Aula 09
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AULA
do desenvolvimento humano:
a abordagem psicanalítica
Meta da aula
Apresentar contribuições da teoria psicanalítica, destacando os
principais conceitos sobre a constituição do aparelho psíquico,
a formação do sujeito e a construção de arranjos subjetivos.
objetivos
Pré-requisitos
Para se ter um bom aproveitamento desta aula, é importante
relembrar o que foi visto nas aulas anteriores: a Aula 5, sobre a
primeira infância; a Aula 6, sobre a segunda infância; a Aula 7,
sobre a idade escolar; a Aula 8, sobre a adolescência.
Em todas elas, vimos referências à Psicanálise,
que serão aprofundadas nesta aula.
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psicanalítica
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laboratório experimental em 1879, em Leipzig, na Alemanha (ver Aula 1).
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Como Freud, médico neurologista, parte do estudo das doenças mentais,
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verifica, após descobrir que a histeria era provocada por fatores psicológicos Histeria
e nada tinha de conteúdo orgânico, que aquilo que a originava deveria ser Deriva do grego hyste-
rus, que significa útero.
também oriundo de fontes psicológicas. Sua primeira utilização
com a finalidade de
A segunda acepção da palavra Psicanálise esclarece que a pesquisa definir manifestações
efetuada possibilita o tratamento de distúrbios neuróticos, pois lhe for- sintomáticas, como
paralisias, dormências,
nece um valioso método para obtenção de resultados que possibilitam o cegueiras, contrações
musculares invo-
alívio do sofrimento neurótico ou da dor de existir. De início, o método luntárias, sem causa
utilizado era o hipno-catártico, que consistia no uso da hipnose para orgânica, foi atribuída
a Hipócrates, pai da
alcançar ideias, lembranças de acontecimentos marcantes, traumáti- Medicina, na Grécia
Clássica. Apesar do
cos, que, por serem dessa forma, precisaram sofrer a ação do recalque, nome, os sintomas
aparecem também
mecanismo de defesa fundamental para a estruturação e o equilíbrio
em homens.
do aparelho psíquico. Mais tarde, Freud rejeita o uso da hipnose, uma
vez que os resultados alcançados mostraram-se fugazes. Em seguida, a
prática leva-o a descobrir o método da associação livre, que consiste em C ata r s e
deixar o sujeito falar tudo que lhe vier à cabeça, sem impor quaisquer Origina-se do grego
katharsis, que significa
restrições ou críticas. expulsão violenta ou
vômito. A ideia era
fazer o sujeito expulsar
de si as lembranças
dolorosas, obtendo
R e c a l q u e (V e r d r ä n g u n g ) alívio e abrindo terreno
para novas
Traduzido equivocadamente por repressão (Unterdrückung), que corresponde, grosso
experiências de vida.
modo, na transformação do material consciente em pré-consciente, enquanto
o recalque transforma o material consciente em inconsciente.
O recalque é considerado uma das pedras angulares da Psicanálise. Há o recalque ori-
ginal (Urverdrängung), que vai possibilitar o recalque propriamente dito. O primeiro
dá origem ao inconsciente, o segundo é utilizado como defesa contra qualquer ideia,
sobrecarregada de excitação, isto é, que produza angústia, quando a satisfação da
pulsão, ao invés de produzir prazer, produz desprazer. É preciso ressaltar que
o recalque incide sobre uma ideia e jamais sobre o afeto. Já a repressão pode incidir
sobre o afeto, retirando-o da consciência e tornando-o pré-consciente.
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e gradativamente Freud arrebanhou uma legião de seguidores – entre
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eles alguns já citados nos capítulos anteriores, como Melanie Klein, Do-
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nald Winnicott e Jacques Lacan – e hoje a Psicanálise tem mais de cem
anos e milhares de instituições espalhadas pelo mundo. Em nosso país,
a Psicanálise está inclusive na universidade, em cursos de graduação,
bem como em programas de pós-graduação em nível de especialização,
mestrado e doutorado. Temos também, no Brasil, inúmeras sociedades
científicas que oferecem formação psicanalítica apoiadas no tripé análise,
estudo e supervisão.
Figura 9.1: O divã onde Freud atendia seus pacientes, hoje no Museu Freud, de Londres.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Freud_Sofa.JPG
ATIVIDADE
1.
a. Considerando as definições de Psicanálise, enumere-as, explicando-as.
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RESPOSTAS COMENTADAS
a. Etimologicamente, a palavra psicanálise significa análise da alma.
Mas o que é a Psicanálise? De acordo com Freud (1922/1976), o
saber que criou pode ser entendido a partir de três vertentes: (1)
como um procedimento para a investigação de processos anímicos
ou psíquicos que são quase inacessíveis por qualquer outro modo;
(2) corresponde a um método (baseado nessa investigação) para o
tratamento de distúrbios neuróticos; e (3) é uma coleção de informa-
ções psicológicas, obtidas ao longo dessas linhas, que gradualmente
se acumula numa nova disciplina científica.
b. Entre outras possibilidades, por agora é possível responder que
a Psicanálise, ao explicar a construção do aparelho psíquico e não
apenas as suas manifestações aparentes, possibilita ao educador
lidar com as diferenças em seus alunos, a partir da recordação das
próprias limitações experimentadas na infância.
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realidade, mal-estares estomacais depois de um desaforo “engolido”,
9
desânimo depois da vivência de um amor que se afasta? Mesmo um
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sintoma é uma forma de realização sexual do neurótico.
Nenhum desses fenômenos seria passível de explicação sem o
legítimo e necessário conceito de inconsciente. Vejamos por quê.
!
Ato falho
Conceito que abrange fenômenos de lapso da fala, da escrita e outras manifestações
da linguagem. É um ato pelo qual o sujeito substitui, malgrado si próprio, uma inten-
ção consciente por uma ação ou conduta imprevistas. Por exemplo, uma palavra não
planejada pode atravessar nosso discurso pretendido, deixando-nos embaraçados.
Dizemos uma coisa quando queríamos dizer outra, mas isso que dizemos responde
por uma verdade inconsciente. Um exemplo ótimo foi cometido em cadeia nacional
de televisão. Na época da inflação galopante, quando a cada poucos meses o governo
mudava o ministro da Fazenda, foi cogitado o nome de Dílson Funaro (1933-1989) para
ocupar o cargo desconfortável. Quando o repórter perguntou o que ele responderia
se fosse convidado para o cargo, Dílson respondeu: “Bem, se eu for condenado...”
Imediatamente, todos riram. A verdade do sujeito (inconsciente) havia suplantado a
superficialidade (consciente) das exigências sociais.
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por excelência de acesso aos produtos do inconsciente. Conhecemos
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alguns casos de sonhos relatados na Bíblia, como o do faraó que fez de
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José o primeiro grande intérprete de sonhos, anunciando as pragas que
atingiriam o Egito (Gênesis, 41). Os sonhos também foram considera-
dos como uma espécie de lixo da alma, restos a serem descartados toda
noite. Premonitórios de acontecimentos que estariam por vir ou material
destituído de valor, o fato é que os sonhos traduzem para cada um de
nós a quantas anda nosso interior profundo.
Para compreender alguns dos sinais de angústia que sentia, para
os quais não encontrava explicação plausível, Freud passou a fazer de
sua produção onírica a fonte de suas pesquisas. Interpretou inúmeros de
seus sonhos por meio do uso do método da associação livre e alcançou
resultados surpreendentes: os sonhos realizam o desejo do sonhador.
Suas brilhantes descobertas deram origem à tese A interpretação de
sonhos (1900; 1976).
De modo geral, a maior parte dos desejos que nos assalta durante
o dia não pode tornar-se real e sofre a ação do recalque. Queremos o ho-
mem dos sonhos da capa da revista, a linda modelo glamourosa, o carro
potente, a casa com um jardim, pedras de esmeralda, ganhar milhões na
Mega Sena, o reconhecimento pelo nosso trabalho. Uma vida seria pouca
para realizar tanto e nem tudo depende de nós, já que o outro tem seus
desejos também e a realidade impõe duros limites. Assim, uma das vias
de escape de nossas frustrações na vida de vigília é sonhar. Sonhando,
rompemos o princípio de realidade: podemos voar como os pássaros e
ter uma bela e ampla visão do lugar onde vivemos, podemos andar pela
areia do fundo do mar azul, podemos ser agraciados com uma dádiva
impossível, podemos nos vingar de uma injúria.
Lembre-se de que no inconsciente o não inexiste, tudo é possível
nessa outra realidade! Isso não diminui o valor dos desejos, realizados
virtualmente em nossos sonhos. Sonhos bons e sonhos maus respondem
pela mesma intenção: ou realizam desejos que nos dão prazer ou desejos
de punição. Isso mesmo. Também nossas faltas na vida de vigília são
contabilizadas, e, quando dormimos, para quitar nossas faltas, pagamos
o preço da produção de pesadelos.
Interpretar o conteúdo de um sonho só é possível por meio do mé-
todo de associação livre, uma vez que os símbolos nos sonhos dependem
do significado que lhes atribui o sonhador. Cada sonho deverá ser subme-
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ATIVIDADE
2.
a. Como funciona um ato falho?
RESPOSTAS COMENTADAS
a. É um ato pelo qual o sujeito substitui, apesar de sua intenção
consciente, uma ação ou conduta por outras, imprevistas. Uma
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palavra ser falada no lugar de outra que corresponde a uma verdade
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inconsciente. O ato falho abrange fenômenos de lapso da fala, da
escrita e outras manifestações da linguagem.
b. Sob a regência da censura, os mecanismos formadores dos
sonhos são o deslocamento, a condensação e a figurabilidade.
O deslocamento transfere a carga afetiva de uma ideia para outra,
cujo significado esteja distante da ideia original. A condensação junta
numa única ideia duas ou mais que tenham algum ponto comum.
A figurabilidade é a capacidade de transformar em imagens o que foi
vivido pelo sonhador. Boa parte das imagens é retirada do cotidiano
e disfarçada por meio do deslocamento e da condensação.
A importância da sexualidade
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O período de latência responde pelo declínio das atividades au-
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toeróticas, que só serão retomadas no período da adolescência, com a
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puberdade. É quando a criança adentra o mundo, o que inclui a escola e
o interesse despertado pelo processo de aprendizagem. Os diversos “por-
quês” surgem: “Por que o sol esquenta?” “Por que as estrelas piscam?”
Observa-se, no período de latência, o aparecimento de sentimentos de
vergonha e pudor, e de valores morais. Questiona-se o que é certo e o
que é errado. As paixões tórridas da infância cedem lugar a sentimentos
mais cálidos, a existência do outro é considerada.
Com a entrada na puberdade, início da adolescência, a fase genital
se anuncia. Todos os aspectos autoeróticos são despertados, o complexo
de Édipo sofre um retorno para ser revisto.
ATIVIDADE
Atende ao Objetivos 3 e 4
3.
a. Que relação há entre a libido e as zonas erógenas?
RESPOSTAS COMENTADAS
a. A libido é a energia sexual que pode se concentrar em partes privi-
legiadas do corpo de acordo com as prioridades que lhes são dadas.
Na fase oral, a boca é a zona erógena privilegiada. Na fase anal,
a partir da educação dos esfíncteres, a zona erógena privilegiada
é a anal. Em seguida, a libido concentra-se nos genitais, quando a
criança manipula sua genitália em busca da obtenção de prazer.
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Se o animal já vem ao mundo com um programa instintivo fechado,
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que é ativado na convivência com os de sua espécie, no homem essa
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programação é feita e refeita constantemente. O programa animal é, sem
dúvida, mais econômico. Se nossas crianças já nascessem sabendo o que
fazer, poupariam aos pais e educadores tanto trabalho e dor de cabeça.
Mas isso não ocorre, como já vimos na Aula 5, referente à primeira
infância, quando abordamos as crianças selvagens, que não passaram
pelo processo de humanização.
A fonte da pulsão é corporal, e não psíquica; contudo, é a sig-
nificação dada ao estímulo que brota no corpo que será “lida” pelo
psiquismo, desencadeando ações. O bebê poderá chorar em busca do
alimento, mas também poderá chorar em busca de colo. É o outro quem
dará significação às manifestações da criança.
O objetivo ou alvo desse comportamento será a busca da satisfa-
ção ou supressão do desconforto, dando vazão à pressão, seja de fome,
seja de medo.
O objeto solicitado é a mãe ou pessoa que exerça essa função, mas
é aqui que encontramos o fator mais curioso da pulsão: a variabilidade
dos objetos dentro da espécie. Se tomarmos o fator sexual como exemplo,
veremos que o objeto da pulsão varia de sujeito para sujeito dentro da
nossa espécie. Conhecemos inúmeros sujeitos cuja sexualidade é ativa-
da única e exclusivamente pelos objetos mais estranhos, como o olhar
(voyeurismo), a exibição dos genitais (exibicionismo), a preferência por
animais (zoofilia), por crianças (pedofilia), por cadáveres (necrofilia), por
ingerir carne humana (canibalismo), tudo com o objetivo de descarga
pulsional, isto é, gozo. Essas perversões são também chamadas parafilias,
tendo como característica a preferência sexual de forma exclusiva, que
torna o sujeito totalmente dependente do tipo de objeto desviado da se-
xualidade dita normal na vida adulta. Como assinalamos anteriormente
(ver Aula 5), na criança as incursões pelos variados objetos é normal,
confirmando mais uma vez sua perversão polimorfa.
Todo esse circuito é ativado pela pressão pulsional constante, exerci-
da na fonte. É o fator motor da pulsão ou sua exigência de trabalho. Quan-
do a pressão sofre descarga, se é amamentado ou consegue o colo, o bebê
experimenta o apaziguamento da pressão. Até que tudo recomece...
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Figura 9.3: Empédocles. sobre o aspecto biológico, o psicológico ganha primazia sobre o bioló-
Empédocles de
gico. Admite que as pulsões do Eu (ou de morte, primeira vez que usa
Agrigento o termo) tendem a restaurar o estado inanimado (morte) e as pulsões
Filósofo que viveu entre sexuais (ou de vida) procuram a união entre duas células germinais (vida)
490 e 430 a.C. Alguns
autores lembram a lenda de para perpetuar a vida. Sustenta que todo corpo tem uma parte mortal,
que ele teria se suicidado,
atirando-se na cratera do
o soma, e uma parte imortal, o plasma germinal.
Etna, para provar que era Recorre ao filósofo Schopenhauer para quem a morte era a fina-
um deus. Apesar da lenda,
admite-se que tenha morri- lidade e o propósito da vida, sendo a pulsão sexual a corporificação da
do no Peloponeso, em 430
a.C. Temos acesso apenas a vontade de viver, sobretudo por meio da fome e do amor. Busca tam-
fragmentos de sua obra. bém referência nos filósofos naturalistas, principalmente na teoria do
Fonte: http://www.ocul-
tura.org.br/index.php/ universo formulada por Empédocles um pré-socrático. Para esse filósofo,
Emp%C3%A9docles
o Cosmos era formado por quatro elementos – ar, água, terra e fogo –
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controlados por duas forças, o amor e a discórdia (que muitos traduzem
9
como ódio). O amor aglutina os elementos e a discórdia os separa para
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originar outros corpos que, sob a influência do amor, aglomeram-se em
novas unidades.
Freud postula que o objetivo de toda vida é a morte, e que as
coisas inanimadas existiram antes das vivas. Entende que a pulsão é um
impulso inerente à vida orgânica, a restaurar um estado anterior de coisas.
Sendo a pulsão conservadora e adquirida historicamente, fica enunciada
a importância das experiências na construção do percurso que irá fazer
rumo à descarga. O grande psicanalista admite que as pulsões sexuais
são conservadoras, entre outros motivos, por preservarem a própria vida
por um longo período e tenderem a formar unidades cada vez maiores.
Defendendo o dualismo pulsional, Freud acrescenta que, ao contrário do
que se pode pensar, as pulsões de morte estão desde o início associadas
às pulsões de vida, já que ambas têm necessidade de restaurar um estado
anterior de coisas. Enquanto as pulsões de vida têm mais contato com
nossa percepção interna – já que são rompedoras da paz, o que produz
tensões cujo alívio é sentido como prazer –, as pulsões de morte agem
mais discretamente. Nesse sentido, o princípio de prazer parece servir,
na realidade, às pulsões de morte, uma vez que se acha especialmente
em guarda contra o aumento dos estímulos, provindos de dentro, fato
que complicaria a tarefa de viver (FREUD, 1920; 1976).
Entre as funções primitivas do aparelho anímico ou psíquico,
Freud destaca: 1. ligar à linguagem as pulsões que com ele se chocam;
2. substituir o processo primário que nele predomina pelo processo
secundário; 3. converter a energia de investimento e móvel em energia
ligada (à ideia ou palavra).
A ligação é justamente o que permite o ato preparatório que
introduz e assegura a dominância do princípio de prazer. Este último
corresponde a uma tendência (pode ser ou não) que opera a serviço
de uma função (deve ser, imperativo categórico). Essa função tem a
missão de libertar completamente o aparelho psíquico de excitações
(princípio do Nirvana); conservar a quantidade de excitação constante
nele (princípio de constância) ou mantê-la tão baixa quanto possível
(princípio de homeostase). Qualquer caminho que tome, sua intenção
é a quiescência, isto é, o descanso, retornando ao mundo inorgânico
(FREUD, 1920; 1976).
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ATIVIDADE
4.
a. Considerando as definições de pulsão entre a primeira e a segunda teoria
pulsional, qual delas Freud mantém inalterada?
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RESPOSTAs COMENTADAs
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a. A pulsão que Freud sustenta da primeira à segunda teoria pulsional
é a sexual, aquela que faz ligação entre a força cega, remanescente
do instinto dos animais, e a cultura, isto é, a linguagem.
b. Como já foi considerado na resposta anterior, sem a ligação da
pulsão à linguagem não haveria civilização, pois esta freia a satisfa-
ção, interpondo o pensamento entre o estímulo e a resposta a ele.
Não podemos responder a todo estímulo com uma ação impensada,
ou já não restaria nenhum ser humano na face da Terra.
c. A fonte está no corpo, mas ela é decodificada pela linguagem.
É a mãe quem interpreta os diversos sons do choro do seu bebê.
Mais tarde, cada um passa a compreender o que sente, a partir dos
recursos de linguagem. Quantas vezes achamos que temos fome,
mas não sabemos de quê.
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Posteriormente, sob a influência da educação, o eu se acostuma a
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remover a cena da luta de fora para dentro e a dominar o perigo
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interno antes que se tenha tornado externo, e, provavelmente,
com mais freqüência, tem razão em assim proceder (FREUD,
1937; 1976, p. 256).
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ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 4
5.
a. Por que o Eu depende da identificação em sua formação?
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RESPOSTAS COMENTADAS
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a. Por ser uma instância que prioriza o que é visto e ouvido no
mundo externo, para o Eu é fundamental que possa se assemelhar
ao Outro, sem o que não há estruturação do sujeito. Recordemos o
que ocorreu com as meninas-lobo Amala e Kamala (Aula 5), que
se tornaram lobas agindo como tal.
b. Não. O Isso é formado a partir de antigos Eus, transmitidos
inconscientemente de uma geração a outra.
c. O narcisismo corresponde ao estágio intermediário entre o autoero-
tismo e o heteroerotismo. É fundamental na construção do aparelho
psíquico e implica diretamente o amor por si mesmo, pelo Eu.
Existe um tema, todavia, que não posso deixar passar tão facilmen-
te – assim mesmo, não porque eu entenda muito a respeito dele,
e nem tenha contribuído muito para ele. Muito pelo contrário:
aliás, desse assunto ocupei-me muito pouco. Devo mencioná-lo
porque é da maior importância, é tão pleno de esperanças para
o futuro, talvez seja a mais importante de todas as atividades da
análise. Estou pensando nas aplicações da psicanálise à educação,
à criação da nova geração. Sinto-me contente com o fato de pelo
menos poder dizer que minha filha, Anna Freud, fez desse estudo a
obra de sua vida e, dessa forma, compensou a minha falha (FREUD,
1933; 1976, p. 179).
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A psicanálise tem freqüentes oportunidades de observar o papel
9
desempenhado pela severidade inoportuna e sem discernimento da
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educação na produção de neuroses, ou o preço, em perda de efici-
ência e capacidade de prazer, que tem de ser pago pela normalidade
na qual o educador insiste (FREUD, 1913; 1976, p. 225).
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CONCLUSÃO
ATIVIDADE FINAL
Atende aos Objetivos 1, 2, 3, 4 e 5
a. as formações do inconsciente;
b. a teoria pulsional;
c. a importância da sexualidade;
COMENTÁRIOS
Entre os vários conceitos da psicanálise, destacamos aqueles que não
podem faltar à sua resposta, tais como:
a. as formações do inconsciente: sonhos, atos falhos, esquecimentos,
sintomas, entre outros;
b. a teoria pulsional: (1) na primeira teoria: pulsão sexual e pulsão de
autoconservação; (2) na segunda teoria: pulsão de vida (ou sexual ou
Eros) e pulsão de morte;
c. a importância da sexualidade como fonte da vida e da criação dos
laços sociais a partir dos primeiros relacionamentos em seus diversos
momentos: oral, anal e fálico;
d. as relações entre a Psicanálise e a Educação: destacam-se, sobre-
tudo, o apoio ou subsídio que as descobertas da psicanálise podem
oferecer à educação, como a importância da sexualidade e suas fases;
a descoberta da fantasia como fonte da criatividade; a relação afetiva
entre o desejo de saber e as primeiras pesquisas infantis; as neuroses
como obstáculo à aprendizagem, entre outras.
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R E S U MO
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A relação entre Psicanálise e Educação limita-se ao auxílio que aquela pode
prestar a esta. Freud classificou a Educação como uma das profissões impossíveis,
incluindo-a entre a Psicanálise e o Governo, porque as três têm em comum a quase
certeza de se alcançar resultados insatisfatórios – é impossível agradar a todos.
São atividades que não dispõem de nenhum manual com regras fixas e objetivas,
pois lidam com a riquíssima gama de possibilidades humanas.
Uma teoria complexa, reconhecemos, mas considerada aquela que melhor explica
as bases da estruturação do psiquismo. E, ademais, se nos voltarmos para nosso
interior, cada um de nós será capaz de confirmar em si mesmo a verdade dos
achados psicanalíticos!
Esperamos que você tenha entendido o enorme esforço em condensar, em tão
poucas páginas, o enorme edifício conceitual construído pela Psicanálise ao
longo de mais de um século de pesquisas. Para se ter uma ideia, apenas a obra
de seu fundador tem vinte e três volumes de textos, todos eles plenos de ricas
argumentações sobre o psiquismo. Calcule quanto já não se produziu nesse
tempo! Tarefa nada fácil, mas que almejamos ter empreendido com o merecido
e devido rigor.
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Leituras recomendadas
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