Cinema e Educação (Sergio Rizzo)
Cinema e Educação (Sergio Rizzo)
Cinema e Educação (Sergio Rizzo)
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Rizzo, Sérgio
Cinema e educação [livro eletrônico] : 200 filmes sobre a escola e a vida / Sérgio Rizzo. -- São Paulo : Editora Segmento, 2014. -- (Coleção Revista Educação) 2 Mb ; ePub
ISBN 978-85-89636-16-2
1. Cinema na educação 2. Educação (Revista) 3. Filmes cinematográficos - História e crítica I. Título. II. Série.
14-02876 CDD-371.33523
Sérgio Rizzo,
dezembro de 2013
Sumário
Apresentação
187 – O Código
Acidente
Adeus, Lênin!
Alice no País das Maravilhas
Aluno, O
Amor & Cia.
Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, O
Apenas o Fim
Apóstolo, O
Aprendiz, O
Artista, O
Auto da Compadecida, O
Babel
Baile Perfumado, O
Banheiro do Papa, O
Baran
Basquete Blues
Batismo de Sangue
Bela Junie, A
Bem-vindo
Bem-vindo à Casa de Bonecas
Billy Elliot
Biutiful
Bling Ring - A Gangue de Hollywood
Brava Gente Brasileira
Caça, A
Caché
Caminho para Casa, O
Caramuru – A Invenção do Brasil
Cartas de Iwo Jima
Castelo Rá-Tim-Bum
Castro Alves - Retrato Falado do Poeta
Central do Brasil
Céu de Outubro, O
Chaves de Casa, As
Che
Cidade de Deus
Como Eu Festejei o Fim do Mundo
Como Nascem os Anjos
Concorrência Desleal
Conquista da Honra, A
Contratempo
Corrente do Bem, A
Crianças Invisíveis
Crônica da Inocência
Croods, Os
Culpa É do Fidel!, A
Educação
Elefante
Elefante Branco
Eleição
Em um Mundo Melhor
Encanto das Fadas, O
Encontrando Forrester
Entre os Muros da Escola
Entreatos - Lula a 30 Dias do Poder
Erva do Rato, A
Escola de Rock
Estamos Juntos
Exílios
Fala Tu
Falsários, Os
Fama para Todos
Faroeste Caboclo
Filhos do Paraíso
Fita Branca, A
Garota Interrompida
Garoto da Bicicleta, O
Garotos Incríveis
Gênio Indomável
Gomorra
Grande Garoto, Um
Guerra de Canudos
Hans Staden
Hércules 56
Homem ao Lado, O
Homem que Virou Suco, O
Homem Sério, Um
Homens e Deuses
Hotel Ruanda
Invasor, O
Invenção de Hugo Cabret, A
Italiano para Principiantes
Invictus
Janela da Alma
Judeu, O
Juno
Kiriku e a Feiticeira
Kolya – Uma Lição de Amor
Ladrão, O
Ladrões de Bicicleta
Lances Inocentes
Leões e Cordeiros
Liam
Linéia no Jardim de Monet
Língua das Mariposas, A
Linha de Passe
Lixo Extraordinário
Lugares Comuns
Maria Antonieta
Marighella - Retrato Falado do Guerrilheiro
Melhores Coisas do Mundo, As
Memórias Póstumas
Meu Irmão É Filho Único
Microcosmos – Fantástica Aventura da Natureza
Minha Vida em Cor-de-Rosa
Minhas Tardes com Margueritte
Motoboys - Vida Loca
Mr. Holland – Adorável Professor
Música do Coração
Na Estrada
Na Natureza Selvagem
Não me Abandone Jamais
Nenhum a Menos
Neste Mundo
Netto Perde Sua Alma
Ninguém Pode Saber
Ninho Vazio
No
No Vale das Sombras
Nó na Garganta
Nosso Professor é um Herói
Novo Mundo
Noite em 67, Uma
Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos
Oleanna
Onda, A
Onde Fica a Casa do Meu Amigo?
Ônibus 174
Orange County – Correndo Atrás do Diploma
Ouro de Ulisses, O
Oz - Mágico e Poderoso
Pai Patrão
Palavra (En)cantada
Palhaço, O
Pecado de Hadewijch, O
Peões
Pequena Miss Sunshine
Pequeno Nicolau, O
Peter Pan
Pi
Pina
Poesia
Policarpo Quaresma – Herói do Brasil
Precisamos Falar Sobre o Kevin
Pro Dia Nascer Feliz
Professora de Piano, A
Professora Muito Maluquinha, Uma
Professora sem Classe
Proibido Proibir
Promessas de um Novo Mundo
São Bernardo
São Paulo Sociedade Anônima
Ser e Ter
Shrek
Simplesmente Feliz
Sob a Névoa da Guerra
Somos tão Jovens
Utopia e Barbárie
Verão Feliz
Verdade Inconveniente, Uma
Vermelho como o Céu
Verônica
Vida dos Outros, A
Vida em um Dia, A
Vincere
Visitante, O
Viva São João!
Xeretas, Os
Xingu
Zero em Comportamento
187 – O Código
Índices Temáticos
187 – O Código
One Eight Seven
EUA, 1997
Direção: Kevin Reynolds
A Invenção de Hugo Cabret (Hugo) — EUA, 2011, 126 min. Direção: Martin Scorsese. Roteiro: John Logan, baseado em romance de Brian Selznick. Com Asa Butterfield, Chloë Grace Moretz,
Ben Kingsley, Sacha Baron Cohen. Distribuição em DVD: Paramount.
“Já saí dançando do ventre”, diz a canção que abre Billy Elliot. “É
estranho dançar tão cedo”, prossegue a letra. Para o protagonista do filme, a
situação também parece esquisita. Estamos em 1984, que alguns historiadores
consideram o ano mais movimentado na Inglaterra desde o final da II Guerra
Mundial. Motivo: a greve dos trabalhadores que decidiram protestar contra as
políticas neoliberais da então primeira-ministra conservadora Margaret
Thatcher, responsáveis pelo fechamento de minas em todo o país e por uma
onda de desemprego até hoje não superada.
Foram meses de confrontos não só verbais, mas físicos, entre os
trabalhadores que aderiram ao movimento, os “fura-greves” e a polícia.
Thatcher recusou-se a negociar com os sindicatos e consolidou no episódio,
que se estendeu até 1985, o apelido de “Dama de Ferro”. Billy, 11 anos, vive
em Durham, pequena cidade da região norte, cuja economia girava em torno
da extração de carvão. Pois bem: enquanto seu pai e seu irmão mais velho —
ambos mineiros — participam de manifestações, os policiais dos pelotões de
choque confundem-se na rua com os habitantes da cidade e 50 centavos
fazem diferença no orçamento doméstico, o garoto abandona as aulas
extracurriculares de boxe para integrar-se à turma de balé da escola.
Em casa, tem início então outro confronto, paralelo ao dos mineiros com
Thatcher, entre a força do “chamado” que atrai Billy (o estreante Jamie Bell,
escolhido depois de testes com 2 mil atores) para a dança, de um lado, e a
resistência de pai (Gary Lewis) e irmão (Jamie Draven) à ideia, de outro. A
mãe, que poderia fazer a balança pender para o lado do garoto, morreu há
algum tempo. A única mulher da família, uma avó já esclerosada (Jean
Heywood), puxa da memória a informação de que sonhava ser bailarina na
infância para acrescentar humor à discussão. Apoio mesmo, Billy só obtém
da professora de dança (Julie Walters), que o estimula a tentar uma vaga na
Academia Real de Balé, em Londres.
O tema da vocação é desenvolvido como em um conto de fadas, para o
bem e para o mal. Há quem enxergue no roteiro algum preconceito (os
mineiros seriam retratados como gente bruta, incapacitada para a fruição da
arte), além de um forte apelo a fórmulas dramáticas que, a pretexto de
facilitar a comunicação com a plateia, simplificariam em demasia algumas
questões. Já a bem-sucedida carreira do filme nos cinemas atesta seu elevado
potencial de catarse. Quem se identifica com o protagonista (inspirado, em
parte, na trajetória do bailarino inglês Philip Marsden) tende a vibrar com ele
a cada obstáculo vencido, o que explica os aplausos registrados em algumas
sessões, no final, quando o Billy Elliot adulto reencontra o garoto de Durham.
Como em relação a Thatcher, a diferença de opinião talvez dependa de ser ou
não “de ferro”, ao menos no que diz respeito ao comportamento como
espectador.
Billy Elliot (Billy Elliot) — Inglaterra/França, 2000, 110 min. Direção: Stephen Daldry. Roteiro: Lee Hall. Com Jamie Bell, Julie Walters, Jamie Draven, Gary Lewis, Jean Heywood, Stuart
Wells, Mike Elliot, Janine Birkett. Distribuição em DVD: Universal.
Utopia e Barbárie
Brasil, 2010
Direção: Silvio Tendler
Marighella - Retrato Falado do Guerrilheiro — Brasil, 2001, 55 min. Direção e roteiro: Silvio Tendler. Distribuição em DVD: Caliban.
Utopia e Barbárie — Brasil, 2010, 120 min. Direção e roteiro: Silvio Tendler. Distribuição em DVD: Caliban.
Uma das principais novidades do cinema europeu dos últimos anos foi a
produção jovem da Romênia, feita com recursos limitados, mas com muita
inventividade e a disposição de retomar em perspectiva crítica a história
recente do país. Ainda inédito no Brasil, A Morte do Sr. Lazarescu (2005)
chamou a atenção para a nova onda, confirmada por filmes como A Leste de
Bucareste (2006), 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias (2007), que obteve a Palma
de Ouro no Festival de Cannes, e Polícia, Adjetivo (2009).
A boa safra inclui Como Eu Festejei o Fim do Mundo (2006). Primeiro
longa-metragem do diretor e roteirista Catalin Mitulescu, ele recebeu uma
chancela de qualidade de dois dos mais expressivos cineastas em atividade, o
norte-americano Martin Scorsese e o alemão Wim Wenders, que aparecem
nos créditos como produtores executivos — modo de facilitar a viabilização e
circulação de um filme.
Assim como a maioria de seus compatriotas revelados nos últimos anos,
Mitulescu também se dedica a um pequeno inventário da Romênia sob a
ditadura de Nicolae Ceausescu (1918-1989). O diferencial vem do ponto de
vista infantojuvenil, como fazem, também em relação a ditaduras, o argentino
Kamchatka (2002), o chileno Machuca (2004) e o brasileiro O Ano em que
Meus Pais Saíram de Férias (2006).
A história se ambienta nos últimos momentos do período de terror de
Ceausescu. A perspectiva é de um menino (Timotei Duma) e de sua irmã
mais velha (Doroteea Petre), que estudam em escola onde o patrulhamento
político ainda faz suas vítimas. Enquanto ele acompanha ao lado de amigos a
derrocada do regime, com inocência e bom humor, ela sofre na pele os
derradeiros — mas ainda incômodos — suspiros de uma era autoritária.
Como Eu Festejei o Fim do Mundo (Cum mi-am petrecut sfarsitul lumii) — Romênia/França, 2006, 101 min. Direção: Catalin Mitulescu. Roteiro: Andreea Valean e Catalin Mitulescu. Com
Dorotheea Petre, Timotei Duma. Distribuição em DVD: Imovision.
Diz um velho chavão que o cinema abre janelas para o mundo. Às vezes,
porém, tais janelas voltam-se para o que se passa entre quatro paredes, sem
que essa opção por espaços interiores impeça enxergar o mundo exterior. É o
que fazem, de maneira reveladora, dois filmes nacionais que chegaram quase
simultaneamente ao mercado de vídeo. Como Nascem os Anjos recebeu os
principais prêmios de melhor filme brasileiro em 1996, enquanto Dezesseis,
Zero, Sessenta foi exibido apenas em festivais. Em ambos, ricos e pobres são
forçados a conviver durante algum tempo nas mansões dos primeiros. Os
motivos dessa coabitação forçada variam de um filme para outro, mas a
tensão e o desconforto provocados por ela conduzem à mesma sensação: a de
que a desigualdade social brasileira é problema complexo demais para caber
em simplificações demagógicas que coloquem “mocinhos” de um lado e
“vilões” do outro.
Como Nascem os Anjos inspira-se em O Anjo Nasceu (1969), de Julio
Bressane, em que dois bandidos (Hugo Carvana e Milton Gonçalves)
invadem a casa de uma família rica e mantêm um jogo de poder com a dona e
a empregada. O filme de Murilo Salles (diretor de Nunca Fomos Tão Felizes
e Faca de Dois Gumes) substitui os bandidos por dois adolescentes,
moradores de morro no Rio de Janeiro, que se envolvem com um traficante
pé de chinelo perseguido pela própria quadrilha. A improvisada rota de fuga
leva o trio à mansão de um executivo norte-americano, onde a aventura
adquire proporções inesperadas. Longe de ceder à tentação fácil de separar os
“bons” dos “maus”, Como Nascem os Anjos aproxima personagens situadas
em pontos extremos da pirâmide social – gente que não se conheceria em
circunstâncias comuns – para lembrar que a distância entre elas criou um nó
tão difícil de desatar quanto de compreender.
Bem mais cínico em sua visão da realidade brasileira, Dezesseis, Zero,
Sessenta é a estreia no cinema do publicitário Vinicius Mainardi, com roteiro
do irmão, o escritor Diogo Mainardi. O título do filme refere-se ao número
aproximado de dias (16.060, ou 44 anos) vividos pelo protagonista, Vittorio,
milionário temeroso de que o ladrão preso ao assaltar sua casa cumpra a
promessa de, ao sair da cadeia, matar sua família. Planejando acabar com o
mal pela raiz, ele encomenda a morte do bandido – mas, por um acidente
tipicamente brasileiro, o coitado assassinado na prisão é um trabalhador que
deixa viúva e três filhos. O remorso faz com que Vittorio procure uma
maneira de reparar o engano, atitude humanitária que lhes custa a ocupação
de sua casa pela família sem-teto do morto. Comédia de humor negro
apropriadamente filmada em preto-e-branco, Dezesseis, Zero, Sessenta trata
privilegiados e excluídos sem um pingo da demagogia barata presente em
discursos vazios e análises simplistas sobre a desigualdade social no Brasil.
Ainda fáceis de ouvir, mas cada vez mais difíceis de engolir, como
demonstram os filmes de Salles e Mainardi.
Como Nascem os Anjos — Brasil, 1996, 96 min. Direção: Murilo Salles. Roteiro: Jorge Duran, Aguinaldo Silva, Nelson Nadotti e Murilo Salles. Com Larry Pine, Priscila Assum, Silvio
Guindane. Distribuição em DVD: Cinema Brasil Digital.
Dezesseis, Zero, Sessenta — Brasil/EUA, 1995, 86 min. Direção: Vinicius Mainardi. Roteiro: Diogo Mainardi. Com Antonio Calloni, Maitê Proença, Marcélia Cartaxo. Distribuição em VHS:
Flashstar.
Cartas de Iwo Jima (Letters from Iwo Jima) — EUA, 2006, 141 min. Direção: Clint Eastwood. Roteiro: Iris Yamashita, baseado em argumento de Paul Haggis e Iris Yamashita, por sua vez
inspirado em livro de Tadamichi Kuribayashi e Tsuyoko Yoshido. Com Ken Watanabe, Kazunari Ninomiya, Tsuyoshi Ihara, Ryô Kase. Distribuição em DVD: Warner.
França, início dos anos 1970. Para a menina Anna, de 9 anos, homens
barbudos e de expressão enérgica são “comunistas que querem a guerra
nuclear”. Ativos militantes de esquerda, seus pais apelidam a única
conservadora da família de “pequena múmia”, em referência aos adversários
de Salvador Allende, então presidente do Chile, cujas reformas o casal apoia
a distância.
As conexões entre a situação política do planeta e seus reflexos no
cotidiano embaralham a percepção de Anna (Nina Kervel-Bey) e de seu
irmão caçula (Benjamin Feuillet) em A Culpa É do Fidel! (2007), espirituosa
estreia na ficção da documentarista Julie Gavras, filha do diretor Costa-
Gavras (de quem foi assistente no controvertido Amém, que denuncia aliança
entre o Vaticano e os nazistas).
Uma das principais referências do cinema político contemporâneo,
diretor também de filmes como Z (1969), A Confissão (1970) e Estado de
Sítio (1972), Costa-Gavras explorou o golpe militar que derrubou Allende em
Desaparecido, um Grande Mistério (1982). O tom adotado por Julie a
aproxima mais, no entanto, de outra representação do mesmo período, o
longa-metragem chileno Machuca (2004), de Andrés Wood, em que o
conturbado cenário político do período também é visto da perspectiva
infantil.
Em A Culpa É do Fidel!, pai (Stefano Accorsi, de Capitães de Abril, que
reconstitui a queda da ditadura de Antonio Salazar em Portugal) e mãe (Julie
Depardieu, filha do também ator Gérard Depardieu) vivem diante dos filhos
os dilemas de quem se preocupava, naquele momento, em intervir de alguma
forma na sociedade. Baseada em romance de Domitilla Calamai, a história
contada por Julie sugere que esse espírito de solidariedade e de mobilização
talvez seja o maior legado que se possa transmitir.
A Culpa É do Fidel! (La Faute à Fidel!) — França, 2007, 99 min. Direção: Julie Gavras. Roteiro: Julie Gavras, com a colaboração de Arnaud Cathrine, baseado no romance Tutta Colpa di Fidel,
de Domitilla Calamai. Com Nina Kervel-Bey, Julie Depardieu, Stefano Accorsi, Benjamin Feuillet, Martine Chevallier. Distribuição em DVD: Videofilmes.
Nos EUA, costuma-se aplicar o termo feel good movie (filme para
sentir-se bem) a obras engrandecedoras destinadas a provar que os obstáculos
sempre podem ser superados e que a vida, apesar de tudo, vale a pena. A
Disney especializou-se nessa fórmula, que fornece a base para uma de suas
produções mais recentes, Duelo de Titãs. Pode-se argumentar, neste caso, que
as mensagens edificantes foram extraídas da vida real: o filme baseia-se em
história verídica ocorrida em Alexandria, pequena cidade da Virgínia, no
início dos anos 1970.
O cenário é uma escola secundária que, pela primeira vez, abre as portas
para alunos negros. Como se a atitude já não bastasse para incomodar o
conservadorismo local, deixando a maioria de pais e alunos brancos com os
nervos à flor da pele, um outro ato, de forte caráter simbólico, desencadeia
enorme resistência, ainda que em parte dissimulada: o treinador-chefe da
equipe de futebol americano do colégio, Bill Yoast, admirado por todos, é
substituído por um negro, Herman Boone, de quem se torna um mero
auxiliar. Diante da tradição esportiva nas escolas americanas, a mudança
equivale a mexer em vespeiro.
Boone (Denzel Washington, de Um Grito de Liberdade, Malcolm X e
Hurricane) muda-se com a família para a cidade, mas é tratado como
alienígena e, no auge da hostilidade, chega a ser ameaçado em sua própria
casa. Apesar disso, o filme não o trata como mártir. Yoast (Will Patton), por
sua vez, também não transforma em vilania o antagonismo criado
naturalmente em relação a seu substituto. São homens comuns que
prefeririam não viver aquelas situações, mas que são obrigados a se virar para
ultrapassá-las e levar adiante um objetivo comum, tornar vencedor os Titãs, o
time da escola.
Tema caro à sociedade norte-americana, sobretudo no período recriado
pelo filme, o racismo aparece aqui simplificado. Seus efeitos perniciosos
sobre o tecido social e sobre o amadurecimento psicológico dos estudantes
estão suavizados, e a maneira encontrada para que a comunidade atinja o
equilíbrio da convivência pacífica lembra a facilidade com que as coisas se
ajeitam em certas fábulas infantojuvenis. O problema, todos sabem, tende a
ser mais complexo no mundo real, mas ainda assim Duelo de Titãs pode usar
em sua defesa o fato de que se propõe a ser um feel good movie – sua
prioridade é fazer com que o espectador sinta-se bem ao final.
As simplificações também não impedem que se olhe para a história
como mais um exemplo de inserção, no ambiente estudantil, de questões
sociopolíticas. A escola não é uma ilha isolada e, especialmente em períodos
de ruptura ou enfrentamento, costuma reproduzir em salas de aula, corredores
e quadras as coordenadas que organizam a vida fora dali. Mas nem sempre, é
obrigatório lembrar, o destino dá a sua mãozinha valiosa em direção ao final
feliz como em Duelo de Titãs.
Duelo de Titãs (Remember the Titans) — EUA, 2000, 113 min. Direção: Boaz Yakin. Roteiro: Gregory Allen Howard. Com Denzel Washington, Will Patton, Wood Harris, Ryan Hurst, Donald
Adeosun Faison, Craig Kirkwood, Ethan Suplee, Kip Pardue. Distribuição em DVD: Disney.
Biutiful
Biutiful
México/Espanha, 2010
Direção: Alejandro González Iñárritu
Biutiful (Biutiful) — México/Espanha, 2010, 148 min. Direção: Alejandro González Iñárritu. Roteiro: Nicolás Giacobone, Armando Bo e Alejandro González Iñárritu. Com Javier Bardem,
Maricel Álvarez, Hanaa Bouchaib, Guillermo Estrella. Distribuição em DVD e Blu-ray: Paris.
Peões
Brasil, 2004
Direção: Eduardo Coutinho
Peões – Brasil, 2004, 85 min. Direção: Eduardo Coutinho. Distribuição em DVD: Videofilmes.
“Se é música que fala de quem não tem nada, então o rap é nosso”, diz
Macarrão, 33 anos, sobre a popularidade desse gênero, surgido nos EUA,
entre a população de subúrbios e favelas do Rio de Janeiro. Ele mora em um
morro na Zona Norte da cidade e trabalha como apontador de jogo do bicho,
mas sonha ganhar a vida como compositor e intérprete. Toghum, 32 anos, e
Combatente, 21, vivem situação parecida: o primeiro é representante de
vendas e a segunda, operadora de telemarketing, mas ambos querem
abandonar essas atividades para se dedicar profissionalmente ao rap.
O documentário Fala Tu acompanha os três durante alguns meses, em
2002 e 2003. O objetivo inicial do diretor Guilherme Coelho e do roteirista
Nathaniel Leclery era mostrar como a cultura hip hop se disseminou
fortemente, nos últimos 20 anos, entre a população carioca de baixa renda. O
primeiro título do projeto, condizente com essa intenção, era “Rap no Rio”.
Ao fazer a pesquisa de campo, eles desistiram de promover uma análise
histórica e panorâmica do fenômeno, preferindo se concentrar no cotidiano de
alguns de seus anônimos protagonistas.
A abordagem, sustentada por um modo respeitoso de filmar e ouvir os
personagens, deu a Fala Tu um caráter muito superior ao de um
documentário que se propusesse exclusivamente a falar de música na favela
sob a ótica de cineastas de classe média. Produto também de um trabalho de
montagem que alinhava essas histórias de vida sem a preocupação de explicá-
las, o filme se impõe como crônica sobre a exclusão social, ao mostrar como
se dá a luta pela sobrevivência nos andares de baixo da sociedade brasileira,
sem intermediações.
Não estamos no terreno da ficção, cujas representações da pobreza
costumam gerar polêmica — basta lembrar, por exemplo, o intenso debate
em torno de Cidade de Deus. Macarrão, Toghum e Combatente existem
mesmo, o que confere a Fala Tu uma autenticidade desconcertante. É
compreensível, portanto, que professores de escolas públicas na periferia do
Rio e de São Paulo já estejam trabalhando esse documentário com seus
alunos adolescentes: como o que se vê na tela é muito próximo da realidade
vivida por eles, são inúmeras as possibilidades de reflexão proporcionadas
por esse espelhamento.
Nenhum dos personagens estuda ou conseguiu estudar muito, o que
permite outra série de inferências sobre as relações entre ensino formal e
cidadania. Todos eles, no entanto, reconhecem de alguma forma a
importância da educação. Toghum, por exemplo, revela seu planejamento
para o futuro: estudar Jornalismo e ao mesmo tempo “uma outra faculdade”,
trabalhar na área de comunicação da Polícia Federal e se tornar o primeiro
porta-voz negro da Presidência da República. “Nessa vida cheia de perigo,
tira a cara das drogas, ponha a cara nos livros”, diz um de seus raps. A rima é
pobre, mas o recado, claro.
Fala Tu — Brasil, 2003, 75 min. Direção: Guilherme Coelho. Argumento: Nathaniel Leclery. Distribuição em DVD: Videofilmes.
São poucos os filmes de ficção sobre artes plásticas, e mais raros ainda
os que se destinam a crianças na passagem da pré-escola para o ensino
fundamental. Bastaria esse motivo para que já se comemorasse o lançamento
em vídeo do curta-metragem sueco Lineia no Jardim de Monet, adaptação
para cinema do best-seller internacional de Lena Anderson e Christina Björk,
publicado no Brasil pela Editora Salamandra. O caráter pedagógico do livro
ganha, na tela, ótima tradução: é difícil, mesmo no caso de crianças maiores,
resistir ao apelo da pequena Lineia em sua viagem de descoberta aos locais
onde viveu o pintor francês Claude Monet (1840-1926).
No filme, a menina conta em flashback sua aventura. Fascinada pelas
pinturas de Monet, em especial pelas visões da natureza realizadas na última
fase de sua carreira, ela é convidada pelo vizinho, o Sr. Blomkvist (ou apenas
o Sr. Blom, na dublagem em português), um jardineiro aposentado, a viajar
até a França para que ambos conheçam melhor a vida e a obra do artista. Em
Paris, os dois veem uma série de quadros no Museu Marmottan – e Lineia
descobre, de perto, os “pontos e riscos” da linguagem impressionista. Depois,
vão de trem a Giverny, onde passeiam pela casa do pintor, adquirida por ele
em 1890 e hoje transformada em museu, e pelo jardim aquático criado ali,
cenário da série de obras que já visitou o Brasil.
Plantas, flores, a ponte japonesa, o banco de jardim, o barco: tudo o que
conheciam apenas por meio das reproduções de um livro do Sr. Blom revela-
se, em sua dimensão real, diante de seus olhos, tornando ainda mais
fascinante as obras-primas originadas daquela paisagem, como a série
Ninfeias. A viagem é narrada com extrema simplicidade, misturando desenho
animado, pinturas, fotografias e imagens em movimento dos locais. Paciente
e professoral, o ex-jardineiro explica a Linéia quem foi Monet e por que seu
estilo é marcante. Lembra que, para ele, a luz determinava “a aparência das
coisas”. Arte e natureza, muito bem integradas na obra do pintor, se
combinam também no filme.
Um exemplo de como a história de Lineia pode se prestar a uso escolar
vem de Planaltina (DF). A estudante Francineia Gomes Soares, aluna de
Artes Plásticas da Universidade de Brasília e professora da Escola Classe
Paraná, usou o livro de Lena Anderson e Christina Björk em seu projeto
“Arte e Cultura na Educação Infantil”, que recebeu o Prêmio Qualidade na
Educação Infantil do Distrito Federal em 2003. As crianças ilustraram a
história com pinturas em papel canson, fizeram piquenique e cuidaram do
jardim da escola. Artistas plásticos da região ministraram oficinas e
conversaram com os alunos, que desenvolveram uma relação afetiva com as
artes plásticas – objetivo que, agora, pode ser alcançado com a ajuda do
filme.
Lineia no Jardim de Monet (Linnea i målarens trädgård) — Suécia, 1992, 30 min.
Gomorra
Gomorra
Itália, 2008
Direção: Matteo Garrone
Gomorra (Gomorra) — Itália, 2008, 137 min. Direção: Matteo Garrone. Roteiro: Maurizio Braucci, Ugo Chiti, Gianni Di Gregorio, Massimo Gaudioso, Matteo Garrone e Roberto Saviano,
baseado em livro de Saviano. Com Salvatore Abruzzese, Simone Sacchettino, Salvatore Ruocco, Vincenzo Fabricino. Distribuição em DVD e Blu-ray: Paris.
Pense rápido e seja o mais sincero possível: o que você faria se, no
churrasco para integrar a família à nova vizinhança, seu filho de sete anos
aparecesse no quintal de batom e vestido cor-de-rosa? E se, depois de ouvir a
irmã mais velha falar dos cromossomos que determinam o sexo, ele viesse
com a história de que, na verdade, é um “menino-menina”? Caso tenha ficado
em dúvida, sinta-se em companhia dos adultos de Minha Vida em Cor-de-
Rosa. Desorientados diante desse comportamento nada convencional, eles
não sabem como enfrentar a situação. Alguém aí saberia?
O nome dele é Ludovic (interpretado por Georges Du Fresne). Caçula de
quatro irmãos, adora brincar de casinha. Sua boneca favorita é Pam, um clone
de Barbie, cujo mundo de fantasia se confunde, para ele, com a realidade.
Ludo, como todos o chamam, vive dançando a canção-tema da boneca e
prefere obviamente o rosa ao azul. Seu melhor amigo, Jérôme, assume em
seus planos o papel de Ben, o namorado de Pam. “Vamos nos casar quando
eu não for mais menino”, diz para a avó.
Recém-instalada num subúrbio de Paris, a alegre família de Ludo tem
reações distintas. O pai, Pierre (Jean-Philippe Écoffey), parece temer que o
filho seja homossexual e fica possesso quando descobre que um vizinho
chamou o menino de “veado”. A mãe, Hanna (Michèle Laroque), continua
cercando a criança de carinho, ainda que não entenda suas atitudes. “Até os
sete anos isso é normal. Li na Marie Claire”, afirma para as vizinhas. Depois,
começa a duvidar de tal normalidade. Os três irmãos observam o caçula como
quem não acredita no que vê. E a terapeuta do menino também não ajuda
muito.
Para fechar ainda mais o tempo, Jérôme é filho do chefe de Pierre, um
brutamontes conservador já traumatizado pela morte de uma filha. “Deus não
vai me tirar outro”, diz, como se o “casamento” anunciado por Ludo fosse
uma ameaça real vinda do inferno – no que, aliás, o pobre Jérôme,
convencido pelo pai, acredita. Temeroso de colocar o emprego em jogo por
causa do episódio, Pierre encara ainda o olhar preconceituoso do restante da
vizinhança, logo traduzido em pichações. Ludo assiste a tudo sem
compreender nada: é sobretudo das diferenças entre a realidade vista pelos
adultos e a vista pelas crianças que fala Minha Vida em Cor-de-Rosa.
“Crianças vivem em um mundo de possibilidades, poético, onde a
fronteira entre sonho e realidade não existe. Já a visão adulta é dominada por
aparências, códigos sociais e ideias sobre o que é e o que não é normal”, diz o
diretor e corroteirista, o belga Alain Berliner.
A exemplo de outros filmes em que a intolerência é tema-chave, a escola
entra em Minha Vida em Cor-de-Rosa com o papel sujo da omissão. É bem
verdade que a jovem professora de Ludo faz um belo discurso sobre aceitar
as diferenças dos outros, mas em seguida o diretor chama Pierre e Hanna à
sua sala – no cinema, gabinetes de diretores de escola são invariavelmente
palco de injustiças e atos imorais – para comunicar-lhes a necessidade de
transferir o menino, exigida pelos pais de outros alunos. Um pouco de
covardia, outro tanto de obscurantismo – e o sujeito nem mesmo transforma o
rosa da questão em vermelho. De vergonha.
Minha Vida em Cor-de-Rosa (Ma Vie en Rose) — França/Bélgica/Inglaterra, 1997, 85 min. Direção: Alain Berliner. Roteiro: Chris van der Stappen e Alain Berliner. Com Michèle Laroque, Jean-
Philippe Écoffey, Hélène Vincent, Georges Du Fresne. Distribuição em VHS: Alpha.
Os 12 Trabalhos
Brasil, 2006
Direção: Ricardo Elias
Quem mora em São Paulo ou visitou a cidade nos últimos anos sabe
como já pertencem à paisagem os milhares de motociclistas que tumultuam o
trânsito e aumentam a tensão de motoristas e pedestres. Eles contribuem, por
outro lado, para que a cidade funcione, graças às retiradas e entregas que
aceleram processos (de ordem tanto profissional quanto pessoal) e evitam um
número ainda maior de deslocamentos — que seriam, em boa parte,
realizados com o uso de automóveis.
Esses personagens foram objeto do documentário Motoboys – Vida
Loca, de Caito Ortiz, que entrevista muitos deles, além de ouvir outros
personagens da cidade, como o arquiteto Paulo Mendes da Rocha e a ex-
prefeita Marta Suplicy, na tentativa de compreender o fenômeno e suas
implicações sobre o cotidiano. Ao final, resta a sensação de “mal necessário”,
acompanhada da denúncia das péssimas condições de trabalho, que provocam
centenas de mortes por ano.
Em Os 12 Trabalhos, o diretor Ricardo Elias e o roteirista Cláudio
Yosida — que já haviam trabalhado juntos em De Passagem (2003), sobre
jovens da periferia de São Paulo — buscam a dimensão humana dos
“motoboys”, ou o que se esconde por trás das estatísticas. Sua recriação
ficcional do trabalho nas ruas da cidade se inspira nos mitológicos 12
trabalhos executados por Hércules, herói da Grécia Antiga.
Assim, o jovem Heracles (Sidney Santiago, da série de TV Turma do
Gueto) precisa dar conta de uma dúzia de tarefas em seu primeiro dia como
funcionário de uma pequena empresa de entregas. Nessa jornada, encontra
outros “motoboys” e interage com os clientes, em mosaico de personagens
que procura espelhar o diversificado cotidiano da metrópole. Suas andanças e
contatos sublinham também outro fenômeno bem brasileiro, o da
“invisibilidade social”: parcela da população, apesar de tudo o que fazem e
representam esses motociclistas, age como se não existissem.
Motoboys - Vida Loca — Brasil, 2004, 52 min. Direção: Caito Ortiz. Distribuição em DVD: Paramount.
Os 12 Trabalhos — Brasil, 2006, 90 min. Direção: Ricardo Elias. Roteiro: Cláudio Yosida. Com Sidney Santiago, Flavio Bauraqui, Vera Mancini, Vanessa Giácomo. Distribuição em DVD:
Imovision.
Leões e Cordeiros
Lions for Lambs
EUA, 2007, 91 min
Direção: Robert Redford
Leões e Cordeiros (Lions for Lambs) — EUA, 2007, 91 min. Direção: Robert Redford. Roteiro: Matthew Michael Carnahan. Com Tom Cruise, Meryl Streep, Robert Redford. Distribuição em
DVD: Fox.
Aos 12 anos, Francie Brady (Eamonn Owens) parece levar uma vida
normal. Vai à escola pela manhã e gasta as tardes em companhia de seu
melhor amigo, Joe Purcell (Alan Boyle), perambulando pelo campo e pelas
ruas da pequena cidade onde moram. A dupla apronta traquinagens e sonha
com heróis da televisão, do cinema e das histórias em quadrinhos. De vez em
quando, os meninos exageram, e a culpa invariavelmente recai sobre Francie.
Basta conhecer-lhe a intimidade para entender de onde vem tanta rebeldia.
O processo de desintegração psicológica dessa criança admirável
constitui o eixo de Nó na Garganta. O roteiro baseia-se no romance
homônimo do irlandês Patrick McCabe, ambientado no início da década de
1960. A tradução brasileira do livro e do filme tenta suavizar o título original
(“o garoto açougueiro”), mas não há como disfarçar a contundência desse
relato inusitado sobre a hostilidade do mundo adulto vista da perspectiva de
uma criança desajustada.
Os problemas de Francie começam em casa. Sua mãe, Annie (Aisling O’
Sullivan, de Michael Collins), é carinhosa, mas também insegura e
depressiva. Quando sofre colapsos nervosos, vai para a “oficina” –
eufemismo para clínicas psiquiátricas cujo principal método de tratamento, na
época, eram os choques elétricos. A cada retorno para casa, roubam-lhe um
pouco da sanidade mental. E o pai de Francie, Benny (Stephen Rea, de
Traídos pelo Desejo), é um músico alcoólatra incapaz de compreender o que
ocorre à sua volta, principalmente a solidão, a amargura e depois a ira de seu
filho.
Na cidade, o garoto é estigmatizado. Quase todos o veem como um
pequeno marginal sem futuro que ameaça as outras crianças apenas pela
convivência. A porta-voz desse movimento anti-Francie é a rabugenta sra.
Nugent (Fiona Shaw, de Meu Pé Esquerdo), que não quer vê-lo perto de seu
filho, o comportado Philip (Andrew Fullerton). De tanto ser encarado como
um perigo, Francie acaba mesmo tornando-se uma bomba-relógio. Nem
mesmo as aparições de um anjo a quem chama de Nossa Senhora
(interpretada pela cantora Sinéad O’Connor) impedem que as desgraças
cotidianas o façam entrar em parafuso.
Há uma garantia aparente de que o garoto sobreviveu àqueles maus
pedaços: a história é narrada pelo próprio Francie já adulto (Stephen Rea,
outra vez). Sua maneira peculiar de recordar e ao mesmo tempo comentar os
episódios, semelhante à do protagonista do seriado de TV Anos Incríveis,
responde em boa parte pela força de Nó na Garganta. São raros os filmes
sobre a infância dotados de um olhar e de um discurso assim identificados
com uma determinada compreensão da realidade. Seu protagonista, tanto nas
horas doces quanto nas violentas, é um espanto – para o bem e para o mal,
um personagem antológico.
Descoberto em uma escola irlandesa, o estreante Owens recebeu
diversos prêmios de ator revelação, inclusive no Festival de Berlim de 1998,
do qual o cineasta Neil Jordan saiu com o prêmio de melhor diretor. Owens
pode até encerrar sua carreira no cinema com esse primeiro filme que já terá
lugar assegurado na galeria dos maiores atores infantis. Sem menosprezar o
trabalho impecável de Jordan, o excelente cineasta de Traídos pelo Desejo
(1992) e Michael Collins (1996), é ao garoto que o espectador deve agradecer
a experiência incomum proporcionada por Nó na Garganta, uma travessia
ora trágica, ora cômica pela corda frágil estendida sobre o picadeiro da vida.
Nó na Garganta (The Butcher Boy) – Irlanda, 1997, 110 min. Direção: Neil Jordan. Roteiro: Patrick McCabe e Neil Jordan, baseado em romance homônimo de McCabe. Com Stephen Rea, Fiona
Shaw, Eamonn Owens, Alan Boyle, Sinéad O’Connor. Distribuição em VHS: Warner.
Boa parcela dos poucos filmes iranianos já lançados no Brasil (não mais
do que 30) fala de situações difíceis vividas por crianças. O Balão Branco
(1995) e Filhos do Paraíso (1997) são ótimos exemplos. No primeiro, uma
garota deixa cair no esgoto a nota de dinheiro que usaria para comprar um
peixinho dourado e procura recuperá-la. No segundo, dois irmãos são
obrigados a usar o mesmo par de tênis para ir à escola, em turnos diferentes,
sem que os pais saibam.
Pequenos dramas que, para essas crianças, assumem a dimensão de
grandes desafios. Uma das primeiras produções iranianas com esse tipo de
argumento a ser exibida no Ocidente foi Onde Fica a Casa do Meu Amigo?
(87), que obteve o Leopardo de Bronze e o prêmio do júri ecumênico no
Festival de Locarno (Suíça) em 1989. Seu diretor, Abbas Kiarostami, se
tornaria nos anos seguintes o maior nome do cinema de seu país, ganhador da
Palma de Ouro no Festival de Cannes com Gosto de Cereja (1997) e da
Medalha Fellini da Unesco, concedida a cineastas que se destacam “por seus
serviços à arte, à liberdade e à paz”.
Os filmes de Kiarostami lembram o neorrealismo italiano: são feitos
com poucos recursos, empregando atores amadores nos locais onde eles
vivem, sem iluminação ou cenários artificiais. Todo o esforço concentra-se
em costurar o fio da narrativa de tal forma que, primeiro, o espectador
identifique-se com os personagens e, depois, passe a torcer por eles. Onde
Fica a Casa do Meu Amigo? é uma pequena aula sobre como reduzir a arte
de contar histórias ao essencial, sem perder de vista a dimensão do que está
por trás delas.
A pequena fábula começa e termina na precária escola de um vilarejo.
No início, os alunos fazem bagunça enquanto o professor não chega. Basta
que ele entre na sala, entretanto, para que se perceba a força de sua autoridade
sobre as crianças. O mestre é especialmente implacável com a lição de casa,
que deve ser feita no caderno apropriado, e ai de quem não o obedece. É o
caso de um coitado que apresenta a tarefa em folhas avulsas porque diz ter
esquecido o caderno na casa de um primo. Tome bronca.
Naquela tarde, ao chegar em casa, um garoto percebe que pegou por
engano o caderno do colega relapso. Temendo que o professor cumpra a
ameaça de expulsá-lo da escola caso ele não faça novamente a lição no lugar
apropriado, o aluno solidário impõe-se o dever moral de encontrar a casa do
amigo para lhe devolver o caderno. Começam então a surgir os empecilhos: a
mãe não acredita na história e exige que ele a ajude nas tarefas domésticas, o
avô o flagra na rua e, para complicar, o dono do caderno mora em outro
vilarejo.
Voltamos à sala de aula para o desfecho inesperado: Kiarostami usa um
pequeno artifício dramático para conquistar de vez a simpatia do espectador.
Quando parecia que o mais interessante ali era o caminho percorrido pelo
garoto, descobre-se que o destino também escondia um pote de ouro.
Onde Fica a Casa do Meu Amigo? (Khane-ye Doust Kodjast?) — Irã, 1987, 83 min. Direção e roteiro: Abbas Kiarostami Com Babek Ahmed Poor, Ahmed Ahmed Poor, Kheda Barech Defai,
Iran Outari, Ait Ansari, Sadika Taohidi, Biman Mouafi. Distribuição em VHS: Cult Filmes.
Professora sem Classe (Bad Teacher) — EUA, 2011, 98 min. Direção: Jake Kasdan. Com Cameron Diaz, Lucy Punch, Jason Segel, Justin Timberlake. Distribuição em DVD e Blu-ray: Sony.
Guerras são criadas por adultos, mas seus efeitos atingem crianças e
jovens de forma dramática. Essa perspectiva raramente chega à imprensa,
encontrando abrigo mais comum no cinema, em filmes como a ficção
Tartarugas Podem Voar, que trata da invasão do Iraque sob a perspectiva de
órfãos de origem curda, e o recém-lançado documentário Promessas de um
Novo Mundo.
Entre 1997 e 2000, os diretores Carlos Bolado, B.Z. Goldberg e Justine
Shapiro acompanharam a rotina de sete crianças, israelenses e palestinas, que
viviam dentro e nos arredores de Jerusalém. Foi um tempo de relativa
calmaria, em seguida à primeira Intifada, revolta palestina que durou de 1987
a 1991, e ao processo de paz. Logo em seguida às filmagens, no outono de
2000, viria outra Intifada.
Educado em Jerusalém, Goldberg é quem aparece na tela, conversando
com as crianças, visitando suas casas e seus bairros. Nenhuma delas morava a
mais de 20 minutos de distância dos outros, lembra o cineasta. Ainda assim,
elas viviam em mundos muito distintos, expostas ao ódio que alimenta há
décadas as relações entre judeus e árabes no Oriente Médio.
O recente agravamento da crise torna esse documentário extremamente
atual (bem como o ensaio O Crime Ocidental, de Viviane Forrester).
Entende-se ali, um pouco melhor, alguns dos motivos que dificultam as
negociações de paz hoje, e que talvez as inviabilizem pelas próximas
gerações. Promessas de um Novo Mundo vai muito além, no entanto, desse
interesse geopolítico circunstancial: é um notável estudo sobre a infância em
tempos difíceis, que não oferecem perspectivas agradáveis de futuro para
quem deveria forçosamente tê-las.
Promessas de um Novo Mundo (Promises) — EUA, 2001, 85 min. Direção: Carlos Bolado, B.Z. Goldberg e Justine Shapiro. Distribuição em DVD: Abril.
Hoje a mais popular das redes sociais baseadas na internet, com cerca de
500 milhões de usuários, o Facebook nasceu em 2003, em uma das escolas de
maior prestígio do mundo, a Universidade de Harvard, nos EUA. Não havia,
em sua concepção, nenhum objetivo acadêmico mais nobre. Um de seus
criadores, Mark Zuckerberg, utilizou seus conhecimentos em programação de
computadores para criar uma forma de aproximar estudantes universitários e
de lhes proporcionar uma identidade virtual.
Os bastidores da fundação do website, dos conflitos jurídicos que
envolveram seus proprietários e da rápida ampliação da base de usuários,
com a chegada a outras universidades dos EUA, foram recriados em A Rede
Social, cujo roteiro — de Aaron Sorkin, autor do seriado The West Wing —
tomou como base o livro-reportagem Bilionários por Acaso - A Criação do
Facebook, de Ben Mezrich (Intrínseca).
De interesse especial para todos os que pesquisam o empreendedorismo
na sociedade contemporânea, sobretudo a partir de suas interações com as
tecnologias digitais, a história bem-sucedida de Zuckerberg ganha, no filme,
uma abordagem que se preocupa também com a natureza psicológica do
personagem (interpretado por Jesse Essenberg). Em seus movimentos,
procura-se entender como a solidão, as dificuldades para criar (e manter)
relacionamentos e a necessidade de afirmação social estão na raiz de redes
criadas pela internet.
Especializado em organizar pacotes gigantescos de informação em
narrativas fluentes, o diretor David Fincher (Clube da Luta, Zodíaco)
condensa habilidosamente os fatos que levaram à ascensão do Facebook e,
assim, transforma o Zuckerberg de A Rede Social em um ícone do nosso
tempo. A romantização do personagem, caracterizado como anti-heroi (ou
patinho feio) que se beneficia da era digital, sugere que os valores sociais e
econômicos do século 20 deram lugar a algo que ainda não revelou
inteiramente a sua face.
Entre os inúmeros longas-metragens de ficção que têm incorporado a
internet a suas tramas, alguns se destacam por tratar das mudanças
comportamentais protagonizadas pelas novas gerações e, também, dos
contrastes estabelecidos com o mundo em que cresceram seus pais — muitos
deles empenhados em compreender o alcance dessas transformações para não
perder de vista o que elas representam para seus filhos. É o caso do brasileiro
Nome Próprio e do canadense Adoração.
O primeiro é baseado no livro Máquina de Pinball, de Clarah Averbuck,
uma das primeiras "blogueiras" a despertar a atenção de milhares de
internautas no Brasil pelo tratamento literário dado à exposição de conflitos e
angústias pessoais. No filme, dirigido por Murilo Salles (Como Nascem os
Anjos), uma jovem (Leandra Leal) cria uma identidade virtual que arrebanha
seguidores, mas lhe cria problemas, na rede e fora dela.
Em Adoração, o diretor e roteirista Atom Egoyan (O Doce Amanhã) cria
uma trama sinuosa a partir de uma redação escrita por um aluno de ensino
médio (Devon Bostick) sobre sua suposta mãe. Restrita à sala de aula, a
história não teria muitos desdobramentos. Mas, a partir da circulação de
informações em redes sociais de alunos e de seus pais, instala-se na
comunidade uma crise que vai muito além do poder que se costuma atribuir a
um mero texto escolar.
A Rede Social (The Social Network) — EUA, 2010, 120 min. Direção: David Fincher. Roteiro: Aaron Sorkin, baseado em livro de Ben Mezrich. Com Jesse Eisenberg, Andrew Garfield, Justin
Timberlake, Rooney Mara. Distribuição em DVD e Blu-ray: Sony.
Faroeste Caboclo
Brasil, 2013
Direção: René Sampaio
Faroeste Caboclo — Brasil, 2013, 105 min. Direção: René Sampaio. Roteiro: Victor Atherino e Marcos Bernstein, baseado em canção de Renato Russo. Com Fabrício Boliveira, Isis Valverde,
Felipe Abib, Antonio Calloni, Marcos Paulo. Distribuição em DVD e Blu-ray: Europa.
Ninguém Pode Saber (Dare mo shiranai) — Japão, 2004, 141 min. Direção e roteiro: Hirokazu Kore-eda. Com Yûya Yagira, Ayu Kitaura, Hiei Kimura. Distribuição em DVD: Imovision.
Exílios
Exils
França/Japão, 2004
Direção: Tony Gatlif
Exílios (Exils) — França/Japão, 2004, 104 min. Direção e roteiro: Tony Gatlif. Com Romain Duris, Lubna Azabal, Zouhir Gacem. Distribuição em DVD: California.
“Meu nome é Joaquim José da Silva Xavier, sou brasileiro e luto pela
felicidade”, grita o maior herói de nossa história, sozinho no cárcere, em
Tiradentes. A cena, de impacto teatral, aparece perto do fim, como se o
diretor e roteirista Oswaldo Caldeira quisesse sublinhar qual foi a sua
principal intenção ao longo de todo o filme: investigar o cidadão de carne e
osso que se esconde por trás do mito.
Caldeira tomou como principal referência os dez volumes dos Autos da
Devassa da Inconfidência Mineira, que transcrevem os depoimentos colhidos
nas investigações da conjuração. Ficou tão impressionado com o resultado da
pesquisa que a desdobrou em dois projetos: uma tese de doutorado, A
Imagem de Tiradentes – Em Busca do Rosto Perdido, e um roteiro de longa-
metragem.
A tentativa quase antropológica de reconstituir o cotidiano de Vila Rica
no final do século XVIII é a primeira das várias diferenças de seu filme em
relação a Os Inconfidentes (1973), de Joaquim Pedro de Andrade, que faz
uma leitura estritamente política e intelectualizada da Inconfidência Mineira.
Aqui, os personagens que aparecem em livros escolares são vistos em um
bordel, fazendo piquenique ou jogando gamão.
O alferes Joaquim (Humberto Martins) leva bronca da mulher que
abandonou (Júlia Lemmertz), quer ser promovido a capitão para ganhar um
salário maior e tem pesadelos com mulheres nuas. Um de seus principais
traços, aliás, é a popularidade com o sexo oposto. Enquanto leva essa vida
comum, encanta-se pelos ideais da Revolução Francesa e discute com os
amigos como fazer um levante contra os portugueses.
Fazem parte de seu círculo, por exemplo, o poeta Tomás Gonzaga
(Eduardo Galvão) e sua noiva Marília (Giulia Gam). É do coronel Freire de
Andrade (Cláudio Mamberti), no entanto, a frase mais apropriada para
descrever o carismático Tiradentes recriado por Caldeira: “Ele pode ser
louco, mas que convence a gente, convence”. O próprio Joaquim também se
revela, falando a pessoas humildes: “Eu lhes darei dentes, mas não se
esqueçam de mim na hora de morder”.
Cabe a Paulo Autran, em uma aparição de poucos minutos, levar o filme
a seu melhor momento, no papel do padre que descreve a Tiradentes como
será realizada a cerimônia pública de enforcamento. É uma seqüência de
sonho, inserida em momento oportuno, sem destoar do registro
predominante, o realista. Seria um pouco demais exigir que Caldeira fosse
capaz de tratar do homem sem tocar no mito, ou nos elementos que ajudaram
a construí-lo.
O cineasta coordenou também, como parte do projeto, a publicação de
dois livros que funcionam como um complemento quase obrigatório:
Tiradentes: Roteiro Cinematográfico, Comentários e Fontes de Pesquisa
(Riofilme), e Tiradentes: Um Filme de Oswaldo Caldeira (Fundação
Universitária José Bonifácio), que reúne entrevistas, depoimentos e ensaios.
Tiradentes — Brasil, 1999, 123 min. Direção e roteiro: Oswaldo Caldeira. Com Humberto Martins, Júlia Lemmertz, Giulia Gam, Eduardo Galvão, Adriana Esteves, Marco Ricca, Janaína Diniz
Guerra, Cláudio Cavalcanti, Rodolfo Bottino, Cláudio Mamberti, Antônio Gonzales, Cláudio Corrêa e Castro, Carlos Versiani, Emiliano Queiróz, Nelson Dantas, Paulo Autran. Distribuição em
DVD: Original.
Proibido Proibir
Brasil, 2007
Direção: Jorge Durán
Proibido Proibir — Brasil, 2007, 101 min. Direção: Jorge Durán. Roteiro: Dani Patarra e Jorge Durán. Com Caio Blat, Alexandre Rodrigues, Maria Flor. Distribuição em DVD: Europa.
Contratempo
Brasil, 2008
Direção: Malu Mader e Mini Kerti
Dúvida
Doubt
EUA, 2008
Direção: John Patrick Shanley
Contratempo — Brasil, 2008, 92 min. Direção: Malu Mader e Mini Kerti. Distribuição em DVD: Videofilmes
Entre os Muros da Escola (Entre les Murs) — França, 2008, 128 min. Direção e roteiro: Laurent Cantet, baseado em romance de François Bégaudeau. Com François Bégaudeau, Agame
Malembo-Emene, Angélica Sancio. Distribuição em DVD: Imovision.
Dúvida (Doubt) — EUA, 2008, 104 min. Direção e roteiro: John Patrick Shanley. Com Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams, Viola Davis, Alice Drummond. Distribuição em
DVD e Blu-ray: Disney
Simplesmente Feliz
Happy-Go-Lucky
Inglaterra, 2008
Direção: Mike Leigh
Simplesmente feliz (Happy-Go-Lucky) — Inglaterra, 2008, 118 min. Direção e roteiro: Mike Leigh. Com Sally Hawkins, Alexis Zegerman, Samuel Roukin. Distribuição em DVD: Swen Filmes.
ADOLESCÊNCIA
Aprendiz, O
Basquete Blues
Caché
Deixa Ela Entrar
Dezesseis Luas
Diretor Contra Todos, Um
Elefante
Eleição
Em um Mundo Melhor
Encanto das Fadas, O
Encontrando Forrester
Fama para Todos
Juno
Melhores Coisas do Mundo, As
Nó na Garganta
Orange County – Correndo Atrás do Diploma
Precisamos Falar Sobre o Kevin
Pro Dia Nascer Feliz
Todas as Coisas São Belas
Três é Demais
ALUNOS-PRODÍGIO
Aluno, O
Lances Inocentes
Três é Demais
ANALFABETISMO
Central do Brasil
ARTES
Billy Elliot
Contratempo
Dezesseis Luas
Escola de Rock
Garotos Incríveis
Janela da Alma
Judeu, O
Kolya – Uma Lição de Amor
Linéia no Jardim de Monet
Lixo Extraordinário
Minhas Tardes com Margueritte
Mr. Holland – Adorável Professor
Música do Coração
Ninho Vazio
Noite em 67, Uma
Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos
Palavra (En)cantada
Palhaço, O
Pina
Poesia
Professora de Piano, A
Raul - O Início, o Fim e o Meio
Somos tão Jovens
Viva São João!
ASSÉDIO
187 – O Código
Bem-vindo à Casa de Bonecas
Caça, A
Deixa Ela Entrar
Dúvida
Eleição
Minha Vida em Cor-de-Rosa
Oleanna
CIÊNCIA
Céu de Outubro, O
Gênio Indomável
Gênio Indomável
Pi
Verdade Inconveniente, Uma
CRÔNICAS DE COSTUMES
Amor & Cia.
Auto da Compadecida, O
DESIGUALDADE SOCIAL
12 Trabalhos, Os
Cidade de Deus
Como Nascem os Anjos
Crianças Invisíveis
Dezesseis, Zero, Sessenta
Elefante
Elefante Branco
Estamos Juntos
Fala Tu
Faroeste Caboclo
Homem ao Lado, O
Homem que Virou Suco, O
Invasor, O
Linha de Passe
Lixo Extraordinário
Motoboys - Vida Loca
Nenhum a Menos
Ônibus 174
Ruas de Casablanca, As
Tropa de Elite
ENSINO FUNDAMENTAL
Bem-vindo à Casa de Bonecas
Billy Elliot
Caça, A
Caminho para Casa, O
Como Eu Festejei o Fim do Mundo
Corrente do Bem, A
Dúvida
Entre os Muros da Escola
Escola de Rock
Filhos do Paraíso
Língua das Mariposas, A
Minha Vida em Cor-de-Rosa
Música do Coração
Nenhum a Menos
Onde Fica a Casa do Meu Amigo?
Pequeno Nicolau, O
Professora Muito Maluquinha, Uma
Professora sem Classe
Quando Tudo Começa...
Que Eu mais Desejo, O
Ser e Ter
Simplesmente Feliz
Verão Feliz
Vermelho como o Céu
Verônica
Xeretas, Os
Zero em Comportamento
ENSINO MÉDIO
187 – O Código
Aprendiz, O
Basquete Blues
Bela Junie, A
Bling Ring - A Gangue de Hollywood
Caché
Céu de Outubro, O
Depois de Maio
Dezesseis Luas
Diretor Contra Todos, Um
Duelo de Titãs
Dúvida
Educação
Elefante
Eleição
Encontrando Forrester
Garota Interrompida
Juno
Lugares Comuns
Melhores Coisas do Mundo, As
Mr. Holland – Adorável Professor
Não me Abandone Jamais
Nosso Professor é um Herói
Onda, A
Orange County – Correndo Atrás do Diploma
Pro Dia Nascer Feliz
Quem Não Cola Não Sai da Escola
Todas as Coisas São Belas
Três é Demais
ENSINO SUPERIOR
Apenas o Fim
Garotos Incríveis
Gênio Indomável
Homem Sério, Um
Oleanna
Pi
Proibido Proibir
Rede Social, A
Tropa de Elite
Visitante, O
ESPIRITUALIDADE E RELIGIÃO
Apóstolo, O
Banheiro do Papa, O
Batismo de Sangue
Elefante
Elefante Branco
Homem Sério, Um
Homens e Deuses
Judeu, O
Ouro de Ulisses, O
Pecado de Hadewijch, O
ESPORTE
Basquete Blues
Bem-vindo
Duelo de Titãs
Encontrando Forrester
Invictus
Lances Inocentes
FAMÍLIA
Aluno, O
Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, O
Babel
Bem-vindo à Casa de Bonecas
Billy Elliot
Caça, A
Caché
Chaves de Casa, As
Croods, Os
Culpa É do Fidel!, A
Doce Amanhã, O
Fama para Todos
Fita Branca, A
Garoto da Bicicleta, O
Grande Garoto, Um
Homem ao Lado, O
Ladrão, O
Ladrões de Bicicleta
Lances Inocentes
Linha de Passe
Melhores Coisas do Mundo, As
Meu Irmão É Filho Único
Minha Vida em Cor-de-Rosa
Ninho Vazio
Ninguém Pode Saber
Nó na Garganta
Pai Patrão
Palhaço, O
Pequena Miss Sunshine
Pequeno Nicolau, O
Precisamos Falar Sobre o Kevin
Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios
Quarto do Filho, O
Que Eu mais Desejo, O
GLOBALIZAÇÃO
Babel
Bem-vindo
Biutiful
Em um Mundo Melhor
Neste Mundo
Visitante, O
HISTÓRIA DA ÁFRICA
Exílios
Hotel Ruanda
Invictus
Ruas de Casablanca, As
HISTÓRIA DA ALEMANHA
Adeus, Lênin!
Vida dos Outros, A
HISTÓRIA DA FRANÇA
Culpa É do Fidel!, A
Depois de Maio
Maria Antonieta
HISTÓRIA DA IUGOSLÁVIA
Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios
HISTÓRIA DA ITÁLIA
Concorrência Desleal
Dia Muito Especial, Um
Gomorra
Ladrões de Bicicleta
Meu Irmão É Filho Único
Novo Mundo
Vincere
HISTÓRIA DE CUBA
Che
Culpa É do Fidel!, A
HISTÓRIA DE PORTUGAL
Judeu, O
HISTÓRIA DO BRASIL
Aluno, O
Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, O
Baile Perfumado, O
Batismo de Sangue
Brava Gente Brasileira
Caramuru – A Invenção do Brasil
Entreatos - Lula a 30 Dias do Poder
Guerra de Canudos
Hans Staden
Hércules 56
Marighella - Retrato Falado do Guerrilheiro
Netto Perde Sua Alma
Noite em 67, Uma
Peões
São Paulo Sociedade Anônima
Terra Estrangeira
Tiradentes
Xingu
HISTÓRIA DO CHILE
No
HISTÓRIA DO CINEMA
Artista, O
Baile Perfumado, O
Invenção de Hugo Cabret, A
ÍNDIOS
Brava Gente Brasileira
Caramuru – A Invenção do Brasil
Hans Staden
Tainá – Uma Aventura na Amazônia
Terra Vermelha
Xingu
INFÂNCIA
Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, O
Babel
Bem-vindo à Casa de Bonecas
Billy Elliot
Chaves de Casa, As
Como Eu Festejei o Fim do Mundo
Concorrência Desleal
Crianças Invisíveis
Crônica da Inocência
Culpa É do Fidel!, A
200 Crianças do Dr. Korczak, As
Filhos do Paraíso
Fita Branca, A
Garoto da Bicicleta, O
Grande Garoto, Um
Invenção de Hugo Cabret, A
Kiriku e a Feiticeira
Kolya – Uma Lição de Amor
Ladrão, O
Ladrões de Bicicleta
Liam
Língua das Mariposas, A
Minha Vida em Cor-de-Rosa
Ninguém Pode Saber
Onde Fica a Casa do Meu Amigo?
Pai Patrão
Pequena Miss Sunshine
Pequeno Nicolau, O
Promessas de um Novo Mundo
Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios
Que Eu mais Desejo, O
Ruas de Casablanca, As
Tartarugas Podem Voar
Verão Feliz
Zero em Comportamento
INTERNET
Rede Social, A
Vida em um Dia, A
JUVENTUDE
Apenas o Fim
Baran
Bela Junie, A
Bling Ring - A Gangue de Hollywood
Depois de Maio
Educação
Fala Tu
Garota Interrompida
Invasor, O
Linha de Passe
Maria Antonieta
Na Estrada
Na Natureza Selvagem
Não me Abandone Jamais
Pecado de Hadewijch, O
Réquiem para um Sonho
Somos tão Jovens
Todas as Coisas São Belas
Proibido Proibir
RACISMO
Duelo de Titãs
SEXUALIDADE
Minha Vida em Cor-de-Rosa
TELEVISÃO
Adeus, Lênin!
Fama para Todos
No
Noite em 67, Uma
TUTOR
Aluno, O
VIOLÊNCIA ESCOLAR
187 – O Código
Diretor Contra Todos, Um
Elefante