O Lugar Da Reabilitação Psicossocial em Um Centro de Atenção Psicossocial de Santa Catarina
O Lugar Da Reabilitação Psicossocial em Um Centro de Atenção Psicossocial de Santa Catarina
O Lugar Da Reabilitação Psicossocial em Um Centro de Atenção Psicossocial de Santa Catarina
RESUMO
Este artigo é um recorte do resultado do Trabalho de Conclusão de Residência, no
Programa de Residência em Saúde Mental e Atenção Psicossocial da UNESC, que
visou pesquisar a compreensão e os processos de reabilitação psicossocial em relação a
usuários com psicose em um CAPS no sul de SC. Trata-se de uma pesquisa qualitativa,
na qual foram entrevistados quatro profissionais por meio de roteiro semiestruturado,
visando compreender a percepção e os modos de estruturação de atividades do serviço
de uma possível reabilitação psicossocial. Os dados foram analisados a partir da
proposta de Análise de Conteúdo, tendo como base teórico-conceitual os estudos sobre
reabilitação psicossocial, Reforma Psiquiátrica e Psicanálise. Foi evidenciado que
mesmo os profissionais apresentando dificuldade de reconhecer o conceito da
reabilitação psicossocial, encontram-se alinhados a processos de estabelecimento e
reestabelecimento da cidadania, do cuidado em liberdade e da autonomia.
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THE PLACE OF PSYCHOSOCIAL REHABILITATION IN A PSYCHOSOCIAL
CARE CENTER IN SANTA CATARINA
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
Acho que tem algumas pessoas que tem um foco maior nisso, por exemplo a Artesã que
faz mais passeios, mas tem outras pessoas que também fazem isso e que tentam essa
reinserção social a partir de uma vivência e experiências com o mundo mais externo.
Acho também que aqui mesmo, em certas oficinas a gente tem essa oportunidade de
estar treinando habilidade e capacidades que lá fora eles vão utilizar para a sua
reinserção. O CAPS como um todo, tem a função de reinserção, não trabalhamos
mais nessa ideia de isolar as pessoas e fazer com que elas estejam distanciadas dos
problemas do mundo, é muito como se a gente preparasse ela pra esses problemas (...)
Acho que a gente fica sempre tentando dar asas e liberdade e ajudar as pessoas” (P2)
“Pode ser as mais voltadas pro social? De repente até tentando inserir ele,
encorajando ele a estar novamente no mercado de trabalho, (...) buscando sua
autonomia. Quando ele é inserido aqui, a gente fala: o CAPS é só uma passagem, não é
pra vida inteira, que ele está aqui só pra realizar um tratamento, que o principal é
reinserir novamente na sociedade, e buscar espaços na sua comunidade, que não existe
atividade de grupo só aqui no CAPS, que existem atividades extra CAPS na sua
comunidade. Eu acredito que esse trabalho visa resgatar a autonomia do sujeito que
ele possa se encorajar a viver novamente em sociedade” (P4)
(...) tipo a feira do livro, semana do meio ambiente, eles estão sempre
saindo, tem o grupo que trabalha com o teatro, as vezes eles vão pra Universidade
(referindo-se as apresentações teatrais) vão pra outro setor da prefeitura, aonde são
chamados a ir e se apresentam (P1)
(...) Acontece de existir sim, na prática quando a gente que uma pessoa está muito
distante de poder atingir essa independência da qual falei, acho que a gente vai
tentando convocar a rede, pra que familiares e amigos tentem ajudar essa pessoa, se a
gente vê que ela tem sintomas mais psicóticos ou esquizofrenia algo mais grave, a
gente acaba por convocar essa rede pra dar mais suporte. (P2)
“No momento do acolhimento, o acolhedor vai verificar qual é o sofrimento dele, ele
traz pra equipe e nessa reunião a equipe define qual é o plano terapêutico dele.” (P1).
“(...) mas isso nada e estático, durante o processo se não há identificação o plano
terapêutico muda, ele sempre está em movimento, não pode ser fechado ele é
construído durante toda a permanência do usuário no serviço.” (P4)
“Nós temos grupos diferenciados, não sei se a gente pode usar essa denominação, mas
dos grupos de crônicos, dos grupos reflexivos, de psicoterapia, existe sim. Eu vejo que
isso transcorre em torno da reunião de equipe, onde alguns profissionais já conhecem,
pois estão em situação de reacolhimento, alguns pacientes com o tempo já retornam ao
trabalho, alguns profissionais já conhecem, outro pelo relato e pela percepção do
acolhedor e de equipe em discussão de caso, e denominado e inserido nos grupos que
pensa-se que pode ser dela aquela pessoa.” (P3)
“O que falta seria uma interação maior dos profissionais com eles (usuários).
Existe muita essa questão da separação de quem atende uma pessoa é o profissional
X ou Y, então ‘vai lá que ele te atende’. Mas as vezes o usuário quer mais que o
profissional X e Y, ele quer interagir com a equipe toda, ele achou interessante ser
atendido com o psicólogo e aqui dificilmente o usuário com psicose ele é atendido
pelos profissionais da psicologia, poucos são. Eles entendem que eles não tem insight, e
os usuários sentem falta dessa conversa, por que pra eles o psicólogo é referência no
CAPS, (...) mesmo que não seja psicoterapia, (...) então eles acabam se sentindo
excluídos, se sentem mal.” (P1)
Uma das dificuldades para o cuidado com as pessoas com psicose, segundo
os entrevistados se caracteriza relação/ausência das famílias no tratamento e cuidado
com usuários com psicose, entende-se que de acordo com Costa (2001) a subjetividade
do sujeito com psicose está orientada pelos padrões das relações familiares. Ao inserir a
família no cuidado em saúde desses sujeitos integra-se o sentido complexo e subjetivo
da constituição humana, seja ela dada a partir das psicoses ou não. Embora sejam
construídas e viabilizadas redes de apoio em saúde, ainda percebesse a fragilidade e as
dificuldades por parte dos familiares no estabelecimento de vínculos e formas de
convívio com sujeitos com psicose. Ressaltando que não somente o sujeito com psicose
necessita de suporte, mas também a família, que por muito nessa trajetória acaba por
adoecer (Tavares et al., 2020). Entende-se que, por muito tempo o manicômio separou
o sujeito de suas famílias, culpabilizando- nas pela doença mental. Sendo assim, é de
fundamental importância que os CAPS repensem os modos se ouvir e inserir das
famílias dos sujeitos com sofrimento psíquico, por meio do suporte e de sua inclusão no
processo de reabilitação psicossocial.
Sendo assim, esta dificuldade ressaltado no discurso dos profissionais deve
estar posta também em forma de discussão de casos, colocando a família não no suporte
ao cuidado, mas também enquanto sujeitos que devem receber, acolhimento, orientação
e espaços de fala.
Outro fator que surge em meio aos discursos é a interação dos usuários com
os profissionais do serviço, para além da exclusividade das participações de grupo. Esse
fator ainda remete a um modelo fechado de cuidado, onde não há circulação e
compartilhamento. Também se percebe que há demanda, os usuários endereçam suas
vontades, estão colocados a dizer sobre algo e, ao que parece, algumas ficam sem ser
ouvidas. Obviamente algo se opera no CAPS, pois os sujeitos com psicose possuem
diversos recursos para construir sua caminhada sem a presença de uma clínica, isto está
posto à medida que a profissional entrevistada relata que há uma demanda, e que há
procura por um espaço de escuta (Amâncio, 2012).
As equipes de Saúde Mental ainda exercem um trabalho “desclinicizado,
tendo somente por base a lógica da inclusão, acolhendo sem tratar”, considera-se que só
pode haver clinica quando há implicação do sujeito e dos profissionais a um ato que os
una. Sem a presença de uma implicação e suas responsabilidades do cuidado, não há
clínica (Amâncio, 2012 p.131). Nessa direção a reabilitação psicossocial representa
justamente esta implicação que liga o sujeito, seu território e os profissionais de saúde,
pensando para além de um tratamento sobre o sintoma de um diagnóstico.
CONCLUSÃO
REFERENCIAS