Filosofia Política - Resumo

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Filosofia política

A organização de uma sociedade justa

— A teoria da justiça de Rawls: a justiça como equidade

Problema: em que consiste uma sociedade realmente justa, e de que modo será possível realizá-la?

Rawls diz-nos que uma sociedade justa estará organizada segundo certos princípios sobre a
distribuição de determinados bens. A sua ideia central é a de que a justiça consiste na igualdade ou
equidade. Como outros filósofos antes deles, Rawls defende que a equidade se segue da ideia de que
todos os seres humanos devem ter os mesmos direitos e liberdades, tendo assim o mesmo valor moral,
o valor de um indivíduo. Assim, uma sociedade justa será aquela que melhor garante a equidade, um
tratamento igual.

O contratualismo e a rejeição do utilitarismo

Rawls opõe-se em certa medida ao utilitarismo. Para o utilitarismo, a equidade pode ter valor como
instrumento quando permite alcançar aquilo que é intrinsecamente valioso segundo esta teoria: um
aumento da felicidade geral. Para Rawls, por outro lado, não é esta que tem valor intrínseco, mas sim a
equidade. Tendo a equidade como ponto de partida para a conceção de uma sociedade justa, Rawls
pensa que ele pode e deve ser fundamentado em argumentos.

Nessa fundamentação, ele recupera a ideia de contrato social — a organização política dos seres
humanos justifica-se por ser uma espécie de acordo entre todos, ainda que hipotético ou implícito, em
obedecer a um poder político em troca de certos benefícios (segurança, justiça, apoio, etc.). Esta é uma
maneira de justificar a existência do Estado, mas Rawls usa-a também para identificar quais são os
princípios mais elementares que devem servir de base a uma sociedade justa.

A posição original e o véu de ignorância

Rawls propôs a solução de imaginarmos uma situação de partida para o acordo, a que ele chamou de
posição original, na qual somos agentes racionais, mas também estamos sob um espesso véu de
ignorância acerca da nossa posição na sociedade e restantes características particulares acerca de nós
mesmos (raça, sexo, nacionanidade, etc.). Sabemos, no entanto, quais são os ingredientes necessários
em geral para ter uma vida digna, em que a felicidade seja possível.

Trata-se de um modo de garantir a máxima imparcialidade e isenção no acordo entre todos quanto aos
princípios da justiça.

Os princípios da justiça

Primeiro princípio: cada pessoa tem um direito igual ao mais vasto sistema total de liberdades básicas
iguais que seja compatível com um sistema semelhante de liberdade para todos.

Segundo princípio: as desigualdades económicas e sociais devem ser distribuídas de forma que,
simultâneamente:
a) Redundem nos maiores benefícios para os menos beneficiados (...).
b) Sejam a consequência do exercício de cargos e funções abertos a todos em circunstâncias de
igualdade equitativa de oportunidades.
Princípio da Liberdade: cada pessoa tem direito igual ao mais vasto sistema total de liberdades básicas
que seja compatível com um sistema semelhante de liberdades para todos. — Corresponde à ideia
muito difundida, pelo menos nas atuais democracias liberais, de que não é justo limitar a liberdade de
alguém para decidir a sua vida (a menos, claro, que esteja em jogo semelhante direito de outros).
Segundo Rawls, este princípio, respeitando as liberdades fundamentais, tem prioridade sobre os dois
restantes, que dizem respeito ao estatuto social e ao bem-estar material.

Princípio da Igualdade de Oportunidades: as desigualdades econômicas e sociais serão dispostas de


forma que sejam consequência do exercício de cargos e funções acessíveis a todos em circunstâncias
de igualdade equitativa de oportunidades. — É permissível, numa sociedade justa, que haja alguma
desigualdade em termos de riqueza. Tal situação não é, para Rawls, injusta, pois os fatores de
desigualdade estão dentro da esfera de controlo e escolha do indivíduo. O que é necessário é garantir
que todos partam efetivamente de uma base igual (bolsas de estudo, no caso da educação) que
permitam compensar aqueles que, por motivos exteriores a si, têm menos recursos ou são socialmente
discriminados de forma negativa.

Princípio da Diferença: as desigualdades econômicas e sociais serão dispostas de forma a serem para
o maior benefício dos menos favorecidos. — Ainda que não seja possível anular essas diferenças entre
as pessoas, devemos reduzi-las ao mínimo, recorrendo para isso à redistribuição da riqueza, onde os
mais abastados têm a obrigação de pagar mais impostos para proveito dos mais afortunados.

A regra maximin

A teoria de Rawls encara o nível de vida dos elementos mais pobres de uma sociedade como
verdadeiro sinal da justiça e da equidade social. Com base neste nível de vida dos menos abastados,
deve-se recorrer à maximização do mínimo, ou princípio maximin. Devemos escolher como princípios
da justiça aqueles que, quando implementados na sociedade, deixem os mais desfavorecidos numa
melhor posição. Na posição original, as partes deverão jogar pelo seguro, imaginando que o pior lhes irá
acontecer. Por isso, sendo racionais, irão escolher os princípios que garantam a melhor situação
àqueles que, na sociedade, ficarem entre os mais desfavorecidos.

— As críticas comunitárias e libertarista a Rawls

Uma objeção comunitarista — Michael Sandel

Segundo Sandel, o que Rawls refere como pessoas na posição original são seres humanos isolados,
desprovidos de família, comunidade, género, nacionalidade, situação histórica, cultura, valores, tradição,
compromissos, sem uma história pessoal e um processo individual de crescimento e educação.
Trata-se, portanto, de puras abstrações. Ora, os seres humanos reais são tudo menos isso. Somos
animais sociais a um grau muito elevado, de tal maneira que nem conseguimos, em muitos casos,
identificar que “parte” da nossa identidade, do nosso eu, não é um produto de todas estas
circunstâncias e contextos. A posição original e o véu de ignorância são hipotéticos, mas Rawls perde o
contacto com a realidade, e os princípios concluídos nesta não são transferíveis para a realidade social.

Sandel segue o comunitarismo, filosofia política para a qual a aplicação de princípios liberais
individualistas e conceções atomísticas de pessoa (como os de Rawls) geram isolamento, perda de
laços comunitários e desagregação da sociedade.

Objeções liberalistas — Robert Nozick

Nozick foi um defensor do libertarismo. De acordo com esta perspectiva política, o Estado deve ter um
papel muitíssimo limitado. O Princípio da Diferença está em conflito com o libertarismo. Segundo
Nozick, para implementar o Princípio da Diferença, o Estado terá de redistribuir constantemente a
riqueza. Terá de forçar as pessoas a pagar impostos, retirando-lhes parte do que ganharam
legitimamente, para que outras pessoas sejam beneficiadas. Nozick, baseando-se no pensamento de
Kant, considera que isso é eticamente inaceitável, uma vez que agir assim é tratar as pessoas como
meros meios, violando os seus direitos de propriedade.

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