Impacto Do Fundo de Desenvolvimento Distrital: Caso Do Distrito de Tsangano, Posto Administrativo de Tsangano-Sede (2015-2017) .
Impacto Do Fundo de Desenvolvimento Distrital: Caso Do Distrito de Tsangano, Posto Administrativo de Tsangano-Sede (2015-2017) .
Impacto Do Fundo de Desenvolvimento Distrital: Caso Do Distrito de Tsangano, Posto Administrativo de Tsangano-Sede (2015-2017) .
O Licenciando O Supervisor
_______________________ ________________________
(Américo Costa Limbicane) (Mestre Manuel Eliseu)
Manifesto que o mesmo, nunca antes foi apresentado em nenhuma instituição do ensino
superior, pois, as fontes consultadas se encontram devidamente citadas e referenciadas na
bibliografia do trabalho, pelo que, não resulta de um plágio. Sou unicamente responsável
pelas implicações legais que possam advir sobre os direitos autorais.
O Licenciando
____________________________
(Américo Costa Limbicane)
I
AGRADECIMENTOS
Em primeiro, agradeço a Deus pai-todo poderoso, pelo dom da vida e, pela saúde e energia
que me tem proporcionado todos os dias.
Em terceiro, agradeço aos senhores Ernesto Gabriel Ali, João Mário Varela, Guida José
António Agostinho (ambos colegas de serviço), que entenderam a minha ausência, na
expectativa de adquirir novas habilidades e competências, para servir melhor a res publica.
Em quinto, agradeço aos colegas de Turma do Curso retro referenciado, sobretudo aos
Senhores Abílio Tangata, Crise, Iremos e Sixpense, pelas cumplicidades académicas e espírito
de entreajuda, evidenciado nas batalhas vencidas, mesmo em tempo de adversidades.
Em sexo, agradeço ao Senhor Manuel Finiasse Fernando, meu “amigo de estimação”, pelo
apoio moral e incondicional, ao longo destes anos todos
Em sétimo e último, agradeço a todos que por omissão (de entre os amigos, parentes, colegas,
entre outros), não foram citados, se bem que, o espaço não cabe a todos eles, porém, “os tenho
no meu coração”, contanto que, constituem à razão de minha existência.
II
DEDICATÓRIA
III
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Modelo AGIL de Parsons. ....................................................................................... 11
Tabela 2: Projectos aprovados pelo FDD nos anos 2015-2017. ............................................. 27
Tabela 3: Nº de Beneficiários de Projectos e PTCP no âmbito do FDD................................. 27
Tabela 4: Perfil dos entrevistados e/ou inquiridos. ................................................................. 27
Tabela 5: Dados sócio-demográficos dos entrevistados. ........................................................ 28
Tabela 6: Dados sócio-demográficos dos inquiridos. ............................................................. 32
Tabela 7: Percepção dos mutuários sobre o FDD. .................................................................. 33
Tabela 8: Requisitos de elegibilidade aos Fundos do FDD. ................................................... 40
Tabela 9: Limites de financiamento dos Projectos por Sector. ............................................... 42
Tabela 10: Etapas e intervenientes do projecto do FDD…………..…….......……………….43
IV
LISTA DE DIAGRAMAS
V
LISTA DE GRÁFICOS
VI
LISTA DE ABREVIATURAS
AGIL Adaptação, Metas, Integração e Alimentação
M&A Monitoria e Avaliação
Art.º Artigo
CCL Conselho Consultivo Local
Cf. Conferir, Confirmar, Confira
CRM-2004 Constituição da República de Moçambique de 2004
E1 Entrevistado 1
ENAP Escola Nacional de Administração Pública (Brasil)
END Estratégia Nacional de Desenvolvimento
Et al E outros
ETD Equipa Técnica Distrital
Ex vi Pelo efeito, por força
e-SISTAFE Sistema Informático de Administração Financeira do Estado
F Feminino
FAE Funcionário e Agente do Estado
FDD Fundo de Desenvolvimento Distrital
FIIL Fundo de Investimento e Iniciativas Locais
FRELIMO Frente de Libertação de Moçambique
H Homem
HM Homem & Mulher
INE Instituto Nacional de Estatísticas
ISCED Instituto Superior de Ciências de Educação à Distância
Km Quilómetros
LOLE Lei dos Órgãos Locais do Estado
M Masculino
M1 Mutuário 1
MAE Ministério da Administração Estatal
MEX Módulo de Execução Orçamental
MºPº Ministério Público
MT Meticais
Nº Número
NR Não Respondeu
VII
NUIT Número Único de Identificação Tributária
ODS Objectivo de Desenvolvimento Sustentável
OIIL Orçamento de Investimento e Iniciativas Locais
ONG Organizações Não-Governamentais
ONU Organização das Nações Unidas
P. Página
P1 Pergunta 1
PARPA Plano de Acção para Redução da Pobreza Absoluta
PARP Plano de Acção e Redução da Pobreza
PE Programa de Emergência
PEDD Plano Estratégico de Desenvolvimento Distrital
PERPU Plano Estratégico de Redução da Pobreza Urbana
PESOD Plano Económico e Social e Orçamento do Distrito
PME Pequenas e Médias Empresas
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PPFD Programa de Planificação e Financiamento Descentralizado
PPI Plano Prospectivo Indicativo
PQG Programa Quinquenal do Governo
PTCP Postos de Trabalhos Criados pelo Projecto
RGPH Recenseamento Geral da População e Habitação
RLOLE Regulamento da Lei dos Órgãos Locais do Estado
RM República de Moçambique
SDAE Serviço Distrital de Actividades Económicas
SDT Secretaria Distrital de Tsangano
SMoDD Sistema de Monitoria do Desenvolvimento do Distrito
SNE Sistema Nacional de Educação
SP Secretário Permanente
SPEF Serviço Provincial de Economia e Finanças
UA União Africana
UGB Unidade Gestora Beneficiária
UNCDF Fundo das Nações Unidas para o Desenvolvimento de Capital
UnISCED Universidade Aberta – Instituto Superior de Ciências de Educação à Distância
VIII
RESUMO
Esta monografia tem como título “Impacto do Fundo de desenvolvimento Distrital: Caso do
Distrito de Tsangano, Posto Administrativo de Tsangano-Sede, entre os anos 2015 a 2017”,
cujo objectivo central é de analisar o impacto do fundo de desenvolvimento distrital no caso
do Distrito de Tsangano, Posto Administrativo de Tsangano-Sede, naquele período. Com o
efeito, recorreu-se ao método hipotético-dedutivo, cujo procedimento se assentou no método
monográfico e/ou estudo de caso, sendo uma pesquisa qualitativa, com uma população
composta por todos Funcionários e Mutuários do Posto Administrativo de Tsangano-Sede e
amostra de 12 elementos, cujos instrumentos de colecta de dados usados foram as entrevistas
semi-estruturadas e os inquérito. As conclusões do estudo apontam que, 60% dos inquiridos,
tem problemas no reembolso dos fundos concedidos, contanto que, estavam com níveis
abaixo de 50%, revelando ainda, o fraco controlo das autoridades locais.
IX
ABSTRACT
This monograph entitled "Impact of the District Development Fund: Case of the District of
Tsangano, Administrative Post of Tsangano-Sede, between the years 2015 to 2017", whose
main objective is to analyze the impact of the district development fund in the case of District
of Tsangano, Administrative Post of Tsangano-Sede, in that period. The Author, using the
hypothetical-deductive method, whose procedure was based on the monographic method
and/or case study, being a qualitative research, with a population composed of all the
Employees and Debtors of the Administrative Post of Tsangano-Sede and sample of 12
elements, whose data collection instruments used were semi-structured interviews and
surveys. The study's conclusions indicate that 60% of respondents have problems in the
reimbursement of the funds granted, as long as they were at levels below 50%, also revealing
the weak control of local authorities.
X
GLOSSÁRIO
Agenda Pública: é o espaço em que, os principais temas e/ou problemas de âmbito nacional,
regional e local, se encontram reunidos, envolvendo as questões relacionadas com os poderes
legislativo, executivo e judicial (Paludo, 2019, p. 517).
Agente do Estado: é o cidadão contratado ou designado nos termos do EGFAE ou por outro
titulo (…), para o desempenho de certas actividades nos órgãos centrais e locais do Estado
(…), (vide o disposto no art.º 3º/2º/, do EGFAE).
Análise custo-benefício: é aquela que numa relação monetária, uma política se considera
viável, quando os seus benefícios são maiores que os seus custos (Paludo, 2019, p. 524).
Funcionário do Estado: é o cidadão provido para o quadro de pessoal que exerce as suas
actividades nos órgãos centrais e locais do Estado, (…) (cf. o art.º 3º/1º/, do EGFAE).
Órgãos Locais do Estado: tem a função de representação do Estado ao nível local, para
administração do respectivo território e, contribuem para integração e unidade nacionais (cf. o
art.º 2º/1º/, da LOLE, conjugado com ex vi do art.º 3º/1º/, do RLOLE).
XII
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO
1.1 Contextualização
Esta monografia tem como título “Impacto do Fundo de Desenvolvimento Distrital: Caso
do Distrito de Tsangano, Posto Administrativo de Tsangano-Sede (2015 a 2017) ”, tem
como objectivo central, analisar o impacto do Fundo de Desenvolvimento Distrital, para o
desenvolvimento local, tendo em conta o caso do Distrito de Tsangano, Posto Administrativo
de Tsangano-Sede, entre os anos 2015 a 2017.
De acordo com Chiziane (2011), com à aprovação da LOLE (Lei nº 8/2003, de 19 de Maio), o
Distrito passou a ter maior relevância no quadro da administração local do Estado, segundo o
art.º 12º/1º/, da LOLE, conjugado com ex vi do art.º 10º/1º/, do Decreto nº 11/2005, de 10 de
Junho, o RLOLE: “O Distrito é a unidade territorial principal da organização local do Estado
e a base de planificação do desenvolvimento económico, social e cultural da República de
Moçambique”.
Gradualmente, todas as actividades que tenham uma relação directa com a melhoria da
qualidade de vida das populações locais, deverão ser da inteira responsabilidade de um
determinado Distrito (Idem, p. 34).
Forquilha (2010, p. 35), afirma que, com à chegada de Armando Guebuza à chefia do Estado
em 2005, deu-se um passo importante na governação, decidiu atribuir aos 128 distritos, os
recursos financeiros adicionais para os seus investimentos, materializados com aprovação da
Lei nº 12/2005, de 23 de Dezembro1, pela Assembleia da República, dando 7 milhões de
meticais para despesas de investimentos, representando uma esperança na materialização do
PESOD, que carecia de uma filosofia estruturada e de critérios claros para o seu uso.
1
Lei do Orçamento de Estado para o ano 2006.
1
À metodologia de pesquisa usada pelo Autor, consistiu na pesquisa qualitativa, assente no
método de estudo de caso, a colecta de dados foi feita pela combinação da pesquisa
bibliográfica e documental, os instrumentos de colectas de dados empregues são as entrevistas
semi-estruturadas aos membros da ETD e um inquérito aos mutuários, o estudo tem uma
população de 180 elementos e uma amostra de 12 elementos - dois (02) são membros da ETD
e 10 mutuários, e as técnicas de colecta de dados usadas são, à análise e interpretação de
dados (análise de conteúdo das entrevistas semi-estruturadas) e o processamento dos dados
dos inquéritos em tabelas e/ou gráficos (tabulação).
1.2 Problematização
De acordo com Valá (2012, p. 115), a população rural moçambicana é caracterizada por uma
dispersão geográfica, agravada pela exiguidade dos sistemas de transportes e de comunicação
eficaz, e em casos significativos, por sua pobreza e marginalidade, estando excluídos do
acesso aos micro-créditos e aos serviços financeiros, com especial enfoque para às mulheres.
Entre os anos 2006-2009, foram alocados anualmente 7 milhões de meticais aos 128 distritos,
ora existentes, como o corolário das discussões levadas ao cabo desde 1995, sobre à gestão
das finanças públicas e descentralizadas no país (Idem, 2012).
Entretanto, o Distrito de Tsangano enfrentou baixos níveis de reembolso dos valores alocados
aos mutuários, devido à falta de sensibilização das regras do funcionamento, bem como o
deficiente funcionamento da ETD na monitorização, e a falta de condições logísticas.
Face aos aspectos acima arrolados e na tentativa de uma busca pelas possíveis respostas,
levanta-se a seguinte questão de partida:
3
1.3.2 Objectivos específicos
Verificar os factores que contribuíram para o baixo nível do reembolso dos créditos
concedidos aos mutuários através do FDD, no período em alusão.
De acordo com Gil (2014), hipóteses é uma proposição que tem em vista colocá-la a prova
para a sua determinação, ou seja, surge como uma resposta prévia ao problema de pesquisa,
com a finalidade ser aceite ou rejeitada, depois de ser testada.
Neste sentido, Gil (2014, p. 41), afirma que, “as hipóteses sugerem explicações sobre
determinados factos que sugerem solução do problema em estudo - verdadeiras ou falsas”.
Com o efeito, o Autor escolheu duas hipóteses, sendo, uma hipótese principal (H1) e, outra,
hipótese secundária (H2).
4
H2: O Fundo de Desenvolvimento Distrital alocado ao Distrito de Tsangano, Província de
Tete, contribuiu para o Desenvolvimento Local do Distrito de Tsangano, Posto
Administrativo de Tsangano-Sede, nos anos 2015-2017.
O tema é pertinente e actual, contanto que, nos anos retro referenciados, foram
aprovados e financiados vários projectos de investimentos, o que gerou muitos postos
de trabalhos naquela parcela do País;
6
CAPÍTULO II – REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Conceptualização
2.1.1 Descentralização
Nos termos do art.º 267º/1º/, da CRM-2004, conjugado com ex vi do art.º 11º/3º/, da Lei nº
7/2019, de 31 de Maio, a descentralização, tem como objectivo organizar a participação
popular na solução dos problemas próprios de sua comunidade, promovendo o
desenvolvimento local, o aprofundamento e a consolidação da democracia, no quadro da
unidade do Estado moçambicano.
2.1.2 Indicadores
De acordo com Paludo (2019, p. 518), no contexto de políticas públicas, os indicadores são
elementos que geram informações de determinados factos ou situação social, cujos quais,
despertam atenção para realidades importantes não devidamente atendidas pelo Estado.
2.1.3 Política
De acordo com Paludo (2019, p. 507) apud Rua (2009), em sentido lado, política é um
conjunto de procedimentos formais e informais, que expressam as relações de poder, cujos
quais, se destinam à resolução pacifica dos conflitos quanto a bens públicos.
7
Segundo Fernandes (2010, p. 11), política “é a técnica que tem como finalidade alcançar os
melhores resultados com o menor dispêndio de esforços - como a arte de governar, ou seja, a
arte que permite escolher de entre dois males, o menor”.
De acordo com Paludo (2019) apud Rua (2009), políticas públicas são públicas porque
resultam das decisões públicas, isto é, advém das decisões dos agentes públicos que possuem
competências e poder de representação de parcelas do poder do Estado.
Segundo Rocha (2010, p. 26), políticas públicas são políticas desenvolvidas pelo governo e
outras autoridades públicas, tendo em conta, ao que os governos fazem, não ao que tencionam
em fazer, cujas decisões políticas geram outputs, que por regra (se for positiva), toma a forma
de lei.
Segundo Pereira Belo (2017, p. 36) apud Dye (1995), uma política pública, é acção que
compreende as escolhas do governo, tendo em conta o que eles fazem ou não fazem.
Ao abrigo do disposto no art.º 13º/1º/, da LOLE, conjugado com ex vi do art.º 11º da RLOLE:
“[…] 1) O Posto Administrativo é a unidade territorial imediatamente inferior ao
distrito, tendo em vista garantir a aproximação efectiva dos serviços da
administração local do Estado às populações e assegurar maior participação dos
cidadãos na realização dos interesses locais. 2) O Posto Administrativo é constituído
por localidades. 3) O Posto Administrativo, abrange também, as áreas das autarquias
locais compreendidas no respectivo território”.
8
2.2 Fundamentação Teórica
2.2.1 Perspectivas básicas de investigação e análise de fenómenos políticos
De acordo com Fernandes (2010, p. 37), o estudo dos fenómenos políticos, implica a adopção
de diferentes estratégias de análise, cujo objecto de estudo, é influenciado por quatro
perspectivas de investigação e análise: (i) individualista; (ii) racionalista; (iii) funcionalista e;
(iv) sistémica (vide os detalhes abaixo).
Conforme defende Fernandes (2010, p. 38) apud Froman (S/d), a perspectiva individualista,
é a predisposição que um individuo possui para analisar alguns aspectos do seu mundo, de
maneira favorável ou desfavorável, ou seja, uma disposição para aprovar ou desaprovar,
querer ou repudiar alguns objectos sociais ou físicos”.
Nesta perspectiva, a análise de formação das decisões são tomadas tendo em conta o
princípio da razoabilidade - a relação fins-objectivos, isto é, maximizar os resultados,
enquanto a racionalidade, diz respeito à relação meios-fins, ou seja, os intervenientes
políticos actuam para “maximizar os ganhos e minimizar as perdas e, tomarão as decisões que
lhes possam satisfazer a essa economia, mediante um plano de execução, ancorado numa
estratégia para materializar esse desiderato (Fernandes, 2010, p. 39-40).
9
2.2.1.3 Perspectiva Funcionalista
Segundo Fernandes (2010, p. 43), a perspectiva sistémica surgiu nos princípios do século XX
com os trabalhos do biólogo alemão Ludwig von Bertalanffy, assente na ideia de “Teoria
Geral dos Sistemas”, posteriormente, introduzidos na Ciência Política consoante os trabalhos
desenvolvidos por Talcott Parsons (1951) e David Easton (1965-1967).
Neste âmbito, Fernandes (2010), afirma que, o contributo de Parsons, se assenta na ideia de
que, o sistema geral de acção social desempenha quatro funções:
a) Adaptação: o sistema adapta ao seu ambiente e age sobre ele, para se adaptar as suas
necessidades;
b) Realização de objectivos: define as metas do sistema e mobiliza os recursos e energia
para sua consecução;
10
c) Integração: protege a coerência do sistema contra as perturbações e mudanças que o
ameaçam;
d) Alimentação: assegura a criatividade e permanência da fidelidade dos agentes aos
valores e modelos do sistema.
L (latence) I (integration)
Fonte: Fernandes (2010).
A despeito disso, Fernandes (2010), sustenta que, a perspectiva sistémica de David Easton,
aplica-se na análise de fenómenos políticos, assente na distribuição de valores, o sistema
político é uma caixa preta, que está mergulhada no meio-ambiente2 (ambiente social e/ou
global), que o sujeita a desafios que deve responder, que por sua vez, recebe pedidos e os
apoios (inputs), que em troca, oferece as normas e acções (outputs).
2
O ambiente externo, inclui os sistemas políticos coexistentes, sistemas supranacionais, sistemas ecológicos
mundiais e, o ambiente interno, integra os actores internos, partidos políticos, associações, ONGs, grupos de
interesses e/ou grupos de pressão, sociedade civil, media, entre outros.
11
Diagrama 1: Perspectiva sistémica de Easton (1965-1967).
Segundo Rocha (2010) apud Dye (1978), os modelos tentam explicar e clarificar o nosso
pensamento sobre as políticas públicas – identificam aspectos relevantes dos problemas de
políticas, auxiliando na comunicação, orientam os esforços no sentido de compreender as
políticas públicas, mencionando os aspectos relevantes e irrelevantes, explicitam e preveem as
suas consequências.
Conforme argumenta Rocha (2010, p. 29), os modelos comuns de processo político são
quatro: i) teoria do ciclo político; ii) teoria da escolha pública; iii) teoria pluralista e das
networks; iv) teoria institucionalista.
Segundo Rocha (2010, p. 30) apud Jones (1977) e Anderson (1975), o processo político
caracteriza-se por conter quatro (4) fases distintas: i) constituição da agenda; ii) formulação e
legitimação de políticas; iii) implementação de políticas; iv) avaliação de políticas.
Não há um consenso, sobre qual é a fase mais relevante, contanto que, uns defendem que, a
constituição da agenda3, enquanto outros, a fase de implementação das políticas4.
Porém, a principal crítica do modelo, é levantada por Sabatier (1991) citado por Rocha (2010,
p. 30), tendo em conta quatro aspectos:
3
Rocha (2010, p. 30) apud Cobb e Elder (1988), Kingdon (1984), Baumgartner e Jones (1993).
4
Rocha (2010) apud Pressman e Wildavsky (1973), Mazmanian e Sabatier (1983).
12
Ela não deve ser tratada como uma teoria casual;
A sequência de fases, amiúde, é proposta de forma inadequada;
O modelo é legalista, porque a política formulada é uma lei, que deve ser executada;
Não existe um ciclo político para cada política - os ciclos interagem e se relacionam
entre si.
De acordo com Rocha (2010), a escolha do mercado competitivo são aplicáveis ao processo
político, onde cada stakeholders, têm os seus interesses, se bem que:
Segundo Rocha (2010, p. 31), a interacção dos actores no campo político, se reflecte na
criação de programas e de serviços, sob intervenção estatal, onde os governos estão em
permanente campanha eleitoral, as decisões dependem do timing vigente no ciclo eleitoral”
Rocha (2010), explicita que, a relevância dos grupos em detrimento dos indivíduos, baseia-se
na primazia que os grupos de interesses possuem no processo político, em decorrência, de
resultar da interacção dos grupos, veiculando distintos interesses, cujo processo decisório, é o
incrementalismo, consoante um número limitado de opções políticas à disposição dos
políticos, que representa uma mudança mínima no status quo.
Contudo, esta teoria advoga o pluralismo, assente nos grupos que estabelecem relações entre
si (alianças), criando uma alternância governativa à hierarquia e ao mercado, onde o Estado
tem o papel de regulador, não havendo uma separação entre o Estado e a sociedade, onde as
políticas públicas são emanadas por uma multiplicidade de organizações quer sejam públicas
e/ou privadas (Idem, p. 32).
13
2.2.2.4 Teoria Institucionalista
Conforme explicita Rocha (2010), esta teoria, reconhece as limitações da teoria individual e
dos grupos, na medida em que, as instituições aumentam ou diminuem os custos
transacionais, que dão enquadramento as preferências e à forma como podem ser executadas,
ou seja, constituem blocos que restringem as preferências, capacidades e identidades dos
indivíduos, que quando são feitas, limitam as futuras possibilidades.
Para Rocha (2010, p. 32) apud Ostrom (1986), a visão institucionalista do processo político,
procura combinar a perspectiva de análise de comportamentos individuais, as regras e a
instituições governamentais, as relações inter-governamentais e as decisões políticas.
Arranjos institucionais
Caracterização da
situação a decidir
Acontecimentos Acção,
Natureza dos Bens actividades Resultados
Interesses e valores
e estratégia agregados
individuais
Condições sócio-
económicas e Opinião
Pública
14
Neste contexto, o desenvolvimento local, é uma técnica que visa desenvolver as
comunidades, isto é, os pequenos aglomerados populacionais, onde existem a possibilidade de
vir a existirem os vínculos de solidariedade estreitos, com objectivo de promover o bem-estar
social (Idem, p. 246).
Para Nguiraze e Aires (2011) apud Sousa (2004), o desenvolvimento local, é associado a
noção de participação, estimulado pelo poder político, cuja maior preocupação está associada
a ideia de ordem social - para manter e facilitar o próprio desenvolvimento económico.
Segundo ENAP (2018), o desenvolvimento local não está apenas associado a aquilo que era
atribuído ao lugar “local”, mas também, é influenciado por aquilo que ocorre na esfera
regional (estado) ou nacional (país), bem como por outras esferas, se bem que, os fenómenos
sociais não são os únicos que influem nas políticas públicas dos governos locais, contanto
que, estão integrados em contextos que os actores locais não possuem à sua gestão.
Por conseguinte, Alfredo (2013), diz que, os exemplos de desenvolvimento comunitário e/ou
local, possuem históricos distintos:
1º. Quanto aos projectos bem-sucedidos, tiveram o amplo envolvimento popular, que
ainda, colaboraram com recursos locais (mão-de-obra na execução do plano);
2º. Quanto aos projectos mal-sucedidos, estavam associados à rejeição popular, devido à
manutenção do status quo, assentes em valores tradicionais (preconceitos e regras de
condutas dominantes), e pela sua exclusão na fase de consulta (saber as preferências).
Alfredo (2013, p. 248), explicita que, as primeiras experiências sobre o desenvolvimento local
em Moçambique, surgiram nos fins dos anos 70 do século XX, pelas aldeias comunais, como
forma de realizar o desenvolvimento baseado em aglomerados populacionais colocados numa
determinada zona com infra-estruturas sociais básicas.
Porém, este projecto não surtiu o efeito desejado, porque não foi devidamente esclarecido e
partilhado com as populações locais, tal como se sucedeu com os chamados Ujamaas, na
15
República Unida da Tanzânia, onde constata-se que, algo de errado ocorreu para que o
projecto não tivesse tanta adesão popular, sobretudo em países que seguiram o modelo de
desenvolvimento socialista (Idem, p. 248).
Com o efeito, Antunes (2015, p. 321), afirma que, o PPI se assentava em dois objectivos:
Os objectivos acima referenciados, foram sustentados através “da definição e criação dos
pólos de desenvolvimento, contidos no PE, que estabelecia os planos de acção tanto para os
Vales do Limpopo e do Incomáti, assim como, para os portos de Maputo, Beira, Quelimane e
Nacala, para além da criação de infra-estruturas de transportes rodoviários, construção civil,
indústrias alimentares, (…) entre outros” (Idem, p. 321).
De acordo com Sengulane (2015) apud AfriMAP e Open Society Institute Network (2009),
em 2003, foi lançada a Agenda 2025, como um instrumento orientador para o
desenvolvimento de Moçambique até 2025, traçando o perfil da sociedade moçambicana,
ilustrando as suas potencialidades e fraquezas, mediante quatro (4) aspectos: i) o capital
humano; ii) o capital social; iii) a economia e desenvolvimento; iv) a governação.
Por conseguinte, as normas contidas no art.º 13º/2º/3º/, do supra Decreto, alvitram: “O FDD
pode receber financiamentos de fundos de fomento e donativos concedidos por instituições
nacionais, com prévio conhecimento do Governador Provincial”. (…) “o FDD pode ainda,
receber donativos concedidos por entidades internacionais, com a prévia anuência do
Governador Provincial”.
B. Objectivos do FDD
Ao abrigo do art.º 4º/1º/, do Decreto retrocitado, o FDD, tem como objectivo financiar:
a) Acções que estimulam o empreendedorismo, a nível local, de pessoas
pobres, mas economicamente activas e que não têm acesso ao crédito
bancário;
b) Actividades de produção e comercialização de alimentos, criação de
postos de trabalho, permanentes ou sazonais, assegurando a geração de
rendimento;
c) Outras acções que visam melhorar as condições de vida, relacionadas
com as actividades económicas e produtivas das comunidades.
17
C. Atribuições do FDD
Nos termos do art.º 5º do supra Decreto, o FDD tem as seguintes atribuições:
Os resultados da pesquisa apontam que, o FDD teve impacto positivo, tendo em conta a
quatro aspectos:
a) Ao volume do financiamento concedido;
b) Ao grau de avaliação do financiamento tendo em consideração ao que foi planeado;
18
c) À gestão do FDD consoante ao género;
d) Ao nível de emprego (postos de trabalhos) gerados pelo FDD.
O estudo conclui que, o FDD melhorou a qualidade de vida dos beneficiários, pelo número de
postos de trabalhos criados (mais de 50%), por um lado, a participação comunitária na gestão
do FDD é fraca ou inexistente, e por outro, os mecanismos de prestação de contas pelo CCL,
não obedece ao sigilo profissional e, a partilha de informação é fraca (projectos aprovados e o
nº de beneficiários).
O segundo estudo foi feito por Delton João Caetano Laissone (2016), intitulado “O Fundo de
Desenvolvimento Distrital como Impulsionador do Desenvolvimento Local: Análise de 10
projectos financiados entre 2012 a 2015 no Distrito de Chiúta”, para obtenção do grau
académico de Licenciatura em Administração Pública na Faculdade de Gestão de Recursos
Naturais e Mineralogia, da Universidade Católica de Moçambique – Delegação de Tete, que
teve como objectivo principal Provar que os projectos financiados pelo Fundo de
Desenvolvimento Distrital entre os anos 2012 a 2015, contribuíram para impulsionar o
Desenvolvimento Sustentável Local no Distrito de Chiúta.
Por sua vez, o estudo aponta que, os constrangimentos enfrentados pelo FDD ao nível do
Distrito de Chiúta, tendo em conta a dois (2) aspectos:
19
a) O acesso ao FDD pelos beneficiários, sobre os valores reembolsados pelos projectos
financiados, que eram menores relativamente ao que foi inicialmente solicitado,
gerando não só constrangimentos e/ou frustrações das expectativas dos beneficiários,
mas também, condiciona a execução do projecto no alcance dos objectivos
previamente traçados;
b) Por causa das dificuldades dos gestores, que reclamavam sobre os comportamentos
protagonizados pelos beneficiários que, amiúde, mal devolviam os valores no fim do
projecto e dentro do cronograma aprovado pelas estruturas locais, condicionado pelo
baixo nível de escolaridade. Ademais, constatou-se uma influência negativa dos
lideres políticos locais, que tentavam a inviabilizar os projectos e, o fraco
acompanhamento pelos chefes de localidades.
2.4 Conclusão
Este Capítulo dissertou sobre revisão de literatura (teórica e empírica), onde constatou-se que,
as políticas públicas, são políticas que são abordadas em forma de lei, posteriormente,
implementados por agentes públicos, cujas quais, são explicadas tendo consideração quatro
perspectivas e outras quatro teorias acima referidas, porquanto, em Moçambique, os pólos de
desenvolvimento, tem a sua génese nos fins dos anos 70 e princípios dos anos 80, para gerar o
desenvolvimento regional, tendo sido, reactivados pelo FDD, como forma de identificar as
oportunidades e potencialidades existentes nos distritos, definidos como base de planificação.
20
CAPÍTULO III – METODOLOGIA DE PESQUISA
De acordo com Gil (2014), método é o caminho para se chegar a um determinado fim. No
entanto, o método científico, é o conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adoptados
para se atingir o conhecimento científico.
Segundo Lundin (2016), nas ciências sociais, o pesquisador dispõe um conjunto de métodos,
com destaque: a) métodos de abordagem, norteiam a pesquisa mediante uma sequenciação
logica (ligação entre e teoria e a prática); b) métodos de procedimentos, permitem escolher
os meios técnicos para desenvolver a pesquisa.
Este estudo, quanto a sua abordagem, assenta-se no método hipotético – dedutivo, e quanto ao
procedimento, se enquadra no método monográfico ou estudo de caso.
21
c) Quanto aos objectivos, divide-se em: i) exploratória; ii) descritiva; iii) analítica
explicativa;
d) Quanto aos procedimentos técnicos: i) bibliográfica; ii) documental; iii) experimental;
iv) levantamento de dados; v) estudo de caso; vi) expost facto; vii) pesquisa de acção;
viii) observação participante; ix) observação.
A despeito disso, Lundin (2016), afirma que, quanto a abordagem do problema, a pesquisa
qualitativa, é aquela que focaliza à interpretação dos fenómenos e a atribuição de
significados, por existir uma relação entre o mundo real e o sujeito, enquanto a pesquisa
quantitativa, os fenómenos são objectos de mensuração e de quantificação, com recurso as
técnicas estatísticas.
Esta pesquisa, quanto a abordagem do problema é uma pesquisa qualitativa, quanto a sua
natureza é uma pesquisa básica, já quanto aos objectivos é exploratória e, quanto aos
procedimentos técnicos é concomitantemente uma pesquisa bibliográfica, documental e
monográfica e/ou estudo de caso.
De acordo com Gil (2014), população é um conjunto definido de elementos que possuem
determinadas características, ou seja, é o total de habitantes de um determinado lugar.
No entanto, Gil (2014, p. 89), defende que, em termos estatísticos, população é entendida
como o conjunto de alunos de uma escola, de operários filiados num sindicato, os integrantes
de um rebanho de uma localidade, o total de indústrias existentes numa cidade, ou ainda, a
produção de televisores produzidos por uma fábrica num determinado período de tempo.
22
Para a realização deste estudo, constitui a população em estudo todos os Funcionários e
Mutuários do Posto Administrativo de Tsangano-Sede, Distrito de Tsangano, Província de
Tete.
Segundo Gil (2014), amostra é o subconjunto do universo ou da população, por meio da qual,
se estabelecem ou se estimam as características desse universo ou população.
No estudo acima referido, o Autor escolheu uma amostra composta por 12 elementos: (i) 02
funcionários e/ou membros da ETD e; (ii) 10 mutuários, que se beneficiaram do desembolso
do FDD, entre os anos 2015 a 2017.
De acordo com Lundin (2016), existem dois tipos de instrumentos de colecta de dados - o
questionário e, a entrevista.
A respeito disso, Lundin (2016, p. 167), explicita que, o questionário pode conter:
Contudo, Lundin (2016), diz que, a entrevista é uma técnica de colecta de dados, em que, o
entrevistador e o entrevistado, interagem frente-a-frente, por meio de diálogo, onde o primeiro
faz perguntas e o segundo, responde.
23
Já os autores como Barros e Lehfeld (2007), a entrevista classifica-se em: (i) entrevista
estruturada, com perguntas pré-formuladas no formato de questionário, aplicáveis para
dados de natureza quantitativa (inquéritos); (ii) entrevista semi-estruturada, se procede
através de diálogo, para obter dados qualitativos, passíveis de análise de conteúdo pelo
pesquisador.
De acordo com Gil (2014, p. 156), a análise de dados, tem como objectivo organizar e
sumarizar os dados de forma que possibilitem o fornecimento de respostas ao problema
proposto para investigação, enquanto à interpretação de dados, procura dar sentido mais
amplo as respostas, por via da ligação com os outros conhecimentos obtidos.
Conforme descrevem os autores como Barros e Lehfeld (2007, p. 107), no processo de análise
e interpretação de dados, há que realçar três actos essenciais:
3º. Tabulação: procura organizar os dados em tabelas que ajudam na sua análise e
interpretação, recorrendo aos procedimentos quantitativos (quadros e tabelas); e aos
procedimentos qualitativos (análise de conteúdo).
24
analisados os depoimentos dos entrevistados com os aspectos teóricos, para conferir maior
significado e autenticidade, para responder ao problema de pesquisa e a pergunta de partida.
3.7 Conclusão
Este capítulo abordou sobre questões metodológicas, com uma abordagem assente na
pesquisa mista (qualitativa e quantitativa), sustentada pelo método monográfico e/ou estudo
de caso, a população é composta por todos os Funcionários e Mutuários do Posto
Administrativo de Tsangano-Sede e amostra de 12 elementos, os dados foram colectados por
entrevistas semi-estruturadas e/ou questionários, sendo posteriormente, agrupados em classes
(membros da ETD e os mutuários), seguida da codificação e, por fim, a tabulação.
Segue-se adiante, o Capítulo IV, que versa sobre Análise e Discussão de Resultados.
25
CAPÍTULO IV – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
De acordo com Fulede e Bihale (2021), o Distrito de Tsangano tem uma superfície de 3.675
Km2, sendo composto por 02 Postos Administrativos:
Norte: faz fronteira com o Distrito de Angónia; Sul: é delimitado pelo Distrito de
Moatize; Leste: faz fronteira com a vizinha República do Malawi; Oeste: é delimitado
pelos distritos de Macanga e Chiúta, respectivamente.
Segundo dados do INE (2019, p. 2), retirados do IV RGPH (Censo 2017), este Distrito, tem
uma população total de 214.560 habitantes: (i) 104.920 habitantes (48.9%) são do sexo
masculino e; (ii) 109.640 habitantes (51,1%), são do sexo feminino.
Por fim, o sector de pesca e piscicultura, contribuiu com apenas 1 projecto (0.2%).
26
A tabela abaixo, descreve sucintamente os projectos financiados pelo FDD, naquele período.
a) Sobre à distribuição dos projectos por género, há que frisar que, 106 indivíduos eram
do sexo masculino (59%), enquanto 74 indivíduos, eram do sexo feminino (41%);
b) Quanto aos PTCP, foram criados 209 postos de trabalhos: (i) 99 PTCP gerados em
2015 (47%); (ii) 110 PTCP (53%) em 2017.
Adiante, a tabela sintetiza os PTCP no âmbito dos projectos financiados pelo FDD.
Tabela 3: Nº de Beneficiários de Projectos e PTCP no âmbito do FDD.
Sobre o perfil etário, todos entrevistados (100%), tinham entre 26-35 anos de idade;
Por fim, quanto ao tempo de serviço na função, nota-se que, 01 entrevistado (50%)
tinha entre 1-4 anos de serviço e, 01 entrevistado (50%) tinha entre 5-9 anos.
28
personalidade jurídica, possui autonomia administrativa e financeira”. Enquanto, o E2,
afirmou o seguinte: “O FDD serve para apoiar as iniciativas locais do Distrito de Tsangano
em geral e da população em particular”.
Por sua vez, o E2, respondeu nos seguintes termos: “Os objectivos que nortearam a criação
do FDD foram apoiar as iniciativas empreendedoras locais de pessoas com capacidade
activa e de micro-projectos, para responder as políticas de desenvolvimento, bem como a
redução da pobreza absoluta”
Resposta: Sobre a questão supracitada, o E1 disse que, “os grupos-alvo e/ou elegíveis aos
projectos financiados pelo FDD, antes de mais, devem ser cidadãos Moçambicanos, de entre
os residentes permanentes, maiores de dezoito (18) anos de idade e, abaixo de sessenta (60)
anos”. Já o E2, disse que, “são cidadãos Moçambicanos residentes no Distrito acima referido,
sendo maiores de dezoito (18) anos de idade e, abaixo de cinquenta (50) anos de idade”.
P2: Quais foram os projectos financiados pelo FDD no Posto Administrativo de Tsangano-
Sede nos anos 2015-2017?
P2.1: Que critérios são usados para financiar e/ou desembolsar os valores de projectos do
FDD aprovados ao nível desta circunscrição territorial?
29
Resposta: O E1 disse que, os critérios usados no financiamento e/ou desembolso de valores
dos projectos do FDD aprovados pelo Governo do Distrito de Tsangano, estão relacionados
com os projectos que visam e/ou promovem o desenvolvimento comunitário do Distrito, cujos
quais, respondem as demandas da política de desenvolvimento local.
Para o E2, os critérios usados estão relacionados com os projectos que vão de encontro com
as políticas do Governo Central, cujos quais, são implementados e/ou executados ao nível do
Distrito de Tsangano, com impacto na vida das Comunidades locais”.
P2.2: Que canais foram utilizados para o desembolso dos valores alocados pelo FDD aos
mutuários?
Resposta: Relativamente a questão colocada, o E1 disse que, em 2015 foi usado o sistema de
cheque bancário, relativamente ao ano de 2017, que foi usado o sistema de débito
(transferência) bancário, já o E2, disse que, sempre recorreu-se ao sistema de cheque
bancário, ao passo que, em 2017, foi usado o sistema de débito bancário (via e-SISTAFE).
P3: Quais são os critérios de seleção para efeitos de composição (membros) da ETD?
Resposta: Nesta questão, o Autor constata que, tanto o E1, assim como o E2, corroboraram
ao afirmarem que, “os membros do FDD são seleccionados pela Comunidade local, por um
mandato de quatro (04) anos renovável por igual período”.
Por conseguinte, o E2, disse que, os constrangimentos foram várias: (i) desde a falta de
compromisso dos mutuários na devolução de valores; (ii) falta de condições logísticas (meios
de transportes); (iii) desvio de aplicação do valor financiados pelos projectos do FDD.
30
P4: Que factores contribuíram no baixo nível de reembolso do FDD nos anos 2015-2017?
Resposta: Sobre a questão acima colocada, o E1, disse que, os constrangimentos enfrentados
com o baixo nível de reembolso do FDD nos anos 2015-2017, foram: (i) falência técnica dos
projectos; (ii) fraca ação de fiscalização dos projectos de monitoria e avaliação; (iii) o desvio
de aplicação dos mutuários; (iv) falta de formação adequada em torno do Agentes dos
mutuários para lidar com os mesmos de forma eficaz.
Por sua vez, o E2, disse que, os factores são: (i) baixo nível de retorno dos projectos
financiados; (ii) fraco rendimento dos projectos do ramo agro-pecuário, decorrentes de
situações climáticas; (iii) elevados índices de migração Malawi e; (iv) desvio de aplicação dos
valores créditos concedidos no âmbito do supra FDD.
P4.1: Como é que o FDD influenciou o cumprimento dos objecticos do Governo do Distrital?
P4.2: Que mecanismos foram usados para os mutuários aderirem ao reembolso dos valores
alocados?
Relativamente aos dados colectados sobre inquiridos pelo Inquérito por Questionário, os
dados colectados apontam:
a) Quanto ao género, seis (06) inquiridos (60%) eram do sexo masculino e, somente
quatro (04) inquiridos (40%) eram do sexo feminino;
b) Sobre o perfil etário, seis (6) inquiridos (60%) estavam na faixa etária dos 26-35 anos
de idade e, quatro (4) inquiridos (40%) que, na faixa etária dos 36-45 anos;
31
c) Quanto ao perfil académico, três (03) inquiridos (30%) tinham o nível elementar,
seguidos de outros seis (06) repartidos equitativamente em dois (02) inquiridos (20%
para cada inquirido), tinham o nível superior (20%), médio (20%) e básico (20%), se
comparado com somente um (01) inquirido (10%), que não respondeu a pergunta;
d) Por fim, quanto ao perfil profissional e/ou ocupacional, três (03) inquiridos (30%)
eram servidores públicos; seguidos de dois (02) inquiridos (20%), que eram
farmeiros; adiante, quatro (4) repartidos equitativamente um (1) inquirido (10% para
cada inquirido),que eram comerciantes (10%), doméstica (10%), motorista (10%),
mecânico (10%) e, um (01) inquirido (10%) sem resposta.
32
4.3.2 Percepção dos mutuários e/ou inquiridos sobre o FDD
Nesta subsecção, o Autor apresenta as respostas dos mutuários e/ou inquiridos, obtidas
através do inquérito por questionário, dispostas em tabelas e/ou gráficos.
34
P5: Quanto tempo levou para o seu projecto ser aprovado?
Gráfico 4: Tempo despendido para aprovação do projecto.
Interpretação: Os dados contidos no gráfico retro referido, ilustram que 5 inquiridos (50%)
disseram que, o tempo despendido para aprovação do projecto foi mais de 30 dias e, outros 5
inquiridos (50%), disseram que o tempo despendido foi entre 11 a 30 dias.
35
P7: Quantos postos de trabalhos foram gerados pelo seu projecto?
Gráfico 6: Postos de trabalhos gerados pelo projecto.
Interpretação: Os dados contidos no gráfico acima referido indicam que, 9 inquiridos (90%),
atribuíram uma classificação positiva sobre os resultados do projecto na Comunidade, seguido
de 1 inquirido (10%), atribuiu uma classificação negativa.
36
P9: Teve alguns constrangimentos na implementação do projecto?
37
P10: Aponte os principais ganhos trazidos pelo projecto na sua Comunidade?
4.4 Confrontação dos dados obtidos pelas entrevistas e pelo inquérito por questionário
com estudos teóricos e empíricos
Nesta subsecção, o Autor faz a confrontação dos dados colectados no local de pesquisa, com
as teorias e/ou estudos empíricos, para conferir autenticidade e, rigor científico.
Relativamente a primeira questão colocada aos entrevistados, o Autor constatou que, apenas o
E1 é que conceituou o FDD, tendo em conta as disposições contidas no art.º 1º/1º/, do Decreto
nº 90/2009, de 15 de Dezembro, já o E2, tem conhecimentos sistematizados sobre o FDD
(carece de aprofundamentos), apesar de ter respondido intuitivamente (pelo senso comum).
Quanto aos inquiridos, o Autor constatou que, 7 inquiridos (70%), conceptuaram o FDD,
tendo em conta aos seus objectivos contidos no art.º 4º/1º/, do Decreto anteriormente citado,
enquanto dois (2) inquiridos (20%), responderam intuitivamente, se comparado com um (1)
inquirido (10%), optou por não responder. Isso significa que, os inquiridos estão cientes da
relevância conceptual.
38
Alfim, o Autor conclui que, o argumento apresentado tanto pelos entrevistados assim como
pelos inquiridos, é verosímil (apesar de não ter sido de todo tecnicamente correcto), visto que,
as normas consagradas no art.º 1º/1º/, do Decreto acima mencionado (já citado anteriormente,
no Ponto 4.3.1, pelo depoimento do E1).
Conforme argumenta Antunes (2015, p. 322), a ideia subjacente ao FDD, estava ligado aos
grandes projectos nacionais, ancorados nos “pólos de desenvolvimentos”, idealizados pelo
Estado no âmbito do PPI, que foram abandonados e/ou subdivididos em pequenos projectos,
com finalidade de corrigir o crescimento desequilibrado, através da concentração de capitais
e, a expansão da mão-de-obra em redor do respectivo pólo.
O Autor constata que, os argumentos dos entrevistados e dos inquiridos, são válidos, visto
que, o FDD constituiu uma agenda pública de governação durante o mandato do antigo
Presidente Armando Guebuza (2005-2014), através do “manifesto eleitoral” sufragados nas
eleições gerais5 e, transformados em programas de governação pelos PQG 2005-2009 e o
PQG 2010-2014, operacionalizados pelo PARPA II 2006-2009 e, pelo PARP 2011-2014, tido
como principal “bandeira de governação”, manifestado nas Presidências Aberta e Inclusiva,
mais tarde, foi instituído o PERPU (em 2011), nas Autarquias Locais.
“Várias são as acções que têm sido levadas a cabo para garantir a materialização
deste princípio. Uma delas foi a Reunião Nacional dos Administradores de Distritos
realizada no Município de Vilankulo, em Outubro deste ano, pois, este encontro,
tinha como objectivos aprofundar os conhecimentos sobre o PQG e capacitar os
Administradores em matérias de planificação e legislação” (Idem).
5
Eleito em 2004, quando sucedeu ao Joaquim Chissano, então Presidente da República entre 1986-2005, sendo
reeleito em 2009, para o 2º mandato e, desde 2015, foi sucedido por Filipe Nyusi.
39
Na segunda questão colocada aos entrevistados, tanto o E1 assim como o E2, responderam
afirmativamente sobre os objectivos de criação do FDD, se bem que, o Autor, conclui que o
argumento apresentado por aqueles são válidos, estão em consonância com as normas
estatuídas pelo art.º 4º/1º/, do supra Decreto.
Por seu turno, Valá (2012, p. 173), argumenta que, “os 7 milhões constituem uma das mais
corajosas decisões políticas tomadas pelo Governo do Presidente Armando Guebuza, pois,
enfrenta de forma formal, um dos sérios dilemas da economia rural no período pós-
independência, ou seja, fazer com que os pobres economicamente activos possam participar
no processo de desenvolvimento económico nacional”.
Relativamente a terceira questão, ou seja, sobre os grupo-alvos e/ou elegíveis aos projectos do
FDD, RM (2011, p. 4-5), sustenta que, são elegíveis aos projectos financiados no âmbito do
FDD, dois grupos: (i) entidades singulares, formadas por cidadãos detentores de
nacionalidade moçambicana (seja nacionalidade originária e/ou adquirida); (ii) entidades
colectivas, constituídas por associações, micro, PME’s.
Quanto a quarta questão (projectos financiados pelo FDD), os argumentos que o E1 e do E2,
são taxativos, pois, os projectos mais concorridos naquela unidade territorial, o Autor
considera válido, por estar alinhado ao que, RM (2011), alvitra, contanto que, devem estar
6
A ser confirmado pelas autoridades locais
7
Idem.
8
Confirmada pelas autoridades administrativas e comunitárias.
40
relacionados ao desenvolvimento económico local, com algum impacto no combate à pobreza
absoluta, estando em sintonia com o PEDD, propostos por entidades singulares e/ou
colectivas, sob confirmação de autoridades locais.
Ainda na linha de RM (2011), o FDD financia sete projectos prioritários: (i) produção e
comercialização agro-pecuária; (ii) pesca; (iii) piscicultura; (iv) pequena indústria; (v) agro-
indústria e pequenos sistemas de processamento; (vi) turismo rural; (vii) comércio.
Neste contexto, RM (2011, p. 6), sustenta que, os projectos são classificados tendo em conta a
sua finalidade, de onde, sobressaem dois grupos:
No que tange a quinta pergunta sobre os critérios de financiamentos e/ou desembolsos dos
valores, os depoimentos do E1 e E2, são pertinentes, conforme argumenta RM (2011), a
condição sine qua non, para aprovação do projecto, é a sua implementação na unidade
territorial, que foi aprovada, para criar mais empregos ou postos de trabalhos, garantindo
assim, o desenvolvimento económico e social do Distrito.
Para o Autor, os argumentos dos entrevistados são verosímeis, pois, o FDD é uma política
pública aprovada pelo Governo Central, através do Decreto nº 90/2009, de 15 de Dezembro,
cujos objectivos já foram citados, se bem que, vai ao encontro do que Paludo (2019, p. 506),
considera que, “as mesmas são concebidas e implementadas para promoverem mudanças,
mantendo o partido governante no poder, promovendo a justiça social (…), ou ainda, como
escolhas feitas pelos governos para atender as demandas emanadas pela sociedade”.
A sexta questão atinente aos canais usados para o desembolso do FDD, conforme defende
RM (2011), os dinheiros, são canalizados pelo MEX via e-SISTAFE para conta do SPEF, que
por sua vez, canaliza ao Governo Distrital na qualidade de UGB. De seguida, é exigido que, o
mutuário apresente o NUIT9, o Bilhete de Identidade (para conferir a nacionalidade
moçambicana) e, o nº de conta bancária, para efectuar as transacções através do e-SISTAFE.
9
Serve para efectuar os pagamentos e transferências de fundos.
41
Na sétima pergunta sobre os critérios de eleição dos membros da ETD, conforme defendem
os autores como Thomsen, Baessa e Manjate (2010, p. 17-18), estes são seleccionados pelas
comunidades locais, visto que, tem a função meramente técnica, ou seja, são responsáveis
pelo processo de coordenação do desenho da estratégia e planos de desenvolvimento do
distrito, bem como, em aspectos ligados à avaliação, garantia de qualidade e monitoria de
implementação dos projectos, faz a divulgação do FDD nas comunidades, as modalidades de
acesso e, suas metodologias.
Na nona pergunta sobre os factores que contribuíram para o baixo nível de reembolso dos
valores, os depoimentos do E1 e E2, são consentâneos com a realidade vivida em quase todos
os locais onde este fundo foi alocado, conforme argumentam Thomsen, Baessa e Manjate
(2010), há assimetria de informação quanto aos objectivos do FDD junto dos beneficiários,
em questões associadas a vulnerabilidade dos mecanismos internos de controlos.
A décima pergunta relacionada com o baixo nível de reembolso do FDD tem influência no
cumprimento dos objectivos do Governo do Distrito de Tsangano, onde o E1 e o E2,
convergiram ao afirmarem que, o mesmo, afecta o financiamento dos demais projectos.
Por sua vez, RM (2011, p. 9), afirma que, apesar dos mesmos serem feitos através da conta
domiciliada num banco comercial, nem sempre, são canalizados, contanto que, 80% dos
dinheiros oriundo dos juros procedentes dos empréstimos reembolsados, devem ser
canalizados para as despesas do FDD, sobretudo na aquisição de meios materiais e
circulantes, para efeitos de visitas de monitorias, com finalidade de verificar o grau de
execução dos projectos financiados.
42
serem inibidos ou banidos de concorrerem aos projectos futuros (Thomsen, Baessa e Manjate,
2010, p. 41).
Nesta subsecção, são confrontados os depoimentos dos inquiridos manifestados nos gráficos
retro referenciados, com os estudos empíricos e/ou pelos pressupostos teóricos.
Quanto a questão relacionada com o tipo de projecto submetido, os resultados obtidos pelo
estudo, constatam que, a maior parte dos projectos submetidos pelos mutuários, se
enquadravam na lógica dos critérios (projectos) de elegibilidade, visto que, os mesmos foram
aprovados e canalizados os valores.
Neste âmbito, Valá (2012, p. 177), entende que, a partir de 2007, os recursos alocados ao
OIIL, foram direccionados exclusivamente aos projectos localmente priorizados e decididos
pelo CCL, para produzir comida, criar mais empregos, com vista a garantir mais rendimentos
nas comunidades locais, em face das orientações superiores.
Sobre a questão relacionada com o ano de adesão e/ou financiamento do projecto, vê-se que, o
ano 2015 registou 6 projectos (60%), comparativamente ao ano 2017 com 4 projectos (40% e,
em 2016 sem nenhum, coincidindo com o início do novo ciclo de governação sob à
Presidência de Filipe Nyusi10, cujos projectos solicitados, se enquadram nas políticas contidas
nas alíneas p) e b) dos objectivos estratégicos (i) e (iii) da Prioridade III do PQG 2015-201911
(Promover o Emprego e, Melhorar a Produtividade e a Competitividade), que elucidam:
“Prosseguir o financiamento da actividade produtiva e de geração de emprego nos distritos e
autarquias” (…) “Promover o emprego nos diversos sectores das actividades económicas e
sociais, incentivando e apoiando iniciativas geradoras de emprego e de auto-emprego”.
Quanto a questão ligada aos valores solicitados e os concebidos, por um lado, tiveram em
consideração ao critério de elegibilidade dos projectos anteriormente citados e, por outro, aos
limites impostos pelo FDD (RM, 2011).
O valor mais alto foi, como refere Valá (2012, p. 175-176), no processo de alocação dos
chamados 7 milhões de MT aos Distritos em 2006, através do OIIL, teve como epicentro o
10
Eleito nas eleições de 15 de Outubro de 2014, em substituição do antigo Presidente Armando Guebuza.
11
Aprovada pela Resolução n° 12/2015, de 14 de Abril.
43
CCD (cabendo o papel de orientação) e, a Secretaria Distrital (cabendo o papel de entidade
gestora do orçamento), ambos, mantendo uma estrita colaboração com o SDAE e, com a
ETD.
Por conseguinte, RM (2011, p. 10), considera que, os limites impostos aos projectos, varia
consoante ao critério por sector de actividade, onde:
A tabela a seguir, descreve os valores máximos alocados aos projectos em cada sector.
Para o Autor, os valores solicitados pelos mutuários no âmbito do FDD, objecto deste estudo,
constata-se que, o valor solicitado mais elevado foi feito por M5 (pediu 600.000,00 MT) cujo
projecto era do sector imobiliário e, foi dado 400.000,00 MT (correspondentes a 67% do valor
44
solicitado); enquanto o valor mais baixo foi feito por M9 (pediu 50.000,00 MT), ligado à
prestação de serviços e, foi concedido 40.000,00 MT (perfazendo 80% do valor solicitado).
Na questão relacionada com os prazos para alocação dos valores aos mutuários, o Autor nota
que, os mesmos, levam mais de 30 dias, devido aos procedimentos administrativos e/ou
burocráticos contidos no Manual de Procedimentos do FDD.
45
No que tange a questão sobre o reembolso dos valores concedidos aos mutuários no âmbito
do FDD, o Autor, constatou que, o mesmo é um cancro, ou seja, naquela circunscrição
territorial, o reembolso ainda é fraco, visto que, 6 inquiridos (60%), responderam que,
possuem taxas abaixo de 50% do valor concedido, o que revela, que ainda, há muito trabalho
por fazer junto dos mutuários, tendo em conta as cláusulas contratuais vertidas no art.º
6º/1º/b/, dos Termos do Contrato de Empréstimo, que diz: “São obrigações do mutuário:
devolver o dinheiro emprestado”.
No entanto, foi claro durante a pesquisa que no período em alusão, nenhum mutuário
reembolsou o valor na sua totalidade, por outro lado, há evidências da fraca fiscalização e/ou
monitoria no âmbito do SMoDD pela SDT, contanto que, compromete o cumprimento de
metas traçadas pelo PESOD.
Quanto à questão sobre os PTCP, o Autor constatou que, 70% dos inquiridos, afirmaram que,
os seus projectos geraram abaixo de 5 postos de trabalhos, comparativamente aos outros 30%
que disseram os respectivos projectos, criou entre 5-10 postos de trabalhos.
O Autor, constata ainda que, os projectos supracitados, obedecem o espírito e a letra, das
normas vertidas pelos art.º 96º/1º/, e 97º/a/, todos da CRM-2004, que rezam:
46
Outrossim, para o Autor, os projectos acima citados, são propriedades dos agentes
económicos privados (entenda-se por pequenas empresas), que se regem pelas normas
contidas no art.º 99º/3º/, da CRM-2004, conjugado com o disposto no art.º 34°/1º/c/, da Lei do
Trabalho, que rezam: “O sector privado é constituído pelos meios de produção cuja
propriedade ou gestao, pertence a pessoas singulares ou colectivas privadas, (…)”. […]
“Para efeitos da presente Lei, considera-se: pequena empresa, aquela que emprega até dez
trabalhadores”.
Na questão que aborda sobre avaliação dos resultados trazidos pelo projecto na Comunidade
do mutuário, há que salientar que, aquela, tem uma estreita relação com a questão relacionada
com os ganhos trazidos pelo projecto na Comunidade, se bem que, para os inquiridos, os
mesmos, mudaram a face daquela (vide os gráficos 7 e 10).
Para o Autor, os projectos implementados pelos mutuários, se fundam no respeito das normas
consagradas pelo art.º 11º/c/d/, da CRM-2004, que citam-se: “O Estado moçambicano, tem
como objectivos fundamentais: a edificação de uma sociedade de justiça social e a criação de
bem-estar, material espiritual e de qualidade de vida dos cidadãos”. […] “a promoção do
desenvolvimento equilibrado, económico, social e regional do país”.
A despeito disso, para além dos 7 milhões alocados, houve um acréscimo de 2 a 3 milhões de
MT (Justa Paz, 2012, p. 41), aliado ao facto de o Presidente do FDD 12, ter enorme poder de
influência e de controlo sobre o funcionamento e processo de selecção dos membros do CCL,
cujos quais, são apontados por este e/ou pelo partido dominante, colocando em causa a
representatividade daquele órgão, no que tange ao processo decisório, que deve ter em conta
as especificidades e/ou heterogeneidade da Comunidade local (Sande, 2011).
Já a questão sobre se o projecto permanece original, aquando da solicitação dos fundos para
sua execução no âmbito do FDD, pois, o Autor notou que, todos os 10 inquiridos (100%),
12
Que é o Administrador do Distrito (cf. o art.º 7º/3º/, do Decreto nº 90/2009, de 15 de Dezembro).
47
disseram que sim, o que, demonstra que, apesar da exiguidade dos valores, foram resilientes,
tendo em conta ao disposto no Plano de negócio.
Em face do acima exposto, RM (2011, p. 8), considera que, para que, os projectos sejam
aprovados, devem ter em consideração à quatro (4) premissas fundamentais:
No que concerne as políticas públicas em si mesmas, Rocha (2010), defende que: a teoria do
ciclo de políticas públicas, o processo político compreende várias fases e/ou etapas, desde a
definição da agenda, passando pela formulação da agenda, implementação e avaliação,
contanto que, este modelo se assente numa base legalista, ou seja, a política formulada é
concebida em forma de lei, que depois é implementada.
Para o Autor, a instauração do OIIL se enquadra nesta teoria, como defende o antigo
Presidente Armando Guebuza, no seu Discurso sobre o Estado da Nação em 30 de Novembro
de 2005, que foi definida na supra Reunião do Conselho de Ministros Alargado aos demais
Quadros em Julho de 2005, depois transformado em legislação (Lei nº 12/2005, de 23 de
Dezembro), aprovada pela Assembleia da República, que visava alocar os 7 milhões de MT,
aos 128 distritos do país.
No entanto, Zaqueu (2015, p. 123), diz que, o OIIL atribuído em 2006 aos 128 distritos de
Moçambique, foi um instrumento de orientação para produzir comida, criação de emprego e
de captação de rendimentos nas comunidades locais.
48
Já na teoria de escolha pública, Rocha (2010, p. 30-31), afirma que, segue fins eleitorais: (i)
os eleitores votam em partidos políticos e/ou candidatos que servem os seus interesses, (ii) os
políticos mobilizam meios e recursos a sua disposição para vencerem as eleições seguintes;
(iii) os tecnoburocratas, maximizam os seus interesses, para aumentar o seu status, através de
mais poder, prestigio e salários elevados, cuja interação, gera mais programas e serviços.
Por conseguinte, Zaqueu (2015) apud MPD (2010), diz que o FDD foi inserido no contexto
de reformas administrativas, que culminaram com a descentralização e a desconcentração de
competências administrativas para os órgãos locais do Estado, pois, cada Secretaria Distrital é
considerada como uma UGB, cujas acções são executadas em consonância com o e-
SISTAFE, que atribui para cada unidade territorial, a sua parcela do OE.
Por sua vez, a teoria dos grupos e das redes, Rocha (2010), reza que, a mesma, enfatiza o
papel dos grupos em detrimento dos indivíduos, tendo em conta ao pluralismo (dos grupos de
interesses), no processo político, veiculando diversos interesses.
No caso vertente do FDD, o Autor constata que, não se vislumbra tanto os interesses dos
grupos (sobretudo externos), salvo os interesses dos grupos internos (de confiança e/ou leais
ao antigo estadista moçambicano), que foi o “mentor” do OIIL e do FDD, tendo em conta aos
resultados eleitoralistas obtidos em 2004 e depois, em 2009.
Neste contexto, Zaqueu (2015), afirma que, após a implantação da política visando o
desenvolvimento local e combate à pobreza, também, foi instituído o PERPU, com base em
recursos do OE para o ano 2011, orçados em 140 milhões de MT, cujos quais, foram
repartidos aos municípios, para materializar as seguintes acções: (i) desenvolver acções de
formação profissional; (ii) aumentar as oportunidades de emprego; (iii) aumentar os níveis de
empregabilidade; (iv) geração de iniciativas empreendedoras viáveis.
Para o Autor, o institucionalismo se enquadra nos termos que Valá (2012, p. 177), afirma “o
facto de os recursos serem de iniciativa local, fez com que, o Governo Central se preocupasse
49
em elaborar as regras gerais e, aguardar para experiência prática de cada Distrito e,
posteriormente, se elaborar as normas de regulamentação que fossem executadas em todos os
Distritos, como exequíveis, pragmáticas e sustentáveis no contexto actual vigente no país”.
Neste sentido, Massuanganhe (2019), diz que, a visão economicista do supra modelo, toma
em consideração, a concentração demográfica, de capital, equipamentos, mega-projectos, para
maximizar o crescimento económico, com intuito de alcançar os níveis de bem-estar social
(…), cabendo ao Estado, o papel de ser o financiador e, na tomada de decisão de políticas
públicas, contanto que, as estruturas administrativas locais, são consideradas como unidades
produtoras.
Por fim, na matriz integrada, toma em consideração, a procura de meios endógenos para
impulsionar o desenvolvimento, tendo em atenção a interação entre diferentes esferas de
actuação, para capitalizar as economias de escalas e as sinergias necessárias, nomeadamente:
(i) o exercício do poder entanto que, uma função de governação; (ii) a perspectiva de
participação na mobilização e inclusão de actores locais; (iii) perspectiva de desenvolvimento
de capacidades e aptidões para o seu empoderamento (Idem, p. 6).
Já para o Autor, sobre à continuidade ou não do FDD, pode-se dizer que é ambivalente:
1º. Para os decisores políticos, pode se manter, apesar de a conjuntura actual não ser
totalmente favorável (devido as restrições impostas ao financiamento do OE, pelos
50
doadores e parceiros de cooperação), pois, em 2017, com o financiamento do Grupo
Banco Mundial, foi instituído uma nova política – o Projecto Sustenta (coordenada
pelo extinto MITADER), abrangendo os Distritos das Províncias de Nampula e da
Zambézia e, desde 2020 (já sob alçada do MADER), se alastrou para todo o País;
2º. Já para os tecnoburocratas13, nem tanto: (i) por estarem “interditados” de usufruírem
os valores alocados pelo FDD; (ii) pelo baixo nível de reembolso dos projectos
financiados aos mutuários; (iii) pela ausência de meios materiais e circulantes para
fazerem fiscalizações, bem como M&A dos projectos executados;
3º. Para os mutuários e/ou inquiridos, deve continuar, porque foram os principais
beneficiários dos valores desembolsados, conforme ficou evidenciado nos projectos
executados (apesar de muito deles terem feitos os reembolsos aquém do desejado) e;
4º. Para os pesquisadores, nem tanto: (i) por um lado, porque o Administrador Distrital
(um “agente político e partidário”), tem o controlo sobre os intervenientes processuais
à todos os níveis e; (ii) por outro lado, serviu para consolidar o “domínio político do
partido governamental” sobre os restantes partidos políticos da oposição (sobretudo no
meio rural), conforme relatam os estudos feitos por Zaqueu Sande (2011).
Da leitura que se faz, chega-se a conclusão de que o FDD é uma política pública,
transformada em legislação pela Lei nº 12/2005, de 23 de Dezembro (OIIL), depois, pelo
Decreto nº 90/2009, de 15 de Dezembro, como forma de “patrocínio politico”, sobretudo
junto do meio rural, contidos nos PQG 2005-2009 e no PQG 2010-2014, materializados pelo
PARPA II 2006-2009 e o PARP 2011-2014, que mais tarde se alargou aos municípios
urbanos, através do PERPU 2011-2014.
Foi notário, que a principal limitação do estudo, está relacionada com o facto de o FDD, ser
um caso sui generis, ou seja, um caso único ao nível do Continente Africano, que “marcou” a
governação do antigo Presidente Armando Guebuza, com a “política de 7 milhões MT aos
128 Distritos de Moçambique, pois, não há estudos similares feitos sobre o caso.
13
Agentes administrativos e/ou técnicos em geral, do escalão intermédio ao mais baixo.
51
CAPÍTULO V – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
5.1 Conclusões
Conforme ficou evidente nos resultados trazidos no estudo feito pelo Autor no local de
pesquisa, se chegou as seguintes conclusões:
Quanto aos critérios de selecção são para duas categorias - para os individuais e para
associações, micro e PMEs (vide a Tabela 7), contanto que, o critério de desembolso dos
fundos tem sido a emissão de cheque ao mutuário pela Administração Distrital e, o reembolso
dos valores alocados, tem sido o depósito na conta bancária da SDT, mediante apresentação
do talão de comprovativo do depósito;
Segundo, os benefícios gerados pelo projecto na vida dos mutuários foram amplos (vide o
Gráfico 10), com destaque para a geração de renda (através da criação de novos postos de
trabalho), a segurança alimentar e nutricional, entre outros;
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projectos sociais sem retornos; (vi) migração dos mutuários (sobretudo para vizinha
República do Malawi).
Sobre à limitação, ficou evidente que a principal limitação do estudo, se deve a falta de
literatura sobre o assunto em nível institucional fora de Moçambique, pelo facto de o FDD ser
um caso sui generis, no Continente Africano, visto que, “marcou indelevelmente” à
governação do então Chefe de Estado Armando Guebuza, com a “política de 7 milhões de
MT aos 128 Distritos de Moçambique, portanto, não há estudos similares feitos sobre o caso.
Por fim, o Autor conclui que, o FDD foi uma política pública de governação do ex-Chefe de
Estado, Armando Guebuza, materializado pela Lei nº 12/2005, de 23 de Dezembro e, pelo
Decreto nº 90/2009, de 15 de Dezembro, para consolidar o seu “capital político e social”, pela
alocação dos 7 milhões de MT aos 128 Distritos e, o PERPU aos 11 Municípios, para
contribuir no combate à redução da pobreza absoluta e, consolidar o estatuto de “líder
visionário”, no seio do partido dominante e das autoridades comunitárias.
5.2 Recomendações
a) Ao Governo do Distrito de Tsangano
Sensibilizar e/ou capacitar, os beneficiários dos fundos concedidos pelo FDD, sobre os
procedimentos do FDD;
Sancionar os mutuários que violam as cláusulas contratuais e demais disposições (vide
os Anexos 4, 5), participando junto dos tribunais judiciais e do MºPº (cf. os art.º
38º/2º/, 45º/g/; 211º/2º/ e, 235º, todos da CRM-2004, conjugado com os art.º 10º/1º/;
14º/1º/; 24º; 28º e 29º, ambos da Lei de Revisão do CP e, do art.º 6º do CC);
Proceder a actualização da base de dados sobre informações do ponto de situação do
reembolso dos fundos do FDD, mapeando os mutuários em situação irregular;
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Esclarecer as dúvidas aos cidadãos, sobre os critérios de seriação e elegibilidade, dos
projectos financiados pelo FDD;
Formar e/ou capacitar os membros da ETD, em matérias de M&A de projectos;
Alocar os meios materiais e circulantes aos membros da ETD, para realizarem acções
de fiscalizações dos projectos do FDD, junto dos mutuários.
b) Aos mutuários
c) Aos pesquisadores
54
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A. Autores consultados
Fernandes, A. J. (2010). Introdução à Ciência Política: teoria, métodos e temáticas. (3ª Ed.),
Porto, Portugal: Porto Editora.
55
Fulede, M. V. & Bihale, D. (2021). 27 de Agosto - Distrito de Tsangano (1986-2021) 35 anos
em contínuo desenvolvimento. Maputo: Grupo de Naturais e Amigos de Tsangano.
Gil, A. C. (2014). Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. (6ª Ed. – 6ª Reimpr.), São Paulo,
Brasil: Atlas.
Lundin, I. B. (2016). Metodologia de Pesquisa em Ciências Sociais. (1ª Ed.), Maputo: Escolar
Editora.
Paludo, A. (2019). Administração Pública. (8ª Ed., revista, actualizada e ampliada), São
Paulo, Brasil: Editora Método.
Rocha, J. A (2010). Gestão do Processo Político e Políticas Públicas. (1ª Edicao), Lisboa,
Portugal: Escolar Editora.
Thomsen, S.; Baessa, S.; Manjate, R. (Coord.) (2010). Análise do Acesso ao Fundo de
Desenvolvimento Distrital (FDD) na Óptica do Género Majune, Muembe, Mecanhelas e
Mandimba. Maputo, IBIS Educação para o Desenvolvimento.
56
B. Documentos-mestre
Banco Mundial (s/d). Manual de Desembolsos. Washington DC, EUA: Grupo Banco
Mundial.
C. Legislacao de referência
Lei nº 8/2003, de 19 de Maio. Aprova a Lei dos Órgãos Locais do Estado (LOLE).
57
D. Monografias e Dissertações
E. Artigos de Internet
58
APÊNDICES
LISTA DE APÊNDICES
Instrução: Coloque X nas opções abaixo e, responde as questões de forma clara e concisa.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Muito Obrigado!
Apêndice 3: Lista dos Membros da ETD entrevistados
Código Função Escolaridade Nº do Entrevistado Sexo Idade TSF Data de entrevista Suporte
E1 Membro Licenciatura 1 M 33 anos 4 anos 30-08-2021 Bloco de notas
E2 Membro Médio Geral 1 M 32 anos 8 anos 26-08-2021 Bloco de notas
Fonte: O Autor (2021).
Apêndice 4: Lista dos Mutuários Inquiridos.
Código Ocupação Escolaridade Sexo Idade Tipo de Data de Valores (MT) PTCP
(anos) projecto colecta Solicitado Recebido Reembolsado
M1 NR NR M 36 Comércio 01-09-2021 100.00,00 100.000,00 Abaixo de 50% ≤5
M2 Comerciante Básico Geral M 44 Prestação de 01-09-2021 122.363,86 122.363,86 Abaixo de 50% ≤5
serviço
M3 FAE Licenciatura F 29 Imobiliária 26-08-2021 100.000,00 100.000,00 Acima de 50% ≤5
M4 Doméstica Básico Geral F 30 Salão 26-08-2021 130.000,00 100.000,00 Abaixo de 50% ≤5
M5 Professor Médio Geral F 41 Imobiliária 01-09-2021 600.000,00 400.000,00 Em 50% 5-10
M6 Motorista Médio Geral M 38 Comércio 30-08-2021 300.000,00 200.000,00 Acima de 50% ≤5
M7 Professor Licenciatura M 31 Imobiliária 01-09-2021 290.000,00 290.000,00 Acima de 50% 5-10
M8 Farmeiro Elementar F 27 Agrícola 30-08-2021 200.000,00 50.000,00 Abaixo de 50% ≤5
M9 Mecânico Primário M 32 Prestação de NR 50.000,00 40.000,00 Abaixo de 50% ≤5
serviço
M10 Farmeiro Elementar M 35 Agrícola 31-08-2021 100.000,00 60.000,00 Abaixo de 50% 5-10