A Crianà A e o Numero (Matematica) 3

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A CRIANÇA E

O NÚMERO
KAMII, Constance. A criança e o
número. 39. ed. Campinas: Papirus,
2011. 124p.
Constance Kamii
• Natural de Genebra (Suíça).
• Filha de pais japoneses viveu no Japão até os 18 anos,
transferindo-se depois para os Estados Unidos, onde em 1955
bacharelou-se em Sociologia
• Na Universidade de Michigan terminou o mestrado em
Educação em 1957 e doutorou-se em Educação e Psicologia
na mesma universidade em 1965.
• Aluna e colaboradora de Jean Piaget fez diversos cursos de
pós-doutoramento nas universidades de Genebra e de
Michigan, ligados à Epistemologia Genética e a outras áreas
educacionais relacionadas à teoria piagetiana e de outros
pesquisadores.
• Autora de diversos trabalhos editados na Europa, Estados
Unidos e Japão, a autora está atualmente desenvolvendo suas
pesquisas na Escola de Educação do Alabama, EUA.
Como o professor pode usar a
teoria de Piaget de forma prática?

• Quatro tópicos:
1. A natureza do número.
2. Objetivos para “ensinar” número.
3. Princípios de ensino.
4. Situações problemas que o professor
pode usar para “ensinar” número.
O que significa ensinar número na
sala de aula?
Conservação do número
 A autora esclarece que as crianças de quatro
anos tendem a acreditar que uma determinada
quantidade de objetos se altera em função da
disposição destes numa superfície.
 Exemplo: se uma professora coloca oito pedaços
de isopor enfileirados e entrega outros oito
pedaços para a criança enfileirar, a tendência é
que a criança os disponha de forma mais
espaçada e que, por causa desse espaçamento,
acredite ter enfileirado mais pedaços de isopor
que a professora.
 Isso significa que a criança ainda não conserva
quantidades, entretanto, não significa que a
professora deve “ensiná-la” a conservar fazendo,
por exemplo, a correspondência um a um.
Conservação do número
Materiais: 20 fichas vermelhas e 20 azuis.
1º – Igualdade – a pessoa que realiza a
experiência pede para que a criança coloque
fichas vermelhas na mesma quantidade de
fichas azuis (já dispostas à frente da
criança);

2º – Conservação – a pessoa muda à


colocação das fichas (separando ou
juntando-as), diante da criança e pergunta
se ainda há o mesmo número de fichas e
como ela sabe;
Conservação do número
3º – Contra Argumentação – se a criança acerta a
resposta, argumenta-se que uma outra disse que
havia mais fichas na fileira mais comprida e
pergunta quem está certa, caso a criança dê uma
reposta errada, deve lembrá-la que foram
colocadas às mesmas quantidades de fichas e
nenhuma foi retirada das fileiras;

4º – Quotidade – o experimentador pede para que a


criança conte as fichas azuis e esconde as
vermelhas. Perguntam-se quantas vermelhas a
criança acha que existem, se pode adivinhar sem
contá-las e como sabe qual é o resultado.
Ordem hierárquica do desenvolvimento
na conservação do número
• Crianças no nível I não conseguem fazer um conjunto com o
mesmo número, vão colocando as fichas até que acabem ou
colocam-nas sem contar, apenas respeitam os limites da outra
fileira.

• Já no nível II, a criança já é capaz de fazer 2 conjuntos com o


mesmo número de fichas, mas não conseguem conservar a
igualdade.

• E as crianças do nível III, respondem corretamente todas as


questões e não se confundem com as contra-argumentações.

• Porém, entre o nível II e o III, há um nível intermediário; as


crianças neste nível dão respostas certas a uma das perguntas,
mas não sabem justificá-las corretamente.
Natureza do número
• “O número é a relação criada mentalmente por cada
indivíduo”.
• Para Piaget há três tipos de conhecimento:
1. conhecimento físico: objetos da realidade;
2. conhecimento lógico matemático: relações
(diferenças, semelhanças) criadas mentalmente
pelas pessoas quando comparam objetos;
3. conhecimento social (convencional): são as reuniões
construídas pelos indivíduos, sua natureza é
resultante só da vontade; este conhecimento
necessita de uma estrutura lógico-matemática para
a organização e assimilação.
Natureza do número
Abstração reflexiva e empírica
• Para Piaget, existem dois tipos de abstração: a empírica (ou
simples) que consiste em focalizar uma certa propriedade do
objeto e ignorar as outras;

• E a abstração reflexiva que envolve a construção de relações


entre os objetos (por não ter existência na realidade externa, a
abstração reflexiva é uma construção realizada pela mente);

• A abstração reflexiva é usada para construir o conceito de


número;

• Esses dois tipos de abstração são interdependentes: “a criança


não poderia construir a relação ‘diferente’ se não pudesse
observar propriedades de diferença entre os objetos” (KAMII,
p.20), por outro lado, para perceber que um certo peixe é
vermelho(abstração empírica), ela necessita possuir um
esquema classificatório para distinguir o vermelho de todas as
outras cores (abstração reflexiva);
Abstração reflexiva e empírica

• A distinção entre os dois tipos de abstração pode


parecer pouco importante enquanto a criança está
aprendendo números até 10, por exemplo. Porém,
quando ela prossegue em direção a números maiores,
tais como 999 e 1000, fica claro que é impossível
aprender cada número até o infinito através da
abstração empírica a partir de conjunto de objetos ou
figuras!

• Como as relações são criadas pela mente, é possível


entender números como 1000 002 mesmo que nunca
tenhamos visto ou contado esta quantidade de objetos
em um conjunto.
Ordenação e inclusão hierárquica
• Número é, de acordo com Piaget, “uma síntese de dois tipos
de relações que a criança elabora entre os objetos (por
abstração reflexiva). Uma é a ordem e a outro é a inclusão
hierárquica.” (KAMII, p.21)

• Ordenar significa colocar em ordem os objetos, para que se


possa contá-los de maneira adequada, ou seja, sem pular
nenhum e sem contar o mesmo repetidamente; isso não
significa que é necessário que a criança coloque os objetos
literalmente numa ordem espacial, ou seja, é importante que
a criança possa ordená-los mentalmente.

• A inclusão hierárquica diz respeito à capacidade de


compreender que um está contido em dois, dois está contido
em três, e assim sucessivamente. Se a ordenação fosse à
única operação mental da criança sobre os objetos, estes
não poderiam ser quantificados, uma vez que a criança os
consideraria apenas um de cada vez.
Ordenação e inclusão hierárquica
Ordenação e inclusão hierárquica
O conhecimento lógico-
matemático e social
• A teoria de Piaget contradiz o pressuposto comum de que
os conceitos numéricos podem ser ensinados pela
transmissão social.

• As palavras um, dois, três… são exemplos de


conhecimento social, contudo, os conceitos numéricos
não são adquiridos através da linguagem.

• Número também não é alguma coisa conhecida


inatamente, por intuição.

• A estrutura lógico-matemática do número é construída


através da criação e coordenação de relações e não pode
ser ensinada diretamente porque a criança tem que
construí-la por si mesma.
Objetivos para ensinar número
• Piaget declara que “a finalidade da educação deve
ser a de desenvolver a autonomia da criança, que é
indissociavelmente social, moral e intelectual”
(KAMII, 2011, p.33).
• Autonomia significa agir por leis próprias;
• Heteronomia significa ser governado por outra
pessoa;
• Nas escolas a heteronomia da criança ainda passa
a ser mais trabalhada do que a própria autonomia;
• Os professores mantêm as crianças nas regras,
através de sanções ou de incentivo, como as
estrelinhas, prêmios, notas, etc.
Objetivos para ensinar número
• Deve-se ressaltar a diferença entre a construção do número
(não é observável, pois existe apenas na cabeça da criança) e
quantificação de objetos (a observação é feita em partes, pois
podemos ver o comportamento da criança, mas não vemos o
pensamento que se desenvolveu mentalmente).
• O meio ambiente, o nível socioeconômico e cultural da criança
tanto pode agilizar o desenvolvimento lógico-matemático como
retardá-lo.
• “muito frequentemente os professores ensinam as crianças a
contar, ler e escrever numerais, acreditando que assim estão
ensinando conceitos numéricos [...] mas é muito mais
importante que elas construam a estrutura mental de
número” (KAMII, 2011, p.39)
• Dessa forma ela terá maior facilidade de assimilar signos a
essa estrutura.
Princípios de ensino
• Seis princípios de ensino (indireto) sob três títulos (p.42):
• 1)A criação de todos os tipos de relações: encorajar a criança a
estar alerta e colocar todos os tipos de objetos, eventos e ações
em todas as espécies de relações – a criança que pensa na sua
vida cotidiana, consegue raciocinar sobre muitos outros
assuntos ao mesmo tempo.
• 2) A quantificação de objetos: a) encorajar as crianças a
pensarem sobre número e quantidades de objetos quando
esses sejam significativos para elas; b) encorajar a criança a
quantificar objetos logicamente e a comparar conjuntos (em
vez de encorajá-las a contar); c) Encorajar a criança a fazer
conjuntos com objetos móveis.
• 3) Interação social com os colegas e os professores: a)
encorajar a criança a trocar ideias com seus colegas; b)
imaginar como é que a criança está pensando e intervir de
acordo com aquilo que parece estar sucedendo em sua cabeça.
Situações escolares que o professor
pode usar para “ensinar” número
Exemplos de atividades que focalizam a quantificação:

a) VIDA DIÁRIA
Durante a sua rotina cotidiana, a professora pode transferir algumas
responsabilidades para as crianças, por exemplo:
I. A distribuição de materiais
Pedir às crianças que tragam o número suficiente de xícaras para todos
à mesa.
II. A divisão de objetos
Na hora do lanche, a professora pode dar uma certa quantidade de
bolachinhas a uma criança e pedir que ela as distribua entre os
colegas, encorajando o grupo a trocar ideias sobre a execução da
tarefa.
III. A coleta de coisas
A coleta de bilhetes de permissão assinados pelos pais é uma
oportunidade natural de ensinar a composição aditiva do número. A
professora poderá propor as seguintes questões: “quantas crianças
trouxeram seus bilhetes hoje?” “quantas trouxeram ontem?” etc.
Situações escolares que o professor
pode usar para “ensinar” número
Exemplos de atividades que focalizam a quantificação:

a) VIDA DIÁRIA
IV. Manutenção de quadros de registros
A professora pode providenciar um quadro para registrar
o número de alunos presentes e ausentes.
V. Arrumação da sala
A professora pode sugerir que cada criança guarde 3
coisas, se houver um momento para limpeza e
arrumação da sala.
VI. Votação
Essa prática é importante para ensinar a comparação de
quantidades, além de favorecer a autonomia, uma vez
que atribui poder de decisão às próprias crianças.
Situações escolares que o professor
pode usar para “ensinar” número
b) JOGOS EM GRUPO
I. Jogos com alvos
Bolinhas de gude e boliche são bons para a contagem de objetos
e a comparação de quantidades.
II. Jogos de esconder
O jogo de esconder laranjas é excelente para trabalhar a divisão
de conjunto, adição e subtração. Funciona da seguinte forma:
A professora esconde cinco laranjas em lugares diferentes e as
crianças vão procurá-las. Durante a brincadeira, quando as
crianças já tiverem encontrado algumas laranjas, a professora
pode perguntar quantas ainda faltam para serem encontradas.
III. Corridas e brincadeiras de pegar
A dança das cadeiras é uma excelente oportunidade para as
crianças compararem quantidade. A preparação do jogo é a
parte mais importante. A professora deve deixar que as
próprias crianças arrumem as cadeiras e decidam como
querem jogar – com o mesmo número de cadeiras e de
crianças, ou com uma cadeira a menos.
Situações escolares que o professor
pode usar para “ensinar” número
b) JOGOS EM GRUPO
IV. Jogo de adivinhação
Uma criança pega uma carta (entre 10 cartas numeradas) e as
outras tentam adivinhar qual foi o número retirado. A criança
que tem a carta nas mãos responde a cada tentativa dizendo:
“não, é mais” “não, é menos” “sim”.
V. Jogos de tabuleiros
Uma série de jogos de tabuleiros, daqueles em que se joga um dado
e se avança o número de casas sorteados pode ser utilizado para
construir o conceito de número.
VI. Jogos de Baralho
Jogos de baralho como “Memória” são excelentes para o
desenvolvimento do pensamento lógico e numérico.
REFERÊNCIA
• KAMII, Constance. A criança e o número. 39.
ed. Campinas: Papirus, 2011. 124p.

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