Esfinge James Marian

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James, personagem de Coelho Neto em sua obra "Esphinge", antecede toda

questão do olhar do outro e suas implicações. Esse personagem, no início da trama,


não possui voz, nem discurso. Ele é descrito e "desenhado" pelo olhar de outros
moradores da pensão, onde estava residindo. De início podemos perceber quanto
estranhamento e desconforto James proporciona na seguinte passagem:
“O commendador, que não o via com bons olhos, só lhe
chamava - o “Boneco”, e Basílio, sempre azedo, não o
supportava, achando-o ridículo com aquella cara de manequim
de cabeleireiro.” (NETO, pg.14,1906)
O mesmo, se dá pelo simples fato de que sua fisionomia impede e questiona
o binarismo. James Marian, ou João Maria, retratado como contendo um semblante
"feminino" e um corpo robusto e musculoso "masculino" traz desconforto na citada
pensão no Rio de Janeiro. Podemos perceber essa inquietude diante a figura de
James Marian no discurso dos personagens da pensão:
“Era em verdade, um formoso mancebo, alto e forte, aprumado
como uma columna. Mas o que logo surpreendia, pelo
contraste, nesse athleta magnífico, era o rosto de feminina e
suave beleza.” (NETO, pg.14,1906)

Coelho em 1906, acolhe com grande perspicácia esse olhar do outro ao


"estranho familiar”. Tema muito debatido por Sigmund Freud e Carl Gustav Jung em
semelhante época. Originalmente em Alemão " Das unheimliche" 1919 ou seja, o
estranho familiar, segundo Freud, nos incomoda pois permite a suspensão das
certezas, em prol, da construção de novos saberes. A figura da Esfinge aqui acaba
sendo trazida pelo escritor não somente pela real impossibilidade de uma
classificação em gênero, mas sim, pelo suscitar de um enigma.
James é sensual e amedrontador ao mesmo tempo, tal qual um enigma
diante nós. O mesmo permite, em si, a coexistência da sedução e estranheza,
ingredientes para suspensão das certezas e incursão da angústia. Ao pensarmos a
figura da Esfinge, somos quase que guiados por imagens que remetem ao Egito.
Essa esfinge era, a priori “masculina” e deveras representada como guardião da
almas penadas. Nesse sentido, a construção de seu maior monumento, próximo das
pirâmides. Nesse sentido, para os egípcios, elas representavam as tumbas dos
faraós.
Pensando nessa figura mítica e certeza como consoladora, Neto logo no
início de sua obra nos suspende a certeza. Angústia inevitável mas mesclada com o
mistério de James Marian. Ela em si mesma nos suscita, como se fossemos
também seus vizinhos na pensão, curiosidade. Queremos “interpretar” seu modo de
comer, agir e porque não, pensar. Coelho Neto nos amarra em sua escrita, muito
em função do mistério e fascínio envolvido nesse personagem. Adjetivos esses que
nos remetem ainda mais a figura da “esfinge”. Principalmente quando falamos de
mitologia Grega, e nesse caso em específico, Sófocles. Focamos nesse recorte no
imaginário mítico que permeia a esfinge por alguns motivos. Entre eles estaria o fato
de que somente em Sófocles, na obra “Édipo Rei”, encontramos essa figura mítica
com características “feminina e masculina”. Faz-se necessária aqui a distinção entre
feminino/masculino e mulher/homem. Cuidado esse que de maneira criteriosa,
Coelho Neto possui em sua escrita. Nesse Sentido, logo no título do romance,
encontramos “Esfinge”. Ali está o vazio de um artigo feminino e masculino, mas uma
vez as certezas são postas em “xeque”.
“Imaginem, a mais formosa cabeça de mulher sobre o tronco
formidável de um hércules de circo. A belleza e a força. Toda a
Esthetica!” (NETO, pg.16,1906)

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