Literatura Luso-Brasileira I - Volume 3
Literatura Luso-Brasileira I - Volume 3
Literatura Luso-Brasileira I - Volume 3
Literatura Luso-brasileira I
Cinthya Tavares
Edilene Soares das Neves
Volume 3
Recife, 2011
Universidade Federal Rural de Pernambuco
Apresentação.................................................................................................................. 4
Considerações Finais..................................................................................................... 52
Conheça as Autoras...................................................................................................... 53
Apresentação
Caro(a) cursista,
Seja bem-vindo (a) ao terceiro módulo da disciplina de Literatura Luso-brasileira: das origens ao
Romantismo. Esperamos que você esteja gostando de tudo que está aprendendo e deseje continuar conosco nessa
nova etapa que abrangerá o Arcadismo em Portugal e no Brasil.
Nela, você também irá conhecer o contexto histórico e sócio-cultural antes de entrar em contato com os
autores e textos árcades mais consagrados pela tradição literária. A essa altura você já deve ter percebido o quanto
é importante conhecer o contexto de produção de uma obra, o que nos ajuda a entender a forma como essa obra
representa a maneira de pensar e agir de uma época.
O objetivo primordial deste terceiro módulo é apresentar a você a teoria filosófica que mudou
vertiginosamente a vida nas sociedades ocidentais a partir do século XVIII e permitir seu acesso e reflexão às
expressões artísticas, primordialmente, a literária resultante dessa transformação.
Sabemos o quanto os estudos literários estão sendo responsáveis pela ampliação de suas habilidades.
Então prossiga, pois sua jornada ainda reserva muitas descobertas prazerosas.
Bons estudos!!!
Cinthya Tavares e Edilene Soares das Neves
Professoras Autoras
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Literatura Luso-brasileira I
Conhecendo o Volume 3
Neste volume, você irá encontrar o módulo 3 da disciplina Literatura Luso-brasileira:
das origens ao Romantismo. Para facilitar seus estudos, veja como ele será organizado:
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Literatura Luso-brasileira I
Capítulo 7
Metas
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Literatura Luso-brasileira I
Você já desejou ser outra pessoa? Viver uma vida bem diferente da sua? Sim. No
entanto, para muitos, falta a coragem de abandonar tudo para realizar um sonho. Pois
saiba: há quem tenha conseguido conciliar sonho e realidade. De que forma? Talvez você
já tenha ouvido falar em “Avatar”? Não. Quer descobrir do que se trata? É só continuar a
nossa conversa...
Palavra de origem hindu significa “encarnação” e foi incorporada ao mundo digital
para dar nome a uma brincadeira. Nela, cada participante cria seu avatar, ou seja, um ser
imaginário semelhante a si próprio e passa a viver numa realidade virtual, o que sempre
imaginou desfrutar na vida real. A experiência já é compartilhada por muitos adeptos no
Brasil e em todo mundo. Assim, há solteiros que se tornam casados e vice-versa; homens
bens sucedidos de meia idade que resolvem ser surfistas; pessoas não satisfeitas com a sua
aparência, transformadas em homens e mulheres atraentes etc.
Você deve estar se perguntando, qual a ligação entre o Avatar e os nossos estudos
literários? Pois é muito grande. Vamos aprender nesse capítulo sobre o Arcadismo. Em
pleno século XVIII, poetas europeus, insatisfeitos com a sua realidade, criaram um mundo
paralelo para viver de forma diferente. Tal mundo ganhou concretude através dos versos
desses poetas. Que tal conhecer um pouco mais sobre essa fuga? Como viviam os europeus
naquele período para desejarem tanto assim uma nova realidade?
Bem vindo aos nossos estudos sobre o Arcadismo!
Atenção
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Literatura Luso-brasileira I
John Locke
O projeto Iluminista teve início na Inglaterra com pensadores como Locke3, defensor
do culto à razão prática em detrimento da filosofia metafísica, do Estado parlamentar e da
educação individualista. Enquanto essas ideias operavam mudanças na vida política (1668),
econômica e social dos ingleses; na Holanda, as teorias de dois outros filósofos refugiados,
Descartes e Espinosa4, já haviam emergido algumas décadas antes, embora não tivessem
gerado resultados práticos tão significativos.
Minibiografia
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John Locke (1632 – 1704). Filho de uma família de nobre que apoiou a Guerra Civil Inglesa.
Estudou medicina e química em Oxford. A leitura de Descartes despertou-lhe o interesse pela
filosofia. Sua obra mais conhecida é Ensaio do Conhecimento Humano.
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Literatura Luso-brasileira I
Minibiografia
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René Descartes (1596-1650). Filho de um conselheiro real, foi educado pelos jesuítas, tornou-se
soldado e refugiou-se na Holanda para realizar seus estudos matemáticos. Através da Geometria
desenvolveu o pensamento cartesiano. É autor da célebre frase: penso logo existo. Entre suas
obras mais conhecidas está Discurso e Método. Convidado pela rainha da Suécia para ser seu
professor, morreu naquele país alguns meses depois de lá se estabelecer.
Baruch Espinosa (1632-1677) era filho de judeus portugueses que, fugindo das perseguições
religiosas, passaram a viver na Holanda. Mais tarde Espinosa foi expulso do país e de sua sinagoga.
Chegou a sofrer um atentado e foi perseguido por católicos ortodoxos que o consideravam ateu.
Reconhecidamente bem educado, franco e honesto, Espinosa passou sua vida pagando o preço
de suas qualidades morais. Sua obra mais conhecida é Ética. Perdeu a oportunidade de ter uma
cátedra em Heidelberg porque se recusou a compactuar com as limitações oficiais que eram
impostas.
René Descartes
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Literatura Luso-brasileira I
Fedra
Ampliando Horizontes
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Fedra é um texto trágico, que conta a história da personagem título casada com o
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Literatura Luso-brasileira I
rei Teseu, mas apaixonada pelo enteado, Hipólito. Ao ser informada da morte do rei, Fedra
resolve revelar seu amor, contudo Hipólito a rejeita. A informação da morte havia sido um
engano e o rei retorna. Fedra resolve vingar-se e conta ao marido que o filho tentou seduzi-
la. O rei pede a Poseidon que mate seu filho Hipólito. Fedra se envenena ao saber da morte
do amado.
Ampliando Horizontes
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Está comédia de autoria de Molière tem como personagem principal Harpagão,
um viúvo sovina que deseja casar a filha com um homem rico, mas desconhece o namoro
secreto da filha com seu criado. Para ele, guardar o sonho de se casar com a jovem órfã
Mariana, desconhecendo também a paixão do filho Cleonte pela mesma. Esconde toda
sua fortuna em uma caixa no quintal e vive atormentando a todos com suas economias,
principalmente, sua governanta que faz as vezes de alcoviteira para ganhar alguns trocados,
o criado e o cozinheiro.
No Brasil, a peça foi encenada inúmeras vezes, tendo Paulo Autran no papel de
Harpagão.
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Literatura Luso-brasileira I
Rousseau Voltaire
Outro filósofo que se fez presente no período foi Rousseau8, apesar de não ter
compartilhado por muito tempo do pensamento iluminista. Defensor de uma sociedade
simples e de mais contato com a natureza. É dele a teoria do “bom selvagem”, na qual
defende que o homem nasce sem vícios e é a vida nas sociedades corruptas a responsável
pela transformação desse homem em um ser vil, por isso passou a ser antirracionalista,
rompeu com os enciclopedistas e desacreditou do progresso como caminho para a
felicidade. Pregava também a democracia direta, republicana. Acabou influenciando
aristocratas e operários com suas ideias. Os primeiros deixaram a cidade para morar no
campo; os outros passaram a exigir direitos iguais e levaram o país a maior Revolução já
vista pela nação francesa.
“Tudo está bem ao sair das mãos do Autor (Deus); tudo degenera nas mãos dos homens”.
Jacques Rosseau
Minibiografia
Galeria e Minibiografias
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Jean Jacques Rosseau (1712-1778): de origem humilde, nasceu em Genebra como protestante.
Foi para Paris e se converteu em Católico. Trabalhou com os enciclopedistas, mas cedo reavaliou
suas ideias, tornando-se o filósofo que inspiraria os românticos, lançando as bases do pré-
romantismo.
Diderot: principal expoente do projeto enciclopedista. Ressaltava a importância da cultura.
Boêmio, foi preso algumas vezes.
Voltaire (1694 – 1778): pseudônimo de François Marie Arouet. Foi poeta, ensaísta, historiador,
dramaturgo, diplomata, contista, jurisconsulto e filósofo iluminista. Recebeu suas primeiras
influências iluministas na Inglaterra. Pregava a liberdade de pensar e ser diferente, o que o
tornou um sátiro ferrenho e lhe rendeu muitos inimigos. Chegou a ser preso na Bastilha e quase
foi guilhotinado, acusado de escrever uma sátira contra o Rei Luis XIV. Morreu aos 84 anos e seu
corpo não foi aceito em nenhum cemitério de Paris.
D’Alembert (1717 – 1783): físico, matemático e filósofo. Era filho natural de um general e uma
aristocrata, os quais o abandonaram quando nasceu. Encontrado pela esposa de um vidraceiro,
foi por ela criado. Assinava Damberg até mudar a grafia de seu nome. Publicou inúmeras obras
matemáticas. Estudou Direito e Medicina, mas abandonou as duas pela Matemática.
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Literatura Luso-brasileira I
Tomada da Bastilha
Para entendermos melhor o projeto das Luzes na arte, é preciso perceber como
suas bases filosóficas: o culto às ciências, à Razão, ao progresso e à defesa de uma arte
clássica se transportou para o universo artístico. Antes de tudo, este projeto opunha-se
ao projeto Barroco e privilegiava a volta do mundo clássico por este último possuir na sua
essência o racionalismo. Esse novo momento clássico passou a ser conhecido nas artes
como Arcadismo. Uma das transformações mais significativas talvez tenha ocorrido fora do
objeto artístico, mais precisamente no contexto de produção desses objetos, é a rejeição ao
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Literatura Luso-brasileira I
Minibiografia
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(1621 – 1695) Jean La Fontaine era de família abastada, mas não era nobre, dependia da
proteção de patronos e amigos para divulgar seu trabalho. Viveu na corte de Luis XIV. Tinha
formação clássica e ficou conhecido pela publicação de poemas e principalmente por sua obra
Fábulas (1688), na qual constam, além de fábulas de Esopo, algumas de sua criação, como A
cigarra e a formiga. Junto com Racine, Molière e Boileau, formou o conhecido quarteto da rua
Vieux Comlobier.
(1639 – 1699) Jean Racine. Teve educação religiosa e pretendia se tornar teólogo, mas trocou a
religião pelo teatro ao chegar a Paris. Com suas tragédias fez enorme sucesso, contudo acabou no
ostracismo, quando se aproximou do jansenismo protestante. Graças a Madame de Maintenon,
amante do rei Luis XIV, pôde voltar aos palcos.
(1622 – 1673) Jean Baptiste Poquelin, conhecido como Molière, foi ator e gerente, além de autor
de teatro. Apesar de protegido por Luis XIV, diante das inúmeras ameaças sofridas por aqueles
que se sentiam ridicularizados através de seus textos, acabou na cadeia devido às dívidas de seu
teatro. Passou a trabalhar como itinerante pelo interior da França até que anos mais tarde voltou
a Paris e se integrou a um grupo italiano de comedia dell”arte. Sofreu um mal estar em cena,
morrendo horas depois.
(1636 -1711) Nicolas Boileau Despréaux nasceu e faleceu em Paris. Foi advogado, preceptor e
literata. Compôs crônicas, poesia satírica, tratados diversos. Figura polêmica, defensor de uma
literatura antibarroca.
que, por sua vez, tratará de uma imitação idealizada (bucolismo e arte pastoril), pois não
basta ao artista árcade imitar a natureza de forma realista, tal qual ela é, mas realizar
uma série de escolhas a serem enfatizadas de acordo com a sua essência, eliminando o
que ar de particular, grosseiro, hediondo, vil etc. Acrescente-se ainda o intelectualismo
responsável pelo bom senso na realização das escolhas artísticas, evitando excessos formais
ou criativos desnecessários, mantendo a contenção da emoção, o predomínio da razão,
ou seja, a apologia ao equilíbrio provenientes, inclusive, da imitação dos autores clássicos Atenção
e do impessoalismo, presentes na visão do amor livre e na concretização do amor (amor
carnal10). 10
Apesar dos árcades
pregarem a ideia de
Para alguns críticos, o bom senso artístico dos árcades foi responsável pelo amor livre, as poesias
engessamento da imaginação; para outros, os árcades se apoderaram da noção do sublime que tratam do tema
acabam descrevendo
(estilo em que a simplicidade, a objetividade, a clareza, a linearidade, a harmonia e os sentimentos dos
correção garantem a beleza do texto). Não deixa de ser uma saída para a questão do pseudônimos de forma
condicionamento criativo, cujo modelo era sempre a literatura greco-latina, no entanto o muito artificial. A
mulher é tratada sem
uso de sua mitologia aparece apenas de forma ornamental. Talvez, por todas essas marcas,
paixão. O sentimento
os árcades tenham se voltado para uma poesia de finalidade moralista, pois como bem dizia amoroso reflete o
Horácio “una o útil ao agradável”. Assim reuniu-se a beleza e o prazer proporcionados pela equilíbrio emocional
arte à tarefa de moralizar o homem, já que é ele, o homem (antropocentrismo), o principal
foco Iluminista e Árcade.
Além das características, a arte árcade também fez ressurgir uma lista de máximas
de origem latina que ajudam a sintetizar essas ideias. Veja o quadro a seguir:
Você aprendeu, com seus últimos estudos, que a primeira metade do século
XVIII, em Portugal, ainda estava ocupada pelo universo Barroco. Nesse período, governava
Portugal D. João V12 , cujo reinado perdurou por mais de quarenta anos e fez o país voltar
a viver momentos de euforia, pois o jovem monarca estava decidido a tornar Portugal
novamente uma nação de prestígio internacional.
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Literatura Luso-brasileira I
Minibiografia
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D. João V ficou conhecido como o Magnânimo. Nasceu em Lisboa a 22 de Outubro de 1689,
onde também faleceu a 31 de Julho de 1750. Era o segundo filho de D. Pedro II, e de sua segunda
mulher, a rainha D. Maria Sofia Isabel de Neuburgo. Casou-se com a arquiduquesa D. Maria Ana
de Áustria, com quem teve vários filhos, três deles se tornaram reis. O rei D. João V terminou
deixando pobre o país pelas suas prodigalidades e desperdícios.
Para isso, o rei não mediu gastos nem esforços. Mandou construir monumentos
públicos suntuosos (Convento de Mafra), o Hospital das Caldas, o Aqueduto das Águas
Livres, a Biblioteca da universidade de Coimbra); investiu na política diplomática para
consolidar a aceitação da dinastia de Bragança, herdeira do trono de Portugal (como você
deve se lembrar foi o avô de D. João V o responsável pelo fim da submissão de Portugal à
Espanha); ofereceu muito luxo e refinamento à corte; apoiou o avanço da colonização no
Brasil e a descoberta das minas de ouro e pedras preciosas. Aliás, foi principalmente o ouro
brasileiro que patrocinou todos os sonhos delirantes de grandeza de D. João V e sua corte.
Quanto à cultura, o mecenato ainda prevalecia. Os artistas buscavam e recebiam
verbas do rei para publicar suas obras. Durante o governo joanino, essas obras eram
impreterivelmente de caráter ufanista e seguiam o modelo barroco, cujos excessos e
rebuscamentos eram condizentes com a vida perdulária da realeza, mas nem todos os
intelectuais compactuavam com essa realidade. Muitos apostavam na necessidade de uma
“revolução” social e, principalmente, intelectual que banisse de vez a arte Barroca do país
e fizesse Portugal caminhar ao lado de nações desenvolvidas como a Inglaterra e a França.
Não será durante o reinado de D. João V que Portugal encontrará esse caminho
tão almejado, o reacionarismo e ao conservadorismo das classes portuguesas dominantes
impedem a renovação. Contudo, o primeiro passo para essas transformações seriam
dados pelo próprio monarca através de atos sucessivos (1716, 1724 e 1745), nos quais a
Congregação do Oratório ganhou o direito de ministrar educação pública, prerrogativa
que pertencia aos jesuítas desde o século XVI. A Congregação acabou sendo a instituição
pedagógica iniciadora das reformas, que o progresso científico, filosófico e literário daquele
momento tanto cobrava de Portugal, mas não esteve sozinha. A ela somaram-se os esforços
de inúmeros intelectuais de ideais iluministas.
O mais importante é Verney13, responsável, com o apoio do rei, pelo início da
reforma do ensino superior no país. Ex-aluno dos jesuítas e mais tarde opositor direto
das metodologias utilizadas por aqueles religiosos, Verney se dispor a libertar a educação
portuguesa de um ensino religioso e medievalista, ou seja, anticientífico e anti-iluminista.
Sua obra mais significativa, de 1746, Verdadeiro Método de Estudar, tratava-se de 16 cartas
anunciadoras desse único objetivo. Verney acabou sendo responsável pela instalação de
uma crise no país ao propor tais mudanças.
Minibiografia
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Nascido em 1713 e falecido em 1792. Luis Antônio Verney era de descendência francesa.
Graduado em Teologia pela Universidade de Évora e da Itália. Foi o primeiro a defender a reforma
no ensino superior em seu país. Defendia a implantação de uma educação iluminista.
Você deve estar lembrado de que os jesuítas eram uma ordem religiosa de
origem espanhola, que se propunha a realizar a contrarreforma e tornou-se responsável
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Literatura Luso-brasileira I
pela educação dos futuros portugueses e de todos os jovens das colônias de Portugal pelo
mundo. Ao propor o fim da educação religiosa, Verney estava propondo, na verdade, a saída
dos jesuítas das instituições de ensino e a entrega desse ensino nas mãos de pessoas laicas,
cuja abordagem trazia como novidades o ensino das línguas vivas, principalmente, da língua
portuguesa; das ciências algébricas e experimentais e dos exercícios físicos, disciplinas que
não constavam do universo de ensino jesuíta.
A consequência da crise foi a expulsão dos jesuítas do país em 1759, já no reinado
de D. José I14, cujo primeiro ministro foi o Marquês de Pombal15, outro intelectual não
simpatizante dos jesuítas, principalmente, por enxergar o poder acumulado pela ordem nos
anos em que esteve a frente das instituições de ensino portuguesas e das colônias (poder
econômico, político e intelectual) o que muito incomodava o primeiro ministro.
Minibiografia
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Nasceu em Lisboa a 6 de Junho de 1714 e faleceu em Ajuda a 24 de Fevereiro de 1777. Era
filho de el-rei D. João V, a de sua mulher, a rainha D. Maria Ana de Áustria. Casou-se com uma
nobre espanhola e deixou como herdeira uma mulher, a primeira a se tronar Rainha em Portugal.
Recebeu de seu pai um reino arruinado devido à redistribuição das vias marítimas e ao declínio
da mineração no Brasil, além do terremoto de Lisboa, ocorrido alguns anos antes de tomar posse
do trono, mesmo assim fez um bom governo graças ao ministro que nomeou para tratar de
assuntos administrativos, o Marquês de Pombal.
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(1699 – 1782) Ministro do Rei D. José I, o Marquês perseguiu os jesuítas. Era considerado um
déspota esclarecido. Era um homem de ação e reconstruiu Lisboa após o Terremoto. Continuou
como ministro de D. Maria I, mas logo foi preterido.
Dessa forma, o Marquês acaba tomando uma série de medidas conhecidas como
Reforma Pombalina, cujo objetivo maior era colocar o país no caminho do desenvolvimento
ao lado de outras grandes nações europeias, como a França. Para atingir seu objetivo,
Pombal escolhe outro pedagogo para comandar as reformas, Antônio Nunes Ribeiro
Sanches, limitando-lhe a atuação, já que o Marquês era individualista e ditador e não estava
disposto a dividir as glórias de seu governo. As universidades portuguesas acabam assistindo
a um momento de mudanças impressionantes em que é grande a produção acadêmica.
Pombal já havia provado a todos que possuía a capacidade necessária para
comandar uma nação. Alguns anos antes, 1755, Portugal enfrentou um dos maiores
desastres naturais de sua História, um terremoto, que devastou a cidade de Lisboa e
deu ao Marquês a oportunidade de demonstrar toda a sua capacidade administrativa e
empreendedora.
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Literatura Luso-brasileira I
Por sobre os escombros, os portugueses viram pouco a pouco uma nova capital
se erguer, com ruas largas, edifícios imponentes, uma arquitetura moderna e arrojada até
Atenção mesmo para os padrões franceses, modelo de modernidade seguido por toda a Europa.
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A rainha Maria I
Sua liderança atravessou todo o reinado de D. José I e chegou ao de D. Maria I16,
de Portugal subiu ao em 1777, que o recusou e elevou ao poder um grupo de homens até então despretensiosos.
trono para suceder Entre eles, o Duque de Lafões, fundador, em 1780, da Academia Real das Ciências. A
seu pai D. José I. Como
rainha, ao demitir Pombal, estava decidida a praticar uma política interna menos agressiva.
prerrogativas teve que
reparar as ofensas que Extremamente religiosa, libertou os jesuítas aprisionados pelo Marquês, construiu igrejas,
o Marquês de Pombal bibliotecas e museus. Herdeira de D. José I, durante o seu governo, a situação só não
e seu pai teriam feito se tornou mais grave para Portugal devido aos produtos agrícolas, como o algodão, que
a Deus ao perseguir
os jesuítas; moralizar reabilitaram as finanças da corte.
o serviço público e
Ainda em seu reinado, Portugal pôde respirar tempos de prosperidade intelectual,
empreender ações
progressistas. Nasceu antibarroca, as quais há muito vinham sendo assinaladas no país, mais precisamente, desde
em 1734 em Lisboa a publicação da Fênix Renascida (1716-1728), coletânea que reunia vários poetas barrocos
e faleceu no Rio de (em meio os poemas lírico amorosos, encontram-se poesias satíricas, com comentários
Janeiro em 1816. Após
a morte repentina aos exageros desse estilo). Além dessa obra, outras continuaram nas primeiras décadas do
do filho, D. José - século XVIII a demonstrar o descontentamento com o estilo barroco e a anunciar um “novo”
herdeiro do trono caminho para a literatura portuguesa já que, mais uma vez, este será designado pelos
– e de seu marido,
modelos greco-latinos, os quais traduziam com adequação aqueles tempos de racionalismo
D. Pedro III, que
também era seu tio, a e cientificismo vividos em todo o velho continente.
rainha enlouqueceu,
passando a ser Para colocar a Literatura Portuguesa em concordância com o resto da Europa,
conhecida como Antônio Dinis da Cruz e Silva, Manuel Nicolau Esteves Negrão e Teotônio Gomes de Carvalho,
Maria, a louca. Foi em 1756, fundaram a primeira Arcádia em Portugal: a Arcádia Lusitana, tendo como modelo
substituída pelo filho
D. João VI. A rainha
a Arcádia Romana (1690). No entanto, discordâncias internas levarão essa primeira Arcádia
veio para o Brasil na a fechar suas portas em 1774. Suas intenções foram impostas em seu lema inutilia truncat
ocasião da saída da (repudio as coisas inúteis).
família real de Portugal
durante a invasão
napoleônica. Maria I
era avó de D. Pedro I
Imperador do Brasil.
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Literatura Luso-brasileira I
pseudônimo pastoril para evidenciar o “fingimento” (o de fato viverem como pastores num
mundo cercado pela natureza e pelo fantasioso mundo mitológico de ninfas e deusas, num
tempo fictício e inegavelmente utópico).
Tal escolha evidencia o voluntário exílio desses poetas da realidade. Cercados por
um mundo, cujos avanços científicos mudaram completamente a imagem das cidades,
passando naquele momento a serem invadidas pela massa campesina em busca de uma
vida melhor, segundo se acreditava, esta vida seria alcançada com o trabalho nas indústrias.
Nossos poetas árcades resolveram optar por uma vida completamente diferente. Se lhes
faltou coragem para concretizá-la de fato, abandonando a tudo e a todos, restava-lhes o
refúgio do mundo da imaginação a oferecer-lhes através de sua arte um mundo melhor para
viver, mesmo que onírico. Os poetas repetiam o comportamento dos velhos gregos, que
fugiam para vilas em volta das grandes cidades por debitá-las como palco de devassidão. É
o que os teóricos chamam de Torre de Marfim, nessa torre delicada, os poetas tentam se
esconder da realidade.
Torre de Marfim
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Literatura Luso-brasileira I
Depois de ouvir e acompanhar as letras das canções pedidas analise uma a uma
essas letras. Você deve se apoiar nas características que este material didático fornece.
Procure identificar a intertextualidade entre as letras e as marcas do movimento, como:
temas comuns; visão do mundo em relação ao ambiente em que se vive ou se deseja viver,
ao relacionamento interpessoal etc. Esses mesmos passos devem ser seguidos para seleção
de músicas que você conhece e acredita que também tragam as marcas do Arcadismo.
Lembre-se de anotar todos os seus argumentos para discutir com a turma e o tutor, num
encontro presencial. E que tal se esta apresentação dos resultados aos colegas e ao tutor
fosse diferente? Sim. Então organize sua apresentação levando para a sala de aula as
músicas que você escolheu num segundo momento da pesquisa para serem apreciadas pelo
grupo. Discutam após cada audição, se elas mantêm ou não uma intertextualidade com as
ideias árcades. Leve suas anotações para a turma, elas vão dar apoio durante sua fala.
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Literatura Luso-brasileira I
Vamos Revisar?
Resumo
Bom, terminamos mais um capítulo dos nossos estudos. Você pode aprender
como uma corrente filosófica como o Iluminismo conseguiu penetrar profundamente em
uma sociedade a ponto de modificá-la radicalmente. Graças a intelectuais como Voltaire,
Descartes, Diderot, D’Alembert, Espinosa, Rousseau o despotismo do sistema absolutista
foi repensado; falou-se pela primeira vez em igualdade de direitos civis para todos; tentou-
se reunir em enciclopédias todo o saber acumulado pelo homem; democracia, liberdade,
justiça, fraternidade, educação, independência tornaram-se palavras de ordem nas
sociedades europeias e ecoaram no Novo Continente também. Mudar não é fácil e o preço
que se paga pela ousadia de propor mudanças, às vezes, é grande e nem sempre termina
como planejado. A Revolução Francesa e a Inconfidência Mineira deixaram saldos positivos,
no entanto, os negativos também puderam ser contados nos milhares de guilhotinados
(na França) e exilados (artistas árcades e intelectuais iluministas), no enforcamento de
Tiradentes e no assassinado de Claudio Manuel da Costa. Um momento que construiu uma
arte lírica, singela, pastoril, mas também erótica; satiricamente moralista e politicamente
esperançosa e libertária; retomando o passado clássico e escrevendo o presente de novas
descobertas. Assim o Arcadismo registrou sua história na primeira metade do século XVII.
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Literatura Luso-brasileira I
Capítulo 8
Metas
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Literatura Luso-brasileira I
Agora que você já foi apresentado ao contexto social da segunda metade do século
XVIII, particularmente, ao de Portugal e do Brasil. Vai ser mais fácil entender as poesias
desse período e a ideologia por trás desses textos.
Como já salientamos, o ponto alto da arte árcade é a poesia e é dela que passaremos
a tratar nesse capítulo, dos poetas portugueses e no que se seguirá da poesia árcade no
Brasil.
Como o Arcadismo chegou muito tarde a Portugal, devido à insistência dos artistas
portugueses em não abandonar o estilo Barroco, as arcádias tiveram duração curta. O mais
interessante é que o maior nome da poesia árcade em Portugal, pouco se dedicou a esse
estilo e acabou entrando para a história literária como precursor da próxima escola, ou seja,
como pré-romântico.
Vamos então finalmente conhecer quem e com que textos, a poesia portuguesa
árcade se fez.
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O manacá e o beija-
flor
Num dos largos
sertões, que em si
encerra
Do Brasil o opulento e
vasto Império,
Viviam uma ninfa e um
mancebo,
Na idade iguais, iguais
na gentileza.
Das ninfas que
Como já registramos, a primeira Arcádia em Portugal denominou-se Arcádia habitavam o contorno,
Ela era a mais formosa,
Lusitana e perdurou de 1756 a 1774. É necessário frisar que nela ou fora dela, não se fizeram e o mais jeitoso
notar grandes nomes do cancioneiro português. É verdade que em alguns momentos a De todos os mancebos
criação desses poetas chamou a atenção dos leitores, mas ainda não teríamos entre os da comarca
Era o moço gentil. A
árcades um nome à altura da produção camoniana.
linda ninfa
Entre os que se destacaram estariam: Antônio Dinis da Cruz e Silva17 um dos Manacá se chamava, e
do mancebo
fundadores da Arcádia Lusitana, adotou como pseudônimo Elpino Nonacriense e foi autor Colomim era o nome.
de Metamorfoses18, cuja estrutura assemelha-se a sua homônima (Metamorfoses, de Desde a infância
Ovídio). Assim como o poeta clássico, Elpino compôs doze textos em que transformou a Ambos juntos em doce
companhia....
natureza brasileira em espaço mítico, misturando realidade, fantasia e lendas locais. Esta
obra foi publicada postumamente, da mesma forma que seus outros volumes de poesia,
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Literatura Luso-brasileira I
intitulado: Poesias (Seis volumes). Mas seguramente foi Hissope (1802), poema heróico-
cômico, responsável por uma crítica ao espírito feudal, escolástico e clerical que mais chama
a atenção em toda a sua produção.
Minibiografia
(1731-1799). Filho de carpinteiro, nasceu em Lisboa, estudou no colégio dos padres oratorianos.
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Compõem ainda este quadro: Pedro Antônio Correia Garção (conhecido como
Córidon Erimanteu), cuja obra discursiva em favor do estilo árcade fez mais sucesso nas
reuniões da Arcádia que sua poesia. Obteve, no entanto, um bom retorno do público
quando o assunto era teatro e, por último, Domingos dos Reis Quita (Alcino Micênio),
um caso raro na literatura de então. De família pobre, barbeiro de profissão, o poeta foi
autodidata e conseguiu se tornar bibliotecário de um nobre e posteriormente sócio da
Arcádia Lusitana. Publicou seus poemas um pouco antes de morrer tuberculoso e além dos
versos, considerados o maior exemplo de poesia bucólica em Portugal, foi também autor de
teatro.
Além de Domingos, fundador maior da Nova Arcádia, está o Padre José Agostinho
de Macedo, cujo temperamento explosivo e detonador de brigas costumazes o levou a ser
expulso da Ordem de Santo Agostinho. Tornaram-se célebres, por sua vez, as pendengas
poéticas entre ele e outro membro da Arcádia: Bocage, que compôs um dos seus poemas
satíricos mais conhecidos, Pena de Talião, para zombar do padre. Macedo dedicou-se
durante sua trajetória a compor inúmeras sátiras, foi autor também de ensaios, cartas e
poesia épica, como O Oriente, obra mais reconhecida. Teve também a audácia de escrever
outro épico, este por sua vez com 12 cantos, à maneira de Camões, o propósito era superar
o poeta de Os Lusíadas, empreendimento que segundo os críticos ficou longe de se realizar.
Outras arcádias também surgiram, entre elas: Arcádia Portuense, Arcádia
Conimbricense e os Árcades de Guimarães. Mas alguns poetas resolveram tomar outro
rumo e combatê-las, fundando outros tipos de agremiações como o Grupo da Ribeira das
Naus, liderado por Filinto Elísio19; ou ainda realizando uma produção solitária, a esses
últimos a crítica passou a denominá-los de dissidentes ou independentes.
Minibiografia
dedicou-se aos estudos clássicos sobre o pseudônimo de Niceno. Fez parte do grupo da Ribeira
das Naus, opositor da Arcádia Lusitana.
Da Marquesa de Alorna recebeu o pseudônimo de Filinto e escolheu o dela Alcipe. Na França,
publicou seus poemas com novo pseudônimo, Filinto Elísio. Sua obra completa reúne 22 volumes.
Morreu em Paris depois de anos de dificuldades financeiras.
Minibiografia
20
Quarta Marquesa de Alorna, nasceu em Lisboa, em 31 de outubro de 1750. Teve o pai acusado
de atentado contra o rei D. José I e acabou sendo reclusa num convento aos oito anos de idade
até 1777, quando teve fim o governo do Marquês de Pombal. Saiu do Convento de Chelas, onde
recebeu esmeralda educação, inclusive, tendo como preceptor o padre Francisco Manuel (poeta
Filinto Elísio) e casou-se com o Conde de Oyenhausen. Viaja pela Espanha, França, Alemanha
e Áustria. Fica viúva em 1793, regressando para Lisboa, dedicando-se a educação dos filhos e
a poesia. Em 1803, funda a Sociedade da Rosa, acuada, considerada subversiva, exila-se em
Londres e depois Paris. Faleceu em Lisboa, em 11 de outubro de 1839. Sua obra foi publicada
postumamente em seis volumes.
25
Literatura Luso-brasileira I
Bocage
Falaremos um pouco mais de Filinto Elísio, embora não seja considerado pelos seus
contemporâneos como expoente maior do Arcadismo. Filinto, postumamente, conseguiu
angariar a atenção de Garrett (poeta português que trataremos em breve) e de muitos
poetas brasileiros. O pseudônimo esconde na realidade a figura do Padre Francisco Manuel
do Nascimento. Perceptor da futura Marquesa de Alorna e sua irmã. Caçado pela Santa
Inquisição, precisou se exilar em Paris. O amor platônico pela Marquesa (a qual se referia
em seus poemas através do pseudônimo Márcia) e seu exílio transformaram sua poesia
em textos confessionais que o caracterizaram como pré-romântico, embora jamais tenha
abandonado os ideais arcádicos. Vejamos uma de suas poesias:
Soneto
Como anuncia a dedicatória, o poema foi escrito para uma Dona (D.) depois
desta se fazer ausente para o poeta. Provavelmente, tratar-se da Marquesa de Alorna, por
quem o referido padre era apaixonado. Neste período, o religioso se encontrava exilado e
desgostoso da separação da Pátria e da Amada.
Pode-se perceber nos versos do poeta a mescla entre o Arcadismo e o pré-
26
Literatura Luso-brasileira I
romantismo. Se a forma escolhida é clássica (o soneto), o conteúdo não se faz tão racionalista
(Não sou em mim). O eu-lírico extravasa sentimentos em uma confissão reveladora de toda
a dor causada pela ausência da amada, cuja presença só é possível através do pensamento
(A alvoroçada mente/ Soltar-se empreende e a ti voar trabalha).
O desejo de possuí-la, de concretizar o amor carnal, remonta ao universo árcade
que também se faz presente na interferência de um “oráculo” predizendo a realização dos
desejos desse eu-lírico. (“Terás Márcia, apesar do ciúme e inveja:/ Gozarás de seu peito
alabastrino./ tens deus Amor nos Céus, que te proteja”)
A felicidade é atrelada à presença da amada (Hei de ser mais feliz./ A ideia
arrebatada me befeja.../ Já ouço a voz do oráculo benigno:/ “Terás Márcia,...), Mas ao
contrário do que anuncia o mundo árcade, essa felicidade é um sonho (pré-romantismo)
e não uma realidade. O que transforma o tom da poesia em melancólico, desesperado. Já
o percebemos, nos primeiros versos, com a demonstração de uma emoção descontrolada
(Márcia! Márcia! Meu Bem! Que grossa enchente/ De prazeres pela alma se me espalha!),
a qual nos faz refletir o quanto a separação transtornou esse eu apaixonado (Oh, como ao
ver-te, foge e se transmalha / Dos pesares o turvo bando ingente!).
Cabe ainda conhecer o trabalho da Marquesa de Alorna, nascida Leonor de Almeida
de Portugal Lorena e Lancastre e nomeada entre os árcades de Alcipe. Teve uma vida
conturbada desde a infância, muitas vezes mantida afastada da sociedade ou do seu país
por questões políticas. Exerceu uma forte influência no contexto sócio-literário de sua época
e não apenas entre arcádicos, como também de grandes nomes da literatura romântica
portuguesa, a exemplo de Alexandre Herculano.
Sua poesia, como no caso dos outros pré-românticos, oscilou entre a formação
árcade que recebeu e o pré-romantismo. Leia agora um de seus poemas.
Tristeza
Mais uma vez, a forma dileta é o soneto (marca clássica), soma-se a ela a Natureza,
como elemento significativo desse poema, e mais a presença da figura de uma pastora.
Métrica, ritmo, rimas seguem os padrões clássicos também. Mas o que pode parecer
à primeira vista um exemplo de poesia árcade se desfaz desde o título (Tristeza), já que
para os teóricos iluministas, que sustentaram os modelos de poesia clássico como ideais, a
felicidade está em levar uma vida simples (pastora) em contato com a natureza (rochedos,
troncos, arvoredos, nuvem, mar), portanto o poema se afasta da proposta árcade ao retratar
27
Literatura Luso-brasileira I
uma natureza que assinala uma existência triste em meio a perigos eminentes (Foge daqui,
pastora, que a tormenta / Que em sítio tão cruel te tem cercada,)
Escrito em sua juventude, o poema acaba se mostrando como autobiográfico, a
Marquesa confessa-nos a situação incômoda de se ver prisioneira e insegura em relação
ao seu futuro. Depois de acompanhar a condenação do avô e do pai e ser mandada na
companhia da mãe e da irmã para um convento. Leonor encontra na poesia sua válvula de
escape e por mais que tenha tido uma formação modelar e conhecer todas as regras que
cercam a produção clássica acabou por transgredi-las para dar vazão a sua sensibilidade.
Perde a poesia árcade, mas sem dúvida ganha o cancioneiro português com a perspicácia
dessa poetisa que foi responsável pela introdução das ideias românticas em Portugal,
através das inúmeras traduções que realizou de romances românticos alemães, franceses
e ingleses.
Minibiografia
21
Nascido Manoel Maria Barbosa Du Bocage. Era descendente, pelo lado materno, de um
marinheiro francês radicado em Portugal. Filho de magistrado. Terminado a formação básica,
alistou-se no exército, transferindo-se pouco depois para a Marinha. Cursou a Academia Real dos
Guardas-Marinhas, época em que deu início a sua vida poética e boêmia. Formado foi mandado
para a Índia. De volta a Portugal, depois de muitas peripécias e dissabores, teve seus versos
criticados por companheiros de Arcádia e respondeu as críticas com versos satíricos. Sua má
fama cresce e as necessidades aumentam. Auxiliado na pobreza pela Marquesa de Alorna, não
escapou da perseguição de Pina Manique, acabou preso no Limoeiro e em seguida internado
no Hospício das Necessidades, de onde saiu curado da boêmia. Livre passou a trabalhar como
tradutor e continuou a produzir versos cada vez mais amargos, consequência dos anos de prisão
e da pobreza sempre presente. Mesmo tendo a qualidade de sua poesia aumentada, sua fama
ultrapassou as fronteiras de Portugal devido à produção satírica, eróticas e burlescas.
Nascido em 1765, Bocage alistou-se cedo na Marinha, em 1783, deixando para trás
aquela a quem chamava de seu grande amor, Gertrudes, ou como anuncia em seus versos,
Gertrúria. Conhece Goa, Brasil (onde vive muitos casos amorosos) e finalmente a Índia, lá
é promovido para logo depois desertar em nome de uma nova paixão. Em 1789, está em
Macau e logo depois em Lisboa.
Informado do casamento de Gertrudes com seu irmão o poeta se entrega a todos os
excessos, ao mesmo tempo, em que passa a fazer parte da Nova Arcádia. Em 1797, acontece
sua prisão. Livre prossegue o trabalho de poeta, somando a esse o de tradutor, sobra espaço
ainda para a necessidade financeira e a doença. Morre na miséria, arrependido em 21 de
dezembro de 1805, aos 40 anos.
Em vida publicou Idílios Marítimos e as Rimas. Só em 1853, publica-se,
postumamente, a maior coletânea já vista de sua poesia, seis volumes, chamados de Poesias.
Precisamos ressaltar, mais uma vez, que há dois Bocages. Um deles ganhou fama como
28
Literatura Luso-brasileira I
poeta zombeteiro, que investiu com animosidade sobre a vida e as pessoas. E outro, foi o
produtor de uma obra lírica, elegíaca, bucólica e amorosa, inspiradas em Horácio, Ovídio,
Virgílio e Anacreonte e Camões, contudo ao contrário deste último, Bocage considerava o
mundo metafísico inatingível.
Usou das mais diversas formas da poesia, de odes e cançonetas anacreônticas22, Atenção
epigramas, cantatas, elegias, canções, epístolas, ditirambos, sonetos etc. Sendo este
último formato, o responsável pelo melhor da poesia bocageana. A ponto de ser o poeta 22
Vocabulário:
considerado um dos três maiores sonetistas portugueses de todos os tempos, juntamente Derivado de
Anacreonte, poeta
com Camões e Antero.
grego da Antiguidade
Entre as marcas de sua poesia é possível observar certo irracionalismo, confissões que compunha
pequenas canções
dramáticas, teatrais, estruturadas através de adjetivos extremamente subjetivos; líricas, em que
antidiscursivo, sua linguagem chega ao prosaísmo ou às vezes ao coloquial, com a qual a ingenuidade
pode expressar sua lógica da emoção através da organização do verso em ordem direta engenhosa garantia
tratar de temas
em oposição às inversões sintáticas que o Barroco produziu assim como a própria lírica
sensuais de forma
camoniana. disfarçada.
Os sonetos acabam sendo um registro preciso da vida do poeta. Retratam-lhe
acontecimentos e sentimentos como um verdadeiro diário a anunciam o pessimismo e o
tema constante da morte. Dando a sua poesia, o que os críticos chamam de pessoalismo,
ou seja, a marca pessoal vista principalmente no seu liberalismo emocional, revelador de
um eu, ora violento ora calmo. Além de ser possível dividir a obra bocageana em satírica
e lírica. Bocage também terá sua poética realizada em dois momentos literários distintos.
Na primeira delas, as características mais presentes dizem respeito à escola árcade, como
o culto ao fingimento e a dependência às regras clássicas e o debate entre a Razão e a
Emoção. A seguir um bom exemplo dessa primeira fase23.
Ampliando Horizontes
23
Fílis e Amor, cançoneta anacreôntica.
29
Literatura Luso-brasileira I
No entanto, para os especialistas, Bocage não foi um poeta árcade por natureza,
pelo contrário, houve uma deformidade do espírito criador do poeta em prol das fronteiras
impostas pela escola. Só aos poucos, Bocage se deu conta de que estava aprisionando
sua arte e gradativamente foi trazendo para os seus poemas uma confissão cada vez mais
transparente da sua vida, a qual não só revelava suas dores de amor, como também o desejo
de libertar a sua arte e quando conseguiu definitivamente se libertar das amarras árcades,
inicia a sua segunda fase: Romântica, ou mais precisamente, Pré-Romântica.
Nessa segunda fase, sua poesia transborda de interjeições, reticências, anáforas,
apóstrofes, onomatopeias, antíteses, hipérboles, erotismo, deísmo, do horror à morte, da
imagem do fúnebre, do noturno (loccus horrendus, numa clara oposição ao lócus amoenus
árcade). E como marca inseparável a personificação: Fado, Desventura, Virtude, Inveja,
Razão, Traição, Liberdade, Formosura, Ciúme, Desengano, Discórdia, Sofrimento, Morte,
numa tentativa inútil de se confrontar com seus “companheiros de jornada”.
Para Herculano, Bocage é especialmente importante por ter sido o primeiro poeta
da Literatura Portuguesa a trazer para a poesia o plano terreno, cotidiano e burguês. Elo
entre o clássico e o romântico, não conseguiu ser seguido pelos românticos, pois diante de
tantos inimigos que fez, acabou por criar a sua volta um estigma de poeta maldito, satírico e
burlesco, responsável pelo encobrimento de seu talento como poeta da vida.
Vamos acompanhar agora alguns fragmentos dos mais belos sonetos criados
pelo poeta e compará-los com sua poesia burlesca, satírica e erótica que o afastou do
reconhecimento público enquanto viveu. Esses versos trazem tanto o poeta em suas fases
árcade como pré-romântica.
Fragmentos de Sonetos
1 5
Chorosos versos meus desentoados, Se quereis, bom Monarca, ter soldados
Sem arte, sem beleza, e sem brandura, Para compor lustrosos regimentos,
Urdidos pela mão da desventura, Mandai desentulhar esses conventos
Pela baça tristeza envenenados: Em favor da preguiça edificados:
2 6
Em sórdida masmorra aferrolhado,
Troquei-vos pelo mal, que me sufoca,
De cadeias aspérrimas cingido,
Troquei-vos pelos ais, pelos pesares:
Por ferozes contrários perseguido,
Oh! câmbio triste!Oh! deplorável troca
Por línguas impostoras criminado.
3 7
Pouco a pouco a letífera Doença No meio agora desta selva escura, Dentro
Dirige para mim trêmulos passos, deste penedo úmido e oco. Pareço, até no
Eis seus caídos, macilentos braços, tom lúgubre e rouco,
Eis a sua terrífica presença Triste sombra a carpir na sepultura:
4 8
És dos céus o composto mais brilhante; Razão, de que me serve o teu socorro?
Deram-se as mãos virtude e formosura, Mandas-me não amar, eu ardo, eu amo;
Para criar tua alma e teu semblante. Dizes-me que sossegue, eu peno, eu morro.
Que tal conhecer um pouco mais dos poemas da Marquesa de Alorna (Alcipe) e do
Padre Francisco Manoel (Felinto Elísio) e estabelecer as semelhanças e diferenças entre os
trabalhos dos dois artistas? Como se tratam de poetas, cujas obras já entraram no domínio
público, ou seja, já não há mais direito autoral sobre elas, é possível encontrar essa obra
gratuitamente na internet. Use as sugestões de sites fornecidos nesse material, mas você
também pode pesquisar em outros endereços. Comece já sua descoberta!
Não tenha pressa em realizar a seleção de textos. Deleite-se com a leitura. Só então
selecione os que mais chamaram sua atenção e divida-os em duas categorias: na primeira,
os que apresentam semelhanças e, no outro, as diferenças.
31
Literatura Luso-brasileira I
A próxima etapa é trocar por e-mail os endereços eletrônicos com seus colegas e
divulgar os títulos dos poemas que você mais gostou. Junto com o tutor todos devem fazer
uma votação e chegar a quatro textos (dois poemas de Filinto e dois de Alorna, que tragam
aproximações e distanciamentos).
Não se esqueça de produzir um texto dissertativo com os resultados de sua
descoberta sobre essas diferenças e semelhanças antes do dia da apresentação final.
Acorde com seu tutor um momento presencial ou virtual para apresentar os seus
resultados e recepcionar o dos seus colegas.
Bom trabalho!!!
Orientação de Estudos
Você já sabe que o poeta Bocage é o maior nome do Arcadismo português e que
os temas de sua poesia são bem diversificados tanto que chegam a anunciar o movimento
seguinte: o Romantismo. Desfrutar de tanta riqueza é imprescindível para quem estuda
literatura e deseja se tornar um bom professor. Que tal então aprofundar suas leituras sobre
esse poeta? Certo.
Não será difícil encontrar exemplos do melhor que Bocage já escreveu, sua obra
também é domínio público, nos endereços recomendados, ou na bibliografia sugerida você
poderá ter acesso a essa poesia facilmente.
Depois de realizar as leituras que tal aceitar um desafio?
Você vai criar um avatar chamado “Bocage”, ele terá a personalidade que você
desejar, desde que você possa convencer seu tutor e seus colegas de que o avatar criado
é a representação do ser copiado (Bocage). Para isso, você terá os poemas do artista como
embasamento dessa criação. Construído o perfil você o apresentará aos colegas e ao tutor.
Há algumas regras a serem seguidas para que o desafio seja cumprido, afinal,
estamos tratando do Arcadismo e os árcades adoram regras!
A primeira regra diz respeito à forma utilizada para a produção escrita, terá que ser
obrigatoriamente uma descrição, mas será opcional o verso ou a prosa.
Segunda regra: nenhuma qualidade ou defeito poderá ser apontado, se não houver
um verso do autor para comprová-lo. Diante dessa exigência você terá que colecionar os
versos que você irá usar durante sua produção, de preferência anotando além do verso em
si, o título do poema de onde ele foi resgatado.
Terceira regra: a descrição não poderá se restringir a um perfil físico ou psicológico
do avatar. O desafio inclui também uma descrição do mundo habitado por esse avatar:
ambientes, amigos, namoradas, família, ocupações, lazer etc. Todas essas informações
igualmente comprovadas pela produção poética de Bocage.
Cumpre o desafio quem construir seu avatar respeitando todas as regras.
Os textos podem ser apresentados no ambiente virtual ou num encontro presencial.
Se preferir você também pode selecionar imagens do artista na internet ou desenhar a
imagem desse avatar combinando, é claro, com a sua descrição.
Bom desafio!!!!!!!!!!
32
Literatura Luso-brasileira I
Vamos Revisar?
Resumo
Você terminou seus estudos sobre os poetas árcades portugueses. Descobriu que
o movimento árcade se organizou através da fundação de arcádias (a Lusitana e a Nova)
seguindo o modelo de criação poética dos italianos, ou seja, atrelando uma realidade
paralela a vida real: um universo bucólico e perfeito, longe das lamentações materialistas
das grandes cidades e das injustiças sociais. Também ficou a par de que nem todos os
artistas concordavam com as regras árcades, grupos contestadores (Naus da Ribeira) ou de
artistas independentes, chamados de dissidentes surgiram para enriquecer essa estética.
Os nomes mais representativos do período se escondiam atrás de pseudônimos: Filinto
Elísio (Padre Francisco Manuel), Alcipe (Marquesa de Alorna) e Elmano Sadino (Manuel
Du Bocage). Ironicamente esses nomes do Arcadismo português atravessaram os limites
permitidos e acabaram inaugurando o pré-modernismo.
33
Literatura Luso-brasileira I
Glossário Nesse século, o eixo econômico, que no período barroco centrava-se entre a
Bahia e Pernambuco, é deslocado para Minas Gerais (extração do ouro) e Rio de Janeiro
(escoamento do minério). Da mesma maneira que ocorrera com a economia, transferem-
24
Polimorfismo
Que pode se se as atividades culturais. Decorrente dessa situação econômica surge uma nova forma de
manifestar de várias organização social em que o gosto pela cultura se acentua.
formas, maneiras.
A atividade mineradora impulsionou mudanças na organização e dinâmica da vida
brasileira: cresceu a circulação de mercadoria, intensificou a atividade do mercado interno,
houve dinamização nas regiões Sul e Nordeste. Considerando o crescimento das cidades
que se tornavam o foco administrativo e político, aparece no Brasil o trabalho não-escravo,
sem vinculação com a atividade agrícola ou com a mineração.
O primeiro acontecimento significativo que possibilitou uma mudança na sociedade
colonial foi, de fato, o aparecimento da atividade mineradora. O ouro brasileiro teve a
função de ampliar o desenvolvimento da acumulação do capital. Sendo assim, nem Portugal
nem Brasil tiveram benefícios com a mineração, no sentido de deixarem resultados na
estrutura econômica e, portanto na estrutura social da colônia.
A essência da exploração do ouro foi de desperdício, de esbanjamento das riquezas,
de transferência pura e simples dos lucros. Esses lucros se acumulam na colônia lentamente.
A maior parte se esvai, sem deixar qualquer vestígio.
A exploração mineradora coloca em antagonismo a classe dominante na colônia e
na metrópole. Começam a surgir as inquietações e insatisfações, aparecendo organizações
contra o poder metropolitano.
Percebe-se a partir daí, o surgimento de uma classe mediana que, visando defender
os seus interesses, busca respaldo nas concepções ideológicas liberais emanadas da França.
Na busca de manter o equilíbrio e o bom gosto, o arcadismo representa uma reação
ao gongorismo e procura um retorno à simplicidade clássica, à ingenuidade campesina, à
pureza de ideias e costumes, volta-se para o racional, o claro, o regular, o verossímil. A
concepção oriunda da poética renascentista compreende a arte como cópia da natureza. O
que antes fora negado pelos poetas barrocos, torna-se foro da teoria poética, sendo esse
período a versão literária do Iluminismo.
A propagação das ideias iluministas no Brasil impulsiona os ideais de libertação do
país, o que desencadeará a Inconfidência Mineira (1789), da qual muitos escritores árcades
participaram.
Minas Gerais foi o centro da produção literária do Arcadismo brasileiro, que por
meio dos escritores do grupo mineiro expressaram seus sentimentos através da poesia:
lírica épica e satírica.
34
Literatura Luso-brasileira I
35
Literatura Luso-brasileira I
i) Utilização de versos sem rimas – surgem os versos brancos. Neles, os poetas não se 26
Tipo de pessoa que
tem como tema as
preocupam mais com as rimas.
coisas do campo.
(...) Cansada de viver, tinha escolhido
Para morrer a mísera Lindoya.
Lá reclinada, como que dormia,
Na branda relva e nas mimosas flores, (...)
(A morte da Lindóia, lira IV, Basílio da Gama)
Assista ao filme “As Missões” e leia o poema “Araguaia” de Basílio da Gama. O filme
registra a luta narrada por Basílio em seu poema. Observe que são textos diferentes, no
entanto apresentam a mesma situação, configurando-se em linguagens específicas. Uma é
a linguagem cinematográfica a outra é a literária, mas há pontos de convergências entre
esses textos. Assim sendo, produza um texto em que você faça uma análise desses textos,
demonstrando como o tema é tratado. Esse seu texto deverá ser socializado em um dos
encontros presenciais.
37
Literatura Luso-brasileira I
Vamos Revisar?
Resumo
38
Literatura Luso-brasileira I
Capítulo 10
Metas
39
Literatura Luso-brasileira I
Nesse capítulo, você irá conhecer os autores brasileiros que se inseriram na estética
do Arcadismo. É interessante que a cada volume o seu leque de conhecimento vá se
alastrando e você amplie e consiga distinguir as diferentes escolas literárias, bem como seus
mais significativos representantes.
Através dos autores, consegue-se compreender as características de um dado
período, movimento. Nossa intenção é disponibilizar o máximo de informação para que
você esteja a cada momento se empoderando do universo da literatura, no nosso caso, da
literatura luso-brasileira.
Esperamos que o material aqui apresentado possa facilitar a sua aprendizagem e
a orientação dos tutores nos momentos on-line e nos encontros presenciais de cada polo.
Agora iremos conhecer os poetas do movimento árcade brasileiro, boa sorte e bons
momentos de reflexões e estudo.
Não foi um poeta árcade típico, foi antes um continuador dos clássicos
quinhentistas, especialmente de Camões, o que fez dele um notável sonetista, sobretudo de
temas amorosos e morais. Outra influência marcante de sua obra foi o gongorismo barroco,
do qual herdou o gosto pelos trocadilhos e por hipérbatos.
Em sua produção poética já se observou a presença constante da natureza
brasileira ou portuguesa, sendo um pano de fundo para o refúgio da vida da cidade. Em
suas produções coexistem os apelos da terra natal, os montes e vales, o ribeirão do Carmo,
a rigidez estética dos padrões clássicos europeus, resultando num contraste permanente
entre a natureza rústica e a satisfação cultural.
No prefácio de obras poéticas, o próprio poeta assumia o conflito entre a sua
formação europeia e a realidade rústica e bárbara da pátria. No entanto, a expansão de seu
sentimento nativista possibilitou a criação de uma obra de alto nível.
Nas obras de Cláudio Manuel da Costa27, a mulher aparece como elemento capital,
às vezes, como companheira imprescindível, outras como mulher inacessível e fugidia28.
Observe o fragmento abaixo.
Nise? Nise? Onde estás? Aonde espera
Achar-te uma alma, que por ti suspira, Atenção
Minibiografia
27
Nasceu na área rural da cidade de Mariana em Minas Gerais. Estudou em Coimbra, se formou
em Direito em 1753. Retornando para Vila Rica, exerceu a advocacia. Participou da Inconfidência
Mineira, foi preso juntamente com outros inconfidentes e suicidou-se na prisão.
Glossário
29
Apelido, alcunha.
Gonzaga é mais conhecido pelo cognome 29
de Dirceu, em sua poesia lírica, foi
41
Literatura Luso-brasileira I
considerado como sendo o mais árcade dos poetas do grupo mineiro do século XVIII. Sua
poesia traz a marca de nosso sentimento e de nosso lirismo. Considerou a mulher como
musa inspiradora constante e defendeu, ao longo de sua produção poética, a utópica
superioridade do homem natural.
Tomás Antonio Gonzaga30 realiza obra lírica, cujo segredo das qualidades da época,
reside nas circunstâncias autobiográficas. Seu poema superou limitações a ponto de gerar
envolvimento mítico entre o poeta e a musa – Maria Doroteia, a Marília do Dirceu.
Minibiografia
30
Nasceu em (1744-1810), sua mãe era portuguesa e seu pai brasileiro, passou parte de sua
infância no Brasil. Graduou-se em Direito pela Universidade de Coimbra. Quando retorna para o
Brasil, instala-se em Vila Rica e exerce a função de juiz e ouvidor.
42
Literatura Luso-brasileira I
Alguns críticos afirmavam que a obra deveria se chamar Dirceu de Marília e não
Marília de Dirceu, devido à vaidade do autor. O discurso poético sofre alterações ao longo
da obra, porque o poeta é preso. Antes de ser preso, aborda a iniciação amorosa, o namoro,
a felicidade da amante, os sonhos e ideais de uma família. Logo em seguida, vivendo os
sofrimentos e angústias da prisão, faz uma série de reflexões, trazendo à tona a justiça dos
homens, como do caminho do destino e da eterna consolação, respaldado no amor que
sentia por Marília.
Na segunda parte, o eu-lírico revela sofrimento físico e moral, predomina um tom
trágico, de desalento, de desconforto, de revolta e de amargura. Enfatiza-se que nessa
parte, o poeta manifesta o sentimentalismo e a subjetividade - traços peculiares aos poetas
pré-românticos.
Fragmento da lira XV
As Cartas Chilenas, obra de caráter satírico, cujo alvo de críticas foi Luís da Cunha
Meneses, governador da capitania de Minas Gerais, a quem o poeta chama de Fanfarrão
Minésio, cujo governo foi de 1783 a 1788. Na época em que foram escritas, “as Cartas
Chilenas” circularam anonimamente, fomentando dúvidas quanto à sua autoria. Imbuído de
um fingimento poético, Gonzaga assina as cartas com o pseudônimo de Critilo (remetente) e
o destinatário é Doroteu (Cláudio Manuel da Costa). O Chile presente no poema representa
Minas Gerais e Santiago corresponde a Vila Rica.
Os poemas das Cartas Chilenas foram escritos numa linguagem irônica e agressiva.
No entanto, trazem ricas informações históricas. Trata-se de uma obra satírica organizada
em 13 cartas, escrita em versos decassílabos, sem rimas.
43
Literatura Luso-brasileira I
(...)
Passam, prezado Amigo, de quinhentos
Os presos, que se ajuntam na Cadeia.
Uns dormem encolhidos sobre terra,
Mal cobertos dos trapos, que molharam
De dia no trabalho: os outros ficam
Ainda mal sentados, e descansam.
44
Literatura Luso-brasileira I
Minibiografia
31
Nasceu em Tiradentes, Minas Gerais. Estudou com os jesuítas no Rio de Janeiro e viajou para
Itália e Portugal. Foi perseguido pela Inquisição, só não foi deportado para Angola, porque fez um
poema dedicado a filha do Marquês de Pombal.
Por ser uma obra de intenção épica, espera-se que haja atos de heroísmo. No
entanto, ao longo do poema, o que se percebe é um questionamento dos fatos bélicos,
45
Literatura Luso-brasileira I
apresentados como atuação política, trazendo à tona uma postura iluminista do poeta.
Apesar de fazer uma crítica à guerra, o fato narrado não sofre alteração, portugueses e
espanhóis saem vitoriosos do confronto com os silvícolas.
No decorrer do poema, os jesuítas são apresentados como os vilões do genocídio,
pois os índios são as vítimas dos jesuítas. A força e a coragem do indígena são enfatizadas,
o que justifica a sua derrota e as desvantagens seriam as diferenças das armas, o que os
colocava numa posição de inferioridade.
Canto XLIII
Minibiografia
33
Estudou com os jesuítas no Rio de Janeiro e doutorou-se em Filosofia e Teologia em Coimbra.
Passou para a Ordem de Santo Agostinho, mas as desavenças no meio eclesiástico fizeram-no
fugir para Itália, onde ficou durante longo tempo estudando. Foi professor na Universidade de
Coimbra e chegou ao cargo de reitor.
46
Literatura Luso-brasileira I
O Criptônimo arcádico
47
Literatura Luso-brasileira I
sua obra lírica, contida em Glaura, há os poemas mais modernos de seu tempo, repletos
de elementos de musicalidade e ternura. Glaura é composta de rondó e madrigais, esse
texto foi dedicado a sua amada. Silva Alvarenga transformou o rondó em quadras com
um estribilho que abre e fecha a composição, aparece em série de duas estrofes. Nessa
forma de organização, o estribilho surge várias vezes, facilitando a memorização musical do
poema. Eles se dispõem em rimas internas. Observe o fragmento que segue.
Conservai, musgosas penhas (a)
Nestas brenhas (a) minha glória (b)
E a memória (b) que inda existe (c)
Torne um triste (c) a consolar.
Minibiografia
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Manuel Inácio da Silva Alvarenga, nasceu em Vila Rica e faleceu no Rio de Janeiro. Era mestiço,
de descendência humilde. Formou-se em Cânones em Coimbra. Foi preso em 1794, acusado de
conspirar contra o governo e a religião. Morreu solteiro e não deixou descendentes.
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Literatura Luso-brasileira I
Casa no Campo
(Zé Rodrix)
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Literatura Luso-brasileira I
Vamos Revisar?
Resumo
Bom, terminamos mais um capítulo dos nossos estudos. Você pode conhecer os
principais autores do arcadismo brasileiro, compreendendo um pouco as suas características
e a sua importância no movimento setecentos. Entender a participação dos poetas árcades
na Inconfidência Mineira e quais foram as penalidades as quais esses intelectuais foram
submetidos. O grupo mineiro se envolveu com os movimentos políticos e sociais da época,
registrando sua história e efetivando sua cidadania; uma vez que os poetas dessa fase
tinham uma atuação social muito ativa. Apesar de todo o envolvimento político, esses
escritores deleitavam-se na louvação às suas musas para evocação de seus sentimentos,
consagrando os ideais da estética árcade em suas produções intelectuais.
50
Literatura Luso-brasileira I
Referências
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2003.
CANDIDO, Antônio. O Romantismo no Brasil. 2ª Ed. São Paulo: Humanitas, 2004.
_________. A formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 5ª edição,
Belo Horizonte: Ed Itatiaia; São Paulo: Ed Universidade de São Paulo, 1975, 2
volumes.
CASTELLO, José Aderaldo. A literatura brasileira: origens e unidade. São Paulo.
Editora da Universidade de São Paulo. 1999. Volume I.
COUTINHO, A. Introdução à literatura no Brasil, Rio de janeiro: Bertrand Brasil,
1995.
MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa. 33ª Ed. São Paulo, Cultrix, 2005.
_______________. A literatura portuguesa através dos textos. 29ª Ed. São Paulo,
Cultrix, 2004.
_______________. A literatura brasileira através dos textos. 22ª Ed. São Paulo,
Cultrix, 2004.
PROENÇA FILHO A D. Estilo de época na literatura. São Paulo: Ática 1995.
SARAIVA, Antônio José. LOPES, Oscar. História da Literatura Portuguesa. 17ª Ed.
Portugal: Porto Editora.
Complementar:
AMORA, Antônio Soares. Era Clássica. 8ª Ed. Rio de Janeiro: DIFEL, 2008 Presença
da literatura portuguesa vol 2.
BOSI, Alfredo, Dialética da colonização. 3º Ed. São Paulo, Companhia das Letras,
1995.
SILVA, Vítor Manuel de Aguiar. Teoria da Literatura. 8ª Ed. Coimbra: Livraria
Almedina, 2006.
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http://www.revistacult.com.br
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Literatura Luso-brasileira I
Considerações Finais
Olá, cursista!
Esperamos que você tenha aproveitado este terceiro módulo da disciplina de
Literatura Luso-brasileira.
No próximo, estudaremos o movimento Romântico. Falaremos principalmente
de amor, mas esse movimento estético trará muito mais: estaremos entrando no século
XIX e uma geração de jovens artistas se tornaria símbolo de rebeldia e se transformaram
nos primeiros ídolos juvenis da História, que, além de sua arte, ditaram as regras de
comportamento.
Nesse sentido, o final deste módulo já é uma motivação para que você fique
curioso(a) para as próximas reflexões sobre esse universo.
Aguardamos sua participação no próximo módulo.
Até lá e bons estudos!
Cinthya Tavares e Edilene Soares das Neves
Professoras Autoras
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Conheça as Autoras
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