Cograjt: O Poeta Um Finge Que Fingir Que É Dor
Cograjt: O Poeta Um Finge Que Fingir Que É Dor
Cograjt: O Poeta Um Finge Que Fingir Que É Dor
• O fingimento artístico
PRÁTICA
.4 u tops i cograjt a
O poeta c um fingidor.
Finge tào completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
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4. Indique de quantas«dores» trata, afinal, este poema, justificando a sua resposta.
5. Explique por que motivo encontramos, neste poema, a dicotomia coração/razâo. tendo
em conta a última estrofe.
5.1 De acordo com a mesma estrofe, indique quem dá essa «corda* ao «combolo»/«co-
raçâo».
7. Indique o recurso expressivo presente nos versos «Não as duas que ele teve, / Mas só a
que eles não têm*, referindo-se ao seu valor.
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Leia o poema que se segue e responda às questdes.
5 Ondula como um canto de ave Ah, poder ser tu, sendo eu!
No ar limpo como um limiar, Ter a tua alegre inconsciência,
E há curvas no enredo suave E a consciência disso! O céu!
Do som que ela tem a cantar. 3 O campo! ó canção! A ciência
1. Caracterize a «ceifeira* e a Natureza que a rodeia, justificando a sua resposta com ele-
mentos textuais.
5. Explique, por palavras suas, e de acordo com este poema, o conceito pessoano de «dor de
pensar*.
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Leia atentamente o poema e responda às questões.
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Leia atentamente o poema e responda às questões.
1. Explicite de que forma a música tem aqui um papel diferente do que é exposto no poema
sobre a ceifeira.
4. Explique, socorrendo-se das suas próprias palavras, as reações que esse «sino» cria no
sujeito poético.
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PIEMUII EUHE NACIINAL
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NITOCtâ 12? AM
3. A música tem um papel importantíssimo porque está associa- vibrantemente, estando próximo do sujeito poético, que passa,
da à felicidade de uma trabalhadora do campo, bem como à como podemos verificar em «E é tão lento o teu soar / (...) / Por
Natureza circundante por Dnde o som melodioso desse cantar mais que me tanjas perto / Quando passo, sempre errante.»
«Ondula como um canto de ave». 3. A infância é vista como longínqua («Soas-me na alma distante»)
4. A relação entre «consciência» e «ciência» é de sinonímia. uma e, porventura, tempo de uma vivência muito feliz, dado que. ao
vez que cada uma delas remete para D USO do pensamento e da recordá-la. o sujeito poético sente a saudade mais próxima e
razão, considerados dolorosos para o poeta. penetrante («Sinto mais longe o passado. / Sinto a saudade
mais perto.»). 0 presente afigura-se, por consequência, tempo
5. Segundo este poema, percebemos que a «dor de pensar» em
Fernando Pessoa ortónimo tem a ver com o facto de o sujei- menos feliz e mais doloroso para o sujeito poético - veja-se o
to poético não conseguir afastar o seu pensamento das suas que a saudade da infância (espelhada no som do sino) faz cres-
sensações diárias. Assim, sempre que os seus cinco sentidos cer no seu interior: «Dolente», «Tão como triste da vida».
lhe oferecem o que lhe devia trazer felicidade (como acontece 4. As reações prendem-se com uma saudade imensa, aliada à tris-
com esta «ceifeira»), imediatamente intervém o pensamento teza e â sensação de um passado feliz perdido para sempre.
que o leva a ser consciente e a sofrer. 5. «Dolente na tarde calma» - o adjetivo «dolente» (triste, ma-
goado) está a caracterizar não um ser humano, mas o sino.
FICHA 72 (p. 198) Com este recurso o sujeitD poético consegue transformar o
1. Podemos dividir este poema em três grandes partes. Na pri- DbjetD em pessoa e atribuir-lhe sentimentos que ele mesmo
meira (estrofe 1), o sujeito poético apresenta D seu sonho, tem ao ouvi-lo.
plasmado nessa «terra de suavidade»; na segunda (estrofe 2), 4 Depois de caracterizado o sino e o que ele representa, a última
dá continuidade à apresentação/descrição dessa terra sonha- estrofe surge como o culminar desse caminho de gradação - já
da e reflete sobre a felicidade do ser humano; na terceira (es- nãD se trata apenas de sentir forte vibração e tristeza, trata-
trofes 3-4)L continua o espaço de reflexão poética; e nos dois -se de algo mais poderoso: saudade.
últimos versos dá vida a uma constatação conclusiva sobre
7. Os últimos versos trazem um cruzamento de vocábulos e ideias
tudo D que foi objeto de reflexão.
que ajuda a compreender D distanciamento entre passado
2. Com base nas estrofes 1 e 2 a «terra de suavidade» é, porven- e presente e que prova também que D sofrimento do sujeito
tura. uma «mistura de sonho e vida», é esquecida pelo ser hu- poético é tal que ele verte nos versos uma certa confusão, re-
mano. por ser longínqua («ilha extrema do sul se olvida»). Por sultados da evidente dor nostálgica.
outro lado, sendo um lugar calmo e sereno, há apenas «palma-
res inexistentes», «áleas longínquas», que são sonhados e não FICHA 74 (p. 202)
podem existir na realidade.
1. As reflexões de Bernardo Soares a partir daquilo que vai ob-
3. 0 «sonho» é espaço fisicamente longínquo, mas de felicidade, servando. enquantD caminha pelas ruas de Lisboa.
por ausência de pensamento. Encontra-se espelhado «nessa
2. «A Rua do Arsenal, a Alfândega» (linhas 2-3), «cais quedos» {li-
ilha extrema do sul». E também sinónimo de jovialidade e amor
nha 4), que vão surgindo à medida que o sujeito passa.
(«a vida é jovem e D amor sorri»), desde que sempre sentido
apenas, não intelectualizado. A «realidade» é aquela que sur- 3. A hipálage serve para caracterizar o seu estado de espírito ple-
ge a partir do momento em que D pensamento intervém, como no de tristeza, colocando D adjetivo «tristes» a qualificar não o
se pode ler em «Mas já sonhada se desvirtua, / Só de pensá-la seu interior, mas as «ruas». E quase como se as ruas e Bernar-
cansou pensar». Assim, fazendo uso do pensamento, o sujeito do Soares fossem fragmentos de uma mesma entidade.
poético vê essa «terra» transformada em realidade, conotada 4. Soares afirma que há uma relação de semelhança entre si e
com maldade e frio («Sente-se o frio de haver luar / 0 mal não Cesário Verde relativamente â «substância» do que escreve.
cessa, não dura D bem»). Ora, isto quer dizer «conteúdo», «matéria», «assuntD» da es-
4 Essa «terra de suavidade» diz respeito, porventura, a uma uto- crita de cada um dos dois, «substância» essa que nasce a partir
pia, à felicidade e perfeição suprema de vida. PortantD, deixa da observação do real {«gozo de sentir-me coevo de Cesário
de ser apenas um lugar físico, transformando-se num estado Verde, e. tenho em mim, não outros versos como os dele, mas
de alma constantemente perfeito e feliz. A seleção do nome a substância igual à dos versos que foram dele.», I in has 6-8).
«crentes» confirma esta ideia porque traz ao poema todo o ser 5. Esta frase revela como Bernardo Soares se considera alheio a
humano que acredita e que sonha, afinal, com uma realidade tudo e inconsciente, durante o dia, isto é, «nulo». Tal contrasta
melhor. com o despertar da sua consciência quando chega o entar-
5. A última estrofe assume-se como uma reflexão final ou conclu- decer/anoitecer - «de noite sou eu». Este «eu» implica a sua
são, visto que o poeta acaba por compreender que essa terra totalidade, que inclui os cinco sentidos e o pensamento.
sonhada, apesar de conter vida e amor, não é panaceia (remé- fi. Tal como acontece com «as ruas para o lado da Alfândega»
dio universal de todos os males) porque é em cada ser humano (linha 11), também Soares é invadido pela mesma tristeza
que tudo existe, o ideal e o real e sotumidade (característica de ser sombrio). Até D desti-
4 «E em nós que é tudo.» é uma afirmação de que o sujeitD poéti- no de ambos é igual, ou seja, um fim «abstrato» envolto em
co se serve para explicar que o ser humano contém metafori- «mistério». A única diferença é o facto de Soares «ser alma»
camente tudo dentro de si, ou seja, tanto possui a capacidade e «elas serem ruas».
de sonhar, a constante luta por viver feliz e pleno, como tam- I EnquantD circula pela cidade. Soares passa da realidade ao
bém a capacidade de reconhecer as verdadíes/os factos que sonho, sendo que «DS [meus] próprios sonhos» não substituem
dão vida e forma á realidade, ao quotidiano. essa realidade, antes se tomam externos ao sujeitD e confi-
guram o real de modo imaginário, sempre servindo-se de ele-
FICHA 73 (p. 199) mentos urbanos/citadinos, como é o caso do «elétrico», «a VDZ
L A música vem não do canto de alguém, mas das badaladas do do apregDador noturno», «a toada árabe» (som/sonoridade) e
sino de uma igreja de aldeia. Essa sonoridade não é prova de «um repuxo súbito» (de água numa fonte da cidade).
inconsciência, mas antes meio através do qual se vão aproxi- I. 0 observador acidental é aquele que circula pela cidade e vai
mando do sujeito poético as lembranças da sua infância. registando fotograficamente (pouco a pouco e com rigor) o
2.0 «sino» é-nos dado a ver como triste e contínuo, espalhando- cenário (como um todo ou apenas as suas partes específicas).
-se pela «tarde calma». As suas badaladas são lentas e retinem IstD é o que acontece nestas linhas, donde sobressaem «casais
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