Resumo Ap1

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CURSO(s): Psicologia

ANO/SEMESTRE: 2023-01

EIXO: Formação Acadêmica

DISCIPLINA: Clinica Psicanalítica

PROFESSORA: GRAZIELA C. WERBA

NOME DO ALUNO: SIMONE MARQUES DE SOUSA

1) Psicoterapia e Psicanálise- 06 de março


As diferenças e semelhanças entre estas duas modalidades terapêuticas tem sido
discutidas desde 1940, sendo que ainda hoje permanece a polêmica sobre tais
divergências.
A expressão “psicoterapia” é mais abrangente do que “psicanálise”, sendo que esta
última é mais restrita e não deixa de ser uma das diversas formas de psicoterapia, se
bem que a mais profunda, sofrida, elaborada e pretensiosa dentre todas elas
Psicoterapia: O termo “genérico” psicoterapia corresponde a qualquer tratamento
realizado com métodos e propósitos psicológicos, independente da abordagem
teórica utilizada. Freud inicialmente não fazia distinção entre o uso do termo
psicoterapia e Psicanálise. Ainda usou um terceiro termo: Terapia Psicanalítica.
A psicoterapia é um processo mais focal, que auxilia o paciente a reorganizar seu
sistema defensivo, focalizando-se, sobretudo no funcionamento egóico do paciente.
O uso do divã não é obrigatório e as frequências de sessões podem ser reduzidas
para uma ou duas vezes.
Segundo Freud, psicanalise é "o trabalho pelo qual trazemos a consciência do
individuo o psiquismo que há nele recalcado", recalcamento esse que pode ser a
causa de alguns males.
Na psicanálise, Freud propõe um certo cerimonial que concerne a posição na qual
o tratamento é realizado, ele diz que é necessário acolher o paciente no divã, onde
este possa deitar confortavelmente e o analista posiciona-se atrás dele, fora das
vistas do analisando. Para Freud, essa disposição é remanescente do método
hipnótico a partir de onde a psicanálise se desenvolveu. Também sugere uma maior
frequência dos atendimentos seguindo os princípios da neutralidade da abstinência,
buscando realizar uma análise interpretativa de reminiscências de conflitos do
passado.
A psicanálise também pode ser definida como uma forma científica de
conhecimento da realidade psíquica, quer essa tenha a forma de desejo, fantasia
inconsciente, fantasma, distorção da função perceptiva do ego, vazio existencial, ou
de uma busca da verdade, conforme for a corrente psicanalítica predominantemente
(às vezes, exclusivamente) adotada por cada analista.
Vale considerar separadamente os fatores que são próprios dos pacientes, dos
terapeutas e do processo analítico, que têm concorrido para algumas transformações
e interações entre psicanálise e psicoterapia na atualidade.

Na Pessoa do Paciente:
A clínica de hoje difere substancialmente daquela de um século atrás. Quase não
mais encontramos as clássicas neuroses “puras” (histéricas, fóbicas...) e, em
contrapartida, surgiram e predominam as neuroses “mistas”, assim como “novas
patologias”. Dentre essas últimas, tem crescido a demanda de pacientes psicóticos,
borderline, psicossomatizadores, transtornos alimentares, drogadictos, perversões,
transtornos de conduta, e especialmente daquelas pessoas portadoras de
transtornos narcisistas da personalidade, com problemas de auto-estima e
indefinição do sentimento de identidade.

Na Pessoa do Analista:
Da mesma forma como ocorreu com o paciente, também o perfil do analista da
atualidade mudou substancialmente em relação ao dos pioneiros do passado. O
analista atual não é mais alguém “acima dos mortais”, mas exige que tenha ainda
várias qualidades específicas. Dentre elas, devem ser destacados aqueles que
aludem a uma capacidade de empatia, continência, paciência, intuição,amor às
verdades e à liberdade, respeito à autonomia do outro, capacidade para suportar dor
mental, frustrações e decepções, prazer da criação e, muito particularmente, a de
possuir um talento especial para a prática da ciência e arte psicanalítica.

No Processo Analítico:
Número de Sessões: Um dos critérios que a maioria dos autores que abordou este
assunto costumava destacar para diferenciar a psicanálise da psicoterapia consistia
justamente no número de sessões semanais, porquanto a primeira delas exigiria
um setting com um mínimo de quatro sessões, com o propósito de propiciar a
formação de uma neurose de transferência, que seria a única condição compatível
com uma análise de verdade, enquanto a psicoterapia não deveria ultrapassar a
duas sessões, pela razão contrária, isto é, a de não permitir a instalação da referida
neurose de transferência.
O Uso do Divã: O divã constitui-se em um importante instrumento da prática
psicanalítica.
Análise do Consciente: Antes focada no inconsciente, na atualidade, a psicanálise,
indo além do paradigma celebrado por Freud de “tornar consciente aquilo que for
inconsciente”, amplia-se com a noção de que mais importante é a maneira de como
“o consciente e o inconsciente do paciente comunicam-se entre si”.
Interpretação e a Pessoa Real do Analista: Durante longas décadas, até
recentemente, as interpretações do psicanalista formuladas no “aquiagora-comigo”,
de forma sistemática e sempre na “neurose de transferência”, constituíam-se como
um instrumento por excelência e exclusivo da psicanálise e, por conseguinte, como
o grande fator de distinção com a psicoterapia analítica. Na atualidade, com o
tratamento analítico bastante praticado com pessoas muito regredidas, como
psicóticos, borderline, etc., cresceu intensamente a importância da “atitude
psicanalítica interna” do terapeuta, a qual tem muito a ver com os atributos dele
como pessoa real e não unicamente como objeto transferencial.

2) Como agem as Psicoterapias? – dia 13 de março

De uma forma extremamente resumida e esquemática, podemos dividir a


evolução histórica da psicanálise, centrada exclusivamente nas contribuições
originais de Freud, nos cinco seguinte estágios:

2.1- Teoria do Trauma: Partindo inicialmente da concepção inicial de que o conflito


psíquico era resultante das repressões impostas pelos traumas de sedução
sexual que realmente teriam acontecido no passado, e que retornavam sob a
forma de sintomas.
Lema: a cura consistiria em “lembrar o que estava esquecido”.
2.2- Teoria Topográfica: Freud deu-se conta de que a teoria do trauma era
insuficiente para explicar tudo, e que os relatos das suas pacientes histéricas
não traduziam a verdade factual, mas sim que eles estavam contaminados
com as fantasias inconscientes que provinham de seus desejos proibidos e
ocultos. Daí, ele propôs a divisão da mente em três regiões: Consciente, Pré-
Consciente e Inconsciente.
Lema: tornar consciente o que estiver no inconsciente.
2.3- Teoria Estrutural: a partir do trabalho O ego e o id (1923), Freud concebeu a
estrutura tripartide, composta pelas instâncias do id (com as respectivas
pulsões), do ego (com o seu conjunto de funções e de representações) e do
superego (com as ameaças, castigos, etc).
Lema: onde houver id (e superego), o ego deve estar.
2.4- Conceituações sobre o Narcisismo: Embora não tenha sido formulado como
uma teoria, os estudos de Freud sobre o narcisismo abriram as portas para
uma mais profunda compreensão do psiquismo primitivo e constituíram-se
como sementes que continuam germinando e propiciando inúmeros vértices
de abordagem por parte de autores de todas correntes psicanalíticas.
Lema: onde houver Narciso, Édipo deve estar.
2.5- Dissociação do Ego: Freud foi aprofundando suas pesquisas sobre o transe
hipnótico induzido por Charcot, um fascinante enigma, até que ele ficou
convencido de que esta clivagem da mente em regiões conscientes e
inconscientes não era específica e restrita às psicoses e neuroses, mas que
ela ocorria com todos os indivíduos.

MUDANÇAS TÉCNICAS NA PSICANÁLISE

Ainda mantendo um esquema altamente simplificador, pode-se dizer que neste


seu primeiro século de existência a ciência psicanalítica tem transitado por três
períodos típicos: o da psicanálise ortodoxa, a clássica e a contemporânea.
Transformações que vêm-se processando continuamente nos paradigmas da
psicanálise não estão nitidamente delineadas; pelo contrário, frequentemente se
sobrepõem entre si. O importante é que o psicanalista não troque simplesmente um
paradigma da psicanálise por um outro mais vigente, ou que fique aferrado
exclusivamente a uma determinada escola que lhe serviu de alicerce em sua teoria,
técnica e prática, mas, sim, que ele conserve e correlacione todos elementos
fundantes de cada período, alguns superados e descartados na atualidade,
plenamente válidos alguns outros, transformados outros tantos, e que construa a sua
própria identidade de psicanalista com as vertentes de conhecimento que melhor
sintonizarem com o seu modo autêntico de ser, com uma ampla variação no estilo de
trabalhar de cada um sem que haja um afastamento dos princípios essenciais do
processo analítico.

CRISE NA PSICANÁLISE

A psicanálise e os psicanalistas estão em crise. As mudanças vão muito além do


campo restrito da psicanálise como ciência e confundem-se com as transformações
que também acontecem, no mundo todo, nos aspectos sociais, culturais e,
sobretudo, econômicos. Por conseguinte, também mudou o perfil do paciente que
procura tratamento analítico; mudaram os valores culturais e os papéis na família e
sociedade, especialmente o da mulher; cada vez mais se impõe a cruel “lei do mais
forte”, para a sobrevivência física e psíquica dos indivíduos e das famílias.
Ao mesmo tempo, estão sendo intensas as campanhas de descrédito contra a
psicanálise, especialmente contra uma alegada “lentidão” na obtenção de resultados
positivos, num mundo que cada vez mais exige uma frenética pressa e agilidade.
Tudo isto está representando um sério desafio aos responsáveis pelo destino da
psicanálise, no sentido de preservar os princípios básicos que constituem a essência
da sua ideologia, ao mesmo tempo em que ela deve aceitar as contribuições
provindas de outras áreas do pensamento humanístico e proceder a algumas
mudanças que conciliem com os novos interesses e necessidade dos pacientes que
buscam tratamento psicanalítico.

3) Definições do Inconsciente – dia 20 de março

INCONCIENTE: “O inconsciente é o círculo maior que abrange em si o círculo


menor da consciência; tudo o que é consciente tem um estágio prévio inconsciente,
enquanto o inconsciente pode permanecer nesse estágio e ainda assim reclamar o
valor pleno de uma produção psíquica. “ (FREUD, Sigmund. [1900], 2012, p 640).*
RECALCAMENTO: Consiste em um mecanismo que remete para o inconsciente
emoções, pulsões e afetos que são considerados repugnantes para um determinado
indivíduo. Barreira de energia que impede a passagem dos conteúdos inconsciente e
consciente. A repressão desses sentimentos para o inconsciente não os elimina do
quadro psíquico, e podem causar distúrbios no indivíduo.

No psiquismo a tensão é sempre premente e o prazer absoluto nunca é atingido


por três razões:
 A primeira razão, a fonte psíquica da excitação é tão inesgotável que a
tensão é eternamente reativada.
 A segunda razão concerne ao polo direito de nosso esquema. O psiquismo
não pode funcionar como o sistema nervoso e resolver a excitação através de
uma ação motora imediata, capaz de evacuar a tensão. Não, o psiquismo só
pode reagir à excitação através de uma metáfora da ação, uma imagem, um
pensamento ou uma fala que represente a ação, e não a ação concreta, que
permitiria a descarga completa da energia. No psiquismo, toda resposta é
inevitavelmente mediatizada por uma representação, que só pode efetuar
uma descarga parcial. Do mesmo modo que pusemos no polo esquerdo o
representante psíquico da pulsão (excitação pulsional contínua), colocamos
no pólo direito o representante psíquico de uma ação.
 Terceira razão, existe a barreira de recalcamento;. O recalcamento é um
espessamento de energia, uma capa de energia que impede a passagem dos
conteúdos inconscientes para o pré-consciente. Ora, essa censura não é
infalível: alguns elementos recalcados vão adiante, irrompem abruptamente
na consciência, sob forma disfarçada, e surpreende o sujeito, incapaz de
identificar sua origem inconsciente. Eles aparecem na consciência, portanto,
mas permanecem incompreensíveis e enigmáticos para o sujeito.
RECALCAMENTO E 3 TIPOS DE PRAZER

Existem diferentes tipos de descarga proporcionadores de prazer:


1- Uma descarga hipotética, imediata e total, que provocaria um prazer absoluto
(essa solução ideal é impossível).
2- Uma descarga mediata e controlada pela atividade intelectual (pensamento,
memória, julgamento, atenção etc.), que proporciona um prazer moderado.
3- E, por fim, uma descarga mediata e parcial, obtida quando a energia e os
conteúdos do inconsciente transpõem a barreira do recalcamento.
Essa descarga gera um prazer parcial e substitutivo, inerente (essencial e
inseparável) às formações do inconsciente.

RECALCAMENTO

Foi ao se confrontar com o fenômeno clínico da resistência e ao empreender a


superação da teoria do trauma que Freud foi levado a produzir o conceito de
recalcamento. “Cada movimento de ideias está confinado entre dois pontos fixos: seu
estado de completa inibição e seu estado de completa liberdade” e há “um esforço
natural e constante por parte de todas as ideias de retornar a seu estado de
liberdade total (ausência de inibição)”. As representações que são tornadas
inconscientes não são destruídas nem têm a sua força reduzida, elas permanecem
lutando, a nível inconsciente, para se tornarem conscientes. O termo então utilizado
para designar a expulsão de uma representação para aquém do local de entrada da
consciência é recalcamento. Quando Freud abandona a hipnose e solicita aos seus
clientes que procurem se lembrar do fato traumático sem o auxílio da hipnose, ele
passa a se defrontar com um fato novo que era inteiramente ocultado pelo próprio
método que empregava: a resistência por parte do paciente que se manifestava sob
a forma de falha de memória ou de incapacidade de falar sobre o tema caso este lhe
fosse sugerido. Essa resistência foi interpretada por ele como o sinal externo de
uma defesa cuja finalidade era manter fora da consciência a ideia ameaçadora. A
defesa nada mais era do que a censura exercida pelo ego sobre a ideia ou conjunto
de ideias que despertavam sentimentos de vergonha e de dor.
Apesar de Freud ter empregado durante algum tempo defesa e recalcamento de
forma semelhante, o termo recalcamento vai ganhando maior precisão conceitual
enquanto defesa passa a ser utilizado de uma forma mais ampla e, portanto, mais
vaga.
Freud define o recalcamento como o processo cuja essência consiste no fato de
afastar determinada representação do consciente, mantendo-a a distância. O objeto
do recalcamento não é a pulsão propriamente dita, mas um de seus representantes
(representante ideativo) capaz de provocar desprazer em face das exigências da
censura exercida pelo sistema pré-consciente/consciente.

O RECALCAMENTO E OS REPRESENTANTES PSÍQUICOS DA PULSÃO

A finalidade do recalcamento é evitar o desprazer, então fica difícil explicar como é


que a satisfação de uma pulsão poderia provocar desprazer. A satisfação de uma
pulsão é sempre prazerosa. Portanto, quando Freud fala em recalcamento da pulsão,
devemos ter sempre em mente que ele está se referindo ao representante ideativo
da pulsão, esta sim, capaz de provocar desprazer ao ser confrontada com o sistema
pré-consciente/consciente. O outro representante psíquico da pulsão (o afeto)
apesar de sofrer vicissitudes diversas em decorrência do recalcamento, não pode,
ele mesmo, ser recalcado. A razão disso é que não pode se falar em “afeto
inconsciente”. O que o recalcamento produz é uma ruptura entre o afeto e a ideia à
qual ele pertence.

OS 4 TEMPOS DO INCONSCIENTE
O essencial da lógica do funcionamento psíquico, considerado do ponto de vista
da circulação da energia, resume-se, pois, em quatro tempos:
• Primeiro tempo: excitação contínua da fonte e movimentação da energia à
procura de uma descarga completa, nunca atingida.
• Segundo tempo: a barreira do recalcamento opõe-se à movimentação da
energia.
• Terceiro tempo: a parcela de energia que não transpõe abarreira resta
confinada no inconsciente e retroage para a fonte de excitação.
• Quarto tempo: a parcela de energia que transpõe a barreirado recalcamento
exterioriza-se sob a forma do prazer parcial inerente às formações do inconsciente.
Quatro tempos, portanto: a pressão constante do inconsciente, o obstáculo que
se opõe a ele, a energia que resta e a energia que passa.

DEFINIÇÕES DO INCONSCIENTE E SEUS PONTOS DE VISTA


• Descritivo
• Sistemático
• Dinâmico
• Econômico
• Éético.
O inconsciente do ponto de vista descritivo pode ser definido como os atos
inesperados, que surgem repentinamente na nossa consciência, e ultrapassam
nosso saber e intenções, como os atos falhos, esquecimentos, sonhos, entre outros.
No ponto de vista sistemático, leva-se em consideração uma rede de representações
(conjunção de um traço de acontecimentos reais, e investidos de energia), onde a
fonte de excitação chama-se representação de coisa (por elas consistirem em
imagens visuais, acústicas ou tácteis de coisas ou pedaços de coisas impressas no
inconsciente), e os produtos finais são as manifestações deturpadas do inconsciente,
dando como exemplo os sonhos, nesse caso.
No ponto de vista dinâmico, ou seja, a luta da ação que impulsiona e o
recalcamento que impede, a fonte de excitação é chamada de representantes
recalcados, e os produtos finais são considerados produtos do inconsciente, estes
que surgem sutilmente na consciência, devido a ação do recalcamento. Os sintomas
neuróticos são os exemplos clássicos nessa situação. Salienta o autor que, esses
produtos inconscientes podem ainda sofrer nova ação do recalcamento quando na
consciência, mandando-os de volta ao inconsciente.
O inconsciente do ponto de vista econômico pode ser definido pelo autor onde a
fonte de excitação chama-se representante das pulsões, e os produtos finais do
inconsciente são as fantasias ou comportamentos afetivos e escolhas amorosas
inexplicáveis.
E, por último, no ponto de vista ético, o inconsciente pode ser definido como
desejo (movimento de uma intenção inconsciente com o objetivo de satisfação
absoluta). Os produtos finais são realizações parciais do desejo, nesse caso, ou seja,
satisfações parciais do desejo diante da satisfação ideal, que nunca é atingida.
Para finalizar, o autor salienta dois fatores que fazem parte da vida psíquica: o tempo
e os outros. O tempo para explicar que o funcionamento psíquico se renova ao longo
de toda a vida do individuo, ou seja, o inconsciente é extratemporal. E, por último,
salienta que a vida psíquica está imersa na vida dos outros, estes que nos ligam pela
linguagem, fantasias e afetos, ou seja, o nosso psiquismo prolonga o psiquismo do
outro que nos relacionamos.

4) Questões Epistemológicas e Metodológicas em Psicanálise – dia 25 de março

Este artigo visa destacar alguns elementos de interesse para a epistemologia e


metodologia psicanalítica, que já foram objeto de reflexão sistemática por parte dos
autores. Essas controvérsias questionam o lugar da clínica na enquete psicanalítica.
Eles examinaram quando e de que forma podemos falar sobre enquete em
psicanálise. e pergunte onde essa enquete ocupa dentro da comunidade científica,
principalmente no ambiente universitário. Eles mineraram os fundamentos da
interação da psicanálise com outros campos do conhecimento e os próprios métodos
de enquete psicanalítica. Para Freud, como todos sabemos, a visão de mundo da
psicanálise era uma ciência. Quis mesmo situar a sua disciplina no quadro das
ciências naturais do seu tempo, que pretendiam explicar e contrapor as ciências
humanas que entendiam as ciências do gesto. Por outro lado, há quem acusa os
psicanalistas de praticar "ciências ocultas" (Assoun, 1997). Na verdade, o próprio
Freud, imbuído do conceito de "movimento", pode ter usado a frase Geheimbündler
para evidenciar um psicanalista. Ou seja, um termo que evoca a ideia de pertencer a
uma “organização secreta” (Geheimbünden), uma associação de indivíduos unidos
em torno de um “intento” comum, ou mesmo uma conspiração. A prática
psicanalítica, embora elitista em termos de custos de formação e sua representação
popular mesclada com a do psicólogo, do psiquiatra ou, mais particularmente, com a
do psicoterapeuta, é de domínio público e regulamentado intramuralmente desde
1920; e um século de exposição crítica talvez sem precedentes na história se
contraponha à loucura intelectual que comumente caracterizava, ao lado do lado
elitista, as chamadas ciências secretas. Em última análise, o caminho de Freud
simboliza a insustentabilidade do conhecimento científico.
Pesquisadores psicanalíticos universitários são chamados diariamente a afirmar
suas habilidades analíticas irreparáveis. Sua estrutura é um campo epistemológico
específico e independente com seus próprios problemas e métodos. Por um lado,
deve-se afirmar que a pesquisa em psicanálise, juntamente com o tratamento, é
parte integrante da formação e prática clínica do psicanalista. Por outro lado, é
preciso levar em conta que, na academia a atividade de enquete adquire outros
significados por inúmeras razões: neste caso, ao contrário do que ocorre no quadro
analítico, onde "o psicanalista não explica senão que ele é psicanalista, [... ] você
precisa adicionar especificidade e clareza à sua atividade de enquete” (Berlink &
Magalhães, 1997). Ainda não se avaliou como foi construído o campo psicanalítico
na universidade brasileira, embora se observem que os analistas têm se voltado para
a universidade com interesse crescente acompanhando a estrutura da pós-
graduação que se desenvolveu no Pau-Brasil nos últimos vinte a trinta anos. Este
processo é gradual, mas consistente, ampliou o escopo da psicanálise além do que
normalmente é ensinado nos cursos de graduação em psicologia. Em suma, com os
estudos pós-universitários, a enquete em psicanálise paulatinamente se estabeleceu
dentro da universidade que é tradicionalmente o local de pesquisas relacionadas ao
chamado "ensino superior". A universidade representar uma base privilegiada para a
implementação e funcionamento dessas interações, agregando a dimensão da
pesquisa à pesquisa da psicanálise (pode-se dizer: metapsicologia e clínica) e da
psicanálise (histórico-epistemológica), psicanálise (interações da psicanálise).
Lembro que na universidade Freud pretendia, muito modestamente através de
cursos elementares, a “fecundação [pela psicanálise] de alguns ramos das ciências”
(ele cita: história da literatura, filosofia, mitologia, história das civilizações, da
religião), “criando um vínculo mais estreito, no sentido de uma universitas literarum,
entre a medicina e os ensinamentos reagrupados na filosofia” (Freud, 1913/1984, p.
113). A situação hoje da psicanálise na universidade, que inclui, para além de cursos
elementares, uma prática efetiva de pesquisa, deveria tornar virtualmente mais
próximo o sonho freudiano.

5) A Estrutura da Personalidade – dia 27 de março

Em psicopatologia, a estrutura corresponde a um estado psíquico constituído


pelos elementos psíquico, mórbido ou não ,fundamentais da personalidade, fixados
em um conjunto estável e definitivo.
“Se atiramos ao chão um cristal, ele se parte, mas não em pedaços ao acaso. Ele
se desfaz, segundo linhas de clivagem, em fragmentos cujos limites, embora fossem
invisíveis, estavam predeterminados pela estrutura do cristal”. Freud (1932). Todo
corpo cristalizado é constituído por linhas de estruturação invisíveis reunidas entre si
para formar o corpo total segundo limites, direções e angulações pré-estabelecidas
de forma precisa, fixa e constante para cada corpo em particular. Tais linhas de
clivagem originais e imutáveis definem a estrutura do cristal mineral. Assim, ao
quebrar-se, seguirá essas mesmas linhas de clivagem pré-estabelecidas indica seus
limites, suas direções e angulações até então invisíveis. Freud pensa que o mesmo
aconteceria com a estrutura psíquica, que em situação normal a organização de um
indivíduo se acharia constituída de forma estável, específica e invisível. Uma vez
determinada a estrutura psíquica de um indivíduo, ela jamais mudará.
NEUROSE: o indivíduo não está totalmente preso à sua realidade psíquica, ainda
exerce uma autocrítica e desconfia que haja um incômodo psíquico.
PSICOSE: Na psicose, podemos dizer que o sujeito cria a totalidade ou
fragmentos de um universo paralelo. Por exemplo, ao acreditar que determinadas
alucinações são realidade.
O sujeito de estrutura neurótica não poderá desenvolver senão uma neurose, e o
sujeito de estrutura psicótica senão uma psicose.
O NORMAL: O que é ser normal para Freud? Quando Freud surge, ele define
que o “normal” não passava de uma ficção: não existe normalidade absoluta, essa
definição não passa de um reflexo do ego daquele que dita a normalidade. Ser
normal depende de diversos aspectos sociais e culturais. O que pode ser normal
para um, pode não ser normal para outro.
. Uma personalidade dita “normal” pode, a qualquer momento de sua existência,
entrar em patologia mental, inclusive psicose. Uma pessoa mentalmente doente,
mesmo psicótica. , bem e precocemente tratado, mantém todas as chances de voltar
a uma situação de “normalidade”.
São tantos os termos de passagem, dentro de uma linha - linhagem estrutural
psicótica, entre a “psicose” e uma certa forma de “normalidade” adaptada ao tipo de
estruturação psicótica. Existem também termos para linhagem estrutural neurótica -
entre 'neuroses' e 'normalidade' adaptados à estruturação do tipo neurótico.

6- As Sete Escolas da Psicanálise- 03 de abril

Conforme ZIMERMMAN (2010, p. 41), embora ainda persistam manifestas


querelas narcisistas entre os seguidores das distintas correntes psicanalíticas, em
que cada uma delas arvora-se como representante da “verdadeira psicanálise” e luta
por excluir as demais, a nítida tendência atual consiste em evitar as posições
polarizadas, promover uma formação pluralista de cada analista praticante e
aproveitar as vantagens de pensarmos analiticamente a partir de uma multiplicidade
e diversidade de vértices, muitas vezes convergentes, outras vezes divergentes e até
contraditórias, porém até certo ponto possíveis de serem integradas e reversíveis
entre si.
As principais linhas de evolução da prática psicanalítica podem ser agrupadas a
partir dos trabalhos dos seus principais autores, em sete escolas:
 Escola Freudiana.
 Teóricos das Relações Objetais ( Melanie Klein)
 Psicologia do Ego ( Heinz Hartman)
 Escola Psicologia do Self (Heins Kohut)
 Escola Francesa de psicanalise ( Lacan)
 Escola Winnicotiana.
 Escola de Bion.
O desenvolvimento destas diferentes escolas está intimamente relacionado com
os psicanalistas que, de uma forma ou de outra, aceitaram os postulados
metapsicológicos, teóricos e técnicos elaborados por Freud e legados a seus
imediatos seguidores.
1- Escola Freudiana:
A história da evolução da Psicanálise jamais pode ser separada da figura principal
e marcante de Freud, seu criador.
Nasceu em 1856, em Freiberg, Morávia (Tche-coeslováquia), sendo que aos
seus 4 anos, pressionado por uma ruína econômica, mudou-se com a família para
Viena, onde Freud viveu virtualmente toda a sua vida. O seu pai, Jacob, um
negociante de lã, contava então 41 anos e já tinha dois filhos de um primeiro
casamento quando se casou com Amália, então com 21 anos, tendo nascido o seu
primeiro filho de nome Sigismund (só mais tarde é que ele mudou o seu nome para
Sigmund).
Freud formou-se em medicina com brilhantismo aos 25 anos na Universidade de
Viena, fazendo um longo aprendizado em neurologia.
A clínica Freudiana teve início com o uso de técnicas sugestivas (hipnose). Com o
passar do tempo, Freud abandona a hipnose e passa a utilizar aquilo que denominou
de associação livre, que consiste em expressar livremente as ideias que surgissem
espontaneamente na mente e verbaliza-las ao analista, sem qualquer julgamento.
Essa regra foi aplicada, a principio, com o próprio Freud em sua autoanálise.
A associação livre facilitou muito a constatação das manifestações de repressões
e resistências em seus pacientes. Esta descoberta contribuiu para que Freud fosse
considerado o “Pai da Psicanálise”. Freud concluiu que as barreiras contra o recordar
e associar eram provindas de forças inconscientes, e que funcionavam como
verdadeiras resistências involuntárias. Isto se constituiu como uma marcante ruptura
epistemológica, levando Freud a cogitar que essas resistências correspondiam a
repressões daquilo que estava “proibido de aflorar à consciência”, ou seja, de ser
lembrado.
A partir disso, Freud formulou os alicerces da Teoria e Técnica psicanalítica.
 A descoberta do inconsciente dinâmico como principal motivador da conduta
consciente das pessoas,
 O fenômeno da “livre associação de ideias”,
 A importância dos sonhos como forma de acesso ao inconsciente,
 A sexualidade da criança, estruturada em torno da cena primária e do
complexo de Édipo,
 O fenômeno das resistências e, por conseguinte, das repressões,
 A transferência,
 A presença constante de dualidades no psiquismo tais como: os dois tipos de
pulsões, de vida e morte, o conflito psíquico resultante de forças contrárias,
do consciente versus inconsciente, o princípio do prazer e o da realidade,
entre outras.
Teoria e Metapsicologia: Embora estes dois termos habitualmente sejam
empregados de uma forma quase sinônima, é útil estabelecer uma distinção entre
eles. Assim, “teoria” alude a um conjunto de ideias que objetivam explicar
determinados fenômenos clínicos que podem ou não ser comprovados pela
experiência clínica, enquanto “metapsicologia” (o prefixo grego “meta” quer dizer
“algo muito elevado”) tem uma natureza mais transcendental, serve como ponto de
partida para conjeturas imaginativas, as quais dificilmente poderão ser comprovadas
na realidade. Freud formulou explicitamente apenas três pontos de vista
característicos da metapsicologia (que, carinhosamente, ele chamava de “a bruxa”)
que são o topográfico (consciente, pré-consciente e inconsciente), o dinâmico (id,
ego e superego) e o econômico (quantidade de catéxis libidinal).
Outros expoentes da Escola Freudiana são Karl Abraham, Sandor Ferenczi,
Wilhelm Reich e Anna Freud.
Após a morte de Freud, ficou centrada em Anna Freud. Pode-se considerar como
ponto de destaque na contribuição de Anna Freud à psicanálise, os conceitos
elaborados no seu livro: O ego e os mecanismos de defesa (1936) onde enaltece as
funções do ego, que o próprio Sigmund Freud esboçou, mas não aprofundou. Seus
discípulos viriam a formar a Escola da Psicologia do Ego, e foi em torno de sua
pessoa que a corrente freudiana da Sociedade Psicanalítica Britânica, se moldou.
Anna Freud teve como destaque ainda, seu pioneirismo na psicanálise com crianças,
não obstante o fato da orientação de natureza pedagógica. Houve de sua parte fortes
críticas dirigidas a Melanie Klein, que preconizava a psicanálise com crianças, dentro
do molde estabelecido pelo mais puro rigor psicanalítico.
2- Teóricos das Relações Objetais (Melanie Klein)

Nasceu em Viena, em 1882, em uma família pobre, como a quarta filha de um pai
que então já tinha mais de 50 anos, e ela morreu em Londres, em 1960, com a idade
de 78 anos. Seu pai era médico, um judeu ortodoxo que, a exemplo do pai de Freud,
também era um estudioso do Talmud. A mãe de Melanie era uma mulher bonita e
corajosa, tendo aberto uma loja para ajudar no provento da família. M. Klein sofreu
uma sucessão de severas e traumáticas perdas ao longo de sua vida: quando tinha 5
anos, falece sua irmã Sidonie que lhe ensinava aritmética e assim sempre foi
carinhosamente lembrada por Melanie. Tomara a decisão de ser médica, talvez
influenciada pela vontade de ajudar a seu irmão Emmanuel que sofria de uma
cardiopatia. Quando ela completou 17 anos, tendo em vista projeto de casamento,
ela desistiu do curso pré-médico que começara a cursar e estudou Arte e História,
em Viena. Quando ela tinha 20 anos, morre, com 25 anos, o irmão Emmanuel, que
era pianista e dedicava-se às artes. Com 21 anos, Melanie casou-se com Artur Klein,
um químico, com quem teve três filhos, e de quem veio a separar-se. Em 1934,
morre o seu filho Hans, vitimado por um acidente de alpinismo. Outra perda
importante foi a de uma ruptura pública que a sua filha Mellita, psicanalista, moveu
contra M. Klein, com ataques violentos e que tornaram irreconciliável o afastamento
entre elas.
Este período se caracteriza pela abertura de correntes de pensamento
psicanalítico diversas daquela preconizada por Freud. Essas correntes, embora
estruturadas a partir de fundamentos originados na proposta freudiana, incorporam
novas visões e interpretações que ampliam de forma significativa o saber
psicanalítico. A Escola dos Teóricos das Relações Objetais, com Melanie Klein como
um dos seus maiores representantes, se transforma no berço de uma nova visão da
práxis psicanalítica, ao desenvolver formas diferentes de interpretação dos conceitos
enunciados por Freud, abrindo espaço para a formulação de novas propostas de
trabalho.
A escola kleiniana valoriza fortemente, a existência de um ego primitivo já desde o
nascimento, a fim de que este mobilizasse defesas arcaicas – dissociações,
projeções, negação onipotente, idealização, etc. – para contra-restar às terríveis
ansiedades primitivas advindas da inata pulsão de morte, isto é, da inveja primária,
com as respectivas fantasias inconscientes. M. Klein conservou o complexo de Édipo
como o eixo central da psicanálise, porém o fez recuar para os primórdios da vida,
assim descaracterizando o enfoque triangular edípico, medular da obra freudiana. A
observação dos adultos e o emprego da técnica psicanalítica a induziram a investigar
os estágios iniciais do desenvolvimento infantil. O trabalho dela, tomando como base
a teoria psicanalítica de Freud, foi criar a técnica de brincar com as crianças e,
através do brinquedo, compreendê-las.
Freud desenvolveu sua teoria psicanalítica a partir da observação de adultos,
enquanto Melanie Klein elabora seu pensamento através da observação de crianças.
Melanie Klein considerou, como ponto de partida para o estudo do processo de
desenvolvimento da criança os primeiros três ou quatro meses de vida, enquanto
Freud, considerava esse ponto a partir dos 4 anos. Para Klein a relação objetal é
iniciada com a presença da mãe e a amamentação do bebê, sendo esse um dos
pilares de sua teoria.
Melanie Klein foi pioneira das seguintes concepções originais:
 Criou uma técnica própria de psicanálise com crianças e introduziu o
entendimento simbólico contido nos brinquedos e jogos.
 Postulou a existência de um inato ego rudimentar, já no recém-nascido.
 A pulsão de morte também é inata e presente desde o início da vida sob a
forma de ataques invejosos e sádico-destrutivos contra o seio alimentador da
mãe.
 Essas pulsões de morte, agindo dentro da mente, promovem uma terrível
angústia de aniquilamento.
 Para contra-restar tais angústias terríveis, o incipiente ego do bebe lança mão
de mecanismos de defesa primitivos, como são a negação onipotente,
dissociação, identificação projetiva, identificação introjetiva; idealização e
denegrimento.
 Concebeu a mente como um universo de objetos internos relacionados entre
si através de fantasias inconscientes, constituindo a realidade psíquica.
 Além dos objetos totais, ela estabeleceu os objetos parciais (figuras parentais
representadas unicamente por um mamilo, seio, pênis, etc.)
 Postulou uma constante clivagem ente os objetos (bons x maus; idealizados x
persecutórios) e entre as pulsões (as construtivas, de vida, versus as
destrutivas, de morte).
 Concebeu a noção de posição – conceitualmente diferente de fase evolutiva
– e descreveu as agora clássicas posições esquizo-paranóide e a depressiva.
 Suas concepções acerca dos mecanismos arcaicos do desenvolvimento
emocional primitivo permitiram a análise com crianças, com psicóticos e com
pacientes regressivos em geral.
 Para não ficar descompassada com os princípios ditados por Freud,
conservou as concepções relativas ao complexo de Édipo e ao superego,
porém as realocou em etapas bastantes mais primitivas do desenvolvimento
da criança.
 Juntamente com os ataques sádico-destrutivos da criança, com as
respectivas culpas e conseqüentes medos de retaliadores ataques
persecutórios, postulou a necessidade de a criança, ou o paciente adulto na
situação analítica, desenvolver uma imprescindível capacidade para fazer
reparações.
 Deu extraordinária ênfase à importância da inveja primária, como expressão
direta da pulsão de morte.
 Como decorrência dessas concepções, promoveu uma significativa mudança
na prática analítica no sentido de que as interpretações fossem
sistematicamente transferenciais, mais dirigidas aos objetos parciais, aos
sentimentos e defesas arcaicas do paciente, e com uma ênfase na prioridade
de um analista trabalhar na transferência negativa.

3- Escola da Psicologia do Ego ( Margaret Mahler)

Como muitos outros psicanalistas europeus perseguidos pelo nazismo na época


da Segunda Guerra Mundial, também o austríaco Heinz Hartman migrou para os
Estados Unidos, onde, juntamente com Kris, Loewenstein, Rappaport e Erikson,
fundou a corrente psicanalítica denominada “Psicologia do Ego”. Esses autores
fundamentaram-se nos últimos trabalhos de Freud, particularmente a partir da
formulação da estrutura tripartida da mente – id, ego e superego – e também se
alicerçaram nos trabalhos de A. Freud referentes às funções do ego.
Em boa parte devido ao espírito pragmático dos americanos, os postulados dessa
escola germinaram com muito vigor e frutificaram com os estudos de gerações
posteriores, como os de Edith Jacobson (1954) com os seus trabalhos que
descrevem a existência de um “self psicofisiológico”. Baseados nas idéias dessa
autora, os psicólogos do ego deram um decisivo passo na estruração da ideologia
dessa escola a partir dos trabalhos mais recentes de pesquisa de Margareth Mahler.
Psicanalista de nacionalidade austríaca nasceu em Sopron, na Hungria, em 10 de
maio de 1897, e faleceu em Nova York, EUA, em 2 de outubro de 1985. Formou-se
em medicina em 1922 e, na Áustria, mudou seu foco de interesse da pediatria para a
psiquiatria. Em 1926 iniciou, com Helene Deutsch, sua análise de formação ou
didática. Sete anos depois ela era aceita como analista. Com Anna Freud, ela criou o
primeiro centro de tratamento para crianças em Viena.
Mahler enfatizou a importância e o papel do meio ambiente para o
desenvolvimento da criança. Estava particularmente interessada na dualidade mãe-
bebê e documentou cuidadosamente o impacto das primeiras separações da criança
com relação a sua mãe.
Sua tese principal parte de algumas das hipóteses de Freud, Bleuler e Kamer. A
documentação de sua pesquisa sobre separação-individuação foi a contribuição mais
significativa de Mahler para a psicanálise. Ela repousa na teoria freudiana das
pulsões e dos estágios de desenvolvimento libidinal.
Na teoria de Mahler, o desenvolvimento da criança ocorre por fases:
1. Fase autística, nas primeiras semanas;
2. Fase simbiótica, que dura até uns cinco meses;
3. Fase de separação-individuação (marca o fim da fase anterior).
Suas contribuições ganharam muita relevância, embora alguns considerem que
elas estão mais voltadas para a psicologia do ego do que para a psicanálise
propriamente dita.
De uma forma muitíssimo simplificada, cabe assinalar as seguintes contribuições
provindas da escola da psicologia do ego, principalmente dos trabalhos de Hartmann
(1937) e seguidores imediatos:
 Uma valorização do estudo das funções mentais processadas pelo ego, como
os afetos, memória, percepção, conhecimento, pensamento, ação motora,
etc.
 Uma aproximação com outras disciplinas como a medicina, biologia,
educação, antropologia e psicologia em geral.
 Uma ênfase nos processos defensivos do ego, em particular aqueles que se
referem à neutralização das energias pulsionais sexuais e agressivas, assim
valorizando um enfoque econômico da psicanálise.
 Até Hartmann, as noções de ego e self estavam muito confusas entre si:
devemos a esse autor uma mais clara diferença conceitual entre ego como
instância psíquica encarregada de funções, e self como um conjunto de
representações que determinam o sentimento de “si mesmo”.
 A principal tarefa do ego é o de uma adequada adaptação (não confundir
esse conceito, como fazem muitos, com conformismo ou submissão),
promovendo soluções adaptativas entre as demandas pulsionais e as
imposições da realidade, muito particularmente com uma boa utilização da
capacidade de síntese e de integração por parte do ego.
 Os conceitos de autonomia primária e secundária do ego, as quais aludem a
uma área livre de conflitos e a uma livre utilização das energias que estão à
disposição do ego para fazer frente às exigências do id e do superego.
 Assim, o ego é concebido como uma estrutura que, por sua vez, contém um
certo número de subestruturas, sendo que nem toda energia do ego provém
do id como afirmava Freud, mas, sim, que parte dela é primária e autônoma.
 É útil a concepção de que nem todos conflitos são intersistêmicos; é
necessário distingui-los daqueles que são intra-sistêmicos, e que se
processam entre as distintas subestruturas egóicas.
 O conceito de regressão a serviço do ego, é original de Kris (1952) e
possibilita o entendimento da criatividade artística, assim como, também, dos
estados mentais do analisando no curso do processo analítico.
Mais diretamente em relação à técnica e à prática da psicanálise, no mínimo
devem ser mencionadas as seguintes contribuições por parte de diversos
representantes dessa escola: a noção de R. Sterba (1934) a respeito de uma
dissociação do ego como um processo terapêutico; um importante interesse
pelas defesas e pelos fenômenos que se passam no pré-consciente; a
observação direta de bebês e de criancinhas, pelos estudos como os de R. Spitz
e M. Mahler; as reconhecidas postulações de E. Zetzel (1956) acerca dos
critérios de analisabilidade e, principalmente do estabelecimento de uma aliança
terapêutica.

4- Escola Psicologia do Self (Heins Kohut)

Psiquiatra e psicanalista, Heinz Kohut é considerado como o criador da escola


psicanalítica da Psicologia do Self. Nasceu em Viena, em 1913, onde se formou em
medicina, exercendo a especialidade de neurologia.
 Ele situa como o principal instrumento da psicanálise não o lugar da livre
associação de idéias do analisando, mas, sim, o da Introspecção e o da,
recíproca, Empatia.
 Da mesma forma, Kohut retira o lugar hegemônico do “complexo edípico”, de
Freud, e coloca no seu lugar as falhas dos selfobjetos primitivos (em outras
palavras, ele substitui o “homem culpado” de Freud e M. Klein pelo que ele
considera ser o “homem trágico”).
 Enfocou a importância na prática analítica que processe no paciente uma
internalização transmutadora, que consiste na introjeção da figura do analista
como pessoa e como modelo de função psicanalítica para aqueles pacientes
cujas falhas empáticas dos pais não haviam possibilitado identificações
satisfatórias, nem com a mãe, nem com o pai e, tampouco, com substitutos
destes.
 Nestes casos, forma-se um transtorno do sentimento de identidade, porém
secundário em relação à dificuldade anterior da estruturação do self.
 Os dois conceitos medulares da obra de Kohut são os seus estudos sobre o
self e sobre o narcisismo.
 Na nova visão ao problema de narcisismo, valorizando-o como uma
importante etapa do desenvolvimento.
 Em relação ao self, Kohut postulou duas novas estruturas, ambas de
formação arcaica: o self grandioso (imagem onipotente e perfeita que o
sujeito sente como sendo própria; no caso de uma evolução normal, o self
grandioso vai transformar-se em autoestima, autoconfiança e ambições
próprias) e a imago parental idealizada (diz respeito à imagem primitiva toda
poderosa e perfeita que a criança tem dos pais e que, de alguma maneira, é
sentida como fazendo parte do sujeito).
 Na prática analítica, adquire uma grande utilidade a sua conceitualização de
transferências narcisistas, nas quais o analista é sentido pelo paciente
portador de transtorno narcisista da personalidade como fazendo parte do
sujeito.
 Kohut também alude à necessidade de que se encontre uma necessária
“frustração ótima”, tendo em vista o fato de que esses pacientes, com
facilidade, quando frustrados, entram em um estado mental que ele chama de
“fúria narcisista”.

5- Escola Francesa de psicanalise ( Lacan)

Jacques Marie Emile Lacan nasceu na França, em 1901, e faleceu em 1984.


Provindo de uma família de classe média, ele sempre foi um aluno brilhante, tendo-
se destacado nas disciplinas de filosofia, teologia e latim. Iniciou seus estudos de
medicina em 1920 e, a partir de 1926, especializou-se em psiquiatria, na qual se
interessou particularmente pelo estudo das paranoias.
Revoltado com o crescimento evidenciado nos Estados Unidos da escola da
“Psicologia do Ego”, que Lacan acreditava estar deturpando o real sentido da
psicanálise, resolveu dirigir seus estudos para uma releitura de Freud.
Lacan foi considerado um “rebelde” pelas escolas clássicas de psicanálise de sua
época interrompe sessões ao seu gosto, recebe pessoas a qualquer hora, fica
muitíssimo com um cliente num dia e, no outro, cinco, dez minutos. Come refeições
durante as sessões, anda de um lado para o outro, aceita famílias em análise,
comportamento nada ortodoxo para a época.
São quatro as áreas que Lacan estudou mais profundamente:
 A etapa do espelho, com a imagem do corpo.
 A linguagem.
 O desejo.
 Narcisismo e Édipo.
Dentre as principais contribuições de Lacan para a clinica psicanalítica, tem-se:
 Para Lacan, a análise “não deve ficar reduzida à mesquinharia exclusiva do
mundo interno”.
 Pelo contrário, o analista deve dar uma importância muito especial à palavra
do paciente (que pode ser “cheia” ou “vazia”, de significados), assim mesmo
ele também deve rastrear a “cadeia de significantes” que está contida no
conteúdo, forma e estrutura da “linguagem”.
 Modificações no setting: Ao invés de durar os habituais 50 ou 45 minutos,
para os lacanianos esse tempo “cronológico” foi substituído pelo “tempo
lógico”, que alude ao fato de que o importante é a sessão terminar quando se
processa na mente do analisando o “corte simbólico”, isto é, a passagem do
plano “imaginário” – onde a palavra do paciente é “vazia” e está a serviço de
obstaculizar o acesso à verdade – para o plano do registro simbólico, onde a
palavra deve ser “plena” e realmente a favor da comunicação e das verdades.
 Para Lacan transferência do paciente resulta de uma resposta deste a uma
atitude pré-conceituosa do psicanalista “Sujeito Suposto Saber” (SSS).
 Quanto à contratransferência, Lacan não aceita a possibilidade de que a
mesma possa constituir-se como um importante instrumento técnico.
 Em relação à interpretação, Lacan adverte que o uso sistemático da
interpretação reducionista ao “aqui-agora” pode contribuir para uma fixação
do paciente no registro imaginário, narcisista, com o risco de que ele se
identifique com os desejos do analista.

6- Escola Winnicotiana.

Pediatra e psicanalista, nasceu numa próspera família de Plymouth, na Grã


Bretanha, em 7 de abril de 1896, e morreu em Londres, em 25 de janeiro de 1971.
Donald tinha duas irmãs mais velhas e aos 14 anos foi para um internato.
Posteriormente ingressou na Universidade de Cambridge onde estudou biologia e
depois medicina, inicialmente como pediatra bem-sucedido, cuja especialidade
exerceu durante 40 anos, quando já evidenciava sua preocupação com os aspectos
emocionais de seus pequenos pacientes na interação com as respectivas mães.
Prova disso é que foi nesse período que Winnicott criou os conhecidos jogos da
“espátula” e do “rabisco” (squiggle) que ele praticava com as crianças.

A teoria de Winnicott baseia-se no fato de que a psique não é uma estrutura


preexistente e sim algo que vai se constituindo a partir da elaboração imaginativa do
corpo e de suas funções – o que constitui o binômio psique-soma. Essa elaboração
se faz a partir da possibilidade materna de exercer funções primordiais como o
holding (permite a integração no tempo e no espaço), handling (permite o alojamento
da psique no corpo) e a apresentação de objetos (permite o contato com a
realidade).
Winnicoti se destacou em relação a Freud e outros, pela decisão de estudar o
bebê e sua mãe como uma unidade psíquica, o que lhe permitia observar a sucessão
de mães e bebês e obter conhecimento referente a constelação mãe-bebê, e não
como dois seres puramente distintos. Assim não da para descrever um bebê sem falr
de sua mãe, pois, no inicio, o ambiente é a mãe e apenas gradualmente vai se
transformando em algo externo e separado do bebê. Para Winnicot, o ambiente
facilitador é a mãe suficientemente boa, porque atende ao bebê na medida exata das
necessidades deste, e não de suas próprias necessidades. Esta adaptação da mãe
torna o bebê capaz de ter uma experiência de onipotência e cria a ilusão necessária
a um desenvolvimento saudável.

Aspectos de técnica analítica que aparecem na obra de Winnicot:


 Quando as falhas ambientais precoces são repetitivas, há um congelamento
da situação de fracasso, de modo que a instituição do setting analítico
possibilita uma regressão útil e representa uma possibilidade daquele
fracasso ser reexperimentado com o analista e vir a ser descongelado.
 A admissão pelo analista quanto à possibilidade de que ele desenvolva um
ódio na contratransferência (título de um artigo de1947) representa ser um
importante instrumento técnico, a começar pela coragem de dizer uma
verdade que era eventualmente sentida por qualquer analista experiente com
determinados pacientes, mas que nunca fôra publicada antes dele.
 A importância de que o analista saiba discriminar a distinção que existe entre
aquilo que o paciente manifesto como sendo “necessidades do id” e as
“necessidades do seu ego”.
 Da mesma forma como acontece nos primórdios do desenvolvimento
emocional de uma criança, também nos analisandos há um período de
hesitação, que não deve ser confundida com o clássico conceito de
“resistência”.
 O uso do analista como objeto transicional e o modo de como o paciente
possa utilizá-lo como tal, empresta uma outra dimensão à transferência e à
interpretação.
 A concepção de que, de forma análoga ao que se passa entre a mãe e a
criança, também entre o analista e o analisando, cada um está sendo “criado”
e “descoberto” pelo outro, o que, parece-me, evidencia nitidamente o enfoque
de uma psicanálise vincular, tal como também transparece no “jogo do
rabisco” (squiggle).
 O destaque ao valor positivo da destrutividade, desde que haja a
sobrevivência do objeto simultaneamente amado e atacado.
 A noção de que a não satisfação de uma necessidade pode provocar, não o
ódio, mas sim uma decepção, uma reprodução do fracasso ambiental de
onde se derivou uma interferência na capacidade para desejar, a qual deve
ser resgatada na reexperimentarão emocional com o analista.
 A sua convicção de que com pacientes bastante regressivos vale mais o
“manejo” do analista do que as suas interpretações.
 Toda pessoa apresenta algum grau e tipo de dependência, e cabe ao
analista ajudar o paciente a transitar pelas três fases que caracterizam o
processo de dependência: a absoluta, a relativa e aquela que vai rumo à
independência.

7- Escola de Bion.
Wilfred Ruprecht Bion nasceu em 1897, na Índia (pela circunstância de que seu
pai lá executava, então, um serviço de engenharia de irrigação a mando do Governo
Inglês), onde viveu até os 7 anos e foi sozinho para Londres, a fim de iniciar a sua
formação escolar. Em Londres, ele completou a sua titulação acadêmica tendo-se
formado em medicina e posteriormente fez a sua formação psiquiátrica e
psicanalítica. W. R. Bion morreu com 82 anos, em 08 de novembro de 1979 na
cidade de Oxford, na Inglaterra de leucemia mielóide aguda.
Bion é considerado como sendo um dos poucos gênios da psicanálise. Foi
analisando e discípulo de Klein.
Como esquema didático, podemos dividir a obra de Bion em quatro décadas
distintas:
 a de 40, dedicada aos seus experimentos com grupos;
 a de 50, trabalhou intensamente com pacientes em estados psicóticos, com
os quais se interessou, sobretudo ,pelos distúrbios da linguagem,
pensamento, conhecimento e comunicação;
 nos anos 60 ele aprofundou esses últimos estudos, de modo que essa
década, reconhecida como a mais rica, original e produtiva, pode ser
chamada como a epistemológica;
 na década de 70, por sua vez, é considerada a de predominância mística.
Nesses 40 anos, Bion produziu em torno de 40 títulos importantes, além de
participações em conferências e a coordenação de seminários clínicos.
Das contribuições de Bion, merecem um destaque especial as seguintes:
 Elementos de psicanálise. Bion preconizava a necessidade de substituir o
excesso de teorias que impregnam a psicanálise e substituí-las por “modelos”
e, da mesma maneira, ele propôs uma simplificação por “elementos da
psicanálise”, que, segundo ele, comportam-se de forma análoga às sete
notas musicais simples, ou aos algarismos de 0 a 9, ou ainda às letras do
alfabeto. Os seis elementos psicanalíticos por ele propostos são:
1- Uma permanente interação entre a “posição esquizoparanóide” (PS) e
“depressiva” (D);
2- A identificação projetiva na relação “continente”-“conteúdo”;
3- Os “vínculos” de amor (L), ódio (H) e “conhecimento” (K);
4- As “transformações”;
5- A relação entre idéia (I) e razão (R);
6- A “dor psíquica”.
 Estado da mente do psicanalista: Bion enfatizou que toda a análise é um
processo de natureza vincular entre duas pessoas que vão enfrentar muitas
angústias diante dessas verdades, e isso impõe que o analista possua o que
Bion denomina como condições necessárias mínimas:
1- Um permanente estado de “descobrimento”.
2- Uma capacidade de ser “continente”, aliado a uma “função-alfa”.
3- Uma “capacidade negativa”(ou seja, uma condição de suportar, dentro de
si, sentimentos negativos, como é, por exemplo, o de um “não saber”
4- Uma “capacidade de intuição“.
5- Um “estado de “paciência” e de “empatia”“.
6- A necessidade de que, na situação analítica, a mente do analista não
esteja saturada por memória, desejo e ânsia de compreensão imediata.
7- O reconhecimento de que o analista também é importante como “pessoa
real” e que ele serve como um novo modelo de identificação para o
analisando
 Bion promoveu importantes mudanças na clínica psicanalítica, em especial
com o conceito de atividade interpretativa, que não fica restrita à
decodificação e interpretação da conflitiva inconsciente, mas, sim, adquire um
caráter de promover sucessivas transformações, sempre em direção às
verdades originais, levando o analisando a ser um questionador de si mesmo,
a confrontar uma parte sua com uma outra oposta ou contraditória e assim
por diante.
 Bion evita empregar o termo “cura analítica” – até mesmo porque nunca
existe uma “cura” completa, além de que essa expressão está impregnada
com os critérios da medicina.

7- A Psicanálise Contemporânea – 10 de abril


A Psicanálise comemorou recentemente um século de existência. Nestes 100
anos, acompanhando as modificações que se processaram em todas as áreas
científicas e no pensamento humanístico em geral, também a Psicanálise sofreu, e
vem sofrendo, profundas transformações. . Isso se deve não só ao crescimento do
número de correntes psicanalíticas, mas também pelo fato de que cada uma delas
também vem passando por sucessivas mudanças, desde suas formulações originais.
Em se tratando de prática psicanalítica, muitas concepções, de diferentes autores,
apareceram relativizando as correntes já existentes da psicanálise até os dias atuais,
porém em outras formulações há distorções e/ ou desentendimentos conceituais.
Pensando nisso, Zimerman (1999) propõe uma divisão didática em 3 categorias:
1) A Ortodoxa, 2) A Clássica e 3) A Contemporânea.
1) A Psicanálise Ortodoxa, que caracteriza aquela que foi praticada por Freud,
privilegiava mais o aspecto da investigação dos processos psíquicos. Sendo
que esta foi uma das razões porque os sonhos constituíam o que de mais
precioso o paciente poderia trazer para o analista. O enfoque da análise era
centrado nos proibidos desejos edípico, reprimido no inconsciente. Os objetivos
terapêuticos consistiam na remoção dos sintomas. As sessões eram mais
curtas.
Freud formulou 3 princípios:
1- O neurótico sofre de reminiscências e a cura consiste em rememorá-las
(teoria do "trauma psíquico");
2- Tornar consciente o que é inconsciente (teoria topográfica);
3- Onde houver o ID o Ego deve estar (teoria estrutural).
2) O período da Psicanálise Clássica coincide com a abertura de novas
correntes de pensamento Psicanalítico, possivelmente como uma forma de
criar e preservar uma identidade própria para a Psicanálise. Começa a
transparecer a presença de uma crescente e forte valorização dos aspectos
emocional primitivo. A gama de categorias clínicas consideradas "analisáveis"
foi ampliada para incluir pacientes com estados psicóticos. O foco do maior
interesse do analista passou a ser o da interpretação das emoções arcaicas,
relações objetais parciais e fantasias inconscientes, com as respectivas
ansiedades e defesas primitivas. As análises passaram a ser de duração bem
mais longa, com uma menor rigidez nas regras técnicas. O período clássico
conservou a regra virtualmente absoluta de que só teriam um valor
"verdadeiramente psicanalítico" as interpretações unicamente dirigidas à
"neurose de transferência".
3) A Psicanálise contemporânea, por sua vez prioriza os vínculos emocionais e
relacionais de amor, ódio e conhecimento, que permanentemente permeiam a
dupla analítica. Guarda a semelhança com aquele que caracteriza a primitiva
relação da mãe com seu bebê e vice-versa. Importância à influência da mãe
real, no psiquismo da criança. O conceito de "analisabilidade" começa a ceder
lugar aos critérios de "acessibilidade" do paciente. A Psicanálise começa a abrir
as portas para outras ciências, como a linguística, a teoria sistêmica, as
neurociências, a psicofarmacologia, etologia etc. Para a formação dos
psicanalistas a recomendação é de que conheçam diversos postulados das
diversas escolas de Psicanálise.
Um bom critério para medir as principais transformações da Psicanálise é aquela
que leve em conta a prática clínica, ou seja, que enfoque aqueles aspectos que
podem ser considerados como agentes eficazes de verdadeiras mudanças
terapêuticas.

PARADIGMAS DA PSICANÁLISE

Entendemos por “paradigma”, em psicanálise, um conjunto de postulados teóricos,


com as respectivas regras técnicas e normas de conduta dos psicanalistas que,
visando resolver algo considerado problemático e enigmático para a comunidade
científica, determinam a pauta, amplamente dominante e vigente para certa época,
de como a psicanálise deve ser entendida e praticada. Durante longas décadas
predominou, de forma exclusiva, o paradigma freudiano, com uma absoluta ênfase
no embate entre os desejos pulsionais e as respectivas defesas do ego, aliadas às
ameaças do superego contra eles. Com os teóricos das relações objetais,
notadamente M. Klein, o pêndulo da psicanálise inclinou-se para a importância das
relações objetais, internalizadas, resultantes das pulsões, especialmente as sádico-
destrutivas, ligadas a objetos parciais, acompanhadas por ansiedade de
aniquilamento e defesas do ego extremamente primitivas.
PARADIGMAS DA
PSICANÁLISE FREUD M. KLEIN
Para Freud o “instinto de Para M. Klein, esse instinto
1-Pulsão de morte morte” aludia a uma noção alude aos impulsos sádicos
metapsicológica de uma destrutivos.
“compulsão à repetição de uma
energia psíquica, que tende ao
inanimado, isto é, à morte”,
Freud enfatizou a importância M. Klein parte da noção de
soberana da angústia de que “a parte do instinto de
castração, ligada ao conflito morte que age dentro do
edípico. psiquismo precoce do bebê
2-Tipo de angustia provoca uma terrível sensação
de morte iminente”, à qual ela
denomina de angústia de
aniquilamento.
3 - Mecanismos de Freud valorizou, sobretudo, o M. Klein descreveu as
defesa mecanismo defensivo da defesas primitivas de que o
repressão, além de outras psiquismo do bebê necessita
presentes nos quadros para fazer frente à aludida
paranóides, como a projeção, na angústia de aniquilamento,
psicopatologia das fobias e como são: negação
neuroses obsessivas, como onipotente, dissociação
deslocamento, anulação, (splitting), projeção e
isolamento e formação reativa. identificação projetiva,
introjeção e identificação
introjetiva, idealização e
denegrimento.
4 - Formação do ego. Postulou que o ego formava-se Descreveu a existência de
a partir do id, quando um ego inato (rudimentar),
confrontado com o princípio da porquanto quem processa os
realidade. mecanismos defensivos no
psiquismo é o ego.
5 - Fases e Posições Descreveu as fases do Preferiu a noção de posição,
desenvolvimento libidinal, as que alude mais diretamente a
quais seguem um uma “constelação de pulsões,
desenvolvimento biológico (oral, angústias, defesas, afetos...”,
anal, fálico...) que adquirem configurações
específicas e que se mantêm
presentes ao longo de toda
vida.
6 - Superego Freud postulou que “o Klein entendia que o
superego é o herdeiro direto do superego é de formação
complexo de Édipo”. muitíssimo mais precoce, tem
uma natureza cruel e tirânica e
está intimamente ligado à
pulsão de morte.

Freud situou o início da Klein inverte a equação de


7 – Complexo de formação do complexo de Édipo Freud, afirmando que é Édipo
Édipo por volta dos 3-4 anos de idade quem se forma no rastro do
da criança. superego.
Freud insistiu nas suas teses de Klein deu uma concepção
que a mulher sempre tinha uma mais ampla ligando-a
“inveja do pênis”. Da mesma diretamente às pulsões
forma, Freud não admitia que a destrutivas, de modo que a
meninazinha já tivesse um “inveja do pênis
8 - Sexualidade conhecimento da sua vagina seria secundária à angústia de
(seria, para ela, um pênis castração dos seus genitais,
castrado), devido à fantasia inconsciente
de uma retaliação aos seus
ataques ao corpo da mãe”.
Klein acreditava que existe,
por parte da menina, uma
percepção das sensações
vaginais, e da vagina como um
órgão anatômico seu.
A noção de “narcisismo”, para Para Klein o narcisismo não
Freud consistia no investimento era mais do que uma busca do
9 - Narcisismo da libido no próprio corpo, como objeto idealizado presente na
um autoerotismo, de “sua mente da criança.
majestade, o bebê”.
A posição do analista seguidor A partir de M. Klein, houve
de Freud ficava basicamente uma profunda ruptura desse
centrada na interpretação dos paradigma técnico, passaram a
desejos edípicos, com as interpretar precipuamente as
10 – Repercussão da respectivas ansiedades e defesa fantasias inconscientes mais
Técnica contra a consequente angústia de diretamente ligadas à agressão
castração. e à inveja, assim como
também para o assinalamento
dos mecanismos defensivos os
mais primitivos possíveis;

REPERCUSSÕES NA TÉCNICA
 Função continente
 Parte psicótica da personalidade
 Pacientes de difícil acesso
 Pacientes com cápsula autista
 Comunicação não-verbal
 Significações (Lacan)
 Funções do ego - capacidade de pensar
 Multidimensões do psiquismo
 Negatividade – coisa e não coisa
8- Condições Essenciais do Psicoterapeuta de Crianças e Adolescentes – 15 de
abril
Como se forma um psicoterapeuta de crianças e adolescentes? O que ele deve ter?
Como deve ser?
É a ação desses três elementos, o tratamento pessoal, a supervisão e a teoria, que
surgirão os atributos essenciais para tratarmos desses pacientes. Segundo os
preceitos teóricos da psicanálise, é o que possibilita estarmos mais
instrumentalizados para atender a pacientes em psicoterapia.
Existem atributos que devem ser inerentes aos profissionais que atendem
especificamente crianças e adolescentes e peculiaridades próprias da técnica desse
atendimento.
Ainda que seja certo que o inconsciente é atemporal e habita com a mesma
qualidade a mente de um menino de 5 anos, um rapaz de 15 e um homem de 50
anos, existem diferenças que conferem inegavelmente características diversas na
dinâmica, na técnica e no olhar lançado e, então, nos atributos que o psicoterapeuta
de crianças e adolescentes deve ter.
MAPEAMENTO DO QUE PRECISA PARA A FORMAÇÃO:
 Tratamento pessoal;
 Autorização pessoal, indicando que está em condições de se tornar um
psicoterapeuta;
 Formação específica que garanta conhecimento sobre o “mundo infantil”,
sobre os meandros do desenvolvimento emocional e psicossexual, a
formação da personalidade, o que é esperado para cada idade e a
psicopatologia da infância.
 Conhecer a dinâmica do processo adolescente;
 Ler os autores clássicos e os contemporâneos e estar sempre se atualizando.
 Aprender e internalizar os conceitos de tal modo que a prática seja
espontânea e natural.
 Supervisione sempre, até o momento em que tiver segurança de que não
ficará cegado por conflitos ainda não resolvidos;
 Disponibilidade emocional, interna e temporalmente para estar de fato com as
crianças e os adolescentes;
 Estabelecer um bom vínculo e uma firme aliança terapêutica com o paciente.
 Ser espontâneo ao brincar, ter disponibilidade afetiva e prazer com a
atividade.
 Produzir a capacidade de regredir e de voltar ao normal várias vezes durante
uma mesma sessão, brincando e ao mesmo tempo, entender e trabalhar com
o paciente.
 Trabalhe com o simbólico e o imaginário. A interpretação se dá no próprio
brinquedo;
 Compreenda as modalidades de comunicação não-verbais, paralelas ao uso
das palavras;
 Preserve a capacidade de tolerar o ataque dos pacientes e sobreviva a ele;
 Seja verdadeiro e honesto. Tenha tranquilidade para tratar de assuntos que
podem ser considerados tabus;
 Prepare seu consultório para receber a demanda de pacientes;
 Seja tolerante para suportar que o consultório fique sujo ou bagunçado
durante a sessão psicoterápica;
 Tenha o mesmo desprendimento para situações como ter de limpar uma
criança que urinou ou outra que defecou;
 Avalie sua disposição física;
 Distribua seus pacientes em horários que lhe sejam absolutamente
confortáveis;
 Seja mais compreensivo e maleável ao avaliar situações da realidade de cada
família;
 Dê-se liberdade para ter atitudes mais ativas quando julgar necessário;
 Mantenha a mesma liberdade e flexibilidade para manejar situações
inusitadas;
 Esteja atualizado nos programas jovens e infantis;
 Preveja a participação mais direta de terceiros no setting;
 Conceba uma psicoterapia de crianças e adolescentes somente com a
participação dos pais;
 Tenha um olhar individual e ao mesmo tempo, mais amplo no contato com a
família;
 Conserve a capacidade de ser empático e paciente com a família que está
envolvida, preocupada e, muitas vezes, fazendo um uso inconsciente dessa
criança como um sintoma;
 Permaneça em uma posição de escuta aberta e receptiva;
 Fique atento para a manutenção da neutralidade, resista ao impulso de ser
maternal, super-protetor e professoral;
 Passe pela vivência do método de observação da relação mamãe-bebê,
aprendendo a aceitar e a tolerar que a família encontre suas próprias
soluções. Não entre em competição com eles
 Aceite que não vamos conseguir tratar e ajudar a todos aqueles que nos
buscam;
 Identifique o tipo e a severidade da psicopatologia dos pais;
 Esteja pronto para denunciar casos de abuso e maltrato;
 Suporte situações em que o paciente seja retirado da psicoterapia pelos pais
que não podem ou não querem mais pagar, ou porque acham que
exatamente aquilo que avaliamos como uma melhora ou evolução é uma
piora.
 Trabalhe com os pais a responsabilidade pela condução que eles decidam
dar para a vida do seu filho e as consequências de atos como uma
interrupção, até o limite que eles permitirem. Necessitamos de muita
tolerância para lidar com as resistências da família em relação a melhora do
filho;
 Reflita sobre os processos de identificação e contra identificação, com os
aspectos transferenciais e contratransferências;
 Leve em conta que tratar de crianças e adolescentes exige mais do que o
horário de consultório;
 Informe-se sobre medicações psiquiátricas, que podem ser de grande ajuda,
quando bem avaliados, indicados e acompanhados, mas também, pode ser
um veneno, se todos esses cuidados não forem tomados.
 O trabalho com crianças e adolescentes é muito mais complexo e difícil.
Nessa prática, temos a possibilidade de ver o desabrochar de muitas
potencialidades quando diminuem os sintomas e quando, mesmo com
crianças muito pequenas eles retomam a vertente saudável de suas vidas.
Tornamo-nos psicoterapeutas de crianças e adolescentes aos poucos e,
talvez, nunca terminemos a nossa formação, de modo que possivelmente
sejamos para sempre um vir a ser.

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