Juvencio, DISTRIBUIÇÃO DO ÔNUS DA PROVA COMO GARANTIA AO ACESSO DO TRABALHADOR À JUSTIÇA TRABALHIST
Juvencio, DISTRIBUIÇÃO DO ÔNUS DA PROVA COMO GARANTIA AO ACESSO DO TRABALHADOR À JUSTIÇA TRABALHIST
Juvencio, DISTRIBUIÇÃO DO ÔNUS DA PROVA COMO GARANTIA AO ACESSO DO TRABALHADOR À JUSTIÇA TRABALHIST
RESUMO
O Estado Democrático de Direito exige que o cidadão tenha, além da existência de um órgão
jurisdicional para salvaguardar o seu direito, o acesso adequado à justiça. Na esfera
trabalhista, os mecanismos que asseguram a paridade de oportunidades processuais se tornam
elemento fundamental para o acesso à tutela jurisdicional pretendida, em razão da disparidade
de poderes existentes entre as partes no processo trabalhista. Neste sentido, tem-se como
problema de pesquisa deste trabalho análise do questionamento: como a inversão do ônus da
prova garante o acesso à justiça na seara trabalhista? Expressa-se que este é o objetivo
principal deste trabalho. Utiliza-se, para o estudo da questão, o método dedutivo, por meio da
análise de duas premissas verdadeiras, uma maior e a outra menor, fazendo-se uma relação
lógica entre elas. As pesquisas bibliográficas e documentais consubstanciam os
procedimentos metodológicos. Conclui-se que as inovações trazidas pela Reforma Trabalhista
quanto ao assunto foram essenciais para atribuir mais legitimidade à tomada de decisão do
juízo ao determinar a inversão do ônus da prova.
ABSTRACT
The Democratic State of Law demands that the citizens have adequate access to justice,
besides the existence of a jurisdictional institution to protect their rights. In the labor scenario,
the mechanism which ensure the parity of processual opportunities becomes an essential
element to access to the intended judicial protection, considering the disparity of powers
between the parts in the labor’s process. In this regard, the research problem of the present
1
Mestranda em Direito no Centro Universitário "Eurípedes de Marília" - UNIVEM. Bolsista CAPES/PROSUP
na modalidade Auxílio para Pagamento de Taxas. Bacharela em Direito pelo Centro Universitário "Eurípedes de
Marília" - UNIVEM (2018) e em Relações Internacionais pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho - UNESP (2012). Advogada atuante na Área Trabalhista. Contato: [email protected]
2
Possui Mestrando em Direito pelo Programa de Estudo Pós-Graduado em Direito - Mestrado, do Centro
Universitário Eurípedes de Marília - UNIVEM. Bolsista CAPES/PROSUP na modalidade Auxílio para
Pagamento de Taxas. Graduado em Direito pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos -
Uni-FIO. Advogado. E-mail: [email protected]
Anais do Congresso Brasileiro de Processo Coletivo e Cidadania, n. 7, p. 1400-1413, out/2019 ISSN 2358-1557
1401
study is to analyze the question: how does the inversion of the burden of proof guarantees the
access of the workers to the labor justice? The search to answer this question is the main
objective of the article. Thus, the study utilizes the deductive method, by analyzing two
correct premises, a major and a minor, correlating them logically. The methodological
procedure adopted by the study is the bibliographical and documental research. In conclusion,
it is verified that the innovations brought by the Labor Reform regarding this aspect were
beneficial for allocating more legitimacy the judge’s decision making when determining the
inversion of the burden proof.
INTRODUÇÃO
Anais do Congresso Brasileiro de Processo Coletivo e Cidadania, n. 7, p. 1400-1413, out/2019 ISSN 2358-1557
1402
Anais do Congresso Brasileiro de Processo Coletivo e Cidadania, n. 7, p. 1400-1413, out/2019 ISSN 2358-1557
1403
Tendo-se a prova como “todo elemento trazido ao processo para contribuir com a
formação do convencimento do juiz a respeito da veracidade das alegações concernentes aos
fatos da causa” (CÂMARA, 2016, p. 223). Em relação a sua produção, existe o encargo de se
provar o fato que, se não feito, pode gerar uma consequência àquele que caberia trazer o
conteúdo probatório ao processo. Este encargo é denominado de ônus da prova.
Em regra, o ônus probatório é atribuído à parte que alega os fatos, ou seja, a parte
tem o encargo de comprovar a existência ou inexistência dos fatos que forem
controvertidos no processo, buscando a convicção do magistrado para que este,
aplicando as normas legais cabíveis, julgue a causa a seu favor (BATISTA, 2014, p.
7).
Nesta concepção, demonstra-se que visão subjetiva não está totalmente superada,
apenas integra parte menor do protagonismo do ônus probatório. O aspecto subjetivo somente
tem relevância para a decisão do julgador se este for obrigado a aplicar o ônus da prova no
aspecto objetivo, isto é, perante a ausência ou insuficiência de provas, deverá indicar qual
parte detinha o ônus da prova e colocá-la em uma situação de desvantagem processual
(NEVES, 2019, p. 717.
Anais do Congresso Brasileiro de Processo Coletivo e Cidadania, n. 7, p. 1400-1413, out/2019 ISSN 2358-1557
1404
Como expresso acima, o ônus da prova é, em regra, de quem alega. Deste modo,
se o juiz verificar que alguma alegação não está suficientemente provada, deverá proferir
decisão adversa a que tenha feito, alegar e não provar é o mesmo que não alegar, advindo da
expressão latina allegatio et non probatio, quase non allegio (CÂMARA, 2016, p. 233).
Entretanto, haverá casos em que a lei não atribui o ônus da prova ao que faz a
alegação, mas à parte contrária, levando o julgador a decidir, em caso de insuficiência de
prova, a favor daquele que tenha feita a alegação (CÂMARA, 2016, p. 233). É o caso de
inversão do ônus da prova.
A inversão do ônus da prova pela lei (inversão legal), pela decisão judicial
(inversão judicial) e, no que concerne ao processo civil, pela convenção das partes (inversão
convencional). “A inversão legal vem prevista expressamente em lei, não exigindo o
preenchimento dos requisitos legais no caso concreto” (NEVES, 2019, p. 720). Os exemplos
mais notórios estão dispostos no Código de Defesa do Consumidor brasileiro. No caso de
inversão por força de lei, poderia nem haver uma verdade inversão, como demonstra Neves:
Há, em sede de processo civil, a inversão convencional, que poderá ocorrer antes
ou durante o processo, nos termos que prescreve o § 4º do art. 373, do Código de Processo
Civil (NEVES, 2019, p. 720). No que concerne à inversão convencional, Cury complementa:
Já a inversão por decisão judicial, é uma forma que já vem tendo tratamento
adequado no Código de Defesa do Consumidor, mas começou a ganhar peso na sistemática
processual (CÂMARA, 2016, p. 234). Com estudo específico relacionado ao processo civil,
Neves conceitua a inversão judicial:
Anais do Congresso Brasileiro de Processo Coletivo e Cidadania, n. 7, p. 1400-1413, out/2019 ISSN 2358-1557
1405
A partir da previsão do § 1º do art. 373 do CPC, a inversão judicial, que ocorre por
meio de prolação de uma decisão judicial, que será fruto de análise do
preenchimento dos requisitos legais, passou a ser regra geral do Direito, de forma
que em toda relação jurídica de direito material levada a juízo será possível essa
inversão em aplicação da teoria, agora consagrada legislativamente, da distribuição
dinâmica da prova (NEVES, 2019, p. 721).
A inversão judicial será feita quando o juiz averiguar que o encargo está sobre
uma parte que não tem condições de produzir a prova, por ser impossível ou excessivamente
difícil consegui-la (CÂMARA, 2016, p. 234). Apesar de, somente poder ser realizada quando
existir lei autorizadora, ela não se confunde com a forma legal de inversão, pois nesta a
inversão ocorre naturalmente desta, e, naquela, a inversão ocorre pela permissão legal, como
esclarece Cury:
Note-se, porém, que, nada obstante a inversão judicial do ônus da prova dependa de
previsão legal expressa que a permita, não pode ser confundida com a inversão
legal, já que, nesta última, a inversão decorre direta e automaticamente do texto
legal (ope legis), ao passo que, na primeira, fica dependente de análise subjetiva do
juiz, necessitando, pois, de decisão judicial que a efetive (opejudicis). Em síntese: na
inversão judicial a lei não inverte, de per si, o onusprobandi, senão apenas permite
que o juiz o faça (CURY, 2018).
Anais do Congresso Brasileiro de Processo Coletivo e Cidadania, n. 7, p. 1400-1413, out/2019 ISSN 2358-1557
1406
A antiga redação do art. 818 da CLT, no nosso entendimento, não era completa, e
por si só é de difícil interpretação e também aplicabilidade prática, pois, como cada
parte tem de comprovar o que alegou, ambas as partes têm o encargo probatório de
todos os fatos que declinaram, tanto na inicial, como na contestação. (SCHIAVI,
2017, p. 18).
Anais do Congresso Brasileiro de Processo Coletivo e Cidadania, n. 7, p. 1400-1413, out/2019 ISSN 2358-1557
1407
Anais do Congresso Brasileiro de Processo Coletivo e Cidadania, n. 7, p. 1400-1413, out/2019 ISSN 2358-1557
1408
horas extraordinárias ao empregador, sob pena de ser aceita a jornada alegada na inicial
(PEREIRA, 2013, p. 504-505).
No mesmo sentido, a Súmula nº 212 do TST encarrega o empregador de
comprovar o término do contrato de trabalho, pois, sem prova em contrário, presume-se a
continuidade da relação de emprego (PEREIRA, 2013, p. 505).
As hipóteses acima mencionadas, apesar de se configurarem como inversão do
ônus da prova, ainda se classificam como distribuição estática do ônus da prova, uma vez que
as regras quanto à distribuição do onusprobandi já estavam previamente dispostas no
ordenamento jurídico.
Acerca dadistribuição dinâmica do ônus da prova, essa também já era aceita pela
doutrina e jurisprudência trabalhista em razão do princípio da aptidão da prova, autorizando o
juízo a atribuir o ônus da prova ao reclamado quando entender que o reclamante possui muita
dificuldade para produzir a prova do fato constitutivo de seu direito.
Sobre o tema, sustenta Melo:
O fato é que a teoria das cargas probatórias dinâmicas já há muito tempo vem
sendoadotada pela comunidade juslaboral, seja pela doutrina, seja pela
jurisprudência dostribunais. Isso significa dizer que a Justiça do Trabalho, desde os
anos idospós-revolucionários, sempre foi vanguardista no tratamento da dinâmica do
ônusprobatório, uma decorrência – evolutiva natural – da exigência cotidiana
material dosvínculos empregatícios ao se perceber que o sujeito vulnerável desses
vínculos éjustamente o empregado (MELO, 2017, p. 9)
Anais do Congresso Brasileiro de Processo Coletivo e Cidadania, n. 7, p. 1400-1413, out/2019 ISSN 2358-1557
1409
Constituição Federal. Isso significa que, não obstante a liberdade de condução do processo
pelo magistrado, estes três princípios constitucionais devem ser especialmente observados.
Conforme leciona Bezerra Leite:
Parece-nos, porém, que por ser regra de julgamento, cabe ao juiz, na sentença,
fundamentar (CF, art. 93, IX) a respeito de quem era o onusprobandi, informando,
inclusive, a razão que o levou a inverter o ônus probatório. Afinal, tal declaração,
além de atender ao princípio da fundamentação das decisões judiciais, encontra-se
em sintonia com os princípios do devido processo legal e da ampla defesa (LEITE,
2011, p. 603)
Anais do Congresso Brasileiro de Processo Coletivo e Cidadania, n. 7, p. 1400-1413, out/2019 ISSN 2358-1557
1410
Anais do Congresso Brasileiro de Processo Coletivo e Cidadania, n. 7, p. 1400-1413, out/2019 ISSN 2358-1557
1411
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
Anais do Congresso Brasileiro de Processo Coletivo e Cidadania, n. 7, p. 1400-1413, out/2019 ISSN 2358-1557
1412
BRASIL JR., Samuel Meira; CUNHA, Gabriel Sardenberg. Inversão do ônus da prova e o
código de processo civil de 2015: retrato da distribuição dinâmica. Revista de Processo, vol.
283/2018, p. 257 – 284, set. 2018 Disponível em:
https://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/resultList/document?&src=rl&srguid=i0ad6a
dc60000016da88e2efb02021e91&docguid=Ia60e9f8097ae11e8aa89010000000000&hitguid=
Ia60e9f8097ae11e8aa89010000000000&spos=29&epos=29&td=30&context=159&crumb-
action=append&crumb-
label=Documento&isDocFG=false&isFromMultiSumm=&startChunk=1&endChunk=1.
Acesso em: 07 out. 2019.
CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro – 2. ed. – São Paulo: Atlas,
2016.
CURY, Augusto Jorge. Decisão sobre ônus da prova: o momento adequado à sua inversão
judicial. Revista de Processo, São Paulo, vol. 277/2018, p. 79-110, mar. 2018. Disponível
em:
https://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/resultList/document?&src=rl&srguid=i0ad6a
dc60000016da88e2efb02021e91&docguid=Iefafb0800e1911e8af97010000000000&hitguid=I
efafb0800e1911e8af97010000000000&spos=25&epos=25&td=30&context=101&crumb-
action=append&crumb-
label=Documento&isDocFG=false&isFromMultiSumm=&startChunk=1&endChunk=1.
Acesso em: 06 out. 2019.
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho – 9ª ed. – São
Paulo: LTr, 2011.
MELO, Gabriela Fonseca de. A dinamização do ônus da prova: uma via certa à obtenção da
tutela jurisdicional trabalhista plena. Revista de Direito do Trabalho, São Paulo, v.
181/2017, p. 45-70, set. 2017. Disponível em:
https://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/resultList/document?&src=rl&srguid=i0ad6a
dc50000016db1b4e5df7e1df6f8&docguid=I6d0bbc308e4611e781ed010000000000&hitguid=
Anais do Congresso Brasileiro de Processo Coletivo e Cidadania, n. 7, p. 1400-1413, out/2019 ISSN 2358-1557
1413
I6d0bbc308e4611e781ed010000000000&spos=1&epos=1&td=1&context=27&crumb-
action=append&crumb-
label=Documento&isDocFG=true&isFromMultiSumm=true&startChunk=1&endChunk=1.
Acesso em: 09 out. 2019.
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Código de Processo Civil comentado – 4. ed. rev. e
atual. – Salvador: ed. JusPodivm, 2019.
PEREIRA, Leone. Manual de Processo do Trabalho– 2ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2013.
Submetido em 10.10.2019
Aceito em 15.10.2019
Anais do Congresso Brasileiro de Processo Coletivo e Cidadania, n. 7, p. 1400-1413, out/2019 ISSN 2358-1557