Literatura Luso-Brasileira I - Volume 3

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO (UFRPE)

COORDENAÇÃO GERAL DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (EAD/UFRPE)

Literatura Luso-brasileira I

Cinthya Tavares
Edilene Soares das Neves

Volume 3

Recife, 2011
Universidade Federal Rural de Pernambuco

Reitor: Prof. Valmar Corrêa de Andrade


Vice-Reitor: Prof. Reginaldo Barros
Pró-Reitor de Administração: Prof. Francisco Fernando Ramos Carvalho
Pró-Reitor de Atividades de Extensão: Prof. Delson Laranjeira
Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Profª Maria José de Sena
Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação: Profª Antonia Sherlânea Chaves Véras
Pró-Reitor de Planejamento: Prof. Romildo Morant de Holanda
Pró-Reitor de Gestão Estudantil: Prof. Valberes Bernardo do Nascimento
Coordenação Geral de Ensino a Distância: Profª Marizete Silva Santos

Produção Gráfica e Editorial


Capa e Editoração: Rafael Lira, Italo Amorim e Arlinda Torres
Revisão Ortográfica: Marcelo Melo
Ilustrações: Allyson Vila Nova
Coordenação de Produção: Marizete Silva Santos
Sumário

Apresentação.................................................................................................................. 4

Conhecendo o Volume 3................................................................................................. 5

Capítulo 7 – Arcadismo: uma torre de marfim................................................................. 7

O Século das Luzes............................................................................................................7

As luzes também se acendem em Portugal....................................................................15

Capítulo 8 – A Poesia Árcade em Portugal: é permitido sonhar..................................... 23

Os poetas portugueses árcades e seus refúgios.............................................................23

Surge a Nova Arcádia......................................................................................................24

Nos dissidentes: o pré-romantismo se anuncia..............................................................25

Sadino: Sátira, Sensualidade e Sofrimento.....................................................................28

Capítulo 9 – Arcadismo: Polimorfismo cultural.............................................................. 34

O período árcade brasileiro............................................................................................34

O Surgimento das academias.........................................................................................35

As convenções da arte clássica.......................................................................................35

Capítulo 10 – A produção poética dos artistas brasileiros.............................................. 40

Cláudio Manuel da Costa (1729-1789)...........................................................................40

Tomás Antonio Gonzaga (1744-1810)............................................................................41

Basílio da Gama (1741-1795).........................................................................................44

Frei José de Santa Rita Durão (1722-1784).....................................................................46

Alvarenga Peixoto (1744-1792)......................................................................................47

Silva Alvarenga (1749-1814)...........................................................................................47

Considerações Finais..................................................................................................... 52

Conheça as Autoras...................................................................................................... 53
Apresentação
Caro(a) cursista,
Seja bem-vindo (a) ao terceiro módulo da disciplina de Literatura Luso-brasileira: das origens ao
Romantismo. Esperamos que você esteja gostando de tudo que está aprendendo e deseje continuar conosco nessa
nova etapa que abrangerá o Arcadismo em Portugal e no Brasil.
Nela, você também irá conhecer o contexto histórico e sócio-cultural antes de entrar em contato com os
autores e textos árcades mais consagrados pela tradição literária. A essa altura você já deve ter percebido o quanto
é importante conhecer o contexto de produção de uma obra, o que nos ajuda a entender a forma como essa obra
representa a maneira de pensar e agir de uma época.
O objetivo primordial deste terceiro módulo é apresentar a você a teoria filosófica que mudou
vertiginosamente a vida nas sociedades ocidentais a partir do século XVIII e permitir seu acesso e reflexão às
expressões artísticas, primordialmente, a literária resultante dessa transformação.
Sabemos o quanto os estudos literários estão sendo responsáveis pela ampliação de suas habilidades.
Então prossiga, pois sua jornada ainda reserva muitas descobertas prazerosas.
Bons estudos!!!
Cinthya Tavares e Edilene Soares das Neves
Professoras Autoras

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Literatura Luso-brasileira I

Conhecendo o Volume 3
Neste volume, você irá encontrar o módulo 3 da disciplina Literatura Luso-brasileira:
das origens ao Romantismo. Para facilitar seus estudos, veja como ele será organizado:

Volume 3 – O Arcadismo em Portugal e no Brasil

Carga Horária do Módulo: 15 h/aula


Objetivo do Módulo 3: apresentar o contexto histórico e sócio-cultural cujas
implicações permitiram o surgimento do Arcadismo e mais especificamente seu
desdobramento em Portugal e no Brasil, de forma que o estudante possa refletir sobre esse
contexto durante a leitura das obras dos autores desse período e facilmente identifique as
marcas que traduzem esse fazer artístico.
Conteúdo Programático do Volume 3:

» Contexto histórico e sócio-cultural do século XVIII;


» Análise crítica dos textos consagrados dos principais autores do Arcadismo
português;
» Análise crítica dos textos consagrados dos principais autores do Arcadismo
brasileiro.

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Literatura Luso-brasileira I

Capítulo 7

O que vamos estudar neste capítulo?

Neste capítulo, vamos estudar os seguintes temas:

» O pensamento iluminista francês e seus mais importantes representantes;


» A Revolução Francesa e suas implicações no rumo da sociedade setecentista;
» A volta dos modelos clássicos ao mundo da arte;
» O ciclo da mineração e a luta pela liberdade política no Brasil e suas implicações
literárias;
» Autores e obras neoclássicas consagradas em Portugal e no Brasil.

Metas

Após a conclusão deste capítulo, esperamos que você consiga:

» Perceber de que forma a filosofia iluminista modificou o pensamento do homem


setecentista sobre os imperativos para se viver em sociedade;
» Identificar as características que traduzem o ideal neoclássico na literatura
portuguesa;
» Diferenciar os estilos e temáticas presentes nas produções artísticas dos poetas
árcades portugueses.

Muitos homens iniciaram uma nova era na sua vida


a partir da leitura de um livro.
(Henry David Thoreau)

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Literatura Luso-brasileira I

Capítulo 7 – Arcadismo: uma torre de


marfim

Vamos conversar sobre o assunto?

Você já desejou ser outra pessoa? Viver uma vida bem diferente da sua? Sim. No
entanto, para muitos, falta a coragem de abandonar tudo para realizar um sonho. Pois
saiba: há quem tenha conseguido conciliar sonho e realidade. De que forma? Talvez você
já tenha ouvido falar em “Avatar”? Não. Quer descobrir do que se trata? É só continuar a
nossa conversa...
Palavra de origem hindu significa “encarnação” e foi incorporada ao mundo digital
para dar nome a uma brincadeira. Nela, cada participante cria seu avatar, ou seja, um ser
imaginário semelhante a si próprio e passa a viver numa realidade virtual, o que sempre
imaginou desfrutar na vida real. A experiência já é compartilhada por muitos adeptos no
Brasil e em todo mundo. Assim, há solteiros que se tornam casados e vice-versa; homens
bens sucedidos de meia idade que resolvem ser surfistas; pessoas não satisfeitas com a sua
aparência, transformadas em homens e mulheres atraentes etc.
Você deve estar se perguntando, qual a ligação entre o Avatar e os nossos estudos
literários? Pois é muito grande. Vamos aprender nesse capítulo sobre o Arcadismo. Em
pleno século XVIII, poetas europeus, insatisfeitos com a sua realidade, criaram um mundo
paralelo para viver de forma diferente. Tal mundo ganhou concretude através dos versos
desses poetas. Que tal conhecer um pouco mais sobre essa fuga? Como viviam os europeus
naquele período para desejarem tanto assim uma nova realidade?
Bem vindo aos nossos estudos sobre o Arcadismo!

O Século das Luzes

Atenção

Mesmo dividido, o homem seiscentista1 não abandonou os avanços científicos. 1


Vocabulário:
Relativo aos anos de
Seduzido pelo conhecimento, prosseguiu sua jornada de descobertas e fez o século seguinte,
1600 a 1699, ou seja,
o XVIII, passar a ser conhecido como “O Século das Luzes”. O título decorre de um grupo de ao século XVII.
cientistas, filósofos e artistas nomeados pela História de “iluministas”, cujo ideal estava na

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Literatura Luso-brasileira I

defesa da “iluminação do mundo”, ou seja, fazer os espíritos escurecidos pela ignorância


Atenção se iluminarem com o saber e engrossarem as fileiras da Razão para lutar contra todas as
formas de despotismo2.
2
Vocabulário:
Ação de déspota, Essa atmosfera revolucionária, protagonizada pelos intelectuais iluministas,
tirano; sistema de na verdade, só se fez possível diante de uma série de alterações na vida das sociedades
governo fundado no europeias. A começar pelo declínio do pensamento contrarreformista da Igreja Católica
poder absoluto de um
rei.
após a extinção dos trabalhos do Tribunal da Santa Inquisição garantindo a tolerância
religiosa para os cristãos novos e prosseguindo pelas mudanças nos setores econômico,
social, político, cultural e geográfico, a saber: a expansão do comércio ultramarino e das
instituições financeiras, a melhoria dos meios de comunicação e das vias terrestres, o
desenvolvimento dos núcleos urbanos, a ampliação da indústria têxtil e posteriormente
a utilização de maquinário térmico movido a carvão, avanços na agricultura e pecuária,
o aumento na oferta de empregos na indústria – responsável pelo maior êxodo rural da
História da Europa – a ascensão econômica e política da burguesia e o desprestígio dos
governos absolutistas.

John Locke

O projeto Iluminista teve início na Inglaterra com pensadores como Locke3, defensor
do culto à razão prática em detrimento da filosofia metafísica, do Estado parlamentar e da
educação individualista. Enquanto essas ideias operavam mudanças na vida política (1668),
econômica e social dos ingleses; na Holanda, as teorias de dois outros filósofos refugiados,
Descartes e Espinosa4, já haviam emergido algumas décadas antes, embora não tivessem
gerado resultados práticos tão significativos.

Minibiografia

3
John Locke (1632 – 1704). Filho de uma família de nobre que apoiou a Guerra Civil Inglesa.
Estudou medicina e química em Oxford. A leitura de Descartes despertou-lhe o interesse pela
filosofia. Sua obra mais conhecida é Ensaio do Conhecimento Humano.

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Literatura Luso-brasileira I

Minibiografia

4
René Descartes (1596-1650). Filho de um conselheiro real, foi educado pelos jesuítas, tornou-se
soldado e refugiou-se na Holanda para realizar seus estudos matemáticos. Através da Geometria
desenvolveu o pensamento cartesiano. É autor da célebre frase: penso logo existo. Entre suas
obras mais conhecidas está Discurso e Método. Convidado pela rainha da Suécia para ser seu
professor, morreu naquele país alguns meses depois de lá se estabelecer.
Baruch Espinosa (1632-1677) era filho de judeus portugueses que, fugindo das perseguições
religiosas, passaram a viver na Holanda. Mais tarde Espinosa foi expulso do país e de sua sinagoga.
Chegou a sofrer um atentado e foi perseguido por católicos ortodoxos que o consideravam ateu.
Reconhecidamente bem educado, franco e honesto, Espinosa passou sua vida pagando o preço
de suas qualidades morais. Sua obra mais conhecida é Ética. Perdeu a oportunidade de ter uma
cátedra em Heidelberg porque se recusou a compactuar com as limitações oficiais que eram
impostas.

René Descartes

Será o Iluminismo francês o herdeiro desses dois racionalistas, entre suas


concepções, está a de que todo o conhecimento das coisas externas está na mente, logo
a essência do ser é o pensamento (Descartes). Contudo, para que o pensamento possa
resultar no bem, a mente precisa conceber ideias claras, pois só elas são verdadeiras
e libertam o homem da passividade diante das paixões, ou seja, se penso racionalmente
as minhas emoções, sou capaz de dominá-las e ser feliz (Espinosa). Mas, sem dúvida,
a principal herança deixada por esses filósofos foi a defesa de que Deus não interfere na
Natureza, assim o homem não precisava de “milagres” para justificar os acontecimentos,
mas da Razão e da Ciência para esclarecer todos os fenômenos. O que não significa negar a
existência divina, pelo contrário, eles afirmavam que Deus estaria no homem e na Natureza
(deísmo). O que os filósofos iluministas defendiam, de fato, eram os ideais antropocêntricos,
assim sendo, as escolhas e atitudes são de plena responsabilidade do ser humano. Espinosa
chegou mesmo a duvidar do direito divino que concebia a um homem herdar um trono
e governar absoluto sobre todos os outros. Os iluministas pregavam abertamente o
direito natural de todo ser humano ao conhecimento materialista rumo ao progresso e,
consequentemente, à felicidade. Portanto, o ser humano não precisaria de instituições
religiosas nem monárquicas que os guiassem, bastaria a consciência embasada na ética e na
moral. Ressalve-se que a igualdade civil pregada pelos iluministas não incluía a econômica.

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Literatura Luso-brasileira I

No universo da literatura francesa, o Iluminismo contou com a chamada geração


de 1660 – formada pelo quarteto de amigos La Fontaine, Racine, Molière e Boileau – os
Atenção três primeiros autores ficcionais e o último ficou mais conhecido como crítico literário. O
trabalho desses artistas consistiu em realizar a crítica aos vícios humanos presentes não
5
Vocabulário: só na sociedade francesa, como em qualquer outra sociedade. E lançaram as bases do
Referente a Epicuro,
que acreditava que Arcadismo na Literatura Francesa servindo de modelo para artistas do mundo todo.
os fenômenos da
La Fointaine apontou as falhas de sua sociedade através de inúmeras fábulas, para
Natureza não deviam
ter suas causas isso reuniu o pensamento de Horácio (epicurista5), a sátira, o texto didático e a tradição
ligadas ao divino popular, que o ajudaram a recontar as histórias de Esopo (fabulista da Antiguidade grega)
ou ao destino. O como também as suas próprias. Enquanto La Fointaine dedicava-se à narrativa, Racine e
homem devia buscar
o equilíbrio na paz Molière preferiram o teatro. O primeiro escrevia tragédias como Fedra6, cujo mérito está
interior e esta se em promover uma reflexão sobre o apego às paixões e o preço que se paga pela falta
cumpriria na retidão de equilíbrio, ou seja, do descontrole das emoções; o segundo, fazia comédias como O
da conduta moral,
Avarento7, em que recai sobre as atitudes insensatas da personagem principal toda a
desfrutar os prazeres
terrestres sem culpa crítica àqueles que colocam o vil metal acima dos valores morais e espirituais. Coube ao
e perder os medos, quarto e único amigo redigir Art Poétique, obra teórica que assinalava a função social a ser
principalmente, da
desempenhada pela arte na sociedade moderna (entenda-se século XVIII) e a defesa de que
morte.
só a arte clássica cumpriria essa tarefa.

Fedra

Ampliando Horizontes

6
Fedra é um texto trágico, que conta a história da personagem título casada com o

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Literatura Luso-brasileira I

rei Teseu, mas apaixonada pelo enteado, Hipólito. Ao ser informada da morte do rei, Fedra
resolve revelar seu amor, contudo Hipólito a rejeita. A informação da morte havia sido um
engano e o rei retorna. Fedra resolve vingar-se e conta ao marido que o filho tentou seduzi-
la. O rei pede a Poseidon que mate seu filho Hipólito. Fedra se envenena ao saber da morte
do amado.

Ampliando Horizontes

7
Está comédia de autoria de Molière tem como personagem principal Harpagão,
um viúvo sovina que deseja casar a filha com um homem rico, mas desconhece o namoro
secreto da filha com seu criado. Para ele, guardar o sonho de se casar com a jovem órfã
Mariana, desconhecendo também a paixão do filho Cleonte pela mesma. Esconde toda
sua fortuna em uma caixa no quintal e vive atormentando a todos com suas economias,
principalmente, sua governanta que faz as vezes de alcoviteira para ganhar alguns trocados,
o criado e o cozinheiro.
No Brasil, a peça foi encenada inúmeras vezes, tendo Paulo Autran no papel de
Harpagão.

Depois vieram outros intelectuais, como Diderot, Voltaire e D’Alembert, este,


autor de Discours Prèliminaire de L’Encyclopèdie, iniciador da divulgação do pensamento
enciclopédico, mais tarde se uniu a Diderot e Voltaire para juntos publicarem Encyclopèdie,
Dictionnaire Raisonné des Sciences, des Arts et des Métiers (Enciclopédia, Dicionário Racional
das Ciências, das Artes e dos Ofícios). Segundo Diderot, o objetivo de uma enciclopédia era
reunir os conhecimentos do passado e do presente para que estes se fizessem conhecer
tanto pelos seus contemporâneos como pelos que ainda iriam nascer. Sistematizar os
conhecimentos em uma única coleção correspondia a uma tentativa de universalizar o saber
para que este estivesse ao alcance de todos e assim a tarefa de iluminação se cumprisse.
Não é à toa que a enciclopédia é reconhecida como um dos maiores símbolos dessa corrente
filosófica. Coube a Voltaire condenar todas as formas de opressão e para isso criticou
principalmente a Igreja Católica e os governos absolutistas, cujos líderes eram déspotas. A
seu ver, a liberdade de expressão era componente indispensável para a sociedade humana
melhorar, por isso tornou-se defensor de uma monarquia constitucionalista.

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Literatura Luso-brasileira I

Rousseau Voltaire

Outro filósofo que se fez presente no período foi Rousseau8, apesar de não ter
compartilhado por muito tempo do pensamento iluminista. Defensor de uma sociedade
simples e de mais contato com a natureza. É dele a teoria do “bom selvagem”, na qual
defende que o homem nasce sem vícios e é a vida nas sociedades corruptas a responsável
pela transformação desse homem em um ser vil, por isso passou a ser antirracionalista,
rompeu com os enciclopedistas e desacreditou do progresso como caminho para a
felicidade. Pregava também a democracia direta, republicana. Acabou influenciando
aristocratas e operários com suas ideias. Os primeiros deixaram a cidade para morar no
campo; os outros passaram a exigir direitos iguais e levaram o país a maior Revolução já
vista pela nação francesa.

“Tudo está bem ao sair das mãos do Autor (Deus); tudo degenera nas mãos dos homens”.
Jacques Rosseau

Minibiografia

Galeria e Minibiografias
8
Jean Jacques Rosseau (1712-1778): de origem humilde, nasceu em Genebra como protestante.
Foi para Paris e se converteu em Católico. Trabalhou com os enciclopedistas, mas cedo reavaliou
suas ideias, tornando-se o filósofo que inspiraria os românticos, lançando as bases do pré-
romantismo.
Diderot: principal expoente do projeto enciclopedista. Ressaltava a importância da cultura.
Boêmio, foi preso algumas vezes.
Voltaire (1694 – 1778): pseudônimo de François Marie Arouet. Foi poeta, ensaísta, historiador,
dramaturgo, diplomata, contista, jurisconsulto e filósofo iluminista. Recebeu suas primeiras
influências iluministas na Inglaterra. Pregava a liberdade de pensar e ser diferente, o que o
tornou um sátiro ferrenho e lhe rendeu muitos inimigos. Chegou a ser preso na Bastilha e quase
foi guilhotinado, acusado de escrever uma sátira contra o Rei Luis XIV. Morreu aos 84 anos e seu
corpo não foi aceito em nenhum cemitério de Paris.
D’Alembert (1717 – 1783): físico, matemático e filósofo. Era filho natural de um general e uma
aristocrata, os quais o abandonaram quando nasceu. Encontrado pela esposa de um vidraceiro,
foi por ela criado. Assinava Damberg até mudar a grafia de seu nome. Publicou inúmeras obras
matemáticas. Estudou Direito e Medicina, mas abandonou as duas pela Matemática.

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Literatura Luso-brasileira I

Tomada da Bastilha

Para os historiadores, esse conjunto de ideias defendidas pelos iluministas e


divulgadas pelos seus adeptos, levou a França à Revolução, no ano de 1789, mudando
definitivamente os rumos da História da Humanidade através do combate ao sistema
absolutista e resultando na elevação política da classe burguesa. Pela primeira vez, desde
que passaram a dominar o cenário econômico, a burguesia ascendia politicamente. A
exemplo do que já ocorrera na Inglaterra, os franceses mostravam-se dispostos a combater
o poder centralizado pelos reis em nome de um sistema mais democrático, no qual todas as
camadas da população pudessem ter ver e voz nas decisões políticas da nação. Desejaram
realizar uma completa independência: política, intelectual, artística e religiosa. Contudo,
durou pouco tempo o estado de euforia, o pós-revolução trouxe o caos para a França:
prisões, condenações à morte, assassinatos, perseguições políticas, briga pelo poder,
declínio econômico, levando a nação às mãos de Napoleão Bonaparte, entretanto está é
outra história que em breve iremos contar.

Lema da Revolução Francesa.

Para entendermos melhor o projeto das Luzes na arte, é preciso perceber como
suas bases filosóficas: o culto às ciências, à Razão, ao progresso e à defesa de uma arte
clássica se transportou para o universo artístico. Antes de tudo, este projeto opunha-se
ao projeto Barroco e privilegiava a volta do mundo clássico por este último possuir na sua
essência o racionalismo. Esse novo momento clássico passou a ser conhecido nas artes
como Arcadismo. Uma das transformações mais significativas talvez tenha ocorrido fora do
objeto artístico, mais precisamente no contexto de produção desses objetos, é a rejeição ao
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Literatura Luso-brasileira I

mecenato aristocrático e político no quais os escritores viviam, dependendo da corte para


verem suas obras publicadas. Pertence a esse momento histórico o surgimento da figura
do editor, de um público cada vez mais burguês e de escritores que deixaram para trás as
imposições aristocráticas e passaram a produzir cada vez mais voltados para uma realidade
social completamente diferente da que se conhecia até então.
Por causa dos intelectuais e artistas iluministas franceses9, o século XVIII também
ficou conhecido pelo “século francês”, a língua, a literatura e a cultura francesa exerceram
seu domínio sobre outras importantes culturas. Na Espanha e em Portugal, contudo, o
Barroco continuará a prevalecer até a primeira metade do século XVIII. Foi preciso o trono
espanhol ser ocupado por Filipe V, da casa dos Bourbons, para que as relações entre as duas
nações (França e Espanha) se estreitassem e permitissem assim a divulgação do movimento
em terras espanholas.

Minibiografia

9
(1621 – 1695) Jean La Fontaine era de família abastada, mas não era nobre, dependia da
proteção de patronos e amigos para divulgar seu trabalho. Viveu na corte de Luis XIV. Tinha
formação clássica e ficou conhecido pela publicação de poemas e principalmente por sua obra
Fábulas (1688), na qual constam, além de fábulas de Esopo, algumas de sua criação, como A
cigarra e a formiga. Junto com Racine, Molière e Boileau, formou o conhecido quarteto da rua
Vieux Comlobier.
(1639 – 1699) Jean Racine. Teve educação religiosa e pretendia se tornar teólogo, mas trocou a
religião pelo teatro ao chegar a Paris. Com suas tragédias fez enorme sucesso, contudo acabou no
ostracismo, quando se aproximou do jansenismo protestante. Graças a Madame de Maintenon,
amante do rei Luis XIV, pôde voltar aos palcos.
(1622 – 1673) Jean Baptiste Poquelin, conhecido como Molière, foi ator e gerente, além de autor
de teatro. Apesar de protegido por Luis XIV, diante das inúmeras ameaças sofridas por aqueles
que se sentiam ridicularizados através de seus textos, acabou na cadeia devido às dívidas de seu
teatro. Passou a trabalhar como itinerante pelo interior da França até que anos mais tarde voltou
a Paris e se integrou a um grupo italiano de comedia dell”arte. Sofreu um mal estar em cena,
morrendo horas depois.
(1636 -1711) Nicolas Boileau Despréaux nasceu e faleceu em Paris. Foi advogado, preceptor e
literata. Compôs crônicas, poesia satírica, tratados diversos. Figura polêmica, defensor de uma
literatura antibarroca.

Já em Portugal, além da influência francesa, os poetas portugueses se inspiraram


diretamente no Arcadismo italiano, imitando o modelo da Arcádia Romana, fundada
em 1690. Essa Arcádia tentava imitar a homônima, lendária e de origem grega, onde os
poetas viviam em harmonia com a natureza compartilhando-a com pastores e ovelhas e
acompanhados de suas musas para as quais compunham música e poesia e desfrutavam
o amor livremente. A História registra que os árcades italianos chegaram a realizar sessões
ao ar livre, vestidos como antigos pastores gregos; em outros momentos, esses encontros
se deram nos salões da ex-rainha Cristina da Suécia. Nessas ocasiões, combatia-se a moral
contrarreformista e era engrandecido o pensamento humanista.
É preciso frisar alguns dos princípios fundamentais da estética clássica trazidos de
volta pelo Arcadismo: o primeiro deles, a verossimilhança, ou melhor, a concepção de que
a Poesia verdadeiramente se assemelha a realidade (Aristóteles), não sendo, no entanto, a
realidade em si, mas uma possível realidade; nessa concepção estaria inserido o segundo
princípio, a universalidade de uma situação, esta representada na verossimilhança, ou seja,
busca-se algo permanente, intemporal, essencial na criação de uma Poesia, algo que não
representaria no particular, mas na natureza universal do jeito de ser e de existir das coisas;
atrelado aos dois primeiros, encontraremos o terceiro fundamento, a imitação da natureza,
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Literatura Luso-brasileira I

que, por sua vez, tratará de uma imitação idealizada (bucolismo e arte pastoril), pois não
basta ao artista árcade imitar a natureza de forma realista, tal qual ela é, mas realizar
uma série de escolhas a serem enfatizadas de acordo com a sua essência, eliminando o
que ar de particular, grosseiro, hediondo, vil etc. Acrescente-se ainda o intelectualismo
responsável pelo bom senso na realização das escolhas artísticas, evitando excessos formais
ou criativos desnecessários, mantendo a contenção da emoção, o predomínio da razão,
ou seja, a apologia ao equilíbrio provenientes, inclusive, da imitação dos autores clássicos Atenção
e do impessoalismo, presentes na visão do amor livre e na concretização do amor (amor
carnal10). 10
Apesar dos árcades
pregarem a ideia de
Para alguns críticos, o bom senso artístico dos árcades foi responsável pelo amor livre, as poesias
engessamento da imaginação; para outros, os árcades se apoderaram da noção do sublime que tratam do tema
acabam descrevendo
(estilo em que a simplicidade, a objetividade, a clareza, a linearidade, a harmonia e os sentimentos dos
correção garantem a beleza do texto). Não deixa de ser uma saída para a questão do pseudônimos de forma
condicionamento criativo, cujo modelo era sempre a literatura greco-latina, no entanto o muito artificial. A
mulher é tratada sem
uso de sua mitologia aparece apenas de forma ornamental. Talvez, por todas essas marcas,
paixão. O sentimento
os árcades tenham se voltado para uma poesia de finalidade moralista, pois como bem dizia amoroso reflete o
Horácio “una o útil ao agradável”. Assim reuniu-se a beleza e o prazer proporcionados pela equilíbrio emocional
arte à tarefa de moralizar o homem, já que é ele, o homem (antropocentrismo), o principal
foco Iluminista e Árcade.
Além das características, a arte árcade também fez ressurgir uma lista de máximas
de origem latina que ajudam a sintetizar essas ideias. Veja o quadro a seguir:

Máxima latina Tradução

Fugere urbem Fugir da cidade

Inutilia Truncat Cortar o inútil

Carpe Diem Aproveitar o dia

Locus Amoenus Lugar Ameno


Atenção
Aurea Mediocritas “Medianizar os gastos11”
11
Vocabulário:
Ao pé-da-letra a
expressão latina
significa ouro médio,
As luzes também se acendem em Portugal medianizado ou
medíocre. No sentido
de vida simples.

Você aprendeu, com seus últimos estudos, que a primeira metade do século
XVIII, em Portugal, ainda estava ocupada pelo universo Barroco. Nesse período, governava
Portugal D. João V12 , cujo reinado perdurou por mais de quarenta anos e fez o país voltar
a viver momentos de euforia, pois o jovem monarca estava decidido a tornar Portugal
novamente uma nação de prestígio internacional.
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Literatura Luso-brasileira I

Minibiografia

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D. João V ficou conhecido como o Magnânimo. Nasceu em Lisboa a 22 de Outubro de 1689,
onde também faleceu a 31 de Julho de 1750. Era o segundo filho de D. Pedro II, e de sua segunda
mulher, a rainha D. Maria Sofia Isabel de Neuburgo. Casou-se com a arquiduquesa D. Maria Ana
de Áustria, com quem teve vários filhos, três deles se tornaram reis. O rei D. João V terminou
deixando pobre o país pelas suas prodigalidades e desperdícios.

Para isso, o rei não mediu gastos nem esforços. Mandou construir monumentos
públicos suntuosos (Convento de Mafra), o Hospital das Caldas, o Aqueduto das Águas
Livres, a Biblioteca da universidade de Coimbra); investiu na política diplomática para
consolidar a aceitação da dinastia de Bragança, herdeira do trono de Portugal (como você
deve se lembrar foi o avô de D. João V o responsável pelo fim da submissão de Portugal à
Espanha); ofereceu muito luxo e refinamento à corte; apoiou o avanço da colonização no
Brasil e a descoberta das minas de ouro e pedras preciosas. Aliás, foi principalmente o ouro
brasileiro que patrocinou todos os sonhos delirantes de grandeza de D. João V e sua corte.
Quanto à cultura, o mecenato ainda prevalecia. Os artistas buscavam e recebiam
verbas do rei para publicar suas obras. Durante o governo joanino, essas obras eram
impreterivelmente de caráter ufanista e seguiam o modelo barroco, cujos excessos e
rebuscamentos eram condizentes com a vida perdulária da realeza, mas nem todos os
intelectuais compactuavam com essa realidade. Muitos apostavam na necessidade de uma
“revolução” social e, principalmente, intelectual que banisse de vez a arte Barroca do país
e fizesse Portugal caminhar ao lado de nações desenvolvidas como a Inglaterra e a França.
Não será durante o reinado de D. João V que Portugal encontrará esse caminho
tão almejado, o reacionarismo e ao conservadorismo das classes portuguesas dominantes
impedem a renovação. Contudo, o primeiro passo para essas transformações seriam
dados pelo próprio monarca através de atos sucessivos (1716, 1724 e 1745), nos quais a
Congregação do Oratório ganhou o direito de ministrar educação pública, prerrogativa
que pertencia aos jesuítas desde o século XVI. A Congregação acabou sendo a instituição
pedagógica iniciadora das reformas, que o progresso científico, filosófico e literário daquele
momento tanto cobrava de Portugal, mas não esteve sozinha. A ela somaram-se os esforços
de inúmeros intelectuais de ideais iluministas.
O mais importante é Verney13, responsável, com o apoio do rei, pelo início da
reforma do ensino superior no país. Ex-aluno dos jesuítas e mais tarde opositor direto
das metodologias utilizadas por aqueles religiosos, Verney se dispor a libertar a educação
portuguesa de um ensino religioso e medievalista, ou seja, anticientífico e anti-iluminista.
Sua obra mais significativa, de 1746, Verdadeiro Método de Estudar, tratava-se de 16 cartas
anunciadoras desse único objetivo. Verney acabou sendo responsável pela instalação de
uma crise no país ao propor tais mudanças.

Minibiografia

13
Nascido em 1713 e falecido em 1792. Luis Antônio Verney era de descendência francesa.
Graduado em Teologia pela Universidade de Évora e da Itália. Foi o primeiro a defender a reforma
no ensino superior em seu país. Defendia a implantação de uma educação iluminista.

Você deve estar lembrado de que os jesuítas eram uma ordem religiosa de
origem espanhola, que se propunha a realizar a contrarreforma e tornou-se responsável
16
Literatura Luso-brasileira I

pela educação dos futuros portugueses e de todos os jovens das colônias de Portugal pelo
mundo. Ao propor o fim da educação religiosa, Verney estava propondo, na verdade, a saída
dos jesuítas das instituições de ensino e a entrega desse ensino nas mãos de pessoas laicas,
cuja abordagem trazia como novidades o ensino das línguas vivas, principalmente, da língua
portuguesa; das ciências algébricas e experimentais e dos exercícios físicos, disciplinas que
não constavam do universo de ensino jesuíta.
A consequência da crise foi a expulsão dos jesuítas do país em 1759, já no reinado
de D. José I14, cujo primeiro ministro foi o Marquês de Pombal15, outro intelectual não
simpatizante dos jesuítas, principalmente, por enxergar o poder acumulado pela ordem nos
anos em que esteve a frente das instituições de ensino portuguesas e das colônias (poder
econômico, político e intelectual) o que muito incomodava o primeiro ministro.

Minibiografia

14
Nasceu em Lisboa a 6 de Junho de 1714 e faleceu em Ajuda a 24 de Fevereiro de 1777. Era
filho de el-rei D. João V, a de sua mulher, a rainha D. Maria Ana de Áustria. Casou-se com uma
nobre espanhola e deixou como herdeira uma mulher, a primeira a se tronar Rainha em Portugal.
Recebeu de seu pai um reino arruinado devido à redistribuição das vias marítimas e ao declínio
da mineração no Brasil, além do terremoto de Lisboa, ocorrido alguns anos antes de tomar posse
do trono, mesmo assim fez um bom governo graças ao ministro que nomeou para tratar de
assuntos administrativos, o Marquês de Pombal.

Minibiografia

15
(1699 – 1782) Ministro do Rei D. José I, o Marquês perseguiu os jesuítas. Era considerado um
déspota esclarecido. Era um homem de ação e reconstruiu Lisboa após o Terremoto. Continuou
como ministro de D. Maria I, mas logo foi preterido.

Dessa forma, o Marquês acaba tomando uma série de medidas conhecidas como
Reforma Pombalina, cujo objetivo maior era colocar o país no caminho do desenvolvimento
ao lado de outras grandes nações europeias, como a França. Para atingir seu objetivo,
Pombal escolhe outro pedagogo para comandar as reformas, Antônio Nunes Ribeiro
Sanches, limitando-lhe a atuação, já que o Marquês era individualista e ditador e não estava
disposto a dividir as glórias de seu governo. As universidades portuguesas acabam assistindo
a um momento de mudanças impressionantes em que é grande a produção acadêmica.
Pombal já havia provado a todos que possuía a capacidade necessária para
comandar uma nação. Alguns anos antes, 1755, Portugal enfrentou um dos maiores
desastres naturais de sua História, um terremoto, que devastou a cidade de Lisboa e
deu ao Marquês a oportunidade de demonstrar toda a sua capacidade administrativa e
empreendedora.

17
Literatura Luso-brasileira I

Por sobre os escombros, os portugueses viram pouco a pouco uma nova capital
se erguer, com ruas largas, edifícios imponentes, uma arquitetura moderna e arrojada até
Atenção mesmo para os padrões franceses, modelo de modernidade seguido por toda a Europa.

16
A rainha Maria I
Sua liderança atravessou todo o reinado de D. José I e chegou ao de D. Maria I16,
de Portugal subiu ao em 1777, que o recusou e elevou ao poder um grupo de homens até então despretensiosos.
trono para suceder Entre eles, o Duque de Lafões, fundador, em 1780, da Academia Real das Ciências. A
seu pai D. José I. Como
rainha, ao demitir Pombal, estava decidida a praticar uma política interna menos agressiva.
prerrogativas teve que
reparar as ofensas que Extremamente religiosa, libertou os jesuítas aprisionados pelo Marquês, construiu igrejas,
o Marquês de Pombal bibliotecas e museus. Herdeira de D. José I, durante o seu governo, a situação só não
e seu pai teriam feito se tornou mais grave para Portugal devido aos produtos agrícolas, como o algodão, que
a Deus ao perseguir
os jesuítas; moralizar reabilitaram as finanças da corte.
o serviço público e
Ainda em seu reinado, Portugal pôde respirar tempos de prosperidade intelectual,
empreender ações
progressistas. Nasceu antibarroca, as quais há muito vinham sendo assinaladas no país, mais precisamente, desde
em 1734 em Lisboa a publicação da Fênix Renascida (1716-1728), coletânea que reunia vários poetas barrocos
e faleceu no Rio de (em meio os poemas lírico amorosos, encontram-se poesias satíricas, com comentários
Janeiro em 1816. Após
a morte repentina aos exageros desse estilo). Além dessa obra, outras continuaram nas primeiras décadas do
do filho, D. José - século XVIII a demonstrar o descontentamento com o estilo barroco e a anunciar um “novo”
herdeiro do trono caminho para a literatura portuguesa já que, mais uma vez, este será designado pelos
– e de seu marido,
modelos greco-latinos, os quais traduziam com adequação aqueles tempos de racionalismo
D. Pedro III, que
também era seu tio, a e cientificismo vividos em todo o velho continente.
rainha enlouqueceu,
passando a ser Para colocar a Literatura Portuguesa em concordância com o resto da Europa,
conhecida como Antônio Dinis da Cruz e Silva, Manuel Nicolau Esteves Negrão e Teotônio Gomes de Carvalho,
Maria, a louca. Foi em 1756, fundaram a primeira Arcádia em Portugal: a Arcádia Lusitana, tendo como modelo
substituída pelo filho
D. João VI. A rainha
a Arcádia Romana (1690). No entanto, discordâncias internas levarão essa primeira Arcádia
veio para o Brasil na a fechar suas portas em 1774. Suas intenções foram impostas em seu lema inutilia truncat
ocasião da saída da (repudio as coisas inúteis).
família real de Portugal
durante a invasão
napoleônica. Maria I
era avó de D. Pedro I
Imperador do Brasil.

Como já estudamos no Classicismo, o mundo da arte greco-latina ou clássica


estabelece regras de equilíbrio, harmonia e simplicidade, contrastantes do estilo barroco.
Como Portugal tivera em Camões um grande realizador desse universo, os poetas árcades
recuperaram a lírica camoniana e acrescentaram a ela a arte da Antiga Grécia, onde a poesia
se realizava em Arcádias, cercadas pela Natureza e pelo trabalho de pastores. Esse mundo
passa a defender a vida simples, inclusive, a fuga da cidade, lugar de ambição e corrupção,
para o campo (fugere urbem), onde se dirá adeus ao luxo e às vaidades e se levará uma vida
plena, primitiva, pré-civilizada (aurea mediocritas); o culto às virtudes morais; o elogio à
velhice; o gozo pleno da vida (carpem die) através da contemplação da natureza; epicurismo
e estóicas e a presença da Virgem Maria pela parte dos arcádios católicos.
Quanto à estrutura literária, o Arcadismo defende a separação de gêneros, a
abolição da rima, o emprego de metros simples e a mitologia ornamental. Adotam o

18
Literatura Luso-brasileira I

pseudônimo pastoril para evidenciar o “fingimento” (o de fato viverem como pastores num
mundo cercado pela natureza e pelo fantasioso mundo mitológico de ninfas e deusas, num
tempo fictício e inegavelmente utópico).
Tal escolha evidencia o voluntário exílio desses poetas da realidade. Cercados por
um mundo, cujos avanços científicos mudaram completamente a imagem das cidades,
passando naquele momento a serem invadidas pela massa campesina em busca de uma
vida melhor, segundo se acreditava, esta vida seria alcançada com o trabalho nas indústrias.
Nossos poetas árcades resolveram optar por uma vida completamente diferente. Se lhes
faltou coragem para concretizá-la de fato, abandonando a tudo e a todos, restava-lhes o
refúgio do mundo da imaginação a oferecer-lhes através de sua arte um mundo melhor para
viver, mesmo que onírico. Os poetas repetiam o comportamento dos velhos gregos, que
fugiam para vilas em volta das grandes cidades por debitá-las como palco de devassidão. É
o que os teóricos chamam de Torre de Marfim, nessa torre delicada, os poetas tentam se
esconder da realidade.

Torre de Marfim

É importante informar que o estilo árcade é estritamente poético, encontrou-se


nesse gênero o espaço ideal para se construir. Mesmo que a prosa tenha se feito presente
naquela segunda metade do século XVIII (histórica, filosófica, científica, pedagógica etc), não
acompanhou as regras do estilo. Outros textos em prosa como o teatro, não conseguiram
chegar aos nossos dias com êxito. E finalmente as novelas, cujo interesse era grande naquela
contemporaneidade, também perderam sua força, divididas entre o barroco agonizante e o
moralismo árcade, algumas chegaram com certo destaque até o século XIX.
Nos próximos capítulos nos debruçaremos sobre os artistas e suas Arcádias,
primeiro em Portugal e na sequência no Brasil.

Atividade de Pesquisa e Interação

Pesquise na internet a letra da canção Casinha Branca, de autoria dos compositores


Gilson e Joran e Além do Horizonte, de Erasmo e Roberto Carlos (http://www.letras.terra.
com.br). Se você desejar, baixe as músicas para ouvir, o endereço recomendado traz
os vídeos. Depois de concluída a pesquisa, é hora de analisar a letra das canções numa
perspectiva árcade. Num segundo momento, amplie a pesquisa com letras de outras canções
que você conheça e que também tragam essa mesma perspectiva. Vamos à audição!

19
Literatura Luso-brasileira I

Atividade de Orientação de Estudo e da Prática

Depois de ouvir e acompanhar as letras das canções pedidas analise uma a uma
essas letras. Você deve se apoiar nas características que este material didático fornece.
Procure identificar a intertextualidade entre as letras e as marcas do movimento, como:
temas comuns; visão do mundo em relação ao ambiente em que se vive ou se deseja viver,
ao relacionamento interpessoal etc. Esses mesmos passos devem ser seguidos para seleção
de músicas que você conhece e acredita que também tragam as marcas do Arcadismo.
Lembre-se de anotar todos os seus argumentos para discutir com a turma e o tutor, num
encontro presencial. E que tal se esta apresentação dos resultados aos colegas e ao tutor
fosse diferente? Sim. Então organize sua apresentação levando para a sala de aula as
músicas que você escolheu num segundo momento da pesquisa para serem apreciadas pelo
grupo. Discutam após cada audição, se elas mantêm ou não uma intertextualidade com as
ideias árcades. Leve suas anotações para a turma, elas vão dar apoio durante sua fala.

Atividade de Pesquisa e Interação

Pesquisem na internet as fábulas de La Fontaine e os contos de Voltaire e realizem


no espaço virtual uma discussão sobre a diferença de estilo dos dois iluministas. Procurem
perceber de que maneira cada um deles solidificou o pensamento iluminista, mesmo
possuindo estilos diferenciados.

Atividade de Orientação de Estudo

Antes de iniciarem a discussão no espaço virtual sobre os textos dos iluministas


selecionados, será preciso que a turma se divida em dois grupos, cada um, portanto, ficará
responsável pela pesquisa da obra de um dos autores. Após a leitura dos textos, a equipe
deve escolher apenas um texto que possa representar com fartura as ideias iluministas.
Escolhido, as equipes devem viabilizá-lo no espaço virtual para a outra equipe e o tutor.
Marcado o dia da discussão, cada estudante deve salientar de que forma seu autor é mais
representativo dos ideais iluministas do que o autor representado pela outra equipe. O
mediador da atividade será o tutor. Ele poderá interferir quando as considerações feitas não
forem pertinentes. A discussão não visa encontrar vencedores, mas gera uma reflexão maior
sobre o momento estudado, já que este momento se solidificou com base em uma corrente
filosófica muito forte e cujas ideias ainda são alimentadas em nossa contemporaneidade.
Lembre-se de que você estará sendo avaliado e que é muito importante sua participação
nesses momentos de interação com a turma. Bom encontro e boa discussão!!!

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Literatura Luso-brasileira I

Vamos Revisar?

Resumo

Bom, terminamos mais um capítulo dos nossos estudos. Você pode aprender
como uma corrente filosófica como o Iluminismo conseguiu penetrar profundamente em
uma sociedade a ponto de modificá-la radicalmente. Graças a intelectuais como Voltaire,
Descartes, Diderot, D’Alembert, Espinosa, Rousseau o despotismo do sistema absolutista
foi repensado; falou-se pela primeira vez em igualdade de direitos civis para todos; tentou-
se reunir em enciclopédias todo o saber acumulado pelo homem; democracia, liberdade,
justiça, fraternidade, educação, independência tornaram-se palavras de ordem nas
sociedades europeias e ecoaram no Novo Continente também. Mudar não é fácil e o preço
que se paga pela ousadia de propor mudanças, às vezes, é grande e nem sempre termina
como planejado. A Revolução Francesa e a Inconfidência Mineira deixaram saldos positivos,
no entanto, os negativos também puderam ser contados nos milhares de guilhotinados
(na França) e exilados (artistas árcades e intelectuais iluministas), no enforcamento de
Tiradentes e no assassinado de Claudio Manuel da Costa. Um momento que construiu uma
arte lírica, singela, pastoril, mas também erótica; satiricamente moralista e politicamente
esperançosa e libertária; retomando o passado clássico e escrevendo o presente de novas
descobertas. Assim o Arcadismo registrou sua história na primeira metade do século XVII.

21
Literatura Luso-brasileira I

Capítulo 8

O que vamos estudar neste capítulo?

Neste capítulo, vamos estudar as seguintes temáticas:

» A reprodução da estética árcade em Portugal;


» Os poetas árcades portugueses e suas produções artísticas.

Metas

Após o estudo deste capítulo, esperamos que você consiga:

» Apropriar-se do desenvolvimento do Arcadismo português, compreendendo a


construção da poesia setecentista;
» Identificar os principais autores do Arcadismo português.

“O livro é uma das possibilidades de


felicidades de que dispomos”
(Jorge Luis Borges)

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Literatura Luso-brasileira I

Capítulo 8 – A Poesia Árcade em


Portugal: é permitido sonhar

Vamos conversar sobre o assunto?

Agora que você já foi apresentado ao contexto social da segunda metade do século
XVIII, particularmente, ao de Portugal e do Brasil. Vai ser mais fácil entender as poesias
desse período e a ideologia por trás desses textos.
Como já salientamos, o ponto alto da arte árcade é a poesia e é dela que passaremos
a tratar nesse capítulo, dos poetas portugueses e no que se seguirá da poesia árcade no
Brasil.
Como o Arcadismo chegou muito tarde a Portugal, devido à insistência dos artistas
portugueses em não abandonar o estilo Barroco, as arcádias tiveram duração curta. O mais
interessante é que o maior nome da poesia árcade em Portugal, pouco se dedicou a esse
estilo e acabou entrando para a história literária como precursor da próxima escola, ou seja,
como pré-romântico.
Vamos então finalmente conhecer quem e com que textos, a poesia portuguesa
árcade se fez.

Os poetas portugueses árcades e seus refúgios


Atenção

18
O manacá e o beija-
flor
Num dos largos
sertões, que em si
encerra
Do Brasil o opulento e
vasto Império,
Viviam uma ninfa e um
mancebo,
Na idade iguais, iguais
na gentileza.
Das ninfas que
Como já registramos, a primeira Arcádia em Portugal denominou-se Arcádia habitavam o contorno,
Ela era a mais formosa,
Lusitana e perdurou de 1756 a 1774. É necessário frisar que nela ou fora dela, não se fizeram e o mais jeitoso
notar grandes nomes do cancioneiro português. É verdade que em alguns momentos a De todos os mancebos
criação desses poetas chamou a atenção dos leitores, mas ainda não teríamos entre os da comarca
Era o moço gentil. A
árcades um nome à altura da produção camoniana.
linda ninfa
Entre os que se destacaram estariam: Antônio Dinis da Cruz e Silva17 um dos Manacá se chamava, e
do mancebo
fundadores da Arcádia Lusitana, adotou como pseudônimo Elpino Nonacriense e foi autor Colomim era o nome.
de Metamorfoses18, cuja estrutura assemelha-se a sua homônima (Metamorfoses, de Desde a infância
Ovídio). Assim como o poeta clássico, Elpino compôs doze textos em que transformou a Ambos juntos em doce
companhia....
natureza brasileira em espaço mítico, misturando realidade, fantasia e lendas locais. Esta
obra foi publicada postumamente, da mesma forma que seus outros volumes de poesia,
23
Literatura Luso-brasileira I

intitulado: Poesias (Seis volumes). Mas seguramente foi Hissope (1802), poema heróico-
cômico, responsável por uma crítica ao espírito feudal, escolástico e clerical que mais chama
a atenção em toda a sua produção.

Minibiografia

(1731-1799). Filho de carpinteiro, nasceu em Lisboa, estudou no colégio dos padres oratorianos.
17

Formado em Direito em Coimbra, tornou-se também poeta. Foi nomeado Desembargador no


Rio de Janeiro (1776 – 1789) participou do julgamento que condenou Tiradentes. Preferia as
odes, o poema didático a Ovídio (metamorfoses) e a crítica caricatural de costumes, gênero em
que escreveu as melhores obras. Faleceu em Portugal.

Compõem ainda este quadro: Pedro Antônio Correia Garção (conhecido como
Córidon Erimanteu), cuja obra discursiva em favor do estilo árcade fez mais sucesso nas
reuniões da Arcádia que sua poesia. Obteve, no entanto, um bom retorno do público
quando o assunto era teatro e, por último, Domingos dos Reis Quita (Alcino Micênio),
um caso raro na literatura de então. De família pobre, barbeiro de profissão, o poeta foi
autodidata e conseguiu se tornar bibliotecário de um nobre e posteriormente sócio da
Arcádia Lusitana. Publicou seus poemas um pouco antes de morrer tuberculoso e além dos
versos, considerados o maior exemplo de poesia bucólica em Portugal, foi também autor de
teatro.

Surge a Nova Arcádia


Finda a Arcádia Lusitana, passaram se dezesseis anos até que uma nova corporação
fosse instituída. Portanto, estamos no ano de 1790, quando Domingos Caldas Barbosa funda
a Nova Arcádia ao lado de Belchior M. Curvo Semedo, J. S. Ferraz de Campos e Francisco J.
Bingre, primeiramente nomeada Academia de Belas Artes. A ela se associaram Manuel Du
Bocage, José Agostinho de Macedo, Luís Correia França e Amaral, Tomás Antônio Santos
e Silva, e muitos outros. Juntos publicaram, em 1793, Almanaque das Musas. Logo em
seguida, Macedo e Bocage se desentendem e o grupo se desfez.
Do referido grupo, tem destaque Domingos Barbosa, brasileiro de nascimento,
mulato, compositor que se mudou em 1770 para Lisboa, onde fez sucesso com suas
modinhas e lundus. Usava como pseudônimo Lereno Selinuntino, sua coletânea de poemas
intitulava-se Viola de Lereno e conseguiu reunir as regras arcádicas ao ritmo tropical, através
de informalidade e uma certa “brejeirice” como anuncia Massaud Moisés (2005), o que,
segundo o crítico, não o faz reconhecido pelos críticos mais eruditos.
24
Literatura Luso-brasileira I

Além de Domingos, fundador maior da Nova Arcádia, está o Padre José Agostinho
de Macedo, cujo temperamento explosivo e detonador de brigas costumazes o levou a ser
expulso da Ordem de Santo Agostinho. Tornaram-se célebres, por sua vez, as pendengas
poéticas entre ele e outro membro da Arcádia: Bocage, que compôs um dos seus poemas
satíricos mais conhecidos, Pena de Talião, para zombar do padre. Macedo dedicou-se
durante sua trajetória a compor inúmeras sátiras, foi autor também de ensaios, cartas e
poesia épica, como O Oriente, obra mais reconhecida. Teve também a audácia de escrever
outro épico, este por sua vez com 12 cantos, à maneira de Camões, o propósito era superar
o poeta de Os Lusíadas, empreendimento que segundo os críticos ficou longe de se realizar.
Outras arcádias também surgiram, entre elas: Arcádia Portuense, Arcádia
Conimbricense e os Árcades de Guimarães. Mas alguns poetas resolveram tomar outro
rumo e combatê-las, fundando outros tipos de agremiações como o Grupo da Ribeira das
Naus, liderado por Filinto Elísio19; ou ainda realizando uma produção solitária, a esses
últimos a crítica passou a denominá-los de dissidentes ou independentes.

Minibiografia

Nasceu em Lisboa, em 23 de dezembro de 1734. De origem humilde, ordenou-se religioso e


19

dedicou-se aos estudos clássicos sobre o pseudônimo de Niceno. Fez parte do grupo da Ribeira
das Naus, opositor da Arcádia Lusitana.
Da Marquesa de Alorna recebeu o pseudônimo de Filinto e escolheu o dela Alcipe. Na França,
publicou seus poemas com novo pseudônimo, Filinto Elísio. Sua obra completa reúne 22 volumes.
Morreu em Paris depois de anos de dificuldades financeiras.

Nos dissidentes: o pré-romantismo se anuncia


Poetas, em sua maioria, com temperamento forte, polêmicos e dedicados a
encontrar o novo, não causa espanto que tenham se destacado como produtores do melhor
da poesia do período, embora tenham seguido caminhos diferentes. Houve aqueles que
alimentaram uma lírica aos moldes de Camões, enquanto outros acabaram responsáveis
pela introdução do Romantismo em Portugal, sendo estes últimos denominados de
pré-românticos, entre eles encontram-se: Filinto Elísio, a Marquesa de Alorna20 e,
principalmente, Bocage.

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Quarta Marquesa de Alorna, nasceu em Lisboa, em 31 de outubro de 1750. Teve o pai acusado
de atentado contra o rei D. José I e acabou sendo reclusa num convento aos oito anos de idade
até 1777, quando teve fim o governo do Marquês de Pombal. Saiu do Convento de Chelas, onde
recebeu esmeralda educação, inclusive, tendo como preceptor o padre Francisco Manuel (poeta
Filinto Elísio) e casou-se com o Conde de Oyenhausen. Viaja pela Espanha, França, Alemanha
e Áustria. Fica viúva em 1793, regressando para Lisboa, dedicando-se a educação dos filhos e
a poesia. Em 1803, funda a Sociedade da Rosa, acuada, considerada subversiva, exila-se em
Londres e depois Paris. Faleceu em Lisboa, em 11 de outubro de 1839. Sua obra foi publicada
postumamente em seis volumes.

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Literatura Luso-brasileira I

Bocage

Falaremos um pouco mais de Filinto Elísio, embora não seja considerado pelos seus
contemporâneos como expoente maior do Arcadismo. Filinto, postumamente, conseguiu
angariar a atenção de Garrett (poeta português que trataremos em breve) e de muitos
poetas brasileiros. O pseudônimo esconde na realidade a figura do Padre Francisco Manuel
do Nascimento. Perceptor da futura Marquesa de Alorna e sua irmã. Caçado pela Santa
Inquisição, precisou se exilar em Paris. O amor platônico pela Marquesa (a qual se referia
em seus poemas através do pseudônimo Márcia) e seu exílio transformaram sua poesia
em textos confessionais que o caracterizaram como pré-romântico, embora jamais tenha
abandonado os ideais arcádicos. Vejamos uma de suas poesias:

Soneto

Depois de certa ausência da Senhora D. M. J. R. D.


Márcia! Márcia! Meu Bem!Que grossa enchente
De prazeres pela alma se me espalha!
Oh, como ao ver-te, foge e se transmalha
Dos pesares o turvo bando ingente!
Não sou em mim. A alvoroçada mente
Soltar-se empreende e a ti voar trabalha.
Acode o Amor: no coração entalha
Vindouros gostos co farpão ardente.
Hei de ser mais feliz. Sopro divino
A ideia arrebatada me befeja...
Já ouço a voz do oráculo benigno:
“Terás Márcia, apesar do ciúme e inveja:
Gozarás de seu peito alabastrino.
tens deus Amor nos Céus, que te proteja”

Como anuncia a dedicatória, o poema foi escrito para uma Dona (D.) depois
desta se fazer ausente para o poeta. Provavelmente, tratar-se da Marquesa de Alorna, por
quem o referido padre era apaixonado. Neste período, o religioso se encontrava exilado e
desgostoso da separação da Pátria e da Amada.
Pode-se perceber nos versos do poeta a mescla entre o Arcadismo e o pré-
26
Literatura Luso-brasileira I

romantismo. Se a forma escolhida é clássica (o soneto), o conteúdo não se faz tão racionalista
(Não sou em mim). O eu-lírico extravasa sentimentos em uma confissão reveladora de toda
a dor causada pela ausência da amada, cuja presença só é possível através do pensamento
(A alvoroçada mente/ Soltar-se empreende e a ti voar trabalha).
O desejo de possuí-la, de concretizar o amor carnal, remonta ao universo árcade
que também se faz presente na interferência de um “oráculo” predizendo a realização dos
desejos desse eu-lírico. (“Terás Márcia, apesar do ciúme e inveja:/ Gozarás de seu peito
alabastrino./ tens deus Amor nos Céus, que te proteja”)
A felicidade é atrelada à presença da amada (Hei de ser mais feliz./ A ideia
arrebatada me befeja.../ Já ouço a voz do oráculo benigno:/ “Terás Márcia,...), Mas ao
contrário do que anuncia o mundo árcade, essa felicidade é um sonho (pré-romantismo)
e não uma realidade. O que transforma o tom da poesia em melancólico, desesperado. Já
o percebemos, nos primeiros versos, com a demonstração de uma emoção descontrolada
(Márcia! Márcia! Meu Bem! Que grossa enchente/ De prazeres pela alma se me espalha!),
a qual nos faz refletir o quanto a separação transtornou esse eu apaixonado (Oh, como ao
ver-te, foge e se transmalha / Dos pesares o turvo bando ingente!).
Cabe ainda conhecer o trabalho da Marquesa de Alorna, nascida Leonor de Almeida
de Portugal Lorena e Lancastre e nomeada entre os árcades de Alcipe. Teve uma vida
conturbada desde a infância, muitas vezes mantida afastada da sociedade ou do seu país
por questões políticas. Exerceu uma forte influência no contexto sócio-literário de sua época
e não apenas entre arcádicos, como também de grandes nomes da literatura romântica
portuguesa, a exemplo de Alexandre Herculano.
Sua poesia, como no caso dos outros pré-românticos, oscilou entre a formação
árcade que recebeu e o pré-romantismo. Leia agora um de seus poemas.

Tristeza

Ideias que em desgostos exercitas


Te rodeiam de espectros e de medos,
Curvada e sotoposta aos penedos,
Que fazes, Lise triste, que meditas?
Cercam-te os ais das vozes mil aflitas,
Vês partidos dos raios os rochedos;
Em rudes troncos, densos arvoredos,
Que vês, Lise? senão mágoas escritas?
Foge daqui, pastora, que a tormenta
Que em sítio tão cruel te tem cercada,
Inda mais com teu pranto se acrescenta.
Vê do trovão a nuvem carregada,
Teme os coriscos que entre si fermenta,
Escuta o negro mar que ao longe brada.

Mais uma vez, a forma dileta é o soneto (marca clássica), soma-se a ela a Natureza,
como elemento significativo desse poema, e mais a presença da figura de uma pastora.
Métrica, ritmo, rimas seguem os padrões clássicos também. Mas o que pode parecer
à primeira vista um exemplo de poesia árcade se desfaz desde o título (Tristeza), já que
para os teóricos iluministas, que sustentaram os modelos de poesia clássico como ideais, a
felicidade está em levar uma vida simples (pastora) em contato com a natureza (rochedos,
troncos, arvoredos, nuvem, mar), portanto o poema se afasta da proposta árcade ao retratar
27
Literatura Luso-brasileira I

uma natureza que assinala uma existência triste em meio a perigos eminentes (Foge daqui,
pastora, que a tormenta / Que em sítio tão cruel te tem cercada,)
Escrito em sua juventude, o poema acaba se mostrando como autobiográfico, a
Marquesa confessa-nos a situação incômoda de se ver prisioneira e insegura em relação
ao seu futuro. Depois de acompanhar a condenação do avô e do pai e ser mandada na
companhia da mãe e da irmã para um convento. Leonor encontra na poesia sua válvula de
escape e por mais que tenha tido uma formação modelar e conhecer todas as regras que
cercam a produção clássica acabou por transgredi-las para dar vazão a sua sensibilidade.
Perde a poesia árcade, mas sem dúvida ganha o cancioneiro português com a perspicácia
dessa poetisa que foi responsável pela introdução das ideias românticas em Portugal,
através das inúmeras traduções que realizou de romances românticos alemães, franceses
e ingleses.

Sadino: Sátira, Sensualidade e Sofrimento


Não há outro nome melhor para representar o talento da poesia portuguesa do
século XVIII que não seja o de Bocage21 ou Elmano Sadino (seu pseudônimo e resultado da
mistura das letras que formam seu pré-nome “Manoel” e de Sado, o rio que corta Setúbal,
sua terra natal). Para muitos, ele se encontra à altura de Camões não apenas pelo resultado
da obra como também pela trajetória de vida.

Minibiografia

21
Nascido Manoel Maria Barbosa Du Bocage. Era descendente, pelo lado materno, de um
marinheiro francês radicado em Portugal. Filho de magistrado. Terminado a formação básica,
alistou-se no exército, transferindo-se pouco depois para a Marinha. Cursou a Academia Real dos
Guardas-Marinhas, época em que deu início a sua vida poética e boêmia. Formado foi mandado
para a Índia. De volta a Portugal, depois de muitas peripécias e dissabores, teve seus versos
criticados por companheiros de Arcádia e respondeu as críticas com versos satíricos. Sua má
fama cresce e as necessidades aumentam. Auxiliado na pobreza pela Marquesa de Alorna, não
escapou da perseguição de Pina Manique, acabou preso no Limoeiro e em seguida internado
no Hospício das Necessidades, de onde saiu curado da boêmia. Livre passou a trabalhar como
tradutor e continuou a produzir versos cada vez mais amargos, consequência dos anos de prisão
e da pobreza sempre presente. Mesmo tendo a qualidade de sua poesia aumentada, sua fama
ultrapassou as fronteiras de Portugal devido à produção satírica, eróticas e burlescas.

Nascido em 1765, Bocage alistou-se cedo na Marinha, em 1783, deixando para trás
aquela a quem chamava de seu grande amor, Gertrudes, ou como anuncia em seus versos,
Gertrúria. Conhece Goa, Brasil (onde vive muitos casos amorosos) e finalmente a Índia, lá
é promovido para logo depois desertar em nome de uma nova paixão. Em 1789, está em
Macau e logo depois em Lisboa.
Informado do casamento de Gertrudes com seu irmão o poeta se entrega a todos os
excessos, ao mesmo tempo, em que passa a fazer parte da Nova Arcádia. Em 1797, acontece
sua prisão. Livre prossegue o trabalho de poeta, somando a esse o de tradutor, sobra espaço
ainda para a necessidade financeira e a doença. Morre na miséria, arrependido em 21 de
dezembro de 1805, aos 40 anos.
Em vida publicou Idílios Marítimos e as Rimas. Só em 1853, publica-se,
postumamente, a maior coletânea já vista de sua poesia, seis volumes, chamados de Poesias.
Precisamos ressaltar, mais uma vez, que há dois Bocages. Um deles ganhou fama como

28
Literatura Luso-brasileira I

poeta zombeteiro, que investiu com animosidade sobre a vida e as pessoas. E outro, foi o
produtor de uma obra lírica, elegíaca, bucólica e amorosa, inspiradas em Horácio, Ovídio,
Virgílio e Anacreonte e Camões, contudo ao contrário deste último, Bocage considerava o
mundo metafísico inatingível.
Usou das mais diversas formas da poesia, de odes e cançonetas anacreônticas22, Atenção
epigramas, cantatas, elegias, canções, epístolas, ditirambos, sonetos etc. Sendo este
último formato, o responsável pelo melhor da poesia bocageana. A ponto de ser o poeta 22
Vocabulário:
considerado um dos três maiores sonetistas portugueses de todos os tempos, juntamente Derivado de
Anacreonte, poeta
com Camões e Antero.
grego da Antiguidade
Entre as marcas de sua poesia é possível observar certo irracionalismo, confissões que compunha
pequenas canções
dramáticas, teatrais, estruturadas através de adjetivos extremamente subjetivos; líricas, em que
antidiscursivo, sua linguagem chega ao prosaísmo ou às vezes ao coloquial, com a qual a ingenuidade
pode expressar sua lógica da emoção através da organização do verso em ordem direta engenhosa garantia
tratar de temas
em oposição às inversões sintáticas que o Barroco produziu assim como a própria lírica
sensuais de forma
camoniana. disfarçada.
Os sonetos acabam sendo um registro preciso da vida do poeta. Retratam-lhe
acontecimentos e sentimentos como um verdadeiro diário a anunciam o pessimismo e o
tema constante da morte. Dando a sua poesia, o que os críticos chamam de pessoalismo,
ou seja, a marca pessoal vista principalmente no seu liberalismo emocional, revelador de
um eu, ora violento ora calmo. Além de ser possível dividir a obra bocageana em satírica
e lírica. Bocage também terá sua poética realizada em dois momentos literários distintos.
Na primeira delas, as características mais presentes dizem respeito à escola árcade, como
o culto ao fingimento e a dependência às regras clássicas e o debate entre a Razão e a
Emoção. A seguir um bom exemplo dessa primeira fase23.

Ampliando Horizontes

23
Fílis e Amor, cançoneta anacreôntica.

Num denso bosque “Mimosa Ninfa, Co’a pequenina


Pouco trilhado, Glória de Amor, Boca risonha
E a ternos crimes Dás-me um beijinho Lhe comunica
Acomodado, Por testa flor?” Sua peçonha.
Por ente a rama “Sou criancinha, Descora Fílis,
Fresca e sombria Não tenhas pejo”. E de repente
Do tenro arbusto Sorriu-se Fílis Solta um suspiro
Que me encobria, E deu-lhe o beijo; D’alma inocente.
Vi sem aljava Mas o travesso Mal que o gemido
Jazer Cupido Logo outro pede Férvido soa
Junto de Fílis, À simples Ninfa O mau Cupido
À Mãe fugido. Que lhos concede. Com ele voa.
Entre as nevadas Que por matar-lhe “Ninguém , ó Ninfa
Mãos melindrosas Doces desejos, (Diz a adejar),
Tinha um fragrante A cada instante Brinca comigo
Festão de rosas. Repete os beijos. Sem suspirar”.
A mais brilhante Assim brincavam
Dele afastando Fílis e Amor,
Dizia a Fílis Eis que o Menino,
Com riso brando: Sempre traidor,

29
Literatura Luso-brasileira I

No entanto, para os especialistas, Bocage não foi um poeta árcade por natureza,
pelo contrário, houve uma deformidade do espírito criador do poeta em prol das fronteiras
impostas pela escola. Só aos poucos, Bocage se deu conta de que estava aprisionando
sua arte e gradativamente foi trazendo para os seus poemas uma confissão cada vez mais
transparente da sua vida, a qual não só revelava suas dores de amor, como também o desejo
de libertar a sua arte e quando conseguiu definitivamente se libertar das amarras árcades,
inicia a sua segunda fase: Romântica, ou mais precisamente, Pré-Romântica.
Nessa segunda fase, sua poesia transborda de interjeições, reticências, anáforas,
apóstrofes, onomatopeias, antíteses, hipérboles, erotismo, deísmo, do horror à morte, da
imagem do fúnebre, do noturno (loccus horrendus, numa clara oposição ao lócus amoenus
árcade). E como marca inseparável a personificação: Fado, Desventura, Virtude, Inveja,
Razão, Traição, Liberdade, Formosura, Ciúme, Desengano, Discórdia, Sofrimento, Morte,
numa tentativa inútil de se confrontar com seus “companheiros de jornada”.
Para Herculano, Bocage é especialmente importante por ter sido o primeiro poeta
da Literatura Portuguesa a trazer para a poesia o plano terreno, cotidiano e burguês. Elo
entre o clássico e o romântico, não conseguiu ser seguido pelos românticos, pois diante de
tantos inimigos que fez, acabou por criar a sua volta um estigma de poeta maldito, satírico e
burlesco, responsável pelo encobrimento de seu talento como poeta da vida.
Vamos acompanhar agora alguns fragmentos dos mais belos sonetos criados
pelo poeta e compará-los com sua poesia burlesca, satírica e erótica que o afastou do
reconhecimento público enquanto viveu. Esses versos trazem tanto o poeta em suas fases
árcade como pré-romântica.

Fragmentos de Sonetos

1 5
Chorosos versos meus desentoados, Se quereis, bom Monarca, ter soldados
Sem arte, sem beleza, e sem brandura, Para compor lustrosos regimentos,
Urdidos pela mão da desventura, Mandai desentulhar esses conventos
Pela baça tristeza envenenados: Em favor da preguiça edificados:
2 6
Em sórdida masmorra aferrolhado,
Troquei-vos pelo mal, que me sufoca,
De cadeias aspérrimas cingido,
Troquei-vos pelos ais, pelos pesares:
Por ferozes contrários perseguido,
Oh! câmbio triste!Oh! deplorável troca
Por línguas impostoras criminado.
3 7
Pouco a pouco a letífera Doença No meio agora desta selva escura, Dentro
Dirige para mim trêmulos passos, deste penedo úmido e oco. Pareço, até no
Eis seus caídos, macilentos braços, tom lúgubre e rouco,
Eis a sua terrífica presença Triste sombra a carpir na sepultura:
4 8
És dos céus o composto mais brilhante; Razão, de que me serve o teu socorro?
Deram-se as mãos virtude e formosura, Mandas-me não amar, eu ardo, eu amo;
Para criar tua alma e teu semblante. Dizes-me que sossegue, eu peno, eu morro.

Repetindo a fórmula dos outros dissidentes, Bocage também escolhe o soneto


como forma de expressão na maioria das vezes; diferentemente, de Filinto e Alcipe,
transforma seus versos em uma confissão autobiográfica explícita e extremamente dolorosa,
evidenciando uma emoção latente, incapaz de controlar pela Razão (Razão, de que me serve
o teu socorro?).
30
Literatura Luso-brasileira I

O peso do fracasso e do desprezo acaba m por marcá-lo profundamente tanto que


são traduzidos através de um evidente sentimento de desamparado afetivo, percebido na
estrofe 1 pela diminuição do próprio talento (Chorosos versos meus desentoados,/ Sem
arte, sem beleza, e sem brandura) e transferência da culpa de todo negativismo presente em
seus versos para a vida (Urdidos pela mão da desventura,/ Pela baça tristeza envenenados:)
Essa sinceridade com que constrói, em seus versos, sua autobiografia, pode parecer
à primeira vista fruto apenas de um empreendimento do seu subjetivismo ególatra (sempre
o “eu” predominando), mas torna-se perceptível que tal escolha atinge indiscutivelmente
uma angústia metafísica insolúvel para Bocage (estrofe 6).
Na referida estrofe, é possível também perceber a Natureza, ao contrário do que
prevê o Arcadismo, revelando-se como um mundo tenebroso, cheio de horrores, numa
poesia noturna, soturna, de um fatalismo inevitável. É o pessimismo que atormenta o poeta
em seus últimos dias, o ególatra, tão amado e apreciado pelas mulheres e companheiros de
farra, não consegue viver a solidão.
Nas segunda e terceira estrofes, desenham-se outros momentos difíceis da vida do
poeta, dessa vez as lembranças da prisão injusta (Em sórdida masmorra aferrolhado, [...]
Por línguas impostoras criminado.) e da doença que o persegue (Pouco a pouco a letífera
Doença/ Dirige para mim trêmulos passos,).
Contudo nem só de pesar é feita a obra do artista, nas estrofes quatro e oito, a
paixão e o arrebatamento aparecem como temas, cantando a beleza da amada ou negando
a Razão em detrimento da Emoção, Bocage apresenta-nos a poesia de sua juventude em
que pleno de vida e sedento por amor, não vislumbra os caminhos tortuosos que o futuro
lhe aguarda.
Outro filão que nos ajuda a decifrar sua personalidade é a sátira, o exemplo
escolhido é um dos menos agressivos e chocantes. Com bom humor, o poeta ataca de uma
só vez duas instituições (Absolutismo e a Igreja). Não são, no entanto, tão comportados seus
versos satíricos, a linguagem de baixo calão, as comparações grosseiras costumam compor
esse seu lado de poeta maldito.
Não se pode negar ainda em todos os exemplos trazidos o tom teatral que prenuncia
a obra bocageana. Como no palco, esse ator solitário descreve-nos a vida e seus sentimentos
com uma tensão dramática que acentuam muito mais seu sofrimento moral e físico. Apesar
do arrependimento estar visível em sua poesia, a sondagem da morte e a inaceitável
condição da predestinação irracional da vida lançam o poeta a reflexões metafísicas que
universalizam sua abordagem e desequilibram sua abordagem pré-romântica, permitindo
ao leitor perceber o quanto o mundo árcade marcou sua formação poética.

Atividade de Pesquisa e Interação

Que tal conhecer um pouco mais dos poemas da Marquesa de Alorna (Alcipe) e do
Padre Francisco Manoel (Felinto Elísio) e estabelecer as semelhanças e diferenças entre os
trabalhos dos dois artistas? Como se tratam de poetas, cujas obras já entraram no domínio
público, ou seja, já não há mais direito autoral sobre elas, é possível encontrar essa obra
gratuitamente na internet. Use as sugestões de sites fornecidos nesse material, mas você
também pode pesquisar em outros endereços. Comece já sua descoberta!
Não tenha pressa em realizar a seleção de textos. Deleite-se com a leitura. Só então
selecione os que mais chamaram sua atenção e divida-os em duas categorias: na primeira,
os que apresentam semelhanças e, no outro, as diferenças.

31
Literatura Luso-brasileira I

A próxima etapa é trocar por e-mail os endereços eletrônicos com seus colegas e
divulgar os títulos dos poemas que você mais gostou. Junto com o tutor todos devem fazer
uma votação e chegar a quatro textos (dois poemas de Filinto e dois de Alorna, que tragam
aproximações e distanciamentos).
Não se esqueça de produzir um texto dissertativo com os resultados de sua
descoberta sobre essas diferenças e semelhanças antes do dia da apresentação final.
Acorde com seu tutor um momento presencial ou virtual para apresentar os seus
resultados e recepcionar o dos seus colegas.
Bom trabalho!!!

Orientação de Estudos

Você já sabe que o poeta Bocage é o maior nome do Arcadismo português e que
os temas de sua poesia são bem diversificados tanto que chegam a anunciar o movimento
seguinte: o Romantismo. Desfrutar de tanta riqueza é imprescindível para quem estuda
literatura e deseja se tornar um bom professor. Que tal então aprofundar suas leituras sobre
esse poeta? Certo.
Não será difícil encontrar exemplos do melhor que Bocage já escreveu, sua obra
também é domínio público, nos endereços recomendados, ou na bibliografia sugerida você
poderá ter acesso a essa poesia facilmente.
Depois de realizar as leituras que tal aceitar um desafio?
Você vai criar um avatar chamado “Bocage”, ele terá a personalidade que você
desejar, desde que você possa convencer seu tutor e seus colegas de que o avatar criado
é a representação do ser copiado (Bocage). Para isso, você terá os poemas do artista como
embasamento dessa criação. Construído o perfil você o apresentará aos colegas e ao tutor.
Há algumas regras a serem seguidas para que o desafio seja cumprido, afinal,
estamos tratando do Arcadismo e os árcades adoram regras!
A primeira regra diz respeito à forma utilizada para a produção escrita, terá que ser
obrigatoriamente uma descrição, mas será opcional o verso ou a prosa.
Segunda regra: nenhuma qualidade ou defeito poderá ser apontado, se não houver
um verso do autor para comprová-lo. Diante dessa exigência você terá que colecionar os
versos que você irá usar durante sua produção, de preferência anotando além do verso em
si, o título do poema de onde ele foi resgatado.
Terceira regra: a descrição não poderá se restringir a um perfil físico ou psicológico
do avatar. O desafio inclui também uma descrição do mundo habitado por esse avatar:
ambientes, amigos, namoradas, família, ocupações, lazer etc. Todas essas informações
igualmente comprovadas pela produção poética de Bocage.
Cumpre o desafio quem construir seu avatar respeitando todas as regras.
Os textos podem ser apresentados no ambiente virtual ou num encontro presencial.
Se preferir você também pode selecionar imagens do artista na internet ou desenhar a
imagem desse avatar combinando, é claro, com a sua descrição.
Bom desafio!!!!!!!!!!

32
Literatura Luso-brasileira I

Atividade de Pesquisa e Interação

Vamos conhecer um pouco mais da poesia bocageana?


Selecione na rede poemas do autor criados tanto em sua fase árcade como na pré-
romântica.
Em seguida, escolha os dois que você mais gostou (um de cada fase) e produza uma
análise comparativa dos poemas.
A análise deverá identificar as diferenças e semelhanças na maneira de escrever de
Bocage nesses dois momentos.
Use a análise presente nesse material para servir de base para a sua produção.
Nela, você deverá usar trechos dos poemas selecionados para comprovar sua
argumentação.
Por tratar-se de uma argumentação, você estará trabalhando com um texto
dissertativo e todos os requisitos desse formato deverão ser respeitados.
Terminada a tarefa, disponha sua análise no nosso espaço virtual para a apreciação
do seu tutor e de seus colegas.
Boa análise!!!!!!!!

Vamos Revisar?

Resumo

Você terminou seus estudos sobre os poetas árcades portugueses. Descobriu que
o movimento árcade se organizou através da fundação de arcádias (a Lusitana e a Nova)
seguindo o modelo de criação poética dos italianos, ou seja, atrelando uma realidade
paralela a vida real: um universo bucólico e perfeito, longe das lamentações materialistas
das grandes cidades e das injustiças sociais. Também ficou a par de que nem todos os
artistas concordavam com as regras árcades, grupos contestadores (Naus da Ribeira) ou de
artistas independentes, chamados de dissidentes surgiram para enriquecer essa estética.
Os nomes mais representativos do período se escondiam atrás de pseudônimos: Filinto
Elísio (Padre Francisco Manuel), Alcipe (Marquesa de Alorna) e Elmano Sadino (Manuel
Du Bocage). Ironicamente esses nomes do Arcadismo português atravessaram os limites
permitidos e acabaram inaugurando o pré-modernismo.

33
Literatura Luso-brasileira I

Capítulo 9 – Arcadismo: Polimorfismo


cultural

O período árcade brasileiro


As representações da estética árcade começam no Brasil na segunda metade do
século XVIII. No Brasil, a crise se efetivou entre a sociedade colonial e os colonizadores
portugueses. A crise da lavoura açucareira e a descoberta das minas de ouro e pedras
preciosas modificaram o eixo econômico do país.

Glossário Nesse século, o eixo econômico, que no período barroco centrava-se entre a
Bahia e Pernambuco, é deslocado para Minas Gerais (extração do ouro) e Rio de Janeiro
(escoamento do minério). Da mesma maneira que ocorrera com a economia, transferem-
24
Polimorfismo
Que pode se se as atividades culturais. Decorrente dessa situação econômica surge uma nova forma de
manifestar de várias organização social em que o gosto pela cultura se acentua.
formas, maneiras.
A atividade mineradora impulsionou mudanças na organização e dinâmica da vida
brasileira: cresceu a circulação de mercadoria, intensificou a atividade do mercado interno,
houve dinamização nas regiões Sul e Nordeste. Considerando o crescimento das cidades
que se tornavam o foco administrativo e político, aparece no Brasil o trabalho não-escravo,
sem vinculação com a atividade agrícola ou com a mineração.
O primeiro acontecimento significativo que possibilitou uma mudança na sociedade
colonial foi, de fato, o aparecimento da atividade mineradora. O ouro brasileiro teve a
função de ampliar o desenvolvimento da acumulação do capital. Sendo assim, nem Portugal
nem Brasil tiveram benefícios com a mineração, no sentido de deixarem resultados na
estrutura econômica e, portanto na estrutura social da colônia.
A essência da exploração do ouro foi de desperdício, de esbanjamento das riquezas,
de transferência pura e simples dos lucros. Esses lucros se acumulam na colônia lentamente.
A maior parte se esvai, sem deixar qualquer vestígio.
A exploração mineradora coloca em antagonismo a classe dominante na colônia e
na metrópole. Começam a surgir as inquietações e insatisfações, aparecendo organizações
contra o poder metropolitano.
Percebe-se a partir daí, o surgimento de uma classe mediana que, visando defender
os seus interesses, busca respaldo nas concepções ideológicas liberais emanadas da França.
Na busca de manter o equilíbrio e o bom gosto, o arcadismo representa uma reação
ao gongorismo e procura um retorno à simplicidade clássica, à ingenuidade campesina, à
pureza de ideias e costumes, volta-se para o racional, o claro, o regular, o verossímil. A
concepção oriunda da poética renascentista compreende a arte como cópia da natureza. O
que antes fora negado pelos poetas barrocos, torna-se foro da teoria poética, sendo esse
período a versão literária do Iluminismo.
A propagação das ideias iluministas no Brasil impulsiona os ideais de libertação do
país, o que desencadeará a Inconfidência Mineira (1789), da qual muitos escritores árcades
participaram.
Minas Gerais foi o centro da produção literária do Arcadismo brasileiro, que por
meio dos escritores do grupo mineiro expressaram seus sentimentos através da poesia:
lírica épica e satírica.
34
Literatura Luso-brasileira I

O Surgimento das academias


No Brasil, não houve a fundação de nenhuma Arcádia. Entretanto, surgiram no
século XVIII quatro academias, que primavam por uma literatura preciosa e decorativa e
com traços de barroquismo. Foram as academias: Brasílica dos Esquecidos (Bahia), Brasílica
dos Felizes (Rio de Janeiro), dos Renascidos (Bahia) e dos Seletos (Rio de Janeiro).
Considerando a necessidade de compartilhar com seus pares as ideias, buscar
respaldo nos ideais que eram defendidos e na perspectiva de construir admiração dos
pares, uma vez que essa não vinha do público, é que foram criadas as academias. É através
delas que o arcadismo encontra a sua expressão mais ou menos generalizada. Os grupos
eram dispersos e espalhados pelos escassos centros urbanos. Viviam em verdadeiras ilhas,
isolados, mantidos por algum protetor.
As academias surgiram muito mais pelo consentimento e vontade dos governadores
do que pela luta dos próprios árcades. Elas serviram de ponto de convergências para as
reuniões sociais.
O movimento árcade no Brasil vingou com o chamado grupo da escola mineira,
pois foi o primeiro grupo de escritores que apresentou uma integração entre si. Esse
grupo mineiro destacou-se na arte literária e na prática política, participou efetivamente
da Inconfidência Mineira. O grupo foi composto por: Cláudio Manoel da Costa, Alvarenga
Peixoto, Basílio da Gama, Santa Rita Durão, Silva Alvarenga e Tomás Antonio Gonzaga. O
início do movimento árcade é marcado pela distribuição das obras poéticas de Cláudio
Manoel da Costa. Dentre os árcades, o único a pertencer a alguma corporação arcádica foi
Basílio da Gama, filiado à Arcádia romana, cujo nome era Termindo Sipílio. Os brasileiros
foram árcades sem Arcádia, segundo Alberto Farias.
Os poetas árcades adotavam um nome literário fictício, que geralmente era de
pastor, simulando um fingimento poético. Para leitura dos poemas, sugeria-se o campo,
uma vida campesina, relacionando à vida natural do campo ou dos pastores.

As convenções da arte clássica


Os escritores árcades buscam imitar os poetas da antiguidade greco-romana.
Esses autores retomam as obras da antiguidade clássica, inspirando-se nos modelos
renascentistas.
Os princípios fundamentais da arte clássica são:

» Compreensão do universo e do homem;


» Valorização do homem pelo espiritual, terreno e físico;
» Universalidade da arte;
» Imitação da natureza através da arte;
» Apresentação verossímil da arte.
Considerando os princípios fundamentais da estética clássica apresentado no
capítulo I desse volume, podem-se eleger as seguintes características:

a) Presença do bucolismo – os poetas árcades elegem a vida pastoril como modelo de


existência, porque os pastores viviam em contato constante com a natureza.
Que bem é verdade nos campos trasladados

35
Literatura Luso-brasileira I

No gênio do pastor, o da inocência!


E que mal é no trato, e na aparência
Ver sempre o cortesão dissimulado!
(Fragmento do soneto XVI de Cláudio Manoel da Costa)

b) Exaltação da natureza – a natureza nos textos árcades é retratada de maneira mais


serena, mais tranquila em oposição ao dinamismo abordado no período barroco.
Ouvem-se as avezinhas junto a fonte
Saudando a manhã com voz sonora.
(Fragmento de texto de Santa Rita Durão)

c) Tranquilidade no relacionamento amoroso – É apresentado sem exagero, sem


paixões exacerbadas.
Tem redonda e lisa a testa,
Arqueadas sobrancelhas,
e seus olhos são uns sóis.
Aqui vence Amor ao Céu;
Que no dia luminoso
O céu tem um sol formoso,
E o travesso amor tem dois.
(Fragmento de texto de Tomás Antonio Gonzaga)

d) Universalidade – o poeta árcade escolhe situações que sirvam para ilustrar


ocorrências comuns à maioria dos homens, não se prende a dramas individuais.
Depois que nos ferir a mão da morte,
Ou seja, neste monte, ou noutra serra,
Nossos corpos terão, terão a sorte
De consumir os dous a mesma terra.
Glossário
Na campa25 rodeada de ciprestes,
25
Tipo de pedra que Lerão essas palavras os pastores:
cobre sepulturas.
Quem quiser ser feliz nos seus amores,
Siga os exemplos que nos deram estes.
Graças Marília bela,
Graças a minha estrela!
(Fragmento de Marília de Dirceu - Tomás Antonio Gonzaga)

e) Equilíbrio entre a razão e a fantasia – considerando as ideias iluministas que


vigoravam na época, os poetas árcades davam mais ênfase à razão.
...Não cedes coração, pois neta empresa
O brio só domina; o cego mando
Do ingrato amor seguir não deves, quando
Já não podes amar sem vil baixeza.
(Alvarenga Peixoto)
36
Literatura Luso-brasileira I

f) Presença de entidades mitológicas – Utiliza os seres criados pela mitologia dos


poetas greco-romanos.
Minha bela Marília, tudo passa;
A sorte deste mundo é mal segura.
Se vem depois dos males a ventura,
Vem depois dos prazeres a desgraça.
Estão os mesmos deuses
Sujeitos ao poder do ímpio Fado:
Apolo já fugiu do céu brilhante,
Já foi pastor de gado.
(Fragmento Marília de Dirceu: parte I – Lira XIV, Tomás Antonio Gonzaga)

g) Predomínio da lógica – O artista árcade prefere a linguagem clara, ordem lógica,


direta na escrita, fugindo das complicadas construções da linguagem barroca.
h) Utilização de períodos curtos – Preferem usar versos curtos sem as delongas postas
pelo movimento barroco.
... Alguém há de cuidar que a frase inchada
Daquela que lá se usa entre essa gente,
Que julga que diz muito, e não diz nada.
O nosso humilde gênio não consente,
Que outra coisa se diz mais, que aquilo,
Que só convém ao espírito.
Glossário
(Cláudio Manoel da Costa- égloga26)

i) Utilização de versos sem rimas – surgem os versos brancos. Neles, os poetas não se 26
Tipo de pessoa que
tem como tema as
preocupam mais com as rimas.
coisas do campo.
(...) Cansada de viver, tinha escolhido
Para morrer a mísera Lindoya.
Lá reclinada, como que dormia,
Na branda relva e nas mimosas flores, (...)
(A morte da Lindóia, lira IV, Basílio da Gama)

Atividade de Pesquisa e Interação

Assista ao filme “As Missões” e leia o poema “Araguaia” de Basílio da Gama. O filme
registra a luta narrada por Basílio em seu poema. Observe que são textos diferentes, no
entanto apresentam a mesma situação, configurando-se em linguagens específicas. Uma é
a linguagem cinematográfica a outra é a literária, mas há pontos de convergências entre
esses textos. Assim sendo, produza um texto em que você faça uma análise desses textos,
demonstrando como o tema é tratado. Esse seu texto deverá ser socializado em um dos
encontros presenciais.

37
Literatura Luso-brasileira I

Atividade de análise e interpretação

O poema Caramuru de Santa Rita Durão é de cunho nativista, apresenta a fauna, a


flora, as riquezas minerais brasileiras e os costumes indígenas, representa a saga do povo
brasileiro. Esse poema é escrito nos moldes camonianos, ou seja, é composto de dez cantos,
versos decassílabos, estruturado em oitava real, faz a narração de Diogo Álvares Correia.
Faça a leitura do poema e procure elencar as semelhanças que esse texto traz com o texto de
Luís de Camões. Essa atividade deverá ser entregue ao tutor da turma para sistematização
de painel coletivo para circulação em ambiente virtual.

Cinema em ação e relação de sentido

Assista ao filme “Sociedade dos Poetas Mortos”, preste bastante atenção,


principalmente ao que retoma o tema clássico Carpe Diem e faça uma análise em relação
à expressão em destaque, o materialismo e a racionalidade propagados pelos artistas
árcades. Esse seu texto deverá ser socializado com a turma para que as diversas opiniões
apresentadas pela classe possibilitem a reflexão a respeito da estética árcade.

Vamos Revisar?

Resumo

Você conheceu o movimento árcade no Brasil, suas características e suas


representações. Percebeu que o movimento se estruturou aqui no Brasil através das
academias – espaço que tinha como objetivo primordial – reunir os intelectuais e artistas
para que pudessem comungar dos mesmos ideais. É nas academias que o arcadismo
encontra a sua expressão mais significativa e generalizada. Esses espaços acadêmicos
surgiram por vontade dos governantes do que dos próprios poetas, artistas da época. Os
grupos de artistas eram dispersos e espalhados pelos escassos centros urbanos. Viviam em
verdadeiras ilhas, isolados, mantidos por algum protetor. Seguiram os padrões da estética
portuguesa, atrelando uma realidade paralela a vida real, adentrando-se num mundo
bucólico, campestre, pertencente à vida do campo. Para isso, adotavam nomes pastoris,
fugindo das lamentações do mundo material e das injustiças sociais.

38
Literatura Luso-brasileira I

Capítulo 10

O que vamos estudar neste capítulo?

Neste capítulo, vamos estudar as seguintes temáticas:

» Os principais autores do Arcadismo brasileiro;


» A produção dos poetas árcades brasileiros;
» As principais características dos poetas do Arcadismo brasileiro.

Metas

Após o estudo deste capítulo, esperamos que você consiga:

» Conhecer a produção dos escritores mais relevantes do arcadismo brasileiro;


» Compreender a estética dos autores brasileiros durante o movimento árcade;
» Identificar as principais características dos poetas mais significativos da estética
árcade brasileira.

“A leitura engrandece a alma”.


(Voltaire)

39
Literatura Luso-brasileira I

Capítulo 10 – A produção poética dos


artistas brasileiros

Vamos conversar sobre o assunto?

Nesse capítulo, você irá conhecer os autores brasileiros que se inseriram na estética
do Arcadismo. É interessante que a cada volume o seu leque de conhecimento vá se
alastrando e você amplie e consiga distinguir as diferentes escolas literárias, bem como seus
mais significativos representantes.
Através dos autores, consegue-se compreender as características de um dado
período, movimento. Nossa intenção é disponibilizar o máximo de informação para que
você esteja a cada momento se empoderando do universo da literatura, no nosso caso, da
literatura luso-brasileira.
Esperamos que o material aqui apresentado possa facilitar a sua aprendizagem e
a orientação dos tutores nos momentos on-line e nos encontros presenciais de cada polo.
Agora iremos conhecer os poetas do movimento árcade brasileiro, boa sorte e bons
momentos de reflexões e estudo.

Cláudio Manuel da Costa (1729-1789)

Seu pseudônimo árcade é Glauceste Satúrnio, foi um poeta talentoso, de rigorosa


linha neoclássica. Cultivou a poesia lírica e épica, no entanto, a poesia lírica teve maior
repercussão. Na poesia bucólica, pastoril menciona a natureza como refúgio e a que trata
dos males dos sofrimentos amorosos das musas. Sua casa em Vila Rica era o local de reunião
para os intelectuais da capitania.
Foi comparado a Camões, pois seus versos eram doces, de lirismo subjetivista
e apresentavam um universo interior glamoroso. Seus sonetos neoclássicos, perfeitos
na linguagem e forma apresentam temáticas que abordam as reflexões morais e das
contradições da vida. Tinha uma esplendorosa habilidade de versejar na forma fixa. Seus
versos eram espontâneos, métrica decassílaba, com ritmo fluido, natural e cadente.
40
Literatura Luso-brasileira I

Não foi um poeta árcade típico, foi antes um continuador dos clássicos
quinhentistas, especialmente de Camões, o que fez dele um notável sonetista, sobretudo de
temas amorosos e morais. Outra influência marcante de sua obra foi o gongorismo barroco,
do qual herdou o gosto pelos trocadilhos e por hipérbatos.
Em sua produção poética já se observou a presença constante da natureza
brasileira ou portuguesa, sendo um pano de fundo para o refúgio da vida da cidade. Em
suas produções coexistem os apelos da terra natal, os montes e vales, o ribeirão do Carmo,
a rigidez estética dos padrões clássicos europeus, resultando num contraste permanente
entre a natureza rústica e a satisfação cultural.
No prefácio de obras poéticas, o próprio poeta assumia o conflito entre a sua
formação europeia e a realidade rústica e bárbara da pátria. No entanto, a expansão de seu
sentimento nativista possibilitou a criação de uma obra de alto nível.
Nas obras de Cláudio Manuel da Costa27, a mulher aparece como elemento capital,
às vezes, como companheira imprescindível, outras como mulher inacessível e fugidia28.
Observe o fragmento abaixo.
Nise? Nise? Onde estás? Aonde espera
Achar-te uma alma, que por ti suspira, Atenção

Se quanto a vista se dilata, e gire, 28


Vocabulário:
Tanto mais de encontrar-te desespera! O que foge efêmero é
arredio, esquivo.
Percebe-se a evocação das musas, na construção de Cláudio Manuel da Costa estão
registradas várias pastoras. No entanto, Nise é uma constante, ou seja, a mais evidenciada
em suas poesias. Em toda a estruturação do poema há uma organização circular, pois no
último terceto do soneto, o poeta retoma ao verso inicial.

Minibiografia

27
Nasceu na área rural da cidade de Mariana em Minas Gerais. Estudou em Coimbra, se formou
em Direito em 1753. Retornando para Vila Rica, exerceu a advocacia. Participou da Inconfidência
Mineira, foi preso juntamente com outros inconfidentes e suicidou-se na prisão.

Tomás Antonio Gonzaga (1744-1810)

Glossário

29
Apelido, alcunha.
Gonzaga é mais conhecido pelo cognome 29
de Dirceu, em sua poesia lírica, foi
41
Literatura Luso-brasileira I

considerado como sendo o mais árcade dos poetas do grupo mineiro do século XVIII. Sua
poesia traz a marca de nosso sentimento e de nosso lirismo. Considerou a mulher como
musa inspiradora constante e defendeu, ao longo de sua produção poética, a utópica
superioridade do homem natural.
Tomás Antonio Gonzaga30 realiza obra lírica, cujo segredo das qualidades da época,
reside nas circunstâncias autobiográficas. Seu poema superou limitações a ponto de gerar
envolvimento mítico entre o poeta e a musa – Maria Doroteia, a Marília do Dirceu.

Minibiografia

30
Nasceu em (1744-1810), sua mãe era portuguesa e seu pai brasileiro, passou parte de sua
infância no Brasil. Graduou-se em Direito pela Universidade de Coimbra. Quando retorna para o
Brasil, instala-se em Vila Rica e exerce a função de juiz e ouvidor.

Com o pseudônimo de Dirceu, escreve poemas líricos declarando seu amor à


adolescente Maria Doroteia J. de Seixas, a qual chama de Marília. Essas poesias formam a
obra Marília de Dirceu e, respeitando os moldes literários da época, que não permitiam a
expressão direta dos sentimentos, compõe uma autobiografia. O eu-lírico transforma-se em
um pastor e demonstra toda a sua paixão pela bela e jovem Marília.
A obra Marília de Dirceu comporta uma leitura em três fases no processo de
revelação amorosa: 1) o conhecimento da musa, com o deslumbramento que causa no
poeta; 2) o amor correspondido e a preparação psicológica para o relacionamento dos
amantes, visando ao matrimônio, mas em função de um dado biográfico – grande diferença
de idade entre ambos e de status – Gonzaga um magistrado, dado à vida intelectual,
ao estudo e à reflexão no meio das ambições e riquezas geradas pela mineração; 3) a
separação dos amantes por força do ideal de libertar a pátria adotiva, o que levaria o poeta
à condenação, frustrando-se o seu outro ideal pessoal ou de vida íntima.

A primeira parte do poema Marília de Dirceu contém confissões amorosas,


descrições da amada e da paisagem mineira, o ideal otimista da vida do pastor. Em Marília de
Dirceu, o poeta dá vazão aos sentimentos pessoais, ajustando-os às características árcades
do pastoralismo, da galanteria, da brevidade da busca e da busca do prazer e do momento
presente. Foi a obra mais editada em língua portuguesa. Segue fragmento do poema:

42
Literatura Luso-brasileira I

Fragmento da Lira XIV

Minha bela Marília, tudo passa;


A sorte deste mundo é mal segura;
Se vem depois dos males a ventura,
Vem depois dos prazeres a desgraça.
Estão os mesmos Deuses
Sujeitos ao poder do ímpio Fado:
Apolo já fugiu do céu brilhante,
Já foi pastor de gado.

Alguns críticos afirmavam que a obra deveria se chamar Dirceu de Marília e não
Marília de Dirceu, devido à vaidade do autor. O discurso poético sofre alterações ao longo
da obra, porque o poeta é preso. Antes de ser preso, aborda a iniciação amorosa, o namoro,
a felicidade da amante, os sonhos e ideais de uma família. Logo em seguida, vivendo os
sofrimentos e angústias da prisão, faz uma série de reflexões, trazendo à tona a justiça dos
homens, como do caminho do destino e da eterna consolação, respaldado no amor que
sentia por Marília.
Na segunda parte, o eu-lírico revela sofrimento físico e moral, predomina um tom
trágico, de desalento, de desconforto, de revolta e de amargura. Enfatiza-se que nessa
parte, o poeta manifesta o sentimentalismo e a subjetividade - traços peculiares aos poetas
pré-românticos.

Fragmento da lira XV

Ah! Minha bela, se a Fortuna volta,


Se o bem, que já perdi, alcanço e provo,
Por essas brancas mãos, por essas faces
Te juro renascer um homem novo,
Romper a nuvem, que os meus olhos cerram,
Amar no céu a Jove e a ti na terra.

A fase satírica de Tomás Antonio Gonzaga

As Cartas Chilenas, obra de caráter satírico, cujo alvo de críticas foi Luís da Cunha
Meneses, governador da capitania de Minas Gerais, a quem o poeta chama de Fanfarrão
Minésio, cujo governo foi de 1783 a 1788. Na época em que foram escritas, “as Cartas
Chilenas” circularam anonimamente, fomentando dúvidas quanto à sua autoria. Imbuído de
um fingimento poético, Gonzaga assina as cartas com o pseudônimo de Critilo (remetente) e
o destinatário é Doroteu (Cláudio Manuel da Costa). O Chile presente no poema representa
Minas Gerais e Santiago corresponde a Vila Rica.
Os poemas das Cartas Chilenas foram escritos numa linguagem irônica e agressiva.
No entanto, trazem ricas informações históricas. Trata-se de uma obra satírica organizada
em 13 cartas, escrita em versos decassílabos, sem rimas.

43
Literatura Luso-brasileira I

Fragmento da quarta carta

(...)
Passam, prezado Amigo, de quinhentos
Os presos, que se ajuntam na Cadeia.
Uns dormem encolhidos sobre terra,
Mal cobertos dos trapos, que molharam
De dia no trabalho: os outros ficam
Ainda mal sentados, e descansam.

As pesadas cabeças sobre os braços


Em cima dos joelhos encruzados.
O calor da estação, e os maus vapores,
Que tantos corpos lançam, mui bem podem
Empestar, Doroteu, extensos ares.
A pálida doença aqui bafeja.
(...)

A importância das Cartas Chilenas não é meramente literária, mas histórica e


política. É um registro do Brasil-Colônia, do ciclo da mineração e da pré-independência.
O Critilo é impiedoso com os donos do poder, apontando em seu texto a corrupção do
governador e a grave crise econômica pela qual passava Vila Rica, capital da mineração no
Brasil- colônia.

Basílio da Gama (1741-1795)

A poesia arcádica utilizou temas brasileiros: nossa história e nosso índio,


influenciado pelo classicismo do século XVI e por “Os Lusíadas” de Camões. O poema épico
mais significativo do arcadismo foi o Uraguai, composto por cincos cantos, cujo cenário foi o
território dos Sete Povos das Missões (Noroeste do Rio Grande do Sul). Espaço de fronteira,
onde ocorreram lutas entre os jesuítas e os índios, ao se fazer cumprir o tratado de 1750
entre Espanha e Portugal.

44
Literatura Luso-brasileira I

O Uraguai fugiu da rigidez do arcadismo mais ortodoxo e foi desprendendo-se


do racionalismo e da convenção: o que há de mais idealizado, de emoção viva, está nos
momentos em que, no texto, predomina a inspiração lírica (a morte da Lindóia). O poemeto
épico objetiva conciliar a louvação de Pombal e o heroísmo do indígena.

Capa da obra O Uraguai de Basílio da Gama31

Minibiografia

31
Nasceu em Tiradentes, Minas Gerais. Estudou com os jesuítas no Rio de Janeiro e viajou para
Itália e Portugal. Foi perseguido pela Inquisição, só não foi deportado para Angola, porque fez um
poema dedicado a filha do Marquês de Pombal.

O poeta pertenceu a Arcádia Romana, sob o nome pastoral de Termindo Sipilio,


sendo fiel aos seus princípios. Basílio da Gama não utilizava a mitologia convencional, nem
optou pelo bucolismo, tendência primada pelos poetas árcades. Segundo BOSI (1994), o
verso branco e o balanço entre os decassílabos heróicos e sáficos aligeiram a estrutura que
melhor se diria lírico-narrativo do que épico. Segue fragmento do poema Uraguai:

“Na idade que eu, brincando entre os pastores,


Andava pela mão e mal andava,
Uma ninfa comigo então brincava,
Da mesma idade e bela como as flores.”
“Açouta o campo coa ligeira cauda
O irado monstro, e em tortuosos giros
Se enrosca no cipreste, e verte envolto
Em negro sangue o lívido veneno.
Leva nos braços a infeliz Lindóia
O desgraçado irmão, que ao despertá-la
Conhece, com que dor! No frio rosto
Os sinais do veneno, e vê ferido
Pelo dente sutil o brando peito.

Por ser uma obra de intenção épica, espera-se que haja atos de heroísmo. No
entanto, ao longo do poema, o que se percebe é um questionamento dos fatos bélicos,

45
Literatura Luso-brasileira I

apresentados como atuação política, trazendo à tona uma postura iluminista do poeta.
Apesar de fazer uma crítica à guerra, o fato narrado não sofre alteração, portugueses e
espanhóis saem vitoriosos do confronto com os silvícolas.
No decorrer do poema, os jesuítas são apresentados como os vilões do genocídio,
pois os índios são as vítimas dos jesuítas. A força e a coragem do indígena são enfatizadas,
o que justifica a sua derrota e as desvantagens seriam as diferenças das armas, o que os
colocava numa posição de inferioridade.

Frei José de Santa Rita Durão (1722-1784)


Escreveu a epopeia Caramuru, publicada em 1781, que conta a história de Diogo
Álvares Correia, que morreu num naufrágio no litoral baiano, no século XVI. Essa obra
não teve uma boa recepção, o que impulsionou o autor a queimar todo o restante de sua
Atenção construção poética.
Caramuru32 é um poema escrito aos moldes camonianos, cuja estrutura é de dez
32
Caramuru foi o
cantos, versos decassílabos, organizados em oitavas reais (ABABABCC). Pode ser classificado
nome dado a Diogo
Álvares Correia pelos como sendo um texto nativista, em que o autor busca explorar a fauna, a flora e as riquezas
Tupinambás, cujo minerais do Brasil, bem como os costumes indígenas.
significado é filho do
trovão. Quanto aos aspectos formais manteve-se preso à ortodoxia clássica, que não o
deixou ousar, seguiu aos lugares comuns estruturais e estilísticos dos imitadores de Camões.
Representou o retorno das tendências anti-iluministas. O índio que aparece na obra é um
ser que a ótica do autor tende a tornar-se estático, apresentando-se na visão do mundo
jesuítico e português. Santa Rita Durão33 via os índios como almas capazes de ilustrar para
os europeus a verdade dos dogmas católicos. Segue fragmento do poema Caramuru.

Canto XLIII

Choraram da Bahia as ninfas belas,


Que nadando a Moema acompanhavam;
E vendo que sem dor navegam delas,
À branca praia com furor tornavam.
Não pode o claro herói sem penas vê-las,
Com tantas provas, que de amor lhe davam.

Este fragmento do texto enfoca o episódio da morte de Moema. Diogo ao embarcar


para a França com a índia Paraguaçu faz com que Moema tente segui-lo a nado, não
conseguindo tal feito, morre afogada.

Minibiografia

33
Estudou com os jesuítas no Rio de Janeiro e doutorou-se em Filosofia e Teologia em Coimbra.
Passou para a Ordem de Santo Agostinho, mas as desavenças no meio eclesiástico fizeram-no
fugir para Itália, onde ficou durante longo tempo estudando. Foi professor na Universidade de
Coimbra e chegou ao cargo de reitor.

46
Literatura Luso-brasileira I

Alvarenga Peixoto (1744-1792)


Envolve-se na Inconfidência Mineira, quando preso teve sua pena de degradação
para a África. No início de sua carreira, começou a escrever como neoclássico, depois passa
a construir lira laudatória.
Teve uma vida gasta nos vários amores e nos envolvimentos políticos e econômicos.
A sua atividade poética era de ritmo inconstante e vulnerável a circunstâncias externas.
Seu processo de criação era impulsionado por fatos, motivos exteriores, que brotavam
de fora, nunca de dentro, ou quando um acontecimento encontrava ressonância em sua
sensibilidade.
Não há na produção do poeta uma temática definida, os versos são concisos e
sólidos, repelem as palavras vazias de sentido que são utilizados por alguns poetas para
garantir a rima ou completar os versos. Observe o poema que segue:

O Criptônimo arcádico

Não cedas, coração, pois nesta empresa


O brio só domina; o cego mando
Do ingrato Amor seguir não deves, quando
Já não podes amar sem vil baixeza.
Rompa-se o forte laço, que é fraqueza
Ceder a amor, o brio deslustrando;
Vença-te o brio, pelo amor cortado,
Que é honra, que é valor, que é fortaleza.
Foge de ver altea; mas, se a vires,
Por que não venhas outra vez a amá-la,
Apaga o fogo, assim que o presentires;
E se ainda assim o teu valor se abala,
Não lho mostres no rosto, ah, não suspires!
Calado geme, sofre, morre, estala.
(Silva Alvarenga)

O criptônimo arcádico não esconde a experiência verídica, deixa transparecer uma


dualidade clássica pelo que lembra o binômio céu e terra, e romântica, considerando o eu
desfeito em dois pedaços.

Silva Alvarenga (1749-1814)


Foi mentor de reuniões liberais no Rio de Janeiro, satirizando as leis da corte,
passou três anos de sua vida em cárcere. É um poeta que traz as marcas da poesia de seu
tempo. Em seus textos, percebem-se preocupações nativistas, desejos de progresso, crença
na civilização e cuidados com a situação da colônia. Defendia a ideia da república, sendo
conquistada e defendida com a participação de todos os setores sociais.
Elaborador de textos coerentes, é um militante incansável da estética árcade,
é amante da poesia e se prende aos aspectos formais. Silva Alvarenga34 foi considerado
também o mais democrático dos poetas árcades, distanciou-se da neo-aristocracia. Em

47
Literatura Luso-brasileira I

sua obra lírica, contida em Glaura, há os poemas mais modernos de seu tempo, repletos
de elementos de musicalidade e ternura. Glaura é composta de rondó e madrigais, esse
texto foi dedicado a sua amada. Silva Alvarenga transformou o rondó em quadras com
um estribilho que abre e fecha a composição, aparece em série de duas estrofes. Nessa
forma de organização, o estribilho surge várias vezes, facilitando a memorização musical do
poema. Eles se dispõem em rimas internas. Observe o fragmento que segue.
Conservai, musgosas penhas (a)
Nestas brenhas (a) minha glória (b)
E a memória (b) que inda existe (c)
Torne um triste (c) a consolar.

Silva Alvarenga foi considerado o elo entre os árcades e os românticos,


cronologicamente é o último dos poetas do grupo mineiro. Em sua obra estão presentes
elementos da paisagem brasileira (cajueiro, mangueira, jambeiro etc). No entanto, esses
elementos não conseguem expressar os elementos locais em seus versos. Construiu uma
poesia cuja marca mais profunda é a espontaneidade.

Minibiografia

34
Manuel Inácio da Silva Alvarenga, nasceu em Vila Rica e faleceu no Rio de Janeiro. Era mestiço,
de descendência humilde. Formou-se em Cânones em Coimbra. Foi preso em 1794, acusado de
conspirar contra o governo e a religião. Morreu solteiro e não deixou descendentes.

Nos textos de Alvarenga se encontra uma linguagem atual, o bucolismo presente


em seus textos é um eco e este muito apagado, fica na qualidade de pastor, na invocação de
ninfas. Percebe-se no poema de Glaura que a linguagem é ingênua e simples pela monotonia
dos motivos. Quanto à forma exterior é elaborada e preciosa.

48
Literatura Luso-brasileira I

Atividade de Analise e relação de interpretação

Casa no Campo

(Zé Rodrix)

Eu quero uma casa no campo


Onde eu possa compor muitos rocks rurai
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais.
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar do tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Aos limites do corpo e nada mais.
Eu quero carneiro e cabras pastando
Solenes no meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas causadas.
Eu quero a esperança de óculos
E um filho de cuca legal
Eu quero e plantar com a mão,
A pimenta e o sal.
Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau a pique e sapê
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros e nada mais.

Observe que a letra da música nos remete a elementos relacionados à natureza.


A estética árcade tem como característica a presença de elementos naturais, ou seja, o
bucolismo. Os poetas árcades buscam na natureza inspiração para construção de sua
produção poética. Considerando esses elementos no que se refere às características do
arcadismo, que relações de semelhanças você percebe entre a música de Zé Rodrix e os
elementos mais explorados no arcadismo, as características presentes comumente nos
poemas árcades. Sistematize essa sua informação através de um texto argumentativo e o
coloque no ambiente virtual para que seja organizado um painel intertextual com as diversas
opiniões sobre a letra da música “uma casa no campo” e as características do arcadismo.

Atividade de Análise comparativa

Selecione um fragmento do poema Araguai de Basílio da Gama e do poema


Caramuru de Santa Rita Durão. Procure fazer uma análise em que você demonstre o que há
de comum entre esses dois poemas. Essa análise deverá ser entregue ao tutor da sua turma
para que ele discuta as produções de todos os graduandos. Depois das reflexões coletivas da
turma deverá ser construído um painel para que se registre a pesquisa e análise da turma.

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Literatura Luso-brasileira I

Vamos Revisar?

Resumo

Bom, terminamos mais um capítulo dos nossos estudos. Você pode conhecer os
principais autores do arcadismo brasileiro, compreendendo um pouco as suas características
e a sua importância no movimento setecentos. Entender a participação dos poetas árcades
na Inconfidência Mineira e quais foram as penalidades as quais esses intelectuais foram
submetidos. O grupo mineiro se envolveu com os movimentos políticos e sociais da época,
registrando sua história e efetivando sua cidadania; uma vez que os poetas dessa fase
tinham uma atuação social muito ativa. Apesar de todo o envolvimento político, esses
escritores deleitavam-se na louvação às suas musas para evocação de seus sentimentos,
consagrando os ideais da estética árcade em suas produções intelectuais.

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Literatura Luso-brasileira I

Referências

BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 41ª Ed. São Paulo, Cultrix,
2003.
CANDIDO, Antônio. O Romantismo no Brasil. 2ª Ed. São Paulo: Humanitas, 2004.
_________. A formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 5ª edição,
Belo Horizonte: Ed Itatiaia; São Paulo: Ed Universidade de São Paulo, 1975, 2
volumes.
CASTELLO, José Aderaldo. A literatura brasileira: origens e unidade. São Paulo.
Editora da Universidade de São Paulo. 1999. Volume I.
COUTINHO, A. Introdução à literatura no Brasil, Rio de janeiro: Bertrand Brasil,
1995.
MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa. 33ª Ed. São Paulo, Cultrix, 2005.
_______________. A literatura portuguesa através dos textos. 29ª Ed. São Paulo,
Cultrix, 2004.
_______________. A literatura brasileira através dos textos. 22ª Ed. São Paulo,
Cultrix, 2004.
PROENÇA FILHO A D. Estilo de época na literatura. São Paulo: Ática 1995.
SARAIVA, Antônio José. LOPES, Oscar. História da Literatura Portuguesa. 17ª Ed.
Portugal: Porto Editora.

Complementar:

AMORA, Antônio Soares. Era Clássica. 8ª Ed. Rio de Janeiro: DIFEL, 2008 Presença
da literatura portuguesa vol 2.
BOSI, Alfredo, Dialética da colonização. 3º Ed. São Paulo, Companhia das Letras,
1995.
SILVA, Vítor Manuel de Aguiar. Teoria da Literatura. 8ª Ed. Coimbra: Livraria
Almedina, 2006.
http://www.academia.org.br

http://www.dominiopublico.gov.br

http://www.instituto-camoes.pt

http://www.revistacult.com.br

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Literatura Luso-brasileira I

Considerações Finais
Olá, cursista!
Esperamos que você tenha aproveitado este terceiro módulo da disciplina de
Literatura Luso-brasileira.
No próximo, estudaremos o movimento Romântico. Falaremos principalmente
de amor, mas esse movimento estético trará muito mais: estaremos entrando no século
XIX e uma geração de jovens artistas se tornaria símbolo de rebeldia e se transformaram
nos primeiros ídolos juvenis da História, que, além de sua arte, ditaram as regras de
comportamento.
Nesse sentido, o final deste módulo já é uma motivação para que você fique
curioso(a) para as próximas reflexões sobre esse universo.
Aguardamos sua participação no próximo módulo.
Até lá e bons estudos!
Cinthya Tavares e Edilene Soares das Neves
Professoras Autoras

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Literatura Luso-brasileira I

Conheça as Autoras

Cinthya Tavares de Almeida Albuquerque

Graduada em Letras, especialista em Língua Portuguesa, fiz o mestrado em


Teoria da Literatura pela UFPE e fui aluna especial do Departamento de Pós-Graduação
em Educação dessa mesma universidade. Atualmente trabalho no meu projeto para o
doutorado em Formação de Professores do Ensino Superior. Tenho artigos publicados tanto
na área de Literatura quanto na do Ensino de Literatura. Sempre estive ligada ao magistério,
há dezessete anos leciono no ensino básico as disciplinas de Língua Portuguesa e Literatura.
No ensino superior, estou há dez anos lecionando Teoria, Literatura e Produção Textual
nas graduações de vários departamentos de licenciatura (Letras, História, Geografia e
Pedagogia) e de especialização (Letras). Capacitadora da rede estadual e municipal, trabalho
com a formação continuada de professores e ofereço entre outras as oficinas da Historia
do Ensino da Literatura no Brasil e a de Contadores de História. Sou autora de contos e
crônicas, alguns deles já publicados e premiados.

Edilene Soares das Neves

Sou professora de Ensino Superior a 14 anos e a 25 no Ensino Básico, gestora de


educação. Graduada em letras pela Universidade Católica de Pernambuco, especialista em
Metodologia de Ensino Superior e Literatura Brasileira. Fiz mestrado na UFPE, em Teoria da
Literatura. Fui aluna especial no Centro de Educação dessa mesma Instituição. No momento,
estou pensando em voltar à universidade para fazer o doutorado na área de educação,
buscando compreender o processo metodológico do ensino de Literatura, especialmente
no Ensino Médio. No Ensino Superior, atuo como professora de teoria literária, Literatura
Brasileira e Práticas Pedagógicas no Departamento de letras, na pós-graduação, lecionei as
cadeiras de Financiamento da Educação brasileira, Fundamentos filosóficos e sociológico
da literatura brasileira, Avaliação da Aprendizagem e Institucional e Morfologia da Língua
Portuguesa. Atuo também como formadora em curso de extensão e formação continuada
das redes públicas, com oficinas na área de literatura e ensino de língua.

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