TGNJ - Respostas Modelo
TGNJ - Respostas Modelo
TGNJ - Respostas Modelo
Silencio
O silencio corresponde à total ausência de comunicação por parte de um dos sujeitos, o
art. 218º diz-nos que o silencio não é valorado como declaração negocial exceto nos
seguintes casos:
Lei: se a lei estipular que o silencio tem um valor. Exemplo: compra e venda a contendo
(art. 923/2);
Usos: o uso tem de estar em consonância com a boa-fé e com a lei, devemos ler o art.
218º em consonância com o art. 3º;
Convenção: um acordo onde as partes concordam que o silencio tem determinado valor;
Autovinculação: apesar de nata dito na lei, a doutrina tem vindo a aceitar a
autovinculação, ou seja, quando o próprio autor do silencio assim o valorar como
declaração negocial. A heterovinculação, ou seja, quando uma das partes valora o
silencio de outra sem o seu consentimento é proibida. Nos negócios formais não
podemos por convenção ou por autovinculação derrogar os efeitos de forma com
prejuízo de nulidade.
Forma da declaração
Qualquer declaração negocial tem uma forma, mais ou menos solene. A forma é o modo
de exteriorização da vontade, aquilo que dá corpo à vontade. Uma formalidade é algo
que o legislador faz acrescer à declaração de vontade para que haja celebração válida
do negócio. CF discorda deste entendimento e afirma que a forma é sempre a
exteriorização do pensamento e a formalidade o modo como o vou exteriorizar.
Os fundamentos para as imposições da exigência de forma prendem-se com a
solenidade (necessidade de dar publicidade a determinadas ações para que estas sejam
conhecidas pelo público em geral), reflexão (para que as partes celebrem o negócio de
forma mais consciente permitindo que estas reflitam sobre os efeitos inerentes ao
negócio), e prova (demonstração da ocorrência dos factos). Um negócio que não
observe as regras de forma exigidas para a sua celebração é nulo nos termos do art.
220º.
Forma legal
A forma legal é aquela que a lei explicitamente exige. A forma legal pode ter problemas
nos casos em que algumas clausulas seguem a forma legal e outras não. Nestes casos a
forma legal opera apenas perante o cerne negocial, isto é, sobre os elementos essências
que devem seguir sempre a forma exigida. No que toca às estipulações acessórias estas
só estão sujeitas à forma legalmente exigida quando esta lhes seja aplicável – art. 221º
- ou seja, quando os requisitos de solenidade, reflexão e prova não lhes sejam aplicáveis.
Quando as estipulações acessórias não seguem a forma exigida temos de aferir qual o
período temporal em que estas foram acordadas entre as partes: anteriores ou
contemporâneas à celebração do negócio ou posteriores à celebração do negócio.
Se forem clausulas acessórias anteriores ou contemporâneas (art. 221º/1) temos de
aferir os requisitos da validade formal, ou seja, averiguar se estas estão sujeitas aos
critérios de solenidade, reflexão e prova, se estes fundamentos de imposição de forma
não lhes forem aplicáveis então as clausulas não necessitam de seguir a forma
legalmente exigida e como tal são válidas, a própria jurisprudência tem entendido que
se as clausulas acessórias não dizem respeito a elementos essências do negócio não
estarão sujeitas à forma legal. Para além disto é necessário verificar se a vontade das
partes de inserir as clausulas acessórias no negócio não foi revogada pelo facto de estas
não serem inseridas no documento que respeita a forma legal ou se simplesmente estes
não sentiram necessidade de as incluir. Se nada demonstrar que não havia vontade das
partes então as clausula sãs válidas, caso contrário temos estas como revogadas e não
irão vincular as partes.
Se por outro lado as clausulas acessórias forem posteriores (art. 221º/2) à celebração
do negócio então o problema da vontade das partes é afastado pois têm-se a celebração
como última vontade considerada. Ainda assim temos de averiguar se os fundamentos
de imposição de forma legal não se aplicam a estas clausulas, se assim entendermos
então estas serão válidas, caso contrário serão nulas.
Forma voluntária
Há forma voluntária (art. 222) sempre que as partes celebram o negócio de forma mais
solene do que aquela que a lei exigia. Surge o problema quando algumas clausulas
seguem a forma voluntariamente escolhida e outras não, interessa saber se estas
clausulas que não seguem a forma voluntária são eficazes. Se a lei não exige forma
solene, existe liberdade de forma – art. 219º- e não estaríamos perante um problema
de validade formal, mas sim da vontade das partes caso a clausula seja acordada
anteriormente ou contemporaneamente à celebração do negócio. Legislador tem um
juízo de desconfiança para com estes casos dai a necessidade de averiguar se a vontade
das partes de incluir aquelas clausulas existia à data da celebração do negócio. Se não
incluíram as clausulas tal pode acontecer porque não sentiram necessidade ou porque
mudaram de ideias quanto a estas e já não as queriam incluir. Para aferir se havia ou
não vontade de manter as clausulas devemos ter em conta as regras da interpretação
(art. 236), se nada demonstrar que a vontade das partes era revogar as clausulas então
estas são validas.
Nos casos em que a lei exige forma haverá um problema de validade formal nos casos
em que as clausulas não respeitem a forma legal nem a forma voluntaria. Aqui temos
exclusãoduas hipóteses, se as clausulas forem anteriores ou contemporâneas ao
negócio atentamos ao art. 222/1 e temos de aferir os requisitos da validade formal e da
vontade. Para aferir se as clausulas acessórias estão sujeitas à forma legal utilizamos os
critérios de solenidade, reflexão e prova, se tal não se aplicar então estas não necessitam
de seguir a forma legalmente exigida sendo validas. Quanto à vontade o legislador tem
um juízo de desconfiança para com estes casos dai ser necessário aferir se há a vontade
das partes de inserir estas clausulas à data da celebração do negócio, estas podem não
te-lo feito por não considerarem necessário ou tal pode representar uma revogação da
vontade do incluir, vai depender da interpretação.
Se as clausulas acessórias forem posteriores atentamos ao art. 222º/2 e temos apenas
de aferir o requisito da validade formal.
Forma convencional
A forma convencional é aquela em que há acordo/convenção (art. 223) entre as partes
sobre a forma de celebração do negócio, surge um problema quando algumas clausulas
seguem a forma convencionada e outras não. As partes podem acordar não fazer o
combinado e nestes casos haverá revogação da convenção desde que as circunstâncias
do caso permitam concluir que as partes tinham vontade de revogar o antes acordado.
Se a convenção for anterior à celebração do negócio haverá problema se as partes
celebrarem o negócio de forma diferente à forma convencionada apenas aferimos o
problema da vontade, se for manter a convenção então haverá um problema de forma,
se não então será uma revogação da convenção.
Se a convenção for contemporânea ou posterior à celebração do negócio atentamos ao
art. 223/2 e o legislador presume que a convecção apenas pretende revestir o negócio
de maior solenidade. Esta pode ser ilidida se se chegar à conclusão que a vontade das
partes era revogar o negócio anterior e celebrar o negócio novo de forma
convencionada.
Proposta negocial
A proposta negocial é uma declaração negocial recipienda com um destinatário
determinado. Para estarmos perante uma verdadeira proposta negocial é necessário
que esta seja completa (deve abranger todos os pontos a integrar no futuro contrato),
deve ter adequação formal (a proposta deve revestir a forma exigida para o negócio que
se quer celebrar) e deve ser firme (intenção inequívoca de contratar vinculando-se
juridicamente ao negócio). No fundo, a proposta deve surgir de tal modo que uma
simples declaração de concordância do seu destinatário faça dele um contrato. Se um
destes pressupostos não se verificar estamos perante um convite a contratar. Este nada
mais é do que o período pré-contratual ou período de negociações, a aceitação desse
convite não significa celebração de negócio.
Muitas vezes, em sites de alienação de imoveis, encontramos convites a contratar e não
propostas, visto que apesar destes ser firmes e completos o pressuposto da adequação
formal não é preenchido.
Aceitação
A aceitação é fundamental para a formação do negócio, tem de ser total e inequívoca
(absoluta concordância) e tem de ter adequação formal. Os efeitos da aceitação são a
celebração do contrato, esta só produz efeitos quando é conhecida pelo propoente ou
quando chega a sua posse (art. 224/1).
A sua revogação está estipulada no art. 235º/2, em bom rigor é uma retratação e apenas
pode ser revogada antes de produzir efeitos. Caso contrário os efeitos já se produziram
e os negócios são para cumprir – art. 406.
Se estivermos uma aceitação tácita devemos atentar ao art. 234º, este tem
complicações de interpretação pelo que pode ser visto de duas formas. Pode ser
interpretado como uma dispensa da declaração de aceitação onde a execução do
contrato é um ato de cumprimento do negócio nestes casos temos uma proposta/oferta
ao publico e o seu cumprimento dispensa a aceitação. Por outro lado, podemos
interpretar como sendo uma dispensa do carater recipiendo da declaração e aqui temos
uma verdadeira aceitação tácita pelo que há aceitação mesmo que esta não seja dirigida
ao proponente seria ao invés dirigida à generalidade das pessoas se aceitarmos esta
interpretação perante um contrato formal a declaração de aceitação ainda que não
recipienda teria de cumprir os requisitos de forma. A relevância prende-se com a eficácia
do contrato, isto é, a partir de que momento ele produz efeitos.
Rejeição
O destinatário da proposta pode rejeitar ou enviar uma contraproposta.
A rejeição pode ser revogada para aceitação desde que dentro dos prazos do art. 235º.
Também se pode contrapropor se houver firmeza, completude e adequação formal.
DL 24/2014
Este diploma trata maioritariamente de três modalidades de negócio: negócios
celebrados fora do estabelecimento comercial – onde o vendedor vai de encontro ao
comprador – os contratos celebrados à distância – onde o comprador e vendedor não
estão fisicamente presentes um ao lado do outro, o comprador utiliza um sistema criado
pelo vendedor para efetuar o negócio - negócios de fornecimento de conteúdos digitais
– onde o objeto do negócio é digital. Este DL só se aplica quando está em causa uma
relação fornecedora (profissional) e consumidor (particular).
Este diploma surge para defender o consumidor visto que este está pensado
exatamente para as situações onde ele é apanhado de surpresa ou não tem contacto
físico direto com o produto na altura da compra.
Negociação automática
Aplica-se a casos em que se dispensa a presença de uma das partes. Será o caso das
máquinas de comida automáticas. Existem duas teorias que procurar justificar de que
modo se celebram os contratos nestes casos:
A teoria da oferta automática: defende que a simples presença do autómato pronto a
funcionar deve ser vista como oferta ao público, sendo quando o utente aciona o
autómato tal é visto como uma aceitação dessa oferta ao público gerando
automaticamente o negócio. Qualquer falha subsequente será um incumprimento do
contrato perpetuado por quem utiliza o autómato, portanto entramos no regime do
incumprimento. Deste modo o autómato entende-se como um simples prolongamento
da vontade da contraparte.
Teoria da aceitação: aqui a simples acionação do autómato não significa a conclusão do
contrato, mas sim um possível convite a contratar. Deste modo considera-se que o
utente é que formula a proposta e o autómato pode ou não aceitar a proposta do
proponente em troca do preço paga.
CCG – DL 446/85
As CCG são proposições impessoais e pré-elaboradas que os contraentes podem adotar
para efeitos de conclusão de um negócio. Num contrato com CCG o aderente não tem
liberdade de estipulação pelo que apenas tem liberdade de celebração. Para estarmos
perante CCG temos de verificar os seguintes pressupostos cumulativos:
1. Juridicidade: são proposições negocialmente significativas com aptidão para
criar vinculação negocial;
2. Pré-formuladas: existem antes da sua eventual inclusão no contrato, ou seja, são
feitas à priori e mantem-se qua tales quando incluídas no contrato;
3. Generalidade: aplicam-se a uma multiplicidade de pessoas, apetência estrutural
para utilização em vários negócios;
4. Rigidez: as CCG não são negociáveis, se as CCG forem modificadas deixam de ser
tal e passam a ser simples clausulas negociais;
A natureza jurídica das CCG sofre de divergência na doutrina, no entanto tomo partido
na posição que admite que estas são como sendo um negócio jurídico e por vezes uma
norma jurídica, por um lado são negócio jurídico pois precisam de ser inseridas no
negócio para valerem como CCG e é preciso manifestação de vontade para aceitar as
CCG, por outro lado podem valer como normas jurídicas pois podem produzir efeitos da
sua integração no negócio e porque objeto de ação inibitória, para além disso são gerais
e abstratas.
Nas CCG temos sempre o utilizador – aquele que utiliza as CCG – e aderente – aquele a
quem as CCG são apresentadas e pode escolher celebrar ou não o negócio que utilize as
CCG. Não devemos confundir utilizador e aderente com proponente e aceitante visto
que podemos ter uma parte do negócio que é simultaneamente utilizador e aceitante
(ex: seguros).
O contrato pré-formulado aplica-se apenas a uma pessoa pelo que não deve ser
confundido com CCG que se aplicam à generalidade, ainda assim o regime legal é o das
CCG.
O DL 446/85 estabelece o ónus da adequada comunicação e informação (art. 5º e 6º)
onde o utilizador tem de fazer chegar ao aderente o conteúdo das CCG de forma
adequada e explicita. O incumprimento deste ónus não gera ilicitude e não exclui a
validade do negócio na sua integra, no entanto, a lei estabelece a exclusão da CCG que
não cumpriu um dos ónus. O ónus da prova recai sobre o utilizador provar que os ónus
forma cumpridos (art. 5º/3).
As clausulas prevalentes (art. 7º) são aquelas que forem negociadas entre as partes,
sendo que se uma CCG contradisser uma destas a mesma será prevalente e superior.
O art. 8º estabelece as CCG que se tem por excluídas por incumprimento do Ónus, para
além disso as clausula surpresas, e as clausulas inseridas depois da assinatura.
A exclusão da clausula não compromete a subsistência do contrato e com a exclusão
destas recorremos a normas supletivas ou regras de integração (art. 13/2º).
Em caso de dúvida na interpretação utilizamos o art. 10º, se mesmo com a interpretação
não chegarmos a nenhuma conclusão aplica-se o art. 11º onde se favorece o sentido
que mais favoreça o aderente.
O regime de invalidade das CCG consiste em regra geral (art. 15º) declarar como nulas
todas as CCG contrárias à boa-fé. No entanto o regime varia entre negócios celebrados
entre profissionais (art. 18º e 19º) e negócios celebrados entre profissional e particular
(art. 18º até art. 22º).
Existem dois tipos de invalidade nas CCG, as CCG absolutamente proibidas e as
relativamente proibidas. As primeiras são nulas e nunca serão válidas. As segundas são
nulas exceto quando o quadro negocial padronizado as justifique.
A consequência da invalidade é mais rica que o regime geral do art. 286, segundo o
regime do DL 446/85 o aderente pode (tendo sempre em conta o art. 280º):
1. Confirmar o negócio;
2. Nulidade total – art. 12º;
3. Conservar o negócio limitando a nulidade às clausulas proibidas – art. 13º;
4. Redução do negócio – art. 292º CC e art. 14º - a redução pode ser impedida se
determinarmos que a vontade das partes à data da celebração do negócio seria
a da não celebração na versão mais magra da redução.
Depreende-se que apenas o aderente terá legitimidade para invocar a nulidade visto
que o regime das CCG serve para o proteger.
Por último serve referir que é possível aplicar uma ação inibitória as CCG onde um
tribunal pode avaliar e proferir se as mesmas são proibidas ou não (apenas associações
ou MP podem fazê-lo).
Representação
Há representação sempre que uma pessoa pode agir em nome e no interesse de outrem.
Aquele que age em interesse de outrem é o representante aquele cujo interesse se visa
realizar é o representado – art. 258º e ss.
Para haver verdadeira representação são necessários os seguintes pressupostos:
atuação em nome de outrem, atuação no interesse de outrem e fundamento jurídico
para o poder de representação – legitimidade indireta. A imputação direta dos efeitos
do ato ao representado, os efeitos produzem-se automaticamente na esfera jurídica do
representado.
A representação tem como efeitos a legitimação do ato praticado por uma pessoa
diferente daquela cuja esfera jurídica os seus efeitos se projetam.
Regra geral a vontade relevante para efeitos de apuramento de vicio é a do
representante exceto naquilo em que a vontade determinante foi a do representado
(art. 259º/1). Se o representado estiver de má-fé, ainda que o representante esteja de
boa-fé, tal não releva para a patologia no negócio (art. 259/2).
Modalidades de representação
A representação pode ser legal – se a fonte do poder representativo for a lei – ou
voluntária se a fonte do poder representativo resulta do negocio jurídico.
A representação pode ser ativa quando o representante atua em nome de outrem
mediante a emissão de declarações de vontade ou passiva quando os poderes emitidos
ao representante apenas emitem que este receba declarações de outrem.
Procuração
A procuração é uma modalidade de representação voluntária (art. 262º) esta tanto pode
ser o documento jurídico como o negócio de representação voluntaria em si. Discute-se
qual a natureza da procuração, é pacifico que esta é unilateral, CF defende que a
procuração é um negócio unilateral não recipiendo, pelo que produzirá efeitos logo a
partir do momento em que esta é emitida. Por outro lado, há quem defenda que a
procuração é um negócio recipiendo peço que apenas produzirá efeitos quando for
conhecida ou chegar a posse de determinada pessoa, pergunta-se se esta pessoa é o
terceiro com quem se irá negociar ou o procurador.
Para se ser procurador é necessário aliar os pressupostos da representação à
necessidade de o procurador ter capacidade natural (art. 263) mais uma exigência de
forma pelo que a procuração deve seguir a forma prevista para o negócio que a mesma
confere poderes para celebrar (art. 262º/2), se o procurador vier a praticar mais do que
um ato a procuração deve revestir a forma do negócio mais solene praticado.
Is poderes de representação extinguem-se nos termos do art. 265 por renuncia do
procurador que é livre e não necessita de fundamento, cessação da realça jurídica que
serve de base à procuração, e por revogação pelo representado é livre exceto quando
vise prosseguir também os interesses do representante ou terceiro onde será necessário
fundamento. O procurador tem obrigação de restituir a procuração ao representado
sem poder invocar a retenção do documento – art. 267º.
Tutela de terceiros na procuração
O regime do art. 266º confere tutela a terceiros em caso de extinção dos poderes de
representação, distinguem-se duas situações:
Quando a causa da extinção dos poderes de representação é a revogação, se a
procuração tiver uma pessoa determinada com quem o negócio deveria ser celebrado
então a revogação da procuração deve ser dada a conhecer por meio idóneo não só ao
representante como também ao terceiro com que o negócio seria celebrado. Se a
procuração for emitida com generalidade para poder celebrar o negócio com quem o
procurador quiser então a revogação da procuração deve ser dada a conhecer ao
procurador e publicitada segundo os termos do art. 258º CP civil, ou seja, no jornal mais
lido da região ou num reconhecido jornal nacional. Se o representado não levar a
conhecer a revogação esta torna-se inoponivel a terceiros a menos que este tenha dela
conhecimento na data da celebração do negócio.
Quando não se trate de revogação, mas de qualquer outra causa de extinção, é
inoponivel ao terceiro com quem posteriormente o procurador tenha praticado o ato
abrangido pelos poderes representativos se o terceiro ignorar sem culpa a causa da
extinção – art. 266/2.
Abuso de representação
Aqui o representante age, formalmente, no âmbito dos poderes que lhe foram
conferidos, mas utiliza-os para um fim não ajustado aquele segundo o qual a procuração
se constitui.
Existe uma adequação formal em conjunto com uma desadequação material, contudo
aqui o ato tem se por eficaz, exceto se houver conhecimento ou cognoscibilidade desta
desadequação.
O regime aqui funciona de modo a melhor tutelar o terceiro, uma vez que a simples
justificação dos poderes de representação não significa que os mesmos não estejam a
ser exercidos abusivamente – art. 260º CC -, o que não acontece com as diligencias de
um homem médio na representação sem poderes.
Condição
Segundo o art. 270º a condição é uma clausula negocial típica que vem subordinar a
eficácia de um negócio ao acontecimento de um facto futuro e incerto.
A condição é suspensiva quando o negócio só produz efeitos depois da ocorrência do
facto futuro e incerto. Por outro lado, é resolutiva quando o negócio deixa de produzir
efeitos sempre que aconteça ou não aconteça o facto futuro e incerto.
Se a condição for casual tal significa que esta não depende da vontade das partes. Se for
potestativa então esta depende da vontade das partes apesar de apenas serem
admitidas se assentarem em dados objetivos.
Serão condições improprias aquelas que dependam da verificação de um facto passado
ou presente, impossíveis, condições necessárias, e condições legais.
A aplicação das condições está limitada no contrato de arrendamento e no contrato de
trabalho bem como no casamento.
A invalidade da condição (art. 271) implica a invalidade de todo o negócio pois a eficácia
do negócio está dependente da condição. Contudo se a causa da invalidade for a
impossibilidade da condição resolutiva, nos negócios pessoais e familiares ou nos
negócios gratuitos a condição invalida tem-se por não escrita.
Será invalida a condição contrária à lei, indeterminável, impossível, ofensiva dos bons
costumes ou contraria à ordem pública.
A condição deve seguir a forma do negócio onde a mesma está convencionada.
A pendencia corresponde ao período compreendido entre a formação do negócio e a
verificação do facto futuro e incerto. A parte que está dependente da convenção
encontra-se numa situação jurídica de expetativa jurídica, ou seja, uma situação jurídica
ativa que confere tutela a alguém que pode vir a ser titular de um direito, mas está
dependente da verificação de um facto complexo de produção sucessiva.
A proteção atribuída à parte dependente da convenção é conferida através da
necessidade de ambas as partes estarem de boa-fé, a possibilidade de praticar atos de
conservação sobre a coisa, o proprietário tem eficácia precária nos negócios que
celebrar com terceiros sobre a coisa que consta da condição, ou seja, a eficácia do
negócio com terceiro está dependente da não verificação da condição (art. 272º e ss).
O fim da pendencia pode verificar-se quando o facto futuro e incerto acontece, quando
há certeza que não vai ocorrer o facto, quando há tu quoque (de má-fé a parte a quem
prejudica impede a realização do negócio e vem aproveitar-se disso) tem-se a condição
como verificada ou não verificada se for a parte a quem favorece a agir de má-fé – art.
275º.
A verificação da condição tem eficácia retroativa menos quando as partes acordem o
contrario, ou se estivermos perante negócios de efetuação continuada, ou sobre os atos
de administração, ou quando há um possuidor de boa-fé (art. 276 e 277).
Termo
O termo é a clausula negocial típica que subordina a eficácia de um negócio à verificação
de um facto futuro e certo. Será um termo inicial se o negócio apenas produzir efeitos
quando se verifique o facto futuro e certo ou será termo final quando a verificação do
facto futuro e certo faça terminar os efeitos do negócio.
Se o termo for invalido então tal irá ferir todo o negócio (seguindo os critérios da
condição) exceto no casamento, perfilhação e testamento. O art. 278º diz-nos para
aplicar o regime da condição ao termo com as devidas alterações. A regra do termo é a
irretroatividade.
Modo
O modo é uma clausula típica dos negócios gratuitos que impõe uma obrigação ao
beneficiário da doação ou ao herdeiro.
Modo vs condição suspensiva: o modo não impede o negócio, mas obriga, a condição
não obriga, mas impede o negócio. No modo o negócio produz logo os seus efeitos
translativos, na condição apenas quando se verifica o facto futuro e incerto.
Modo vs condição resolutiva: interpretamos o negocio. Se o objetivo principal for a
adoção de uma conduta temos uma condição, se for a produção de efeitos translativos
será um modo.
Se a obrigação modal for nula tal não afeta o negócio todo, apenas passa a haver um
negócio não modal.
O incumprimento não é suficiente para a resolução do negócio modal.
Interpretação
A interpretação traduz-se em retirar o conteúdo e o objeto do negócio jurídico. A regra
geral é o art. 236 mas existem exceções para os negócios formais – art. 238 – e para o
testamento – art. 2187º.
A doutrina diverge sobre o que é verdadeiramente importante interpretar, as teorias
subjetivistas dizem que devemos sempre retirar a vontade das partes
independentemente de fatores externos, daqui surge a teoria da vontade que diz o
objetivo da interpretação é reconstruir a vontade do declarante e a teoria da
responsabilidade onde apesar de o fim ser o mesmo o declarante deve cumprir o ónus
da adequada comunicação – uma comunicação clara ou pelo menos com esforço e
intuito de ser clara. Por outro lado, as teorias objetivistas dizem que o que importa é a
declaração visto que é esta o único fator que o declaratário tem acesso, surge assim a
teoria da impressão que diz que a declaração vale com o sentido que um homem medio
daria à declaração se colocado na posição do declaratário real, e a teoria da confiança
que completa a teoria da impressão dizendo que se o declaratário conhecia a vontade
real esta será a que prevalecerá.
Consoante a posição que tomamos tal irá afetar a maneira como lemos o art. 236, assim
sendo se optarmos por uma visão mais subjetivista como CF então:
- O art. 236/2 será a norma principal, ou seja, se o declaratário conhecia a vontade do
declarante será este o sentido da declaração.
- O art. 236/1 aplicar-se-á quando não conseguirmos aplicar o 236/2, deste modo
estamos perante dois ónus, o ónus da adequada comunicação da parte do declarante, e
o ónus do adequado entendimento da parte do declaratário. Quanto ao declaratário vai
valer sempre o sentido percetível, quanto ao declarante em princípio vale o sentido
percetível, se este corresponde ao sentido querido então não há problemas, mas se não
então temos de abrir duas hipóteses, a primeira é se o declarante cumpriu o ónus da
adequada comunicação e se tal fez então aplica-se o sentido querido e não o sentido
percetível, se não cumpriu o ónus da adequada comunicação será imputável o sentido
percetível.
Por outro lado, se optarmos por uma visão mais objetivista como MC:
- o art. 236/1 1º parte é a norma principal e tem prevista a teoria da impressão, ou seja,
a declaração vale com o sentido que um homem médio lhe daria;
- o art. 236/1 2º parte aplica-se quando não podemos contar com o sentido real da
declaração;
- o art. 236/2 decorre da teoria da confiança, ou seja, se o declaratário conhecia a
vontade do declarante é esta que valerá.
Autoqualificação
Quando se redige um contrato este tem um tipo e uma qualificação, coloca-se a questão
de que valor dar a esta qualificação que as partes dão ao contrato celebrado. As partes
podem ter dado uma qualificação errada ao contrato mas aqui o que importa é as
obrigações e deveres decorrentes do mesmo mais do que a sua qualificação. Também
pode acontecer as partes darem uma qualificação diferente propositadamente para
fugir a determinado tipo negocial.
A autoqualificação não é vinculativa, mas também não prejudica a validade do negocio,
isto pois independentemente da qualificação que as partes atribuiem ao negocio, em
principio este valerá segundo as obrigações e deveres que verdadeiramente surjam do
contrato.
Casos duvidosos
Falamos dos casos onde da interpretação do art. 236 surge mais do que um sentido
possível, ainda assim apenas um pode prevalecer pelo que aplicamos o art. 237, este
diz-nos que nos negócios gratuitos escolhe-se o sentido menos gravosos para o
disponente e nos negócios onerosos o sentido que traduzir um maior equilíbrio entre as
partes. Surge o problema quando não há uma verdadeira diferença notável entre os
sentidos, assim sendo não conseguimos retirar um sentido e como tal não se consegue
retirar o conteúdo do negócio pelo que este será indeterminável e consequentemente
nulo – art. 280.
O art. 238 serve para os negócios formais e vem dizer que a declaração não pode valer
com um sentido que nada tenha a ver com o texto e que o sentido apenas valerá se
corresponder à vontade real das partes e se as exigências de forma não lhe forem
aplicáveis – art. 221.
Se da interpretação se retirar um sentido sem base na letra o negócio será nulo, se não
podemos sempre procurar um sentido que tenha maior correspondência com a letra da
lei.
Integração
A integração serve para integrar as lacunas negociais, ou seja, aspetos do negócio que
deviam ter sido incluídos, mas não foram. O art. 239º vem nos dizer que na falta de
disposição especial a declaração negocial deve ser integrada em harmonia com a
vontade que as partes teriam tido se houvessem previsto o ponto omisso ou quando
haja outra solução por eles imposta segundo os ditames da boa-fé. A doutrina diverge
quanto a que caminho seguir, CF diz-nos que devemos procurar normas supletivas, caso
não existam devemos ter em conta a vontade hipotética das partes e se ainda assim não
for suficiente ou contrário à boa-fé devemos escolher a vontade hipotética objetiva do
homem medio. Por outro lado o conceito exigente de lacuna diz que devemos atentar à
vontade hipotética das partes e só depois à vontade hipotética objetiva. Por ultimo MC
considera que o critério final é a boa-fé como integradora de lacunas e como tal olhamos
para a vontade hipotética objetiva.
COAÇÃO FISICA
Na coação física há uma ausência de vontade de ação que acaba por levar a ausência de
vontade de declaração e vontade funcional. Há coação física – art. 246º CC – quando
uma força exterior ao agente o leva a assumir um comportamento declarativo
independente da sua vontade, totalmente excluída por essa força. O art. 246º diz que
nos casos de coação física o negocio não produz efeitos, CF diz que daqui retiramos que
o negocio será inexistente. MC por outro lado diz que a o dever de indemnizar
decorrente do preceito contradiz a não produção de qualquer efeito e que o vicio será
a nulidade.
Erro vicio
O erro vicio reporta-se a uma má formação de vontade, seja por ausência de liberdade
ou de informação, a patologia do erro está na vontade.
Para que haja erro é necessária a ignorância ou seja, quando o declarante por não saber,
ou saber mal algo, quer uma coisa. Há uma divergência entre a vontade real (aquilo que
a pessoa quer) e a vontade hipotética (aquilo que a pessoa quereria se não estivesse em
erro).
Coação moral
Na coação moral – art. 255 - existe medo e este pressupõe uma falta de liberdade. Para
haver coação moral é necessário que haja a ameaça de um mal (criação, continuação ou
intensificação de um mal), ilicitude da ameaça (por violação de norma legal ou abuso de
direito) e intencionalidade da ameaça (a ameaça é feita com intenção de obter
determinada declaração, se a declaração obtida não for a pretendida então não há
coação moral).
Quando o coator é o declaratário, para que a coação moral seja relevante é necessário
que haja dupla causalidade – ameaça causou o medo e o medo causou a vontade.
Quando o coator é um terceiro, para que a coação moral seja relevante, é necessária
dupla causalidade – foi a ameaça que causou o medo e foi o medo que causou a vontade
– ameaça de um mal grave – o interesse do declarante tem de ser superior ao do
declaratário – receio justificado da consumação – no caso concreto o coagido tem receio
fundamentado que a ameaça vai ser concretizada.
A consequência será a anulabilidade, aplicamos a regra geral, 1 ano a contar da cessação
do medo e o titular do direito potestativo de anulação é o coagido.
Estado de necessidade
O estado de necessidade é uma situação de facto que representa uma situação de perigo
para um bem jurídico, quando estamos neste estado sente-se o medo. Normalmente
aplica-se a figura da usura ao estado de necessidade. Contudo não é de descartar os
casos onde alguém tem um dever de ação decorrente de lei ou do NJ e pede, em troca
desse dever de ação, uma contraprestação. Pela pessoa estar com o medo do estado de
necessidade esta acaba por ceder, mas tem-se entendido que tal negócio é ofensivo dos
bons costumes como sentido ético do sistema e da vida em sociedade e como tal nulo
nos termos do art. 280.
Usura
A usura – art. 282 – é um vicio complexo pois esta atinge não só a formação de vontade,
mas também o conteúdo do negócio. A usara compreende o aproveitamento da
fragilidade alheia.
Para haver usura é necessário:
- Pressupostos subjetivos que determinam o vicio na formação de vontade: vítima de
usura numa posição de inferioridade e usurário explora esta situação de inferioridade
(basta explorar mesmo inconscientemente).
- Pressupostos objetivos que determinam o vicio no conteúdo do negócio: lesão
excessiva onde o custo para a vitima é claramente superior do que o beneficio que retira.
A usura é sempre relevante e a consequência será a modificação (se o desequilíbrio se
encontrar no conteúdo do negocio podemos modificar o mesmo de modo a equilibra-
lo) ou a anulabilidade.
A vítima da usura é titular do direito de modificação/anulação, contudo o legislador
estabeleceu dois regimes:
- Usura não criminoso: regime geral da anulabilidade, 1 ano a contar do ultimo momento
que cessa o vicio, ou seja em que a vitima se apercebe da usura ou com a extinção da
posição de inferioridade.
- usura criminosa: 5 anos, se o vicio ainda não tiver cessado no fim dos 5 anos então
adicionamos mais 1 ano a contar da responsabilidade criminal e se nos dois prazos
anteriores o vicio ainda não tiver cessado então aplicamos o regime geral da
anulabilidade.
Erro na declaração
Falamos de uma divergência não intencional entre a vontade declarada e a vontade real
(art. 247-249). A razão do engano pode estar em dois sítios:
1. Erro no significante – a pessoa escolhe a palavra errada, ou seja, declara algo que
não queria;
2. Erro no significado – a pessoa declara o que queria, mas atribui a esta um
conteúdo que não corresponde à realidade.
Se o erro for conhecido resolve-se pelo art. 236/2. Se o erro for cognoscível resolvemos
pelo art. 236/1.
Só existe patologia quando o erro não é conhecido nem cognoscível – erro obstáculo.
O erro obstáculo é relevante sempre que haja essencialidade do motivo sobre o qual
recai o erro e haja conhecimento ou cognoscibilidade do declaratário sobre a
essencialidade do elemento que recai o erro.
O efeito será a anulabilidade, 1 ano a contar do conhecimento do erro.
O art. 249 fala de erros de calculo ou de escrita, contudo estes têm-se por conhecidos
ou cognoscíveis.
Erro no entendimento
O erro no entendimento é desenvolvido pela doutrina como sendo a situação onde o
declaratário vai interpretar a declaração do declarante com um sentido que não
corresponde ao sentido percetivel.
Se o declaratário simplesmente aceitar a declaração do declarante com um “sim” não
haverá problemas e esta irá valer com o sentido querido e percetivel.
Se o declaratário aceitar a declaração do declarante mas proferindo uma alteração que
não constava da declaração inicial então a professora Elsa considera que não há uma
aceitação pois esta deve ser total e inequívoca.
Se houver uma divergência entre a vontade real e a vontade declarada mais um erro
obstáculo então estamos perante um dissenso que pode ser patente se houver uma
discordância entre sentidos objetivos fácil de perceber ou oculto quando há acordo de
sentidos objetivos mas divergência de sentidos queridos. O dissenso caracteriza uma
falta de acordo, sem acordo não há aceitação e sem aceitação o negócio não se celebra
– art. 232.
Simulação
A simulação é uma modalidade de divergência intencional entre a vontade querida e a
vontade declarada. Para que haja simulação é necessária divergência entre a vontade
real e a vontade declarada, pacto simulatório e intenção de enganar.
A simulação pode ser absoluta quando há apenas um negócio e as partes declaram que
querem celebrar este quando na verdade não querem ou pode ser simulação relativa
quando haja dois negócios, o negócio simulado (vontade declarada) e o negocio
dissimulado (vontade real).
A simulação é inocente quando esta se limita a enganar outrem, por outro lado será
fraudulenta quando as partes querem prejudicar alguém – art. 242/2.
A simulação subjetiva diz respeito aos sujeitos, a simulação objetiva diz respeito ao
conteúdo ou ao objeto.
O art. 240/2 diz-nos que o negócio simulado é sempre nulo, mas e o negocio
dissimulado? A lei exige que olhemos para o negócio dissimulado como se não houvesse
simulação, se o negocio for consensual não haverá grande problema, no entanto o art.
241/2 estabelece uma particularidade quanto aos negócios formais este exige que o
negócio dissimulado siga a forma exigida para o negócio que foi celebrado, ora a verdade
é que um notário não vai admitir o registro de dois negócios, um simulado e um
dissimulado, como tal a doutrina e a jurisprudência têm entendido que ao avaliar a
validade do negocio dissimulado devemos: verificar se a forma exigida para o negócio
dissimulado foi seguida pelo negócio simulado e verificar se os elementos essenciais do
negócio dissimulado constam do negócio simulado – art. 221a. Se tal se verificar então
o negócio dissimulado é válido, caso contrário será nulo por vicio de forma – art. 220.
Serve ter em atenção que quando o negócio é uma doação a maioria da doutrina admite
que o animus donandi – dar sem esperar nada em troca – é uma exigência de forma dos
negócios gratuitos, apenas oliveira Ascensão discorda de tal.
Tem legitimidade para arguir a nulidade da simulação os simuladores, os herdeiros
legitimários, os legatários, os sucessíveis legitimários, os preferentes, os credores, os
sub-adquirentes e o Estado. No fundo, art. 286, todos os que possam ver a sua esfera
jurídica ser alterada pela declaração de nulidade.
Inoponibilidade da nulidade da simulação perante terceiros de boa-fé
O art. 243 estabelece que a nulidade da simulação é inoponivel a terceiros de boa-fé,
esta boa-fé será subjetiva psicológica contudo o art. 243/3 leva-nos a querer que em
certo caso pode ser boa-fé subjetiva ética. Ou seja, se um dos simuladores haja alienado
o bem que decorre do negocio simulado a um terceiro de boa-fé, mesmo que a nulidade
seja invocada, tal será inoponivel frente a esse terceiro desde que ele esteja de boa-fé.
Temos de ter em conta os casos em que o terceiro usa a inoponibilidade a seu favor e
tenta aproveitar-se do negocio simulado, como por exemplo um preferente que quer
exercer o seu direito de preferência sobre o valor do negocio simulado que será inferior
que o valor real do negocio dissimulado, nestes casos temos de compatibilizar o art. 243
com a sua ratio legis, o objetivo desta norma será de impedir prejuízos para terceiros,
não de lhes conferir um beneficio ou uma vantagem, assim sendo no caso suprarreferido
estaríamos perante um enriquecimento sem causa (enriquecimento sem fundamento
jurídico para tal) – art. 473, pelo que o terceiro não poderia se aproveitar da
inoponibilidade para preferir pelo preço mais baixo.
Se diversos terceiros estiverem de má fé estes não vão poder invocar a nulidade nem
gozar da inoponibilidade. Nunca devemos descartar a possibilidade de aplicação do art.
291. A hipótese mais complicada surge quando dois terceiros estão de boa-fé, e um quer
invocar a nulidade do negocio enquanto o outro quer mante-lo. Surgem quatro
soluções:
- Teoria da realidade, onde estiver o direito é onde está o interesse;
- Teoria da aparência, seguimos a simulação como se esta fosse válida e vemos onde
está o direito;
- Regime geral, qualquer interessado pode invocar a nulidade;
- CF, conflito de direitos não se aplica.
Negócio fiduciário
A fidúcia é a confiança, nos negócios fiduciários confere-se mais poderes a uma pessoa
do que seriam necessário para o fim que se pretende com a confiança de que a pessoa
não os irá exercer.
Os negócios fiduciários podem ter um fim de garantia ou fins de administração e
alienação. O principio da tipicidade dos direitos reais – art. 1306 – em principio impedira
a eficácia destas negócios contudo tem-se entendido que o pacto comissório não
pretende criar um novo direito real mas sim será um negocio de natureza obrigacional,
a pessoa tem todos os direitos que vêm com a propriedade mas compromete-se a não
utilizar alguns.
O problema maior fica no pacto fiduciário com fim de garantia, mais concretamente o
pacto comissório (art. 694) que é nulo por enrequicimento sem causa, ainda assim a lei
permite o pacto marciano que em tudo é igual ao pacto comissório com exceção de que
neste, se o credor ficar efetivamente com o bem, este deve devolver ao devedor a
medida do enriquecimento que ganhou entre a diferença do valor da divida e do valor
do bem.
Negócio indireto
Este negocio é composto pelo seu tipo de referencia mais um fim indireto, por vezes
escolhemos um tipo negocial mas queremos seguir um fim que não corresponde a esse
tipo. O negocio é indireto sempre que o fim típico do negocio celebrado não se
assemelhe ao fim típico comum desse mesmo negocio mas sim ao tipo de outro (compra
e venda de um palacete por 100€, tipo é compra e venda mas assemelha-se ao tipo
doação). Este só será nulo se violar o art. 281.
Reserva mental
A reserva mental é um caso de divergência intencional entre a vontade declarada e a
vontade real mas neste caso é unilateral, ou seja, apenas o declarante emite uma
declaração que não corresponde à vontade real para enganar o declaratário – art. 244.
Pode ser absoluta quando o declarante declara que quer celebrar algo que na verdade
não quer, ou relativa, quando o declarante declara querer celebrar um negocio quando
na verdade queria celebrar outro. Pode ser inocente ou fraudulenta, total ou parcial. Se
a reseerva mental não for conhecida do declaratário então os efeitos mantêm-se. Se for
conhecida aplicamos o regime da simulação.
Ineficácia SA
Diz-se por ineficaz em sentido amplo quando um ato não vai produzir todos os efeitos
que devia produzir. Existem 4 modalidades: inexistência, invalidade, ineficácia e
irregularidade.
Inexistência
Não sabemos se existe, o legislador fala dela no casamento civil, MC diz que esta não
existe, CF diz que existe.
Invalidade
A invalidade é o desvalora associado a um vicio genético, pode ser nulidade,
anulabilidade e invalidade mista.
Regra geral é a retroatividade contudo esta tem limites. Quando o bem é alienado
gratuitamente a terceiro o legislador estabelece um regime especial – art. 289 – onde
se a restituição não for possível o terceiro deve devolver o valor do enriquecimento.
Os possuidores de boa-fé não verão retroatividade nos frutos colhidos.
Existe tutela de terceiros de boa-fé (art. 291) sempre que a aquisição do bem for feita a
titulo oneroso, o bem seja registável, o terceiro esteja em boa-fé subjetiva ética, o
registo do bem seja anterior ao registo de ação de nulidade e terem passado mais de
três anos do registo sem ter havido nulidade anulabilidade.
Aqui não há nenhum vicio genético, mas a produção de efeitos do ato está dependente
da verificação de uma determinada circunstância externa que não ocorre e tal faz com
que o ato seja ineficaz. Exemplo: condição e registo.
Por último:
1. Total: todos os efeitos estão dependentes da circunstância externa;
2. Parcial: apenas alguns efeitos estão dependentes da circunstância externa.
Irregularidade
Ninguém discute a existência desta figura, contudo não se sabe se esta deve ser
verdadeiramente considerada como uma figura de ineficácia ou se será algo diferente.
Um ato irregular não tem um vicio, mas há uma determinada regra que a lei estabelece
que não foi observada (e a não observância não pressupõe invalidade) mas que vem
comprometer a produção plena de efeitos pelo ato. Exemplo: casamento irregular.
O ato produz efeitos, mas não produz todos os efeitos que produziria se a regra tivesse
sido observada, tal faz a doutrina divergir. Quem coloca o acento tónico nos efeitos que
não são produzidos vê um caso de ineficácia. Quem pelo contrário foca-se nos efeitos
que o ato produz afasta a ineficácia.