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SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO

SERVIÇO SOCIAL

JURANI SOARES DA SILVA

POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE E A ATUAÇÃO DO


ASSISTENTE SOCIAL

JUIZ DE FORA
2015
JURANI SOARES DA SILVA

POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE E ATUAÇÃO DO ASSISTENTE


SOCIAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Universidade Norte do Paraná - UNOPAR, como
requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel
em Serviço Social

Orientador Acadêmico: Prof. Adarly Rosana Moreira


Goes
Tutor eletrônico: Alexandre Vicente Do Nascimento

Juiz de Fora
2015
Dedico este trabalho à minha família, meu
maior tesouro.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente`à Deus,
À minha família, pelo apoio, carinho e dedicação durante todo o curso,
Aos professores, tutores e orientadores, pela paciência, carinho,
dedicação e motivação.
E a todos que de alguma forma contribuíram na minha caminhada.
Há quem morra chorando pelos pobres,
Eu morro denunciando a pobreza.
George Bernad Brown
SILVA, Jurani Soares da. POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE E ATUAÇÃO DO
ASSISTENTE SOCIAL2015. 45. Trabalho de Conclusão de Curso Serviço Social –
Centro de Ciências Empresariais e Sociais Aplicadas, Universidade Norte do
Paraná, Juiz de Fora, 2015.

RESUMO

A proposta deste trabalho é apresentar a prática profissional do Assistente Social na


área da saúde, assim como as políticas públicas são tratadas nos dias atuais através
da análise das legislações vigentes que regulamenta a saúde pública, como por
exemplo, através do Sistema Único de Saúde. Uma vez que a Constituição Federal
de 1988, garante aos cidadãos a garantia de acesso à serviços de atendimento à
saúde, sendo esta pública e de qualidade, em específico, existe a Lei nº 8080, de
19 de setembro de 1990, a qual dispõe sobre as condições para promoção, proteção
e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços de saúde,
durante o curso de Serviço Social, compreendeu-se que um dos campos da atuação
do Assistente Social, é justamente na defesa da promoção e atenção à saúde, como
define o CFESS, sobre os Parâmetros para a Atuação dos Assistentes Sociais na
Saúde. Logo, nesta perspectiva, essa pesquisa de caráter qualitativo, propõe
investigar a através de entrevistas e análise de literatura, como esta sendo realizado
o trabalho do assistente social dentro das políticas públicas e os desafios
encontrados nesta profissão.

Palavras-chave: Palavras-chave: Saúde, Serviço Social, Assistência Social,


Políticas Públicas ..
SILVA, Jurani Soares da. POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE E ATUAÇÃO DO
ASSISTENTE SOCIAL2015. 45. Trabalho de Conclusão de Curso Serviço Social –
Centro de Ciências Empresariais e Sociais Aplicadas, Universidade Norte do
Paraná, Juiz de Fora, 2015.

RESUME

The purpose of this paper is to present the professional practice of the social worker
in the health sector as well as public policies are treated nowadays by analyzing the
existing laws regulating public health, such as through the National Health System.
Since the 1988 Federal Constitution guarantees citizens the guarantee of access to
health care services, which is public and quality, in particular, there is the Law No.
8080 of September 19, 1990, which provides for the conditions for promotion,
protection and recovery of health, the organization and functioning of health services
during the course of social work, it was understood that one of the fields of activity of
the social worker, it is precisely in the defense of promotion and attention to health,
as defined by the CFESS on the parameters for the Performance of Social Workers
in Health. Therefore, from this perspective, this qualitative research, proposes to
investigate by interviewing and analyzing literature, as is being done the job of social
worker in public policy and the challenges faced in this profession.

Keywords : Health , Social Services, Social Welfare , Public Policy .


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

CAP Caixa de Aposentadoria e Pensões

CFESS Conselho Federal de Serviço Social

CNS Conselho Nacional de Saúde

CRESS CRESS Conselho Regional de Serviço Social

FMI Fundo Monetário Internacional

HPS Hospital de Pronto Socorro Dr. Mozart Teixeira de Juiz de Fora

IAP Instituto de Aposentadoria e Pensão

INAMPS Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social

INPS Instituto Nacional de Previdência Social

INSS Instituto Nacional de Seguro Social

LOS Lei Orgânica de Saúde

MS Ministério de Saúde

OMS Organização Mundial de Saúde

SIMPAS Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social

SUS Sistema Único de Saúde

UNOPAR Universidade Norte do Paraná


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 133


2 POLÍTICAS SOCIAIS ................................................ Erro! Indicador não definido.
3 POLÍTICA DE SAÚDE E SERVIÇO SOCIAL ......................................................... 20
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................42
5 REFERÊNCIAS ......................................................................................................44
13

1. INTRODUÇÃO

A proposta deste trabalho é apresentar a prática profissional do


Assistente Social na área da saúde, assim como as políticas públicas são tratadas
nos dias atuais através da análise das legislações vigentes que regulamenta a
saúde pública, como por exemplo, através do Sistema Único de Saúde.
Uma vez que a Constituição Federal de 1988, garante aos cidadãos
a garantia de acesso à serviços de atendimento à saúde, sendo esta pública e de
qualidade, em específico, existe a Lei nº 8080, de 19 de setembro de 1990, a qual
dispõe sobre as condições para promoção, proteção e recuperação da saúde, a
organização e o funcionamento dos serviços de saúde, durante o curso de Serviço
Social, compreendeu-se que um dos campos da atuação do Assistente Social, é
justamente na defesa da promoção e atenção à saúde, como define o CFESS, sobre
os Parâmetros para a Atuação dos Assistentes Sociais na Saúde.
Logo, nesta perspectiva, essa pesquisa de caráter qualitativo,
propõe investigar a através de entrevistas e análise de literatura, como esta sendo
realizado o trabalho do assistente social dentro das políticas públicas .
Considerando que estudar o campo da saúde pública e o papel do
assistente social que esta inserido neste meio, se faz necessário, uma vez que o
assistente social esta incumbido de defender os direitos dos cidadãos, e a própria
Constituição Federal de 1988, garante a saúde como um direito de todos que não
deve ser negado, assim, durante o percurso da aluna no curso de Serviço Social, a
mesma se identificou com o tema, sobre as políticas de saúde pública, por se tratar
de um ambiente que esteja familiarizado e dispor de meios para realização de
entrevistas e levantamento de bibliografias para uma melhor fundamentação da
pesquisa.
Logo, para a realização deste trabalho se dará pela pesquisa em
referenciais teóricos acerca das políticas públicas de saúde, enfatizando a função do
assistente social para o cumprimento destas e quais os procedimentos
metodológicos que a função exige, fazendo assim uma caracterização do ambiente
de trabalho do assistente social dentro de unidades de atendimento à saúde,
descrevendo como as legislações a cerca do Serviço Social estão sendo
executadas.
Sendo assim, também serão realizadas entrevistas com profissionais
14

do setor de saúde e assistentes sociais que atuam diretamente na área de saúde,


para que possam descrever a prática profissional que os mesmos exercem, quais as
limitações do espaço de atuação e como estas são superadas.
15

2 POLÍTICAS PÚBLICAS

As políticas públicas têm como característica dominante a


capacidade de o Estado intervir na sociedade no sentido de equilibrar conflitos entre
os planos individual e coletivo, e, sobretudo aqueles provocados pela economia de
mercado. Estas são determinações estratégicas de curto ou longo alcance que
podem ser econômicas, sociais, militares, científicas, ambientais, educacionais, etc.
Toda política pública é uma ação estatal, uma vez que sua formulação, incentivo e
recursos são patrocinados ou são geridos pelo Estado. O fundo público do qual o
Estado condensa os recursos é constituído pelo conjunto dos trabalhadores,
segundo Trotta (2009,p. 82).

Do quadro das políticas públicas, a política social pode ser


considerada uma das mais conhecidas, e é nesse cenário que faremos nosso
estudo. A política social pode estar associada a uma

Expressão tradicionalmente consagrada como referente às ações


governamentais dos Estados modernos tendo em vista atender a redução
das conseqüências da pobreza em diversas áreas de serviços, como
educação, saúde, habitação, previdência etc. Essas ações visam
equacionar, em alguns casos, ou minimizar em outros. (GENTILLI, 2007,p.
77)

Ainda de acordo com a autora acima citada, as políticas sociais são


frutos de pressões dos movimentos organizados da sociedade, decorrentes não só
do desenvolvimento do aparelho de Estado, no que tange a pobreza, como também
é uma decorrência de pressões políticas dos setores organizados da sociedade, com
o propósito de trazer para si a riqueza produzida pelo seu trabalho. No entanto as
determinações do Estado no campo das:

Políticas sociais revelaram-se tanto por meio de políticas destinadas a


trabalhadores do setor moderno e organizado da produção quanto à
população excluída do mercado de trabalho formal. Também constituíram-
se em programas sociais destinados a regular relações entre Estado e
sociedade, naquelas dimensões que afetaram os processos de reprodução
social das classes trabalhadoras e dos demais segmentos
sociais.(GENTILLI, 2007,p.79)

Nessa perspectiva, as políticas sociais são formadas por programas


sócio-políticos, regulamentando as relações entre Estado e sociedade no que diz
respeito ao processo de reprodução social do mercado de trabalho.
16

As políticas sociais conduzidas pelo Estado capitalista representam um


resultado d relação e do complexo desenvolvimento das forças produtivas e
das forças sociais. Elas são um resultado da luta de classes e ao mesmo
tempo contribuem para a reprodução das classes sociais. (FALEIROS, apud
TROTTA, 2007,p. 46)

A citação acima pode ser considerada, segundo Trotta (2009) como


a mais contundente observação acerca do papel que as políticas sociais
desempenham no Estado capitalista, confirmando ao mesmo tempo a exclusão
social dos assalariados e a manutenção de grupos políticos no aparelho de Estado.
As políticas sociais deveriam ser medidas ampliadoras de bem-estar
social e inclusão dos trabalhadores através de programas assistenciais, não fosse o
pensamento existente por detrás das medidas tomadas pelos órgãos de Estado que
nos leva a concordar com Faleiros (2007), que as políticas sociais não são pensadas
como alavanca de direitos, mas como resultados dos interesses do capital e não de
expansão de cidadania, o que não exclui o sentido de luta de classes. Ressalta-se
que as políticas sociais são o que são pela natureza do sistema que as produz, e
não como uma relação utópica entre a realidade e o desejo do que poderia ou
deveria ser.
As políticas sociais apresentam uma dupla face: assumindo o
caráter de buscar soluções de assistência para os excluídos do mundo do trabalho,
ao mesmo tempo em que se tornou excelente fonte de ganho para o capitalismo
monopolista, tendo em vista que o Estado se tornou um garantidor dos negócios da
burguesia. É relevante destacar o complexo papel do Estado contemporâneo como
uma máquina que se fez presente no financiamento do capital e ausente para o
mundo do trabalho, pois o Estado “não é um árbitro neutro, nem um juiz do bem
estar dos cidadãos. Nem é um instrumento, uma ferramenta nas mãos das classes
dominantes, para realizar seus interesses. O Estado é uma relação social”
(FALEIROS 2007,p.52).
O Estado é um instrumento regido pelos interesses da burguesia,
sendo assim o poder coercitivo, com toda sua força ideológica consegue compor
políticas sociais compensatórias, visando com isso a reprodução social do conflito
capital-trabalho. Entretanto se há uma classe hegemônica dentro das estruturas do
Estado, ela não observará passivamente a obtenção de demandas por parte da
classe não hegemônica, pois sua resistência se dará de diversas formas, desde as
17

mais sutis às mais arbitrárias. Dessa maneira é importante ressaltar que caso uma
determinada política social seja um ganho para o capital, esse ganho é o fator de
sua legitimação.
As políticas sociais não podem ser tomadas como empecilho pelo
pensamento liberal, pois em certa medida os gastos públicos com os programas que
financiam alimentam o aumento dos negócios burgueses. A reclamação do mundo
burguês com tais programas visa o controle das verbas para a manutenção de
negócios mais rentáveis e com retorno mais rápido, o que, segundo Behring (2007),
se caracteriza por “super lucros”. A busca por diminuir gastos públicos com políticas
sociais está relacionada ao fato do retorno financeiro, pois o pensamento liberal
entende que os gastos públicos devem ter finalidade pública e na promoção do
estímulo à produção, e não políticas “clientelistas”. Sendo assim, deve-se considerar
a posição dos liberais visto que as verbas públicas não podem ser usadas por ações
coronelistas, todavia, também deve ser ressaltado que essas mesmas verbas
públicas não podem financiar os riscos do sistema capitalista em busca de lucros
divinizados e prejuízos socializados.
Nessa perspectiva, as políticas sociais, ainda segundo Behring
(2007,p.174), controlam o debate sobre as verbas públicas e seu destino nos
Estados capitalistas não funciona como busca permanente de melhoria das
condições de vida dos trabalhadores, o que só seria possível em estruturas políticas
nas quais o Estado não seja um aparelho de classe. Tendo em vista que, quando
pensamos em políticas sociais, logo associamos o impacto de políticas públicas, o
que não está incorreto, pois incorreto é o modo como são implantadas em países
subdesenvolvidos como o Brasil.
Conforme o entendimento de Faleiros (2007), segundo sua
classificação de políticas sociais, a materialização das mesmas pode ser tomada
através de medidas como: a) assistência, b) previdência social, c) prestação de
serviços, d) proteção jurídica, e) construções de equipamentos sociais entre outros,
destacando a política de assistência por ser considerada a mais clássica das
políticas sociais implementadas pelas autoridades públicas brasileiras, e levando em
consideração também que:

As políticas sociais tomadas com assistenciais reproduzem, portanto, a


exploração, a dominação e a resistência, num processo contraditório em
que se acumulam riqueza e pobreza. E a cumulação da pobreza na
sociedade brasileira põe em questão os limites das políticas voltadas ao seu
18

enfrentamento. (YAZBEK, 2007,p.22)

A mesma autora ainda acrescenta que se trata de uma relação que,


sob a aparência da inclusão, reitera a exclusão, pois inclui de forma subalternizada,
e oferece como benesse o que na verdade é um direito.
Sendo assim, tratando a política social como direito, devemos levar
em conta que essa concepção surge de uma profunda reflexão em que os embates
políticos na esfera social não podem alimentar a ilusão de o Estado ser o
responsável pela solução de todas as mazelas do mundo, mas compreender que
esse direito é resultado do jogo de força, procurando ao mesmo tempo sinalizar que
o Estado, ao tributar a sociedade acumula recursos para satisfazer interesses do
capital quando deveria através de outra postura perseguir os interesses coletivos.

A possibilidade de luta por direitos não significa almejar a


distribuição para muito daquilo que pertence a poucos. Ao contrário, esse tipo de
luta significa que deve ser distribuído o que foi apropriado indevidamente pelas
forças agregadas entre capital e coerção estatal. Dessa forma, não se pode pensar
política social como um plano determinado de mera assistência em muito menos
imaginar que as políticas são condição de mobilidade, elas são, conforme Yazbek
(2007,p.35) “ambiguamente na perspectiva de acomodação das relações entre
Estado e sociedade civil”. Dessa forma, as políticas sociais resultam de forte conflito
entre os interesses do capital e os interesses dos que necessitam da ação do
Estado como um meio de garantir um mínimo possível à subsistência.

As políticas governamentais no campo social embora expressem o caráter


contraditório das lutas sociais, acabam por reiterar o perfil da desigualdade
no país e mantém essa área de ação submersa e paliativa. (YAZBEK,
2007,p.40)

Quando uma determinada política é implementada na sociedade,


parece, aos olhos do senso comum que é um resultado nacional de esforços
múltiplos buscando a obtenção da satisfação pública a partir do interesse coletivo.
No entanto, se observarmos melhor ver-se-á que essa política social é um complexo
de interesses para alguns que nesse caso não tem perspectiva de que seus efeitos
terão resultados satisfatórios coletivamente. Nesse sentido, a política social será
abordada como modalidade de intervenção do Estado no âmbito do atendimento das
necessidades sociais básicas dos cidadãos, respondendo a interesses diversos, ou
seja, a política social expressa relações, conflitos e contradições que resultam da
19

desigualdade estrutural do capitalismo.


A forma de organização desse Estado e suas características terão
um papel determinante na emergência e na expansão da providência estatal face
dos interesses dos cidadãos de uma sociedade. Desse modo, as políticas sociais só
podem ser pensadas politicamente, quando referidas a relações concretas e como
parte das respostas que o Estado oferece às expressões da “questão social”,
situando-se no confronto de interesses de grupos e classes sociais.

Questão que se reformula e se redefine, mas permanece substantivamente


a mesma por se tratar de uma questão estrutural que não se resolve numa
formação econômico social por natureza excludente. (YAZBEK, 2002: 33)
Em geral, reconhece-se que a existência das políticas sociais é um
fenômeno associado à constituição da sociedade burguesa, ou seja, do
específico modo capitalista de produzir e reproduzir-se. Evidentemente que
elas se estabelecem não nos seus primórdios, mas quando se tem um
reconhecimento da “questão social” inerente às relações sociais nesse
modo de produção em face do momento em que os trabalhadores assumem
um papel político e revolucionário.

Dessa maneira a “questão social” torna-se elemento primordial na


constituição de políticas sociais, de acordo com Netto (1992,p.26)

A „questão social‟ como que se internaliza na ordem econômico- política:[...]


é tudo que caindo no âmbito das condições gerais para a produção
capitalista monopolista (condições internas e externas,técnicas, econômicas
e sociais), articula o enlace das funções econômicas e políticas do Estado
burguês capturado pelo capital monopolista, com a efetivação dessas
funções se realizando ao mesmo tempo em que o Estado continua
ocultando sua essência de classe.

A maneira de como o Estado se relaciona com a “questão social” é


fragmentada e não pode ser de outro modo: “tomar a „questão social‟ como
problemática configuradora de uma totalidade processual específica é remetê-la
concretamente à relação capital/trabalho - o que significa liminarmente, colocar em
xeque a ordem burguesa.” (Netto, 1992,p.28). Assim a relação ocorre por parte,
conformando um conjunto de políticas sociais a dar respostas ao que temos
configurado da relação social de produção como falta de escolas, habitação,
segurança, saúde, alimentação, emprego, atendendo os desdobramentos da
questão social e não sua causa, que podemos remeter a propriedade dos meios de
produção.

Conforme elucida Netto:

[...]Não há dúvidas de que as políticas sociais decorrem fundamentalmente


20

da capacidade de mobilização e organização da classe operária e do


conjunto dos trabalhadores, a que o Estado, por vezes, responde com
antecipações estratégicas. Entretanto, a dinâmica das políticas sociais está
longe de esgotar-se numa tensão bipolar – segmentos da sociedade
demandantes/Estado burguês no capitalismo monopolista.[...]
(NETTO,1992,p.29)

Esta capacidade de mobilização e organização pode convergir


para duas perspectivas no que diz respeito à relação da classe trabalhadora com as
políticas sociais. Por outro lado, essa perspectiva deve explicitar que as políticas
sociais são resultados de conquista da luta da classe trabalhadora e não pode ser
reforçado seu caráter econômico de barateamento da força de trabalho e político de
legitimação da ordem, assim como de ser concessão por parte do Estado.
As desigualdades sociais não apenas são reconhecidas, como
reclamam a intervenção dos poderes políticos na regulação pública das condições
de vida e trabalho da classe trabalhadora. O Estado, portanto tem o dever de
envolver-se progressivamente em uma abordagem pública da questão. Dessa
maneira ele cria novos mecanismos no sentido de intervir nas relações sociais com
esquemas de proteção social. Isto se configuraria em mecanismos
institucionalizados no âmbito da ação do Estado como complementares do Estado,
configurando a política social nas sociedades sob hegemonia do grande capital.
Dessa forma, a política social pública permite aos cidadãos acessar recursos, bens e
serviços sociais necessários, sob muitos aspectos e dimensões da vida: social,
econômico, cultural, político, ambiental, entre outros, ou seja, nesse sentido que as
políticas públicas devem estar voltadas para a realização de direitos, necessidades e
potencialidades dos cidadãos de um Estado.
Para Jaccoud (2007,p.3), as políticas sociais fazem parte de um
conjunto de iniciativas públicas, objetivando a realização, fora da esfera privada do
acesso a serviços e renda, com objetivos amplos e complexos visando não apenas a
cobertura dos riscos sociais, mas também a equalização de oportunidades, o
enfrentamento das situações de destituição e pobreza, o combate às desigualdades
sociais bem como a melhoria das condições sociais da população. Ainda de acordo
com esta autora, a abordagem das políticas sociais sob a ótica da cidadania deve ter
como referência a construção de padrões de igualdade, ou seja, combater a pobreza
e a desigualdade fora da referência a direito é abrir espaço para medidas de “gestão
da pobreza”. Dessa maneira, as políticas sociais desenvolvem planos, projetos e
programas direcionados à concretização dos direitos sociais reconhecidos em uma
21

dada sociedade, como constitutivos da condição de cidadania, o que traz uma pauta
de direitos e deveres entre aqueles aos quais se atribui a condição de cidadãos e
seu Estado.
Vale lembrar que nesse cenário, onde a essência é o neoliberalismo,
se deu um grande crescimento do Terceiro Setor, o que levou a transferência para a
sociedade civil de deveres que eram delegados ao Estado para dar respostas às
seqüelas da questão social, com isso foram colocadas em cena várias práticas de
filantropia e benemerência. Além de práticas solidárias e a busca pelo enfrentamento
da desigualdade, a ação da sociedade civil também vem assumindo uma relevância
na proteção social do país, como afirma Vieira (2004, p.9) “Sem justiça e sem
direitos, a política social não passa de ação técnica, de medida burocrática, de
mobilização controlada ou de controle da política quando consegue traduzir-se
nisto”.
Pela via da política social e de seus benefícios, o Estado procura, no
entanto, manter a estabilidade diminuindo as desigualdades e garantindo direitos
sociais embora o país não alcance a institucionalidade de um Estado de Bem-Estar
Social, ou seja, o Estado brasileiro tentou administrar a questão social
desenvolvendo políticas nos diferentes setores da sociedade.
Nos países onde tal padrão de política social se desenvolveu, tanto
a pobreza absoluta quanto as desigualdades econômica e social sofreram
significativa redução, devido a implementação de políticas sociais com caráter
redistributivo, universais, intencionadas pelo estabelecimento de igualdade de
condições e não apenas pela igualdade de oportunidades, embora saibamos que
estas não foram e não são capazes de acabar com as desigualdades sociais, dada
sua incapacidade de agir na estrutura de produção e reprodução do capital. De
acordo com Behring e Boschetti (2007) as políticas sociais orientadas pela óptica de
materialização de direitos legalmente reconhecidos e legitimamente assegurados,
instituíram o princípio da desmercadorização dos programas, projetos e serviço, e
possibilitaram aos cidadãos se manter sem depender do mercado, contribuindo,
assim, para mudar a relação entre cidadania e classe social, ainda que as relações
econômicas e sociais não tenham sido estruturalmente transformadas no sentido de
extinguir a sociedade de classes.
No entanto, não é essa concepção que sustenta o projeto político
profissional do Serviço Social. Ainda de acordo com essas autoras, na Brasil ainda
22

estamos longe desse Estado democrático de direitos e das políticas sociais a ele
correspondentes. Chegar a ele seria um grande conquista e os assistentes sociais
têm sido participantes dessa luta árdua, embora o projeto político profissional dessa
categoria não se contente com o modelo capitalista do Estado de direitos. O mesmo
projeto é qualificado por Netto como conjunto de

Valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam seus objetivos e


funções, formulam os requisitos (teóricos, institucionais e práticos) para o
seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais
e estabelecem as balizas de sua relação com os usuários de seus serviços
com as outras profissões e com as organizações e instituições sociais.
(NETTO, 1999, p .95)

O projeto ainda é resultado de um longo e coletivo processo


construído nas últimas três décadas e encabeçado pelas entidades nacionais da
categoria, e tem seus valores e pilares definidos no Código de Ética Profissional, na
Lei de Regulamentação da Profissão e nas Diretrizes Curriculares que vêm
orientando a atuação do Serviço Social tanto no âmbito da formação quanto do
exercício profissional.
Qualificar e dinamizar a concepção de direitos, cidadania e política
social pressupõe discutir os limites e as possibilidades dos direitos no capitalismo
entendendo que eles são capazes de reduzir desigualdades, mas não são e não
foram até aqui capazes de acabar com a estrutura de classes e, portanto, com a
mola propulsora da produção e reprodução das desigualdades, de modo que a
existência e persistência da pobreza e das desigualdades sociais são determinadas
pela estrutura capitalista de apropriação privada dos meios de produção e da
riqueza socialmente produzida (Marx, 1987) e não apenas pela não distribuição igual
de seus produtos.
Ao adotar a liberdade como valor central, o projeto político dos
assistentes sociais assume o

Compromisso com a autonomia, a emancipação e a plena expansão dos


indivíduos sociais. Consequentemente, o projeto profissional vincula-se a
um projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem social,
sem dominação e/ou exploração de classe, etnia, ou orientação sexual.
(CFESS, 1993)

Fica explícito que reafirmar direitos e políticas sociais no âmbito


do capitalismo e lutar por eles tendo como projeto uma sociedade justa e igualitária,
não significa contentar-se com os direitos nos marcos do capitalismo. Segundo
23

Behring e Boschetti (2008, p.79), essa é uma estratégia para o estabelecimento de


condições objetivas de construção de outra forma de sociabilidade, e quando seus
limites são claros, assim como a sua natureza contraditória, vemos a política social
como ela é: podendo assumir tanto um caráter de espaço de concretização dos
direitos dos trabalhadores, quanto ser funcional à acumulação do capital e à
manutenção do „status‟ vigente.
Em contrapartida às forças que aceitam e/ou reforçam as investidas
do capital especulativo, os assistentes sociais ousam permanecer na contracorrente
e sustentam a defesa e a reafirmação de direitos e políticas sociais que, inseridos
em um projeto societário mais amplo, são capazes de dar suporte as condições
econômicas, sociais e políticas que ajudam a construir as vias de igualdade, em um
processo que não acaba apenas na garantia da cidadania burguesa. Para essa
categoria, a concepção de cidadania implica instituir direitos que se pautem pelos
seguintes princípios: universalização do acesso aos direitos visando a criação de
uma via para a equidade e justiça social; qualificação legal e legitimação das
políticas sociais como direito; orçamento redistributivo; estruturação radicalmente
democrática, descentralizada e participativa de modo a socializar a participação
política.
Os pontos acima citados são de essencial importância para o projeto
ético- político do Serviço Social, onde a ampliação e a consolidação dos direitos,
entendidas como tarefa de toda a sociedade, mas com o dever legal do Estado na
sua garantia, são vistas como condição para a ampliação da cidadania, e em que a
democratização é compreendida como “socialização da participação política e
socialização da riqueza socialmente produzida” (Netto, 1999, p.105). Sendo assim, a
cidadania é muito mais que um conjunto de direitos concretizados por políticas
sociais. Não sendo apenas uma simples conjugação de programas, projetos, bens e
serviços fragmentados, pulverizados.
Dentre essas políticas supracitadas, nosso estudo terá o destaque
da saúde, sendo a mesma uma política social que envolve diversos aspectos
políticos, sociais, econômicos, institucionais, estratégicos, culturais, entre outros
sendo quase impossível isolar a participação de cada um desses elementos em um
momento definido.

Entende-se por política [de saúde] as decisões de caráter geral, destinadas


a tornar públicas as intenções de atuação do governo e a orientar o
24

planejamento (...). As políticas visam tornar transparente a ação do governo,


reduzindo os efeitos da descontinuidade administrativa e potencializando os
recursos disponíveis. O cerne de uma política é constituído pelo seu
propósito, diretrizes e definição de responsabilidades das esferas de
governo e dos órgãos envolvidos. (Fleury, 2010, p.41)

Estas políticas devem ser entendidas muito além do que simples


medidas técnicas de emaranhados de problemas sociais, pois estão fundamentadas
em uma série de valores que orientam as definições e estratégias. Portanto,
verificamos que as políticas de saúde formam através de estratégias, instrumentos e
planos uma ação que não se direciona apenas ao campo da saúde podendo incluir
também diversos outros aspectos da dinâmica social (econômica, política e cultural),
sendo um “conjunto de orientações normativas às relações entre Estado e
sociedade, dirigidas para garantir um padrão de solidariedade vigente entre os
grupos e indivíduos em uma sociedade concreta”. (Fleury, 2010, p. 315)
Podemos caracterizar a política de saúde também como uma política
social que tem um forte vínculo com o âmbito econômico, pois a mesma causa efeito
sobre outros setores como a química e farmacêutica, equipamentos, etc. Na maioria
das vezes essa relação entre política de saúde e a economia é tensa, pois os
governos costumam identificar essas políticas sociais apenas como áreas de gasto,
e não de produção. No entanto, essas políticas sociais deveriam também ser
caracterizadas como áreas produtivas visto que geram inúmeros empregos e
contribuem para o desenvolvimento econômico quando impedem a mortalidade
precoce e estimulam as melhores condições sanitárias.
25

3 POLÍTICA DE SAÚDE E SERVIÇO SOCIAL

Devido à inexistência de políticas de saúde até a década de 1920, a


assistência médica era destinada a quem podia pagar por ela, ao restante da
população apresentava-se duas opções: “a medicina popular ofertada por leigos e
muita das vezes curandeiros, ou as instituições filantrópicas, destinadas aos
„indigentes e pobres‟”. (SOUZA, 2001, p. 79)
A contenção das endemias e o combate à precária condição
sanitária eram os objetivos das campanhas sanitárias que eram feitas com a
intervenção do Estado, sendo um traço característico da época, tendo em vista a
crescente urbanização brasileira.
Em 1923 a Lei Eloy Chaves criou a Previdência Social e junto com
ela a CAP (Caixa de Aposentadoria e Pensão). Algumas categorias de trabalhadores
(marítimos, ferroviários, bancários e comerciários) eram atendidas pela Medicina
Previdenciária (fruto da criação da Previdência), pois estavam ligadas aos setores
mais influentes da economia brasileira da época.
Já na década de 1930, em face das precárias condições de vida e
de saúde criou-se a Política Nacional de Saúde, com o objetivo de atender a face
mais necessitada.

[A classe trabalhadora amontoava-se] em bairros insalubres junto às


aglomerações industriais, em casa infectas, sendo muito freqüente a
carência -ou mesmo falta absoluta- de água, esgoto e luz. Grande parte das
empresas funcionavam em prédios adaptados, onde eram mínimas as
condições de higiene e segurança, e muito freqüente aos acidentes. O
poder aquisitivo dos salários era de tal forma ínfimo(...) [ que ficava] em
nível insuficiente para a subsistência.( CARVALHO e IAMAMOTO,2005,
p.129)

Devido às péssimas condições em que viviam e a insalubridade em


que eram expostos nas fábricas, os trabalhadores adoecia, porém a solução para
esse problema não era o foco das políticas de saúde através de suas campanhas
sanitárias, pois estas estavam voltadas para a higienização.
Esse fato mostra como a saúde desse período ficou caracterizada
segundo Bravo;

- Pela ênfase nas campanhas sanitárias;


-Coordenação dos serviços estaduais de saúde dos estados de fraco poder
26

político e econômico (...) pelo Departamento Nacional de Saúde;


-Interiorização das ações para as áreas de endemias rurais (...) em
decorrência dos fluxos migratórios de mão-de-obra para as cidades;
-Criação de serviços de combate às endemias
-Reorganização do Departamento Nacional de Saúde (...) que incorporou
vários serviços de combate às endemias e assumiu o controle da formação
de técnicos em saúde pública.(BRAVO,2007, p. 91)

A mudança na Previdência Social se deu no primeiro governo de


Getúlio Vargas, em 1933, onde o IAP (Instituto de Aposentadoria e Pensão) surgia
em substituição a CAP, trazendo várias modificações no sistema, entre elas a
redução dos gastos com assistência médica. Essa nova dinâmica foi recorrente até a
década de 1950, quando não conseguia mais atender ao que lhe era proposto.
Foi assim que no período que seguiu a ditadura militar (1964-1985)
surgiu o modelo médico assistencial privatista, tendo como características principais,
segundo Mendes (1994):
- A extensão da cobertura previdenciária de forma a abranger a quase
totalidade da população urbana e rural;
- O privilegiamento da prática médica curativa, individual, assistencialista e
especializada, em detrimento da saúde pública;
- A criação, através da intervenção estatal de um complexo médico-industrial;
- O desenvolvimento de um padrão de organização da prática médica
orientada em termos de lucratividade do setor propiciando a capitalização da
medicina e privilegiamento do produtor privado desses serviços.
Já em 1966, houve a junção dos IAP‟s dando lugar em seguida ao
Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), trazendo o que hoje conhecemos
como “universalização excludente” da política de saúde, ampliando o acesso e a
desigualdade no acesso aos bens de serviços de saúde. (MENDES, 1994)
Ainda nos anos 1970, houve a criação do Sistema Nacional de
Previdência e Assistência Social (SIMPAS), ocorrendo a separação entre os serviços
de previdência social e saúde, ficando o primeiro sob responsabilidade do INPS e o
segundo do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social
(INAMPS). Esta nova organização de apoio à saúde visava uma ampliação dos
beneficiários – sendo que todos os trabalhadores independente da categoria
profissional poderiam ter acesso ao atendimento – o que consolidava o modelo
médico-assistencial. (SOUZA, 2001)
Ao contrário do que foi previsto, essa política teve como base a
27

desigualdade da população aos serviços de saúde e a lucratividade do setor, sendo


um dos motivos que incentivou as mobilizações e as lutas dos trabalhadores da
saúde, assim como algumas parcelas da sociedade civil, se tornando a mola
propulsora da aprovação do Sistema Único de Saúde e também da Reforma
Sanitária.
Foi em 1988, que a saúde se destacou com a criação do SUS
(Sistema Único de Saúde), graças à Constituição Federal, que assegurou os direitos
relativos à saúde, à previdência e a assistência social, de acordo com a Seguridade
Social (CF, 1988). Porém este se encontra somente nos papéis e discursos políticos,
uma vez que os indivíduos tão pouco têm assegurado os seus direitos, pois no
âmbito social os problemas de saúde estão ligados às condições sócio-econômicas
do indivíduo.
Ainda nesta referida Constituição, o Estado brasileiro, além de
configurar-se como responsável por promover através de políticas sociais, garantias
de proteção social e cidadania como nos casos de Saúde, Assistência Social e
outros, também organizado de maneira que propicie a descentralização das ações e
decisões no sentido de romper com a tradição centralizadora de gestão pública, ou
seja, descentralizando ações e serviços de saúde. Neste sentido:

...a descentralização política administrativa constitui decorrência natural do


reconhecimento, pelo poder público de que a saúde é um direito
fundamental do ser humano a ser satisfeito pelo Estado. Compete-se ao
Estado federal (União, Estados membros, Distrito Federal e Municípios)
garantir a saúde da população obrigatoriamente o sistema de saúde, tem de
ser descentralizado para possibilitar cada uma das expressões do Estado
Federal realize efetivamente (CARVALHO,1999)

Visando assegurar o direito do cidadão e da participação política nos


programas, a descentralização da saúde vem para que estes possam ser garantidos
em caráter de igualdade e oportunidade.
Com a aprovação das leis nº 8080 e nº 8142, grandes decisões
políticas no campo sanitário entraram em cena, quando através da participação
popular os usuários puderam participar, interagindo entre si e com o Estado:

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas


sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação (CF, 1988).
28

Foi no período do neoliberalismo que surgiram propostas


antagônicas aos princípios de descentralização, universalidade e integralidade,
dentre outros defendidos pelo projeto de Reforma Sanitária. Ainda nessa década o
projeto neoliberal veio ditar as regras da política de saúde no cotidiano dos
atendimentos em detrimento da base jurídico legal que legitimava o Sistema Único
de Saúde.

...há uma trajetória muito perceptiva de mudanças jurídicas e institucionais,


marcadamente influídas pelos pressupostos da reforma sanitária, que
passaram a impressão de que o projeto político-sanitário deu a tônica das
políticas de saúde dos anos 80. Ao contrário, de forma sutil, pouco
perceptível [...] direta ou indiretamente decorrente das políticas públicas
praticadas no período, consolidou-se o projeto neoliberal. (MENDES, 1994,
p. 98).

É notável uma lacuna entre os serviços de saúde destinados à


população e o que foi formulado pela constituição, devido à hegemonia do projeto
neoliberal, que visava uma saúde de mercado, onde o Estado garantia o mínimo
necessário às populações mais vulnerabilizadas. Mas apesar dessa dissintonia entre
o que era proposto e o que realmente se efetivava, alguns avanços foram
alcançados, e o que vemos é a tentativa de um retrocesso, devido à permanente
tensão entre os dois projetos de saúde: projeto neoliberal, a focalização, a redução
de gastos com o setor, a fragmentação da política, dentre outros preceitos; e o
projeto de reforma sanitária que busca a universalidade de acesso, integralidade e
equidade.
Tendo como referência as políticas públicas setorizadas no Brasil, a
saúde na atual conjuntura encontra-se em crise. As políticas sociais implantadas de
forma fragmentada com a finalidade de amenizar as situações de miséria e
abandono social não atingem a sociedade como um todo; por possuírem um caráter
seletivo não compreendem o indivíduo na sua totalidade concreta, portanto a saúde
dificilmente é compreendida como questão de cidadania,

O sistema de saúde deveria articular suas ações com as demais


políticas sociais que intervém nas condições de vida da população,
como é o caso da habitação, do saneamento, das condições de
trabalho, da educação, etc. (COSTA, 2000, p. 78)
29

Bravo (2007) analisa que o atual governo ora fortalece o projeto de


reforma sanitária e ora mantêm a focalização e o desfinanciamento característica do
projeto neoliberal. Conforme o trecho seguir:

O real SUS está longe do SUS constitucional. Há uma enorme


diferença entre a proposta do movimento de reforma sanitária e a
prática do sistema público de saúde vigente. O SUS foi se
consolidando como espaço destinado aos seguimentos que não têm
acesso aos subsistemas privados, como parte de um sistema
segmentado. A proposição do SUS inscrita na Constituição de 1988
de um sistema público universal não se efetivou. (BRAVO, 2007, p.
106)

No entendimento de Costa (2000, p.82) o usuário não pode ser


tratado apenas como consumidor de serviço de saúde, mas como sujeito do
processo de sua cura, como co-participante deste processo.

A profissão de Serviço Social surge no estágio monopolista do


capitalismo a partir do acirramento da questão social, que pode ser compreendida
como:

o conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos que o surgimento


da classe operária impôs no curso da constituição da sociedade capitalista e
que está fundamentalmente vinculada ao conflito entre capital e o trabalho.
(NETTO, 1992)

No Brasil, a questão social passa a ser reconhecida a partir de 1930


e com isso recebe um novo tratamento do ponto de vista do grupo dominante, sendo
compreendida então como legítima e transformando-se em questão eminentemente
política.
Segundo Netto (1992) o que caracteriza a questão social é o
conjunto das expressões das desigualdades sociais, econômicas, políticas e
culturais das classes sociais produzidas na sociedade capitalista madura,
intermediadas pelo Estado. Assim, ao reconhecer a questão social, o discurso
político se encarrega de legitimar os conflitos sociais incluindo-os como
componentes da sociedade capitalista.
Portanto, enquanto parte constitutiva das relações sociais
capitalistas, a questão social é apreendida como expressão ampliada das
desigualdades sociais, o que demanda, no seu enfrentamento, a prevalência das
30

necessidades da coletividade dos trabalhadores, convocação à necessidade do


Estado e a afirmação de políticas sociais de caráter universal, voltadas para o
interesse da grande maioria.
Sendo assim, o Estado atua diretamente no conflito de classes,
prestando serviços sociais baseados em uma nova maneira de enfrentar a questão
social. Com essa intervenção, o Estado pretende enfrentar ainda o processo de
pauperização absoluta da classe trabalhadora urbana.
Para tanto, o Estado burguês necessita de profissionais para a
execução de políticas sociais, enquanto instrumento criado para responder à
mobilização política da classe trabalhadora.
Diante dessa progressiva organização da classe trabalhadora, a
postura do empresariado também favoreceu a criação do Serviço Social, sob dois
aspectos. De acordo com Iamamoto (1982), o primeiro deles refere-se à crítica do
empresariado à falta de um processo de socialização dos trabalhadores. Segundo
este (empresariado), é necessário que se criem instituições que tenham por objetivo
a integridade física e psíquica dos operários fabris. O segundo aspecto diz respeito
ao conteúdo diverso das políticas assistenciais desenvolvidas pelo empresariado
nas fábricas. Quando o empresariado tenta combater a resistência dos
trabalhadores, pode-se perceber várias formas de sua atuação.
Percebe-se essas formas de atuação das seguintes maneiras:
mesmo negando o reconhecimento dos sindicatos, não aceita a participação do
proletariado nas decisões da empresa e outras formas de coerção que dão apoio
aos mecanismos econômicos de esmagamento e dominação, percebe-se uma das
faces de seu comportamento. Por outro lado, nota-se uma política de assistência
que se amplia rapidamente a partir dos grandes movimentos sociais do pós-guerra.
A maioria das empresas de grande porte proporcionava a seus empregados uma
série de serviços assistenciais como: vilas operárias, ambulatórios, creches, escolas,
entre outros. Esses benefícios eram conquistados pela classe trabalhadora desde
que os mesmos tivessem um bom comportamento diante das greves e de uma vida
pessoal moderada, demonstrando que o empresariado fazia um controle da vida
cotidiana, política e reivindicatória dos trabalhadores. (IAMAMOTO,1982)
Segundo Vasconcelos (2007, p. 99) não cabe aos assistentes
sociais que buscam romper com práticas conservadoras, reproduzir o processo de
trabalho capitalista, alienante. Esses devem romper com as práticas capitalistas de
31

pensar e agir para empreender ações que além de possibilitar acesso a bens e
serviços resultem num processo educativo; resulte em um bem e não em um produto
a ser consumido. Uma ação consciente que necessita de uma capacidade de
projetar; capacidade que não está dada, mas é algo a ser construído e alcançado.
Nascido e articulado a um projeto de hegemonia burguesa, o Serviço
Social foi criado e legitimado pelo Estado capitalista. Funciona como uma importante
estratégia de controle social, a fim de influenciar o comportamento do proletariado,
tendo em vista manter a ordem vigente determinada, embora atue diretamente junto
à classe trabalhadora, atendendo a algumas de suas necessidades.
No Brasil, a profissionalização do Serviço Social ocorreu como um
resultado de uma progressiva ação do Estado na regulação da vida social, quando
este passa a administrar e gerir o conflito de classe.
A vinculação com o setor público veio afirmar a profissão, através da
expansão do controle e ação do Estado junto à sociedade civil. Entretanto
relacionava-se também com as organizações privadas de caráter empresarial, que
eram dedicadas às atividades produtivas e à prestação de serviços sociais à
população. Dessa maneira a profissão se consolida como parte integrante do
aparato estatal e de empresas privadas, e o profissional como um assalariado das
mesmas.

O Serviço Social como profissão inscrita na divisão social do trabalho, situa-


se no processo da reprodução das relações sociais, fundamentalmente
como uma atividade auxiliar subsidiária no exercício do controle social e na
difusão da ideologia da classe dominante junto à classe trabalhadora.
(IAMAMOTO, 1982, p. 203)

Embora o assistente social seja considerado um profissional liberal,


sua intervenção não se realiza dessa forma, uma vez que o mesmo não possui os
meios necessários à efetivação de seu trabalho. Dessa maneira, os assistentes
sociais precisam estar inseridos nas entidades empregadoras que demandam essa
força de trabalho qualificada. A condição de trabalhador assalariado faz com que o
profissional se submeta às exigências do seu empregador, participando e
colaborando para o processo organizado pela instituição, efetivando suas políticas e
objetivos. Apesar da ação do assistente social submeter-se às exigências da
32

instituição empregadora, o profissional possui uma autonomia relativa para conduzir


sua intervenção junto aos usuários; essa autonomia deve sustentar-se no
compromisso com o projeto ético político do Serviço Social, o qual tem no Código de
Ética profissional uma das formas de sua materialização.
Ainda na década de 1930, concomitantemente à criação da Política
Nacional de Saúde Pública, que tinha como frente de luta uma resposta aos
movimentos operários que surgiram para reivindicar por condições dignas de vida e
conseqüentemente por saúde, surge o Serviço Social como profissão no Brasil,
regulamentada pelo Decreto 994/1962 e fiscalizada pelo Conselho Federal de
Serviço Social e os respectivos Conselhos Regionais, e segundo Souza a profissão
nasceu como uma estratégia das classes dominantes para frear os movimentos
operários gerados devido às suas precárias condições de vida. (SOUZA, 2001, p.
81)
Segundo Rezende (2006: 34) “os serviços institucionais surgidos a
partir da pressão do movimento operário sobre o estado (...) foram determinantes
das condições que fizeram emergir o Serviço Social”.
O Serviço Social surgiu objetivando intervir nas condições de vida da
classe trabalhadora, cuja atuação profissional deve estar pautada em uma proposta
que vise o enfrentamento das expressões da questão social.
Inicialmente o Serviço Social se destacou na área de assistência, e
logo em seguida se dá a inserção do Serviço Social na área da saúde, que se
organizava em sistema de plantão. E foi nessa área o maior sucesso em relação ao
fortalecimento dos direitos sociais, garantindo o pleno acesso aos serviços, segundo
a Constituição de 88 (NOGUEIRA, 2008)
Desde o começo da profissão, o sistema de plantão social já era
utilizado na saúde. As práticas sociais desenvolvidas no mesmo, ao longo dos anos,
foram adquirindo nova roupagem, mas foi em 1945, que a área da saúde passou a
absorver um maior número de mão de obra de assistentes sociais tornando-se o
maior campo de atuação dessa profissão (MARQUES, 1997, p. 50). Nessa ocasião o
assistente social teve um papel de educador junto à população usuária dos serviços
de saúde com relação aos hábitos de higiene dessa população, haja vista que o
período era marcado pelas campanhas sanitárias, como já apontado anteriormente.

Os assistentes sociais também foram designados para fazer triagens e


33

seleções, dado o caráter excludente e seletivo da política de saúde,


colocando-se entre a instituição e a população com o objetivo de viabilizar o
acesso dos usuários aos serviços e benefícios. (BRAVO, 2007, p. 73)

O conservadorismo profissional até a década de 60 não foi questionado,


como afirma Bravo e Matos (2007, p. 42), porém foi a partir desta época que alguns
profissionais começaram a discutir sobre a direção conservadora dada à profissão.
Foi com o golpe militar de 64, que este processo de questionamento, que teve base
no Movimento de Reconceitualização Latino-Americano, foi interrompido, sendo
retomado mais adiante na década de 80 e 90 no Brasil.
Ainda na década de 60, com a unificação dos IAP‟s em 1966 houve um
significativo aumento de assistentes sociais na saúde, as quais chamadas a atuar na
assistência médica da previdência, o que fica mais claro com a explicação abaixo.

... a prática dos assistentes sociais nas instituições previdenciárias de saúde


é normatizada em torno das seguintes ações: individual, de caráter
preventivo e curativo; grupal, de caráter educativo-preventivo; comunitária,
para mobilização de recursos e reintegração dos pacientes à família e ao
trabalho. Além disso, é enfatizada a participação dos assistentes sociais em
equipes interprofissionais, a fim de fornecer dados psicossociais
significativos para o diagnóstico, tratamento e alta do paciente. No final dos
anos 60, a prática do Serviço Social na saúde está totalmente alinhada com
a política de incremento da saúde individual, com ênfase no
desenvolvimento de padrões técnicos que atendem à saúde de cunho
curativo (TRINDADE, 1999, p.63)

As ações acima citadas tinham como objetivo dar respostas às


novas exigências postas à profissão, pois com a “modernização” do Estado pós 64 e
conseqüentemente das políticas públicas, houve também a necessidade de
renovação para o Serviço Social, a que NETTO (2005, p. 92) chamou de
“perspectiva modernizadora” da profissão. Dessa maneira os assistentes sociais
iniciaram uma intervenção mais racionalizadora com ênfase na burocratização das
suas ações.
Na década de 1970 não houve grandes mudanças no que diz
respeito à prática desenvolvida pelos assistentes sociais na saúde, e em 1967 com a
separação dos serviços de previdência social e dos serviços de saúde, ficando
respectivamente com o INPS e com o INAMPS, os profissionais do Serviço Social
continuaram com sua atuação baseada em uma abordagem subsidiária da ação
médica. “Tal postura profissional está condizente com uma prática de saúde
extremamente medicalizada e com ênfase na saúde curativa, pautada na
34

racionalização burocrática e tecnificação dos serviços.” (TRINDADE, 1999, p. 48)


Intensas modificações marcaram tanto o Serviço Social quanto a
política de saúde no final dos anos 70 e início de 80, quando a crise do Estado e o
processo de redemocratização levaram a quebra do modelo de saúde que
perdurava até o momento.
Nesse período, com a promulgação da Constituição Federal (1988) a
saúde ganha maior posição em relação aos direitos sociais, sendo esse avanço
consequência de um grande movimento dos trabalhadores de saúde em parceria
com parcelas da sociedade civil.
No que diz respeito à atuação do assistente social, ocorreu uma
mudança em relação à direção seguida até então, incorporando a partir de 1980
uma interlocução com as obras de Marx, marcando o começo da maturidade
profissional do Serviço Social.
A renovação profissional na década de 1980, acima referida, levou
ao debate do atual projeto ético político do Serviço Social, que só se consolidou na
segunda metade da década de 1990 e trouxe os novos rumos da profissão no Brasil.
No final da década de 1980, houve algumas modificações na postura
profissional dos assistentes sociais na saúde. Segundo Bravo e Matos (2007, p. 58),
os avanços citados são insuficientes, não trazendo modificações significativas para a
profissão. A atuação dos assistentes sociais na saúde sofreu poucas alterações no
seu cotidiano, constatando-se na intervenção novos avanços teóricos.
Dessa maneira contata-se uma atuação direcionada do profissional
de Serviço Social no atendimento ao usuário e na execução da política, participando
pouco do planejamento e organização do sistema de saúde.
A partir a década de 90, com o surgimento do Sistema Único de
Saúde (SUS), sustentado pela Lei Orgânica de Saúde (LOS), nº 8080 de setembro
de 1990, e a Lei nº 8142 de dezembro de 1990, ficou estabelecido um novo conceito
de saúde:

... a saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros,


a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o
trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer,e o acesso a bens e
serviços essenciais;os níveis de saúde da população expressam a
organização social e econômica do País. (CFESS,2004)

Ainda de acordo com o artigo 198 da Constituição da Federal e com


35

a Lei 8080/90, fica estabelecido que o SUS é regido por 13 princípios, entre eles:
universalidade de acesso em todos os níveis de assistência, equidade na
assistência à saúde, integralidade da assistência, participação da comunidade, e
outros; e por três diretrizes: descentralização (engloba a regionalização, a
municipalização e a hierarquização), participação popular e atendimento integral.
A partir de tais princípios e diretrizes, os serviços de saúde formam
uma rede regionalizada e hierarquizada, ou seja, os serviços são organizados em
ordem crescente de complexidade sendo a porta de entrada do sistema a Atenção
Primária, constituída pelos centros e postos de saúde; a Atenção Secundária (média
complexidade), formada pelas unidades de urgência e os institutos de
especialidades; a Atenção Terciária que, juntamente com a quaternária formam a
alta complexidade, constituída pelos hospitais conveniados responsáveis pelas
internações e cirurgias; a Atenção Quaternária que é formada pelos procedimentos
mais complexos, como transplantes. (SILVA, 2004, p. 62)
Ou seja, com esse novo conceito ampliado de saúde, diferentes
campos de atuação para os trabalhadores na área da saúde foram aparecendo,
tendo entre esses trabalhadores os assistentes sociais, que vão nesse contexto ser
reconhecidos como profissionais da área, de acordo com a resolução nº 218 de
1997, do Conselho Nacional de Saúde (CNS).
Dessa maneira, a relação entre saúde e doença, considerada além
da enfermidade, tem como base os determinantes sociais, econômicos, culturais,
políticos, e passa-se a entender como importante a interdisciplinaridade nas ações
de saúde, e com essa resolução reconhece-se como profissionais da área as
seguintes profissões de nível superior:

1.Assistentes Sociais; 2. Biólogos; 3. Profissionais de Educação Física; 4.


Enfermeiros; 5. Farmacêuticos; 6. Fisioterapeutas; 7. Fonoaudiólogos;
8.Médicos; 9. Médicos Veterinários; 10. Nutricionistas; 11. Odontólogos; 12.
Psicólogos; 13. Terapeutas Ocupacionais.

Levando em consideração essa interdisciplinaridade, e segundo


Iamamoto (2002:112), “é necessário desmistificar a idéia de que a equipe, ao
desenvolver ações coordenadas cria uma identidade entre seus participantes que
leva a diluição de suas particularidades profissionais” (...) e considerando também
36

que (...) “são as diferenças de especializações que permitem atribuir unidade à


equipe, enriquecendo-a e, ao mesmo tempo, preservando aquelas diferenças (...)”.
De acordo com os Parâmetros para a Atuação de Assistentes
Sociais na Saúde (2009), podemos identificar que cada um dos profissionais, tem
distintas competências e habilidades para desenvolver suas ações, porém o
assistente social, muitas vezes, tem tido dificuldades de dialogar com outros
profissionais da saúde para esclarecer suas atribuições e competências em face da
dinâmica do trabalho imposta nas unidades de saúde em decorrência das pressões
com relação à demanda e da fragmentação do trabalho. Ainda de acordo com os
parâmetros, o assistente social deve abordar junto aos outros profissionais suas
principais ações a serem desenvolvidas, ressaltando sua capacidade propositiva
com ênfase na investigação da realidade, nas ações socioeducativas, nas demandas
reais e potenciais e na participação social, tendo por referência o projeto profissional
do Serviço Social.
Decorrente da ampliação do conceito de saúde e da resolução já
citada o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), também em sua resolução nº
383/99, designou o assistente social como sendo um profissional com atuação na
saúde, porém, não somente nela. Para tanto considera que a formação em Serviço
Social qualifica o assistente social a trabalhar nas diversas políticas sociais.
De acordo com Sodré (2010) o nascimento do SUS é legitimamente
um produto das lutas sociais, cenário em que os assistentes sociais foram de grande
valia na contribuição e trouxeram para si a afirmação de um referencial teórico até
então hegemônico regularizado nas reflexões de uma teoria social crítica e
comprometida com um projeto de sociedade em que se baseou toda a história
subseqüente dessa profissão.
Ainda de acordo com esse autor, o assistente social também
introduziu o debate sobre os determinantes sociais de forma definitiva e ainda hoje
se insere nas frentes de trabalho para demarcar um posicionamento que luta por um
SUS menos biomédico nas suas mais diversas redes de serviços e especialidades.
Com essa criação do SUS, surge a necessidade de agregar novas
formas de organização do trabalho, para a efetivação dos princípios e diretrizes do
sistema e é dentro dessa organização que os assistentes sociais atuam.

Considera-se que a partir dos anos 90, com a implementação do Sistema


37

Único de Saúde (SUS), mudanças de ordem tecnológica, organizacional e


política passaram a exigir novas formas de organização do trabalho em
saúde, determinadas pela hierarquização, descentralização e
democratização do sistema, que imprimiram novas características ao
modelo de gestão e aos processos de trabalho [...] (NOGUEIRA, 2000, p.
102)

De acordo com os parâmetros para atuação dos assistentes sociais


na saúde, o trabalho deste profissional consiste em:

estar articulado e sintonizado ao movimento dos trabalhadores e dos


usuários que lutam pela real efetivação do SUS;
facilitar o acesso de todo e qualquer usuário aos serviços de saúde da
Instituição, bem como de forma compromissada e criativa não submeter à
operacionalização de seu trabalho aos rearranjos propostos pelos governos
que descaracterizem a proposta original do SUS de direito, ou seja, contido
no projeto de Reforma Sanitária;
tentar construir e/ou efetivar, conjuntamente com outros trabalhadores da
saúde, espaços nas unidades que garantam a participação popular e dos
trabalhadores de saúde nas decisões a serem tomadas;
elaborar e participar de projetos de educação permanente, buscar
assessoria técnica e sistematizar o trabalho desenvolvido, bem como estar
atento sobre a possibilidade de investigações sobre temáticas relacionadas
à saúde;
efetivar assessoria aos movimentos sociais e/ou aos conselhos a fim de
potencializar a participação dos sujeitos sociais contribuindo no processo de
democratização das políticas sociais, ampliando os canais de participação
da população na formulação, fiscalização e gestão de políticas de saúde,
visando o aprofundamento dos direitos conquistados. (CFESS,2009)

Nesse sentido o trabalho do assistente social se torna de grande


importância na execução do SUS, nas perspectivas da universalização dos direitos
na formulação dos serviços públicos assim como na sua fiscalização e controle e
participação dos indivíduos sociais enquanto sujeitos de direitos da política de
saúde.
Ao serem reconhecidos como profissionais de saúde, os assistentes
sociais passam a ser vistos não mais desenvolvendo somente uma atuação
“subsidiária” de menor importância na saúde.
No entanto algumas dessas práticas que ainda existem como
subsidiárias nas equipes de saúde - por parte dos assistentes sociais – não são mais
resultado de uma legislação favorável à sua intervenção, e sim recorrente de
práticas profissionais sem embasamento teórico-metodológico e sem técnicas
profissionais para lidar com questões cotidianas de sua prática.
Outro ponto de destaque em relação os serviços de saúde, refere-se
ao processo saúde/doença como resultado da dinâmica social e das situações
38

concretas vivenciadas pelos usuários. A inserção dos assistentes sociais nos


serviços de saúde é mediatizada pelo reconhecimento social da profissão e pelas
necessidades do sistema, que se redefinem a partir das condições históricas sobre
as quais a saúde pública se desenvolve, como afirma os Parâmetros para atuação
do assistente social na saúde (CFESS,2009) o Serviço Social não é exclusivo da
saúde, mas qualifica o profissional a atuar com competência nas diferentes
dimensões da questão social no âmbito das políticas sociais, inclusive a saúde.
A perspectiva atual da inserção do assistente social nos serviços de
saúde aponta para a emergência de um conjunto de práticas, a partir das quais
emergem novas ocupações e atividades que são resultantes da ampliação,
complexificação e redivisão dos tradicionais ofícios da área de saúde.
Nesse contexto verifica-se a necessidade de administrar as
contradições principais do sistema de saúde do país e, por isso, os assistentes
sociais são chamados a atuar na área, trabalhando tais contradições.

Nesse sentido, aos discorrer sobre as principais atividades realizadas pelos


assistentes sociais, identificamos que contraditoriamente, as tensões do
sistema implicaram uma ampliação e redirecionamento das atividades e
qualificações técnicas e políticas dos assistentes sociais (COSTA, 2000).

O assistente social trabalha na viabilização dos serviços sociais à


população que encontra dificuldades para acessar os serviços de saúde, e com isso
o assistente social é o profissional chamado a intervir como um “elo” entre as
unidades de saúde e a população na viabilização de seus direitos (LESSA,2003, p.
118).
Vários são os impasses enfrentados pela população quando
procuram as instituições de saúde, sendo um dos mais freqüentes o acesso, que vai
desde a falta de vagas até a falta de informações. A dificuldade de acesso por causa
de vagas ocorre, sobretudo decorrente da infra estrutura para acomodar a demanda
ou do número insuficiente de profissionais para atender a demanda.
A informação é um instrumento muito utilizado pelo profissional do
Serviço Social. Através dela irá intervir na relação entre a instituição de saúde e a
população visando seu acesso de forma mais rápida possível ao serviço de saúde.
Atuar de forma competente no Serviço Social na área de saúde
engloba entre outras atuações: articulação e sintonização com o movimento dos
trabalhadores e usuários que lutam pela real efetivação do SUS; facilitação do
39

acesso de todo usuário aos serviços de saúde da instituição, assim como não se
submeter a operacionalização do seu trabalho aos rearranjos propostos pelo
governo que descaracterizem a proposta original do SUS; construção e efetivação
em conjunto com outros profissionais, espaços nas unidades de saúde que
garantam a participação popular nas decisões a serem tomadas; estar sempre com
disposição em busca da reciclagem, buscar assessoria técnica e sistematizar o
trabalho desenvolvido, bem como estar atento sobre a possibilidade de investigação
acerca de temáticas relacionadas à saúde.(BRAVO e MATOS,2007)
No Serviço Social é necessária uma formação ético-polítca, para
além da teórico-metodológico e técnico-operativa e uma capacitação continuada que
garanta profissionais críticos, que compreendam o sentido social da ação e a
significância da área de trabalho no conjunto da problemática social (NETTO,1996)
A intervenção do serviço social na saúde, segundo Costa (2000),
está prioritariamente concentrada nos seguintes campos de atividades: ações de
caráter emergencial, educação e informação em saúde, planejamento e assessoria e
mobilização da comunidade.
Segundo Sales e Fernandes (2007, p. 37) as atividades cujo caráter
é de natureza emergencial se expressam nas ações visando maior agilidade de
internações, exames, consultas, tratamentos, obtenção de transportes, alimento, etc;
situações que os mecanismos institucionais não absorvem em sua rotina. Ainda
segundo essas autoras, a educação e informação em saúde, compreendem as
atividades de orientação e abordagens individuais e coletivas ao usuário, família e à
comunidade, a fim de esclarecer informações, problematizá-las e buscar soluções
acerca de problemas relacionados à saúde. Afirmam ainda que o planejamento e
assessoria englobam as atividades voltadas para o processo de organização do
trabalho no SUS, principalmente no que se refere à assessoria ao planejamento
local das unidades de saúde, instrumentalização dos processos de avaliação e
controle das ações realizadas na unidade, treinamento, preparação e formação de
recursos humanos.
As atividades voltadas para mobilização da comunidade consistem
basicamente em ações educativas, voltadas para a sensibilização e politização.
A interpretação de normas e rotinas se baseia na transmissão de
informações qualificadas e nas normas de funcionamento de programas e unidades
prestadoras de serviço. Seu objetivo é a formação de atitudes e de comportamento
40

dos usuários e acompanhantes durante sua permanência nas unidades, e também,


esclarecimentos aos indivíduos sobre os regulamentos o funcionamento, e as
condições exigidas pela mesma.
Segundo Bravo e Matos (2007) cabe ao profissional de serviço
social permanecer atento aos objetivos da profissão no cotidiano de seu trabalho na
saúde, compreendendo os aspectos sociais, econômicos, culturais que interferem no
processo saúde/doença e na busca de estratégias para o enfrentamento destas
questões. O profissional deve ter como eixo central, uma busca inovadora e contínua
da incorporação dos seus conhecimentos, articulados aos princípios do processo
ético-político do Serviço Social, uma vez que tal projeto norteia o profissional a estar
de fato dando respostas qualificadas às necessidades apresentadas pelos usuários
do Serviço Social.
De acordo com o Código de Ética Profissional (1993), em seu Título
III das relações profissionais, capítulo I e artigo 5º, a socialização das informações
que irá permitir o acesso da população aos serviços sociais é um dos deveres do
profissional junto aos usuários: “Democratizar as informações e o acesso aos
programas disponíveis no espaço institucional como um dos mecanismos
indispensáveis à participação dos usuários.” (CRESS,2004)
Os Parâmetros para atuação dos assistentes sociais na saúde
(2009) englobam algumas das características que devem ser destinadas ao
profissional do setor como, como por exemplo, as atribuições e competências que
são orientadas e norteadas por direitos e deveres que constam no Código de Ética
Profissional. Nesse sentido, tanto as instituições que empregam quanto os
profissionais, devem respeitá-las, dessa maneira podemos dizer que o profissional
deve ficar atento a como essa informação está sendo concebida pelo usuário, pois
informar não significa apenas passar conhecimento, informação, mas sim,
interpretar, analisar e refletir dados que irão ser repassados aos usuários, ou seja
filtrá-los, ajustá-los à sua realidade.
Para que essa intervenção ocorra é necessária a atuação de
profissionais que tenham uma prática objetivando a viabilização dos direitos de
cidadania aos seus usuários, assim como a democratização do acesso aos serviços
de saúde e aos demais direitos, dessa maneira lutando para a efetivação dos
mesmos junto à instituição e a outros profissionais, para que desse modo o Código
de Ética citado acima seja seguido.
41

Por isso é grande a importância da presença de profissionais de


saúde que defendam e reforcem o SUS em seu cotidiano de trabalho, através de
ações que primem por seus princípios, tais como a integralidade do acesso, e a
universalidade.
Ter uma prática que vise à universalidade do acesso aos usuários,
implica em trabalhar junto ao público-alvo possibilidades para que o mesmo torne-se
público-usuário da instituição e desse modo acesse seu direito aos serviços de
saúde. (REZENDE, 2006)
Os assistentes sociais trabalham em todas as áreas que têm relação
direta com os aspectos sociais: trabalho, educação habitação, judiciário, saúde,
dentre outros, bem como no desenvolvimento e execução das políticas públicas, que
são todos os serviços disponibilizados pelo Estado, a partir da contribuição dos
cidadãos, através de impostos. As políticas públicas, entre elas a saúde são,
portanto, “direito do cidadão e dever do Estado”, devendo ser executadas com
qualidade, eficiência e responsabilidade social.
E como aponta Costa (2000), uma das áreas que mais demandam a
intervenção dos assistentes sociais em nível nacional é a da saúde, pois, além das
práticas convencionais, a mudança na concepção do processo de saúde com ênfase
a determinação social, a implementação do SUS e suas características de
descentralização, democratização, acesso e integralidade deram origem a novos
modelos de práticas sociais em saúde, requerendo conseqüentemente, mudanças
no perfil dos profissionais que atuam na área, dentre eles o assistente social.
42

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante a realização deste trabalho, pudemos aprender mais


sobre o Serviço Social, através da origem do mesmo no cenário brasileiro, assim
como as mediações dos assistentes sociais em vista das suas atribuições.
Como vimos durante o curso, a prática profissional do assistente
social é orientada pelos princípios e direitos firmados na Constituição Federal de
1988 assim com as legislações complementares referentes às políticas sociais e aos
direitos da população.
Dessa forma, considerando que o assistente social esta inserido em
diversos campos de atuação e o mesmo lida diretamente com a população em
defesa de direitos individuais ou coletivos, é imprescindível reconhecer que em sua
prática profissional o mesmo passe por inúmeros desafios, uma vez que a prática de
qualquer profissão, ainda que exista a teoria mais elaborada, é preciso construir
seus métodos de ação, assim também é na prática profissional do assistente social.
Cada área em que o assistente social atua, é necessário que o
mesmo estude além das teorias propostas pelo curso de Serviço Social, o
profissional para se ter competência precisa ir além do que lhe é dado pronto e
acabado, é preciso ocupar o papel de pesquisador, tornando-se assim um
pesquisador social, fazendo levantamento da problemática que está enfrentando,
formulando possíveis soluções e possíveis problemas oriundos destas, formulando
para si e a própria equipe de trabalho, estratégias de abordagens dos indivíduos a
serem atendidos, as causas pelas quais estão lutando, uma vez que isso de fato,
colabora para que o profissional torne-se competente e auxilie melhor o público
atendido.
Portanto, uma vez que a prática profissional do assistente social,
está ligada diretamente com as questões sociais, e estas envolvem indivíduos de
diferentes níveis de cultura e costumes, assim como outros aspectos, surge a
necessidade do assistente social fazer bom uso da teoria adquirida em sua formação
e também que o mesmo torne-se inovador e criativo, ao adquirir o papel de
investigador, pesquisador.
A pesquisa e a investigação na profissão do assistente social são
imprescindíveis para o reconhecimento das questões sociais que os mesmos estão
enfrentando em seu local de trabalho, tais como os desafios impostos para a
43

resolução as mesmas. Assim, podemos concluir, que para o bom exercício da


profissão, é preciso estar sempre se atualizando, investigando, pesquisando, mas,
também superar na prática os desafios que não são descritos pelas teorias por este
absorvidas.
E em se tratando da atuação do assistente social na área da saúde
a informação é um instrumento muito utilizado pelo profissional do Serviço Social.
Através dela irá intervir na relação entre a instituição de saúde e a população
visando seu acesso de forma mais rápida possível ao serviço de saúde.
Atuar de forma competente no Serviço Social na área de saúde
engloba entre outras atuações: articulação e sintonização com o movimento dos
trabalhadores e usuários que lutam pela real efetivação do SUS; facilitação do
acesso de todo usuário aos serviços de saúde da instituição, assim como não se
submeter a operacionalização do seu trabalho aos rearranjos propostos pelo
governo que descaracterizem a proposta original do SUS; construção e efetivação
em conjunto com outros profissionais, espaços nas unidades de saúde que
garantam a participação popular nas decisões a serem tomadas; estar sempre com
disposição em busca da reciclagem, buscar assessoria técnica e sistematizar o
trabalho desenvolvido, bem como estar atento sobre a possibilidade de investigação
acerca de temáticas relacionadas à saúde
44

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