Ac Regime Bens CC
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*Texto Integral:* **
Excel�ncia:
"O artigo 1698� afirma expressamente, pelo contr�rio, que "os esposos
podem fixar livremente, em conven��o antenupcial, o regime de bens do
casamento, quer escolhendo um dos regimes previstos neste C�digo, quer
estipulando o que a esse respeito lhes aprouver, dentro dos limites da lei".
2.2. "Fora dos casos excepcionais a que o artigo 1720� (2) se refere, os
nubentes t�m plena liberdade de escolher o regime de bens que mais lhes
convier.
"Al�m disso, sabe-se que n�o pode ser convencionado o regime dotal,
inteiramente proscrito pela Reforma de 1977, e que tamb�m n�o pode ser
adoptado (art. 1699�, 2) o regime da comunh�o geral (nem estipular a
comunicabilidade dos bens considerados como pr�prios no regime da
comunh�o de adquiridos) pelo nubente que tiver j� filhos, mesmo que
maiores ou emancipados (x) (3).
3.
3.1. Dispunha o artigo 1096� do C�digo de Seabra que era "l�cito aos
esposos estipularem, antes da celebra��o do casamento, e dentro dos
limites da lei, tudo o que lhes aprouve(sse) relativamente a seus bens".
"As nossas leis viram nos casamentos das mulheres de mais de cinquenta
anos, quando j� n�o h� esperan�a de prole, e quando � j� dif�cil a ac��o
das paix�es, uma esp�cie de pacto sucess�rio encoberto com as n�pcias, e
por isso trataram de providenciar por forma que este casamento n�o
lesasse os filhos de anterior matrim�nio.
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"A disposi��o do artigo 1235� � mais em castigo do c�njuge, que casa com
o b�nubo, do que em benef�cio dos filhos deste.
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.........................."Todas
estas dificuldades se resolvem logo que se atenda a que as restri��es
consignadas nos artigos 1235� e 1237� n�o foram estabelecidas unicamente
em favor dos filhos de anterior matrimonio, mas tamb�m em �dio ao
c�njuge que se associar ao b�nubo com filhos."
Mais tarde escreveu o mesmo autor (7) que essas disposi��es - artigos
1235� a 1238� - visaram "acautelar os interesses dos filhos, contra a
leviandade ou imprud�ncia dos b�nubos que n�o duvidam arriscar e
comprometer a fortuna dos filhos de leito anterior em proveito das
rela��es jur�dicas criadas com a nova associa��o familiar".
"N�o s�o, pois todos os bens do filho predefunto que ficam exclu�dos da
comunh�o quando o pai ou a m�e sobreviva passa a segundas n�pcias. E
para que n�o subsistissem a �ste respeito d�vidas algumas, que o Decreto
n� 19126 acrescentou ao n� 3� do art. 1109� a frase "nos termos do art.
1236�", artigo �ste que somente aos bens da aludida proveni�ncia se refere."
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"Os bens que, por f�r�a d�stes preceitos, ficam exclu�dos da comunh�o,
portanto, s�o s�mente os seguintes: a) metade dos bens presentes do
b�nubo ou tr�nubo, isto �, a ele pertencentes na data do novo casamento;
b) metade dos que, de futuro �le adquirir, por heran�a ou doa��o, de
seus ascendentes ou de outros parentes [...]".
"Portanto o pensamento que determinou o artigo 1235� n�o pode ter sido o
que na consulta se exp�e.
"Ora o artigo 1109� do C�digo Civil exclui da comunh�o, no seu n� 4�, "a
metade dos bens que possuir o c�njuge que passar a segundas n�pcias ou
dos que herdar dos seus parentes ou receber por doa��o, tendo do
anterior matrim�nio filhos ou outros descendentes nos termos do artigo
1235�".
"E n�o pode dizer-se, porque o preceito excepcional o n�o diz, que essa
exclus�o n�o � de aplicar ao caso de segundas n�pcias entre os mesmos
c�njuges com filhos comuns. Seria restringir o �mbito da excep��o que
fala em c�njuge que passar a segundas n�pcias, sem distinguir se as
contrai com o mesmo ou com outro c�njuge".
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"[...] n�o interessa saber se os direitos dos filhos s�o melhor ou pior
defendidos com uma ou outra solu��o. O que interessa � conhecer a medida
da protec��o legal, para aplicar, nem mais nem menos, essa medida. Por
outra forma sair� o julgador da esfera da legalidade para entrar no
perigos�ssimo dom�nio da equidade".
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4.
4.1. Proclama o j� citado artigo 1698� do C�digo Civil vigente, tal como
o artigo 1096� do C�digo de Seabra (de 1867), o princ�pio tradicional da
liberdade de conven��o, dentro dos limites da lei.
"E � a todos estes casos, cobertos pelo seu texto, que a al�nea c) do
artigo 1720� se aplica, porque os abrange igualmente o seu esp�rito. A
protec��o que a lei pretende conceder aos descendentes do matrim�nio
anterior tem a mesma justifica��o em todos esses casos.
"2. Se o casamento for celebrado por quem tenha filhos, ainda que
maiores ou emancipados, n�o poder� ser convencionado o regime da
comunh�o geral nem estipulada a comunicabilidade dos bens referidos no
n� 1 do artigo 1722�" (21).
"As altera��es agora introduzidas neste dom�nio, e bem assim no que toca
aos regimes de bens, limitam-se, por isso, �s que estritamente decorrem
da necessidade de adaptar o C�digo Civil �s exig�ncias constitucionais.
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"Importar�, por �ltimo, advertir que esta restri��o deve ser entendida
nos seus termos exactos. Para que cesse a raz�o de ser da lei, e
portanto a disciplina da mesma, � preciso que os descendentes de cada um
dos nubentes sejam os descendentes do outro, isto �, que os nubentes s�
tenham descendentes comuns".
5.
"Quando, por�m, assim n�o suceda, o C�digo faz apelo franco, como n�o
poderia deixar de ser, a crit�rios de car�cter objectivo, como s�o os
que constam do n� 3".
"O texto da lei n�o � mais do que um complexo de palavras escritas (-)
que servem para uma manifesta��o de vontade, a casca exterior que
encerra um pensamento, o corpo de um conte�do espiritual.
"A lei, por�m, n�o se identifica com a letra da lei. Esta � apenas um
meio de comunica��o: as palavras s�o s�mbolos e portadoras de
pensamento, mas podem ser defeituosas. S� nos sistemas jur�dicos
primitivos a letra da lei era decisiva, tendo um valor m�stico e
sacramental. Pelo contr�rio, com o desenvolvimento da civiliza��o, esta
concep��o � abandonada e procura-se a inten��o legislativa. Relevante �
o elemento espiritual, a voluntas legis, embora deduzida atrav�s das
palavras do legislador.
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"E deste modo se passa bem cedo � interpreta��o l�gica que quer deduzir
de outras circunst�ncias o pensamento legal, isto �, de elementos
racionais, sistem�ticos e hist�ricos, que todos convergem para iluminar
o conte�do do princ�pio. A interpreta��o l�gica, por�m, n�o deve
contrapor-se rasgadamente � interpreta��o lingu�stica: n�o se trata de
duas opera��es separadas, porque al�m de terem ambas o mesmo fim,
realizam-se conjuntamente - s�o as partes conexas de uma s� e
indivis�vel actividade (-)".
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"De resto, mesmo quando o sentido � claro, n�o pode haver logo a
seguran�a de que ele corresponde exactamente � vontade legislativa, pois
� bem poss�vel que as palavras sejam defeituosas ou imperfeitas
(manchevole), que n�o reproduzam em extens�o o conte�do do princ�pio ou,
pelo contr�rio, sejam demasiado gerais e fa�am entender um princ�pio
mais lato do que o real, assim como, por �ltimo, n�o � exclu�do o
emprego de termos err�neos que falseiem abertamente a vontade
legislativa. O sentido literal � incerto, hipot�tico, equ�voco. Tamb�m
os que actuam in fraudem legis observam o sentido literal da lei, e no
entanto violam o seu esp�rito (-). Como ajuda, integra��o e controlo da
interpreta��o gramatical serve a interpreta��o l�gica.
"Esta move-se num ambiente mais alto e utiliza meios mais finos de
indaga��o, pois remonta ao esp�rito da disposi��o, inferindo-o dos
factores racionais que a inspiram, da g�nese hist�rica que a prende a
leis anteriores, da conex�o que a enla�a �s outras normas e de todo o
sistema. � da pondera��o destes diversos factores que se deduz o valor
da norma jur�dica.
"I) Elemento racional
"� preciso que a norma seja entendida no sentido que melhor responda �
consecu��o do resultado que quer obter. Pois que a lei se comporta para
com a ratio iuris, como o meio para com o fim: quem quer o fim quer
tamb�m os meios.
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"Um princ�pio jur�dico n�o existe isoladamente, mas est� ligado por nexo
�ntimo com outros princ�pios.
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"Uma norma de direito n�o brota dum jacto, como Minerva armada da cabe�a
de J�piter legislador. Mesmo quando versa sobre rela��es novas, a
regulamenta��o inspira-se frequentemente na imita��o de outras rela��es
que j� t�m disciplina no sistema (-)
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- extensiva
- restritiva.
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5.4.2. O C�digo Civil vigente, na sua primitiva redac��o, foi mais longe
que o C�digo de Seabra, no citado artigo 1235�, ao estatuir, na al�nea
c) do n� 1 do artigo 1720�, que se considerava sempre contra�do sob
"regime de separa��o de bens" o casamento celebrado por quem tivesse
filhos leg�timos, ainda que maiores ou emancipados.
� por isso evidente que esta disposi��o tem a mesma raz�o de ser das
suas fontes, da imediata - a al�nea c) do n� 1 do artigo 1720�, na
redac��o primitiva do C�digo Civil - e da mediata - os artigos 1109�, n�
4 e 1235� do C�digo de Seabra: proteger os filhos de um leito nas
rela��es com os filhos de outro (novo) leito ou, mesmo, com um padrasto
ou madrasta (32), de quem n�o ser�o herdeiros legais.
Mas a solu��o n�o pode deixar de ser a mesma, caso o casamento seja
entre nubentes em primeiras n�pcias, havendo j� (e s�) filhos comuns
anteriores ao matrim�nio.
Conclus�o:
6.
x1) "DIAS FERREIRA, II, 2� edi��o, p�g. 342; SILVA CARVALHO, I, n� 39".
x3) "Cfr. a "Rev. Leg. Jur.", 65�, p�g. 264. Em face da raz�o de ser do
artigo parece �bvio que ele n�o deve aplicar-se �s segundas n�pcias
celebradas entre os mesmos c�njuges, contra o que recentemente decidiu o
S.T.J.. Cfr. o Ac. de 15 de Junho de 1956, na "Rev. Leg. Jur.", 90�,
p�g. 164 e a respectiva anota��o de PIRES DE LIMA. Cfr. ainda a "Rev.
dos Trib.", 74�, p�g. 258".
15) PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA, "C�digo Civil anotado", vol. IV,
1975, p�g. 323.
22) "C�digo Civil anotado", vol. IV, 2� edi��o, 1992, p�g. 365.
23) Escreve PEREIRA COELHO, Curso de Direito da Fam�lia, 1986, p�g. 448,
nota (1):
29) "O Direito - Introdu��o e Teoria Geral", 6� edi��o, 1991, p�gs. 395
e segs.