TESE - Ana Filipa Leal TOM
TESE - Ana Filipa Leal TOM
TESE - Ana Filipa Leal TOM
Coimbra
Setembro, 2014
Resumo
Abstract
The theory of mind, understood as the ability to attribute mental states - thoughts,
beliefs, emotions - to the self and others, predicting their behavior, is a decisive factor in
the creation of social relationships. At pre-school age, it emerges as a landmark of a
normative development at the level of child socio-cognitive skills. The inexistence of a
capable instrument for accessing pre-school children’s theory of mind in the Portuguese
language marks the main goal of this study, which is the Portuguese adaptation of "Theory
of Mind Task Battery" of Hutchins, Prelock, & Chace (2008), using a sample of children
between 3 and 5 years of age. It was found that the Portuguese version of the instrument
has acceptable internal consistency for research purposes. In addition, we studied the
relationship between child language skills, the mother's internal attachment pattern and
the existence of brothers in the development of theory of mind. It was concluded that
there is a relationship of interdependence between language and theory of mind
development and, the fact that mother feel comfortable with the closeness in their intimate
relationships, negatively influence the development of children's theory of mind. In this
study, the presence of brothers was not significant.
Keywords: Theory of Mind, preschool age, language, attachment.
Lista de Abreviaturas
Introdução ....................................................................................................................... 1
II - Objetivos ................................................................................................................. 27
3.2.2. Bateria de Tarefas para avaliação da Teoria da Mente (Theory of Mind Task
Battery) 33
3.3. Procedimento............................................................................................................... 38
IV - Resultados .............................................................................................................. 40
4.1. Avaliação das qualidades psicométricas da versão portuguesa do ToM Task Battery –
Bateria de Tarefas para Avaliação da Teoria da Mente (BTATM) ......................................... 40
VI - Conclusão............................................................................................................... 64
APÊNDICES
1 – Pedido de autorização ao Agrupamento de Escolas das Marinhas
2 – Pedido de autorização aos Encarregados de Educação
As crianças são vistas como tendo crenças e teorias sobre si próprias e o mundo
(Olson & Astington, 1993). Ao aprenderem sobre a mente, as crianças aprendem sobre
crenças e conhecimento, sobre pensar e imaginar e sobre o papel da inferência e evidência
na formação das crenças (Olson & Astington, 1993). A capacidade da criança
compreender a mente é crítica para a interação humana (Saracho, 2014), uma vez que a
compreensão dos pensamentos, sentimentos, conhecimentos e desejos dos outros, é
essencial para uma comunicação competente e eficaz (Miller, 2006). Sem teoria da mente
corríamos a risco de fornecer demasiada informação aos outros, ou pelo contrário, não
dar informação suficiente; sem teoria da mente poderíamos magoar os outros, confundi-
los ou aborrecê-los. Com teoria da mente somos capazes de perceber o que os outros
precisam e sabem (Miller, 2006).
Assim, entende-se por teoria da mente a capacidade de atribuir estados mentais (e.g.
crenças, intenções, desejos, conhecimento, simulações/fingimento) a si mesmo e aos
outros, reconhecendo que os outros têm crenças, desejos e intenções diferentes de si
mesmo. É também a capacidade de fazer deduções sobre o que as outras pessoas pensam,
Piaget foi também o primeiro autor a investigar a concepção das crianças sobre a
sua vida mental, perguntando às crianças de onde vinham os sonhos ou com o que é que
pensavam. Com base nas respostas obtidas, concluiu que as crianças com menos de 6
anos não conseguiam distinguir entre pensamentos ou sonhos e entidades físicas reais
(Papalia et al, 2001). Contudo, Piaget parece ter subestimado as capacidades das crianças
pré-operatórias. A investigação recente, usando tarefas e linguagem mais adequadas à
idade das crianças, mostrou que algumas capacidades parecem desenvolver-se mais cedo
do que Piaget tinha sugerido, e também que muitas crianças se mostram mais competentes
do que Piaget tinha achado possível (Mitchell & Ziegler, 2013; Papalia et al, 2001).
1
Ao ajudar a mãe a arrumar as compras, Maxi coloca o chocolate que a mãe comprou no armário azul e sai
para brincar. Enquanto está fora, a mãe do Maxi utiliza um pouco de chocolate para fazer um bolo e ao
arrumá-lo, troca-o de lugar, colocando-o no armário verde. Quando o Maxi volta para casa, com fome e
com vontade de comer chocolate, vai procurá-lo. As crianças foram questionadas sobre o local onde o Maxi
iria procurar o chocolate (Wimmer & Perner, 1983).
2
Era mostrado à criança uma caixa de smarties® com lápis lá dentro. Primeiro o investigador mostrava à
criança a caixa fechada, revelando depois o seu conteúdo. De seguida, o investigador mostrava que a caixa
continha lápis e não doces, e a criança era questionada sobre o que outra criança acharia que estava dentro
da caixa (Mitchell & Ziegler, 2013).
Flavell (2004) referencia estudos mais recentes (Repacholi & Slaughter, 2003
referenciado por Flavell, 2004), nos quais se conclui que o desenvolvimento da teoria da
mente nas crianças traz consequências no seu comportamento social, nomeadamente o
facto de crianças com uma compreensão mais avançada, pricipalmente das crenças falsas,
tenderem a ter relações sociais mais satisfatórias, sendo-lhes reconhecidas melhores
competências sociais. Contudo, uma conclusão interessante e contarditória é a evidência
de que as competências da teoria da mente podem ser utilizadas com propósitos anti-
sociais: crianças intimidatórias (que fazem bullying) e adultos sociopatas, aplicam
constantemente as suas competências de mindreading, ou seja, de ler a mente, ou prever
comportamentos, com fins anti-sociais (Repacholi & Slaughter, 2003 citado por Flavell,
2004).
Os estudos realizados ao longo dos últimos 30 anos permitem perceber que a Teoria
da Mente se desenvolve de forma gradual (Astington & Edward, 2010; Gopnik &
Wellman, 1992). Se na primeira infância, a interação social do bebé acontece de forma
intuitiva, na idade pré-escolar o conhecimento social já é refletido (Astington & Edward,
2010). Enquanto que as crianças de 2 anos possuem uma teoria precoce, na qual os desejos
determinam ações (Astington, 2001), não existindo nesta altura representação de estados
mentais (Gopnik & Wellman, 1992), aos 3 anos as crianças percebem que as pessoas
podem querer e gostar de coisas diferentes – teoria de desejo-perceção (Gopnik &
Wellman, 1992); aos 4 e 5 anos, as crianças entendem que as pessoas podem pensar de
forma diferente, compreendendo que, por vezes, aquilo que uma pessoa acredita ser
Mas serão estes resultados transversais a todas as culturas? No seu artigo de revisão,
Wellman (2012) compara os resultados de estudos realizados em crianças dos 2 anos e
meio aos 7 anos, de vários países e culturas (Austrália, Canada, Estados Unidos da
América, Inglaterra, Áustria, China e Japão) em que foram aplicadas tarefas de crenças
falsas, concluindo que, todas as crianças apresentam a mesma trajetória de desempenho
nas tarefas de avaliação da teoria da mente, independentemente da cultura oriental ou
ocidental, o que é também verdade para crianças em sociedades tradicionalmente
aliteradas. Ao longo da idade pré-escolar, em qualquer lugar, as crianças desenvolvem
uma compreensão explícita das crenças falsas (Wellman, 2012). Elas vão percebendo que
as ações de uma pessoa são controladas de forma importante pelo que ela própria pensa,
e não apenas pela realidade em si (Wellman, 2012). Os dados recolhidos até ao momento
comprovam claramente que este tipo de compreensão das crenças falsas são uma
conquista desenvolvimental, até pelo que as tarefas de avaliação da teoria de mente foram
aplicadas em todo o mundo, a muitas crianças, de múltiplas comunidades culturais, com
diferentes línguas (Wellman, 2012). Assim, a análise dos estudos de avaliação de teoria
da mente realizados em diversos países demonstram universalidade, mas também alguma
variabilidade, isto é, algumas crianças são mais rápidas que outras na aquisição da
compreensão sobre a teoria da mente. Esta variabilidade pode dizer respeito ao como e
quanto as crianças em idade pré-escolar falam sobre pessoas no seu quotidiano, as suas
aptidões sociais e popularidade entre os pares (Wellman, 2012). Estas conclusões são
importantes para perceber a relevância da teoria da mente na vida real e que algo definido
e importante acontece no entendimento da teoria da mente, na idade pré-escolar
(Wellman, 2012).
10
11
Por fim, a terceira corrente teórica proposta por Flavell (1999) refere-se à Teoria
da Simulação (Leslie, 1987; Harris, 1992), segundo a qual as crianças se tornam aptas
para agilizar estados mentais de outras pessoas através de um processo de simulação ou
role-taking (assumir o papel do outro, pôr-se no lugar do outro). Para estes autores, o que
desenvolve a teoria da mente é a habilidade para as simulações deste tipo, sendo que a
experiência desempenha um papel formativo importante, sendo através da prática de se
colocar no lugar dos outros, que as crianças desenvolvem as suas capacidades de
simulação (Flavell, 1999; 2004). Leslie (1987) afirma que existe uma forte relação entre
a capacidade da criança fingir e a capacidade para compreender a mente de outros (e.g. a
criança finge que uma banana é um telefone). O facto da criança fingir e aparentemente
compreender que os outros também podem fingir, conduz a que a brincadeira ou jogo de
simular/fingir (e.g. metarrepresentar) represente um exemplo da capacidade precoce de
ler a mente (Leslie, 1987) e o início do aparecimento de uma habilidade para desenvolver
estados mentais (Saracho, 2014). Assim, para os autores da Teoria da Simulação, as
crianças estão introspetivamente atentas aos seus próprios estados mentais, usando essa
atenção para inferir estados mentais em outras pessoas, através de um processo de
simulação (Flavell, 1999) isto é, considerando a sua própria mente, a criança consegue
prever estados mentais de outras pessoas, assim como os comportamentos que deles
resultam. A criança simula ou prevê o comportamento dos outros com base no que
conhece (Gopnik & Wellman, 1992). Os processos de simulação mental são importantes
na aquisição de conhecimento e aptidões sócio-cognitivas (Flavell, 1999).
12
Finalmente, Flavell (2004) propõe que uma teoria adequada para explicar o
desenvolvimento da teoria da mente deveria incluir elementos de cada uma das perpetivas
abordadas anteriormente.
Por este motivo, parece lógico que a melhor forma de avaliar a teoria da mente seja
através da aplicação de uma tarefa de crença falsa (e.g. Gopnik & Astington, 1988;
Wimmer & Perner, 1983). Contudo, têm surgido estudos que mostram evidência de que
existem estados mentais mais simples, que antecedem a compreensão da crença falsa (e.g.
Peterson & Slaugther, 2006; Wellman & Liu, 2004). Por outro lado, as tarefas de crenças
falsas têm um nível de dificuldade desnecessário, dificultando a compreensão das mesmas
13
Segundo Wellman (2012), a criança pode saber (ou não saber) sobre pessoas e
mentes, nomeadamente perceber que as pessoas têm desejos diferentes e até desejos
diferentes pela mesma coisa (desejos diferentes -DD); as pessoas podem ter diferentes
crenças e até diferentes crenças sobre uma mesma situação (crenças diferentes - CD);
uma coisa pode ser verdadeira, mas alguém pode não saber isso (acesso ao conhecimento
- AC); uma coisa pode ser verdadeira, mas alguém pode acreditar falsamente em algo
diferente (crença falsa - CF); e uma pessoa pode sentir-se de uma forma, mas demonstrar
uma emoção diferente (emoção escondida - EE). Estas noções capturam aspetos da
subjetividade mental.
14
15
16
A apoiar este pressuposto, nas últimas décadas surgiram também estudos com
crianças com déficit auditivo (e.g. Peterson & Siegal, 1995, citado por Martins et al, 2008;
Peterson & Siegal, 1999). É conhecido que as crianças com perturbação do espetro autista
têm dificuldades com a teoria da mente (Baron-Cohen, 1996; Baron-Cohen et al, 1985),
contudo, as crianças com perturbações da linguagem também podem estar em risco
(Miller, 2006). Na sua investigação, Peterson & Siegal (1999) procuraram estudar se os
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18
Por fim, o facto de não haver consenso na evidência científica de que a linguagem
precede a teoria da mente ou a teoria da mente precede a linguagem, leva-nos a pensar
que estas duas faculdades evoluem e influenciam-se simultaneamente (Malle, 2002). É
possível que a linguagem e as estruturas cognitivas envolvidas na compreensão das
tarefas de crenças falsas possam partilhar certas estruturas que lhes proporcionam um
desenvolvimento similar (Deleau, 2012), isto é, é possível que o desenvolvimento da
linguagem e da teoria da mente dependam do mesmo fator. Miller (2006) afirma que, no
desenvolvimento dito normal, a teoria da mente e a linguagem estão tão proximamente
relacionadas, que muitas vezes esta interdependência pode não ser reconhecida. Por um
lado, as capacidades linguísticas produzem e suportam o desenvolvimento da teoria da
mente, enquanto que simultaneamente, a sofisticação da teoria da mente permite
comunicar com significado (Astington, 2001; Miller, 2006; Milligan, Astington, & Dack,
2007).
Assim, mais importante do que declarar uma relação causal entre linguagem e teoria
da mente, ou produzir afirmações sobre a direção dessa relação, será reconhecer a sua
interdependência, utilizando esse conhecimento para avaliar e intervir em crianças com
problemas de desenvolvimento (Miller, 2006).
19
1.3.1. Vinculação
Tem sido proposto que, tanto as relações sociais precoces como a compreensão
social se baseiam em modelos de auto e hétero compreensão (Symons, 2004), facto
defendido pelos teóricos da vinculação, segundo quais a qualidade da vinculação
influencia a forma como a criança se compreende a si própria e aos outros (Bowlby,
1982/1985; Bowlby, 1988). Deste modo, a investigação tem examinado as relações entre
a segurança da vinculação e a compreensão social/teoria da mente.
Nos anos 50, John Bowlby propôs um conjunto de conceitos originais – Teoria da
Vinculação, para descrever o laço primário da criança com os seus cuidadores
(tendencialmente a ênfase é dada à mãe) (Guedeney, 2004), que manifestava a
necessidade básica do estabelecimento de pelo menos uma relação afetiva estável,
continuada e significativa ao longo da vida, para que o desenvolvimento ocorresse de
forma harmoniosa (Machado, 2009). Este laço é determinado biologicamente, uma vez
que a criança é detentora de uma capacidade inata para emitir sinais, aos quais o adulto
está biologicamente predisposto a responder, fomentando assim, o desenvolvimento da
vinculação (Bowlby, 1982/1985). O objetivo da vinculação é alcançar e manter a
proximidade com uma pessoa, claramente identificada, considerada mais apta para lidar
com o mundo e capaz de conferir proteção (Bowlby, 1988). Apesar de ser mais óbvia
durante a infância, o comportamento vinculativo pode ser observado ao longo de todo o
20
3
Situação Estranha – Estudo através da observação de uma situação controlada: a mãe e a criança (com
cerca de um ano) são colocadas numa sala, com brinquedos, onde a criança pode explorar livremente. Uma
pessoa estranha entra na sala, fala com a mãe e tenta interagir com a criança. Posteriormente, a mãe sai da
sala discretamente, deixando a criança com o estranho, entrando de seguida para confortar a criança. De
seguida, tanto a mãe como o estranho saem da sala, deixando a criança sozinha. Por fim, a mãe volta a
entrar na sala e tenta confortar a criança (Music, 2011).
21
No entanto, estes resultados são contrapostos por Ontai & Thompson (2008),
segundo quais, a segurança da vinculação, por si só, não prediz o desenvolvimento da
teoria da mente. Esta disparidade dos resultados poderá ser justificada pela intervenção
de variáveis (e.g. discurso materno) que influenciam a dita relação entre a segurança da
vinculação e a teoria da mente (Ontai & Thompson, 2008). No mesmo estudo, os autores
encontraram antes, relação significativa entre o discurso materno e o desempenho da
criança nas tarefas de crenças falsas, afirmando que o discurso materno acerca dos estados
mentais (mental state talk) será uma importante base para o desenvolvimento da
compreensão social, por parte da criança. Esta afirmação é sutentada por outras
investigações (e.g. Ruffman, Slade, & Crowe, 2002; Laranjo, Bernier, Meins, & Carlson,
2014).
22
Assim, e por tudo o que já foi dito, é então expectável que um padrão de vinculação
segura induza o desenvolvimento da teoria da mente. Mas existirá diferença na influência
exercida pelos padrões de vinculação insegura (ambivalente e de evitamento) na
compreensão dos estados mentais? Um estudo italiano recente (c.f. Hünefeldt, Laghi, &
Ortu, 2013) feito com adolescentes revela que, contariamente às expectativas, o padrão
de vinculação insegura ambivalente está associado a uma menor competência de teoria
da mente do que o padrão de vinculação insegura de evitamento. Os autores explicam
estes resultados com o facto da inconsistência e imprevisibilidade do comportamento do
cuidador no padrão ambivalente, incitar uma hiperativação do desenvolvimento de
estratégias de vinculação ansiosas no adolescente, o que dificulta ou impede o
desenvolvimento da teoria da mente.
23
24
Por sua vez, um estudo iraniano confirma que as crianças sem irmãos, em idade
pré-escolar, apresentam um atraso no domínio da teoria da mente, relativamente às
crianças com irmãos (Farhadian, Ganizad, & Shakerian, 2011). Neste caso, os autores
perceberam que o facto dos irmãos serem mais velhos se relacionava significativamente
com a compreensão da mente (Farhadian et al, 2011). No que diz repeito a irmãos gémeos,
um estudo comparativo entre crianças com irmãos, com irmãos gémeos e crianças sem
irmãos, entre os 3 e os 5 anos, revelou que o facto de existir um irmão gémeo não traz
vantagem no desempenho das tarefas de teoria da mente (Cassidy, Fineberg, Brown, &
Perkins, 2005).
Um estudo grego, que procurou perceber qual a influência das diferentes relações
sociais da criança no seu quotidiano, confirma que as crianças, neste caso entre os 3 e 4
anos, com irmãos, estão em vantagem relativamente às crianças sem irmãos (Lewis,
Freeman, Kyriakidou, Maridaki-Kassotaki, & Berridge, 1996). Contudo, a descoberta
mais importante deste estudo foi perceber que existia um factor social ainda mais
relevante na compreensão das crenças falsas: quanto mais a criança se relacionava com
adultos no seu dia-a-dia, mais facilmente reconhecia crenças falsas. Os autores afirmam,
que por coincidência, quantos mais irmãos a criança tinha, mais se relacionava com
adultos no seu quotidiano. Lewis et al (1996) concluem portanto que, o que realmente
conta para o desenvolvimento da teoria mente é o contacto diário com os adultos, facto
que coincidiu com o número de irmãos que a criança tem, apenas por mera eventualidade.
Já Cole & Mitchell (2000), com o objetivo de comprovar a dita influência das
relações fraternais na compreensão das crenças falsas, conduziram um estudo com uma
amostra de crianças inglesas, com idades compreendidas entre os 3 e os 5 anos, de um
meio social desfavorecido. Contrariamente ao que era expectável, dada a evidência já
existente (Perner et al, 1994; Lewis et al, 1996), estes autores não encontraram relação
significativa entre a existência de irmãos e a compreensão da mente, justificando o facto
com uma possível “contaminação” dos resultados devido às condições socio-económicas.
Contudo, já Cutting & Dunn (1999) não tinham encontrado evidência de que a presença
de irmãos pudesse induzir uma maior compreensão social. Também aqui a amostra incluia
25
Por tudo o que já foi dito, parece existir então uma relação diretamente positiva
entre o desenvolvimento da teoria da mente e a existência de irmãos mais velhos, quando
o meio social não é desfavorecido e o desenvolvimento é normativo. Assim, o número
de irmãos é geralmente visto, não como uma influência por si mesmo, mas como a
oportunidade de uma interação social específica, permitindo formas infantis de conversa
que podem relacionar-se com uma aquisição mais rápida da teoria da mente (McAlister
& Peterson, 2007). As brincadeiras de “faz-de-conta”, as disputas e as oportunidades de
conversa entre irmãos de idade aproximada, expõe a criança a diferentes maneiras de
pensar, o que se torna útil para a compreensão precoce da mente ( Harris, 2005 referido
por McAlister & Peterson, 2013). Contudo, este padrão manter-se-á em crianças com
problemas de desenvolvimento?
26
Para a elaboração deste trabalho foram definidos um objetivo geral e seis objetivos
específicos. Deste modo, o objetivo geral consiste na adaptação da ToM Task Battery
(Hutchins et al, 2008) para a língua portuguesa, avaliando as qualidades psicométricas do
instrumento. Este foi construído primeiramente para avaliar o desenvolvimento da teoria
da mente em crianças com perturbação do espetro autista. Contudo, dada a sensibilidade
do instrumento em amostras clínicas e boa adesão mostrada pelas crianças, verificada por
Hutchins et al (2008), assim como o significado desenvolvimental da teoria da mente na
idade pré-escolar (e.g. Mitchell & Ziegler, 2013; Wimmer & Perner, 1983), nesta
investigação será avaliada fiabilidade deste instrumento na avaliação da teoria da mente
em crianças portuguesas, com desenvolvimento normativo, dos 3 aos 5 anos. À versão
portuguesa deste instrumento será dado o nome de Bateria de Tarefas para avaliação da
Teoria da Mente (BTATM).
Considerando a avaliação do desenvolvimento da teoria da mente na idade pré-
escolar e atendendo à seleção de variáveis possivelmente facilitadoras deste
desenvolvimento, como objetivos específicos pretende-se:
a) Apresentar um instrumento que permita avaliar o desenvolvimento da teoria da
mente em língua portuguesa, para crianças em idade pré-escolar;
b) Avaliar o desenvolvimento da teoria da mente em crianças portuguesas dos 3 aos 5
anos;
c) Perceber a relação entre o desenvolvimento da teoria da mente e as competências
verbais da criança dos 3 aos 5 anos;
d) Compreender a influência do padrão interno de vinculação da mãe e o
desenvolvimento da teoria da mente em crianças dos 3 aos 5 anos;
e) Verificar a influência do número de irmãos e o desenvolvimento da teoria da mente
em crianças dos 3 aos 5 anos;
f) Avaliar a influência da escolaridade materna no desenvolvimento da teoria da
mente em crianças dos 3 aos 5 anos.
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28
3.1. Amostra
Nesta investigação foi utilizada uma amostra constituída por 116 crianças, entre os
3 e os 5 anos de idade (Média (M) = 4.03; Desvio Padrão (DP) = 0,82), alunas dos Jardins
de Infância do Agrupamento de Escolas das Marinhas – Esposende (Jardim de Infância
das Marinhas, Jardim de Infância de Belinho e Jardim de Infância de Cepães), cujas salas
de aula eram mistas, incluindo crianças dos três grupos etários. Todas as crianças
apresentavam desenvolvimento dentro dos parâmetros normais para a idade, sendo os
problemas de desenvolvimento já diagnosticados, critério de exclusão para a participação
neste estudo. Como um dos objetivos desta investigação é estudar o desenvolvimento da
teoria da mente em crianças em idade pré-escolar, procurou-se que a amostra incluísse
aproximadamente, o mesmo número de crianças por cada grupo etário. Assim, a amostra
foi constituída por 37 crianças com 3 anos (31,9%), 39 crianças com 4 anos (33,6%) e 40
crianças de 5 anos (34,5%). 62,9% das crianças inquiridas (n= 73) eram do sexo
masculino, enquanto 37,1% (n=43) eram do sexo feminino. A tabela seguinte caracteriza
a amostra em termos de género e idade.
29
30
31
3 19 46
4 22 54
3.2. Instrumentos
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33
A primeira tarefa, reconhecimento de emoções (1) tem como objetivo, e tal como o
nome indica, o reconhecimento de emoções, sendo adaptada dos trabalhos de Hadwin et
al (1996). É pedido à criança que identifique diferentes emoções (feliz, triste, zangado,
assustado), com base em imagens de expressões faciais. A segunda tarefa, avaliação do
ponto de vista (2) pretende avaliar a capacidade da criança identificar que podem existir
diferentes pontos de vista (Hardwin et al, 1996). Esta tarefa é constituída por duas partes.
Numa primeira parte, o investigador senta-se em frente à criança e utiliza uma barreira
para separar e impedir a visualização de uma imagem para cada observador (neste caso,
uma banana e uma laranja). Posteriormente coloca duas questões, uma para avaliar a
autoperceção da criança “O que consegues ver?” e outra que avalia a heteroperceção “O
que eu (investigador) consigo ver?”. Na versão portuguesa foram introduzidas mais duas
questões, que constituem a segunda parte da tarefa, nas quais a criança deve identificar o
ponto de vista de duas personagens de uma história contada através de imagens (Hadwin
et al, 1996). Assim a criança coloca-se como observadora da ação e não como participante
da mesma. Na tarefa (3), inferência de um desejo baseado em emoções (Hadwin et al,
1996), pretende-se avaliar a capacidade da criança compreender que os desejos podem
gerar emoções. A quarta tarefa, inferência da perceção baseada em crenças (4) (Hadwin
et al, 1996), tenciona avaliar a habilidade da criança perceber que ver conduz ao
conhecimento, enquanto que na quinta tarefa, inferência da perceção baseada em ações
(5) (Hadwin et al, 1996) se procura avaliar a capacidade da criança compreender que ver
conduz à ação. A sexta tarefa (6) é a típica tarefa de crença falsa, criada por Wimmer &
Perner (1983), com o objetivo de avaliar a capacidade da criança deduzir uma crença no
contexto da inesperada mudança de posição de um objeto. Nesta tarefa, Hutchins et al
(2008) adaptaram a questão “Onde é que o António vai procurar o livro?” para “Onde é
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35
36
37
38
39
40
55,753
Pela análise da Tabela 4 percebe-se que o Fator 1 inclui 5 itens, explicando 27,46%
da variância total dos dados. O Fator 2 englobou 3 itens, capaz de explicar 15,29% da
variância do modelo. Por fim, o Fator 3 englobou apenas um item, explicando 13% da
variância.
Tendo em conta a distribuição dos itens, ou tarefas por cada fator, procurou-se
atribuir um nome a cada um deles. Uma vez que o Fator 1 engloba as tarefas de avaliação
da inferência de crenças falsas de 1ª ordem e emoções, foi denominado Inferência de
crenças falsas e emoções. O fator 2, ao englobar a tarefa para avaliação do ponto de vista
(Tarefa 2), e as tarefas de avaliação da perceção baseada em crenças (Tarefa 4) e em ações
(Tarefa 5), o que implica que a criança possua conhecimento da realidade, foi denominado
41
As autoras originais deste instrumento (Hutchins et al, 2008) não realizaram análise
fatorial, pelo que a a estrutura dimensional apresentada é uma proposta da versão
portuguesa da BTATM.
Tal como foi proposto por Hutchins et al (2008), calculou-se também o alpha de
Cronbach para as 17 questões-teste, aumentando o seu valor (α = 0,783), reconhecendo-
se assim uma consistência interna razoável (Pestana & Gageiro, 2005). Segundo Maroco
& Garcia-Marques (2006), instrumentos com um menor número de itens,
tendencialmente apresentam alphas mais baixos, que instrumentos com um maior número
de itens. Contudo, como na estrutura dimensional proposta se trabalhou com a pontuação
total obtida em cada tarefa, pela soma das questões-teste que inclui, a tabela seguinte
(Tabela 5) apresenta as características de cada item/tarefa relativamente à média e desvio
padrão, as correlações entre o item e a escala, e o valor do alpha excluindo o item.
4
Segundo Pestana & Gageiro (2005), a associação entre duas variáveis é muito baixa quando o coeficiente
de correlação (r) é < 0,20, baixa entre 0,20 e 0,39, moderada entre 0,40 e 0,69, alta entre 0,70 e 0,89 e muito
alta entre 0,90 e 1,0.
42
43
Por este motivo, e tal como propõe as autoras originais deste instrumento (Hutchins
et al, 2008), a Bateria de tarefas para avaliação da teoria da mente será tratada e utilizada
como um todo e não na estrutra dimensional inicialmente proposta.
3 2 14 7,24 (2,803)
4 4 15 9,28 (2,772)
5 7 21 13,85 (4,234)
44
5
Na Bateria de Tarefas de Avaliação da Teoria da Mente (BTATM) a criança só avança para a questão-
teste, à qual é atribuída pontuação, se responder corretamente à questão de controlo colocada previamente.
45
46
47
48
49
50
51
O primeiro passo prendeu-se com a análise dos dados descritivos das duas
dimensões. Para subescala Ansiedade obteve-se uma média de 2,35, com desvio padrão
de 0,620, correspondendo à opção “Pouco característico em mim”. Na subescala Conforto
com a proximidade encontrou-se uma média de 3,44, e desvio padrão de 0,654, que
corresponde à opção “Característico em mim”. Conclui-se assim, que em média, as mães
desta subamostra se mostram confortáveis com a proximidade nas suas relações íntimas,
sendo pouco caraterístico a manifestação de comportamento ansioso.
52
Pela análise da Tabela 11 percebe-se que não existe correlação entre a dimensão
Ansiedade, que avalia o grau em que o indivíduo, neste caso a mãe/cuidadora da criança,
se sente preocupado com a possibilidade de ser abandonado ou rejeitado (Canavarro,
Dias, & Lima, 2006) e o desenvolvimento da teoria da mente. No que diz respeito à
dimensão Conforto com a proximidade, que avalia o modo como a mãe/cuidadora se sente
confortável com a proximidade e intimidade, se relaciona de forma negativa e
estatisticamente significativa com o desenvolvimento da teoria da mente da criança. Este
dado representa que, quanto mais confortável a mãe/cuidadora se sentir com a
proximidade e intimidade, menor será o desenvolvimento da teoria da mente da criança,
isto é, crianças com menor pontuação no teste de avaliação da teoria da mente,
correspondem a mães com pontuações superiores na dimensão Conforto com a
proximidade da EVA.
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56
É possível concluir assim, que apesar da consistência interna da BTATM não ser
muito elevada, é aceitável a sua utilização na avaliação da teoria da mente em crianças
dos 3 aos 5 anos, confirmando a primeira hipótese formulada.
57
Segundo a literatura, aos 3 anos a criança ainda tem dificuldade em reconhecer que
pessoas diferentes podem querer ou gostar de coisas diferentes, mas a partir dos 4 anos é
capaz de compreender que as pessoas podem pensar de forma distinta e que as crenças de
alguém podem influenciar a forma como se comporta. Esta capacidade é atingida de
forma mais plena aos 5 anos de idade (Astington & Edward, 2010; Astington & Gopnik,
1991; Gopnik & Wellman, 1992). Tendo por base os diversos estudos realizados ao longo
dos últimos 30 anos (e.g. Wimmer & Perner, 1983; Siegal & Beattie, 1991; Wellman et
al, 2001) seria então expectável, que o desempenho das crianças de 4 e 5 anos, nas tarefas
de avaliação da teoria da mente da BTATM, fosse superior ao das crianças 3 anos, sendo
que aos 4 anos as crianças apresentariam desempenhos inferiores aos obtidos pelas
crianças de 5. Esta suspeita levou à formulação das hipóteses 2, 3 e 4, que acabariam por
confirmar-se.
58
Tal como foi abordado no enquadramento teórico, não existe consenso teórico sobre
a relação existente entre o desenvolvimento das competências linguísticas da criança e o
desenvolvimento da teoria da mente. No presente estudo, conclui-se que existe correlação
positiva e estatisticamente significativa entre os subtestes da WPPSI-R (informação,
compreensão e vocabulário) e o desenvolvimento da teoria da mente, isto é, quanto
maiores as competências linguísticas da criança, traduzidas por melhores desempenhos
nos testes de avaliação de linguagem, maior o desenvolvimento da teoria da mente,
expressado por uma maior pontuação obtida na BTATM. Esta conclusão vem confirmar
a quinta hipótese formulada.
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63
No que diz respeito às competências verbais das crianças, foi obtido um resultado
interessante, uma vez que se confirmou a relação de interdependência existente entre o
desenvolvimento da linguagem e da teoria da mente. Esta observação confirma que estas
faculdades não podem ser vistas separadamente e que, alterações do desenvolvimento
normativo de uma delas, pode prejudicar ou dificultar o desenvolvimento da outra. Estes
resultados sugerem a ideia de que intervir precocemente nos problemas de linguagem,
por exemplo, pode prevenir dificuldades futuras na socialização da criança, pois pode
estar comprometido o desenvolvimento da teoria da mente e, consequentemente a sua
capacidade de entender os estados mentais, crenças, desejos e emoções de outras pessoas.
64
Como limitações, este estudo poderia ter abrangido uma amostra maior, com
crianças de outros pontos do país e de outras condições sociais. No que diz respeito à
avaliação do padrão de vinculação materno, a amostra de mães também poderia ter sido
mais alargada, para favorecer a generalização de conclusões.
65
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