Mia Joao Costa Dissertacao
Mia Joao Costa Dissertacao
Mia Joao Costa Dissertacao
Metadados
Data de Publicação 2020
Resumo A presente dissertação tem como objetivo uma possível intervenção na
aldeia do Catarredor, uma das aldeias em xisto da Serra da Lousã que
não existe enquanto caso isolado e, por isso, procuramos estudar a base
do aparecimento das aldeias em xisto da Serra da Lousã. Procuramos
perceber as várias condicionantes que as moldaram até à atualidade,
com o intuito de propor uma intervenção que preservasse os valores
patrimoniais, sem prejudicar o meio ambiente envolvente e evitar que este
património pe...
This dissertation has, as a goal, a possible intervention in the village of
Catarredor. This is one of the schist villages of the mountain range of
Lousã. It is not an isolated case and, therefore, we aim to study the base
of the formation of the schist villages in Serra da Lousã. We want to
understand the several circumstances that moulded them until the present
days, aiming to project an intervention that preserves the patrimonial
values without harming the surrounding environment and avoidin...
Palavras Chave Arquitetura, Património, Arquitectura rural, Reabilitação
Tipo masterThesis
Revisão de Pares no
Coleções [ULF-FAA] Dissertações
http://repositorio.ulusiada.pt
II
UNIVERSIDADE LUSÍADA NORTE – CAMPUS VILA NOVA DE FAMALICÃO
I
DEDICATÓRIA
Dedico esta dissertação, aos meus pais, irmãos, familiares, amigos e namorada
por todo o apoio incondicional que me deram ao longo desta grande caminhada e sem
os quais era impensável a conclusão deste longo percurso.
A todos eles,
Um grande obrigado
III
LISTA DE ACRÓNIMOS
EN – Estrada Nacional
V
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS .................................................................................................................. I
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 29
VII
ÍNDICE DE FIGURAS
IX
Figura 10 - Fotografia do acesso ao Castro de São Lourenço
Fonte : Casto de São Lourenço – in A cultura Castrexa - Accións e estratexias para o seu
aproveitamento socio-cultural (2006) p. 42
XI
Figura 20 - Fotografia dos materiais mais utilizados nas edificações da aldeia do
Catarredor
Fonte : Fotografia de autor (29 – 11 – 2020) p. 68
XIII
Figura 30 - Esquisso dos alçados das habitações da aldeia do Catarredor
Fonte : Imagem de autor (30 – 11 - 2019) p. 86
XV
Figura 41 - Proposta de interiores da habitação tipo
Fonte : Imagem de autor (23 – 06 - 2020) p. 98
XVII
RESUMO
XIX
ABSTRACT
XXI
INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos do ensino superior foram várias as vezes em que abordamos a
temática das intervenções no património arquitetónico. Falamos sobre os vários
conceitos de intervenção nos mesmos e como os poderíamos tornar funcionais para os
mais variados usos. Isto, numa fase em que a reabilitação dos centros históricos das
cidades ganhava cada vez mais importância e, por isso, viam-se várias intervenções a
serem realizadas. Outra das vertentes de intervenção no património - esta mais recente –
tem como foco as intervenções em património rural. Num espaço de pouco tempo
houve uma enorme procura por locais de turismo rural, que despoletou uma grande
quantidade de projetos de reabilitação para locais com estas caraterísticas.
Foi com base nestas conversas e trabalhos realizados ao longo do curso de
arquitetura, que o interesse por este tema foi crescendo, sendo que, mais tarde, aquando
a decisão do tema desta investigação, surgiu a oportunidade de realizar um projeto de
reabilitação para a aldeia do Catarredor, que acabou por se tornar o tema desta
dissertação.
De todas as aldeias pertencentes à Serra da Lousã, decidimos abordar esta porque
é uma aldeia que se encontra em mau estado de conservação e que, consequentemente,
revela menos importância em relação às outras. Uma vez que estas aldeias funcionavam
como um todo, não fazia sentido deixar a do Catarredor descaraterizada.
Posto isto, para a realização desta dissertação, adotamos uma metodologia que
teve como base o projeto de final de curso.
Inicialmente procuramos fazer um enquadramento histórico sobre as aldeias em
xisto, para conseguirmos perceber quais as condicionantes que estiveram no surgimento
destas aldeias xistosas.
Após esta pesquisa, tentamos perceber esta história na Serra da Lousã e perceber
quais os fatores que fizeram com que estas aldeias se mantivessem intactas até aos dias
que correm, bem como os motivos pelos quais estas aldeias acabaram por ser
abandonadas.
Posteriormente, decidimos elaborar uma análise sobre as caraterísticas das aldeias
da Serra da Lousã, para percebermos como estas foram edificadas e perceber o porquê
de ser neste local.
29
Figura 1 : Esquisso da rua principal da aldeia do Catarredor
Imagem de autor (30 – 11 – 2019)
Esta análise avançou e selecionamos três casos de estudo para podermos
estabelecer comparações e para conseguirmos perceber qual a melhor forma para
elaborar uma proposta para a aldeia do Catarredor.
A par destas pesquisas, foi-nos possível fazer várias visitas ao local, que nos
permitiram ter uma precessão exata do espaço, da realidade em que a aldeia do
Catarredor se insere, comparativamente às outras aldeias, e a vivência que os poucos
habitantes desta aldeia têm nos tempos que correm.
Foram elaborados registos fotográficos, desenhados e foi feita a recolha de
medições de todas as habitações existentes na aldeia do Catarredor, bem como dos
espaços que nela existem. Durante esta visita tivemos, ainda, o privilégio de conversar
com alguns residentes locais que nos elucidaram sobre a história da aldeia e de todos os
problemas que esta tinha.
Após esta fase, procedemos à parte de projeto, propriamente dita, para o qual
tivemos em atenção vários fatores como a história e a herança arquitetónica existente,
aliadas a um pressuposto contemporâneo como motor para o desenvolvimento e
elemento dinamizador para esta aldeia.
31
CONTEXTO HISTÓRICO DAS ALDEIA EM XISTO
CONTEXTO HISTÓRICO DAS ALDEIAS EM XISTO
As aldeias que, hoje em dia, conhecemos como aldeias de xisto, revelam uma
história bastante complexa e sem grandes registos nos quais nos possamos apoiar para
determinarmos uma data exata para o seu aparecimento.
Com base numa bibliografia da autoria de vários historiadores e arqueólogos 1 e
numa profusa investigação sobre a mesma, debruçamo-nos sobre a construção de uma
teoria que explica a razão para o surgimento destes aglomerados xistosos e o local onde
primeiro apareceram. Propomos, ainda, uma aproximação à sua possível data de
aparecimento.
Esta proposta tem como fundamento um raciocínio dedutivo ao qual são
associados vários fatores que podem estar na origem destes aglomerados e, por isso
mesmo, trata-se simplesmente de uma hipótese para a história das aldeias de xisto.
Posto isto, com vista num melhor entendimento das condicionantes que levam
ao aparecimento destas aldeias, remontamos aos tempos da pré-história.
NOMADISMO
Eis aqui, quase cume da cabeça; De Europa toda, o Reino Lusitano; Onde a
terra acaba e o mar começa… [CAMÕES,Luís Canto III]
Os povos primitivos eram nómadas e, por isso, percorriam os mais variados
territórios em busca de alimentos, vivendo em constante mudança e deslocação
consoante a sua escassez.
1
Os historiadores José Hermano Saraiva, Carlos Alberto Ferreira de Almeida, Orlando Ribeiro, Carlos
Brochado de Almeida, Paulo Monteiro e o arqueólogo Jorge Alarcão
2
“ARAIVA, José Her a o, As Orige s e Os Pri eiros Passos de Portugal , i História Essencial de
Portugal, Rádio e Televisão de Portugal, 2011.
33
Figura 3 : Fotografia de um cromeleque
3
Dolmens são monumentos megalíticos coletivos que serviam como túmulos. Menhires são
monumentos que consistiam na colocação de uma pedra cravada no solo verticalmente com alguma
dimensão para culto religioso. Cromeleques são conjuntos de vários menhires dispostos em formas
redondas, elíticas ou quadrangulares que serviam como templos de culto religioso.
35
Figura 6 : Fotografia de gravura rupestre em pedra de xisto
CULTURA CASTREJA
Esta nova civilização emergente irá manter grande parte das suas atividades,
procurando, apenas, locais mais seguros e com melhores condições para se fixarem no
território ibérico. Instalam-se em locais com
37
Figura 8 : Fotografia do Castro de São Lourenço
Fonte : Casto de São Lourenço – in A cultura Castrexa - Accións e estratexias para o seu
aproveitamento socio-cultural (2006)
39
Enquanto que os povos castrejos que se fixaram no norte, utilizavam a pedra
granítica para as suas construções, na zona centro o granito é escasso e, por isso, a
matéria prima que tinham à sua disposição com maior abundância era o xisto.
Encontramos, ainda, semelhanças entre as habitações do povo castrejo do norte e
as aldeias em xisto. Estas habitações, eram, primeiramente, construídas com madeira e
arbustos, contudo, este material foi rapidamente substituído pelo granito – material
típico da região.
Do mesmo modo, encontramos a utilização da madeira na estrutura das
habitações nas aldeias em xisto.
41
Figura 10 : Fotografia do acesso ao Castro de Figura 11 : Fotografia do acesso à aldeia do
São Lourenço Catarredor
Fonte : Casto de São Lourenço – in A cultura Fonte : Fotografia de autor (30 – 11 – 2019)
Castrexa - Accións e estratexias para o seu
aproveitamento socio-cultural (2006)
cada núcleo familiar fazia-se a partir dos arruamentos, dificilmente
retilíneos, devido
aos condicionalismos topográficos e à anterior existência de estruturas
que não puderam ser desmanteladas na altura em que o castro foi sujeito
à grande remodelação. O ponto central de cada núcleo era o espaço
lajeado para o qual se abriam as portas das diversas
construções, fossem elas casas de habitação, arrumos, currais ou
celeiros. O lajeado facilitava a circulação, dificultava a infiltração de
água nos alicerces das casas e permitia que funcionasse como eira na
secagem de frutos e cereais. [idem: 2006]
43
destinadas a habitações, outras destinadas a espaços de armazenamento de alimentos e
outras, a currais.
A presença destas comunidades perdurou, na Península Ibérica, durante alguns
séculos até se darem as invasões romanas 4 que, tanto quanto sabemos, influenciaram os
povos que habitavam nesta parte da Europa com as suas tradições e costumes, sendo
que alguns deles mantêm-se até aos dias de hoje.
INVASÕES
Acreditamos, por isso, que estas populações que se encontravam isoladas nas
serras da Península Ibérica se mantiveram intactas face à invasão romana, pela
dificuldade de acesso até elas, ainda que, uma grande parte dos castros tenha sido
conquistada pelos romanos e adaptada à sua cultura. Nota 1
Os povos Suevos e Visigodos, são bárbaros que invadiram a Península Ibérica,
mas falharam na difusão da sua cultura, sendo que o seu mais importante contributo foi
4 4
Cf. “ARAIVA, José Her a o, As Orige s e Os Pri eiros Passos de Portugal , i História Essencial de
Portugal, Rádio e Televisão de Portugal, 2011.
45
a implementação de uma hierarquia social, por terem tomado como servos a população
dos aglomerados dos quais se apoderaram.
Cerca de dois séculos após a chegada dos visigodos, os Mouros invadem a
Península Ibérica, à exceção de um pequeno território nas Astúrias.
Ainda que este povo tenha conquistado uma parte do território peninsular, não
impuseram a sua cultura, na totalidade, às comunidades existentes, permitindo, deste
modo, a continuidade do cristianismo e, simultaneamente, introduzindo conhecimentos
da cultura moura.
1987: 33 e 34]
47
Face às invasões, verificamos que uma das regiões menos devastadas pelas
mesmas, corresponde à zona centro – onde se localiza uma grande parte das aldeias de
caráter xistoso. É, também, nesta zona que reconhecemos uma grande absorção dos
ensinamentos mouros e, por isso, vemos um grande estímulo na atividade agrónoma.
O Professor e Historiador José Hermano Saraiva, relembra-nos do pequeno povo
na zona das Astúrias que, durante o domínio mourisco do território peninsular, não se
deixa conquistar e, por isso, se mantém um grupo de cristãos alheio às influências
religiosas dos invasores.5
A RECONQUISTA
É este povo que inicia a Reconquista da Península, à medida que o povo mouro
ia enfraquecendo. Contudo, a sua realização não é facilitada pelos cristãos que viviam
sob o domínio mouro, por verem a sua aparente liberdade posta em causa.
Este excerto justifica a expansão para as aldeias xistosas, ainda que em pequena
escala.
Após anos de batalha, os cristãos passam o Douro e levam a sua reconquista até
ao condado conimbricense.
No ano de 1095, o imperador Afonso VI, uniu os condados de Coimbra e do
Porto num só, que oferece a Dona Teresa e a D. Henrique. Mais tarde, D. Afonso
Henriques sobe à regência do Condado Portucalense e instaura a independência de
Portugal.
5
SARAIVA, José Hermano, “As Origens” e “Os Primeiros Passos de Portugal”, in História Essencial de
Portugal, Rádio e Televisão de Portugal, 2011.
49
É então distribuído o território do Condado por alguns nobres – o primeiro fator
de grande consequência na expansão pela região Centro.
Posto isto, identificamos outras possíveis razões que definiram os locais que
iriam ser povoados.
A maior parte das aldeias de xisto tinha como primeira função o
desenvolvimento de atividades agrícolas e pastorícias e, dessa forma, a fixação de
comunidades que se mantiveram nestes remotos locais até ao século XIX.
2020]
AS ALDEIAS DE XISTO
51
Figura 12 : Fotografia dos censos relativos às
aldeias da Serra da Lousã
1985: 82]
53
CONTEXTO HISTÓRICO DAS ALDEIA EM XISTO NA
SERRA DA LOUSÃ
CONTEXTO HISTÓRICO DAS ALDEIAS EM XISTO
NA SERRA DA LOUSÃ
CONTEXTO GEOGRÁFICO
55
e flora nela existente, caracterizada pelo vasto leque de aldeias em xisto que
compõem a paisagem.
TERMINOLOGIA
É importante clarificar alguns dos conceitos que têm vindo a ser utilizados ao
longo da dissertação, visto que a sua utilização na linguagem corrente, facilmente, nos
pode induzir em erro.
Na serra da Lousã existem várias aldeias em xisto, isto é, são compostas por
alvenarias de xisto que formam as mais variadas edificações e trilhos dentro das
mesmas. Destas aldeias xistosas, vinte e sete fazem parte do programa PAHP, que tem
como objetivo “a valorização do património, dinamização turística, dinamização
cultural e requalificação dos espaços públicos”. (BATISTA, 2015: 26)
As 27 aldeias referidas, estão inseridas em 14 municípios distribuídos pela
região centro, das quais 12 fazem parte da Serra da Lousã. A estas 27, é-lhes dada a
nomenclatura de aldeias de xisto e como tal, o nosso caso de estudo não faz parte desta
rede.
Por isso, sentimos a necessidade de esclarecer a diferença entre aldeias de xisto e
aldeias em xisto.
No final da década de 80, surgiu um novo conceito conhecido como turismo
cultural, que pretendia aproveitar o melhor de cada região e tirar partido disso para que
estes aspetos característicos regionais não ficassem entregues ao abandono. É nesta
altura que este turismo cultural tem o apoio do Conselho da Europa6.
Com o seu apoio, são lançados programas como o PAHP (Programa das Aldeias
Históricas de Portugal) e o PAX (Programa das Aldeias de Xisto).
O primeiro teve início no ano 1987 e, tal como já foi referido, tinha por base a
recuperação das aldeias históricas.
Com o êxito deste primeiro programa, é lançado o segundo – PAX - que era um
programa específico para as aldeias de xisto. Foi um programa implementado pela
CCDRC (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro) que deu a
liderança sobre este projeto à ADXTUR - Agência para o Desenvolvimento Turístico
das Aldeias do Xisto.
57
É com estas ligações que são traçadas as linhas base para a recuperação das
aldeias, que se focam, essencialmente, nos aspetos sociais, patrimoniais e turísticos.
Com este plano bem delineado, são então selecionadas as aldeias que farão parte
da rede das aldeias de xisto.
59
(1586);Talasnal (1589); Candal (1589); Catarredor (1590); Chiqueiro
(1590) e Vaqueirinho (1652)”(MOREIRA, Inês - ALDEIAS DE XISTO
Projecto para reabilitação da aldeia da Cerdeira p.17. [MOREIRA, 2011: 17]
Contudo, alguns residentes mais antigos dizem que a origem destas aldeias
serranas foi ainda antes das datas indicadas porque, com base no conhecimento popular
que foi passando de geração em geração acreditam que foi o
Ainda dentro dos contos populares existe uma segunda teoria que acreditamos
que seja ainda mais improvável, visto que se acredita que “... o célebre D. João
Cáceres, regressado das cruzadas à terra santa e morta sua mulher D. Briolanja,
deixou as galas do mundo e foi viver para um rochedo perto do Catarredor.” [Idem]
Deste modo, e com fundamento nos argumentos mais lógicos aos quais tivemos
acesso, podemos concluir que estas povoações serranas tenham tido origem na época da
cultura castreja, isto porque alguns dos edifícios mais antigos destinados ao gado tinham
forma circular, que poderá ser indicativo de influências desta cultura antiga.
Todavia, estamos de acordo com a teoria de que estas populações sui generis
criaram um método não pensado para edificarem as suas aldeias, adaptando as suas
construções às dificuldades que o terreno lhes impunha e criando estruturas de apoio
entre si para conseguirem ultrapassar os tempos que se revelaram difíceis e impetuosos
para estas populações, até meados do século XX – momento em que se deu uma
segunda vaga de êxodo destes locais e que deixou estas aldeias xistosas ao completo
abandono, deixando esquecido um património que se tem revelado cada vez mais rico
culturalmente e que tem suscitado, cada vez mais, interesse para os turistas que se têm
aventurado pela serra da Lousã.
61
Figura 14 : Fotografia do enquadramento geral da aldeia do Catarredor
PLANEAMENTO
63
Figura 16 : Fotografia da relação entre edificados da aldeia do Catarredor
EDIFICAÇÕES
6
A eira é um local público ao ar livre que servia para colocar alimentos como os cereais a secar.
65
Figura 18 : Fotografia de uma habitação com dois pisos da aldeia do Catarredor
67
Figura 20 : Fotografia dos materiais mais utilizados nas edificações da aldeia do Catarredor
69
Assim, a aldeia do Catarredor construiu a igreja, que se revela um edifício
dissonante neste aglomerado xistoso, não só porque na sua essência já comporta
características arquitetónicas muito específicas, mas, também, porque está caiada de
branco e localizada numa zona estratégica na aldeia. Nas outras duas aldeias do grupo,
foram construídos alguns pontos de venda de bens e uma escola, sendo que todos os
restantes serviços se encontravam na vila da Lousã
71
CASOS DE ESTUDO
CASOS DE ESTUDO
CASOS DE ESTUDO
CONTEXTUALIZAÇÃO
73
Com a clarificação deste conceito, surgem mais dois que lhe estão inerentes, aos
quais damos a nomenclatura de arquitetura popular e arquitetura vernácula.
Feita a distinção entre estes dois conceitos, parece-nos claro, que as aldeias de
xisto ou em xisto, podem ser englobadas na arquitetura vernácula.
Adotamos esta posição porque tal como já referimos anteriormente, esta zona do
centro de Portugal continental tem a pedra xistosa como material mais abundante, tal
como na zona norte temos o granito. Assim sendo, não faria qualquer sentido
estas aldeias em xisto serem integradas na zona norte.7
Posto isto, seguimos para o nosso primeiro caso de estudo, que é a aldeia do
Talasnal e que, na nossa opinião, é uma reabilitação que não cumpre com o que era
7
Com esta posição, não pretendemos afirmar que o xisto não deva ser utilizado no norte de Portugal ou
em qualquer outra zona do país. Apenas pretendemos clarificar que estas aldeias em xisto, têm uma
história que as precede e que por isso mesmo lhes confere uma singularidade ao estarem inseridas nas
zonas onde o xisto é abundante. O mesmo acontece com a cultura castreja no norte do país.
75
Figura 23 : Fotografia da aldeia do Talasnal
ALDEIA DO TALASNAL
A aldeia do Talasnal, está implantada a meia encosta sobre uma linha de festo, e
apresenta-se como a segunda com maior dimensão, das aldeias que constituem a Serra
da Lousã.
77
Esta é, desde há muito, a aldeia do xisto da Serra da Lousã que tem dado mais
visibilidade e carisma ao conjunto das aldeias da Serra da Lousã. Pela sua dimensão e
disposição, visto de longe, com o Trevim como fundo, o Talasnal é um quadro
fantástico, mas também pelos muitos pormenores das suas casas. [Câmara Municipal da Lousã
2018:p.9]
No que toca à sua história, esta aldeia surge, inicialmente, com o intuito de
abrigar população que estava ligada às atividades da agricultura e da pastorícia e que se
foi formando consoante as necessidades que a população ia sentindo.
Tal como a aldeia do Catarredor, esta tem sofrido várias alterações ao longo dos
séculos nos seus aglomerados. Umas vezes por surgirem novos conhecimentos
arquitetónicos e estruturais - apoiados em algum poder económico - e outras vezes por
necessidade.
Recentemente, esta evolução tem sido fomentada por programas que visam a
reabilitação destas aldeias, tais como o PAX e o PAHP.
Aparentemente, esta, é uma aldeia tal como as outras que observamos, contudo,
a caraterística que a difere é a sua forma. Isto porque, durante uma visita ao local, foi
possível verificar que em algumas construções os princípios estruturais não estavam a
ser cumpridos. Ou seja, a sua forma não foi preservada na íntegra.
Pudemos ver que a parte estrutural de um dos edifícios estava a ser feita em
tijolo e que o xisto servia apenas de acabamento para manter a imagem que lhe é tão
característica.
Neste aspeto, defendemos que para se manterem as caraterísticas de um local,
não é necessariamente obrigatório, reproduzir ou reabilitar um edifício de um modo
exatamente igual àquilo que era antes, até porque, nos dias que correm, as necessidades,
os conhecimentos e os materiais são outros.
É claro que uma reabilitação pode ser feita à imagem que o edifício já teve,
enquanto se atribuem características ao espaço que o tornem habitável. No entanto, para
estes casos, defendemos que devem ser utilizados os mesmos métodos construtivos e
materiais, para que se mantenha a sua essência, na integra.
No caso do Talasnal, deparamo-nos com uma intervenção no património que nos
parece pouco conseguida, no sentido em que apaga uma parte daquilo que é a história
do local.
79
Figura 25 : Fotografia do enquadramento geral da aldeia da Cer deira
Luís – 2013: 6]
ALDEIA DA CERDEIRA
81
Figura 27 : Fotografia do enquadramento geral da aldeia do Candal
ALDEIA DO CANDAL
83
PROJETO DE INTERVENÇÃO NA ALDEIA DO CATARREDOR
85
Figura 30 : Esquisso dos alçados das habitações Figura 31 : Esquisso dos alçados das habitações
da aldeia do Catarredor da aldeia do Catarredor
Fonte : Imagem de autor (30 – 11 - 2019) Fonte : Imagem de autor (30 – 11 - 2019)
diversidade da flora da Serra da Lousã lhes proporcionava, revelavam-se elementos
fundamentais para a sua sobrevivência.
Com a abundância de recursos naturais, tais como o xisto ou a madeira, os povos
serranos construíam os seus abrigos com recurso aos mesmos, isto porque, assim,
evitavam custos e uma vez que o acesso a estes locais era bastante difícil, necessitavam
de materiais locais para que as construções não fossem demoradas.
Relembramos, também, que as primeiras edificações eram de dimensões
reduzidas nas quais haviam poucas e pequenas aberturas para evitar perdas de calor e
não existiam divisões entre os espaços.
Com o conhecimento empírico que os povos serranos adquiriram, moldaram a
aldeia do Catarredor em duas zonas bastante distintas.
O acesso principal que liga a igreja até ao final da aldeia – rematada pela eira – é
pertencente à zona norte, onde as habitações tentam retirar o maior partido da exposição
solar e, paralelamente, tentam criar uma coesão entre si, evitando que os ventos gélidos
que assolam a serra penetrem nestas edificações. Desta forma, vemos esta zona da
aldeia ganhar uma robustez que se vai dissolvendo ao longo da serra, na direção mais a
sul.
É nesta zona que encontramos uma segunda parte da aldeia, esta com algumas
diferenças da primeira. Nesta zona a sul, ainda que possamos ver um eixo mais
marcante que os outros, não o podemos considerar como um eixo formador. Isto
porque, neste local, as habitações encontram-se mais dispersas, tirando o máximo
proveito da exposição solar. Esta disposição, apesar de ser pensada para tirar o máximo
proveito das condições climatéricas, faz com que se perca a leitura de coesão que é
caraterística destes aglomerados xistosos.
Tal como as várias aldeias que integram a serra da Lousã, a aldeia do Catarredor
apresenta um modelo de edificado transversal em toda a sua extensão, passível de ser
classificado como arquitetura popular e vernacular. A qualidade que estas edificações
apresentam e o contexto em que foram construídas, representam dois dos argumentos
para a sua valorização e preservação.
Segundo o Sr. José, diretor da associação do Catarredor e neto de um dos
habitantes da aldeia, as primeiras habitações eram em xisto, constituídas por um ou dois
pisos sendo que nas habitações de dois pisos um deles era dedicado a animais.
87
Deste modo, as habitações com dois pisos tinham um acesso exterior ao piso
térreo e um acesso feito por ecadas em xisto travadas por barrotes de madeira que
acedia a uma varanda/alpendre no segundo piso.
O facto de terem animais no piso inferior proporcionava um aquecimento natural
proveniente dos animais. As dimensões reduzidas destas edifícações também se
refletiam no pé direito. O aquecimento era feito por uma pequena “lareira” existente na
cozinha, mas o calor dicipava-se pelas pequenas aberturas existentes na cobertura
cosntituída por telhas. O espaço da cozinha servia, ainda, como quarto e casa de banho,
devido à falta de dinheiro para fazerem mais divisões.
Posteriormente, com o aumento da população da aldeia do Catarredor e,
consequentemente, com a melhoria da economia local, tornou-se possível a edificação
de habitações com três pisos e a criação de várias divisões nas mesmas, como por
exemplo quartos. Contudo, o modelo mais recorrente na aldeia não deixa de ser a
edificação de dois pisos.
No seu exterior, as construções apresentam um aspecto rude, proporcionado pela
pedra xistosa e na sua constituição sem grande imaginação. Os seus vãos eram
pequenos para evitar as perdas de calor e, também, por ser um aspeto construtivo caro.
A primeira, afirma que o conceito e a ideia formante são a mesma coisa e, por
isso, devemos optar por um conjunto de premissas que devem estar inerentes a cada
projeto, baseando as opções de projeto nelas até chegarmos a um resultado final.
(19 – 03 - 2020)
(19 – 03 - 2020)
No caso desta dissertação, optamos pela segunda ideologia, onde definimos que o
conceito para este projeto seria a recuperação da memória.
Mas como poderíamos traduzir este raciocínio em projeto? Esta questão levou-
nos a uma discussão que se mantém bastante atual e que, nos dias que correm, está
longe de chegar a um consenso.
Isto levou-nos até à ideia formante deste projeto, para a qual decidimos resgatar
as principais caraterísticas das aldeias de xisto e traduzi-las em projeto. Este raciocínio,
fez com que determinássemos que a aldeia, enquanto elemento integrante da Serra da
Lousã, ganhasse o destaque que outrora teve para as populações que nela habitavam e
procuramos retirar o máximo partido daquilo que é a envolvente desta serra.
Para isso, decidimos repropor a ligação que outrora existiu entre as aldeias do
Catarredor, Candal e Vaqueirinho para que estas servissem como âncora entre si.
Assim sendo, a ideia passaria por definir a aldeia do Vaqueirinho como “aldeia
de trabalho” onde a população ativa destes aglomerados xistosos poderia continuar a
desenvolver as atividades que caraterizam estes lugares.
A aldeia do Candal como “aldeia museu” porque tem sido alvo de intervenções
de restauro, cujo objetivo é procurar a forma original desta aldeia e torná-la acessível a
turistas que queiram viver a experiência de habitar num lugar serrano.
Deste modo, pretendemos propor alguns edifícios para que a imagem da aldeia
seja lida como um todo, uma vez que acreditamos que a coesão que está visível em
grande parte das aldeias pertencentes à Serra da Lousã, é uma das caraterísticas a
recuperar.
93
Figura 36 : Desenho do plano de pormenor da aldeia do Catarredor
PLANO DE PORMENOR
95
Figura 38 : Corte longitudinal da
habitação tipo
97
Figura 41 : Proposta de interiores da habitação tipo Figura 42 : Proposta de interiores da habitação tipo
Fonte : Imagem de autor (23 – 06 - 2020) Fonte : Imagem de autor (23 – 06 - 2020)
Figura 43 : Proposta de interiores da habitação tipo Figura 44 : Proposta de interiores da habitação tipo
Fonte : Imagem de autor (23 – 06 - 2020) Fonte : Imagem de autor (23 – 06 - 2020)
99
CONCLUSÃO
...noção corrente de espaço e tempo deveria ser substituído pelo conceito mais
vital de lugar e ocasião [TÁVORA, Fernando – 2006: 58]
101
BIBLIOGRAFIA
BATISTA, Joana 2015 - O espaço rural - As aldeias do xisto da serra da Lousã - Dissertação para a
obtenção do grau de mestre em Design de Interiores
CAMÕES, Luís de; Lusíadas, Canto III, 12ª edição, Circulo de Leitores – Lisboa
MOREIRA, Inês 2011- Aldeias de Xisto - Projecto para reabilitação da aldeia da Cerdeira - Dissertação
de Mestrado Integrado em Arquitectura
Ollero, Rodrigo – E depois do inquérito à arquitetura regional portuguesa? Carta a Raul Lino
WEBGRAFIA
Lusa (7 de Outubro de 2019). Novas gravuras rupestres descobertas junto ao rio Zêzere no Fundão. Jornal
Público. Disponível a partir de https://www.publico.pt/2019/10/07/local/noticia/novas-gravuras-rupestres-
descobertas-junto-rio-zezere-fundao-1889134
SARAIVA, José Hermano, “As Origens” e “Os Primeiros Passos de Portugal”, in História Essencial de
Portugal, Rádio e Televisão de Portugal, 2011.
103
APÊNDICES
105
29
31
33
35
37
39
41
43
45
47