1a Consultoria Nicolly Fisiologia

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL (PET-FARMÁCIA)
Tutora: Profa. Dra. Leônia Maria Batista

1° Consultoria Acadêmica – Disciplina: Fisiologia Humana


Bolsista: Nicolly Karolyne Almeida da C. Bezerril – Graduanda do 4º período
Orientador: Profa. Dra. Fabiana de Andrade Cavalcante Oliveira

A INFLUÊNCIA DO SISTEMA VESTIBULAR NA MANUTENÇÃO DO EQUILÍBRIO


CORPORAL

1. JUSTIFICATIVA

No que tange aos distúrbios de equilíbrio corporal, aqueles de origem


vestibular, como a labirintite, são os mais comuns. Nessa perspectiva, torna-se
importante compreender o funcionamento do sistema vestibular na manutenção do
equilíbrio corporal, uma vez que, trata-se de uma temática complexa, não abordada
no curso de farmácia, necessária para compreensão das vestibulopatias e de suas
respectivas alternativas terapêuticas.

2. INTRODUÇÃO

O equilíbrio corporal compreende um estado de estabilidade física, seja


estática ou dinâmica, mantida por meio do funcionamento do sistema vestibular,
proprioceptivo e óptico, que detectam e conduzem a informação sensorial, relativa à
posição do corpo no espaço, para o sistema nervoso central, que processa e
coordena uma resposta motora adequada para que o equilíbrio corporal seja mantido
(SILVERTHORN, 2017; MASSION, 1998).

3. SISTEMA VESTIBULAR

O sistema vestibular exerce um importante papel na manutenção do equilíbrio


geral do corpo, sendo constituído por três componentes: um sistema sensorial
periférico, denominado aparelho vestibular, um processador central, constituído pelo
cerebelo e núcleos vestibulares, e um mecanismo de resposta motora, composto por
neurônios motores que induzem os músculos a realizar movimentos oculares e
ajustes posturais a fim de manter o equilíbrio (HERDMAN, 2002).
O aparelho vestibular (Figura 1) é um órgão sensorial localizado no interior da
orelha interna, posterior ao osso temporal, sendo dividido em labirinto ósseo (porção
óssea) e labirinto membranoso (porção membranosa). O labirinto ósseo apresenta
três canais semicirculares (anterior, posterior e lateral), o vestíbulo e a cóclea, que
compreende a região sensorial do aparelho vestibular especializada na audição,
tendo pouca relação com o equilíbrio. Esses canais semicirculares apresentam uma
dilatação em uma de suas extremidades, denominada ampola. Além disso, o labirinto
ósseo é preenchido por um líquido chamado perilinfa, que apresenta alta
concentração de Na+ e baixa de K+, sendo essa composição semelhante a do líquido
cerebrospinal, uma vez que, comunica-se com ele por meio do aqueduto coclear
(HERDMAN, 2002; GUYTON, 2017; KANDEL et al., 2014).

Figura 1 – Aparelho vestibular.


Fonte: Adaptado de Silverthorn (2017).

O labirinto membranoso, por sua vez, consiste na porção funcional do aparelho


vestibular, situando-se suspenso dentro do labirinto ósseo, sendo constituído por
tecido conjuntivo de suporte e um fluido, denominado endolinfa, que apresenta alta
concentração de K+ e baixa de Na+. Essa região apresenta a porção membranosa
dos três canais semicirculares e da cóclea, e os dois órgãos otolíticos, utrículo e
sáculo, que localizam-se dentro do vestíbulo da porção óssea (GUYTON, 2017;
HERDMAN, 2002).

Na superfície interna dos órgãos otolíticos há uma pequena área sensorial


denominada mácula (Figura 2), composta por milhares de células pilosas, que são os
receptores sensoriais não neurais do sistema vestibular. As máculas são revestidas
por uma camada gelatinosa, denominada membrana otolítica, onde ficam imersos
vários pequenos cristais de carbonato de cálcio, denominados estatocônias. Já a área
sensorial da superfície interna da ampola, por sua vez, é denominada crista (Figura
3), sendo constituída por células pilosas e pela cúpula, uma massa gelatinosa que se
projeta da base ao teto da ampola, fechando-a (GUYTON, 2017; SILVERTHORN,
2017).

Figura 2 – Mácula.
Fonte: Adaptado de Silverthorn (2017).

Figura 3 – Crista.
Fonte: Silverthorn (2017).

As células pilosas (Figura 4) apresentam vários pequenos cílios, denominados


estereocílios, e um único grande cílio, o cinocílio, que localiza-se em uma das
extremidades da superfície apical da célula pilosa, enquanto os estereocílios ficam
cada vez mais curtos em direção a outra extremidade (GUYTON, 2017).
Figura 4 - Célula pilosa.
Fonte: Adaptado de Guyton (2017).

O movimento da cabeça promove, indiretamente, a curvatura dos cílios das


células pilosas. Caso essa curvatura ocorra na direção do cinocílio (Figura 5),
ocorrerá a abertura de canais iônicos seletivos a íons positivos, como o K+,
amplamente distribuído na endolinfa, líquido extracelular do labirinto membranoso.
Desse modo, verifica-se o influxo de K+, que atua despolarizando a membrana da
célula pilosa e assim, promovendo a abertura de canais de cálcio dependentes de
voltagem, e consequentemente, aumento da frequência de impulsos nervosos
(GUYTON, 2017; KANDEL et al., 2014).
Figura 5 – Despolarização da célula pilosa.
Fonte: Adaptado de Kandel et al. (2014).

Inversamente, caso a curvatura dos cílios ocorra na direção oposta ao cinocílio,


haverá o fechamento dos canais de K+, e, indiretamente, dos canais de cálcio
dependentes de voltagem, resultando na hiperpolarização da membrana da célula
pilosa, e consequentemente, diminuição da frequência de impulsos nervosos
(GUYTON, 2017).

Os canais semicirculares e os órgãos otolíticos são capazes de responder


seletivamente aos diferentes movimentos da cabeça, em virtude das suas diferentes
orientações. Em razão disso, os canais semicirculares detectam a aceleração angular
(rotação da cabeça), enquanto os órgãos otolíticos detectam a aceleração linear
(movimentos lineares) e a posição da cabeça em relação à gravidade, uma vez que,
a gravidade consiste em uma forma de aceleração linear (HERDMAN, 2002; KANDEL
et al., 2014).

→ Como os canais semicirculares detectam a aceleração angular?


Os canais semicirculares estão dispostos em três planos bilaterais (anterior,
posterior e lateral), portanto, cada canal semicircular consegue detectar o movimento
dentro de um plano específico. Nesse caso, o canal semicircular anterior identifica o
movimento de flexão e extensão da cabeça, ou seja, os movimentos que acontecem
no plano sagital, enquanto o canal semicircular lateral detecta os movimentos de
rotação da cabeça, ou seja, aqueles que acontecem no plano transversal. Já o canal
semicircular posterior, por sua vez, identifica o movimento de flexão lateral da cabeça,
ou seja, aqueles que ocorrem no plano coronal (HERDMAN, 2002; SILVERTHORN,
2017).

Quando a cabeça começa a rotacionar, o canal semicircular se move junto,


porém, a endolinfa não consegue acompanhar de imediato esse movimento, devido
a sua inércia, e por esse motivo, ela movimenta-se em direção oposta ao da cabeça.
Logo, nas ampolas dos canais semicirculares, a endolinfa inclina a cúpula na direção
contrária à da cabeça (Figura 6), alterando o potencial de membrana das células
pilosas, e, consequentemente, a frequência de impulsos nervosos (SILVERTHORN,
2017; KANDEL et al., 2014).

Figura 6 – A cúpula é deslocada pelo fluxo da endolinfa em direção contrária à da cabeça.


Fonte: Kandel et al. (2014).

→ Como os órgãos otolíticos detectam a aceleração linear?


Em um indivíduo na posição ereta, os sáculos encontram-se dispostos na
vertical, enquanto os utrículos na horizontal. Desse modo, a mácula do sáculo está
orientada verticalmente, identificando a aceleração linear vertical da cabeça,
enquanto a mácula do utrículo está orientada horizontalmente, detectando a
aceleração linear horizontal da cabeça (GUYTON, 2017; SILVERTHORN, 2017).

Quando a cabeça movimenta-se de forma linear, o peso das estatocônias


curva os cílios na direção da tração gravitacional. É importante destacar que, em cada
mácula, as células pilosas estão orientadas em direções diferentes, de modo que,
diferentes células são estimuladas em cada orientação da cabeça. Logo, ocorre um
padrão diferente de despolarização e hiperpolarização das células pilosas para cada
orientação cefálica (Figura 7), sendo esse padrão analisado pelo encéfalo, para
calcular a posição da cabeça e a direção do movimento (GUYTON, 2017).

Figura 7 – O utrículo está organizado para detectar a inclinação da cabeça.


Fonte: Adaptado de Kandel et al. (2014).

As células pilosas fazem sinapse com as terminações nervosas do nervo


vestibular (nervo craniano VIII), que, por sua vez, fazem sinapse nos núcleos
vestibulares do bulbo, ou se projetam diretamente para o cerebelo, onde as
informações sensorias vestibulares são processadas. A resposta motora dos núcleos
vestibulares e do cerebelo é transmitida aos músculos extra-oculares e a medula
espinal, gerando dois reflexos importantes, o reflexo vestíbulo-ocular e o reflexo
vestíbulo-medular, respectivamente (SILVERTHORN, 2017; HERDMAN, 2002).

O reflexo vestíbulo-ocular é responsável por manter os olhos imóveis durante


o movimento cefálico, enquanto o reflexo vestíbulo-medular é responsável por induzir
o músculo esquelético a promover ajustes posturais, a fim de compensar o movimento
da cabeça (HERDMAN, 2002; KANDEL et al., 2014).

4. REFERÊNCIAS

GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Tratado de Fisiologia Médica. 13. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2017.
HERDMAN, S. J. Reabilitação vestibular. 2. ed. São Paulo: Manole, 2002.
KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSELL, T. M.; SIEGELBAUM, S. A.;
HUDSPETH, A. J. Princípios de neurociências. 5.ed. São Paulo: AMGH, 2014.
MASSION, J. Postural control systems in developmental perspective. Neuroscience
& Biobehavioral Reviews, v. 22, n. 4, p. 465-472, 1998.

SILVERTHORN, D. U. Fisiologia Humana – Uma abordagem integrada. 6 ed.


Porto Alegre: Artmed, 2017.

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