Navegar e Preciso Grandes Descobrimentos Maritimos Europeus 857056273x Compress
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HISTÓRIA EM
DOCUMENTOS
NAVEGAR É PRECISO
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Janaína Amado
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Para que a paginação ficasse correta,
índice e demais informações foram colocadas
ao final do arquivo.
O índice está na página 76
PARTE I
Introdução:
navegar é preciso
2
1 ss
Encontraram escaldantes desertos africanos, onde os ho-
mens, quase mortos de sede, sofriam miragens e somente
os camelos conheciam o segredo da sobrevivência. Na mes-
ma África, contemplaram o Nilo, maior rio do mundo, as
cataratas, lagos e lagoas e ainda savanas habitadas por ze-
bras, girafas, leões. Encontraram na América florestas tro-
picais que, de tão deslumbrantes, incendiaram a imagina-
ção dos homens e os fizeram se lembrar de Deus e ter vi-
sões do Paraíso.
Os europeus descobriram seres humanos de todos os
tipos físicos, vivendo de variadas maneiras e em diferen-
tes estágios de desenvolvimento técnico. Na América to-
dos os habitantes eram índios, tinham pele avermelhada
e cabelos lisos, andavam nus ou com pouca roupa, acredi-
tavam em vários deuses. Nenhum conhecia ferro, pólvo-
ra, vidro, arado, animais de carga ou o uso da roda.
Entre os índios da América encontravam-se povos
muito pobres, mas também povos ricos, como os astecas
(no atual México) e os incas (no atual Peru), cujos tesou-
ros enlouqueceram os europeus e despertaram sua ganân-
cia: “tudo é tão fabuloso que não se pode crer que prínci-
pe algum no mundo tenha algo igual””, maravilhou-se o
espanhol Hernán Gortez, conquistador dos astecas.
Na Ásia os europeus depararam-se com grupos Intel-
ramente isolados, preocupados apenas em sobreviver. Mas
encontraram também civilizações milenares, como a chi-
nesa e a hindu, que já haviam alcançado alto grau de refi-
namento e sofisticação em todos os campos da expressão
humana: nas artes, na filosofia, nas ciências, na fabrica-
ção de tantos produtos... Estas civilizações consideravam-
se superiores às outras, inclusive às européias: os chineses
julgavam “todas as outras nações como bárbaras” e os ja-
poneses do século XVII referiam-se à Holanda como “*o
país dos bárbaros de cabelos vermelhos”.
Na Africa os europeus defrontaram-se com uma maio-
ria de negros, mas também com povos de origem árabe,
localizados na região norte e que professavam a religião
muçulmana. No continente africano tanto encontraram tri-
bos vivendo na Idade da Pedra como comunidades com
3
elevado nível técnico, que há muito navegavam pelo Ocea-
no Índico, comerciando com a Ásia Inteira, e que se mos-
travam capazes de construir cidades como Kilwa (na cos-
ta leste, na atual Tanzânia), “com edifícios de quatro a
cinco andares', “das mais belas do mundo”, na opinião
dos árabes e dos chineses.
Tratava-se de “coisas nunca vistas, nem mesmo so-
nhadas””, como escreveu um navegador espanhol do sécu-
lo XVI. Os grandes descobrimentos marítimos abriram pa-
ra os povos da Terra um mundo novo, variado, surpreen-
dente. Um mundo onde seria absolutamente necessário
conviver com as diferenças, encarar o outro.
Tempo de mudanças
quem for”.
6
Mas quem governava as regiões européias? A partir
do século XI, a maioria das terras pertencentes aos senho-
res feudais e à Igreja, assim como a povos estrangeiros,
foi passando para o poder dos reis, por meio de guerras,
conquistas, heranças, doações, casamentos. Em muitas re-
giões, o enfraquecimento dos senhores feudais, devido à
perda da mão-de-obra dos servos, que seguiam para Os
burgos*, foi mais um fator de fortalecimento dos reis. As-
sim, através de muitos modos, foram surgindo os países
modernos, os Estados Nacionais: Portugal, Espanha, Fran-
ça, Inglaterra...
Os reis necessitavam de muito poder para governar
a tudo e a todos. Esse poder precisava ser sustentado pelas
riquezas: não era possível ser forte sem ser rico. Os reis
se interessaram pelos negócios dos comerciantes e se asso-
ciaram a eles. Em troca, os comerciantes financiaram as
principais despesas dos reinos.
Ao se iniciar o século XV, a Europa possuía uma sé-
rie de conhecimentos básicos para realizar as grandes na-
vegações: “Navegar é preciso””, como diria bem mais tar-
de o poeta Fernando Pessoa. Em condições melhores, Por-
tugal e Espanha se sobressaíram na aventura marítima.
Num período de cem anos, portugueses e espanhóis con-
tornaram a África, atingiram a Ásia, descobriram a Amé-
rica e a Oceania e deram a volta ao mundo, numa das ex-
periências mais empolgantes de todos os tempos.
Aquela época, navegar em mar aberto era preciso, mas
muito perigoso. Os marinheiros tiveram que enfrentar
doenças, tempestades, ventos, fome e sede, perigos de to-
dos os tipos, grandes riscos de naufrágio, solidão... Mas
os navegantes europeus tiveram também que encarar e ven-
cer um inimigo diferente e muito mais poderoso, que se
encontrava dentro deles: o medo. Medo dos monstros ma-
rinhos, dos ímãs que atraíam os navios para o fundo do
mar, das sereias capazes de enfeitiçar marinheiros, do abis-
mo que ficava bem ali, onde a Terra se acabava, da linha
do Equador, cujo calor derretia os miolos...
As grandes navegações demonstraram que no munr-
do real essas coisas não eram encontradas, que elas só exis-
z
tiam na fantasia dos homens. Assim, ajudaram a destruir
a velha concepção medieval do mundo, baseada na im
agi-
nação e no misticismo. E a substituíram por idéias no vas,
fundamentadas na observação, na experiência e na ra
zão.
9
XVI frei Bartolomeu de Las Casas. O francês Montai-
gne, no mesmo século, registrou: | “Quantas cidades arra- |
sadas, quantas nações exterminadas, quantos milhões de
povos passados a fio de espada, e a mais bela e rica parte
do mundo [a Ásia] transtornada pela negociação de péro-
las e pimenta: vitórias mecânicas. Nunca a ambição, nunca
as inimizades públicas incitaram os homens, uns contra
os outros, a tão horríveis hostilidades e a calamidades tão
miseráveis!”
De nada adiantaram essas vozes isoladas. Os interes-
ses falaram mais alto. À conquista européia sobre as ter-
ras descobertas não apenas continuou, como mais tarde
se fortaleceu, através do processo de colonização.
justamente
do cruz
cima * Raras
Documentos
o processo
Es
as
CAPÍTULO 1
A transformação
13
Algumas das importantes cidades da época origina-
ram-se de feiras, locais onde se reuniam os comerciantes
para realizar negócios. Muitas feiras eram imensas e exi-
biam mercadorias de todas as partes do mundo conheci-
do, como se pode observar no próximo documento, refe-
rente às feiras da região de Champagne, na França, no sé-
culo XIV. As mercadorias vendidas na feira eram depois
revendidas no restante da Europa:
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O COMÉRCIO NO FIM DA IDADE MÉDIA
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21
CAPÍTULO ?
O medo
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23
dos os bem-aventurados'*. Bem no centro da Terra, loca-
lizaram o inferno.
Os conhecimentos europeus no início do século XV
sobre o planeta também estavam longe de ser exatos. Mui-
tos achavam que a Terra era quadrada, mas a maioria pen-
sava mesmo que ela tinha a forma de um disco, achatada
terminando de repente em um abismo (veja a fig. 4).
5. Às viagens
pelos oceanos
provocavam
E terror nos
' homens do
M século XV. No
= desenho, um
monstro
marinho
pronto para
atacar a
embarcação.
A EE 27
Um pouco menos assustadoras eram as
sereias, avis-
tadas por Colombo na América e pelo padre jesuíta Henry
Enriquez na ilha Manor, juntamente com tritões, co
mo
eram chamados os homens-sereias. Outro Jesuíta, Eusé-
bio de Nuremberg, assegurava que os marinheiros da
Galícia
29
7e8.0o
astrolábio e
a balestilha
mediam a
altura dos
astros. À
partir desse
dado, os
navegantes
podiam
calcular sua
própria
posição no
Oceano.
À
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30
9. Com a ajuda da
bússola, cuja
agulha, atraida
pelo magnetismo
da Terra, aponta
sempre para o
norte, os
navegadores
conseguiam se
orientar em todas
Tr
as direções:
“Quando a noite é
o mm
escura, quando
não se vêem nem
RO
Estrela [Estrela
UT
Polar] nem Lua,
então eles
iluminam a
agulha: já não
podem enganar-se,
TT
visto que a ponta
[da agulha] se vira
para a Estrela.
Assim os
marinheiros ficam
seguros de seguir
o caminho certo”.
(GQuiot de Provins,
a
século XIII)
ES
Sobre a utilidade de um outro instrumento, o qua-
drante — também conhecido como ““relógio solar”? —, ates-
a Road
tou um navegador português:
/...] Dois anos depois fem 1462] o senhor rei Afonso ar-
mou uma grande caravela, onde me mandou por capitão
+ me
ria
32
CAPÍTULO 3
A aventura
a]
de Fernão de Magalhães, 1519-292)
/...] aquém do Equador, tivemos não só muito mau
tempo, entremeado de chuvas ou calmaria, mas ainda pe-
rigosa navegação por causa da inconstância dos ventos que
sopram conjuntamente; apesar de andarem os nossos três
navios perto uns dos outros, não podiam os pilotos obser-
var uma marcha uniforme. Assim como num triângulo,
um 1a para leste outro para oeste e outro para o norte.
Erguiam-se repentinamente borrascas* que com tal fúria
açoitavam as nossas velas, que nem sei como não viraram
cem vezes de mastros para baixo e quilha para cima [...]
O sol é fortíssimo e além do calor que padeciamos
não tinhamos, fora das parcas refeições, água doce nem
outra bebida em quantidade suficiente. Sofríamos assim
tão cruelmente a sede que cheguei quase a perder a respi-
ração e a ficar sem fala durante mais de uma hora, donde
se compreende que o que mais desejam os marinheiros nes-
sas longas viagens é ver o mar convertido em água doce.
E
(Jean de Léry, Viagem à terra do Bra-
sil, 1578)
Desenvolvendo as técnicas, os navegantes portugue-
ses aos poucos foram dominando o mar, conquistando a
costa africana e ultrapassando os pontos mais difíceis. Va-
leu a pena: afinal, descobriram aquela que se tornaria a
mais Importante rota comercial da época — o caminho ma-
rítimo para as Índias —, capaz de enriquecer reis e comer-
ciantes com metais preciosos, especiarias, sedas, escravos
e várias outras mercadorias valorizadas.
Jr” O primeiro ponto conquistado pelos
portugueses na
Africa foi Ceuta, em 1415, após duras batalhas
contra os
mouros. O mapa da fig. 11 mostra Ceuta, situada
no ex-
34
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tremo norte da África, junto à passagem do mar Mediter-
râneo para o Atlântico, em ponto estratégico. Como o do-
cumento abaixo deixa claro, Ceuta era também um im-
portante centro comercial:
37
rota. Baseados em conhecimentos da época, que afirma-
vam ser a Terra muito menor do que realmente é, os es-
panhóis imaginaram que, navegando em direção ao poente,
chegariam à Ásia antes dos portugueses. liveram uma sur-
presa: no caminho, encontraram um novo continente!
Desta forma o escrivão da esquadra relatou como Cris-
tóvão Colombo descobriu a América e tomou posse dela
para os reis da Espanha:
&0
: EM
CAPÍTULO 4
O espanto
viver
Os europeus encontraram infinitas maneiras de
Os relatos que
entre os povos da África, Ásia e América.
am des ses con tat os são hoje font e pre cio sa par a os his-
ser
sobre os cos-
toriadores. Por um lado, os relatos informam
dos pov os des cob ert os. Por out ro lado , esclarecem
tum es
de pen sar dos eur ope us e sua man eir a de ver
as for mas
um via-
o mundo. À seguir, um desses relatos, escrito por
do
jante italiano, a respeito do Senegal (na África negra)
século XV:
47
[...] Os homens e as mulheres [de uma tribo do Brasilj
são fortes e bem conformados como nós. Comem algumas
vezes carne humana, porém somente a de seus inimigos.
Mas não é por gosto ou apetite que a comem [...] não
os comem nos campos de batalhas, nem tampouco vivos.
Despedaçam o corpo e repartem entre os vencedores [...]
Ísto me foi contado pelo nosso piloto Juan Carvajo que
havia passado quatro anos no Brasil. [...]
(Antonio Pigafetta, Diário da expedição
de Fernão de Magalhães, 1519-22)
PF is E
local onde se encontrem mercadorias de tão boa qualidade
e tão valiosas. Existem aqui todos os produtos do Oriente
e vendem-se produtos de todo o Ocidente. Encontra-se tu-
do o que se quer e por vezes mais do que se procura. [...]
(Tomé Pires, Suma oriental, 1515)
50
á
:
conseguiam convencer-se de que não se tratava de algo dia-
bólico. [...]
(Cadamosto, op. cit., 1455-57)
91
CAPÍTULO 5
À conquista
1555)
O
a
E
A ON a 5)
/...] Como armas [os habitantes das ilhas do Oceano Pa-
cífico] não possuem mais do que uma lança contendo um
espinho pontiagudo de peixe [...] usam também a
zarabatana * e grossas flechas de madeira, de um palmo
de comprimento, com a ponta em formato de arpão. Em
outras, a ponta é um espinho de peixe, enquanto as de
bambu têm a ponta envenenada com certa erva [...] Ti-
nham na mão esquerda um arco curto e maciço, cuja cor-
da era feita do intestino da tartaruga. [...].
(Antonio Pigafetta, op. cut., 1519-22)
56 srtáil
dat str
TAS
/...] Os habitantes dessas aldeias [... | queixam-se muito
de Montezuma e de seus coletores de impostos que lhes rou-
bavam tudo o que tinham, e que se suas mulheres e filhas
fossem formosas, violentavam-nas diante deles e de seus
maridos, e roubavam-nas, e que obrigavam-nos a traba-
lhar como escravos [...] e muitas outras queixas. [...]
(Bernal Diaz del Castillo, op. cit,
1519)
58
Em todo o mundo, os conquistadores estavam deci-
didos a impor a religião pela força:
59
/...] Durante todo este tempo batizamos os indígenas de
Cebu fno Oceano Pacífico e das ilhas adjacentes. No en-
tanto, houve uma aldeia em uma das ilhas em que os ha-
bitantes nos desobedeceram. Então queimamos a aldeia
e fincamos no meio uma cruz. [...]
(Antonio Pigafeita, op. cit., 1519-22)
60
Conclus ao:
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em alma os índios e os negros? Onde foram parar
os terríveis monstros marinhos e a zona tórrida do
Equador, capaz de tudo queimar? Cadê o caos? Por
que povos bárbaros e infiéis conseguiram acumular tantas
riquezas? Como pessoas tão simples e ingênuas conseguem
aparentar tanta felicidade? Como essa gente pode viver sem
o verdadeiro Deus? Quem explica essa indiferença, esse
desprezo pelo ouro, enquanto nós matamos e morremos
por ele? Afinal, quem tem razão — esses povos ou nós?
Que sei eu?
Essas foram perguntas que europeus do século XVI
se fizeram. Os grandes descobrimentos marítimos, frutos
de uma série de profundas transformações em toda a Eu-
ropa, geraram, por sua vez, mudanças radicais na própria
Europa e em todo o mundo descoberto.
A fim de garantir as conquistas e delas tirar melhor
proveito, os europeus tiveram que enfrentar as diferenças
entre eles e os povos encontrados. Apesar de geralmente
não conseguir compreender ou respeitar os diversos tipos
físicos, línguas, costumes e religiões que encontraram ao
redor do mundo, os descobridores foram obrigados a re-
conhecer-sua existência e, de uma forma ou de outra, a
conviver com eles.
Essa convivência constituiu uma das experiências mais
fascinantes e mais dolorosas de todos os tempos. Para al-
guns europeus, significou confrontar sua própria civiliza-
ção com as civilizações dos outros, pôr em dúvida verda-
des até então aceitas como absolutas, abrir mão de pontos
de vista construídos ao longo de séculos, criar maneiras
de pensar inteiramente novas, capazes de explicar o mun-
do. Mundo esse que os europeus haviam descoberto, mas
que não compreendiam, e que despertava inquietações e
62
perguntas para as quais precisavam encontrar respostas.
Para grande parte dos europeus, essa experiência sig-
nificou, de diferentes maneiras, dominar, saquear, destruir,
escravizar, violentar, corromper, explorar e matar milha-
res de pessoas e de civilizações em todo o mundo desco-
berto; significou enriquecer graças ao empobrecimento e
à humilhação dos outros.
Para os povos conquistados, os descobrimentos e a pos-
terior conquista européia significaram uma total mudan-
ça em seus destinos. Eles conheceram homens diferentes
que trouxeram e impuseram, geralmente pela força, ou-
tras técnicas e costumes, outros valores e crenças. Daí em
diante foi preciso trabalhar até a morte para enriquecer
senhores e reis tirânicos que tudo queriam e nada doavam.
Foi preciso entregar todas as riquezas e todas as belezas,
mesmo as mais secretas, como o ouro escondido nas ro-
chas do interior e as orações oferecidas aos ídolos.
Durante os contatos com os europeus, muitos africa-
nos, asiáticos, americanos e habitantes da Oceania mor-
reram. Para garantir a sobrevivência, muitos outros tive-
ram que reorganizar suas maneiras de viver, suas explica-
ções de mundo, valores e comportamentos. As vezes essas
reorganizações implicaram mudanças tão grandes que, por
fim, esses povos se perderam de si mesmos, se desfigura-
ram, não mais se reconheceram.
Os grandes descobrimentos marítimos e suas conse-
guências transformaram a vida de todos os europeus e de
todos os povos que eles encontraram. Em grande parte,
o mundo de hoje é fruto dessas viagens — as viagens que
um dia um punhado de marinheiros ousou realizar, rumo
ao desconhecido.
63
VOCABULÁRIO
64
DucADO — Designação comum a moedas de ouro de vários
países.
ESTUPEFACIENTE — Entorpecente, que causa inércia física ou
moral.
GALÉ — Antiga embarcação de guerra, comprida e estreita,
que emerge pouco acima da água, impelida por grandes
remos e manejada por muitos homens.
GALERA — Antigo navio a vela.
alguma coi-
INTENDENTE — Pessoa que dirige ou administra
ou
sa; antigamente, prefeito de um município, condado
cidade.
LAVOR — Adorno, enfeite.
ial. Relativo a
MERCANTIL — Referente ao comércio; comerc
mercadores.
nte a deuses
MITO — Narrativa simbólica, geralmente refere
encarnadores de forças da natureza e/ou de aspectos da con-
dição humana.
PERTINÁCIA — Persistência; obstinação; teimosia.
PROMONTÓRIO — Acidente geográfico, cabo formado de ro-
chas elevadas.
setas €
ZARABATANA — Tubo comprido pelo qual se sopram
pequenos projéteis, em geral envenenados.
65
CRONOLOGIA
67
PARA SABER MAIS
70
3. Coletâneas de textos de época, acompanhados por intro-
dução, prefácio estudo, notas, etc. de especialistas:
71
Janaina Amado é Doutora em
História e professora de História
Moderna da UFG. Durante muito
tempo, ensinou História em esco-
las de 1º e 2º graus. Dessa ex-
periência, resultaram o livro didá-
tico Gente, terra verde, céu azul
— Goiás e uma preocupação per-
manente com a discussão e a di-
vulgação da História. E autora de
várias pesquisas sobre assuntos
de História do Brasil, algumas
transformadas em livros, como
Conflito social no Brasil: a Revol-
ta dos Mucker.
Ed
NAVEGAR E PRECISO
Grandes descobrimentos
marítimos europeus
Ao Massimo,
que cinco séculos após a descoberta da América
ainda guarda pelo Novo Mundo
o mesmo fascinio dos descobridores.
Ledonias
nin
E
HISTÓRIA EM
NAVEGAR E PRECISO
Grandes descobrimentos
maritimos europeus
Janaína Amado
Ledonias Franco Garcia
Coordenação:
Maria Helena Simões Paes
Marly Rodrigues
(O) Janaína Amado e Ledonias Franco Garcia, 1989.
Copyright desta edição:
ATUAL EDITORA LTDA,, 1989.
Rua José Antônio Coelho, 785
04011 — São Paulo — SP
Tel.: (011) 575-15d4
Todos os direitos reservados.
Amado, Janaina.
Navegar é preciso : prandes descobrimen-
tos marítimos europeus / Janaina Amado, Le-
donias Franco Garcia. — São Paulo : Atual,
1989. — (História em documentos)
Bibliografia.
ISBN 85-7056-273-X
1. Europa — Descobertas geográficas 2,
Geografia — Estudo e ensino I. Garcia, Ledo-
nias Franco, II. Título. III. Título : Grandes
descobrimentos marítimos europeus. IV. Série.
e
CDD-910.94
89-1633 -910.7
I
Introdução: navegar é preciso
II
Documentos: o processo E
1. A transformação 12
2. O medo 22
3. À aventura jo
4. O espanto 41
5. À conquista 592
II
Conclusão: o resultado 61
Vocabulário 64
Cronologia 66
Para saber mais 66
Bibliografia 69
Na coleção História em Documentos, o aspecto mais significativo
— comum a todos os volumes — é a ampla utilização
de documentos na organização e desenvolvimento dos assuntos
de cada livro. “Documento” no sentido mais abrangente: desde
os textos oficiais até os registros, em diferentes linguagens,
de experiências humanas no periodo enfocado: depoimentos,
letras de música, textos literários, descrições de viajantes,
artigos de jornal, pinturas, charges, fotos.
Dessa forma, os leitores terão oportunidade de um contato mais
direto e vibrante com o fazer histórico de cada época. Além disso,
percebendo como o autor organiza e interpreta os documentos
e, mais ainda, realizando ele próprio os exercícios propostos —,
o estudante terá condições de conhecer um pouco mais a
linguagem e os principios do trabalho do historiador.