Viana Gil 2018

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Flora of the canga of Serra dos Carajás, Pará, Brazil: Cannabaceae

Article in Rodriguesia · March 2018


DOI: 10.1590/2175-7860201869105

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2 authors:

Pedro Lage Viana André dos Santos Bragança Gil


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Rodriguésia 69(1): 049-051. 2018
http://rodriguesia.jbrj.gov.br
DOI: 10.1590/2175-7860201869105

Flora das cangas da Serra dos Carajás, Pará, Brasil: Cannabaceae


Flora of the canga of Serra dos Carajás, Pará, Brazil: Cannabaceae

Pedro Lage Viana1,2 & André dos Santos Bragança Gil1

Resumo
A família Cannabaceae é representada nas cangas da Serra dos Carajás por uma espécie, Trema micrantha.
A espécie é frequente nas formações florestais da região, e foi registrada em canga e áreas de transição,
com capões de mata associados. O presente estudo contém descrições morfológicas, ilustrações, dados de
distribuição geográfica e comentários taxonômicos para a espécie tratada.
Palavras-chave: FLONA Carajás, Rosales, taxonomia, Trema.
Abstract
The family Cannabaceae is represented in the canga of Serra dos Carajás by one species, Trema micrantha.
The species is common in the forests of the region and was recorded in canga and in transitional areas with
associated forest patches. This study brings morphological description, illustration, geographical distribution
and taxonomic comments for the species treated.
Key words: FLONA Carajás, Rosales, taxonomy, Trema.

Cannabaceae dos Carajás, há registros de ambos os gêneros,


Cannabaceae Martinov é amplamente sendo que nos ambientes de canga apenas Trema
distribuída no mundo, ocorrendo em diferentes foi até então registrado.
ecossistemas, incluindo zonas tropicais a
temperadas de todos os continentes, com exceção 1. Trema Lour.
da Antártica (Stevens 2001; Yang et al. 2013). Na Trema apresenta 12 espécies reconhecidas,
atual circunscrição (Sytsma et al. 2002; Yang et al. amplamente distribuídas nas regiões tropicais
2013; APG IV 2016), a família está inserida em e quentes do mundo (Yang et al. 2013). Nas
Rosales estando representada por 10 gêneros e ca. Américas ocorrem de quatro a cinco espécies,
110 espécies, com ampla diversidade morfológica desde o sul dos Estados Unidos até a Argentina
(Yang et al. 2013). Representantes da família (Torres & Luca 2006), sendo que apenas uma
podem ser ervas, lianas, arbustos ou árvores com espécie ocorre no Brasil, distribuída em todos
folhas simples ou digitadas, geralmente alternas os estados e domínios fitogeográficos (BFG
(opostas em Lozanella Greenm., alternas e opostas 2015). O gênero apresenta espécies arbóreas
em Cannabis L. e Humulus L.). Características ou arbustivas, monoicas, dioicas ou polígamas,
florais que circunscrevem Cannabaceae incluem com ramos inermes e flexuosos. Suas folhas
flores unissexuadas, não vistosas, com estames são alternas, dísticas, de margem serreada,
antetépalos e filetes livres, discretamente adnatos raramente inteiras, com estípulas livres, laterais
às tépalas (Yang et al. 2013). A família inclui e caducas. As inflorescências são axilares,
espécies de importância econômica, como em fascículos, cimeiras ou flor solitária. As
o cânhamo (Cannabis sativa L.) e o lúpulo flores podem ser unissexuadas ou bissexuadas
(Humulus lupulus L.). No Brasil, Cannabaceae (raro), monoclamídeas, pediceladas, com (4–)5
está representada pelos gêneros Celtis L. (8 tépalas, unidas na base, (4–)5 estames, muitas
espécies) e Trema Lour. (1 espécie) (BFG 2015), vezes, ausentes nas flores pistiladas, filetes
os gêneros mais ricos e amplamente distribuídos proximalmente adnatos as tépalas, e ovário
da família (Yang et al. 2013). Na região da Serra séssil, 1-locular, reduzidos ou ausentes nas flores

1
Museu Paraense Emílio Goeldi - MPEG, Campus de Pesquisa, Coord. Botânica - COBOT. Av. Perimetral 1901, Terra Firme, 66077-830, Belém, PA, Brasil.
2
Autor para correspondência: [email protected]
50 Viana PL & Gil ASB
estaminadas, com dois estiletes persistentes, cimeiras, axilares, 0,6–2 cm compr., congestas a
conatos na base. Seus frutos são drupas, ovoides laxas; bractéolas ca. 1 mm compr., lanceoladas,
a subglobosas, com tépalas persistentes (adaptado externamente pubescentes a vilosas. Flores
de Burger 1977; Todzia 1993; Miller & Berry unissexuadas, esverdeadas a cremes, tépalas
2005; Pederneiras et al. 2011). 5, ovadas a lanceoladas, naviculares, 1,8–2 ×
0,7–1 mm, vilosas e escabrosas externamente;
2. Trema micrantha (L.) Blume, Mus. Bot. 2: 58. flor masculina globosa em botão, estames 5,
1856. Fig. 1a-e alvos, filetes 0,8–1,1 mm compr., anteras rimosas,
Árvore ou arbusto, monoico, 1,5–10 m alt.; 0,7–0,8 mm compr., pistiloide < 1 mm compr.,
ramos distalmente pubescentes a vilosos. Estípulas amarelo-esverdeado, oblongoide, tomentoso
2,5–6 × 0,7–1 mm, lanceoladas, externamente na base; flor feminina ovalada, ovário ovoide,
vilosas. Folhas levemente discolores, trinervadas, estiletes 0,9–1,4 mm compr., alvos, plumosos,
pecíolo 4–11 × 0,8–1 mm, viloso, adaxialmente persistentes no fruto, estaminódios ausentes;
canaliculados, lâmina 5–17 × 2–5,5 cm, oval- flor bissexuada não vista. Fruto drupa, ovoide
lanceolada, às vezes ovada, base obtusa a oblíqua, a globosa, 2–3 × 1,9–2,6 mm, alaranjada ou
face adaxial glabrescente a esparsamente vilosa, vermelha, verde quando imatura.
escabrosa, nervuras impressas, face abaxial Material selecionado: Parauapebas, N5, 5 km West
glabrescente a vilosa, escabrosa a aveludada, of AMZA Camp, 6°04’S, 50°10’, 15.V.1982, fr., C.R.
nervuras proeminentes, ápice agudo a longo- Sperling et al. 5676 (MG, MO, NY); Trilha da Lagoa
acuminado, margem serreada. Inflorescências em da Mata, 13.I.2017, fl. e fr., E.S. Brito et al. 939 (MG).

a b

c d e
Figura 1 – Trema micrantha – a. ramo florífero; b. detalhe da inflorescência, com flores masculinas e frutos evidentes;
c. flor masculina, imatura; d. flor masculina, madura; e. frutos imaturos (a,c-d. E.S. Brito 939, fotos: P.L. Viana; b,e.
K.C.J. Rocha 58, fotos: A.O. Simões).
Figure 1 – Trema micrantha – a. flowering branch; b. detail of inflorescence, showing male flowers and fruits; c. immature male flower;
d. mature male flower; e. immature fruits (a,c-d. E.S. Brito 939, photos: P.L. Viana; b,e. K.C.J. Rocha 58, photos: A.O. Simões).

Rodriguésia 69(1): 049-051. 2018


Cannabaceae de Carajás 51

Trema micrantha pode ser facilmente Referências


reconhecida dentre as espécies da flora das cangas APG IV (2016) An update of the Angiosperm Phylogeny
de Carajás pelo porte arbóreo ou arbustivo, folhas Group classification for the orders and families of
simples, alternas, dísticas, levemente discolores, flowering plants: APG IV. Botanical Journal of the
com margens serreadas. Suas inflorescências Linnean Society 181: 1-20.
são cimeiras axilares e curtas (até 2 cm compr.), Burger W (1977) Ulmaceae, Moraceae, Cannabaceae,
com flores discretas, de esverdeadas a cremes, Urticaceae. In: Burger WC (ed.). Flora costaricensis.
unissexuadas, as femininas maturam antes das Fieldiana, Botany 40: 83-291.
masculinas. Torres & Luca (2006) e Machado BFG - The Brazil Flora Group (2015) Growing knowledge:
& Silva (2017) registram flores bissexuadas na an overview of seed plant diversity in Brazil.
espécie, entretanto nos matérias examinados para Rodriguésia 66: 1085-1113.
a área de estudos, apenas flores unissexuadas Miller JS & Berry PE (2005) Ulmaceae. In: Berry PE,
foram observadas. Yatskievych K & Holst BK (ed.) Flora of the
Espécie de ampla distribuição no Neotrópico, Venezuelan Guayana. Vol. 9. Missouri Botanical
Garden Press, St. Louis. Pp. 386-390.
ocorrendo em formações florestais do México à
Pederneiras LC, Costa AF, Araujo DSD & Carauta JPP
Argentina (Miller & Berry 2005). Segundo
(2011) Ulmaceae, Cannabaceae e Urticaceae das
Machado & Silva (2017) é a única espécie do restingas do estado do Rio de Janeiro. Rodriguésia
gênero ocorrente no Brasil, com registros para 62: 299-313.
todas as regiões e domínios fitogeográficos. Nas Stevens PF [2001 onward]. Angiosperm phylogeny website.
cangas da Serra dos Carajás, foi coletada na Serra Version 12, July 2012 [and more or less continuously
Norte: N5, em bordas de capões e transição com updated since]. Disponível em <http://www.mobot.org/
ambientes florestais. Fora das áreas de canga MOBOT/research/APweb/>. Acesso em 5 abril 2017.
é frequente em bordas de florestas, beiras de Sytsma KJ, Morawetz J, Pires JC, Nepokroeff M,
trilhas e beiras de estradas ao longo da FLONA Conti E, Zjhra M, Hall JC & Chase MW (2002)
de Carajás. Urticalean rosids: circumscription, rosid ancestry,
and phylogenetics based on rbcL, trnL-F, and ndhF
Agradecimentos sequences. American Journal of Botany 89: 1531-1546.
Agradecemos ao Museu Paraense Emílio Todzia CA (1993) Ulmaceae. In: Kubitzki K, Rohwer JG
Goeldi e ao Instituto Tecnológico Vale, a estrutura & Bittrich V (ed.) The families and genera of vascular
plants: flowering plants - Dicotyledons, Magnoliid,
e apoio. Aos curadores dos herbários consultados,
Hamamelid and Caryophyllid Families. Vol. 2.
a disponibilização de material para a análise.
Springer, Berlin. Pp. 603-611.
Ao projeto objeto do convênio MPEG/ITV/
Torres RB & Luca AQ (2006) Ulmaceae. In: Wanderley
FADESP (01205.000250/2014-10) e ao projeto MGL, Shepherd GJ, Melhem TS & Giulietti AM (ed.)
aprovado pelo CNPq (processo 455505/2014-4), Flora fanerogâmica do estado de São Paulo. FAPESP,
o financiamento. Ao ICMBio, especialmente ao São Paulo. Vol. 4, pp. 361-369.
Frederico Drumond Martins, a licença de coleta Yang MQ, van Velzen R, Bakker FT, Sattariam A, Li DZ &
concedida e suporte nos trabalhos de campo. Ao Yi TS (2013) Molecular phylogenetics and character
Dr. André Olmos Simões, as fotografias. evolution of Cannabaceae. Taxon 62: 473-485.

Lista de exsicatas
Arruda AJ 528 (1.1). Brito ES 939 (1.1). Nascimento OC 990 (1.1). Pivari MO 1702 (1.1). Rocha KCJ 58 (1.1). Rosa NA
5019 (1.1). Sperling CR 5676 (1.1).
Editor de área: Dr. Marcelo Trovó
Artigo recebido em 12/04/2017. Aceito para publicação em 12/09/2017.
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Rodriguésia 69(1): 049-051. 2018


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