TÓPICO 2 - RESUMOacademico

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LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS ACADÊMICOS

Profa. Graziela Zamponi

TÓPICO 2 – RESUMO

2.1 RESUMO (autor do texto # autor do resumo)


Primeiramente justifico a inserção desse tópico no programa de Leitura e Produção do Texto
Acadêmico. O resumo é importante nas atividades acadêmicas das mais diversas disciplinas, sendo exigido
para a produção de revisão da literatura e relatórios, como veremos ainda neste curso. Portanto, a produção
de resumos é atividade indispensável para você, aluno do curso de engenharia.
Estudiosos do assunto têm afirmado que o processo de resumir está diretamente relacionado à
capacidade de compreensão do texto. Poderíamos até afirmar que só se resume o que se compreende e só
se compreende o que se pode resumir. Em situação normal de leitura, e com compreensão, ocorre um
processo de redução da informação através do qual o leitor constrói uma espécie de resumo do texto,
selecionando as informações básicas e eliminando as acessórias. Isso você comprova em situações
corriqueiras que certamente já vivenciou. Por exemplo, após a leitura de um texto, por mais curto que seja,
você é capaz de se lembrar das idéias mais importantes e não das palavras, orações e períodos que o
compõem. Esse é um processo de redução que fazemos praticamente sem muito esforço.
Resumir um texto significa criar um novo texto mais curto, utilizando as informações mais importantes
do texto original. É claro que esse processo envolve uma intervenção direta do leitor no texto de partida,
principalmente se considerarmos que “as informações mais importantes” podem variar dependendo do objetivo
da realização da tarefa de resumir.
Na atividade de resumir, o autor (= o que resume) deve-se colocar em segundo plano, esforçando-se
para ser objetivo1, no intuito de criar uma síntese coerente e compreensível, o mais próximo possível da
intenção comunicativa do autor do texto original. Isso é, com certeza, mais desejável se se trata de um resumo
de texto científico. Mas essa não é uma tarefa fácil. Existem resumos de variada extensão, assim como
resumos mais próximos ou mais distantes do texto original.
Essas variações se devem ao propósito da leitura, à intenção do autor, ao tipo de situação em que se
processa a leitura, ao tipo de contexto social e ao conjunto de conhecimentos que o leitor traz para o texto,
incluindo-se aí seu conhecimento linguístico, enciclopédico, genérico (dos gêneros discursivos), além de suas
crenças e valores. A influência desse conhecimento prévio do leitor sobre a compreensão e, portanto, sobre
a produção do resumo, explica por que, em determinadas circunstâncias, somos incapazes de reduzir a
informação de um texto, quando não temos o conhecimento prévio necessário. Por exemplo, tomemos a
seguinte sequência:
Maria saiu de casa, dirigiu-se à Liberdade, entrou na primeira porta que encontrou, tirou os
sapatos, sentou-se no chão ao lado da mesa e pediu peixe cru.
Se o leitor não souber que Liberdade é um bairro da cidade de São Paulo, habitado principalmente por
japoneses, e não conhecer as características particulares de um restaurante japonês, ele será totalmente
incapaz de efetuar a seguinte redução possível: Maria foi comer em um restaurante japonês.
Considerando essas observações, temos de concordar que a produção de resumo não é um processo
homogêneo. Mas temos de alertar que ela também não é um processo anárquico, pois existe no texto um
conjunto de pistas deixadas pelo autor, que o leitor tem necessidade de identificar, principalmente no contexto
da leitura escolar, a fim de poder distinguir aquilo que o autor considera como relevante daquilo que ele mesmo,
leitor, considera como importante.

1
E nisso o resumo se diferencia da resenha, que, apresentando as informações mais importantes do texto de origem, traz o
comentário ou avaliação do resenhador.

7
Nesses anos de docência, pude perceber que, muitas vezes, o aluno, quando voltado à atividade de
resumir, lê o texto parágrafo por parágrafo, prestando mais atenção às relações locais entre as ideias do que
ao todo do texto. A redação do resumo às vezes é iniciada antes da leitura do texto inteiro, já que se faz a
cada parágrafo, refletindo fielmente a estrutura do texto original. Nem sempre desse procedimento resulta um
bom resumo.

RESUMIR NÃO É COPIAR FRASES DO TEXTO ORIGINAL, SEM ASPAS, EM UM APARENTE


TRABALHO DE REDAÇÃO.

A seguir, damos algumas orientações importantes para que você produza um bom resumo.
1. Leia o texto integralmente (mais de uma vez, se necessário).
2. Estabeleça o tema.
3. Estabeleça os diferentes aspectos do tema (embora não necessariamente, esses aspectos podem estar
focalizados em diferentes parágrafos).
4. Estabeleça o objetivo do seu resumo: qual a finalidade dele?
5. Antes de iniciar, organize um roteiro com as idéias e a ordem em que elas serão apresentadas.
Estabeleça um plano para o texto. Só escreve com clareza quem tem as idéias claras na mente.
6. Trabalhe com um dicionário e uma gramática ao seu lado e não hesite em consultá-los sempre
que surgirem dúvidas.
♦ Resumo: um primeiro contato
1. Imagine que você deva inserir num trabalho um conceito de teoria científica e tenha encontrado o
pequeno trecho abaixo, de autoria do astrofísico Dave Goldberg. Você deve extrair dele as
informações a respeito desse conceito da maneira mais resumida possível. Que informações você
selecionaria? Sublinhe-as no texto.

Os membros do público geral (junto com as pessoas que brandem machados ideológicos) ouvem a palavra
“teoria” e a equalizam com “ideia” ou “suposição”. Teorias científicas são sistemas completos de ideias que
podem ser testadas e que são potencialmente refutáveis, seja por evidências ou por um experimento que
alguém poderia fazer. As melhores teorias (entre as quais eu incluo a da Relatividade Especial, a da
Mecânica Quântica e a da Evolução) resistiram a cem anos — ou mais — de desafios, tanto de pessoas que
queriam se provar mais espertas do que Einstein como daqueles que não gostam de desafios metafísicos
porque eles não se encaixam em suas visões de mundo. Por fim, teorias são maleáveis, mas não
infinitamente. Teorias podem ser incompletas ou ter detalhes errados sem que todo o conceito caia por terra.
A Teoria da Evolução foi sendo adaptada ao longo dos anos, mas não a ponto de ficar irreconhecível. O
problema com a frase “é só uma teoria” é que ela implica que uma teoria científica real é algo pequeno — e
não é.
Disponível em < http://gizmodo.uol.com.br/conceitos-cientificos>

2. Aponte na lista abaixo as informações que você selecionou:

a) Teoria = ideia ou suposição


b) Possibilidade de testagem de uma teoria
c) Refutabilidade de uma teoria
d) Melhores teorias: Relatividade Especial, Mecânica Quântica, Evolução
e) Resistência ao tempo das melhores teorias
f) Rejeição de teorias por pessoas
g) Maleabilidade das teorias
h) Adaptação da Teoria da Evolução ao longo dos anos
i) Natureza grandiosa de uma teoria científica

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3. Quando lemos um texto, atribuímos ao autor ações de diversas ordens. Por exemplo, quando lemos
no texto “Teorias científicas são sistemas completos de ideias...”, podemos dizer: o autor define teoria
científica... Tendo isso em mente, assinale, no quadro abaixo, as ações que poderiam ser atribuídas
a Dave Goldberg.

analisar observar acreditar dizer discorrer


calcular descobrir pensar discutir apresentar
explorar constatar julgar declarar destacar
examinar mostrar ver expor citar
estabelecer conceituar afirmar mencionar
considerar argumentar relatar
ponderar propor
concluir descrever
hipotetizar
definir

A autora do pequeno trecho abaixo, Jacquelyn Gil, esclarece dois conceitos científicos que são usados
de maneira errada pelas pessoas em geral. Após lê-lo, escolha, entre os três resumos que seguem, o
que lhe parece melhor.

No topo da minha lista está “sobrevivência do mais apto”. Em primeiro lugar, essas não são palavras de
Darwin; em segundo lugar as pessoas não compreendem direito o que significa “mais apto”. Também
há muita confusão sobre o conceito de evolução no geral, incluindo a persistente ideia de que a evolução
é progressiva e direcional (ou mesmo algo deliberado da parte dos organismos; as pessoas
simplesmente não pegam a ideia de seleção natural), ou a ideia de que todas as características devem
ser adaptativas (seleção sexual existe! Mutações aleatórias também!).
Mais apto não significa mais forte nem mais inteligente. Significa simplesmente um organismo que se
encaixa melhor em seu ambiente, o que pode significar qualquer coisa, desde “menor” ou “mais
escorregadio” até “mais venenoso” ou “mais capaz de viver sem água por semanas”. Além disso, as
criaturas nem sempre evoluem de maneira que nós possamos explicar as adaptações. O caminho
evolucionário delas tem mais a ver com mutações aleatórias ou traços que sejam atraentes para outros
membros daquela espécie.
(Disponível em < http://gizmodo.uol.com.br/conceitos-cientificos>)

Jacquelyn Gil é paleoecologista.

Resumo 1
Jacquelyn Gil afirma que o termo “sobrevivência do mais apto”, que não é entendido por todos, não foi criado
por Darwin e que ele não significa nem mais forte nem mais inteligente. Ser menor, ou mais escorregadio, ou
mais venenoso, ou ainda capaz de viver na água por semanas são características possivelmente determinantes
para a sobrevivência. Além disso, as pessoas acham que a evolução é progressiva, direcional e que todas as
características devem ser adaptativas, o que a autora contesta.

Resumo 2
Jacquelyn Gil aborda dois conceitos da teoria evolucionista, que, segundo ela, são entendidos
equivocadamente: “sobrevivência do mais apto” e “evolução”. Desconstruindo o que se pensa normalmente
sobre esses dois princípios, a autora esclarece que “mais apto” não significa mais forte nem mais inteligente,
mas o organismo que se encaixa melhor em seu ambiente. Gil rejeita ainda a ideia de que a evolução é
progressiva e direcional, afirmando que ela está ligada a mutações aleatórias ou traços que sejam atraentes
para outros membros da espécie, o que mostra que nem sempre se podem explicar as adaptações e o caminho
evolucionário.

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Resumo 3
No topo da lista está “sobrevivência do mais apto”. As pessoas normalmente confundem esse conceito, que
não foi criado por Darwin, e um outro conceito, o da evolução. No primeiro caso, elas pensam que ser mais
apto significa ser mais forte ou mais inteligente. No segundo, acham que a evolução é progressiva e direcional
ou mesmo algo deliberado da parte dos organismos ou ainda que todas as características devem ser
adaptativas, o que constitui uma inversão dos conceitos. Mas ser mais apto significa ser encaixado melhor no
ambiente e evoluir é aleatório. Isso deve ficar claro para aqueles que trabalham com a teoria da evolução.

1. Assinale as alternativas que justifiquem a escolha do melhor resumo dentre os três que foram dados.
(Este exercício [adaptado] foi emprestado de MACHADO, A.R (coord.); LOUSADA, E.; ABREU-
TARDELLI, L. S. Resumo. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.)

a) correção gramatical e léxico adequado à situação escolar/acadêmica;


b) seleção das informações consideradas importantes pelo leitor e autor do resumo;
c) seleção das informações colocadas como as mais importantes no texto original;
d) apresentação das ideias principais do texto e de suas relações;
e) comentários pessoais misturados às ideias do texto;
f) menção do autor do texto original em diferentes partes do resumo e de formas diferentes;
g) menção de diferentes ações do autor do texto original (o autor questiona, debate, explica...);
h) texto compreensível em si mesmo.

2.1.1 ALGUNS PROCEDIMENTOS PARA A ELABORAÇÃO DE RESUMOS

1. Apagamento ou cancelamento de informações.


Quando resume um texto, normalmente você sublinha alguns conteúdos que acha mais importantes.
Isso sinaliza que aquilo que você não sublinhou é um conteúdo que pode ser descartado. Nesse caso,
você está empregando uma regra de cópia-apagamento ou cópia-cancelamento. Por cópia
entendemos o que deve ser mantido; por apagamento, o que deve ser eliminado. Assim, é possível
cancelar as palavras e segmentos que se referem a detalhes, quando não necessários à compreensão
de outras partes do texto.
Que elementos poderiam ser considerados “não necessários”?
• Conteúdos irrelevantes- um conteúdo não contém nenhuma informação necessária para a
compreensão de outros conteúdos e não é central para o desenvolvimento do tema.
• Conteúdos redundantes – um conteúdo contém uma informação equivalente à de outro. Assim, de
maneira geral, podemos cancelar
• conteúdos facilmente inferíveis (a partir do nosso conhecimento de mundo);
• expressões equivalentes (sinônimos);
• explicações e justificativas;
• exemplos;
• conteúdos equivalentes (como na paráfrase, por exemplo).
Com essa regra, as informações irrelevantes canceladas se perdem definitivamente; as redundantes,
só parcialmente.

2. Construção
Essa regra consiste na substituição de uma sequência de proposições, expressas ou pressupostas,
por uma proposição que seja normalmente inferida delas. Aqui também se inclui a construção de uma

10
proposição a partir de inferências autorizadas pelo texto. Esse procedimento pressupõe um leitor mais
maduro, mais proficiente, capaz de gerar uma informação nova, respaldada no que é declarado.

3. Generalização
Quando no texto há uma sequência de elementos ou de ações/eventos, muitas vezes é possível
substituí-la por um termo mais genérico que esses elementos. Assim, por exemplo, podemos substituir
por “fez exercícios físicos” o que está grifado na seguinte sequência: Durante a semana, ela fez
musculação e pilates; além disso, nadou e participou dos treinamentos do time de vôlei. Ainda que
pequena, trata-se de uma redução significativa.

2.1.2 O AUTOR DO TEXTO RESUMIDO: REFERÊNCIA E AÇÕES

Num resumo acadêmico, é preciso citar o nome do autor do texto a ser resumido. Segundo Machado,
Lousada e Abreu-Tardelli (2004: 47), “um resumo é um texto sobre outro texto, de outro autor, e isso deve ficar
sempre claro, mencionando-se frequentemente o seu autor, para evitar que o leitor tome como sendo nossas
as idéias que, de fato, são do autor do texto resumido.”
São várias as possibilidades de fazer essa referência. Você pode usar
• o nome completo do autor ou apenas o sobrenome (OBS.: NUNCA FAÇA REFERÊNCIA AO AUTOR
USANDO O PRENOME);
• expressões nominais com base no papel que ele desempenha (“o autor”);
• expressões nominais que identifiquem o autor com base no que você sabe sobre ele (“o psicanalista”,
“o professor”, “o pesquisador”... ); para isso, você deve lançar mão de seu conhecimento de mundo;
• pronomes.

NO CASO DO DISCURSO ACADÊMICO, A CITAÇÃO DO AUTOR DURANTE O TEXTO DEVE SER


FEITA DE ACORDO COM A NBR 10520 ABNT.

Além disso, é fácil supor que, fazendo referência ao autor, você atribua a ele algumas ações,
determinadas a partir de sua interpretação com base no texto. Machado, Lousada e Abreu-Tardelli (2004: 49)
afirmam que “no resumo, o autor do texto original aparece como se estivesse realizando vários tipos de atos,
que, frequentemente, não estão explicitados no texto original.” Cabe ao autor do resumo interpretar e enunciar
esses atos.
Obs.: Segue um quadro com alguns verbos que podem ser utilizados para indicar esses atos.

apontar – definir – descrever – elencar – enumerar – classificar – caracterizar – dar características –


exemplificar – dar exemplos – contrapor – confrontar – comparar – opor – diferenciar – começar –
iniciar – introduzir – desenvolver – finalizar – terminar – concluir – pensar – acreditar – julgar - afirmar
– negar – questionar – criticar – descrever – narrar – relatar – explicar – expor – comprovar – provar –
defender a tese – argumentar – dar argumentos – justificar – dar justificativas – apresentar – mostrar –
tratar de – abordar – discorrer – esclarecer – convidar – sugerir – incitar – levar a

Se buscássemos uma categorização desses atos, poderíamos ter algo como segue:

11
Atos de pesquisa Atos de cognição Atos de discurso
(processos mentais) (expressão verbal)

Procedimentos Resultados

analisar observar acreditar / pensar dizer / discutir


calcular descobrir julgar / ver declarar / expor
explorar constatar conceituar / afirmar / argumentar
examinar mostrar considerar propor / descrever
estabelecer ponderar / concluir discorrer / apresentar
hipotetizar destacar / citar
mencionar

2.1.3 O RESUMO E A REVISÃO DA LITERATURA

Retomamos aqui o que foi apresentado no Tópico 1 (Projeto de Pesquisa).


A revisão da literatura é uma atividade necessária à elaboração de qualquer pesquisa científico-
acadêmica e, praticamente, não se esgota, porque novas pesquisas são comunicadas todos os dias. Ela
integra documentos como projetos, dissertações e teses, entre outros. De acordo com Motta-Roth e Hendges
(2010)2, entre as suas principais funções, encontram-se

utilizar, reconhecer e dar crédito à criação intelectual de outros autores, para demonstrar consciência
sobre o ineditismo da pesquisa (ninguém “reinventa a roda”);
indicar que nos qualificamos como membros de determinada cultura disciplinar por meio da
familiaridade com a produção de conhecimento prévio na área;
evidenciar que nosso campo de conhecimento já está estabelecido, mas pode e deve receber novas
pesquisas;
emprestar uma voz de autoridade de posicionamento intelectual ao texto;
demonstrar que nossa pesquisa se situa na mesma área de conhecimento e que ela se fundamenta
em publicações prévias.
Essa etapa da pesquisa e o texto que dela resulta exige cuidados especiais. Assim, devemos
1. identificar e mostrar a relação existente entre as pesquisas (sobrepõem-se? contrastam-se?
complementam-se?);
2. justificar a presença dos estudos citados, sinalizando a sua relevância para o tópico do nosso
trabalho;
3. selecionar o tempo verbal e os verbos de citação adequados;
4. indicar claramente a fonte das ideias/informações de que nos apropriamos.

A revisão da literatura constitui o momento em que situamos nosso trabalho em meio às pesquisas
já realizadas ou em andamento, citando os estudos prévios que servirão de ponto de partida para a
pesquisa.

2
MOTTA-ROTH; Désirée; HENDGES; Graciela Rabuske. Produção textual na universidade. São Paulo: Parábola
Editorial, 2010.

12
Por meio da revisão da literatura,
reportamos e avaliamos o conhecimento produzido em pesquisas prévias, destacando
conceitos (e/ou)
procedimentos (e/ou)
resultados (e/ou)
discussões (e/ou)
conclusões,
relevantes para o nosso trabalho. É nesse momento que você, lendo os trabalhos de interesse,
previamente selecionados, traz para o seu texto um resumo da fonte consultada.
A revisão da literatura parece apresentar uma estrutura padrão, embora ela não deva ser considerada
uma “camisa de força”, como apontam Motta-Roth e Hendges (2010).

MOMENTO 1 (Início)
Citação da literatura de modo amplo em termos de interesse geral e generalizações / estabelecimento do
conhecimento na área quanto ao tópico.

MOMENTO 2
Citação de questões mais específicas apontadas por estudos prévios / relação a pesquisas prévias
específicas quanto ao assunto do trabalho em questão.

1.2 RESUMO ACADÊMICO (ABSTRACT) (autor do texto = autor do resumo)

Motta-Roth e Hendges (2010, p. 152) afirmam que o resumo acadêmico tem o objetivo de sumarizar,
indicar e predizer, em um parágrafo curto, o conteúdo e a estrutura do texto integral que segue.

Em que situações, você, aluno(a) de Engenharia, deverá elaborar um resumo científico? Na sua vida
acadêmica, você poderá vivenciar algumas situações em que será necessário redigir um texto como esse.
Provavelmente você participará de congresso ou seminário e, para isso, terá de enviar um resumo do trabalho a
ser apresentado. Esse texto, que constará do caderno de resumo (se o trabalho for aceito, naturalmente), antecipa
o conteúdo da sua pesquisa. A coletânea de resumos (incluindo o seu) orienta os participantes do evento a
selecionar os trabalhos de seu interesse. Esse tipo de resumo ainda aparecerá no seu TCC, permitindo que o
leitor tenha acesso mais rápido ao conteúdo do texto. No caso dos gêneros estudados no nosso curso, um resumo
desse tipo integrará seu projeto de pesquisa e relatório.
Como leitor, você também terá contato com o resumo acadêmico. Quando busca as informações teóricas
que dão suporte à sua pesquisa, você lerá primeiramente o abstract, selecionando o que é interessante ler. Desse
modo, além de sumarizar o conteúdo de um texto, o resumo científico funciona como “fonte de informação precisa
e completa, ajudando os pesquisadores a ter acesso rápido e eficiente ao crescente volume de publicações
científicas.” (MOTTA-ROTH; HENDGES, 2010, p. 152)

1.2.1 ORGANIZAÇÃO RETÓRICA DO RESUMO

Como vimos, o resumo acadêmico reflete o conteúdo e a estrutura do trabalho que resume. Se o
trabalho é experimental – como o caso da maioria dos trabalhos que você vai desenvolver na Universidade,
por conta da natureza do seu curso –, o resumo deve apresentar o problema e/ou a justificativa da pesquisa,
o(s) objetivo(s), a metodologia, os resultados e a conclusão. Veja o resumo abaixo.

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Justificativa da
Resumo 1
pesquisa /
Problema
Células hematopoiéticas estão sendo intensamente investigadas devido a seu potencial
como alvo de terapia gênica. Tem sido mostrado entretanto que a transferência de genes
exógenos pode alterar biologicamente as células alvo, diminuindo sua capacidade de
Objetivo
proliferação e diferenciação. O presente trabalho teve como objetivo a análise das
características biológicas de células da linhagem hematopoiética K562, previamente
transfectadas com o gene repórter egfp (enhanced green fluorescent protein), cuja Metodologia
expressão é detectada por citometria de fluxo. Células K562 transfectadas ou normais
foram cultivadas em diferentes condições, e comparadas com relação a diferentes
parâmetros que incluiram a expressão de marcadores de superfície. Os principais
resultados encontrados foram: (1) quando cultivadas na ausência de pressão seletiva, a
Resultados
expressão do gene repórter mostrou um rápido declínio; (2) células K562 transfectadas
apresentaram uma capacidade mitótica diminuída quando co-cultivadas com células K562
normais, em diferentes concentrações; e (3) os níveis das moléculas de adesão CD11c,
CD31 (baixo) e CD49e (alto) não foram afetados pela transfecção, enquanto a baixa
expressão dos marcadores CD62L e CD117 mostraram uma tendência a aumentar nas Conclusão
células transfectadas. Estes resultados mostram que dois dos principais problemas dos
protocolos de terapia gênica, manutenção da expressão do transgene e expansão das
células transfectadas, podem ser analisados para correção in vitro.
Motta-Roth e Hendges (2010, p. 155) apontam algumas variações possíveis:

1. Objetivo(s); metodologia; resultado(s); conclusão(ões);


2. Objetivo(s); metodologia; resultado(s);
3. Objetivo(s); metodologia; resultado(s); validade dos resultados; conclusão(ões); aplicações.

Em algumas áreas, como a da medicina, é comum o resumo já apresentar as informações marcadas por
meio de subtítulos. Tal recurso busca guiar o leitor no processamento das ‘peças’ de informação da pesquisa
realizada, como vemos no próximo texto.

Resumo 2

OBJETIVO: Analisar o consumo alimentar, o ambiente socioeconômico, a frequência de anemia


ferropriva e o estado nutricional de pré-escolares.

MÉTODOS: A população estudada constituiu-se de 89 crianças de 24 a 72 meses de idade, assistidas


em creches municipais de Viçosa, MG. Foram avaliados: nível de hemoglobina, peso, estatura, presença
de parasitose, consumo alimentar dos pré-escolares e o perfil biossocioeconômico de suas famílias.

RESULTADOS: O estado nutricional do grupo foi considerado satisfatório, e a prevalência de anemia


relativamente baixa (11,2%). Condições adequadas de saneamento, nível razoável de escolaridade dos
pais, baixo número de filhos e ausência de parasitas envolvidos com a gênese da anemia podem justificar
o perfil observado. Não foi observada associação da anemia ferropriva nem com desnutrição nem com
parasitose.
CONCLUSÃO: Apesar de alguns fatores biossocioeconômicos apresentarem-se favoráveis ao estado
nutricional e à baixa prevalência de anemia, observa-se, entretanto, que a insuficiente renda per capita
e a dieta deficiente poderão levar esse grupo de pré-escolares, no futuro, a um pior estado de saúde.

Quando o resumo não apresenta esses subtítulos, é necessário ter o cuidado de fornecer pistas por meio
de marcadores, itens lexicais que caracterizam as informações que representam as diferentes seções do trabalho.
Dessa forma, o resumo ficará mais claro e o leitor poderá encontrar a informação que deseja mais facilmente,
guiado justamente por essas marcas, como ocorre no Resumo 1 acima.

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Alertamos que esse tipo de resumo com subtítulos NÃO será adotado nos nossos textos, porque não é
comum na área de Engenharia.

2.2.2 CARACTERÍSTICAS LINGUÍSTICAS DO RESUMO ACADÊMICO

a) Verbos no pretérito perfeito (simples e composto) e presente do indicativo, terceira pessoa, voz
passiva;
b) Sentenças declarativas, sem abreviações;
c) Linguagem econômica com sentenças simples, evitando redundâncias tais como exemplos,
ilustrações, excesso de detalhes.

Exercícios

1. Que informações estão presentes no Texto 1 e 2 (resumos retirados de revistas


especializadas)? Identifique os marcadores que caracterizam as informações correspondentes
às diferentes seções do trabalho.

Texto 1

Avaliaram-se as características fermentativas e a composição químico-bromatológica de silagens de capim-


elefante contendo níveis crescentes de subproduto desidratado do maracujá (SDM). Foram testados cinco
níveis de SDM (0,0; 3,5; 7,0; 10,5 e 14,0%) em relação à matéria natural do capim, em um delineamento
inteiramente casualizado, com quatro repetições. A gramínea foi cortada aos 60 dias de idade, triturada e
ensilada, obtendo-se densidade de 600 kg/m³. Após 28 dias, os silos foram abertos e amostras foram coletadas
para análises laboratoriais. Os níveis crescentes de SDM tiveram efeito linear crescente sobre o teor de MS
das silagens e efeito linear decrescente sobre o teor de ácido propiônico. Houve efeito quadrático com ponto
de máximo para o teor de ácido lático. Os teores de ácido butírico foram desprezíveis. Os valores de pH e os
teores de N-amoniacal, de ácido acético e de FDA não foram afetados. Verificou-se efeito linear dos níveis
crescentes de SDM sobre os teores de PB e de EE das silagens. Os teores de FDN e hemicelulose das silagens
foram afetados pelos níveis crescentes de SDM, com resposta linear decrescente. A adição de SDM na
ensilagem do capim-elefante favoreceu o processo fermentativo e melhorou a composição químico-
bromatológica das silagens, portanto, esse subproduto pode ser utilizado em quantidades de até 14% em
relação à matéria natural da gramínea.

(CÂNDIDO, Magno José Duarte et al. Características fermentativas e composição química de silagens de capim-
elefante contendo subproduto desidratado do maracujá. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.5, out. 2007.)

Texto 2

Este trabalho teve como objetivo avaliar o potencial de maturação das cultivares Pinot Noir, Tempranillo, Merlot,
Cabernet Sauvignon, Syrah, Chardonnay e Sauvignon Blanc submetidas ao regime de dupla poda, em
Cordislândia, região cafeeira do sul de Minas Gerais. As plantas foram submetidas a dois ciclos de produção,
um de primavera-verão, compreendido entre agosto e janeiro, e outro ciclo de outono-inverno, entre janeiro e
julho. Como parâmetros de qualidade, foram avaliados os diâmetros transversal e longitudinal da baga, acidez,
ácidos tartárico e málico, pH, sólidos solúveis, antocianinas, fenólicos totais e os teores de glicose, frutose e
sacarose. Todas as variedades apresentaram maiores teores de pH, sólidos solúveis, açúcares, antocianinas

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e fenólicos totais, e redução nos diâmetros transversal e longitudinal na safra de inverno. A cultivar Syrah
destacou-se das demais no conteúdo de antocianinas e fenólicos totais tanto no verão quanto no inverno,
entretanto apresentou o menor conteúdo de açúcares. A alteração do ciclo de produção da videira através da
técnica da dupla poda para colheita, no período de inverno, na região cafeeira de Minas Gerais, favorece a
maturação dos frutos e melhora consideravelmente a qualidade das uvas para vinificação.

(MOTA, Renata Vieira da et al. Composição físico-química de uvas para vinho fino em cilos de verão e inverno.
Revista Brasileira de Fruticultura, v.32 n. 4, dez. 2010.)

2. O seguinte texto divulga uma pesquisa científica. A partir das suas informações, redija (em no
máximo 8 linhas) um resumo acadêmico, fazendo as adaptações necessárias para adequá-lo a
esse gênero.

Mais uma vez, as ovelhas. Seis delas, da raça Grivette, recebem toda a atenção de cientistas
franceses no desenvolvimento de uma técnica para que mulheres que ficaram estéreis em tratamentos contra
o câncer possam recuperar a capacidade de reprodução.
O estudo foi apresentado ontem durante o 17º Encontro da Sociedade Européia de Reprodução
Humana e Embriologia, que ocorre em Lausanne, Suíça.
Entre setembro de 1999 e janeiro de 2000, cientistas do Departamento de Medicina Reprodutiva do
Hospital Edouard Herriot, em Lyon, retiraram um dos ovários das seis ovelhas. Os órgãos foram cortados,
congelados e armazenados em nitrogênio líquido, a uma temperatura de –196ºC, por períodos de até 45 dias.
Pesquisadores então descongelaram os pedaços de ovário, que foram incubados por 30 minutos.
Depois os tecidos foram enxertados de volta nas ovelhas, no lugar dos ovários extirpados.
De dois a quatro meses depois dos enxertos, os tecidos cresceram recompondo aos poucos os ovários,
que voltaram a funcionar, produzindo hormônios. Segundo especialistas, a área em que ficam os órgãos é
muito vascularizada, daí a rapidez. No verão do ano passado, quatro das ovelhas ficaram grávidas de seis
filhotes, dos quais três ainda estão vivos. Um morreu logo após o nascimento e outros dois não resistiram
após nascerem prematuros.
Segundo os pesquisadores, não há relação entre as mortes e a técnica. Para o grupo, o sucesso com
as ovelhas traz esperanças para mulheres esterilizadas por tratamento contra o câncer, como a quimioterapia
e a radioterapia. (...) (Folha de S.Paulo, 3/7/2001, p. A-10)

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