Analise de O Estado Atual Do Biodireito
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Material examinado:
DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. 4.ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2007.
Obra examinada
Ao lado de A Alma do Embrião Humano, de LUIZ CARLOS LODI DA CRUZ e de
Metafísica, de ARISTÓTELES (ver aqui), começamos agora um estudo de O estado atual do
biodireito, de MARIA HELENA DINIZ.
1
DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. 4.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 1.
2
DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. 4.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 1-5.
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Sobre todos os pontos acima, todos impressionantes (sim: é bom que haja espanto
diante das questões), confesso que o ponto sobre a figura do “ser híbrido” foi a que mais me
impressionou (utilização de óvulo de macaco com sêmen humano). Aparentemente, este
tipo de trabalho vem sendo desenvolvido (não sei, ao certo, o que foi ou não foi feito) por
CRISTINA EGUIZABAL, NURIA MONTSERRAT, ANNA VEIGA e JUAN CARLOS IZPISÚA
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Dicen que ya está al alcance del laboratorio, pese a que los próprios cientificos no
parecen estar muy de acuerdo. Los avances en biología genética anuncian ya el
nacimiento del primer humanoide, um híbrido entre mono y hombre, um ser
extraño que deja em pañales la ciencia ficción para saltar a la más monstruosa
realidad.
[...].
La escena parecia sacada de uma vieja película barata (ahora se pueden ver
espantos mejor pensados), pero no se trata de fantaciencia. Es muy problable que
lo descrito ocurra antes que se inicie – ya falta poco – el famoso tercer milenio de
la era cristiana. La creación del hombre-mono (es um decir: podría nacer hembra)
es ya uma hipótesis tan real de la biogenética que suscita escándalo. Hace dos
semanas, un antropólogo italiano, profesor em la Universidad de Florencia, lanzó
uma alarmada denuncia, atrayendo sobre sí, como um pararrayos, uma
avalancha de protestas. Hasta la comunidad académica florentina atacó a
Brunetto Chiarelli por haber dicho: “Me consta que un experimento fue iniciado
em Estados Unidos”.
[...]
El escándalo y la preocupación se propagaron com rapidez a los cuatro vientos,
lo que demuestra que el profesor Chiarelli pegó el grito en el momento justo. The
New York Times decidió ocuparse a fondo del tema y em Francia se recordo que el
presidente Miterrand ha creado uma comisión oficial de bioética, presidida por el
profesor Jean Bernard, cuyas conclusiones han sido consideradas como um
ultimatum: durante tres años no se podrán hacer experiencias con embriones
humanos em los laboratorios franceses. Tampoco realizar manipulaciones y
transplantes entre seres humanos y animales. No se podrán vender embriones,
como ya sucede en Chicago, Estados Unidos, y se dispone um severo control sobre
los embriones humanos conservados para la fecundación en probeta.
También em Gran Betraña se ha creado el Comitê Warnock para poner freno a la
gran tentación de atravessar la frágil frontera que divide las manipulaciones
genéticas entre animales y seres humanos4.
3
Cf. EGUIZABAL, Cristina; MONTSERRAT, Nuria; VEIGA, Anna; IZPISÚA BELMONTE, Juan Carlos.
Dedifferentiation, Transdifferentiation, and Reprogramming: Future Directions in Regenerative Medicine.
Future Directions in Regenerative Medicine, v. 31, n.º 1, 2013, p. 82-94.
4
SANTIBÁÑEZ, Abraham. Periodismo interpretativo. Santiago: Editorial Andres Bello, 1995, p. 261-262.
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originando um novo ramo do saber, qual seja, a bioética” 5. Por isso, é necessária “uma
‘biologização’ ou ‘medicalização’ da lei, pois não há como desvincular as ‘ciências da vida’
do direito”6. Como se sabe, toda estrutura de (verdadeiro) direito natural pressupõe uma
ordem, pautada por uma transcendência (por isso nossos esforços com Metafísica, de
ARISTÓTELES [aqui] e com a Suma Teológica, de SANTO TOMÁS DE AQUINO [aqui]).
Evidentemente, a ordem social e civilizacional pressuporá, assim, encadeamento e harmonia
diante dos próprios aspectos ontológicos da vida humana. O direito à vida passa pela
constatação lógico-objetiva de que é impossível construir uma civilização sem vida. Inexiste
“ordem social fúnebre”. Sendo a vida elemento inexorável da pessoa, então naturalmente a
sua vida é um direito. E, sendo direito natural, a vida espraia deveres e sujeições diante de
toda a sociedade. Não fosse assim, então não teríamos obrigação alguma de respeitar
situações jurídicas alheias (impregnadas à natureza ontológica dos outros). Antes de qualquer
direito fundamental, há a vida. É impossível cogitar-se, só para exemplificar, de um “direito
de propriedade da pessoa morta”. Aliás, a morte é fato jurídico stricto sensu que encerra a
personalidade jurídica (não por acaso, abre a sucessão).
Tudo o que dito acima justifica – mesmo na concepção kantiana – a impossibilidade
jurídica de “auto-escravatura”, pois ninguém é “autoproprietário” de si. Seria de grande
monstruosidade lógica pensar-se numa “posse de alguém nele mesmo”. O leitor não tem
“posse” de sua vida; a sua vida É vida (verbo ser, não ter). O direito de propriedade,
reconhecidamente fundamental, não passa de uma faculdade do homem: a utilização das
potencialidades da coisa (para nos apegarmos aos aspectos linguísticos de ARISTÓTELES), de
maneira que a apropriação desta acarreta num uso (em prol da vida). Se isto satisfaz a própria
existência humana, então há uma categoria própria do direito natural. Qualquer ordem
social só existe com a vida. O bem, assim, está impregnado na ação ou omissão que procure
a manutenção da vida e dos aspectos de sociedade que satisfaçam-na. Daí a lógica detrás do
princípio da justiça: segundo RÉGIS JOLIVET, “a justiça consiste na vontade firme e constante de
dar a cada um o que lhe é devido”, supondo ela duas condições necessárias: “a) A distinção de
pessoas em que existem correlativamente um direito e um dever de justiça; b) A especificação
de um objeto, que pertence a uma delas e que deve ser respeitado, devolvido ou restabelecido
em sua integridade pela outra”7. Daí se afirmar, ainda, que a lei natural é transcendente,
pois abraça qualquer civilização bem-sucedida, com variações imanentais aqui e ali. Lembre-
se, ademais, que, no paradigma filosófico grego, a intelectualidade revela-se como potência,
vocacionada ao vislumbrar da verdade (conceito de ser ao lado do bem e da beleza). Sendo
assim, é seguro afirmar que a inteligência é atributo destinado ao captar do ser como
verdade. E a verdade é um juízo de ajustamento do intelecto ao ser. A regra da lei natural é
5
DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. 4.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 5.
6
DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. 4.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 8.
7
JOLIVET, Régis. Curso de Filosofia. Trad. Eduardo Prado de Mendonça. 4.ª ed. Rio de Janeiro: Livraria
Agir Editora, 1959, p. 394.
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captada pela razão humana, de maneira que o intelecto apreende o que é fazer o bem
(caridade, bondade, justiça, boa-fé), evitando o mal.
Origem do termo “bioética”: segundo MARIA HELENA DINIZ, a primeira vez
de utilização do termo se deu pelo oncologista e biólogo VAN RENSSELAER POTTER (EUA),
na obra Bioethics: bridge to the future, de 1971, embora com sentido ecológico. Por outro
lado, ANDRÉ HELLEGERS utilizou a palavra com sentido totalmente diverso, passando a
considerar a bioética como “ética das ciências da vida” (“[...] a Belgian gynaecologist then at the
Kennedy Institute of Ethics established at Georgetown University, proposed a link between humanistic
thinking and the practice of medicine”, como diz FERNANDO LOLAS STEPKE8-9). A bioética seria,
assim, uma ética biomédica (como prefere, aliás, JEAN PIERRE MARC-VERGNES). E tal ideia
acabou se sedimentando na obra The principles of bioethics de TOM L. BEAUCHAMP e de JAMES
F. CHILDRESS, de 1979. No ano de 1978, a Encyclopedia of bioethics definiu a bioética como
“estudo sistemático da conduta humana no campo das ciências da vida e da saúde, enquanto
examinada à luz dos valores e princípios morais” 10. Enfim: “a bioética seria, então, um
conjunto de reflexões filosóficas e morais sobre a vida em geral e sobre as
práticas médicas em particular”11. E o paradigma dela é “o valor supremo da pessoa
humana, de sua vida, dignidade e liberdade ou autonomia”12.
Por outro lado, há quem defenda que não há inovação alguma na palavra “bioética”,
que só seria original do ponto de vista filológico, por assim dizer. P. ex.: ELENI
KALOKAIRINOU sustenta que, deixando de lado a palavra “bioética” para, ao invés disso,
encararmos os tipos de problemas éticos suscitados com as ciências biomédicas, então nos
daremos conta de que, muito antes de VAN RENSSELAER POTTER, filósofos de toda ordem
temporal investigaram e tentaram responder as mesmas perguntas que hoje formulamos.
Leia-se:
Gilbert Hottois, for instance, in his book, Qu’ est-ce que la Bioéthique? argues
that it was the American oncologist Van Rensselaer Potter who first used the term
“Bioethics” in his article, “Bioethics, the science of survival”, which was then
included in his book, Bioethics: Bridge to the Future in 1971. A number of
publications following Potter’s introduction of the term further support the idea
that it was the American scientists’ and philosophers’ concern about the ethical
dilemmas, raised by the development of medical sciences and technologies, which
gives rise to this new interdisciplinary science called Bioethics. But if we leave the
term aside and, instead, concentrate on the kind of ethical problems which the
8
LOLAS STEPKE, Fernando. Bioethics at the pan american health organization. Origins, development, and
challenges. Acta Bioethica, 2006, n.º 12, p. 113-114.
9
Sobre a vida de ANDRÉ HELLEGERS na Igreja Católica e sobre o Kennedy Institute of Ethics, com riqueza de
detalhes, cf. THAM, Joseph. The Secularization of Bioethics: A Critical History, 2007, p. 93-97 e 247-248.
10
DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. 4.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 9.
11
DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. 4.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 11.
12
DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. 4.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 12.
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WILLIAM LANE CRAIG: há muitas coisas que não podem ser explicadas cientificamente, como
i) verdades lógicas e matemáticas, já que a própria ciência as pressupõe; ii) verdades
metafísicas; iii) crenças axiológicas (no exemplo memorável: “você não pode mostrar, pela
ciência, se os nazistas nos campos de concentração fizeram algo mau em contraste com os
‘cientistas das democracias’ ocidentais”); iv) juízos de estética; v) a ciência nela mesma, que
não pode ser explicada pelo método científico (p. ex.: “na teoria especial da relatividade, a
teoria toda depende da suposição de que a velocidade da luz é constante entre quaisquer
pontos A e B, mas isso estritamente não pode ser provado”, de maneira que devemos apenas
supor isso) etc.
Enfim: “com o reconhecimento do respeito à dignidade humana, a
bioética e o biodireito passam a ter um sentido humanista, estabelecendo um
vínculo com a justiça [...]. Se em algum lugar houver qualquer ato que não
assegure a dignidade humana, ela deverá ser repudiada por contrariar as
exigências ético-jurídicas dos direitos humanos”19.
Bibliografia
DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. 4.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
19
DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. 4.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 18-19.
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JOLIVET, Régis. Curso de Filosofia. Trad. Eduardo Prado de Mendonça. 4.ª ed. Rio
de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1959.
MENTIL, Stefano. La riflessione bioetica di Pio XII. Trieste, Edizioni Meudon, 2017.