01 - Oyěwùmí e Foucault - A Relação Entre Bio-Lógica e Biopoder
01 - Oyěwùmí e Foucault - A Relação Entre Bio-Lógica e Biopoder
01 - Oyěwùmí e Foucault - A Relação Entre Bio-Lógica e Biopoder
In: A corporal(idade)
discursiva à sombra da hierarquia e do poder: uma relação entre Oyěwùmí e Foucault. Dissertação de
(Mestrado em Filosofia) - Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2018, p. 43 a 49 . Disponível em:
https://repositorio.bc.ufg.br/tede/handle/tede/8955. Acesso em: 16 nov. 2022
Capítulo II
Poderes corpo(r)ativos
Um ser
Um corpo só
47
9).
48
Somato é a palavra grega para corpo.
Protagonizado por Sócrates, mas escrito por Platão.
A somatofobia é mais uma característica do pensamento anglófono que francófono. Pensadores e pensadoras,
tais como, Merleau-Ponty, Foucault, Deleuze, Kristeva, Irigaray, entre outros e outras, criticam a somatofobia,
embora sustentem uma somatocentralidade.
Específica relação hierárquica entre corpo e poder.
Corpus bibliográfico, seja ele filosófico, histórico, antropológico, etc.
2011, p. 03) e utilizados. Para hooks (201
do corpo, que
hierarquias e até os comprometimentos metafísicos de uma cultura são inscritos e assim
reforçados a (BORDO, 1997, p. 19).
nas nossas produções filosóficas consiste em não refletir sobre o fato do Ocidente pensar
a sociedade como um corpo, afirmação evidenciada por meio das metáforas do corpo social,
corpo político, e corpo do rei, que para Foucault,
corpo do rei não era uma metáfora, mas uma realidade política: sua presença física era
Essa declaração de
s corpos não serem apenas metáforas,
mas também metonímia. Acerca desse aspecto Oliveira sinaliza:
A razão pela qual o corpo tem tanta presença no Ocidente é que o mundo é
percebido principalmente pela visão. A diferenciação dos corpos humanos em
termos de sexo, cor da pele e tamanho do crânio é um testemunho dos poderes
p. 02).
a visão é sempre uma questão do poder de
ver e talvez da violência implícita em nossas práticas de visualização. Com o sangue de quem
Ver não é apenas uma prática social e cultural, mas é também
bio-lógica. Carregamos nossas diferenças inscritas em nossos corpos, elas são visíveis,
obedecem a uma lógica visual que permite a di-visão social através das categorias de raça,
gênero e classe,
incorporados nas , que é binária. Segundo
e a estrutura fundamental
do binário, é o racismo. Isto é, a construção da diferença; [...]. Estas diferenças construídas
estão inseparavelmente ligadas a valores hierárquicos. O indivíduo não é apenas visto como
estigma, desonra e inferioridade
(KILOMBA, 2010, p. 42). Assim, as categorias de raça, gênero e classe são signos que estão
diluídos em oposições binárias e hierárquicas.
Mesmo todo o avanço do feminismo ocidental, e seu esforço em não situar as discussões
sobre gênero em termos que não sejam biológicos, não suprime o fato que somos uma sociedade
visualmente orientada, na qual
categorias persistentemente vistas Uma das
críticas vem lançando para o feminismo ocidental, na intenção de despertá-lo de
seu sono dogmático, que ainda insiste em ver as
como construções sociais, consiste em sinalizar que:
s seus corpos,
que não são seus53, anunciam que a bio-lógica está bem viva e atuando não só na generificação,
socialmente vistas como corpos, o que não implica que são seus, corroborando uma lógica
escravocrata: os/as escravizados/escravizadas, são objetos que pertencem a outro. Os seguintes lemas feministas
mas na racialização dos corpos. Reforçar as características biológicas dos corpos negros
o
(FLAUZINA, 2008, p. 106), são formas de confiná-los à exposição da violência racista. De
acordo com Costa (1983, p , contínua e
, entendimento que alimentou a ciência da diferenciação genética
para o estabelecimento do racismo do século XIX, que apesar de todos os discursos
contemporâneos, sobre a sua derrocada, continua exercendo forte influência sobre o destino das
pessoas negras54.
Sueli Carneiro em sua tese A construção do outro como não-ser como fundamento do
ser (2005), utiliza o conceito foucaultiano de biopoder no âmbito das relações raciais,
tencionando pensá-lo na dinâmica do Estado Brasileiro, cuja (bio)lógica está embasada em
extermínios, principalmente da população negra, testemunhando o fato que o racismo brasileiro
incessantemente se efetua através do biopoder
O biopoder ao se manifestar como o
domínio do direito de fazer viver e deixar morrer, revela de acordo com Foucault (2010, p. 202),
de morte só se exerce de uma forma desequilibrada, e sempre do lado
de mortalidade (assassinatos) das pessoas
negras, indígenas e LGBTTT no Brasil.
Em filosofia (quer queira ou não) somos ensinados e ensinadas a ler as obras dos pensadores de determinado
modo, dando mais ênfase a algumas questões, em detrimento de outras.