A Ambientação em A Máscara
A Ambientação em A Máscara
A Ambientação em A Máscara
CURITIBA
2006
Meus agradecimentos a todos que de alguma
forma colaboraram para com a pesquisa,
especialmente: Luci, pelos constantes conselhos e
revisões; Fábio, pelo apoio e ajuda com detalhes
técnicos, e à E.A. Poe Society of Baltimore, por
disponibilizar tão importante material para todos
os interessados em Edgar Allan Poe.
ii
“O verdadeiro crítico exige apenas que o plano
intencionado seja exemplarmente cumprido,
através dos meios mais eficientes.”
iii
SUMÁRIO
LISTA DE ILUSTRAÇÕES.................................................................................... v
RESUMO................................................................................................................... vi
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1
1.1 ENSAIOS SELECIONADOS: UNIDADE DE EFEITO ................................... 2
1.2 CONTOS SELECIONADOS: AMBIENTAÇÃO .............................................. 3
2 CONTEXTUALIZANDO “A MÁSCARA DA MORTE RUBRA” ................ 4
3 ELEMENTOS GERAIS DO CONTO................................................................ 6
4 A AMBIENTAÇÃO EM “A MÁSCARA DA MORTE RUBRA” .................. 14
4.1 PAÍS: DEVASTAÇÃO ....................................................................................... 16
4.2 ABADIA: PROTEÇÃO ...................................................................................... 19
4.3 OS SALÕES DO BAILE: ILUSÃO.................................................................... 21
4.3.1 O Baile.............................................................................................................. 28
4.3.2 O Invasor .......................................................................................................... 31
5 “A QUEDA DA CASA DE USHER”: OBSERVAÇÕES
COMPLEMENTARES SOBRE A AMBIENTAÇÃO ......................................... 35
6 CONCLUSÃO....................................................................................................... 41
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 44
ANEXOS.................................................................................................................... 47
iv
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
v
RESUMO
Esta pesquisa analisa a forma como o autor norte-americano Edgar Allan Poe (1809-
1849) trabalha a ambientação no conto “A Máscara da Morte Rubra” (1842), à luz das
noções críticas e estéticas do próprio escritor sobre a produção literária, buscando
verificar de que modo se dá sua aplicação ao conto supracitado. Para levantamento das
teorias de Poe, são utilizados como base seus ensaios e resenhas, sobretudo textos
como “The Philosophy of Composition” e “Review of Hawthorne’s Twice Told
Tales”.
vi
1
1 INTRODUÇÃO
1
Daqui para frente referido apenas como Poe.
2
O obituário foi publicado em 9 de outubro de 1849 no Tribune de Nova York é conhecido como “Ludwig”,
uma vez que Griswold adotou esse pseudônimo para assinar o texto.
3
“(....) Tão intensamente pessoal quanto sua poesia ou sua ficção. A definição dele para Beleza incluía nada
além do tipo de Beleza que ele mesmo produziu.”
2
período4, como também serve como fonte para a idéia principal dessa pesquisa: até que
ponto podemos encontrar, nos contos de Poe, o que o autor cobrava na obra de seus
colegas escritores.
Como recorte para a observação da aplicação da teoria de Poe à própria obra,
escolheu-se o modo como o escritor desenvolveu um determinado elemento da
narrativa, no caso, a ambientação, e se este desenvolvimento se apresenta de forma
coerente com as idéias do autor.
Assim, para a ambientação, considerarei a definição de Osman LINS em Lima
Barreto e o Espaço Romanesco, que descreve ambientação como “o conjunto de
processos conhecidos ou possíveis, destinados a provocar, na narrativa, a noção de um
determinado ambiente” (Lins, 1976, p.77).
Os ensaios utilizados como referência para esse estudo são “The Philosophy
of Composition” e “Review of Hawthorne’s Twice-Told Tales”, uma vez que ambos
contêm as principais idéias de Poe sobre a unidade de efeito – a teoria principal do
escritor sobre o desenvolvimento ideal de conto.
Para a discussão sobre a alegoria5, o ensaio selecionado é “Tale-Writing –
Nathaniel Hawthorne”, no qual Poe não apenas esclarece sua aversão ao uso da figura
de linguagem, como também desenvolve a idéia de que, ao utilizá-la, o escritor terá
que deixar de lado a unidade de efeito.
4
Como observado por Allen Tate: “For Americans, perhaps for most modern men, he is with us like a dejected
cousin: we may “place” him but we may not exclude him from our board.” (TATE, 1967, p.49).
5
De acordo com Dicionário de Termos Literários, de Massaud MOISÉS: “Grego allegoria, outro discurso.
Etimologicamente, a alegoria consiste num discurso que faz entender outro, numa linguagem que oculta outra.
Pondo de parte as divergências doutrinárias acerca do conceito preciso que o vocabulário encerra, podemos
considerar alegoria toda concretização, por meio de imagens, figuras e pessoas, de idéias, qualidades ou
entidades abstratas. O aspecto material funcionaria como disfarce, dissimulação, ou revestimento, do aspecto
moral, ideal ou ficcional. (...) Dado o seu caráter dual, a alegoria move-se num espaço retórico em que ainda
coexistem a fábula, a parábola, o apólogo, o símbolo.” (MOISÉS, 1991, p. 15-16).
3
O conto que servirá como base para a pesquisa será “A Máscara da Morte
Rubra” (1842), escolhido não só pela importância que a ambientação apresenta dentro
do texto, mas porque esse elemento da narrativa também é peça principal de um ponto
controverso sobre o texto: a presença da alegoria.
Na resenha “Tale-Writing - Nathaniel Hawthorne” Poe deixa explícito o
desgosto que tem pela utilização desse recurso: “em defesa da alegoria, (seja qual for
seu emprego ou sua forma) há dificilmente uma palavra respeitável a ser dita” 7. Para Poe,
dois sentidos concorrendo em um mesmo texto estragariam a unidade de efeito,
entretanto, em “A Máscara da Morte Rubra” aparece, claramente, uma alegoria sobre a
inevitabilidade da morte.
Desse modo, nesta pesquisa se analisará o modo como Poe consegue,
juntamente com a ambientação, desenvolver a alegoria, e se há, de fato, a anunciada
perda da unidade de efeito por conta da utilização desse recurso.
A pesquisa terá início com uma contextualização do conto, fundamental para
definir se a teoria veio antes ou depois da criação de “A Máscara da Morte Rubra”,
seguida de uma apresentação geral do enredo. Então, serão trabalhados cinco
6
POE, E. Allan Review of Hawthorne’s Twice-Told Tales. Disponível em:
<http://www.eapoe.org/works/criticsm/gm542hn1.htm>. Acesso em: 19 nov. 2006.
7
POE, E. Allan Tale-Writing – Nathaniel Hawthorne. Disponível em:
<http://www.eapoe.org/works/criticsm/glb47hn1.htm>. Acesso em: 19 nov. 2006.
4
diferentes níveis de ambientação, nos quais se analisa a tensão criada, bem como sua
colaboração para o sentido da alegoria.
Para reforçar as idéias apresentadas nesse estudo, também será feita uma breve
análise do conto “A Queda da Casa de Usher” em que, assim como em “A Máscara da
Morte Rubra”, se apresenta a alegoria e a ambientação tem um papel importante na
criação da tensão – o que possibilitará novamente o confronto entre as teorias de Poe e
sua aplicação à própria obra.
8
Todas as datas apresentadas na cronologia foram retiradas da lista dos trabalhos publicados de Edgar Allan
Poe, disponíveis na E.A. Poe Society of Baltimore no endereço: <http://www.eapoe.org/works/index.htm>.
5
Escrito em 1842, numa fase já mais madura da criação literária de Poe, o conto
“A Máscara da Morte Rubra” se apresenta como uma alegoria sobre a inevitabilidade
da morte quando retrata a fuga do Príncipe Próspero e seus cortesãos para uma abadia
fortificada, tentando escapar da peste que devasta o país. Acreditando estarem seguros
na fortaleza, um grande baile de máscaras é promovido para comemoração – o que
levará ao clímax do conto: o confronto final com a “Morte Rubra”.
10
POE, E. Allan Tale-Writing – Nathaniel Hawthorne. Disponível em:
<http://www.eapoe.org/works/criticsm/glb47hn1.htm>. Acesso em: 19 nov. 2006.
7
“(...) The Tempest seeks to examine human behavior in a world that proves, with
increasingly dizzying paradoxicality, to be both real and unreal, actual and artifice. For the
11
POE, E. Allan Review of Hawthorne’s Twice-Told Tales. Disponível em:
<http://www.eapoe.org/works/criticsm/gm542hn1.htm>. Acesso em: 19 nov. 2006.
12
Id.
13
POE, E. Allan The Philosophy of Composition. Disponível em:
<http://www.eapoe.org/works/essays/philcmpb.htm>. Acesso em: 19 nov. 2006.
8
world through which the characters move is both a creation of Prospero’s art and
something beyond that art.” (HOLLAND, 2002, p.730)14
“(...) tinha gostos característicos, sabia escolher cores e efeitos. Desprezava os ornamentos
apenas em moda. Seus desenhos muito audazes e vivos, e suas concepções esplendiam com
lustre bárbaro. Muita gente o julgava louco. Mas seus cortesãos achavam que não. Era
preciso ouvi-lo, vê-lo e tocá-lo, para se estar certo de que ele não o era.”16
14
“(…) procura examinar o comportamento humano em um mundo que prova, com paradoxalidade crescente e
estonteante, ser tanto real quanto irreal, existente e artífice. Pois o mundo através do qual as personagens se
movem são ambos criações da arte de Próspero, e algo além desta arte”.
15
POE, E. Allan Poetry and Tales (The Masque of the Red Death) p.485.
16
Ibid., p.487.
9
Morte Rubra. Esse intruso aparece como um convidado de mau gosto que resolveu se
fantasiar com a mesma aparência dos que morriam por causa da peste, o que cria um
efeito interessante em Próspero, que pergunta “Quem se atreve a nos insultar com essa
17
brincadeira blasfema?” . Poe cria a ilusão de que Próspero persegue um convidado,
para então, chegando ao fim do conto, criar o clímax: não era uma pessoa, mas a
própria Morte Rubra:
“(...) E agora havia consciência da presença da Morte Rubra. Veio como um ladrão na
noite. E um por um tombaram os convidados nos salões orvalhados de sangue, e morreu
cada um na postura desesperadora de sua queda. E a vida do relógio de ébano se extinguiu
com a do último folião. E as chamas nos tripés de apagaram. Reinaram de forma absoluta,
então, Trevas, Ruína e a Morte Rubra.”18
17
POE, E. Allan Poetry and Tales (The Masque of the Red Death) p. 489.
18
Ibid., p.490.
10
mundo” 19. E embora utilize um recurso sobre o qual alegava “não ter nada a declarar a
20
favor.” , ele alcança seu objetivo sem interferir na unidade de efeito – questão essa
que será melhor abordada adiante na pesquisa.
Continuando a ilustrar o desenvolvimento do conto e a busca de um efeito em
poucas palavras, temos ainda o tempo da narrativa, essencialmente cronológico, não
alterando a ordem em que os fatos ocorrem. Começamos com uma terra devastada,
para seguirmos então com a fuga para a abadia, depois um baile comemorando um
breve período de segurança e, por fim, o domínio total da Morte Rubra.
A utilização do tempo cronológico não aparece por acaso: com o tempo
psicológico (ou seja, um enredo não-linear), todo o processo de desenvolvimento da
tensão e, em conseqüência, da unidade de efeito, estariam perdidos, uma vez que a
utilização dos flashbacks não retrataria o processo de aproximação e, na seqüência, de
invasão da Morte Rubra de forma que aumentasse gradualmente o nível de tensão.
Assim, chegamos finalmente a uma aproximação de tempo e espaço através da
ambientação, em especial no que diz respeito ao baile de máscaras. Quando o narrador
descreve o local onde acontece a festa, utiliza-se dos termos “grotesco” e “arabesco” –
termos estes utilizados anteriormente para dar nome a primeira coleção de contos de
Poe, Tales of the Grotesque and Arabesque (1840).
Se tomarmos as definições de Wolfgang KAYSER para esses termos, temos:
“(...) não apenas algo lúdico e alegre, leve e fantasioso, mas, concomitantemente, algo
angustiante e sinistro em face de um mundo em que as ordenações de nossa realidade
estavam suspensas.” (KAYSER, 1957, p.20)
O termo dá uma idéia geral do que é o baile: suspensão das ordenações de
nossa realidade. E qual é uma das ordenações mais precisas se não a de que a morte
acontece para todos? Com a festa, Próspero tenta afastar essa idéia criando um
ambiente de “sonho” para seus convidados, tentando suspender assim uma das regras
da natureza, no caso, a morte. Esse cuidado com a criação do ambiente onírico leva ao
19
POE, E. Allan Tale-Writing – Nathaniel Hawthorne. Disponível em:
<http://www.eapoe.org/works/criticsm/glb47hn1.htm>. Acesso em: 19 nov. 2006.
20
Id.
11
que seria um dos pontos principais de compreensão do conto como alegoria: as sete
salas nas quais acontece a festa.
Em diferentes leituras críticas, incluindo a citada por ROPPOLO21 em
“Meaning and ‘The Masque of the Red Death’, a idéia que se aponta é a de que as sete
salas representariam as sete idades do homem, o que juntamente com a questão do
nome Próspero (já citada na presente pesquisa), marcaria outra referência à obra de
Shakespeare22, no caso o monólogo de Jaques na peça Como Gostais:
21
Citando Walter Blair, o crítico diz que as sete salas “conotam as sete idades do homem do azul do amanhecer
da vida até o preto de seu anoitecer” (ROPOLLO, 1967, p.137).
22
Vale lembrar que a possibilidade de existir uma referência ao Bardo não é remota, uma vez que Poe não
apenas conhecia a obra do autor (como fica claro na crítica publicada no Southern Literary Journal conhecida
como “Letter to B –“), mas também pelo fato de a E. A. Poe Society of Baltimore ter um manuscrito do próprio
Poe (data incerta, mas provavelmente 1829) referida como “Excerpts from Shakespeare”, na qual há passagens
de várias peças, incluindo não apenas A Tempestade (no caso de Próspero), como também Como Gostais. A
transcrição das citações encontra-se aberta para consultas na página da E.A.Poe Society of Baltimore, disponível
no endereço: <http://www.eapoe.org/works/docs/pshaks01.htm>.
23
“Pantaloon” refere-se à personagem da Commedia della’arte conhecida em português como Pantaleão, ou
Pantaleone – um velho fidalgo avarento e sempre enganado.
12
TABELA 1 RELAÇÃO ENTRE AS FASES DA VIDA DE "COMO GOSTAIS" COM AS CORES DOS SETE
SALÕES DE "A MÁSCARA DA MORTE RUBRA"
Azul Infante
Roxo Estudante
Verde Amante
Laranja Soldado
Branco Juiz
Violeta Pantaleão
Além disso, outro aspecto do salão do baile que retoma a idéia de morte é o
grande relógio de ébano que lembra a todo o momento que, embora a construção
proteja a todos da Morte Rubra, o Tempo continuava a correr como no lado de fora do
castelo. É relevante ressaltar o horror das pessoas quando ouvem as batidas do relógio
que lembram o horror de perceber que o tempo estava inevitavelmente passando e,
com ele, viria a morte.
Mais ainda: o relógio deixa de funcionar quando todos morrem no baile.
Portanto, é possível dizer que esse é um elemento que colabora com a criação do efeito
final, uma vez que enfatiza a destruição gerada pelo domínio da Morte Rubra.
Vale destacar nesse caso que, na opinião de Charles E. MAY, “The
complexity of the story lies in its combination of the temporal and the spatial”25
24
SHAKESPEARE, William The Complete Pelican Shakespeare (As You Like It) p.401
25
“(...) a complexidade da história reside na combinação do temporal com o espacial.”.
13
(MAY, 1991, p.103), idéia que retomaremos no capítulo seguinte da pesquisa, no qual
a ambientação do conto é estudada mais profundamente.
Chegamos, assim, à questão do narrador, que faz de “A Máscara da Morte
Rubra” um conto mais atípico, especialmente em razão do foco narrativo. Deixando de
lado a habitual opção pelos narradores em primeira pessoa, em sua maioria de caráter
confessional, a exemplo dos contos “O Coração Denunciador”, “Os Dentes de
Berenice” ou ainda “O Demônio da Perversidade”, o autor parte para uma narrativa em
terceira pessoa, na qual temos um narrador intruso em apenas três momentos distintos:
“Mas antes deixe-me contar das salas...”, “E então a música parou, como eu havia
dito...” e “Em uma reunião de fantasmas tal como eu havia pintado...” 26 [grifos meus]
Por conta dessa intromissão já foi apontado em certas críticas 27 que o narrador
do conto seria não um narrador em terceira pessoa, mas sim um “narrador
testemunha”. O problema dessa interpretação seria de que, se o narrador era
testemunha e esteve de fato presente no baile que descrevera, participando de todos os
eventos ali ocorridos, então caberia a ele ser a própria Morte Rubra, uma vez que ela
era a única que passara a existir naquela região após a devastação total.
Considerando, porém, a tipologia de Norman Friedman, como apresentada por
Ligia LEITE em O Foco Narrativo, o narrador testemunha apresenta um “ângulo de
visão mais limitado” (LEITE, 1997, p.10), enquanto o narrador em “A Máscara da
Morte Rubra” é claramente um narrador onisciente.
Assim, julgando que o narrador apresenta-se no conto como um autor
onisciente intruso, o foco narrativo em terceira pessoa permite um certo
distanciamento dos sentimentos e pensamentos das personagens, partindo para uma
observação de seus atos e, no caso desse conto, especialmente da ambientação na qual
ocorre a história, que serve de forma essencial como um dos elementos de composição
do tema.
Como conseqüência dessa mudança no foco, o narrador deixa de retratar os
mais profundos pensamentos das personagens, saindo assim da temática do que Poe
26
POE, E. Allan Poetry and Tales (The Masque of the Red Death) p.485-486.
27
Como é possível verificar em: DUDLEY, David R. Dead or alive: the booby-trapped narrator of Poe's
‘Masque of the Red Death’. Disponível em:
<http://findarticles.com/p/articles/mi_m2455/is_n2_v30/ai_14083577> Acesso em: 18 nov.2006.
14
Uma terra devastada por uma praga, um Príncipe omisso para com seu próprio
povo, um baile celebrando o triunfo sobre a doença e, finalmente, um invasor
mascarado que, após matar o nobre, extermina todos os cortesãos dentro da, até então,
segura abadia escolhida para o retiro.
Em um breve resumo, é isso que acontece no conto de Poe, “A Máscara da
Morte Rubra”, escrito em 1842 para a Graham’s Lady and Gentlemen Magazine. O
que pode parecer apenas um conto de fadas (vale destacar o fato de que em sua
primeira publicação, o conto chamava-se “A Máscara da Morte Rubra: Uma
Fantasia”), revela-se uma história de sentido muito mais universal, justamente por
causa do caráter alegórico.
Considerando o que foi dito por Flávio KOTHE no livro A Alegoria, ou seja,
que “a alegoria serve aí para retirar o caráter concreto dos fatos e elevá-los a uma
categoria mais universal” (KOTHE, 1986, p.47) – constatamos que isto é o que de fato
acontece nesse conto: a história do reino de Próspero passa a representar o destino de
todos os humanos em sua concreta condição final, ou seja, a impossibilidade da fuga
da Morte.
Desse modo, muito embora Poe tenha afirmado que “em defesa da alegoria,
(seja qual for seu emprego ou sua forma) há dificilmente uma palavra respeitável a ser
28
POE, E. Allan Poetry and Tales (Preface to Tales of the Grotesque and Arabesque) p. 129
15
dita”29, ou ainda que “a falácia da idéia de que a alegoria, em qualquer um dos seus
tons, pode ser feita para reforçar a verdade”30 , é difícil ignorar a presença desta figura
de linguagem, por mais que este ensaio tenha sido publicado um mês antes do conto.
Vale também observar que esse não foi o único trabalho em que Poe explora o
recurso da alegoria – sendo que “King Pest”, até 1850, era publicado como “King Pest
– A Tale containing an Allegory” e, pela data, podemos concluir que a opção de retirar
o complemento do título já não coube a Poe, mas aos editores, uma vez que o autor
faleceu no ano de 1849. Em outras palavras, por mais que não tivesse nada a favor da
alegoria, Poe, ainda assim, a utilizava.
Tendo estabelecido este pequeno confronto que evidencia discrepâncias
imediatas entre a intenção teórica e a realização prática, é possível afirmar que a
leitura de “A Máscara da Morte Rubra” como uma alegoria não é um terreno perigoso;
podemos, então, partir para uma análise da forma como Poe utiliza a ambientação não
apenas para construir essa alegoria, mas também para traçar um caminho até a unidade
de efeito, que poderia ser, nas palavras do próprio autor, “a indispensável atmosfera de
31
causa ou conseqüência” , ou ainda o efeito “que é mais suscetível ao coração, ao
intelecto ou (mais normalmente) a alma” 32.
Assim, Poe consegue contrariar sua a própria teoria de que:
“(...) se, alguma vez, uma alegoria obteve algum resultado, foi à custa da aniquilação da
ficção. Ali, onde o sentido alusivo corre através do sentido óbvio, numa corrente
subterrânea muito profunda, de modo que não interfira jamais com o fluxo superficial, a
menos que assim o queiramos, e de modo a não mostrar-se, a menos que a chamemos à
superfície, somente ali a alegoria pode ser consentida para o uso adequado na narrativa de
ficção. Mesmo nas melhores circunstâncias, sempre interferirá na unidade de efeito que,
para o artista, vale por todas as alegorias do mundo.”33
29
POE, E. Allan Tale-Writing – Nathaniel Hawthorne. Disponível em:
<http://www.eapoe.org/works/criticsm/glb47hn1.htm>. Acesso em: 19 nov. 2006.
30
Id.
31
POE, E. Allan The Philosophy of Composition. Disponível em:
<http://www.eapoe.org/works/essays/philcmpb.htm>. Acesso em: 19 nov. 2006.
32
Id.
33
POE, E. Allan Tale-Writing – Nathaniel Hawthorne. Disponível em:
<http://www.eapoe.org/works/criticsm/glb47hn1.htm>. Acesso em: 19 nov. 2006.
16
34
POE, E. Allan Review of Hawthorne’s Twice-Told Tales. Disponível em:
<http://www.eapoe.org/works/criticsm/gm542hn1.htm>. Acesso em: 19 nov. 2006.
17
Desse modo, o espaço seria o reino de Próspero, e o que vem a seguir dentro
da narrativa seria um elemento que colabora com a construção da ambientação dentro
do conto, ou seja, a descrição do mal que a peste provocara na população. Portanto,
por mais que a próxima sentença referente ao país fosse apenas “... quando seus
domínios já estavam despovoados pela metade”, o leitor já tem em mente as imagens
da devastação gerada pela Morte Rubra de forma mais detalhada.
Podemos dizer que Poe se aproveita da descrição da peste – que é fundamental
para a construção do tom de terror do conto - para contribuir na elaboração da
ambientação, através do espaço. O leitor recebe, entre a informação de um país
devastado e quase despovoado, a idéia de como se apresentava aquele povo, idéia essa
que se inicia com: “O sangue era sua encarnação e o seu avatar: a vermelhidão e o
horror do sangue”.
Antes de prosseguir na contribuição para a ambientação do conto, levemos em
conta de que forma essa descrição da doença também colabora para a construção da
mensagem passada através da alegoria presente na história.
Nesse primeiro momento de apresentação da Morte Rubra, percebemos uma
insistência em termos como “sangue” e cor vermelha para descrever como a peste se
18
alastrara. Lembrando que, segundo Poe, nada em um conto aparece por acaso,
podemos concluir que temos aí os primeiros elementos para a interpretação da história.
Considerando o que nos é dito no Dicionário de Símbolos sobre a cor
vermelha, percebemos que tanto o sangue quanto a tonalidade estão conectados a uma
mesma idéia: vida.
É nesse ponto que se dá início a um jogo de antíteses, que marca todo o texto
em planos diferentes. Assim, o sangue, bem como o vermelho que o caracteriza, é o
que dá nome à peste conhecida como “Morte Rubra” e ao mesmo tempo nos faz
lembrar a própria vida – o que, mais à frente, funcionará como a idéia de que vida e
morte estão sempre ligadas e uma torna-se inevitável na presença da outra.
Segue-se, então, um processo de descrição da ação da doença: “Aparecia com
agudas dores e súbitas vertigens, seguindo-se profusos sangramentos pelos poros e a
decomposição.”.
É desse modo que Poe torna possível para o leitor somar à imagem de um país
devastado pela peste, também a idéia da atmosfera daquele lugar: corpos
ensangüentados ou decompostos caídos por vários lugares.
Considerando a relevância desse momento para a criação do efeito, é
necessário saltar para o fim do conto, quando o autor conclui com a frase “E o
ilimitado poder da Treva, da Ruína e da Morte Rubra dominou tudo”. No caso, ao
descrever todo o horror causado pela Morte Rubra já no início, aquilo que seria um
anticlímax, em outras palavras, a revelação antecipada do que viria, acaba na realidade
cooperando na criação do efeito, ou seja, é desnecessário para o autor prolongar-se na
descrição e comprometer a sensação causada no leitor quando lê sobre o domínio da
19
peste pois ele já leu sobre o cenário de devastação e sangue que a peste deixa por onde
passa. 35
Mais do que isso, é possível somar o horror citado no começo, que se passava
fora da abadia, com o que acabara de acontecer do lado de dentro, complementando a
idéia de um vazio total, de devastação completa.
Além dessa noção, essa ambientação também fornece motivos sobre a razão
pela qual o Príncipe Próspero decide afastar-se do pânico causado pela Morte Rubra,
escondendo-se na abadia. Essa ponte entre o medo e insegurança no país e a festa e
proteção da abadia é outra das antíteses apresentadas por Poe, que acabarão por
contribuir na construção do sentido do conto, como veremos a seguir.
35
Tal técnica também é utilizada no conto “O coração denunciador”, no qual Poe revela desde o início a loucura
do narrador-personagem, loucura essa que fica evidenciada a cada momento, a partir dos atos narrados pelo
próprio protagonista.
36
Conforme visto no capítulo 3 “Elementos Gerais do Conto”.
37
POE, E. Allan Poetry and Tales (The Masque of the Red Death) p.485.
20
idéia da proteção, como também retoma o tom de conto de fada do texto. Ainda sobre
o edifício, o narrador continua: “Era uma construção vasta e magnífica, criação de
38
príncipes de gosto excêntrico” , reforçando a impressão de que a construção nada
tinha de comum.
Nesse ponto é importante constatar como Poe já começa a preparar a
seqüência do baile nos sete salões: sendo Próspero um príncipe de gosto excêntrico, o
que virá a seguir não surpreende o leitor, não desviando assim sua atenção para pontos
que poderiam romper o desenvolvimento da tensão.
Continuando com a descrição, diz o conto: “Cercava-o forte e elevada muralha
com portas de ferro” 39, construção que serve como a principal proteção contra a Morte
Rubra. As considerações sobre muro e muralha no Dicionário de Símbolos de que “a
muralha, ou a grande muralha, é tradicionalmente a cinta protetora que encerra um
mundo e evita que nele penetrem influências nefastas de origem inferior.”
(CHEVALIER; GHEERBRANT, 1990, p.626), confirmam a idéia de proteção que
predomina no momento em que a corte se muda para a abadia.
A seguir, o narrador conta que “Logo que entraram, os cortesãos trouxeram
fornos e pesados martelos para rebitar os ferrolhos.” 40. Esta sentença abre um espaço
para duas observações: na primeira, podemos perceber o cuidado de Poe em não
escapar do que ele mesmo construíra, uma vez que, se por opção própria, Próspero
retirou-se apenas com cortesões, era natural que os serviços “braçais” fossem
executados por eles, e não por ferreiros, por exemplo.
Na segunda, trabalhando com a imagem do castelo “vasto” o narrador fala de
pesadas ferramentas para “trancar” a abadia, sugerindo assim mais informações sobre
as proporções da construção, bem como seu caráter implícito de prisão: uma vez que
ninguém pode entrar (especialmente a Morte Rubra), nem pode sair.
Alivia-se, no entanto, o sentido negativo de prisão ao detalhar a vida que os
cortesões levariam na abadia: “Providenciara o príncipe que não faltasse diversões.
38
POE, E. Allan Poetry and Tales (The Masque of the Red Death) p.485.
39
Id.
40
Id.
21
41
Havia jograis, improvisadores, bailarinos, músicos. Havia Beleza e vinho” . Em
outras palavras, Próspero cuidou para que a vida na abadia servisse para esquecer a
Morte do lado de fora, criando um lugar de sonhos.
De acordo com Benjamin FISHER é essa fuga que faz de Próspero um “vilão
gótico”, uma vez que ele e toda a corte, ao se retirarem para a abadia tentando evitar a
Morte Rubra, “(...) combat an ‘antagonist’ who, to them, would be terrifying, but who,
to more realistic minds, would be a grim, but essential part of life”42 (FISHER, 2002,
p.88).
Como visto, nos dois primeiros níveis de ambientação, o país e a abadia, Poe
utiliza-se de poucas palavras para descrevê-los. Porém, quando chega ao momento do
baile, o autor não economiza linhas e parágrafos na descrição. Essa diferenciação entre
a ênfase dada para cada um dos espaços faz com que retornemos ao ensaio “The
Philosophy of Composition”, no qual o autor diz:
“(…) No que se refere às dimensões, há, evidentemente, um limite positivo para todas as
41
POE, E. Allan Poetry and Tales (The Masque of the Red Death) p.485.
42
“(...) combatem um ‘antagonista’ que, para eles, seria aterrorizante, mas que, para mentes mais realistas, seria
uma parte triste, mas essencial da vida.”
22
obras literárias: o limite de uma só sessão. É certo que em alguns gêneros da prosa, como
em Robinson Crusoe, não se exige a unidade, porque aquele limite pode ser traspassado.
Sem embargo, nunca será conveniente traspassá-lo em um poema. No mesmo limite, a
extensão de um poema deve ser muito bem pensada, para manter uma relação matemática
com o mérito do mesmo, isto é, com a elevação ou a excitação que comporta; em outras
palavras, com a quantidade de autêntico efeito poético com que possa impressionar as
almas. Esta regra só tem uma condição restrita, a saber: que uma relativa duração é
absolutamente indispensável para causar um efeito, qualquer que seja.”43
“(...) É necessário apenas dizer a respeito disso que em quase todas as categorias de
composição a unidade de efeito ou de impressão é um ponto da maior importância. Além
do mais, está claro que esta unidade não pode ser totalmente preservada em produções cuja
leitura não possa ser feita de uma assentada.”44
43
POE, E. Allan The Philosophy of Composition. Disponível em:
<http://www.eapoe.org/works/essays/philcmpb.htm>. Acesso em: 19 nov. 2006.
44
POE, E. Allan Review of Hawthorne’s Twice-Told Tales. Disponível em:
<http://www.eapoe.org/works/criticsm/gm542hn1.htm>. Acesso em: 19 nov. 2006.
45
“(...) uma das composições mais pictóricas de Poe”.
46
“(...) em sua combinação de temporal e espacial”.
23
“(...) Os aposentos estavam tão irregularmente dispostos que a visão abrangia pouco mais
de um de cada vez. De vinte ou trinta em trinta jardas havia uma curva aguda, e a cada
curva, uma nova impressão. A direita e à esquerda, no meio de cada parede, uma enorme e
estreita janela gótica abria-se para um corredor fechado que acompanhava as voltas do
conjunto”49
47
POE, E. Allan Poetry and Tales (The Masque of the Red Death) p.485.
48
Ibid., p.485-486.
49
Ibid., p.486.
24
da aplicação das “curvas agudas”. Além disso, Poe não descreve o formato das salas, o
que seria fundamental para elaborar um modelo de como se apresentavam os salões.
Assim, por não haver descrição mais precisa, vários modelos são sugeridos
para a representação da suíte imperial de Próspero. Na leitura de Brett ZIMMERMAN,
por exemplo, “the seven rooms taken together form a half circle, one half of a clock’s
face, with each room representing one of the seven hours between 6 p.m. and twelve
included”50 (ZIMMERMAN, 2005, p.53).
Incluindo as cores das salas e comparando a disposição das salas com os
horários da citada “metade da face de um relógio”, o modelo de Zimmerman poderia
ser representado da seguinte maneira:
51
FIGURA 2 – OS SALÕES SEGUNDO O MODELO DE ZIMMERMAN
50
“(...) as sete salas formam um meio círculo, uma metade da face de um relógio, na qual cada quarto representa
uma das sete horas entre seis e meia noite.”
51
O modelo, tal como presente na obra Rhetoric and Style, consta dos anexos deste trabalho.
25
parte do processo que conduz à morte inevitável), não há nada no texto que justifique a
importância das seis horas, ao ponto de ter que partir desse horário para a meia noite.
Assim sendo, os salões poderiam ter a forma de um círculo completo (e um relógio
completo), se fosse realmente a intenção de Poe denotar essa relação entre a suíte e um
relógio.
Portanto, opta-se por uma leitura livre dessa relação com o relógio para
responder ao problema da disposição irregular que, ao nosso ver, poderia ser
representado dessa maneira, considerando o vermelho como as janelas góticas, o cinza
como o corredor e o amarelo como as portas e mantendo a idéia de quartos em formato
quadrado, alterando apenas a disposição (única questão apontada pelo narrador como
“irregular”):
Lembrando que para respeitar a descrição de que “a visão abrangia pouco mais
de um de cada vez”, basta posicionar as portas em lados opostos, o que só permitiria a
visão da sala seguinte.
Ao trabalharmos com a idéia das salas representando as sete idades do homem
tal como apresentadas na peça Como Gostais de Shakespeare, a idéia de irregularidade
da disposição dos salões vai além de uma reafirmação dos gostos atípicos do Príncipe
Próspero. Uma vez que uma sala não dá vista para outra, temos a idéia de uma época
da vida ligando-se diretamente com outra, mas sem relação com as seguintes. Mais do
que isso: para chegar a um determinado período, a pessoa precisa trilhar todos os
outros.
26
52
POE, E. Allan Poetry and Tales (The Masque of the Red Death) p.486.
27
53
POE, E. Allan Review of Ballads and other Poems. Disponível em:
<http://www.eapoe.org/works/criticsm/gm42lh02.htm>. Acesso em: 19 nov. 2006.
54
POE, E. Allan Poetry and Tales (The Masque of the Red Death) p.488.
55
Ibid., p.487.
56
Ibid., p.490.
28
4.3.1 O Baile
Tão logo os salões são descritos, o narrador parte para a apresentação do baile
em si. Em relação ao cenário recém introduzido no conto (as sete salas), ao qual,
então, somam-se as máscaras e fantasias escolhidas “pelo próprio Príncipe”, torna-se
difícil não relacionar o ambiente ao onírico, uma vez que os termos utilizados remetem
àquela atmosfera de sonho onde a ordem natural da vida encontra-se suspensa, como
podemos ver na utilização dos termos “grotesco” e “arabesco”.
O jogo de contrastes continua nos comentários que retomam a vida “do lado
de fora”, como narrada inicialmente: enquanto dentro da abadia acontecia uma festa
com “muito brilho, muito esplendor” 57, no outro lado o país encontrava-se devastado
pela Morte Rubra.
Esse contraste é um ponto chave que poderá conduzir aqueles leitores que
desconhecem as teorias de Poe a respeito da arte pela arte a fazer a uma leitura de
crítica social. Porém, no ensaio “The Poetic Principle”, o autor argumenta que não
existe trabalho melhor do que “(...) esse poema, o poema por si, esse poema que é um
poema e nada mais, esse poema escrito apenas pelo poema”. 58 À luz desta importante
consideração do próprio autor, apesar de não ser inválida a idéia da crítica social
(classe alta ignorando necessidades das classes mais baixas), a idéia do conto “A
Máscara da Morte Rubra” tende muito mais para o que Joseph ROPOLLO definiria
como “(…) a kind of mythic parable59, brief and poetic, of the human condition, of
57
POE, E. Allan Poetry and Tales (The Masque of the Red Death) p.485.
58
POE, E. Allan The Poetic Principle. Disponível em:
<http://www.eapoe.org/works/essays/poetprnd.htm>. Acesso em: 19 nov. 2006.
59
Cabe retomar a definição de parábola de Massaud MOISÉS: “grego parabolê, comparação, alegoria. Narrativa
curta, não raro identificada com o apólogo e a fábula, em razão da moral, explícita ou implícita, que encerra, e da
sua estrutura dramática. Todavia, distingue-se das outras duas formas literárias pelo fato de ser protagonizada
por seres humanos. Vizinha da alegoria, a parábola comunica uma lição ética por vias indiretas ou simbólicas:
numa prosa altamente metafórica e hermética, veicula-se um saber apenas acessível aos iniciados. Conquanto se
possam arrolar exemplos profanos, a parábola semelha exclusiva da Bíblia, onde se encontra em abundância: o
Filho Pródigo, etc. (MOISÉS, 1991, p.385)”. Neste caso, preferiu-se a não utilização do termo na pesquisa, já
que Poe deixa clara sua opinião sobre “moral” na abertura do conto “Nunca Aposte sua Cabeça com o Diabo”:
“A novelist, for example, need have no care of his moral. It is there – that is to say it is somewhere – and the
moral and the critics can take care of themselves.” (POE, 2005, p.458), o que descartaria o processo racional de
criação literária que estudamos.
29
man’s fate, and the fate of the universe”60 (ROPOLLO, 1967, p.144) , o que em outras
palavras significa que muito embora exista esse ponto do qual podemos extrair uma
interpretação que tenda à crítica social61, ainda assim o tema principal do conto é
muito maior, mais universal: todos somos vítimas do Tempo, o que faz da Morte algo
inevitável.
Retomando a seqüência do baile, é notável o esforço de Poe em sugerir que a
festa parece um sonho. A começar pela escolha de um baile de máscaras, e pelo fato de
que Próspero escolhera as fantasias, definidas de modo muito sugestivo como
“grotescas” e “arabescas”:
Poe chega a utilizar a palavra “dream” quatro vezes para referir-se aos
mascarados: “Na realidade, uma multidão de sonhos deslizava para lá e para cá”, “E
estes sonhos giravam de um canto para outro”, “Os sonhos paravam, como que
congelados” e “(...) e os sonhos reviviam e rodopiavam alegremente” 63 [grifos meus].
Aqui entramos nos sentidos que a máscara pode carregar: seja o de ter a licença de
“ser” algo diferente do que somos, seja na revelação do interior como definido por
CHEVALIER e GHEERBRANT:
“(...) Mas é esse principalmente o caso das máscaras carnavalescas, onde o aspecto
inferior, satânico, é manifestado de forma exclusiva, com vistas à sua expulsão; ele é
libertador. (...) A máscara não esconde, mas revela, ao contrário, tendências interiores, que
é preciso pôr a correr.” (CHEVALIER; GHEERBRANT, 1990, p.596).
60
“(...) um tipo de parábola mítica, breve e poética, da condição humana, do destino do homem, e do destino do
universo.”
61
Se retomarmos o modo como o autor apresenta personagens aristocráticas em seus contos (como é o caso de
William Wilson, sobre o qual Stuart Levine comenta que “The usually undemocratic Poe, in certain tales which
deal with moral issues, plays on his audience’s anti-aristocratic biases.”), a idéia de crítica social torna-se
justificada, embora não seja a principal leitura a ser realizada.
62
POE, E. Allan Poetry and Tales (The Masque of the Red Death) p.487-488.
63
Id.
30
“Mas logo soava o relógio de ébano que se erguia na parede de veludo. E então, durante
um instante, tudo parava e tudo silenciava, exceto a voz do relógio. Os sonhos paravam,
64
HUGO, VITOR Preface to Cromwell
Disponível em <http://lit19.com/misc/hugo/cromwell-preface/>. Acesso em: 17 nov. 2006.
65
Há de se considerar a influência do trabalho de Victor Hugo na obra de Poe não apenas pela citação de
Hernani, mas bem como os outros momentos nos quais cita o autor em artigos como o publicado na Southern
Literary Messenger em julho de 1849, ou como fica evidenciado em publicações como Victor Hugo and Poe, de
Burton R. Pollin.
66
POE, E. Allan Poetry and Tales (The Masque of the Red Death) p.487.
31
como que gelados. Ecos do carrilhão, porém, morriam – haviam durado apenas um instante
– e uma leve gargalhada, mal contida, acompanha os ecos que morriam.”67
Aqui Poe representa o medo da morte – não a Morte Rubra, que nesse
momento parece esquecida. Mas a morte, tão inevitável quanto o passar do tempo
registrado pelo relógio. E é quando o relógio bate a meia-noite que chegamos ao
clímax do conto: o momento em que o invasor aparece no castelo.
4.3.2 O Invasor
67
POE, E. Allan Poetry and Tales (The Masque of the Red Death) p.488.
68
POE, E. Allan The Philosophy of Composition. Disponível em:
<http://www.eapoe.org/works/essays/philcmpb.htm>. Acesso em: 19 nov. 2006.
32
abaixo do gosto crítico” 69. E, levando em conta que o tom é delineado principalmente
pelos cinco diferentes níveis da ambientação presentes no conto, é possível delinear o
seguinte gráfico dos elementos:
País
Devastado
Abadia
Salões
Baile
Invasor
Tensão
69
POE, E. Allan The Philosophy of Composition. Disponível em:
<http://www.eapoe.org/works/essays/philcmpb.htm>. Acesso em: 19 nov. 2006.
33
“(...) E por isso aconteceu também que, antes de silenciarem por completo os derradeiros
ecos da última pancada, muitos foram os indivíduos, em meio a multidão, que puderam se
certificar da presença de um vulto mascarado, que até então não tinha chamado a atenção
de ninguém.”70
“(...) A máscara que escondia o rosto procurava assemelhar-se de tal forma com a
expressão enrijecida de um cadáver que até mesmo o exame mais atento teria dificuldade
em descobrir o engano. Tudo isso poderia ter sido tolerado, e até aprovado, pelos loucos
participantes da festa, se o mascarado não tivesse ousado encarnar o tipo da Morte
Escarlate. Seu vestuário estava borrifado de sangue – e sua alta testa, assim como o
restante do rosto, salpicada com o horror escarlate.” 71
70
POE, E. Allan Poetry and Tales (The Masque of the Red Death) p.488.
71
Ibid., p.489.
34
“(...) And unto the angel of the church in Sardis write; These things saith he that hath the
seven Spirits of God, and the seven stars. I know thy works, that thou hast a name that thou
livest, and art dead.
2 Be watchful, and strengthen the things which remain, that are ready to die: for I have
not found thy works perfect before God.
3 Remember therefore how thou hast received and heard, and hold fast, and repent. If
therefore thou shalt not watch, I will come on thee as a thief, and thou shalt not know what
hour I will come upon thee”74
72
“(...) representar alegoricamente os movimentos da manhã para a noite, da vida para a morte.”.
73
POE, E. Allan Poetry and Tales (The Masque of the Red Death) p.490.
74
“(…) Ao anjo da igreja em Sardes escreve: Isto diz aquele que tem os sete espíritos de Deus, e as estrelas:
Conheço as tuas obras; tens nome de que vives, e estás morto. 2 Sê vigilante, e confirma o restante, que estava
para morrer; porque não tenho achado as tuas obras perfeitas diante do meu Deus. 3 Lembra-te, portanto, do que
tens recebido e ouvido, e guarda-o, e arrepende-te. Pois se não vigiares, virei como um ladrão, e não saberás a
que hora sobre ti virei"
35
that are ready to die”, trabalha quase como um complemento do que virá a seguir, a
devastação total.
Nesse ponto, ZIMMERMAN no livro Edgar Allan Poe: Rhetoric and Style,
resgata a teoria de Tomás de Aquino ao dizer que:
“(...) St Thomas Aquinas and others proposed that in interpreting the Bible we distinguish
between (1) literal meaning (what happened), (2) allegorical meaning (New Testament truth),
(3) the tropological meaning (the moral truth), and (4) the anagogic meaning (spiritual,
eschatological truth). In “The Masque of Red Death” Poe does give us a literal series of events
(Aquina’s first meaning) and something like a tropological meaning – the parable, the “moral”
of the story (the third). The tale on the level of the allegory of ideas comes closest to
representing Aquina’s second meaning. As for an anagogic significance, it appears either to be
missing altogether or profoundly subversive: the closing words offer no hopeful Christian
eschatology”.75 (ZIMMERMAN, 2005, p.61)
Assim, Poe conclui o conto não apenas atingindo o efeito, ou seja, a tensão
máxima com a descoberta de que o Invasor era na realidade a Morte Rubra, mas ainda
trabalha com a significação da alegoria presente no conto para aumentar ainda mais a
tensão: não há como escapar da Morte – que agora, “com o poder ilimitado da Treva e
da Ruína”76, dominou tudo.
75
“São Tomás de Aquino e outros propuseram que ao interpretar a Bíblia nós distinguimos entre (1) o sentido
literal (o que aconteceu), (2) o sentido alegórico (a verdade do Novo Testamento), (3) o sentido tropológico (a
verdade moral), e (4) o sentido anagógico (verdade espiritual, escatalógica). Em 'A Máscara da Morte Rubra' Poe
nos dá uma série literal de eventos (o primeiro sentido de Aquino) e algo parecido com o sentido tropológico - a
parábola, a "moral" da história (o terceiro). O conto no nível de alegoria de idéias vem mais próximo a
representar o segundo sentido de Aquino. Para uma significância anagógica, ele parece tanto estar perdendo
todos os outros ou sendo profundamente subversivo: as palavras finais oferecem nenhuma esperançosa
escatalogia cristã.”.
76
POE, E. Allan Poetry and Tales (The Masque of the Red Death) p.490
36
“(...) as a multilayered allegory of the disordered mind in which the house itself may be
understood as the domain of unreason, its physical collapse analogizing the psychological
disintegration of Roderick Usher, who in turn metaphorizes his loss of reason in the poem
78
‘The Haunted Palace’.” (KENNEDY, 2001, p.7)
Desse modo, é possível afirmar que mais uma vez Poe utiliza a ambientação
tanto para o desenvolvimento da unidade de efeito quando para a construção de um
outro significado, indo mais além, de uma alegoria dentro do conto.
Com relação à ambientação e a unidade de efeito, há de se considerar o fato da
proximidade de Roderick Usher com o Príncipe Próspero, por ambos serem homens
imaginativos, fechados em seus próprios mundos, mundos estes que refletem suas
loucuras, embora em níveis e maneiras diferentes, como é possível ver através da
comparação dos trechos dos contos. Sobre Próspero, temos:
77
Cf POE, “(...) Mesmo nas melhores circunstâncias, sempre interferirá na unidade de efeito que, para o artista,
vale por todas as alegorias do mundo.” Em: POE, E. Allan Review of Hawthorne’s Twice-Told Tales.
78
"(...) como uma alegoria multifacetada da mente bagunçada na qual a casa em si pode se compreendia como o
domínio da loucura, seu colapso físico tornando-se análogo à desintegração psicológica de Roderick Usher, que
em sua vez metaforiza sua perda de razão no poema 'O Palácio Assombrado'."
79
POE, E. Allan Poetry and Tales (The Masque of the Red Death) p.487.
37
“Durante todo aquele dia de outono, monótono, sombrio e silencioso, quando as nuvens
baixas pairavam opressivamente nos céus, eu percorrera sozinho, a cavalo, aquelas terras
singularmente desoladoras, e finalmente, quando as sombras da tarde começavam a cair,
80
POE, E. Allan Poetry and Tales (The Fall of the House of Usher) p.323.
81
Gráfico 1 presente no capítulo 4.3.2 dessa pesquisa.
38
82
avistei a melancólica [grifos meus] Casa de Usher.”
Quando fala das janelas com formato de olhos, ele está personificando aquele
que será, a todo o momento, o cenário e ao mesmo tempo a antagonista da história –
uma vez que é ela é a força opositora (e, mais ainda, influenciadora), que conduzirá
todas as personagens ao fim.
O segundo nível da ambientação vem com a morte de Madeline, que pelas
palavras do narrador, por “precauções não naturais”, seria sepultada em uma
catacumba dentro da própria mansão dos Usher.
O momento da morte da irmã de Roderick opera como uma sugestão
importante para o efeito que Poe deseja criar com o conto “A Queda de Casa de
Usher”. Na realidade, é importante destacar que este é um tema constante na obra do
autor, o que fica registrado no ensaio “The Philosophy of Composition”, no qual o
autor afirmou:
82
POE, E. Allan Poetry and Tales (The Fall of the House of Usher) p.317.
83
Id.
39
“O subterrâneo em que o depositamos (e que já não era aberto há tanto tempo que os nossos
archotes, meio asfixiados naquela atmosfera opressiva, poucas possibilidades nos davam de
observar) era pequeno, úmido e sem qualquer abertura para entrada da luz; ficava a grande
profundidade [grifo meu], mesmo por debaixo daquela parte do edifício onde se encontrava
85
o meu quarto.”
84
POE, E. Allan The Philosophy of Composition. Disponível em:
<http://www.eapoe.org/works/essays/philcmpb.htm>. Acesso em: 19 nov. 2006.
85
POE, E. Allan Poetry and Tales (The Fall of the House of Usher) p.329.
86
BACHELARD, G. A Poética do Espaço p.36-37.
40
“(…) Tentei convencer-me de que muito, senão tudo, o que sentia se devia à influência
desconcertante da sombria mobília do quarto — dos cortinados escuros e esfarrapados
que, movimentados pelo sopro da tempestade [grifos meus]que se levantava, adejavam
das paredes, ao acaso, para cá e para lá, e roçavam apreensivamente nas decorações da
cama.”87
É assim que, de acordo com James HUTCHISSON, “the story achieves unity
by one dramattic effect, which takes place during a fierce windstorm at night; it is a
correlative of the destruction going on within the house”88 (HUTCHISSON, 2005,
p.102). Ou seja, ao contrário de “A Máscara da Morte Rubra” conto no qual Poe
começa com grande tensão, iniciando o conto com uma devastação quase total
provocada pela peste, para então diminuí-la no momento da fuga para a abadia para só
depois aumentá-la gradualmente durante a seqüência do baile, chegando no fim ao
clímax, ou seja, o domínio completo da Morte Rubra, no caso de “A Queda da Casa de
Usher” podemos concluir que a tensão é crescente e constante.
Desde o momento que chega até o final, elementos da ambientação são
fornecidos de modo tal que o leitor vá gradualmente percebendo o aumento do nível de
87
POE, E. Allan Poetry and Tales (The Fall of the House of Usher) p.330.
88
“A história alcança a unidade por um dramático efeito, que toma lugar durante a grande tempestade à noite, é
um correlativo da destruição acontecendo dentro da casa.”
41
Chegada do
amigo
Morte de
Madeline
A Queda da
Casa de Usher
Tensão
6 CONCLUSÃO
Durante alguns anos é difícil compreender a razão pela qual Poe, por tanto
tempo, foi deixado de lado ou execrado pela crítica norte-americana – principalmente
se levarmos em consideração a hoje tão comentada admiração dos poetas simbolistas
franceses pelo autor.
Para muitos, essa falta de reconhecimento se deu em conseqüência das
inimizades criadas em razão das críticas severas feitas pelo autor enquanto resenhista
de periódicos como o Graham’s ou o Southern Literary Messenger, como, por
exemplo, quando acusou Longfellow de plágio no episódio que ficou conhecido como
“Little Longfellow War”.
42
89
POE, E. Allan Review of Hawthorne’s Twice-Told Tales. Disponível em:
<http://www.eapoe.org/works/criticsm/gm542hn1.htm>. Acesso em: 19 nov. 2006.
90
POE, E. Allan Poetry and Tales (The Masque of the Red Death) p.485.
91
Ibid., 490.
43
92
“A definição dele para Beleza incluía nada além do tipo de Beleza que ele mesmo produziu.”
44
REFERÊNCIAS
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Bible Society: 1999.
FISHER, B. Franklin “Poe and the Gothic Tradition”. Cambridge Companion to Edgar Allan
Poe. Ed. Kevin J. Hayes. Cambridge University Press, 2002.
HAYES, Kevin J. The Cambridge Companion to Edgar Allan Poe. Cambridge University
Press, 2002.
HOLLAND, Peter. “The Tempest: Introduction”. The Complete Pelican Shakespeare. Ed.
Stephen Orgel e A.R. Braunmuller. Nova York, NY: Penguin Books, 2002.
KENNEDY, Gerald J. A Historical Guide to Edgar Allan Poe. Nova York: Oxford University
Press, 2001
LINS, Osman Lima Barreto e o Espaço Romanesco. São Paulo: Ática, 1976.
MAY, Charles E. Edgar Allan Poe: A Study of the Short Fiction. Nova York: Twayne
Publishers, 1991.
POE, Edgar A. Poetry and Tales. Nova York: The Library of America, 2005.
REGAN, Robert Poe: A Collection of Critical Essays. New Jersey: Prentice Hall Inc
Englewood Cliffs, 1967.
ROPPOLO, J. Patrick. "Meaning and `The Masque of the Red Death'”. Poe: A Collection of
Critical Essays. Ed. Robert Regan. Englewood Cliffs, NJ: Prentice, 1967.
SHAKESPEARE, William As You Like It. The Complete Pelican Shakespeare. Ed. Stephen
Orgel e A.R. Braunmuller. Nova York, NY: Penguin Books, 2002.
TATE, Allen “Our Cousin, Mr. Poe”. Poe: A Collection of Critical Essays. Ed. Robert Regan.
Englewood Cliffs, NJ: Prentice, 1967.
ZIMMERMAN, Brett Edgar Allan Poe: Rhetoric and Style. Montreal: McGill-Queen's Press
– MQUP, 2005.
47
ANEXOS
CONTOS:
1832:
"Metzengerstein,"
"The Duc L'Omlette,"
"A Tale of Jerusalem,"
"A Decided Loss" (entitulado depois como "Loss of Breath")
"The Bargain Lost" (esboço de "Bon-Bon")
(Todos publicados no Saturday Courier)
1833:
“MS. Found in a Bottle” (publicado no Saturday Visiter)
1834:
“The Visionary” (depois entitulado “The Assignation”, publicado no Godey’s Lady’s Book)
1835:
“Berenice – A Tale”
“King Pest the First. A Tale containing an Allegory” (depois entitulado como “King Pest)
“Lion-izing”
“Morella”
“Shadow – A Fable” (depois entitulado como “Shadow – A Parable”)
“Hans Phaall, a Tale” (depois entitulado como “The Unparalleled Adventure of One Hans Pfaall”)
(Todos publicados no Southern Literary Messenger.)
1836:
"Epimanes" (depois entitulado como “Four Beasts in One”, publicado no Southern Literary
Messenger.)
1837:
"Von Jung, the Mystific" (depois entitulado como “Mystification”, publicado no American Monthly).
"Arthur Gordon Pym" (depois entitulado como “The Narrative of Arthur Gordon Pym of Nantucket”,
publicado no Southern Literary Messenger).
54
1838:
"The Psyche Zenobia" introduction to "The Scythe of Time" (depois entitulado como "How to Write a
Blackwood Article" introduction to "A Predicament", publicado no American Museum).
"The Scythe of Time" (depois entitulado como “A Predicament”, publicado no American Museum).
"Siope — A Fable" (depois entitulado como “Silence – A Fable”, publicado no The Baltimore Book).
“Ligeia” (publicado no American Museum)
1839:
"The Man That Was Used Up" (depois entitulado como “The Man That Was Used Up. A Tale of the
Late Bugaboo and Kickapoo Campaign”, publicado no Burton’s Gentleman’s Magazine).
"William Wilson. A Tale." (depois entitulado como “William Wilson” publicado no Burton’s
Gentleman’s Magazine).
"The Conversation of Eiros and Charmion" (publicado no Burton’s Gentleman’s Magazine).
"The Fall of the House of Usher" (publicado no Burton’s Gentleman’s Magazine).
"The Devil in the Belfry. An Extravaganza." (depois entitulado “The Devil in the Belfry”, publicado
no Saturday Chronicle).
1840:
"Why the Little Frenchman Wears His Hand in a Sling" (publicado no TGA)
"Peter Pendulum, The Business Man" (depois entitulado como “The Business Man”, publicado no
Burton’s Gentleman’s Magazine).
"The Journal of Julius Rodman" (publicado no Burton’s Gentleman’s Magazine).
"The Man of the Crowd" (publicado no Burton’s Gentleman’s Magazine).
1841:
"The Colloquy of Monos and Una" (publicado no Graham’s Magazine).
"A Descent into the Maelström" (publicado no Graham’s Magazine).
“Eleanora” (publicado no The Gift for 1842).
"The Island of the Fay" (publicado no Graham’s Magazine).
"The Murders in the Rue Morgue" (publicado no Graham’s Magazine).
"Never Bet Your Head, A Moral Tale" (depois entitulado “Never Bet the Devil Your Head. A Tale
with a Moral.”, publicado no Graham’s Magazine).
"A Succession of Sundays" (depois entitulado “Three Sundays in a Week”, publicado no Saturday
Evening Post).
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1842:
"The Landscape-Garden" (publicado no Ladies Companion).
"The Masque of the Red Death. A Fantasy." (depois entitulado “The Masque of the Red Death”,
publicado no Graham’s Magazine).
"The Mystery of Marie Roget" (publicado no Ladies Companion).
"The Oval Portrait" (publicado no TGAPP).
"The Pit and the Pendulum" (publicado no The Gift for 1843).
ENSAIOS
1836:
"Letter to B——," (publicado no Southern Literary Journal)
1842:
“Longfellow Ballads”
“Hawthorne – Review of Twice-Told Tales”
(Ambos publicados na Graham’s Magazine)
1846:
“The Philosophy of Composition” (publicado na Graham’s Magazine)
1847:
“Nathaniel Hawthorne – Tale-Wrinting” (publicado no Godey's Lady's
Book)
1848:
“The Poetic Principle” (primeiro manuscrito de 1848, só publicado em 1850 no Home Journal).