"Refugiados Ambientais" Alternativas de Proteção Jurídica
"Refugiados Ambientais" Alternativas de Proteção Jurídica
"Refugiados Ambientais" Alternativas de Proteção Jurídica
RESUMO
1 Graduando em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. E-mail:
[email protected].
2 Orientador: Professor da Escola de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul; Graduado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; Mestre
em Direito Público pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos; Doutor em Filosofia pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. E-mail: [email protected].
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1 INTRODUÇÃO
A Revolução Industrial, que teve início no século XVIII, foi um marco sem
precedentes na história do ser humano. Por meio dela, ocorreu uma grande
evolução tecnológica e mudanças drásticas na sociedade da época,
principalmente com o desenvolvimento da economia, tendo em vista que as
bases para o capitalismo que se conhece hoje surgiram nesse momento.
Contudo, foi a partir desse fato histórico que a humanidade começou a impactar
o meio ambiente de forma mais agressiva, com a poluição decorrente da
industrialização, do aumento da utilização dos recursos naturais e do crescente
consumismo da população (SILVESTRE FILHO, 2020).
Em contrapartida, na primeira parte do século XX, a comunidade
internacional ainda não dava a devida atenção ao meio ambiente, já que focava
mais na questão dos direitos humanos e o enorme progresso industrial justificava
a degradação ambiental. Esse panorama começa a mudar a partir da década de
1970, mais precisamente em 1972, com a Conferência de Estocolmo das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente Humano e sua Declaração, que possibilitou o
início do desenvolvimento do Direito Ambiental Internacional, ocasionando uma
mudança de pensamento e posicionamento da comunidade internacional a
respeito do tema (SARLET; FENSTERSEIFER, 2020). Alguns desses aspectos
evolutivos relacionados ao direito ambiental discorreremos, de forma breve, a
seguir.
Princípio 1
O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao
desfrute de condições de vida adequadas em um meio ambiente de
qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem-
estar, tendo a solene obrigação de proteger e melhorar o meio
ambiente para as gerações presentes e futuras. A este respeito, as
políticas que promovem ou perpetuam o apartheid, a segregação
racial, a discriminação, a opressão colonial e outras formas de
opressão e de dominação estrangeira são condenadas e devem ser
eliminadas.
[...] a uma alteração no estado do clima que pode ser identificada (ex:
por meio de testes estatísticos) através de alterações na média e/ou
na variabilidade das suas propriedades e que persiste durante um
longo período de tempo, tipicamente décadas ou mais. A alteração
climática pode dever-se a processos internos naturais ou forçamento
externo, tais como modulações dos ciclos solares, erupções vulcânicas
e alterações antropogênicas persistentes na composição da atmosfera
ou na utilização dos solos. É de sublinhar que a Convenção-Quadro
das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (UNFCCC), no seu
Artigo 1, define alteração climática como: “uma alteração no clima que
é atribuída, direta ou indiretamente, à atividade humana que altera a
composição da atmosfera global e que é, além da variabilidade natural
do clima, observada ao longo de períodos comparáveis.
Assim sendo, por ser um conceito elaborado para uma realidade europeia,
acaba por excluir possíveis causas de situações de refúgio em outros
continentes, deixando, como já mencionado, muitas pessoas sem proteção. Com
isso, indivíduos provenientes de contextos específicos de países em
desenvolvimento ou países pobres ficam a margem do arcabouço jurídico
internacional, já que o mesmo foi pensado para atender as preferências das
grandes potências, não havendo contribuição de Estados menos desenvolvidos
na elaboração da Convenção de 1951 (ROSA, 2019).
Ademais, além da controvérsia relativa a limitação somente a cinco
causas que geram a condição de refugiado, outro elemento, também relacionado
aos critérios subjetivos da definição, acarreta restrições no reconhecimento da
situação de refúgio, que é o agente persecutório nas razões que provocam o
deslocamento forçado da pessoa (SARTORETTO, 2015).
Na atualidade, verifica-se que acontecem migrações forçadas pelos mais
variados motivos, partindo-se de exemplos, tais como: em decorrência de
violações de direitos humanos, dificuldades econômicas, violência generalizada
ou em função de desastres ambientais, contextos em que não há a concretização
de um agente persecutório, um dos requisitos da Convenção. Portanto, mesmo
que esses indivíduos tenham seus direitos violados, não é possível protegê-los,
já que não está configurado o agente de perseguição. Por isso, mostra-se
essencial o elemento de perseguição na concessão do status de refugiado, o
que limita ainda mais a esfera de proteção do conceito de refúgio, admitido como
universal (SARTORETTO, 2015).
Ante o restritivo conceito de refúgio exposto na Convenção de 1951, surge
na África, a Convenção Africana para Refugiados de 1969, e na América, a
Declaração de Cartagena de 1984. Esses instrumentos regionais possuem o
objetivo de expandir a definição de refugiado, a fim de concretizar a proteção de
pessoas que migram forçadamente em razão de causas específicas desses
continentes. Com isso, adequam o conceito para as suas realidades na tentativa
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A ONU, por meio do seu órgão que trata dessa temática, o ACNUR, tem
posicionamento conservador, não adotando a ampliação do conceito de refúgio.
Para o referido órgão, refugiado é aquele definido na Convenção de 1951 e no
Protocolo Adicional de 1967, ou seja, o indivíduo que possui um fundado temor
de perseguição em virtude de um dos cinco motivos expostos na mencionada
Convenção. Em vista disso, segundo o Manual de Procedimentos e Critérios
para a Determinação da Condição de Refugiado do ACNUR (2011, p. 12):
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[...] são definidos como aquelas pessoas forçadas a deixar seu habitat
natural, temporária ou permanentemente, por causa de uma marcante
perturbação ambiental (natural e/ou desencadeada pela ação
humana), que colocou em risco sua existência e/ou seriamente afetou
sua qualidade de vida. Por “ruptura ambiental” entende-se, nesta
definição, qualquer mudança física, química, e/ou biológica no
ecossistema (ou na base de recursos), capaz de torná-lo, temporária
ou permanentemente, inadequado para sustentar a vida humana. De
acordo com esta definição, pessoas deslocadas por motivos políticos
ou por conflitos civis e migrantes à procura de melhores empregos por
razões puramente econômicas não são consideradas refugiados
ambientais.
[...] são pessoas que não podem mais obter um meio de vida seguro
em suas terras tradicionais devido a fatores ambientais de escopo
incomum, especialmente seca, desertificação, desmatamento, erosão
do solo, escassez de água e mudanças climáticas, além de desastres
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O primeiro passo já foi dado com a COP 21 em 2015, onde foi celebrado
o Acordo de Paris, que identificou a conexão entre alteração climática e
mobilidade humana (YAMAMOTO; ESTEBAN, 2018). Além disso, como já
citado, também na COP 21 se estabeleceu contribuições dos países
desenvolvidos para o Fundo Verde, o que ajuda de certa forma os “refugiados
ambientais”, visto que teve o objetivo de auxiliar às populações mais vulneráveis
em relação aos efeitos das mudanças climáticas nos países em
desenvolvimento.
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
a_determina%C3%A7%C3%A3o_da_condi%C3%A7%C3%A3o_de_refugiado.
pdf. Acesso em: 1 maio 2021.
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Migration Review: Climate change and displacement. Oxford: University of
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SILVA JR., Eraldo. Direito internacional dos refugiados no século XXI: desafios
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http://revistastpr.com/index.php/rstpr/article/view/194/368. Acesso em: 19 abr.
2021.