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Nasce Uma CRÔNICA Luis Fernando Veríssimo

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Crônica de Luis Fernando Veríssimo para ler e apreciar!

“Nasce uma crônica”

A moça era bonita, se chamava Fabíola e me perguntou como nascia uma crônica. Entre outras coisas. Ela
era repórter do jornal da Universidade de Ouro Preto e estava me entrevistando, uma tarefa que eu não desejo a
ninguém, enquanto uma câmera de TV gravava tudo.

Dei a resposta de sempre. Qualquer coisa pode originar uma crônica. Às vezes há um assunto em
evidência que você é obrigado a comentar, às vezes é uma coisa, assim, impressionista, às vezes é pura invenção,
uma frase que sugere uma história, ou um cheiro no ar, ou um incidente banal. Os mistérios, enfim, da criação.
Etcétera, etcétera. Não há vezes em que as ideias simplesmente não vêm? Há, há. Acontece muito.

Com os anos as ideias parecem que vão ficando cada vez mais longe, enquanto o seu poder de convocá-
las diminui. Você chama e elas não se aproximam. Você grita por socorro e elas continuam longe, lixando as
unhas. Você espreme o cérebro e não pinga nada. E hoje nenhum cronista que se respeite pode recorrer ao velho
truque de, não tendo assunto, escrever sobre a falta de assunto. Ou desperdiçar papel caro e o tempo do leitor
com um parágrafo inteiro só de introdução.

Terminada a entrevista, a moça tira um livro meu da sua bolsa. Vai pedir meu autógrafo. Mas ela mesma
usa a caneta para escrever alguma coisa no livro antes de passá-lo para mim. Estranho. Ela está me dando meu
próprio livro autografado por ela? Leio o que ela escreveu: "Luis: a sua braguilha está aberta".

A minha braguilha estava aberta. Passeei por Ouro Preto e dei toda a entrevista com o zíper da calça
aberto. Aquela situação em que, na infância - no meu caso, pré-zíper -, nossas mães avisavam que o passarinho
poderia fugir. Felizmente, meu passarinho já se resignou ao seu lugar. Nada de mais apareceu, a não ser que a
câmera tenha flagrado algo. E eu disse para a Fabíola que ali estava um exemplo de como nasce uma crônica. Eu
fatalmente usaria aquilo, num dia de ideias distantes.

Crônica de Luis Fernando Veríssimo para ler e apreciar!


“Nasce uma crônica”

A moça era bonita, se chamava Fabíola e me perguntou como nascia uma crônica. Entre outras coisas. Ela
era repórter do jornal da Universidade de Ouro Preto e estava me entrevistando, uma tarefa que eu não desejo a
ninguém, enquanto uma câmera de TV gravava tudo.

Dei a resposta de sempre. Qualquer coisa pode originar uma crônica. Às vezes há um assunto em
evidência que você é obrigado a comentar, às vezes é uma coisa, assim, impressionista, às vezes é pura invenção,
uma frase que sugere uma história, ou um cheiro no ar, ou um incidente banal. Os mistérios, enfim, da criação.
Etcétera, etcétera. Não há vezes em que as ideias simplesmente não vêm? Há, há. Acontece muito.

Com os anos as ideias parecem que vão ficando cada vez mais longe, enquanto o seu poder de convocá-
las diminui. Você chama e elas não se aproximam. Você grita por socorro e elas continuam longe, lixando as
unhas. Você espreme o cérebro e não pinga nada. E hoje nenhum cronista que se respeite pode recorrer ao velho
truque de, não tendo assunto, escrever sobre a falta de assunto. Ou desperdiçar papel caro e o tempo do leitor
com um parágrafo inteiro só de introdução.

Terminada a entrevista, a moça tira um livro meu da sua bolsa. Vai pedir meu autógrafo. Mas ela mesma
usa a caneta para escrever alguma coisa no livro antes de passá-lo para mim. Estranho. Ela está me dando meu
próprio livro autografado por ela? Leio o que ela escreveu: "Luis: a sua braguilha está aberta".

A minha braguilha estava aberta. Passeei por Ouro Preto e dei toda a entrevista com o zíper da calça
aberto. Aquela situação em que, na infância - no meu caso, pré-zíper -, nossas mães avisavam que o passarinho
poderia fugir. Felizmente, meu passarinho já se resignou ao seu lugar. Nada de mais apareceu, a não ser que a
câmera tenha flagrado algo. E eu disse para a Fabíola que ali estava um exemplo de como nasce uma crônica. Eu
fatalmente usaria aquilo, num dia de ideias distantes.
Crônica de Luis Fernando Veríssimo para ler e apreciar!
“Nasce uma crônica”

A moça era bonita, se chamava Fabíola e me perguntou como nascia uma crônica. Entre outras coisas. Ela
era repórter do jornal da Universidade de Ouro Preto e estava me entrevistando, uma tarefa que eu não desejo a
ninguém, enquanto uma câmera de TV gravava tudo.

Dei a resposta de sempre. Qualquer coisa pode originar uma crônica. Às vezes há um assunto em
evidência que você é obrigado a comentar, às vezes é uma coisa, assim, impressionista, às vezes é pura invenção,
uma frase que sugere uma história, ou um cheiro no ar, ou um incidente banal. Os mistérios, enfim, da criação.
Etcétera, etcétera. Não há vezes em que as ideias simplesmente não vêm? Há, há. Acontece muito.

Com os anos as ideias parecem que vão ficando cada vez mais longe, enquanto o seu poder de convocá-
las diminui. Você chama e elas não se aproximam. Você grita por socorro e elas continuam longe, lixando as
unhas. Você espreme o cérebro e não pinga nada. E hoje nenhum cronista que se respeite pode recorrer ao velho
truque de, não tendo assunto, escrever sobre a falta de assunto. Ou desperdiçar papel caro e o tempo do leitor
com um parágrafo inteiro só de introdução.

Terminada a entrevista, a moça tira um livro meu da sua bolsa. Vai pedir meu autógrafo. Mas ela mesma
usa a caneta para escrever alguma coisa no livro antes de passá-lo para mim. Estranho. Ela está me dando meu
próprio livro autografado por ela? Leio o que ela escreveu: "Luis: a sua braguilha está aberta".

A minha braguilha estava aberta. Passeei por Ouro Preto e dei toda a entrevista com o zíper da calça
aberto. Aquela situação em que, na infância - no meu caso, pré-zíper -, nossas mães avisavam que o passarinho
poderia fugir. Felizmente, meu passarinho já se resignou ao seu lugar. Nada de mais apareceu, a não ser que a
câmera tenha flagrado algo. E eu disse para a Fabíola que ali estava um exemplo de como nasce uma crônica. Eu
fatalmente usaria aquilo, num dia de ideias distantes.

Crônica de Luis Fernando Veríssimo para ler e apreciar!


“Nasce uma crônica”

A moça era bonita, se chamava Fabíola e me perguntou como nascia uma crônica. Entre outras coisas. Ela
era repórter do jornal da Universidade de Ouro Preto e estava me entrevistando, uma tarefa que eu não desejo a
ninguém, enquanto uma câmera de TV gravava tudo.

Dei a resposta de sempre. Qualquer coisa pode originar uma crônica. Às vezes há um assunto em
evidência que você é obrigado a comentar, às vezes é uma coisa, assim, impressionista, às vezes é pura invenção,
uma frase que sugere uma história, ou um cheiro no ar, ou um incidente banal. Os mistérios, enfim, da criação.
Etcétera, etcétera. Não há vezes em que as ideias simplesmente não vêm? Há, há. Acontece muito.

Com os anos as ideias parecem que vão ficando cada vez mais longe, enquanto o seu poder de convocá-
las diminui. Você chama e elas não se aproximam. Você grita por socorro e elas continuam longe, lixando as
unhas. Você espreme o cérebro e não pinga nada. E hoje nenhum cronista que se respeite pode recorrer ao velho
truque de, não tendo assunto, escrever sobre a falta de assunto. Ou desperdiçar papel caro e o tempo do leitor
com um parágrafo inteiro só de introdução.

Terminada a entrevista, a moça tira um livro meu da sua bolsa. Vai pedir meu autógrafo. Mas ela mesma
usa a caneta para escrever alguma coisa no livro antes de passá-lo para mim. Estranho. Ela está me dando meu
próprio livro autografado por ela? Leio o que ela escreveu: "Luis: a sua braguilha está aberta".

A minha braguilha estava aberta. Passeei por Ouro Preto e dei toda a entrevista com o zíper da calça
aberto. Aquela situação em que, na infância - no meu caso, pré-zíper -, nossas mães avisavam que o passarinho
poderia fugir. Felizmente, meu passarinho já se resignou ao seu lugar. Nada de mais apareceu, a não ser que a
câmera tenha flagrado algo. E eu disse para a Fabíola que ali estava um exemplo de como nasce uma crônica. Eu
fatalmente usaria aquilo, num dia de ideias distantes.

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