências e habilidades capazes de contribuir na
sua formação, por exemplo, através dos conhecimentos adquiridos e
da reflexão sobre a realidade. Ainda conforme a autora:
[...] as competências que constituem o letramento são
distribuídas de maneira contínua, cada ponto ao longo
desse contínuo indicando diversos tipos e níveis de
habilidades, capacidades e conhecimentos, que podem
ser aplicados a diferentes tipos de material escrito. Em
outras palavras, o letramento é uma variável continua, e
não discreta ou dicotômica (SOARES, 2005, p. 7).
SUMÁRIO 70
Como exposto por Soares (2005), nota-se que o letramento
proporciona habilidades em seus mais variados níveis e, também,
a aquisição de conhecimentos através da língua e da escrita que
refletem, por exemplo, os aspectos culturais e sociais presentes no
cotidiano. Desse modo, percebe-se a relevância do letramento para
a sociedade, visto que este possibilita o progresso do indivíduo, a
capacidade de ele se desenvolver de forma contínua, proporcionando
que as habilidades sejam aplicadas a partir da compreensão e
reflexão nos diferentes contextos sociais de forma significativa.
SUMÁRIO 71
por apresentar tempos e culturas diferentes, o letramento possui o seu
valor, este é atribuído de forma diversa, visto que há de se considerar
os integrantes e ambientes no meio real apresentado. Dessa maneira,
é essencial refletir sobre o fato de que, na contemporaneidade, a
capacidade de o indivíduo estabelecer relações do letramento com
outros aspectos pode contribuir positivamente de forma espontânea
para o seu desenvolvimento e interação social.
SUMÁRIO 72
relacionados com os aspectos socioculturais, proporcionando que
as atividades comunicativas do cotidiano aconteçam, pensamento
que dialoga com a perspectiva de Val (2017), segundo a qual existem
múltiplas necessidades comunicativas no meio social.
SUMÁRIO 73
Nota-se que a prova de redação propõe temas relacionados
à ordem social, científica, cultural ou política presentes no cotidiano,
assim, solicita ao aluno a defesa de uma tese a partir do tema
solicitado. Sendo assim, o produtor precisa introduzir a temática,
partindo de uma situação-problema, com a intenção de trazer uma
referência com a apresentação de argumentos, fatos e opinião
para a consistência do que foi colocado, considerando uma esfera,
seja ela temporal, geográfica, humana, entre outras (CANTARIN;
BERTUCCI; ALMEIDA, 2017). Como resultado, é necessário seguir
uma estrutura composicional com a introdução (defesa da tese),
o desenvolvimento (argumentos de causa e consequência, por
exemplo) e a conclusão (intervenção para amenizar ou erradicar os
impasses presentes no meio social, considerando o tema proposto,
respeitando-se os direitos humanos). Além disso, é importante
também considerar as modalidades da escrita formal, coerência
e coesão, sendo esses recursos que possibilitam a organização e
sentido das ideias apresentadas.
SUMÁRIO 74
foi posto, por meio da articulação tanto das características presentes
na argumentação como na exposição. Por conseguinte, argumentar
é: “uma prática cotidiana e que é a qualidade dos argumentos a
responsável por convencer o leitor ou ouvinte a aceitar a tese de
que produz o texto” (CANTARIN; BERTUCCI; ALMEIDA, 2017, p. 81).
Nota-se, dessa maneira, a relevância da argumentação no discurso
do produtor, pois, a partir dela, é possível o convencimento das ideias
defendidas no texto, o que revela a importância de explicar com
detalhes e utilizar o repertório, por meio dos componentes curriculares
estudados, alusões históricas, citações de autoridade, dados
estatísticos, filmes, músicas, obras literárias, entre outros recursos, de
modo a proporcionar a credibilidade na tese defendida.
SUMÁRIO 75
escolhas éticas entre discursos em competição [...]” (MOITA LOPES;
ROJO, 2004, p. 46 apud ROJO, 2009, p. 89). Nesse viés, a prova
do ENEM é um dos meios na atualidade de incentivo à reflexão e
desenvolvimento de práticas de escrita que, consequentemente,
resultará no senso crítico do indivíduo e em seu posicionamento
perante as demais instâncias da vida.
SUMÁRIO 76
destes na produção textual, o indivíduo pode se familiarizar com
várias temáticas e demonstrar, por meio do seu repertório, uma
argumentação consistente e organizada, seguindo a coerência.
SUMÁRIO 77
escrita e à leitura, tendo em vista o estabelecimento de relação entre
os conhecimentos socioculturais, interdisciplinares e gramaticais
apresentados no texto produzido. Essa competência exige
determinadas capacidades, entre elas, temos:
[...] interpretação de itens lexicais e gramaticais;
agrupamento de palavras em blocos conceituais;
identificação de palavras-chave; reconhecimento de
elementos paratextuais importantes (títulos, subtítulos,
negritos, sublinhados, parágrafos, deslocamentos,
enumerações, quadros, legendas etc.); seleção e
hierarquização de ideias; identificação de ideias principais
e de argumentos; construção de paráfrases mentais;
associação com informações anteriores e conhecimentos
prévios; antecipação de informações; elaboração de
hipóteses; construção de inferências; compreensão
de pressupostos; controle de velocidade; controle e
focalização da atenção; avaliação do processo realizado;
detecção de erros no processo de decodificação e
interpretação; reorientação dos próprios procedimentos
mentais, entre outras [...] (GARCEZ, 2017, p. 275).
SUMÁRIO 78
dados estatísticos, filme, livro reportagens, entre outros,
que sustentem o tema e que possam desenvolvê-lo com
veracidade; e a estrutura do texto dissertativo-argumen-
tativo, que apresenta introdução, desenvolvimento e con-
clusão (COSTA; MARTINS, 2020, p. 58).
SUMÁRIO 79
Sendo assim, nota-se a importância do cotidiano na
evolução tanto profissional como pessoal do cidadão, pois, a partir
das experiências vivenciadas, seja por meio da família, escola,
trabalho, seja na universidade, igreja, entre outros ambientes, há
a construção do conhecimento e repertório, perante as diferentes
posições sociais experienciadas. Com isso, é importante destacar o
papel da cultura nesse processo de desenvolvimento, pois esta reflete
no comportamento do indivíduo, nas posições que assumirá, por
exemplo, as ideias que ele acredita ser as cabíveis em determinadas
situações e, até mesmo, na formação de argumentos ante as diversas
situações apresentadas.
SUMÁRIO 80
Então, o repertório sociocultural é construído a partir dos
conhecimentos adquiridos através das experiências culturais
vivenciadas em sociedade e, principalmente, pelas informações
acessadas nas mídias sociais, as diversas culturas, os textos
informacionais, os quais são de conteúdos relacionados aos
conhecimentos extralinguísticos.
SUMÁRIO 81
Além disso, é valido mencionar a interdisciplinaridade,
já que ela envolve a relação entre várias disciplinas, sendo assim,
apresenta um conjunto das diversas áreas do conhecimento,
com objetivo comum, o de trabalhar uma determinada temática
(MANGINI; MIOTO, 2009).
SUMÁRIO 82
Ademais, é de suma importância, considerar o papel da
escola no desenvolvimento de práticas interdisciplinares para o
processo de ensino e aprendizagem, sendo que:
[...] do ponto de vista cognitivo, a interdisciplinaridade
recupera a unidade na compreensão das “coisas” (fato
histórico, texto filosófico, fato educativo, comportamento
humano, evento social, fenômeno natural), unidade que foi
quebrada durante a pesquisa científica, a qual procede no
caminho de uma especialização progressiva. O trabalho
interdisciplinar, portanto, não consiste no aprender um
pouco de tudo, mas no enfrentar o problema (explicativo,
previsível, interpretativo) com toda a competência do
especialista que domina o problema, suas dificuldades, as
explicações e previsões dos outros competentes. Além do
mais, do ponto de visto psicossocial, a interdisciplinaridade
que se realiza através do trabalho de grupo, dos docentes
e discentes, poderá ser um dos fatores que contribuem
ao desarraigamento de competição na escola, enquanto
impulsiona a ver no outro um colaborador e não um
rival. A interdisciplinaridade é uma luta contra os efeitos
alienantes da divisão do trabalho (ANTISERI, 1975, p. 185-
186 apud YARED 2008, p. 161).
SUMÁRIO 83
possível que haja a reflexão e mudanças de atitudes, com a troca
de experiências e compreensão no ensino. Assim, considerar os
diversos campos das disciplinas possibilita que haja a construção do
conhecimento, inclusive, para os alunos que estejam se preparando
para a prova do ENEM.
METODOLOGIA
Quanto à metodologia, a pesquisa se caracteriza como
bibliográfica, exploratória e realiza uma análise de cunho qualitativo,
conforme Gil (2008). Para cumprir o objetivo geral proposto,
adotamos os seguintes procedimentos: i) aprofundamento teórico
sobre os processos de letramento; ii) seleção e leitura de materiais
parametrizadores publicados para a prova de redação do ENEM
(2019); iii) composição da amostra, com 10 redações nota mil,
SUMÁRIO 84
elaboradas por candidatos, no ENEM (2019), acessadas em bancos de
dados disponíveis na internet; iv) análise das redações selecionadas.
ANÁLISE DE DADOS
O tema da dissertação do Enem 2019 foi: “Democratização
do acesso ao cinema no Brasil”. De acordo com o Inep (2020),
mais de três milhões e novecentos mil candidatos participaram do
primeiro dia de provas, entre as quais se incluía a prova de redação.
O Instituto registra que o número de redações nota zero foi de
cento e quarenta e três mil e setecentas e trinta e seis redações
(143.736). Em cinquenta e seis mil desses casos (56.000), o motivo
da nota zero foi o fato de o participante ter entregado a prova de
redação em branco. A nota média geral das redações foi 592,9,
representando um pouco mais que 50% da nota total atribuída
(1000). Somente cinquenta e três (53) candidatos atingiram a
nota máxima. Conforme já referido, dessas cinquenta e três (53)
redações, escolhemos dez (10) para compor a nossa amostra.
SUMÁRIO 85
O primeiro trecho é do desenvolvimento 1, do Candidato 1:
SUMÁRIO 86
Percebe-se, acima, que C1 sustenta a ideia colocada em sua
introdução no seu primeiro argumento, sendo o deficitário incentivo
à valorização cultural nas escolas, ressaltando a importância de
um movimento artístico, ocorrido no Renascimento Cultural, com
passagem da Idade Média para a Idade Moderna. Isso mostra que
a cultura era uma forma de transmitir o conhecimento, entretanto,
atualmente, esse recurso não é muito utilizado como deveria. Assim,
é possível observar, conforme defendem Cantarin, Bertucci e Almeida
(2017), que, a partir da situação-problema, o candidato consegue
trazer uma referência para a sua apresentação argumentativa.
SUMÁRIO 87
Figura 2 – Desenvolvimento 2 (C3)
SUMÁRIO 88
parcela de indivíduos com o Fabiano, e, como resultado, consegue
abordar um problema social presente na obra literária de ficção com a
realidade brasileira.
SUMÁRIO 89
Percebe-se, acima, o repertório de viés histórico, em que o
candidato menciona a família real e sua chegada ao Rio de Janeiro,
a partir disso, há uma modernização com meios de acesso à cultura,
com a criação de espaços que proporcionam o acesso cultural,
como bibliotecas e salas de cinema. Como estratégia argumentativa,
o candidato faz a comparação com a passagem dos séculos e a
desigualdade, visto que nem todos são favorecidos com esses
recursos, para isso, cita as regiões Norte e o Nordeste, acionando os
conhecimentos sociais e geográficos oriundos de dados estatísticos
de um site denominado “Meio e Mensagem”, demostrando que apenas
17% da população pode ir ao cinema. Isso revela que o problema é
comprovado por pesquisas, proporcionando maior credibilidade à
argumentação (COSTA; MARTINS, 2020).
SUMÁRIO 90
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, percebe-se, portanto, que os candidatos
que alcançaram a nota máxima conseguiram estabelecer uma
relação com conhecimentos de viés sociológico, filosófico,
artístico, histórico, geográfico, entre outros, já que possibilitaram a
veracidade e consistência na argumentação desenvolvida ao longo
do texto. Ainda, é possível constatar que o aspecto intertextual
da proposta de redação do ENEM (2019) possibilitou a esses
candidatos um intercâmbio de ideias, por meio da intertextualidade
e da interdisciplinaridade, deixando claro que esses escritores
demonstram ter não somente as habilidades de compreender a
proposta de redação, como também aplicar os conceitos das várias
áreas de conhecimento, selecionando, relacionando, organizando e
interpretando informações, fatos, opiniões, conforme é exigido pelo
Inep (2019) para construir os argumentos, tendo em vista a defesa do
ponto de vista e a persuasão dos interlocutores.
Além disso, é perceptível, com base nos dados, que uma das
dificuldades na produção textual do tipo dissertativo-argumentativo,
para muitos redatores, é a seleção do melhor repertório para a
construção dos argumentos de acordo com o tema a ser desenvolvido,
pois este precisa ser coerente e legitimado a uma temática, conforme
já mencionado, podendo também estar relacionado com outras
áreas para ser possível estabelecer uma conexão com a proposta
discutida. Sendo assim, o candidato precisa evitar repertórios
decorados sem qualquer tipo de relação com a temática proposta.
É possível perceber, também, que esse repertório é um dos pontos
iniciais para formulação dos argumentos e defesa do ponto de vista.
Em função disso, precisa ser usado com consciência e coerência, a
partir da discussão, por meio de exemplos, comparações, oposições,
alusões, citações, sejam elas diretas ou indiretas, e confirmações de
ideias. Entretanto, é interessante abordar que este não deve ser visto
como a única parte do texto, como mencionado, ele é o ponto de
SUMÁRIO 91
partida para o desenvolvimento da escrita e de outras habilidades e
competências atribuídas ao texto exigido pelo ENEM.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei número 9394, 20 de
dezembro de 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm
Acesso em: 26 de maio de 2021.
SUMÁRIO 92
BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). A
redação no ENEM 2019: cartilha do participante. Brasília, DF: INEP, 2019.
CANTARIN. Márcio Matiassi; BERTUCCI, Roberlei Alves; ALMEIDA; Rogério Alves. A análise
do texto dissertativo-argumentativo. In. GARCEZ, Lucília Helena do Carmo; CORRÊA,
Vilma Reche (org.) Textos dissertativos argumentativos: subsídios para qualificação
de avaliadores. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira, 2017.
COSTA, Gisele Alves; MARTINS, Adriana Regina Dantas. A escrita do texto dissertativo-
argumentativo: um estudo de caso sobre as competências 2 e 3 do ENEM. Mandinga
– Revista de Estudos Linguísticos, Redenção-CE, v. 04, n. 01, p. 56-67, jan./jun. 2020.
Disponível em: https://revistas.unilab.edu.br/index.php/mandinga/article/view/378.
Acesso em: 20 ago. 2020.
FELPI, Lucas. Cartilha Redação a Mil 2.0. 2019. Disponível em: https://en.calameo.com/
read/005876988ef4231c58234. Acesso em: 20. set. 2022.
GARCEZ, Lucília Helena do Carmo. O ensino de redação. In. GARCEZ, Lucília Helena do
Carmo; CORRÊA, Vilma Reche (org.) Textos dissertativos argumentativos: subsídios
para qualificação de avaliadores. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira, 2017.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
INEP. Resultados Enem 2019. 17 jan 2020. Disponível em: https://download.inep.gov.br/
educacao_basica/enem/downloads/2019/apresentacao_resultados_enem_2019.pdf
Acesso em 12 de julho de 2022.
SUMÁRIO 93
JOSÉ, Mariana Aranha Moreira. Interdisciplinaridade: as disciplinas e a
interdisciplinaridade brasileira. In. Ivani Fazenda (org.) Interdisciplinaridade na
educação I. São Paulo: Cortez, 2008.
MARCUSHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In. Dionísio, Â. P.;
MACHADO A. R.; BEZERRA, M.A. (Orgs.). Gêneros e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.
ROJO, Roxane. Letramentos múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo: Parábola, 2009.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2.ed. 6. reimpr. Belo Horizonte:
Autêntica, 2005.
VAL, Maria da Graça Costa. Redação escolar: um gênero textual? In.GARCEZ, Lucília
Helena do Carmo; CORRÊA, Vilma Reche (org.) Textos dissertativos argumentativos:
subsídios para qualificação de avaliadores. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2017.
SUMÁRIO 94
4
Lenilson de Almeida Feitosa
CRENÇAS E ATITUDES
NAS ESCOLAS DO CAMPO:
O QUE DIZEM OS PROFESSORES SOBRE
OS FENÔMENOS VARIACIONISTAS
DO PORTUGUÊS BRASILEIRO?
DOI:10.31560/pimentacultural/2023.97952.4
RESUMO
Estudos sobre crenças e atitudes linguísticas revelam comportamentos,
sentimentos e percepções dos falantes frente a sua língua ou de outrem.
Nesse sentido, verificar as atitudes dos professores de língua portuguesa
das escolas do campo torna-se crucial. Os motivos justificam-se perante
os fenômenos linguísticos recorrentes nas falas dos discentes, tais como:
rotacismo, alteamento vocálico, ditongação, concordância, etc. Assim
sendo, delineou-se como objetivo central: avaliar as atitudes linguísticas
dos docentes de LP, diante dos fenômenos variacionistas do PB, proferido
pelos alunos do 6º ano em uma Escola Pública Municipal, localizada no
território rural do Município de Breves/PA. O posicionamento negativo
ou positivo dos professores é pedra angular para depreender a respeito
de suas práticas pedagógicas com a variação linguística. O aporte teó-
rico recorreu aos estudos das Crenças e Atitudes, de Lambert e Lambert
(1972), Fernandez (1998); da Sociolinguística educacional: Bortoni-Ricardo
(2014), Bagno (2008); das literaturas da Educação do Campo: Abreu (2013),
Caldart (2012), dentre outros. Os procedimentos metodológicos seguiram
etapas para a coleta e a composição do corpus: (i) pesquisa bibliográfica;
(ii) pesquisa de campo; (iii) foi aplicado um questionário com pergun-
tas semiestruturadas para três professores de LP da referida escola; (iv)
a abordagem da pesquisa foi de caráter quanti-qualitativo da pesquisa
descritiva. Os resultados constataram que as atitudes dos professores são
negativas para o uso de variantes estigmatizadas do PB, e positiva para o
uso da variedade de prestígio. A prática docente valoriza o ensino pres-
critivo da gramática normativa, com pouquíssima ênfase à pedagogia da
variação linguística.
Palavras-chave: Atitudes linguísticas. Prática de ensino. Variação.
SUMÁRIO 96
INTRODUÇÃO
Estudos sobre crenças e atitudes linguísticas revelam
comportamentos, sentimentos e percepções dos falantes frente a
sua língua ou de outrem. Nesse sentido, verificar as atitudes dos
professores de língua portuguesa (LP) das escolas do campo torna-se
crucial, tendo em vista a importância do processo educacional. O
posicionamento negativo ou positivo destes é fundamental para
depreender a respeito de suas práticas pedagógicas, principalmente,
com a variação linguística.
SUMÁRIO 97
O referencial teórico adotado contempla os pressupostos
da Sociolinguística Variacionista: Labov (2008), Tarallo (1991), Calvet
(2002); da Sociolinguística Educacional: Bortoni-Ricardo (2004;
2014), Bagno (2008), Faraco (2007); dos estudos em Crenças e
atitudes linguísticas: Lambert (1972), Fernández (2008), Botassini
(2013); da Educação do Campo: Abreu (2013), Caldart (2012),
dentre outros autores.
REFERENCIAL TEÓRICO
De acordo com Marcos Bagno, em sua mais notável obra
Preconceito linguístico o que é, como se faz (1999), o PB não
apresenta uma unidade linguística, bem como não existe uma
homogeneidade, pelo contrário, o Brasil é multicultural e plurilíngue.
Essa crença linguística, no entanto, encontra-se estabelecida
socialmente, fomentada pela escola na lógica do “falar e escrever”
SUMÁRIO 98
corretamente, na qual a gramática normativa é tida como “língua”, e
não parte da língua (BAGNO, 2008).
SUMÁRIO 99
de crer; fé religiosa; convicção íntima; opinião formada; crendice;
superstição; forma de assentimento que se dá às verdades da fé.
Nessa ótica, acreditar em algo ou alguém de forma verídica faz parte
da nossa cultura, mesmo que isso não tenha valor empírico.
SUMÁRIO 100
crenças de um grupo social são um conjunto de verdades culturais
impostas a cada indivíduo desse grupo (LABOV, 2008).
SUMÁRIO 101
A partir desses postulados, depreende-se que as atitudes
linguísticas manifestadas por um falante são marcadas por preferências
de aceitação ou negação de um dialeto, língua ou variante. Em contato
com outro grupo social, o falante se coloca sob julgamentos e quando
negativos, estes impactam diretamente no preconceito e na identidade
linguística dos falantes (BAGNO, 2008).
SUMÁRIO 102
Por fim, o preconceito linguístico/social camuflado na
linguagem (BAGNO, 2008), citado no início desse tópico, ainda é
recorrente na sociedade brasileira. Propor estudos direcionados à
interface língua/sociedade é um exercício complexo, porém crucial.
Nesse sentido, a temática crenças e atitudes linguísticas torna-se
relevante pela possibilidade de ampliar discussões e reflexões com
relação ao campo educacional brasileiro, e aqui enfatiza-se amarajoara.
SUMÁRIO 103
Para entender esses componentes da perspectiva mentalista, obser-
va-se o esquema que exemplifica cada componente, de acordo com
os autores mencionados.
SUMÁRIO 104
linguística não como um problema, mas como parte inerente às
línguas naturais, sejam elas quais forem.
SUMÁRIO 105
[...] O “erro” linguístico, do ponto de vista sociológico
e antropológico, se baseia, portanto, numa avaliação
estritamente baseada no valor social atribuído ao falante
(BAGNO, 2008, p. 73).
SUMÁRIO 106
Quadro 1 – Fenômenos fonético-fonológicos
Fenômenos Exemplos
Processo de Assimilação dormindo → dorminu
Processo de Monotongação trouxe→truxe
Processo de Rotacismo volta → vorta
Processo de Ditongação nós → nois
Processo de Alteamento bonita → bunita
Processo de vocalização velha → veia
Processo de Desnasalização ontem → ontiØ
Processo de Concordância verbal Nóis jantemo cedo → Nós jantamos cedo
Fonte: Moraes, 2016.
SUMÁRIO 107
existe a possibilidade de representação de determinados elementos
linguísticos (fonéticos, morfológicos, sintáticos, etc.), por diferentes
modos de expressão”. Sob essa ótica, o falar dos povos ribeirinhos
marajoaras é caracterizado como distante do dialeto padrão ou da
variedade de prestígio social.
METODOLOGIA
Os procedimentos metodológicos para esse estudo
vinculam-se aos pressupostos da Sociolinguística Variacionista
(LABOV, 2008) e Educacional (BORTONI-RICARDO, 2014), e
às contribuições de Lambert e Lambert (1972), sobre mensurar
atitudes linguísticas. Em virtude da presença de seres humanos
nessa pesquisa, antes de colher os dados, a proposta de trabalho
foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), subordinado a
uma Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), vinculada
ao Ministério da Saúde.
SUMÁRIO 108
margens direita do rio Jaburu no Município de Breves-Marajó-Pará.
Essa escola atende alunos desde a Educação Infantil, até o Ensino
Médio, sendo que o foco desse estudo reside nas turmas de 6º ano
do Ensino Fundamental.
SUMÁRIO 109
P2 Mulher 55 anos Graduado em Letras Mora na cidade de
(há 25 anos é com especialização Breves
docente de LP)
P3 Homem 43 anos (há 18 anos Graduado em Letras Mora na cidade de
é docente de LP) com especialização Breves
SUMÁRIO 110
Processo de Monotongação Concordância Verbal (CV)
ouro → (ôro), nós vamos → nós vai bem cedinho...
baixo → (baxô), nós fomos → a gente fomo trabalhar ...
paneiro→ (panêro), lavaram as louças →lavaram às louça...
primeiro → (primêro) tiramos açaí ontem → tiremo açaí ontem...
contou → (contô) compramos farinha → compremofarinha...
aumentou→ armentô eu fiz o gol → eu fezogol...
Processo de Ditongação Alteamento Linguístico
nós → (nóis) todo→ (tudu)
três → (treis) oito→ (uitu)
mês → (meis) bonita → (bunita)
ilhós → (ilhóis) escrever → (iscrevê)
através → (atraveis) escola → (iscola)
Fonte: elaborado pelo autor.
1 De que maneira você desenvolve suas atividades frente aos fenômenos linguísticos identificados na
escrita de seus alunos?
2 Você prioriza o ensino de gramática prescritiva?
3 Você identifica esses fenômenos na fala dos seus alunos em suas aulas? Como você reage?
4 Você trabalha com a perspectiva da variação linguística em suas aulas de LP?
Fonte: elaborado pelo autor.
SUMÁRIO 111
Para a análise dos dados coletados na pesquisa de campo,
realizada em junho de 2022, foram selecionadas somente 04
questões do segundo questionário, descritas na tabela III.
ANÁLISE DE DADOS
Os resultados, a princípio, constataram que as atitudes dos
professores são negativas para o uso de variantes estigmatizadas do
PB, e positiva para o uso da variedade de prestígio (norma-padrão). A
prática docente valoriza o ensino prescritivo da gramática normativa,
com pouquíssima ênfase à pedagogia da variação linguística. As
consequências dessas ações pedagógicas implicam o preconceito,
identidade e apagamento das variantes linguísticas faladas pelos
discentes das escolas ribeirinhas. Seguem alguns recortes das
principais respostas dos professores entrevistados.
SUMÁRIO 112
A partir dessas primeiras respostas, já é possível verificar
que as atitudes docentes são negativas para o uso das variedades
de menos prestígio social. Em nenhum momento, verificou-se
uma preocupação com os aspectos socioculturais e históricos dos
discentes. P1 ressalta o aspecto cultural, mas acaba sucumbindo
para o uso da gramática prescritiva em suas ações pedagógicas.
Faraco (2007) já enfatizava para o desafio da construção de uma
pedagogia plenamente variacionista no século vigente. Lógico que
a variedade padrão não deve ser deixada de lado, mas também não
pode ser elevada como “melhor” que as demais (BAGNO, 2008).
Gráfico 1
7%
79%
Sim Não
SUMÁRIO 113
Importante destacar aqui as observações de Bortoni-Ricardo
(2014), a respeito da pedagogia culturalmente sensível. Tal pedagogia
não desconsidera o ensino da gramática normativa, mas recorre a ela
de forma diferente, utilizando-a nos contextos reais de comunicação,
ou seja, valoriza o funcionalismo da língua em seu estado de uso.
É essa premissa que devemos buscar para a prática docente, sem
desprestigiar uma em função da outra.
P3_ “Sim, oriento meus alunos sobre essa maneira errada de falar e
escrever...”
SUMÁRIO 114
hegemônico e eurocêntrico suplantado em nossas mentes por
séculos. Despertar a consciência linguística dos docentes e discentes
é crucial para uma linguagem mais inclusiva e cidadã; do contrário,
as crenças linguísticas permanecem.
Gráfico 2
’
SUMÁRIO 115
Segundo Abreu (2013), os livros didáticos das escolas urbanas
são utilizados, também, nas escolas ribeirinhas, soma-se a isso a falta
de formação continuada para esses docentes em temáticas sociais e
linguísticas. Dessa maneira, as crenças implícitas dos livros didáticos
imperam no fazer docente de LP, e o mito do “falar” e “escrever”
corretamente, mais ainda. Essas informações complementares
foram obtidas a partir de conversas informais com os professores,
durante a pesquisa de campo, as quais contribuíram para aprofundar
o entendimento da temática em debate.
SUMÁRIO 116
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final desse estudo, concretizou-se a primeira parte
dos objetivos traçados, que diz respeito à aferição das atitudes
linguísticas dos docentes de LP, frente aos fenômenos linguísticos em
contexto de sala de aula. A próxima etapa implementará um projeto
de intervenção pedagógica com ênfase na formação continuada
dos professores, com vistas à pedagogia da variação, preconceito e
identidade linguística. Os saberes locais advindos dos fatores sócio-
histórico-culturais serão considerados nesse projeto intervencionista.
SUMÁRIO 117
está mergulhado nos muitos mitos linguísticos, sendo que desfazer
essa mentalidade docente requer esforço, dedicação e pesquisas.
Buscou-se, no presente trabalho, rumar nessa direção, deixando fios
linguísticos para novas pesquisas nesse campo do saber.
REFERÊNCIAS
ABREU, Waldir Ferreira de. Educação ribeirinha: Saberes, vivências e formação no
campo. 2ª Ed. GEPEIF-UFPA, Belém, 2013.
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico. O que é como se faz. 49ª ed. São Paulo:
Loyola, 2008.
BARCELOS, Ana Maria Ferreira. Reflexões acerca da mudança de crenças sobre ensino e
aprendizagem de línguas. Revista Brasileira de Linguística Aplicada. Belo Horizonte,
v. 7, n. 2, p. 109-138, 2007.
CALVET, Jean Louis. Sociolinguística: uma introdução crítica. São Paulo: Parábola, 2002.
SUMÁRIO 118
FARACO, Carlos Alberto. Por uma pedagogia da variação linguística. In: CORREA, D. A.
A relevância social da linguística: linguagem, teoria e ensino. São Paulo: Parábola;
Ponta Grossa: UEPG, 2007.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
LAMBERT, William. W.; LAMBERT, Wallace. E. Psicologia social. 3. ed. Rio de Janeiro:
Zahar, 1972.
MORAES, L.N. DE. A variação linguística em sala de aula: Uma análise do posicionamento
do professor diante as variações utilizadas pelos alunos. (Trabalho de conclusão de curso) –
Faculdade de Letras, Campus Universitário do Marajó (CUMB/UFPA). Breves-PA, p. 52. 2016.
SUMÁRIO 119
5
Cecília de Almeida Coelho
Maria Alice Mota
Liliane Pereira Barbosa
Welber Nobre dos Santos
ENSINO REMOTO
DE LÍNGUA PORTUGUESA,
PLANO DE ESTUDO TUTORADO
(PET) E A LINGUÍSTICA TEXTUAL
DOI:10.31560/pimentacultural/2023.97952.5
RESUMO
Ao refletirmos sobre o avanço dos estudos linguísticos e as atuais pro-
postas presentes em documentos parametrizadores, tem-se reconhecido
a necessidade da promoção de um ensino de Língua Portuguesa em que
sejam consideradas teorias com uma visão integralizada dos conhecimen-
tos. Entretanto, nota-se que, por vezes, esse tipo de abordagem ainda é
incipiente no cotidiano escolar. Nos últimos dois anos, no âmbito das esco-
las públicas, devido à pandemia da Covid-19, estabeleceu-se que o Plano
de Estudo Tutorado (PET) seria o principal material norteador das aulas
em Minas Gerais. Diante desse contexto, esta pesquisa objetivou analisar
atividades de Língua Portuguesa propostas no PET. Admitindo ser esse
material revelador de uma concepção de língua, a hipótese levantada é
que, por ter sido o principal direcionador do ensino, as atividades nele pro-
postas incluem a análise e reflexão linguística, e não somente uma visão
normativa e prescritiva. Para este estudo, são consideradas as perspecti-
vas da Teoria da Complexidade, da Linguística Textual e estudos acerca da
história e influência da Gramática Tradicional. Quanto à metodologia, esta
pesquisa tem caráter bibliográfico e é de natureza qualitativa. A partir da
análise, os resultados apontam a predominância de uma abordagem inter-
pretativa dos textos, associada a atividades de categorização de termos e
expressões ao tratar de aspectos gramaticais. Com essa constatação, há
que se reconhecer a importância da reflexão sobre as abordagens presen-
tes nos materiais didáticos e nas práticas de ensino para que se passe a
considerar as relações indissociáveis existentes entre os aspectos formais,
funcionais e sociointeracionais da língua.
Palavras-chave: Gramática. Linguística Textual. PET.
SUMÁRIO 121
INTRODUÇÃO
Com o avanço dos estudos linguísticos e as atuais propostas
presentes em documentos parametrizadores, como a Base Nacional
Comum Curricular (BRASIL, 2018) e os Parâmetros Curriculares
Nacionais (BRASIL, 1998), tem-se reconhecido, cada vez mais, a
necessidade de se desenvolver um ensino de Língua Portuguesa em
que se considere as teorias que propõem uma visão integralizada dos
conhecimentos. Entretanto, tomando contato com materiais usados
para o ensino remoto de Língua Portuguesa na Educação Básica,
nota-se que esse tipo de abordagem, por vezes, ainda é incipiente
no cotidiano escolar.
SUMÁRIO 122
Quanto à metodologia, esta pesquisa tem caráter
bibliográfico e é de natureza qualitativa, nos termos de Denzin;
Lincoln, 2006 apud Chueke; Lima (2012) e Gil (2002). Assim, nesse
texto serão apresentados, inicialmente, aspectos teóricos relativos
aos estudos linguísticos e o ensino de língua; em seguida, são
apresentados os procedimentos metodológicos adotados, e, por fim,
a discussão acerca dos resultados obtidos, por meio da análise do
material didático citado.
REFERENCIAL TEÓRICO
SUMÁRIO 123
língua (VIEIRA, 2018). Dessa forma, de um modo geral, embora os
estudiosos da linguagem propusessem novas gramáticas, novos
estudos ainda se baseavam direta ou indiretamente nos modelos
anteriores, fazendo com que as concepções prescritivo-normativas
direcionassem os estudos da linguagem sem que houvesse
questionamentos explícitos sobre sua efetividade.
SUMÁRIO 124
e, segundo teóricos, se dá em três fases com diferentes objetivos
teóricos e concepções de texto, sendo elas: análise transfrástica,
gramáticas textuais e teoria ou linguística dos textos. Conforme
Lima (2017), o primeiro momento consiste na superação da
análise linguística limitada ao nível das frases isoladas, e o texto é
compreendido como uma sequência coerente de enunciados. No
segundo momento, parte-se do todo – o texto – para as unidades
– as frases, e a concepção de texto associa-se a sua produção e
modos de compreensão definidos pelas gramáticas textuais, ou seja,
o funcionamento das regras de cada língua e, consequentemente,
as competências dos usuários. Por fim, a terceira fase volta-se para
a investigação de aspectos como constituição, funcionamento,
produção e compreensão do texto, que é tido, por sua vez, como uma
unidade em constante desenvolvimento dentro de situações reais
de comunicação, a partir de fatores sociocognitivos, interacionais e
comunicacionais (LIMA, 2017).
SUMÁRIO 125
DE OLIVEIRA; QUAREZEMIN, 2016 apud HOCHSPRUNG; CUNHA,
2021). Assim, essa concepção constitui-se como mais adequada
para o estabelecimento de um ensino científico de língua proposto
por correntes como a LT, que pretende refletir sobre os conceitos
propostos até então pela GT, mas que, por vezes, se mostram
lacunares e impossibilitam um processo de ensino e aprendizagem
de língua mais crítico e reflexivo.
SUMÁRIO 126
Ao tratarmos do ensino e aprendizagem de Língua
Portuguesa, por exemplo, em que é possível observar a separação
dos conteúdos componentes da disciplina, seja em materiais
didáticos seja na prática docente em alguns contextos, a teoria da
complexidade conduz o professor de língua à reflexão acerca da
relação de interdependência que há entre o todo – ou seja, o texto,
na perspectiva da LT, e o contexto –, e as partes – as classes de
palavras, as relações sintáticas que estabelecem entre si, e os demais
aspectos formais da língua.
METODOLOGIA
Para se alcançar os objetivos pretendidos nesta pesquisa,
foi realizada inicialmente uma revisão bibliográfica, com o
aprofundamento em teorias como a LT, o Pensamento Complexo,
e aspectos relativos ao percurso histórico no que diz respeito ao
desenvolvimento dos estudos linguísticos e à influência da GT
no ensino de Língua Portuguesa, as quais embasaram a análise
qualitativa feita sob a ótica de Denzin; Lincoln, (2006 apud CHUEKE);
Lima (2012) e Gil (2002).
SUMÁRIO 127
Assim, foram adotados os seguintes procedimentos, a saber:
a seleção de PET dos anos finais do Ensino Fundamental e a análise
crítica acerca das atividades propostas para a disciplina de Língua
Portuguesa. Os PET escolhidos referem-se ao ano de 2021, por
considerarmos que, diferentemente daqueles produzidos em 2020,
no início da pandemia da Covid-19, esse modelo de apostila já se
encontrava mais consolidado no ensino público remoto em Minas
Gerais. Além disso, as questões analisadas focalizam aspectos
morfológicos, sintáticos e semânticos da língua, de modo a identificar
a presença e prevalência ou não de uma concepção linguística
contemporânea, na abordagem desse conteúdo.
ANÁLISE DE DADOS
A partir da análise realizada, verificou-se que, predominan-
temente, no que diz respeito à abordagem de conteúdos gramati-
cais, os preceitos da GT pautam o Plano de Ensino Tutorado de Lín-
gua Portuguesa (PET-LP) da Educação Básica do Estado de Minas
Gerais. Conforme se verifica em um dos PET, ao se tratar das con-
junções, são caracterizadas como “termo que liga duas orações ou
duas palavras de mesmo valor gramatical, estabelecendo uma rela-
ção entre elas”, e é apresentado ao aluno que as conjunções se divi-
dem em subordinativas e coordenativas, sendo essa última “aque-
las que ligam duas orações independentes” (MINAS GERAIS,
2021a, p. 5), em seguida, é apresentada uma tabela com os valores
semânticos e as conjunções correspondentes a cada um deles, de
maneira categorizada.
SUMÁRIO 128
de coordenação que, embora tenham autonomia sintática, não
possuem autonomia semântica. Assim, a autora propõe os seguintes
exemplos: “(1) portanto, não sairemos” (Está chovendo; portanto, não
sairemos.)” e “(2) mas ninguém o encontrou. (Todos os procuraram,
mas ninguém o encontrou.)” (KOCH, 2000, p. 112). Assim, ao atribuir
o conceito de orações independentes às coordenativas, em alguns
contextos, essa ideia pode se apresentar como lacunar, “visto que
independência significa autonomia não só de função, mas também
de sentido” (KOCH, 2000, p. 112).
SUMÁRIO 129
interpretação de texto”, as questões presentes focalizam sobretudo
a compreensão do aluno acerca da narrativa, como, por exemplo,
“Como é o personagem do texto?”, “Como é o dia do personagem?”.
Entretanto, conforme tem-se discutido nesta pesquisa, embora
essas questões sejam relevantes para o desenvolvimento de
habilidades leitoras, faz-se necessário o estabelecimento de
relações entre os diferentes aspectos, formais e funcionais, da
língua, que possibilitam ao aluno o domínio e uso efetivos.
SUMÁRIO 130
Com os avanços e o surgimento de novas teorias linguísticas, como,
por exemplo, a LT, verifica-se, na atualidade, possibilidades de se
pensar e analisar a língua não a partir de signos e/ou frases como
unidades isoladas, mas que integram um sistema mais amplo. E,
nesse sentido, o estudo de Língua Portuguesa deve ultrapassar a
categorização isolada dos termos e, consequentemente, permitir que
estes sejam compreendidos pelas suas funcionalidades no processo
comunicativo, o que certamente irá resultar no desenvolvimento de
habilidades leitoras e escritoras. Nesse sentido, Marcuschi (2008)
propõe que o aluno deve conhecer sim as regras da língua, entretanto
as habilidades de entender ou se fazer entender, necessárias
às situações comunicativas, sobrepõem à necessidade de mera
categorização dos termos.
SUMÁRIO 131
o que exige, por parte do professor, um conhecimento acerca
das teorias linguísticas contemporâneas e suas aplicabilidades.
Assim, o domínio desse conhecimento o possibilitará agir de forma
autônoma diante dos materiais didáticos e, assim, promover um
ensino mais crítico e reflexivo voltado, sobretudo, para o domínio e
compreensão efetiva da língua nas diversas situações de uso.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do desenvolvimento desta pesquisa, com a análise
de questões propostas nos PET, foi possível verificar a presença
recorrente de uma abordagem interpretativa dos diversos gêneros
textuais associada a exercícios, em menor recorrência, que abordam
os aspectos gramaticais da língua e, nesse caso, predominando a
categorização dos termos e expressões, sem que, necessariamente,
haja um estabelecimento de relações do uso dessas categorias com
as suas funções e sentidos dentro do texto.
SUMÁRIO 132
REFERÊNCIAS
BRASIL Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.
Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_
versaofinal_site.pdf. Acesso em: 24 mar. 2021.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
KOCH, Ingedore Villaça. Argumentação e linguagem. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, V. M. Ler e escrever: estratégias de produção textual. São
Paulo: Contexto, 2009.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Linguística de texto: o que é e como se faz? São Paulo:
Parábola, 2012.
SUMÁRIO 133
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução
de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya; Revisão técnica de Edgard de
Assis. 2. Ed. São Paulo: Cortez, 2000. Disponível em: https://docs.google.comview-
er?a=v&pid=sites&srcid=ZGVmYXVsdGRvbWFpbnxwcm9nZXN0YW9hbmd1ZXJhfGd4O-
jIxOTEzNDI0NzhjNWU4. Acesso em: 10 ago. 2022.
MORIN, Edgar. ALMEIDA, Maria da Conceição de; CARVALHO, Edgard de Assis. (orgs.)
Educação e complexidade: os setes saberes e outros ensaios. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2007.
SUMÁRIO 134
6
João Pedro Viveiros Ribeiro
Arlete Ribeiro Nepomuceno
Vera Lúcia Viana de Paes
Maria Clara Gonçalves Ramos
Maria Gabriela de Souza
GÊNERO TIRINHA
DE MAFALDA
E A MULTIMODALIDADE
DOI:10.31560/pimentacultural/2023.97952.6
RESUMO
O estudo empreendido, cujo tema é a crítica social na tirinha de Mafalda
“O sonho de Mafalda”, objetiva construir sentidos imagéticos, interpretando
papéis semióticos plurissignificativos. Buscamos responder: como os sig-
nificados multissemióticos incrustados na tirinha se consolidam na ironia
e no humor? Especificamente, analisamos não só o modo como a ironia
se processa, mas também como ocorrem os significados ideacionais e
representacionais. Tomando esse objeto analítico, apoiamo-nos no qua-
dro teórico-metodológico da Gramática Sistêmico-Funcional (HALLIDAY;
MATTHIESSEN, 2004) e do Design Visual (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006), na
consideração de modos semióticos essenciais à construção de conheci-
mentos e de significados. A proposta metodológica, qualitativo-interpreta-
tivista, opera com as experiências de vida e a forma como os participantes
se posicionam no mundo, com a linguagem a serviço da reflexão sobre a
realidade, utilizada para representar o mundo do falante, permitindo-nos
interpretar e organizar experiências, e com conceitos, enfatizando o tom
irônico. A pesquisa foi motivada por considerar que os multimodos “[...]
se propõem a estender letramentos para além das restrições da lingua-
gem escrita e falada para se conectar às paisagens cultural e linguistica-
mente diversas e aos textos multimodais que são mobilizados e circulam
por essas paisagens” (JEWITT, 2008, p. 145). Os resultados apontam que
os artefatos sígnicos veiculam representações multissemióticas incrusta-
das nas tirinhas, com o entendimento de que o humor se presentifica não
como risível, pois o riso pode ser o efeito do humor, jamais a causa ou
razão da existência dele.
Palavras-chave: Multimodalidade. Linguística Sistêmico-Funcional. Gra-
mática do Design Visual. Tirinha de Mafalda.
SUMÁRIO 136
INTRODUÇÃO
As tiras de Mafalda, escritas por Quino no contexto da
Ditadura Militar argentina, representam a garotinha que sempre
profere questionamentos e falas à frente do tempo em que está
aos pais, que, por muitas vezes, não sabem respondê-la. As tirinhas
apresentam uma linguagem complexa, apesar de aparentemente
simples, que se vale da intertextualidade. Além dela, é importante
se considerar também, em pé de igualdade com o texto verbal, o
plano imagético desse gênero, para que o leitor possa efetivar a
compreensão, assunto do qual trataremos neste trabalho.
SUMÁRIO 137
imagético, a partir da consideração de modos semióticos essenciais
à construção de conhecimentos e de significados.
SUMÁRIO 138
REFERENCIAL TEÓRICO
A GRAMÁTICA SISTÊMICO-FUNCIONAL
Para Halliday (2004[1985]), nas palavras de Silva (2019, p. 14),
a língua(gem) “é um complexo sistema de interligados [...] dos quais
os falantes se valem para produzirem significados em contextos
sociocomunicativos”. No modelo funcionalista do qual faz parte,
Halliday (2004[1985]) defende a ideia de que a língua se organiza
em volta da construção de significados na índole linguística, “para o
qual a multiplicidade funcional se reflete na organização interna da
língua, com a investigação da estrutura a serviço das necessidades a
que a linguagem serve” (SILVA, 2019, p. 13).
SUMÁRIO 139
língua(gem) é multiproposicional, protótipa, dialógica e relativa às
funções desempenhadas pelas práticas linguísticas, associando
semântica e pragmática.
SUMÁRIO 140
considerando o ambiente no qual o texto está materializado e,
por isso, é mais instável, restrito, imediato, particular, específico,
subdividido na tríade campo (assunto abordado pelo texto), relação
(ligação social entre os participantes) e modo (os canais semióticos
na transmissão de informações).
SUMÁRIO 141
construídas não aleatoriamente, mas significadas numa senda
gramatical plurifuncional.
SUMÁRIO 142
A GRAMÁTICA DO DESIGN VISUAL
Tributários da GSF, Kress e van Leeuwen (2006), na
Gramática do Design Visual, também se fundamentam no sistema
de transitividade hallidayno como forma de representar e significar
o mundo por meio de projeções imagéticas. As estruturas visuais,
assim como as relações lógicas e funcionais estabelecidas nos
complexos oracionais, valem-se de multimodos plurissignificativos
sociossemióticos para validar a projeção de discursos múltiplos na
sociedade. Influenciados também pela Semiótica Social, Kress e van
Leeuwen (2006) agregam à análise verbo-semiótica de Halliday e
Matthiesen (2014[2004]) formas outras de leitura de manifestações
textuais heterogêneas, validando a relevância dos artefatos
semióticos oriundos de imagens enunciativas.
SUMÁRIO 143
A título de conhecimento, a metafunção interativa se volta
à análise de participantes representados responsáveis por veicular
conceitos e levar os leitores de cada mise-en-scène a ações, com laços
psicológicos criados, a partir do olhar, afinidade social, ponto de vista
etc. A significação composicional, por outro lado, centraliza a senda
estrutural de textos híbridos, examinando os arranjos semióticos que
compõe a verbo-visualidade, cuja máxima se estabelece na relação
e organização de elementos linguísticos diversos.
METAFUNÇÃO REPRESENTACIONAL
Centro desta pesquisa, análoga à significação ideacional
hallidayana, a metafunção representacional lança mão de
associações multimodais para (res)significar o mundo, com interesse
de que os participantes interativos, frente a textos múltiplos, possam
perceber as intencionalidades discursivas e cargas ideológicas que
circundam sintaxes visuais.
SUMÁRIO 144
em que podemos nos deparar com a transitividade direta nesse
processo de ação, mas sem o complemento verbal, pois não há Ator,
quando não há intenção de explicitá-lo. Já o processo narrativo
de ação bidirecional concretiza-se pela reciprocidade, em que
os participantes praticam e recebem a ação, a partir de vetores
imagéticos que partem de ambos.
SUMÁRIO 145
As estruturas conceituais atuam na veiculação de con-
ceitos dos participantes representados, descritos de forma está-
tica, influenciando a categorização, identificação e significação
das representações. A abordagem conceitual da metafunção
representativa endossa processos classificacionais (conceitual
classificatório de taxonomia aberta e fechada), analíticos e simbó-
licos (atributivo e sugestivo). Compõe o foco deste estudo apenas o
processo conceitual simbólico.
METODOLOGIA
Considerando que, para Serafini (2010, p. 87), “[...] imagens
e textos estão sendo combinados em formas únicas, e leitores
[...] precisam de novas habilidades e estratégias de leitura para
a construção de significados em negociação com [...] textos
multimodais”, valemo-nos de conceitos e categorias de análise
propostas pela GSF e a GDV.
SUMÁRIO 146
e cognição, com os participantes Experienciador e Fenômeno)
e relacionais (definem, classificam, caracterizam, generalizam e
identificam os participantes: Portador e Atributo).
SUMÁRIO 147
transacional bidirecional (com o olhar diretivo entre Mafalda e a
mãe – elas se entreolharam), reagindo diante dos acontecimentos
– quadrinho 4; (iii) mental, com balões tipicamente de pensamentos
ou de estruturas semelhantes, advindos dos pensamentos de
Mafalda (quadrinhos 1 e 2) e da mãe (quadrinho 4), sendo ambas
participantes experienciadoras dos pensamentos delas (fenômeno);
(iv) verbal, com o balão de fala, no quadrinho 3, voltado à fala de
Mafalda, com um balão de diálogo.
ANÁLISE DE DADOS
Figura 1 – O sonho de Mafalda
SUMÁRIO 148
A atividade sociossemiótica hallidayiana, com a metafunção
ideacional, narrada pela tirinha, apresenta os processos materiais
fiz e tirei como ações, as quais Mafalda gostaria que a mãe executasse
no contexto de situação, como participante Ator, tendo faculdade
como Meta. Contudo, o processo de ter tirado o diploma na faculdade
não estava presente na realidade de Mafalda, desapontando-a ao
encarar a verdade de frente e lembrou-se de que havia sonhado
(processo mental). Tal processo pode ser classificado também
como fisiológico, tendo em vista o desejo inconsciente de Mafalda
projetado no sonho. Vale ressaltar que esse desejo está presente
também em outras tirinhas da personagem, o que evidencia a
importância dele na narrativa.
SUMÁRIO 149
que revelam a decepção dela quando percebe, no último quadrinho,
que o diploma que a mãe carregava no sonho era, de forma irônica,
o bob de enrolar o cabelo. Essa situação ressalta ainda mais o papel
social da mãe, que, ao contrário do sonho de Mafalda, em vez de ter
um diploma em mãos e ter deixado de ser “uma mulher medíocre”,
ela ainda é uma mulher que se dedica ao lar e se preocupa com
coisas fúteis, na perspectiva da filha.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como conclusão, identificamos que construções visuais
endossam múltiplos significados, estando a serviço dos leitores para
a (res)significação de conceitos no e pelo mundo, para que possam
agir criticamente frente às produções textuais que interligam texto e
imagem (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006).
SUMÁRIO 150
A ampliação para o letramento multimodal, portanto, tor-
na-se premente para a emancipação dos sujeitos, inovando habi-
lidades e estratégias de leitura, para que percebam intencionalida-
des discursivas na representação e conceitualização de arquétipos
nas projeções verbo-visuais, consoante Halliday e Matthiessen
(2004). Por meio da hibridização, o gênero tirinha reverbera o cará-
ter humorístico, podendo ser engraçado, porém não risível, possi-
bilitando uma denúncia ou a deflagração de novas possibilida-
des de visão de mundo.
REFERÊNCIAS
FELÍCIO, Camila Polyane Souza. Uma análise da construção multisistêmica em
tirinhas de Mafalda. Dissertação (Mestrado Profissional em Letras) – Universidade
Estadual de Montes Claros, Montes Claros, p. 119, 2019.
SUMÁRIO 151
HEBERLE, V. Multimodalidade e multiletramento: pelo estudo da linguagem como
prática sociossemiótica. In: SILVA, Kleber Aparecido da; DANIEL, Fátima de Gênova;
KANEKO-MARQUES, Sandra Mari; SALOMÃO, Ana Cristina Biondo. (org.). A formação de
professores de língua: novos olhares – volume II. Campinas: Pontes, 2012, p. 88-106.
QUINO. Mafalda: todas as tiras. Tradução: Mônica Stahel. São Paulo: Martins Fontes, 2016, p. 78.
KRESS, Gunther; VAN LEEUWEN, Theo. Reading images: the grammar of visual design.
London: Routledge, 2006.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Linguística de texto: o que é e como se faz? 3 ed. São Paulo:
Parábola Editorial, 2012.
PATATI, C.; BRAGA, F. Almanaque dos quadrinhos. 100 anos de uma mídia popular. 2006.
SUMÁRIO 152
7
Maria Gabriela de Souza
Arlete Ribeiro Nepomuceno
Vera Lúcia Viana de Paes
Maria Clara Gonçalves Ramos
LETRAMENTO MULTIMODAL
NO GÊNERO CARTAZ DE FILME
NA MÍDIA DIGITAL
DOI:10.31560/pimentacultural/2023.97952.7
RESUMO
Parte integrante do projeto “Semioses visuais em cartazes de filmes”,
edital PRP 7/2021, com o fomento da Unimontes/PROINIC, na modalidade
BIC/UNI, este texto, centrado na análise de multissemioses presentes no
gênero discursivo cartaz de filme, tematiza a investigação dos significados
híbridos construídos pelas lentes sociossemióticas, objetivando destacar
a relevância de artefatos semióticos múltiplos na construção de sentido
em estruturas visuais. Como proposta de letramento multimodal impres-
cindível na contemporaneidade, pretendemos responder: de que modo
os elementos semióticos utilizados no gênero de divulgação atraem os
espectadores, visto que a narratividade é construída por diferentes artifí-
cios sígnicos? Para tanto, embasamo-nos nos estudos da Semiótica Social
da Gramática do Design Visual (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006), cujo foco se
concentra na perspectiva multimodal, para pensarmos as camadas sig-
nificativas engendradas imageticamente pelos produtores de discursos
plurissignificativos, com ênfase nos significados representacionais, inte-
rativos e composicionais. Justifica-se este trabalho pela necessidade de se
pensar e articular, na teia semiótica, relações estabelecidas entre arranjos
outros que compõem uma mise-en-scène, possibilitando que pessoas que
interajam com as sintaxes visuais percebam intencionalidades discursi-
vas. Concluímos que o letramento verbo-visual possibilita às pessoas sig-
nificativa consciência crítica dos efeitos de sentido previamente pensados
pelos produtores para induzir o público-alvo a assistir ao filme.
Palavras-chave: Cartaz de Filme. Gramática do Design Visual. Multimodalidade.
SUMÁRIO 154
INTRODUÇÃO
Nas práticas sociais pós-modernas, na “virada visual”, é
mister entender que o avanço da tecnologia provoca mudanças na
materialização da linguagem, incorporando, nos gêneros discursivos,
modos semióticos que coexistem, significam e completam entre si
no modo verbal (oral e escrito) e visual (estático e em movimento).
SUMÁRIO 155
Esta pesquisa qualitativo-interpretativo, do cartaz de
divulgação do longa “Minari: em busca da felicidade”, estrelado em
2020, articula o corpus às três categorias imagéticas propaladas
por Kress e Van Leeuwen (2006), significados representacionais,
interativos e composicionais, na busca de confirmar as contribuições
de paisagens multissemióticas também responsáveis pelo sucesso
ou não de uma teledramaturgia.
REFERENCIAL TEÓRICO
SUMÁRIO 156
semióticos envolvidos em textos presentes na comunicação
contemporânea, que veiculam gêneros discursivos híbridos em
distintos suportes comunicativos (KRESS; VAN LEEUWEN, 2001).
SUMÁRIO 157
ínterim, o letramento visual faz-se imprescindível na formação social
e crítica dos seres humanos.
SUMÁRIO 158
simbologias visuais, (re)conhecendo o poder socioideológico
dessas manifestações, para os quais signos imagéticos possibilitam
descrever o modo como indivíduos, coisas e lugares são combinados
e estruturados, em maior ou menor grau de complexidade.
SUMÁRIO 159
representados (indivíduos, lugares ou coisas), divididos em dois
processos: (i) processos narrativos ((re)ação) – relacionam-se
a ações e eventos, no reconhecimento dos participantes e do
envolvimento deles em circunstâncias; (ii) processos conceituais – são
responsáveis por identificar e categorizar os elementos que sugerem
a representação da “essência” dos participantes, subdividindo-se em
classificacional, analítico e simbólico (não fazem parte da pesquisa).
SUMÁRIO 160
não transacional (marcada por reator e vetor, quando o olhar
do participante se dirige ao que está fora da imagem) e reação
bidirecional transacional (com reator-vetor-reator, em que os
participantes (re) agem a um fato ocorrido na cena).
SUMÁRIO 161
está mais aberto (long shot), pois o que importa é a impessoalidade,
o que envolve admiração e contemplação.
SUMÁRIO 162
posicionadas no centro da estrutura visual, as informações são
nucleares, enquanto os outros constituintes que rodeiam o texto híbrido
são marginais, com apresentação de valores subservientes e, em certa
medida, dependentes do central.
METODOLOGIA
Por meio de pesquisa qualitativo-interpretativa, coletamos,
como corpus, o cartaz do filme “Minari: em busca da felicidade”,
lançado em 2020, com projeção multissemiótica plurissignificativa
no que tange à representação familiar e aos valores socialmente
(re)construídos na tessitura civil, cujo enredo narra sonhos e
perseveranças de uma família imigrante coreana em meados da
década de 1980, dando visibilidade, em tempos de pandemia, à
produção artística asiática, que está ganhando espaço na mídia.
SUMÁRIO 163
No filme, o diretor Lee Isaac Chung promove um olhar
sensível e semi-autobiográfico à família, à cultura e aos costumes
ocidentais, teletransportando os espectadores à realidade de uma
família coreana em busca da felicidade, em solo americano (área
rural de Arkansas), com o relato de conflitos (familiares e sociais),
provações e tribulações da discriminação racial enfrentados.
SUMÁRIO 164
Ao lado disso, investigamos categorias que se relacionam aos
significados interativos, com potencial da imagem para produzir a
sensação de que podemos interagir com o que está representado,
considerados estratégias de aproximação/afastamento do
produtor com o público-alvo e/ou relações entre pessoas, lugares
e elementos representados, sob suporte do olhar (oferta ou
demanda) e distância social.
Fonte: https://diamondfilms.com/br/ficha-tecnica/240-minari-em-busca-da-felicidade.
Acesso em: 11 jul. de 2022.
SUMÁRIO 165
ANÁLISE DE DADOS
A trama de “Minari: em busca da felicidade” é ambientada
de maneira contida e íntima num campo aberto e distante de outros
municípios, na área rural do Arkansas, na década de 1980, com
apenas uma casa ao redor, representada semelhante a um retrato
profundamente pessoal, apresentando, de maneira monótona,
modesta e discreta, o cotidiano da família tradicional coreana. O
filme tem enfoque mais em ações que em diálogos dos personagens,
encenando-os de forma lenta, silenciosa e reflexiva, como na realidade.
SUMÁRIO 166
de ver o filme, aproximando-se a ele ao incluí-lo como participante
do processo de ação “precisamos” em interface à circunstância
apelativa e temporal do advérbio “agora”. O modo como as estruturas
verbais estão articuladas na imagem é um fator importantíssimo para
que o articulista atinja o interesse comunicativo, sobretudo frente à
comercialização do filme destacado quando centraliza as informações
que o produtor deseja que o leitor perceba primeiramente (centro).
SUMÁRIO 167
busca infindável à superação dos empecilhos contra os quais lutam
no decorrer da trama. A aparência séria da mulher ao olhar para o
marido de forma diretiva exterioriza a possível ideia de estar esgotada
do contexto e condições em que vivem na situação de imigrantes
(processo narrativo de reação unidirecional transacional)
SUMÁRIO 168
visto que, apenas juntos, são capazes de completar os sentidos
desejados pelos produtores de discursos multissemióticos.
SUMÁRIO 169
mundivivências desempenhadas. Essas demarcações socioculturais
conduzem a imagem ao patamar de significação tão pertinente
quanto o sistema semiótico verbal, na busca pela difusão de discursos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos, com a análise híbrida desse gênero de ampla
circulação, que a prática de novas metodologias, como a da GDV,
possibilita aos indivíduos consciência crítica dos efeitos de sentido
utilizados pelos produtores de discurso na sociedade pós-moderna,
para fazê-los aderir ao produto (filmes).
SUMÁRIO 170
A divisão apenas didática entre o tripé metafuncional da GDV
reforça que a língua(gem) é articulada, prototípica e maleável, pois
códigos semióticos múltiplos, correlacionados, fundem a ciência
linguística à seara morfossintática, semântica e pragmática. A
conclusão a que chegamos, portanto, respondendo à interpelação
suscitada neste estudo, reafirma que a indústria cinematográfica,
ciente das evoluções sígnicas por que passa a sociedade tecnológica
vigente, une, estrategicamente, o verbo à imagem, para comercializar
e conseguir a adesão do consumidor prospectado de cenas
enunciativas, como cartazes de filme em lançamento.
REFERÊNCIAS
DIONÍSIO, A. P. Gêneros multimodais e multiletramentos. In: KARWOSKI, A. M. et al. (org.).
Gêneros textuais: reflexão e ensino. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
HELLER, Eva. A psicologia das cores: como as cores afetam a emoção e a razão.
Tradução Maria Lucia Lopes da Silva, São Paulo: Gustavo Gili, 2013.
HODGE, Robert, KRESS, Gunther. Social semiotics. London: Polity Press, 1988.
JEWITT, Carey. Multimodal methods for researching digital technologies. In: PRICE,
Sara; JEWITT, Carey; BROWN, Barry (Eds.). The sage handbook of digital technology
research. Thousand Oaks: Sage, 2013.
KRESS, Gunther, VAN LEEUWEN, Theo. Reading images: the grammar of visual design.
London: Routledge, 2006 [1996].
SUMÁRIO 171
KRESS, Gunther. Representational Resources and the production of subjectivity. In:
CALDAS-COULTHARD, C. M., COULTHARD, M. Texts and practices: readings in critical
discourse analysis, London: Routledge, 1996.
KRESS, Gunther; VAN LEEUWEN, Theo. Multimodal discourse: the modes and media of
contemporary communication. London: Arnold, 2001.
KRESS, Gunther. Literacy in the new media age. London and New York: Routledge, 2003.
ROJO, Roxane; MOURA, Eduardo. Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola, 2012.
SUMÁRIO 172
8
Rosemary de Souza Almeida
Maria Clara Maciel de Araújo Ribeiro
LETRAMENTO DE SURDOS
NO ENSINO SUPERIOR:
UM ESTUDO SOBRE
PRÁTICAS LETRADAS
DOI:10.31560/pimentacultural/2023.97952.8
RESUMO
O curso de Letras/Libras representa uma conquista para a comunidade
surda brasileira. A partir disso, este estudo questiona se um dado curso de
licenciatura em Letras/Libras prevê o desenvolvimento de habilidades de
leitura e escrita do português em seus estudantes surdos e que práticas
de letramento desenvolve com esse intuito. Para tanto, objetiva-se descre-
ver as práticas de letramento acadêmico em português escrito pelas quais
estudantes surdos passam em um curso de Letras/Libras, de maneira a
analisar as percepções que os surdos constroem desse processo. O aporte
teórico que subsidia as reflexões parte dos Estudos Surdos e dos Estudos
de Letramento. Para a realização da pesquisa, os seguintes procedimentos
metodológicos foram adotados: i) seleção de um curso de licenciatura em
Letras/Libras de IES pública; ii) análise documental do PPC, com intuito
de analisar a estrutura do curso em relação às práticas de letramento; iii)
coleta de dados: 08 estudantes do 8º período do curso responderam ao
questionário. Ao final, a pesquisa revelou que, embora o curso desenvolva
algumas práticas de letramento em português escrito, o projeto do curso
não assume essa proposta. Na percepção dos participantes da pesquisa,
houve leitura mediana e pouca escrita durante o curso.
PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Português. Surdos. Letramento. Libras.
Ensino Superior.
SUMÁRIO 174
1 INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos, a educação de surdos no Brasil tem
demonstrado muitas incertezas e alguns acertos. Dessa forma,
tem causado grande prejuízo na escolarização dessas pessoas,
desde a Educação Infantil até o Ensino Superior, tendo como
consequência a evasão e o desinteresse, uma vez que muitos surdos
ainda são discriminados, vistos como incapazes de aprender ou
mesmo de se comunicarem.
SUMÁRIO 175
O curso de Letras/Libras representa uma conquista para
a comunidade surda brasileira, uma vez que legitima e aprofunda
os estudos da Língua Brasileira de Sinais no âmbito da educação
superior e qualifica profissionais para atuar nessa área. Nessa
perspectiva, questionamos nessa pesquisa: embora o referido curso
seja sobre a Libras e em Libras, haveria a previsibilidade de também
desenvolver nos surdos habilidades de leitura e escrita do português,
tendo em vista a perspectiva bilíngue e multicultural que atravessa
a comunidade surda? Quais seriam as práticas letradas a que os
surdos têm acesso no referido curso?
SUMÁRIO 176
selecionados, pudemos compreender como o curso projeta a prática
de leitura e escrita de surdos no âmbito da formação superior e qual
é a percepção que os sujeitos têm desse processo.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Nesta seção, discutimos brevemente aspectos basilares para
a realização desta pesquisa: i) a compreensão de pessoas surdas para
além do estigma da deficiência; ii) o fato de que a Libras é a primeira
língua dos surdos e de que o português escrito é a segunda iii) e o
entendimento de que, numa perspectiva bilíngue, a aprendizagem
das línguas é contínua e ininterrupta.
SUMÁRIO 177
veiculadoras de culturas e instituidoras de identidades entre os
surdos. Tais línguas, diversas e distintas como as línguas orais, não são
invenções pedagógicas ou acessórias, mas a legítima manifestação
daquilo que há de mais próprio à espécie humana: a língua.
SUMÁRIO 178
contato com diversos gêneros e tipos textuais. Desta forma, esses
estudantes ampliam o conhecimento de mundo e da língua escrita,
numa perspectiva bilíngue.
SUMÁRIO 179
Nessa perspectiva, destacamos, ainda, que dados
do Índice Nacional de Alfabetização (INAF)2 revelam que os
indivíduos considerados analfabetos funcionais (analfabetos 8% e
rudimentares 22%) correspondiam a 29% da população em 2018,
enquanto os considerados funcionalmente alfabetizados (elementar
34%, intermediário 25% e proficiente 12%) correspondiam a 71%
(INSTITULO PAULO MONTENEGRO, 2018). Esses dados indicam
que, se a situação de letramento é precária para cidadãos nativos
do português, a precariedade provavelmente é ainda maior em
relação às pessoas surdas, dadas às fragilidades da educação de
surdos, que acontece predominantemente em escolas inclusivas,
que nem sempre são eficientes nos processos de ensino-
aprendizagem dessa população.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O estudo foi realizado em uma Instituição de Ensino Superior
de Minas Gerais que oferta o curso de licenciatura em Letras/
Libras. A licenciatura em Letras/Libras habilita o profissional a atuar
no ensino da Língua Brasileira de Sinais como primeira e segunda
língua no Ensino Fundamental e Médio.
2 O INAF trabalha com uma escala de 5 níveis de proficiência: analfabeto, rudimentar, elementar,
intermediário e proficiente, sendo os dois primeiros níveis correspondentes ao que se compreende
por analfabetismo funcional (INSTITUTO PAULO MONTENEGRO, 2018).
SUMÁRIO 180
Esse curso de licenciatura acontece na modalidade a
distância e no âmbito da Universidade Aberta do Brasil (UAB). Em
2017, o curso inicia-se a partir do ato de autorização MEC/SERES
n° 45/2016 e Portaria CAPES n° 157/2011. As ofertas acontecem
no 1° semestre ou 2° semestre do ano, com funcionamento no
período diurno ou noturno.
SUMÁRIO 181
vista dos procedimentos técnicos, realizou-se um estudo de caso de
um curso em específico e, para isso, elaborou-se um formulário para
ser aplicado aos estudantes do curso.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Como explica Fernandes (2022), os estudantes surdos
leem a língua escrita a partir da visualidade, mediados pela Libras
e pela modalidade visuo-espacial. Assim, no Ensino Superior, ao
produzirem vídeos sinalizados e/ou apresentações em multimídia,
reportam a práticas letradas que apreenderam na graduação ou em
momentos escolares anteriores. Logo, é preciso ter ciência de que,
entre as práticas letradas inclusas no processo de ler e escrever em
uma segunda língua escrita, figura a linguagem verbal e não verbal
para composição de apresentações, reflexões acerca de textos
SUMÁRIO 182
acadêmicos e/ou atividades que ocorrem em fóruns e atividades
avaliativas. É importante destacar que, no curso em questão, era
oportunizada a escolha do formato de registro pelos estudantes,
sendo em Libras ou português escrito. Assim, quando os surdos
leem ou escrevem, para eles, a dimensão multimodal é sempre
evidenciada no processo.
Quadro 1 – Síntese dos questionamentos dirigidos aos estudantes surdos que leem
e escrevem a partir de uma segunda língua
Indagações acerca das práticas de
Excerto da fala de estudantes Sistematização dos resultados
letramento no Ensino Superior
Relação com a leitura e escrita do português, Difícil. Português não saber. Não consegue Compreendem o PL2 parcialmente
durante a realização do curso Letras/Libras entender. Difícil fazer TCC. Português aprende (E1, E2, E3, E5, E7 e E8).
adulta. Pesquisa internet, vídeos, sinais não
conhece, pergunta professor porque não
entende, pede exemplo, explicar porque ver
vídeos várias vezes e não entender (E4, 2022).
Relato se leram e escreveram igualmente Durante o curso, não escrevi igualmente em Não escrevi e li igualmente, porque depende
em todas as disciplinas ou se houve todas as disciplinas, algumas demandaram da disciplina e do professor; e a maioria
alguma disciplina que demandou mais mais atividade de leitura e escrita que outras, deles deixava a opção do português escrito
atividades de leitura e escrita que outras noto essa diferença vinda de professores (registro) ou Libras (vídeo) [...] (E5, E4, E7, E8)
que são ouvintes (não generalizando), que
diferem dos professores surdos que passam
menos conteúdos escritos (...) (E5, 2022).
Quantidade de leitura que realizaram Questão objetiva (múltipla escolha) A quantidade de leitura durante o curso
durante o curso de Letras/Libras foi considerada mediana (considerada
adequada) (E8/E7/E6/E5/E4/E1).
SUMÁRIO 183
Quantidade de escrita que realizaram Questão objetiva (múltipla escolha) Houve pouca atividade de escrita
durante o curso de Letras/Libras durante o curso (E2/E3/E4/E6).
Percepção sobre a sua progressão na Aprende mais ou menos. Pouco progresso na aprendizagem da
aprendizagem da leitura e da escrita do Escreve pouco. (E4, 2022); leitura e escrita (E1, E2, E3, E6, E7).
português durante a realização do curso Meu progresso na aprendizagem
de leitura e da escrita do português
durante a realização do curso, foi
particularmente grande (E5, 2022).
Relate quais foram as suas dificuldades O português era difícil, pois tem muitos As dificuldades estão associadas ao
em relação às atividades de leitura e detalhes. Quando os assuntos eram vocabulário desconhecido em PL2 e
escrita do português na universidade apresentados em Libras nas videoaulas, o termos técnicos da Língua Portuguesa
aprendizado se tornava mais fácil. (E2). (estrutura da língua). (E2/E4/E5/E7/E8)
Relate quais atividades escritas Fórum, prova, difícil português prova em A leitura e escrita apareceu em provas, fóruns,
realizou durante a graduação Libras não escreve só marcar todas (E4). seminários (power point), projetos, atividades
Não houve escrita do português no (E4, E5, E7, E8).
decorrer do curso. Todas as propostas Não tinha ou quase não tinha leitura
eram respondidas em Libras com o e escrita no curso (E1, E2, E3)
uso de gravações. Não havia o contato
presencial com o professor, somente
por meio de gravações (E3)
Opinião quanto ao que poderia ser feito Português é muito importante, e deve Oportunizar o suporte pedagógico mediante
para melhorar o processo de ensino- ser mediado pelo professor bilíngue (...). o professor bilíngue na graduação (E1, E3)
aprendizagem de português durante o curso A exemplo, no curso de Letras Libras Ensino da leitura e da escrita por meio
com o uso da Libras o aprendizado do contato com diferentes gêneros e
foi fácil, não ficou pesado. (E3). contextos sociais, tendo como língua
Difícil… treinar mais leitura com de instrução a Libras (E7, E2)
atividades, textos diferentes. (E7).
Fonte: Elaborado pelas autoras (2022).
SUMÁRIO 184
desde que escolham registrar as atividades por meio do português
escrito, e não da Libras.
SUMÁRIO 185
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Práticas de letramento no âmbito da universidade são
essenciais para o processo de ler e escrever em uma segunda
língua, num curso de graduação em Letras/Libras. Nesta pesquisa,
observamos que o curso selecionado não prevê em seu projeto
de curso, de maneira direta, o desenvolvimento de habilidades de
leitura e escrita do português durante o curso. Ainda assim, essas
atividades ocorrem e poderiam ser potencializadas, se assumidas
como necessárias pelo projeto do curso.
SUMÁRIO 186
Buscou-se neste trabalho a interação entre o projeto do curso
e o protagonismo da voz dos estudantes surdos, que desejam uma
formação efetiva para exercerem a profissão com convicção de terem
tido uma formação sólida baseada em uma proposta bilíngue, ainda que
nesta existam lacunas no que diz respeito à apropriação do português
como segunda língua, fato que, inclusive, é ponto altamente desejável,
mas não necessariamente obrigatório numa graduação em Libras.
REFERÊNCIAS
FERNANDES, Sueli Fátima. Letramentos bilíngues de estudantes surdos no ensino
superior. Educação e Filosofia, v. 36, n. 76, 2022. Disponível em: https://philpapers.
org/rec/FERLBD-9.Acesso em 14 set. 2022.
SUMÁRIO 187
RIBEIRO, M. C. M A.; MOTA, J. L. Promoção da leitura na universidade: possibilidades por
meio do ensino de estratégias de leitura. Rev. Diálogo Educ. vol.20 no.65, Curitiba,
2020. Disponível em: http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-
416x2020000200696& lng=en&nrm=iso. Acesso: 19 set. 2022.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 4. Ed. Belo Horizonte: Autêntica
Editora, 1995. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5925603/mod_
resource/content/1/SOARES_Magda_Letramento_Um_tema_de_tres.pdf. Acesso em 11
set. 2022.
APÊNDICE A
QUESTIONÁRIO
Prezado estudante, você está sendo convidado a participar como
informante do projeto de pesquisa “Práticas de letramento de
estudantes surdos em curso de Letras/Libras. A pesquisa objetiva
descrever e analisar as práticas de letramento de estudantes surdos do
curso de Letras/Libras de uma instituição de ensino pública do norte
de Minas Gerais. Informamos que a sua participação é anônima (o
seu nome não aparecerá) e que os dados serão utilizados unicamente
SUMÁRIO 188
para fins de pesquisa, não oferecendo nenhum risco a você. Por favor,
responda se concorda em participar:
1. Você se considera:
() Surdo
() Deficiente Auditivo
() Ouvinte
SUMÁRIO 189
() Houve grande quantidade de leitura durante o curso
() Houve pouca atividade de leitura durante o curso
() A quantidade de leitura durante o curso foi considerada
mediana (considerada adequada)
SUMÁRIO 190
9. Assista ao vídeo para responder a questão 9. De acordo
com a sua preferência, registre a resposta em português
escrito (9. a) ou vídeo em Libras (9. b):
a. Quais foram as suas dificuldades em relação às atividades de
leitura e escrita do português na universidade?
b. Quais foram as suas dificuldades em relação às atividades de
leitura e escrita do português na universidade?
SUMÁRIO 191
9
Maria de Lourdes Guimarães de Carvalho
Janderson de Almeida Nobre
Vanessa Menezes Oliveira
Arlete Ribeiro Nepomuceno
LINGUÍSTICA TEXTUAL:
PRINCÍPIOS TEÓRICOS E PRÁTICOS
DOI:10.31560/pimentacultural/2023.97952.9
RESUMO
Texto originado do minicurso “Linguística Textual: princípios teóricos e
práticos”, realizado com o objetivo geral de proporcionar a apropriação
de conceitos, filiações teóricas e experiências práticas desse ramo dos
estudos da linguagem. Além da introdução, apresenta-se estruturado em
uma parte teórica, iniciada com uma breve apresentação dos estudos da
linguagem, desde as mais remotas épocas até o momento, com especial
ênfase nos estudos da Linguística Textual a partir de seu surgimento, em
1960. Na sequência, apresenta uma parte prática, evidenciando sugestões
de atividades para a leitura de gêneros textuais, em salas de aula de quais-
quer níveis de ensino. Constitui, assim, uma atividade que se justifica pela
importância de aperfeiçoar conhecimentos para um trabalho significativo
com a linguagem, em atividades de leitura, escuta e escrita de textos que
circulam em diversas mídias e semioses, tal como propõe a Base Nacio-
nal Comum Curricular. Para isso, está fundamentado em Marcuschi (2012),
Fávero e Koch (2012), Mussalim e Bentes (2012), entre outros.
Palavras-chave: Linguística Textual. Linguagem. Leitura.
SUMÁRIO 193
INTRODUÇÃO
Considerando como objetivo geral proporcionar a
apropriação de conceitos, filiações teóricas e experiências práticas da
Linguística Textual para os estudos da linguagem, e especificamente,
a intenção de oferecer subsídios para o ensino e a aprendizagem
da língua materna, na educação básica, na perspectiva do texto,
justifica esta proposta o entendimento de que estudos reflexivos
sobre as proposições teóricas da Linguística Textual (LT) subsidiam
o desenvolvimento de atividades estratégicas para o trabalho com
a linguagem. Além disso, levamos em conta que a demonstração
de atividades práticas fortalece os conhecimentos e abre horizontes
para novas proposições.
REFERENCIAL TEÓRICO
SUMÁRIO 194
livros sagrados. Os gramáticos hindus, além de descreverem a
língua, produziram modelos de análise. Já entre os gregos, têm
especial relevo os estudos de Platão, que estabeleceu as relações
entre o conceito e a palavra (o significado) e de Aristóteles, que
desenvolveu uma análise da estrutura linguística, uma teoria da
frase, uma distinção entre partes do discurso e uma enumeração das
categorias gramaticais.
SUMÁRIO 195
Essas considerações situam estudos que visam à formulação
de regras normativas para distinção de formas corretas das incorretas
e, como se sabe, esses princípios de pureza e correção geraram, e
geram até nossos dias, preconceitos diversos.
SUMÁRIO 196
passou a ser compreendido não mais de modo universal, posto que,
além da compreensão parcial das coisas, o entendimento variava de
indivíduo para indivíduo.
SUMÁRIO 197
(iv) relação paradigmática (associativa) versus sintagmática; e (v)
identidade versus oposição. Além disso, propõe o estudo da língua
como elemento fundamental da comunicação humana, inaugurando
a fase estruturalista dos estudos da linguagem, tornando-se um dos
maiores responsáveis pela estruturação da linguística como ciência
autônoma, independente de outros estudos (literários, filosóficos,
lógicos, históricos, religiosos).
A LINGUÍSTICA TEXTUAL
Sobre a LT, é importante salientar que surgiu na década de
1960, em contraposição à vertente estruturalista dos estudos da
linguagem cujos representantes (i) desconsideravam o texto como
SUMÁRIO 198
uma unidade global; (ii) tinham a frase como unidade máxima de
análise; (iii) desconsideravam a fala e seus aspectos funcionais e
organizacionais e, por fim, (iv) desconsideravam o sujeito (falante) e
a situação comunicativa nos processos de análise linguística. Assim,
ela surgiu como novo ramo para os estudos linguísticos e, conforme
afirma Marcuschi (2012, p. 16), trouxe certezas, como, por exemplo:
(i) “o texto é uma unidade linguística hierarquicamente superior à
frase”; e (ii) “a gramática de frase não dá conta do texto”.
SUMÁRIO 199
meio de textos e que existem diversos fenômenos linguísticos que só
podem ser explicados no interior do texto.
SUMÁRIO 200
Apesar de não se verificar uma exata sucessão cronológica
na transposição de um momento ao outro, já que, de acordo com
Koch (2015), a mudança é caracterizada mais pela ampliação e
aprofundamento gradual dos estudos estruturalistas, marcando cada
vez mais o seu afastamento em relação à Linguística Estrutural, Bentes
(2012) assim se posiciona: “Podemos afirmar, no entanto, que houve
não só uma gradual ampliação do objeto de análise da LT, mas também
um progressivo afastamento da influência teórico-metodológica da
linguística estrutural saussuriana.” (BENTES, 2012, p. 262).
SUMÁRIO 201
A correferência é entendida como a utilização de termos
(substantivos, pronomes, adjetivos ou tempos verbais) que, uma
vez utilizados, garantem a progressão/continuidade textual sem que
haja repetição. A pronominalização é a substituição de um nome
ou de um sintagma nominal por um pronome (pessoal, possessivo,
demonstrativo), correspondente. O “tema” como sinônimo de tópico:
parte introdutória de um enunciado – ocupa posição inicial na
oração – e “rema” ou comentário como a informação que o falante
quer referir – constitui o conteúdo semântico propriamente dito da
oração. Já a seleção do artigo (definido/indefinido) – utilização de um
ou outro –, quando se quer determinar de forma precisa ou imprecisa
os substantivos que o seguem.
SUMÁRIO 202
estudada como fenômeno construído “[...] em dada situação de
interação entre o texto e seus usuários, em função da atuação de
uma complexa rede de fatores, de ordem linguística, cognitiva,
sociocultural e interacional.”
SUMÁRIO 203
texto. Nunca o total de suas possibilidades semânticas. Finalmente,
(iv) Petöfi (1973): seu modelo preconiza uma base textual que possi-
bilita/sustenta a geração de bases textuais distintas.
SUMÁRIO 204
Terceiro momento: década de 1990 – Teoria do texto
Nos estudos investigativos deste momento, o texto passou
a ser considerado em seu contexto de ocorrência, tendo em vista
o conjunto de condições externas à sua produção, recepção e
interpretação. Além disso, ocorreu a prioridade para o estudo da
constituição, do funcionamento, da produção e da compreensão dos
textos em uso. Para Koch (2006), é nesse momento que a língua
passa a não ser mais um sistema autônomo, mas a ser considerada
como instrumento que leva em consideração aspectos concretos
da sociedade, além do que os textos passam a ser vistos sob uma
perspectiva sintático/semântica, dada à sua complexidade.
SUMÁRIO 205
a função de um texto no contexto (extralinguístico). A
sintaxe do texto tem por encargo verificar como vem
expressa sintaticamente a significação de um texto e
como pode expressar o que está à sua volta. (FAVERO;
KOCH, 1998, p. 12, grifos nossos).
SUMÁRIO 206
de produção e de recepção e tem como principal preocupação como
se realiza a produção do sentido. Prevê que o estudo da língua se dê
a partir do texto que, por sua vez, não mais se restringe àqueles didá-
ticos ou didatizados, presentes exclusivamente nos livros didáticos.
SUMÁRIO 207
(i) a coesão superficial ao nível dos constituintes linguísticos;
(ii) a coerência conceitual ao nível semântico e cognitivo; e (iii) o
sistema de pressuposições e implicações ao nível pragmático da
produção de sentido no plano das ações e intenções. Assim, além
da organização linguística da qual decorre a coesão que garante
a linearidade, necessita da organização nos níveis de sentido e de
intenções, que garantem a coerência não só no aspecto semântico,
mas também no pragmático.
METODOLOGIA
Quanto à abordagem metodológica, a proposta é qualitativa,
definida genericamente por Denzin; Lincoln (2006, p. 17), como [...]
atividade situada que localiza o observador no mundo.” Nesse sentido,
pode ainda ser entendida como práticas interpretativas no sentido de
oferecer melhor compreensão de um assunto, envolvendo, conforme
Denzin; Lincoln (2006, p. 17), “[...] uma abordagem naturalista,
interpretativa, o que significa estudar as coisas em seus cenários
naturais, tentando entender, ou interpretar os fenômenos em termos
dos significados que as pessoas a eles conferem.”
SUMÁRIO 208
teóricos e práticos com vistas ao desenvolvimento de um trabalho
significativo, nas aulas de leitura e escrita, em todos os níveis de ensino.
ANÁLISE DE DADOS
Atividade 1- Leitura e resolução de atividades: texto “Os urubus
e os sabiás”
OS URUBUS E SABIÁS
(1) Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam... (2) Os urubus, aves por nature-
za becadas, mas sem grandes dotes para o canto, decidiram que, mesmo contra a natureza, eles 3- haveriam
de se tornar grandes cantores. (3) E para isso fundaram escolas e importaram professores, gargarejaram
dó-ré-mi-fá, mandaram imprimir diplomas, fizeram competições 5- entre si, para ver quais deles seriam os
mais importantes e teriam a permissão de mandar nos outros. (4) Foi assim que eles organizaram concur-
sos e se deram nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho, instrutor em início de carreira, era se tornar
um respeitável urubu titular, a quem todos chamavam por Vossa Excelência. (5) Tudo ia muito bem até que a
SUMÁRIO 209
doce tranquilidade da hierarquia dos urubus foi estremecida. (6) A floresta foi invadida por bandos de pintas-
silgos tagarelas, que brincavam com os canários e faziam serenatas com os sabiás... (7) Os velhos urubus en-
tortaram o bico, o rancor encrespou-lhes a testa, e eles convocaram pintassilgos, sabiás e canários para um
inquérito. (8) “— Onde estão os documentos dos seus concursos?” (9) E as pobres aves se olharam perplexas,
porque nunca haviam imaginado que tais coisas houvessem. (10) Não haviam passado por escolas de canto,
porque o canto nascera com elas. (11) E nunca apresentaram um diploma para provar que sabiam cantar, mas,
cantavam simplesmente... “(12) — Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito à
ordem.” (13) E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvarás... (14)
MORAL: Em terra de urubus diplomados não se houve canto de sabiá.
ALVES, Rubem. Estórias de quem gosta de ensinar. São Paulo: Cortez, 1984.
Para perceber as relações anafóricas e catafóricas responsáveis pela coesão textual, responda às questões:
a. Que tudo é esse?
b. O que foi que aconteceu numa terra distante no tempo em que os bichos falavam?
c. Em (3) temos o termo isso. Isso o quê? Do que se está falando?
d. Qual é o sujeito dos verbos fundaram, importaram, gargarejaram, mandaram, fizeram? É o mesmo do
verbo teriam?
e. Fala-se em quais deles: deles quem? E quem são os outros?
f. Qual é o referente de eles em (4)?
g. Em 5 tem-se novamente a palavra tudo: “Tudo ia muito bem...” essa segunda ocorrência tem o mesmo
sentido da primeira?
h. Em (7) a quem se refere o pronome eles?
i. E seus em (8)?
j. Quais são as pobres aves de que se fala em (9)?
k. E as tais coisas? Elas em (10), refere-se a pobres aves ou a tais coisas?
l. De que passarinhos se fala em (13)?
Relações de sentido entre enunciados:
■ oposição ou contraste: (mas em 2 e 11); (mesmo em 2);
■ finalidade ou meta (para em 3 e 11);
■ consequência (foi assim que, em 4); e (em 7);
■ localização temporal (até que, em 5);
■ explicação ou justificativa (porque em 9 e 10);
■ adição de argumentos ou ideias (e, em 11).
Fonte: KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. 22. ed. São Paulo: Contexto, 2016.
SUMÁRIO 210
Atividade 2 - Leitura de tirinha da Mônica
SUMÁRIO 211
Além disso, é um gênero que apresenta características
bem específicas, sendo constituídas por elementos verbais e não
verbais (recursos paralinguísticos – parte da comunicação humana
que ocorre por meio da linguagem não verbal: pausas, velocidade
da fala, variação de altura da fala, variação de intensidade e
hesitações, por exemplo).3
3 Sugestão de leitura: DURÃES, Tamara Prates. O lugar do gênero tirinha em aulas de língua portuguesa
na educação básica. 2018. 100 f. Dissertação de mestrado em Letras. Programa de Pós-Graduação
Mestrado Profissional em Letras da Universidade Estadual de Montes Claros, 2018. Disponível em:
https://www.posgraduacao.unimontes.br/uploads/sites/14/2018/11/DISSERTAÇÃO-FINAL-TAMARA.pdf.
Acesso em: 10 abr. 2021.
SUMÁRIO 212
Atividade 3 - Leitura de propaganda de violência contra a
mulher
SUMÁRIO 213
entendimento da mensagem. Afinal, maquiar ou não, em um contexto
hospitalar, não proporciona o entendimento de que temos medo de
mudar uma realidade.
AS QUATRO GARES
Oswald de Andrade, 1927.
INFÂNCIA
O CAMISOLÃO
O JARRO
O PASSARINHO
O OCEANO
A VISITA NA CASA QUE A GENTE SENTAVA NO SOFÁ.
SUMÁRIO 214
ADOLESCÊNCIA
AQUELE AMOR
NEM ME FALE
MATURIDADE
O Sr. E Sra. AMADEU
PARTICIPAM V. Exa.
O FELIZ NASCIMENTO
DE SUA FILHA
GILBERTA
VELHICE
O NETINHO JOGOU OS ÓCULOS
NA LATRINA
Oswald de Andrade. Trechos escolhidos. Rio de Janeiro: Agir, 1967. p. 31 – 32.
SUMÁRIO 215
Conhecimentos relativos à linguagem também são
importantes: (i) observar o duplo significado para gare (estação): no
poema remete às quatro fases da vida humana – sentido metafórico,
que implica a comparação da vida com uma viagem; (ii) o jogo
de ambiguidade na caracterização da adolescência; (iii) sinônimo
de latrina necessário à compreensão da ação do neto de jogar os
óculos na latrina; (iv) rompimento com o lirismo: o eu lírico não
canta ou exalta as fases da vida, apenas as descreve e caracteriza;
(v) caracterização da infância por meio de substantivos (nomeação
de objetos para transmitir sensações) e, finalmente, (vi) alteração da
regência e omissão da preposição “em” no último verso já que na
língua padrão seria: A visita à casa em que a gente sentava no sofá.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio deste estudo, foi possível proporcionar a apropriação
de conceitos e de filiações teóricas concernentes aos estudos da
linguagem, desde as mais remotas épocas até o momento. Foi dada
especial ênfase nos estudos da LT, a partir de seu surgimento, em
1960. Além disso, foram apresentadas algumas práticas desse ramo de
estudos, de modo a evidenciar sugestões de atividades para a leitura
de gêneros textuais, em salas de aula de quaisquer níveis de ensino.
SUMÁRIO 216
Textual: princípios teóricos e práticos” proporcionou a observação
dos pressupostos teóricos que embasam a LT e demonstração de
como aplicá-los na interpretação de gêneros textuais diversos.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos especialmente à CAPES pelo incentivo
e investimento que proporcionam importantes reflexões para
ampliação dos conhecimentos e aperfeiçoamento da prática
profissional docente.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Oswald. Trechos escolhidos. Rio de Janeiro: Agir, 1967.
BENTES, Anna Christina. Linguística textual. In: MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina.
Introdução à linguística: domínios e fronteiras. v. 1. São Paulo: Cortez, 2012. (261 – 304).
SUMÁRIO 217
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018b.
Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC- EI-EF-110518-
versão final-site.pdf. Acesso em: 18 jun. 2021.
FAVERO e KOCH, Linguística textual: introdução. São Paulo: Cortez, (1998 – 2012).
GIL, Antônio C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2010.
KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. 22. ed. São Paulo: Contexto, 2016.
KLEIMAN, Angela B. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. São Paulo: Pontes, 1998.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Linguística de texto: o que é e como se faz? São Paulo:
Parábola, 2012.
SUMÁRIO 218
10
Maria Clara Gonçalves Ramos
Arlete Ribeiro Nepomuceno
Samuel Parrela Braga
Vera Lúcia Viana de Paes
VULNERABILIDADE FEMININA
NA SÉRIE “BOM DIA, VERÔNICA”,
SOB O VIÉS DE MARCAS
AVALIATIVAS
DOI:10.31560/pimentacultural/2023.97952.10
RESUMO
Neste texto, recorte do projeto de iniciação científica “Mulheres em (dis)
cursos: representações identitárias na série ‘Bom dia, Verônica’”, com
o fomento da Fapemig, edital PIBIC PRP 6/2021, cujo tema é calcado na
perspectiva da subserviência feminina, objetivamos analisar multisse-
mioses que simbolizam a vulnerabilidade feminina e a violência contra
a mulher, sobretudo em relacionamentos heteronormativos. O caminho
teórico-metodológico norteador é a Linguística Sistêmico-Funcional (HAL-
LIDAY; MATTHIESSEN, 2014 [2004]), que investiga a dinamicidade da lín-
gua, enfatizando o nível extralinguístico hallidayiano (contextos de cultura
e situação. Completa este estudo a Gramática do Design Visual (KRESS;
VAN LEEUWEN, 2006), que legitima o papel das imagens na veiculação de
discursos, interpretando significados representacionais (ação e reação) e
interativos. Para tanto, visamos responder como os significados multis-
semióticos contextualizados podem contribuir para a (re)construção do
pensamento crítico da sociedade, tornando os indivíduos letrados, enga-
jados e menos manipulados pelos discursos ideológicos que permeiam o
hibridismo linguístico no convívio social? Metodologicamente, a pesquisa
é qualitativa (descritivo-interpretativa), cujo corpus são dois frames (1ª.
temporada) extraídos da série “Bom dia, Verônica”, alocados na Netflix, com
cenas que evidenciam a vulnerabilidade feminina. Este trabalho justifica-
-se por buscar refletir, discutir e enfrentar a intempérie social da invisibili-
dade da mulher, denunciando relações hegemônicas de poder enraizadas.
Os resultados a que chegamos são de que imagens denunciam a fragili-
dade feminina e a violência contra a mulher, asseguradas por um sistema
sócio-político ainda atrasado.
Palavras-chave: Multissemioses. Violência doméstica. Série “Bom dia, Verônica”.
SUMÁRIO 220
INTRODUÇÃO
Com aceitabilidade significativa e envolvimento socioe-
mocional, a partir de quantitativo exponencial de assinaturas em
plataformas streaming, como Netflix4, conglomerados empresa-
riais valem-se do interesse popular para comercializar produtos, a
exemplo de séries com narrativas atraentes, sobretudo no espec-
tro de mazelas sociais.
4 Mesmo com a queda estimada de 200 mil assinaturas no início de 2022, segundo balanço fiscal
do 1º. trimestre, a Netflix segue como uma das principais fornecedoras de produções audiovisuais,
com receita que chega a US$7,87 bilhões. O recolhimento de assinantes, de acordo com a Netflix,
justifica-se pelo compartilhamento de conta entre os usuários, pela alta na inflação intensificada
pelo conflito na Ucrânia e concorrência com outras plataformas streaming. Disponível em: https://
www.tecmundo.com.br/mercado/237342-netflix-perde-assinantes-1-vez-10-anos.htm.
SUMÁRIO 221
algum aspecto da realidade, desenvolvidos em um contexto social
específico, de maneiras apropriadas aos interesses dos atores sociais
desses contextos.” (KRESS; VAN LEEUWEN, 2001, p. 4)
SUMÁRIO 222
de chagas sociais que impossibilitam a efetivação da dignidade
humana. Isso porque as projeções imagéticas tendem a solicitar aos
participantes interativos comandos, ações e posicionamentos sobre
problemáticas suscitadas, via estratégias psicossociais.
SUMÁRIO 223
Partimos da descrição da linguagem como prática social, na
busca de entender a relação entre as formas internas da linguagem
e o uso delas em contextos de ação social, procurando contemplá-la
como sistema linguístico que se constitui por um feixe de opções
associadas às funções que ela exerce e às demandas que fazemos
a ela. Posto isso, as significações sociossemióticas representam o
sistema sintático-semântico-semiótico das estruturas linguísticas,
no sentido concreto da língua, expressas em situação de uso,
correlacionando forma e função.
REFERENCIAL TEÓRICO
SUMÁRIO 224
numa relação entre linguagem e contexto sociocultural permeado
por ideologias, servindo, como todo sistema semiótico, a diferentes
funções comunicativas.
SUMÁRIO 225
imagens estáticas, é visto como “[...] textos visuais, que se organizam
segundo alguns princípios e regularidades, conforme os usos que
fazemos deles em diferentes situações” (HENGES; NASCIMENTO;
MARQUES, 2013, p. 241).
SUMÁRIO 226
a língua a prescrições. À luz da premissa comunicativa, coadunando
com as contribuições da Antropologia Social introduzida por
Malinowski (1923), os textos são condicionados pelas múltiplas
realidades dos espaços nos quais são proferidos. Respeitando esse
raciocínio, segundo Halliday (1994[1985]), o contexto de cultura
configura-se pela estabilidade e amplitude exponencial, pois valida
construções socioculturais.
SUMÁRIO 227
No decorrer das análises, ressaltamos que a interpretação
sociofuncional dos relatos e das imagens selecionados, realizou-se,
nos termos de Halliday e Matthiessen (2014[2004]), a partir dos
contextos de cultura e de situação, balizados na tríade campo,
modo e relações (HALLIDAY; MATTHIESSEN,2014), com vistas a
desvelar o propósito comunicativo de quem escreve. Retomando
o nível extralinguístico, no contexto de cultura, do qual o gênero
textual-discursivo série faz parte, os produtores da série “Bom dia,
Verônica”, com propósitos sociais diversos, por meio de palavras,
gestos, expressões faciais etc., estabelecem a comunicação via
aspectos socioculturais.
SUMÁRIO 228
GRAMÁTICA DO DESIGN VISUAL: A MULTIMODALIDADE
E OS SIGNIFICADOS CONSTRUÍDOS
À medida que a sociedade avança e aciona a linguagem, para
atender a interesses comunicativos, novos gêneros textuais/discur-
sivos são institucionalizados ou, quando já existentes, adaptados.
A multimodalidade notabiliza a necessidade de letramentos outros,
para além dos signos verbais convencionais, por se tratar de uma
ferramenta emancipatória e inclusiva. Motivada por essa demanda
social, intersemioses são engendradas em eventos linguísticos, con-
vocando a percepção não apenas da perspectiva verbal, mas tam-
bém dos artefatos visuais, para produzir significados.
SUMÁRIO 229
Assim como a LSF de base sistêmica, Kress e van Leeuwen
(2006) também se valem do sistema de transitividade para a
construção de significados, não por meio do complexo oracional,
mas sim das imagens. Nessa perspectiva, apesar de não privilegiar
semioses verbais, a GDV vai ao encontro da LSF quando exterioriza
experiências socialmente erigidas, com o auxílio de estruturas
imagéticas, ancorando-se em diferentes modos semióticos, para
encenar acontecimentos e representar o mundo.
SUMÁRIO 230
são realizadas por um participante (Ator) em direção a outro (Meta).
Essa categoria é subdividida por ação transacional unidirecional,
representada por verbos transitivos (há de se ressaltar, uma vez mais,
que a GDV coaduna com o sistema de transitividade como a LSF, mas
pela visualidade), com a presença de Ator (de onde parte o vetor) e
Meta (quem recebe a ação), responsável por guiar o olhar do leitor da
sintaxe visual. Assim, é unidirecional porque a ação guiada pelo vetor
que parte do Ator atinge apenas o Meta, não existindo reciprocidade,
a exemplo da sentença subentendida pela FIG. 1: “Janete liga à amiga
para desabafar acerca do relacionamento abusivo”. O verbo ligar
materializa a ação de Janete (Ator) comunicar à amiga (Meta).
SUMÁRIO 231
O processo narrativo de reação unidirecional é caracte-
rizado pelo instanciamento de reator-vetor-fenômeno, pois o olhar
do participante representado está direcionado a alguma ação que
acontece na proposição visual, ou seja, está dentro da imagem. De
modo diferente, está o processo narrativo de reação unidirecional
não transacional, porque se vale tão somente de reator-vetor, sem
o fenômeno, já que o participante se reporta a algo fora da imagem
enfatizada. Por fim, o processo narrativo de reação bidirecional
transacional, tal como o narrativo de ação bidirecional, conta com a
marca de reator-vetor-reator (ação e reação), em que o participante
olha para uma atividade na cena e reage a ela.
SUMÁRIO 232
entre os participantes representados, entre representados e
interativos, como também entre apenas interativos. Essas interações,
quando falamos, escrevemos e/ou construímos imagens, são
identificadas, no jogo semiótico, por meio do olhar (não estão no
escopo deste artigo), da distância afinidade social/enquadramento
e do ângulo/ponto de vista/perspectiva.
SUMÁRIO 233
Outrossim, na sintaxe visual, o produtor também considera
o ângulo (ponto de vista ou perspectiva), pois é carregado de
valores socialmente construídos, presentes na memória discursiva
do participante interativo e as intenções por trás da representação
imagética, ainda que ele não tenha consciência crítica disso,
naturalizando comportamentos e moldes sociais.
SUMÁRIO 234
com políticas que ora aprovam, ora desaprovam escolhas e atitudes
classificadas como superiores, inferiores ou igualitárias. O criador da
imagem edifica o discurso visual, a partir de símbolos com os quais
os participantes tenham contato no meio social e sobre os quais a
cultura (re)construída conduz, para atingir o público desejado.
METODOLOGIA
O mundo, a partir da linguagem, é instanciado por textos
que reverberam práticas sociais diversas, endereçando-lhe para
além do código verbal, em que a língua, na senda sociossemiótica,
está a serviço de diferentes intenções sociodiscursivas dos usuários
nas inter-relações. As formas de representação do mundo podem
encenar acontecimentos, experiências pelas quais passamos, o que
confere um caráter importantíssimo da hibridização linguística, para
que sujeitos saibam agir no e pelo mundo.
SUMÁRIO 235
(descritivo-interpretativa), com capturas de tela que evidenciam a
vulnerabilidade feminina, no papel da personagem Janete (vítima), ao
longo de todo o enredo da série, de violências físicas e psicológicas,
proferidas pelo marido Cláudio Brandão, para que percebamos e
possamos agir contra essa realidade ficcional na realidade concreta
das relações cotidianas, considerando que a arte, quase sempre, é
um retrato imagético da concretude.
ANÁLISE DE DADOS
Os frames a seguir apontam para uma língua que é viva,
dinâmica e propositiva, a partir da qual os sujeitos se valem para
exteriorizarem experiências, com práticas sociais e de linguagem
SUMÁRIO 236
materializadas em forma de textos híbridos, via semântica e
pragmática, pois os indivíduos conceitualizam e (res)significam o
mundo de que fazem parte.
SUMÁRIO 237
sistema patriarcal tradicional e conservador, entendendo a identidade
da mulher, muitas vezes, de forma inferiorizada, sobretudo em
relações conjugais, a exemplo do casamento entre Janete e Brandão.
As formações identitárias e os valores sociais parametrizados pelo
senso comum atuam como uma espécie de consentimento dado a
homens (Brandão), para que se sintam seguros e respaldados para
endossar a vulnerabilidade feminina (Janete), normalizando, quase
sempre, a violência contra mulheres.
SUMÁRIO 238
Na significação interacional, a participante representada
(Janete) aparece projetada com enquadramento médio (médium
shot) e ângulo frontal, sugerindo aproximação com os leitores da
cena, o que ajuda a criar vínculos imaginários íntimos e engajamento
frente ao desafio social.
Fonte: Imagem capturada da série “Bom dia, Verônica”, alocada na Netflix, 2020, 1ª temporada,
episódio 5,25min58s.
SUMÁRIO 239
Nesse caso, a relação entre ela e o esposo é de submissão,
entrega aos moldes comportamentais que ele espera que ela atenda,
subordinada às regras de convivência ditadas por ele, pois a decisão
dos direcionamentos do casamento entre o casal se dá por Brandão,
não em conjunto. Quanto à Verônica, o vínculo estabelecido entre
elas corrobora o exposto na Figura 1, cuja relação perpassa pela
confiança e intimidade. O modo como o texto se efetiva se dá pela
hibridização da linguagem, na qual semioses verbais e imagéticas se
misturam na veiculação discursiva da sintaxe visual sobredita.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
À luz do exposto, chegamos à conclusão de que a
vulnerabilidade feminina potencializa a manifestação de violência
contra a mulher, assegurada por um sistema social, político e cultural
ainda atrasado, imerso entre avanços e retrocessos. Ratificamos
que imagens veiculam significados sociossemióticos, ideologias,
SUMÁRIO 240
valores e crenças estigmatizantes e segregadores, difundidos desde
a Antiguidade, a partir dos frames escolhidos, que buscam denunciar
essa patologia social limitadora e injusta. Assim, reitera-se a
importância do letramento híbrido, para que a sociedade seja crítica,
participativa, ativa, engajada e menos manipulada.
REFERÊNCIAS
BOM DIA, VERÔNICA. Direção: José Henrique Fonseca; Izabel Jaguaribe Rog de Souza.
Produção de José Henrique Fonseca; Eduardo Pop; Ilana Casoy; Raphael Montes. São
Paulo: Netflix, 2020.
SUMÁRIO 241
HALLIDAY, Michael. A. K. Na introduction funcional gramar. London: Edward Arnold,
1994 [1985].
KRESS, Gunther. Before writing: rethinking the patchs to literacy. Londres: Routledge, 1997.
KRESS, Gunther; VAN LEEUWEN, Theo. Reading images: the gramar of visual design. 2
ed. London: Routledge, 2006.
NEPOMUCENO; Arlete Ribeiro; PAES, Vera Lúcia Viana de. Incursões multissemióticas em
peças publicitárias no meio digital. Signótica, Universidade Federal de Góias, v. 32, 2020.
Disponível em: https://www.revistas.ufg.br/sig/article/view/60332. Acesso em: 6 jun. 2022.
SUMÁRIO 242
11Samuel Parrela Braga
Arlete Ribeiro Nepomuceno
Maria Clara Gonçalves Ramos
Vera Lúcia Viana de Paes
MULTISSEMIOSES
EM POST PUBLICITÁRIO
DA SKOL BEATS
DOI:10.31560/pimentacultural/2023.97952.11
RESUMO
As evoluções tecnológicas, na esfera publicitária, oportunizaram uma
potencialização de multimodos de leitura, capazes de criar, (des)articular
e divulgar representações conceituais simbólicas, de cunho ideológico,
mantenedoras ou transformadoras da realidade social. Neste texto, recorte
do projeto de iniciação científica “Discurso e Mudança Social: constru-
ções identitárias da mulher em anúncios de cerveja”, edital PRP 7/2021,
na modalidade ICV, objetivamos refletir, questionar e analisar a estrutura
simbólica das marcas, cujas alterações demandam dos consumidores
prospectados interpretações e olhares mais precisos das imagens. Nesse
contexto, o tema perpassa pela análise de recursos linguísticos híbridos
mobilizados por indústrias cervejeiras, estrategicamente, para atingir, per-
suadir e vender um produto para o consumidor em potencial. Para tanto,
a pergunta norteadora deste estudo empreendido é: signos multissemió-
ticos, ao recorrer à representação feminina, manipulam o despertar do
interesse de consumidores em potencial à adesão de produtos industria-
lizados, como cerveja? A relevância deste trabalho justifica-se por des-
cortinar a potencialidade da linguagem em configurar e ser configurada
pelas práticas sociais, evidenciando a influência e o poder da publicidade
e de seus subgêneros na formação, manutenção e (des)construção de
preconceitos do ser feminino no marketing da SKOL, a partir da análise
de multissemioses. Metodologicamente, por meio de análise qualitativo-
-interpretativa, selecionamos um post publicitário da marca SKOL BEATS,
na plataforma sociodigital Twitter, publicado em 19 de fevereiro de 2020, no
perfil da empresa supracitada. Este estudo sustenta-se no aporte teórico
da Gramática do Design Visual (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006), para anali-
sar os artifícios escolhidos e combinados na promoção de significações
ideológicas, valorativas, culturais e sociais numa cena imagética, com foco
nas categorias analíticas de significados representativo e interativo. Com
isso, pretendemos ampliar a criticidade dos consumidores em potencial e
conscientizá-los sobre o respeito às diversidades sociais, pela percepção
de entrelinhas apelativas de diferentes códigos semióticos e pela busca do
entendimento dos discursos a que os consumidores são submetidos, dei-
xando ou não ser influenciado, sobretudo no que concerne à manipulação
híbrida para o consumo de bebidas com e sem teor alcoólico.
Palavras-chave: Anúncio publicitário. Multissemioses. Cerveja Skol Beats.
SUMÁRIO 244
INTRODUÇÃO
À medida que a tecnologia se desenvolve, o corpo social
e o sistema linguístico são (re)configurados, e, por conseguinte, a
faculdade intelectual do ser humano é programada para entender o
mundo via telecomunicação. O ciberespaço, produto dessa malha
tecnológica evolutiva, é a principal fonte de nutrição do homem
hodierno (LÉVY, 2010) para se alcançar a informação e a interação
com a realidade em que vive. No entanto, essa busca pela informação
não é possível sem o letramento e o entendimento dos códigos
sociossemióticos alocados nas plataformas comunicativas.
SUMÁRIO 245
A escolha dessa rede sociodigital e da marca de bebidas esbarra nos
poderes, nas simbologias e nos valores que são capazes de construí-
rem na busca pela manipulação dos consumidores em potencial.
SUMÁRIO 246
mis-en-scène. Nessa direção, a Semiótica Social (HODGE; KRESS,
1988) utiliza-se dos princípios de escolha, contexto e funções
semióticas para atribuir significações aos participantes de uma
sintaxe visual. As funções semióticas são recursos que buscam
compreender os procedimentos realizados nas escolhas e nos
contextos comunicativos que uma cena pode apresentar.
SUMÁRIO 247
A relevância deste trabalho justifica-se pela necessidade
de se buscar refletir, questionar e analisar manipulações socio
discursivas que emergem de projeções imagéticas, responsáveis
por induzir o consumidor, sobretudo os mais jovens, ao consumo
de bebidas mistas como forma de ele se sentir inserido num deter-
minado grupo social. Para aguçar a percepção da desnaturalização
de relações de poder, em meio às transformações sociais, partindo,
igualmente, da própria mídia, com o rompimento de estereótipos,
este estudo sistematiza formas para o entendimento dos comandos,
psicologicamente, solicitados pelas sintaxes visuais.
REFERENCIAL TEÓRICO
SIGNIFICAÇÕES IMAGÉTICAS NA GRAMÁTICA DO DESIGN VISUAL
Tributários da Gramática-Sistêmico Funcional (HALLIDAY;
MATTHIESSEN, 2014 [2004]), Kress e van Leeuwen (2006), na GDV,
SUMÁRIO 248
acrescentam à sociossemiótica halidayiana o poder significativo
que subjaz de estruturas visuais, na intenção de evidenciar que,
no sistema imagético, há, também, transitividade. Valendo-se das
meta funções ideacional, interpessoal e textual, propostas por
Halliday e Hasan (1989), Kress e van Leeuwen (2006) renomearam-
nas, respectivamente, no plano imagético, em significados
representacional, interativo e composicional (não constituem
o foco deste estudo).
SUMÁRIO 249
a ele no mundo, articulado pelas categorias atributiva (portador e
atributo simbólico) e sugestiva (não contemplada nesta análise).
Na construção simbólica atributiva, um participante é focado em
relação a outro, podendo representar a significância dele pelo(a)
do(a) tamanho, cor, iluminação, lugar em que ele se encontra na
imagem, além de qualquer valor simbólico convencionado por uma
cultura específica, de modo a direcionar o olhar do espectador a esses
atributos significativos.
SUMÁRIO 250
participante representado. Para Kress e van Leeuwen (2006), a análise
dos olhares perpassa pelas características e condições humanas dos
participantes-pessoas. Ainda que eles forem participantes-objetos,
faz-se necessário transmutar as características humanas aos objetos,
com vistas a realizar a leitura empírica da composição imagética.
SUMÁRIO 251
admirado e/ou respeitado. Semioticamente, essas interações
interpelam o espectador de forma direta, impactando a psiquê, os
sentimentos e a vida do consumidor/espectador.
SUMÁRIO 252
possibilita vínculos afetivos, mais próximos, entre os participantes
representados e interativos. No médium shot (plano médio), a
imagem do participante representado é projetada até os joelhos, em
que os participantes sugerem, semioticamente, respeito, credibilidade,
cortesia reverência, bem como a possibilidade de estabelecer
vínculos, com uma proximidade um pouco mais distante. Na
contramão disso, o long shot (plano aberto), com enquadramentos
distantes e amplos focos longitudinais, apresentam os participantes
de corpo inteiro. Essas interações de largas amplitudes imagéticas
expressam relações contemplativas por parte do espectador, que,
impessoalmente, admira a cena enunciativa de longe. Dessa forma,
há um distanciamento entre os participantes.
SUMÁRIO 253
representam poder, soberania e imponência. Na direção contrária,
aqueles participantes que estão em posição de ângulos inferiores
em contraste com outro participante em ângulo superior, geralmente,
estabelecem insignificância, inferiorização, subordinação. Diferente
disso, o ângulo na linha dos olhos imprime igualdade e vínculos
simétricos entre os participantes, não havendo diferença de poder.
METODOLOGIA
Metodologicamente, selecionamos, como corpus, um post
publicitário da SKOL BEATS, alocado no Twitter, em 19 de fevereiro
de 2020, trazendo à baila uma análise qualitativo-interpretativa das
sintaxes visuais ideologicamente construídas. Escolhemos esse
objeto de estudo pela necessidade de oportunizar ao espectador/
consumidor prospectado acesso aos multimodos dos discursos,
via semioses veiculadas no gênero anúncio publicitário, bem como
de evidenciar os significados que os participantes, numa cena
imagética, podem portar e transmitir ao espectador.
SUMÁRIO 254
produtos. Nesse suporte, por possuir modos semióticos de construção
e estratégias variados, as marcas manipulam o gênero digital
publicitário para persuadir o espectador/consumidor em potencial
consumir os produtos. Para tanto, os publicitários, responsáveis por
movimentar e edificar a marca, com articulações multissemióticas,
atribuem aos produtos anunciados conceitos, ideais, simbologias e
significados reverberados na e pela sociedade ao longo dos anos.
ANÁLISE DE DADOS
As mídias digitais são as principais fontes de compartilhamento
de conteúdo político, histórico, educacional, econômico e pessoal na
contemporaneidade. Em um mundo interacional e informacional, no
qual o código semiótico necessita ser direcionado de forma precisa,
a criação de canais comunicativos, programados para atualizar e ser
SUMÁRIO 255
usados de forma rápida e curta, vem modificando o imaginário coletivo e,
consequentemente, a fala e a língua nos espaços materiais e cibernéticos.
Fonte: Twitter da SKOL BEATS. Disponível em: https://bit.ly/3oGDTAl. Acesso em: 29 jul. 2022.
SUMÁRIO 256
Atualmente, a Skol, depois do reposicionamento feito pela
campanha Reposter, em 2016, de peças publicitárias e de slogans
outrora machistas, propõe conceitos inclusivos, de aceitação e da
não objetificação e sexualização do corpo feminino. Em síntese, a
Skol, com um engajamento social, no marketing hodierno, inclui,
diversifica e equilibra os gêneros em anúncios publicitários, não
mais dando voz à estigmatização da mulher, ao machismo e a
preconceitos arraigados no senso comum.
SUMÁRIO 257
Essas condições, qualidades e significações representadas
pelo (a) pose, olhar, vestimenta e valor traduzido na identidade de cele-
bridade, portada pela participante representada, são atributos ofere-
cidos pela cerveja mista “Skol Beats GT”, que transmuta as caracte-
rísticas presentes na composição às características identitárias dessa
jovem e festiva mulher na sociedade contemporânea: empoderada,
deslumbrante, sensual, ativa, antimachista e anticonservadora.
SUMÁRIO 258
de proximidade entre participante representado e interativo, por
ser um olhar diretivo, vetorizado, buscando estabelecimento de um
vínculo entre ambos.
SUMÁRIO 259
entre participantes, possibilitando que eles se sintam familiarizados,
(re)conectados à energia contagiante da cena proposta.
SUMÁRIO 260
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a análise, observamos que artefatos multissemióticos,
quando combinados numa estrutura textual/discursiva, apresenta
significâncias multipropositivas, com faces plurissignificativas
responsáveis por manipular ou não consumidores em potencial.
A língua(gem), instância cognitiva complexa, que se estabelece
não apenas pela morfossintaxe, mas também pela semântica
e pragmática, materializadas nas práticas sociais. Isso porque,
ultrapassando os limites da forma, o que mais importa é o que subjaz
de textos híbridos, isto é, o sentido (re)construído, (re)organizado e
(re)articulado pelos usuários da língua.
SUMÁRIO 261
Em conclusão, notamos que, com um modus operante de inten-
cionalidade, ao construir, por meio da publicidade, significados repre-
sentacionais e interativos, a partir de participantes (pessoas ou obje-
tos), a SKOL BEATS, enquanto constrói simbologias, significados, identi-
dades e valores socioculturais (FAIRCLOUGH, 2001), a par do marketing
digital, cresce econômica e representativamente no mercado de beleza.
REFERÊNCIAS
FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Coordenadora da tradução: Izabel
Magalhães. Brasília: Universidade de Brasília, 2001.
HALLIDAY, Michael. A. K; MATTHIESSEN, C. An introduction funcional gramar. London:
Edward Arnold, 2014 [2004].
HALLIDAY, Michael. A. K.; HASAN, R. Language, contexto and texte: aspects of
language in a social-semiotic perspective. Oxford: Oxford University Press, 1989 [1985].
HODGE. Robert; KRESS, Gunther. Social semiotics. London: Polity Press, 1988.
KRESS, Gunther; VAN LEEUWEN, Theo. Reading images: the gramar of visual design.
2 ed. London: Routledge, 2006.
Twitter da SKOL BEATS. Disponível em: https://bit.ly/3oGDTAl. Acesso em: 29 jul. 2022.
SUMÁRIO 262
12
Arlete Ribeiro Nepomuceno
Vera Lúcia Viana de Paes
Maria de Lourdes Guimarães de Carvalho
Maria Cristina Ruas de Abreu Maia
O CONTEXTO DE SITUAÇÃO
E DE CULTURA NA TIRINHA
DE CALVIN E HAROLDO
DOI:10.31560/pimentacultural/2023.97952.12
RESUMO
Este texto é um recorte do projeto de pesquisa institucionalizado na
Unimontes intitulado Leitura multissemiótica em diferentes gêneros
discursivos (Resolução CEPEx/Unimontes n.º 229/2021). Dessa maneira,
objetivamos apresentar um referencial teórico sobre contextos (explici-
tando o funcionamento e a inter-relação deles na construção dos signifi-
cados), com vistas a analisar os contextos de situação (campo, relação
e modo) e de cultura, voltados à crítica social, mostrando que o humor
não se define tão somente pelo risível. Nessa perspectiva, na era da infor-
mação, os gêneros constituem-se num eminente potencial de constru-
ção multissemiótica. Essa constatação motiva a proposta deste estudo
empreendido, para responder quais são os modos de representação da
linguagem necessários à compreensão crítico-comunicativa do gênero
tirinha de Calvin e Haroldo. Para tanto, apoiamo-nos nos construtos teóri-
co-metodológicos propalados por Halliday (1978), Halliday e Hasan (1989);
Halliday e Matthiessen (2014), entre outros, sobre os contextos, em diálogo
com estudos de Magalhães (2010) e Ramos (2017), no que concerne à iro-
nia. Com a proposição deste trabalho, esperamos auxiliar professores na
formação de alunos letrados para a sociedade atual.
Palavras-chave: Contextos (situação e cultura). Tirinha de Calvin e Haroldo. Ironia.
SUMÁRIO 264
1 INTRODUÇÃO
O mundo moderno expõe-nos a uma multiplicidade de
gêneros discursivos, que exige dos leitores novas habilidades.
Diante disso, existem desafios educacionais a serem enfrentados,
com a necessidade premente de outra postura da escola, tendo de
direcionar o posicionamento crítico do aluno diante de textos de
diferentes gêneros. Por essa razão, as tradicionais definições de
letramento não são mais condizentes, nem adequadas em um mundo
no qual os textos se apresentam como intersemioses, tornando-se
indispensável a adoção de novos modelos de letramento na escola.
SUMÁRIO 265
possibilitando a eles a análise crítica dos contextos. Para cumprir
tal intento, apoiamo-nos nos construtos teórico-metodológicos
difundidos por Halliday (1978), Halliday e Hasan (1989 [1985]);
Halliday e Matthiessen (2014), entre outros, em diálogo com estudos
de Magalhães (2010) e Ramos (2017).
SUMÁRIO 266
2 REFERENCIAL TEÓRICO
O homem é um ser criador que, na fala e na escrita cotidiana,
sempre busca intercambiar com os interlocutores significados, com
a língua(gem) figurando como um recurso simbólico que está a
serviço dele e do qual ele se vale. Para Halliday e Hasan (1989[1985]),
a língua(gem) é o meio pelo qual esse homem se torna social,
adquire personalidade, pois é integrante de uma realidade social,
passa por experiências e desempenha papéis sociais nela. Assim, a
linguagem é um dos elos entre ele, o meio, com funções específicas
que se materializam e refletem na estrutura linguística. Em que pese
isso, essa estrutura só pode ser compreendida se se considerar a
referência ao contexto, no sistema social.
SUMÁRIO 267
pois ambos estão influenciando palavras e estruturas que os usuários
produzem nos textos. Com efeito, o contexto, como ativador de
escolhas semânticas do produtor de textos, é o ambiente em que o
que ele diz tem significados.
SUMÁRIO 268
Nessa direção, esse antropólogo criou a noção de contexto
de situação, referindo-se ao contexto de uso – ambiente no qual
o texto está sendo realizado –, sendo sempre visto, na esteira de
Halliday e Matthiessen (1989, p.11), como “[...] uma película que
envolve o texto, não de forma fragmentada, nem tampouco, em um
outro extremo, de forma mecânica; mas pelo relacionamento entre
meio social e organização funcional da língua”. Ademais, para dar
conta de outro tipo de contexto que contemplasse o que estava
acontecendo e aspectos culturais envolvidos, criou-se o contexto
cultural, pela necessidade de entendê-lo na língua em uso, como
destaca Eggins (2004):
O estudo de qualquer língua, falada por pessoas que vivem
sob condições diferentes das nossas e que possuem uma
cultura diferente, deve ser conduzido junto ao estudo do
ambiente. Para que observadores entendam os eventos
que estão sendo descritos nas tentativas de tradução, por
ele produzidas, Malinowski descobriu que tinha que incluir
termos do contexto, isto é, eventos linguísticos somente
foram interpretados quando informações adicionais
do contexto da situação e da cultura foram fornecidas.
Malinowski afirma que a língua apenas se torna inteligível
quando ela é localizada num contexto de situação
(MALINOWSKI, 1923, p. 307, apud EGGINS, 2004, p. 86).
SUMÁRIO 269
importante o professor informar que as informações prévias estão
circunscritas em um contexto de situação, mas são advindas de um
contexto de cultura, pois ambos estão diretamente relacionados.
Desse modo, a informação do conhecimento prévio é alcançada na
situação comunicativa, por meio do contexto de situação, mas se
origina de um macrocontexto, o de cultura.
SUMÁRIO 270
refere-se à ligação social entre os participantes, ao modo como
interagem, com posições e papéis (institucionais, de poder, de
contato, familiar) desempenhados por eles, revelando relações
construídas e constituídas por eles, implicando, por exemplo,
informações das relações estabelecidas entre eles (temporárias
ou permanentes, próximas ou distantes) quando engajados em
determinada atividade. Já o modo do discurso diz respeito ao modo
como o texto é construído e como as informações são transmitidas,
à função, ao papel que a língua(gem) e outros sistemas semióticos
desempenham na interação, por meio do canal (fônico ou gráfico),
do meio (falado ou escrito), do modo retórico (persuasão, exposição,
argumentação, entretenimento etc.), da linguagem (simples,
rebuscada), turno (dialógico, monológico).
SUMÁRIO 271
A quebra de expectativa, fator gerador do humor, é uma
característica marcante das tirinhas, “[...] uma estratégia de criar uma
situação inesperada é o que a leva à produção do humor [...]: [...]
há uma espécie de armadilha no final da narrativa, que apresenta
uma situação até então imprevista, surpreendente, e que gera a
comicidade" (RAMOS, 2017, p. 64). Nessa direção, o humor não se
refere tão somente ao riso, pois ele surge
[...] quando parece que as coisas estão normais, enquanto,
ao mesmo tempo, algo de errado ou estranho ocorre. Uma
violação às regras morais, éticas, sociais, religiosas etc.
ocorre, mas as coisas estão bem ou normais, nunca más.
Trocando em miúdos, apesar do óbvio paradoxo, o humor
é a dor [...] que não fere (MAGALHÃES, 2010, p. 35).
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Neste estudo, inicialmente, como procedimentos
metodológicos, partimos de uma análise descritiva da importância
do contexto, apresentando os contextos de situação e de
cultura (HALLIDAY; MATTIESSEN, 2014 [2004]), como níveis
extralinguísticos, para explorar as redes semânticas que se formam
neles. Desse modo, Halliday e Matthiessen (2014[2004]) propuseram
uma análise a partir da perspectiva social na qual se considera o
contexto sociocultural como fator determinante das escolhas que o
usuário da língua realiza por meio do sistema da língua.
SUMÁRIO 272
Como o contexto de cultura é amplo, focamos no contexto
de situação (nas variáveis campo, relação e modo), que tornam
perceptíveis os elementos do contexto de cultura, para conscientizar
os alunos do papel deles como produtores de signos, responsáveis
por mudanças sociais necessárias e que precisam ser empreendidas,
com espírito crítico e capacidade de leitura da sociedade em que
vive. Cabe ao professor desenvolver as habilidades necessárias à
execução dessas competências e habilidades.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Na tirinha a seguir (Figura 1), no contexto de situação, na
variável de registro campo, o professor deve observar o assunto da
tirinha, pelas falas entre os participantes, notando que o quadrinista
viabiliza um diálogo na escola, apropriando de estereótipos para criar
personagens, e refletindo sobre as relações na escola, nas quais o aluno
se encontra disperso, distraído na aula de matemática, uma disciplina
desinteressante para ele, não conseguindo, pois, se concentrar.
SUMÁRIO 273
Figura 1 - Calvin na escola
SUMÁRIO 274
contextos reais vivenciados pelos alunos, sempre com um olhar de
criticidade, explorando as semioses.
SUMÁRIO 275
trazer estereótipos que fogem ao padrão esperado para a posição
ocupada dentro da narratividade, que podem afirmar uma ideologia
e negar um determinado pensamento. Assim, o papel social de cada
um é importante e deve ser considerado, no sentido de que todos
estão trabalhando semioses para sugerir/impor outros propósitos.
Nesse contexto de cultura, percebe-se a dificuldade que os
professores encontram diante de um cenário de constante mutação
da cultura do aluno e da cultura das mídias: a cultura do aluno, por
não se adaptar mais a metodologias tradicionais, e a cultura das
mídias, pela imposição a professores e alunos de compreender
múltiplos modos semióticos.
SUMÁRIO 276
punição, supúnhamos que Calvin adotaria outra atitude, atendendo
ao chamado. Contudo, no último quadrinho, ocorreu a quebra da
expectativa, pois, mesmo com o diretor, visto como uma figura de
autoridade, citando o nome dele, Calvin finge não saber quem é, pois
não foi chamado por “Calvin, o ousado”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos contextos de cultura e situação, o professor pode
transpor os conceitos de forma prática e contextualizada no ambiente
dos alunos, consciente do papel de intermediador dele no processo
de ensino-aprendizagem, não se esquecendo de que “[…] a língua é
fundamentalmente um fenômeno sociocultural que se determina na
relação interativa e contribui de maneira decisiva para a criação de
novos mundos” (MARCUSCHI, 2008), possibilitando-lhes ter ciência
de papéis a serem desempenhados por eles como produtores de
signos no contexto social.
REFERÊNCIAS
EGGINS, S. An introduction to sytemic functional linguistics. 2th ed. London:
Continnum, 2004.
SUMÁRIO 277
HALLIDAY, M. A. K.; MATTHIESSEN, C. M. I. M. Introduction to functional grammar.
London: Edward Arnold, 2004.
SUMÁRIO 278
SOBRE OS AUTORES
Ana Caroline Freitas Alves
Graduada em Letras Português pela Universidade Estadual de Montes Claros.
SUMÁRIO 279
João Pedro Viveiros Ribeiro
Acadêmico do curso de Letras Português pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), atualmente é
bolsista CAPES do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID); professor de língua portuguesa
no projeto de extensão Núcleo de Atividades para Promoção da Cidadania (NAP) e membro discente do Colegiado da
Coordenação Didática do Curso de Letras Português. Tem interesse pelos estudos do texto e do discurso.
SUMÁRIO 280
Maria Alice Mota
Doutora e mestre em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – bolsista da FAPE-
MIG. Possui experiência na Educação Básica. Professora efetiva da Unimontes. Atualmente, é professora permanente
e coordenadora adjunta do PROFLETRAS, na Unimontes. Além disso, coordena o projeto “Estratégias para uma
abordagem contemporânea ao ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa na Educação Básica”. Sua área principal
de atuação é a Linguística Formal, com ênfase em Sociolinguística, atuando principalmente com os seguintes temas:
Sintaxe do Português, Morfologia do Português, Morfossintaxe, Teoria da Variação Linguística, Linguística Aplicada
ao Ensino de Língua Portuguesa, Gramática e Variação, Ensino de Leitura e Produção de Texto.
SUMÁRIO 281
Maria de Lourdes Guimarães de Carvalho
Doutora em Linguística e Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, mestre em Estu-
dos Linguísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais, especialista em Pedagogia pela Universidade Estadual
de Montes Claros, especialista em Língua Portuguesa e Redação pela Universidade Federal de Minas Gerais, graduada
em Pedagogia pela Universidade Estadual de Montes Claros e graduada em Letras Português pelas Faculdades Inte-
gradas Santo Tomás de Aquino. Atualmente é professora efetiva e atua na graduação e no Mestrado Profissional em
Letras (PROFLETRAS) da Universidade Estadual de Montes Claros. Possui experiência em Estágio Supervisionado,
Leitura e produção de Textos Acadêmicos, Introdução à Leitura e Produção de Textos, Linguística Aplicada, Elaboração
de Projetos e Tecnologia Educacional, e Alfabetização e Letramento.
SUMÁRIO 282
Rosemary de Souza Almeida
Mestra em Educação pela Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES (2022). Pós-graduada em Práticas
Pedagógicas — Instituto Federal do Norte de Minas Gerais IFNMG (2023); Educação Especial — Instituto Superior de
Educação Ibituruna — ISEIB (2015); Docência do Ensino Superior — ISEIB (2015); Língua Brasileira de Sinais — Uni-
montes (2010); Psicopedagogia Clínica e Institucional — ISEIB (2009).Possui graduação em Licenciatura em Letras/
Libras pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci (MG) (2021) e graduação em Normal Superior — Faculdades
Integradas Pitágoras (2004). Atualmente é intérprete de libras da Escola Municipal Jair de Oliveira. Tem experiência
na área de Educação, com ênfase em Educação Inclusiva, atuando principalmente nos seguintes temas: prática de
ensino, letramento, professores, aprendizagem e bilíngue.
SUMÁRIO 283
Wenis Vargas de Carvalho
Doutorando em Educação pela Universidade Estadual de Santa Catarina — UDESC, vinculado à linha de pesquisa
Currículo, Diferença e Educação Inclusiva; Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande — FURG;
Especialista em Libras — Faculdade de Venda Nova do Imigrante/FAVENI (2017); e Especialista em Ciências Biológi-
cas — Faculdades Integradas de Jacarepaguá/FIJ (2009); Graduado em Ciências Biológicas — Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Alegre/Fafia (2008); Pedagogia — Centro Universitário Claretiano (2018); e em Letras Libras —
Universidade Federal de Santa Catarina (2021). No momento, é Professor Auxiliar Intérprete Educacional na Prefeitura
Municipal de Florianópolis e Professor Visitante na Faculdade Uníntese; Atuou como Tutor EaD, exercendo a função
entre 2017-2021 no Centro de Referência de Educação a Distância do Instituto Federal de Santa Catarina. Foi Professor
Substituto no Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Rio Grande do Sul — Campus Vacaria (2021).
Pesquisador na área de Biologia Geral; Educação Especial; Língua Brasileira de Sinais, Ensino de Português como
L2 para Surdos e Formação de Professores com ênfase em linguística das línguas de sinais; Educação de Surdos;
Educação Especial e Educação a Distância. Integrante do Laboratório e Grupo de pesquisa Didática e Formação
Docente NAPE/UDESC/CNPq; e no GEICS — Grupo de Estudos e Pesquisas Identidade e Cultura Surda na UNIFESP —
Universidade Federal de São Paulo, cadastrado no CNPq.
SUMÁRIO 284
ÍNDICE REMISSIVO
A ensino de língua portuguesa 117, 126, 206
acesso à educação 170 ensino e aprendizagem 11, 69, 70, 73, 75, 82, 83, 84, 118, 122,
aprendizagem 11, 12, 50, 69, 70, 73, 75, 82, 83, 84, 92, 118, 122, 126, 127, 131, 198
124, 126, 127, 131, 175, 176, 177, 178, 180, 184, 190, ensino remoto 122
191, 194, 198, 199, 207, 283 Ensino Superior 174, 175, 176, 179, 180, 181, 182, 183, 281, 283
argumentativos 13, 14, 16, 32, 34, 43, 92, 93, 94 Estudos Linguísticos 93, 118, 242, 279, 280, 281, 283
artefatos semióticos 143, 154, 155, 157
F
atitudes linguísticas 96, 97, 98, 99, 102, 103, 104, 108,
fenômenos linguísticos 96, 97, 103, 110, 111, 112, 117, 123, 200
115, 116, 117, 118
formação superior 177
B
G
Base Nacional Comum Curricular 122, 133, 193, 206, 217
Gramática Sistêmico-Funcional 136, 137, 138, 139, 140, 141,
bilinguismo 176
146, 158, 224, 279
C gramática tradicional 17, 25, 134, 141
cartaz de filme 153, 154, 169
I
comunidade surda 174, 175, 176, 187
identidade linguística 97, 99, 102, 114, 117
crenças 71, 96, 97, 99, 100, 101, 103, 104, 108, 115, 116, 117, 118,
interdisciplinar 22, 68, 69, 78, 79, 83, 90, 132
139, 140, 169, 221, 223, 230, 241, 253
intérprete de Libras 175
D
L
Design Visual 136, 137, 138, 143, 146, 154, 155, 220, 224,
225, 244, 246, 279 letramento 70, 71, 72, 73, 75, 84, 93, 149, 151, 154, 156, 157, 158,
170, 172, 174, 175, 176, 179, 180, 181, 183, 186, 187,
direitos fundamentais 175
188, 222, 223, 229, 241, 245, 279, 283
E Língua Brasileira de Sinais 47, 66, 176, 180, 281, 282, 283, 284
Educação Básica 11, 68, 69, 122, 128, 130, 185, 279, 280, 281 língua contemporânea 122
Educação do Campo 96, 98, 118, 280 linguagem 11, 12, 15, 18, 19, 20, 21, 22, 30, 49, 51, 71, 99, 103,
ENEM 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 40, 42, 43, 44, 45, 67, 68, 115, 117, 119, 123, 124, 126, 127, 133, 136, 137, 138,
69, 70, 73, 74, 75, 76, 77, 79, 81, 84, 85, 91, 92, 93 139, 140, 141, 146, 152, 155, 157, 170, 176, 177, 181,
ensino 11, 12, 19, 20, 24, 45, 46, 54, 68, 69, 70, 73, 75, 82, 83, 182, 184, 188, 193, 194, 196, 197, 198, 199, 202,
84, 87, 88, 92, 93, 94, 96, 97, 99, 104, 108, 109, 205, 206, 208, 212, 213, 214, 216, 217, 222, 223,
111, 112, 113, 114, 115, 117, 118, 119, 121, 122, 123, 124, 224, 225, 226, 227, 228, 229, 230, 235, 236, 240,
126, 127, 128, 130, 131, 132, 133, 171, 173, 175, 178, 241, 244, 245, 279
180, 184, 185, 187, 188, 189, 191, 193, 194, 198, 199, linguagem híbrida 138
206, 207, 208, 209, 216, 279, 282, 283 Língua Portuguesa 11, 12, 24, 45, 82, 93, 120, 121, 122, 126, 127,
Ensino de Libras 281 128, 130, 131, 132, 184, 206, 279, 280, 282, 283
SUMÁRIO 285
linguística 15, 16, 18, 22, 23, 24, 25, 30, 44, 46, 48, 50, 51, 96, preconceito linguístico 24, 99, 103
97, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 104, 105, 106, 107, professores 11, 12, 24, 84, 95, 96, 97, 98, 108, 109, 110, 112, 113,
108, 111, 112, 113, 114, 115, 116, 117, 118, 119, 121, 122, 114, 115, 116, 117, 152, 183, 185, 209, 216, 283
124, 125, 128, 133, 134, 139, 151, 158, 171, 195, 197,
Projeto Pedagógico 176, 185, 187
198, 199, 201, 202, 203, 204, 205, 206, 208, 217,
218, 223, 224, 226, 229, 235, 242, 279, 284 R
Linguística Textual 45, 120, 121, 122, 124, 126, 127, 131, 132, 192, Redação 32, 73, 86, 87, 88, 89, 93, 94, 282
193, 194, 198, 199, 209, 216 rural 96, 97, 106, 164, 166
Literatura 11, 12, 283
S
M sala de aula 11, 27, 68, 97, 114, 117, 118, 119, 175, 216
metodológico 11, 13, 136, 137, 142, 164, 220, 246, 254, 257 Semiótica Social 143, 154, 155, 156, 225, 247
modalidade on-line 122 significados representacionais 144, 147, 149, 154, 156, 159, 164,
modos semióticos 136, 138, 155, 156, 169, 170, 230, 245, 255 220, 224, 230, 235, 236, 247, 249, 255, 262
multimodalidade 156, 157, 229, 242 sociocultural 68, 69, 71, 76, 78, 79, 81, 88, 90, 139, 140, 167,
203, 225, 227, 228, 241
N
Sociolinguística 13, 14, 15, 16, 17, 22, 23, 24, 43, 46, 66, 96, 98,
narratividade 154, 155
104, 105, 108, 118, 283
norma-padrão 97, 112
Sociolinguística Educacional 98
P Sociolinguística Variacionista 13, 16, 43, 98, 104, 108
Parâmetros Curriculares Nacionais 122
T
pesquisas 11, 18, 19, 21, 90, 103, 116, 118, 123, 178,
Teoria da Complexidade 121, 122, 132
198, 204, 281, 282
teórico 11, 12, 13, 16, 17, 22, 50, 68, 70, 84, 96, 98, 123, 124, 136,
PET 120, 121, 122, 128, 131, 132
137, 139, 142, 156, 164, 174, 177, 178, 194, 198, 201,
Plano de estudo tutorado 133 220, 224, 244, 246, 248, 255, 257, 258
português escrito 174, 175, 176, 177, 178, 179, 180, 181, 182, 183,
V
185, 186, 189, 190, 191
variação linguística 16, 24, 25, 48, 50, 51, 96, 97, 105, 111, 112,
práticas letradas 173, 176, 182, 184
114, 115, 116, 118, 119
SUMÁRIO 286
SUMÁRIO 1