Trabalho e Saúde Mental Burnout

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Trabalho e Saúde Mental:

Burnout
Reunião do Grupo de Estudos 26/04/2023
Facilitadora: Mônica Reis de Oliveira
Do que estamos falando?
“Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional é um distúrbio
emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de
situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou
responsabilidade.”

A principal causa da doença é justamente o excesso de trabalho.

É comum em profissionais que atuam diariamente sob pressão e com responsabilidades


constantes, como médicos, enfermeiros, professores, policiais, jornalistas, dentre outros.

Fonte: Ministério“Burn”
Inglês da Saúde, disponível
(queima) em: + “Out” (exterior).
<https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/sindrome-de-burnout#:~:text=S%C3%ADndrome%20de%20Burnout%20ou%20S%C
3%ADndrome,demandam%20muita%20competitividade%20ou%20responsabilidade>.
É preciso considerar que…
“A síndrome de Burnout, ou simplesmente burnout, representa um problema social premente nos
próximos anos devido à atual configuração do mundo do trabalho: as pressões competitivas, a
natureza variável do contrato de trabalho, o crescimento da instabilidade no emprego, as demandas de
horas de trabalho excessivas, a necessidade de aprimoramento contínuo diante do acelerado ritmo de
mudança nas tecnologias e a desfocagem da linha que separa o trabalho e a vida pessoal/familiar,
consistem em fatores de grande impacto na saúde mental da classe trabalhadora (Shirom, Melamed,
Toker, Berliner, & Shapira, 2005). Estes fatores afetam drasticamente a qualidade de vida do
trabalhador e, consequentemente, os níveis de burnout em diferentes setores econômicos, elevando
sua taxa de incidência e prevalência na população (Perewé, Rosen, & Maslach, 2012).”

(Carvalho, A. V., 2019)

Já é uma demanda crescente e com real


possibilidade de aumentar bastante!
Profissionais de saúde e o Burnout
Revisão sistemática - Pesquisa publicada em 2015 “Prevenção do estresse ocupacional em profissionais de
saúde”
Foram avaliadas diferentes maneiras de prevenir o estresse ou o esgotamento do trabalho dos profissionais
de saúde.
Foram 58 estudos que incluíram ao todo 7.188 participantes.
Cinquenta e quatro dos estudos incluídos eram estudos controlados randomizados e quatro eram estudos
não randomizados.
Conclusões:
As intervenções foram categorizadas em: ● O treinamento cognitivo-comportamental, bem como o
relaxamento mental e físico, reduzem o estresse
● Treinamento cognitivo-comportamental;
moderadamente.
● Relaxamento mental e físico;
● Intervenções organizacionais precisam ser mais bem
● Mudanças organizacionais.
focadas em lidar com fatores específicos que causam
estresse.
Fonte: Cochrane, disponível em:
https://www.cochrane.org/CD002892/OCCHEALTH_preventing-occupational-stress-in-healthcare-workers
Sintomas - É simples identificar (ou diagnosticar) o Burnout?

“Burnout carece de critérios diagnósticos formais – não sendo incluído no


DSM-5 (APA, 2013) e listado no CID-11 “não como uma condição
médica” (OMS, 2019), mas como um “fator que influencia o status de
saúde” (OMS, 2018).”

(Tavella, Hadzi-Pavlovic & Parker, 2021)


Sintomas - É simples identificar (ou diagnosticar) o Burnout?

“No entanto, nosso domínio central de burnout expandiu além


da exaustão, sendo também dominado por itens que capturam
disfunções cognitivas (por exemplo, problemas de concentração
e memória).[...] sugerindo que a cognição prejudicada é um dos
“sintomas cardinais” do burnout”

(Tavella, Hadzi-Pavlovic & Parker, 2021)


Doenças e Sintomas decorrentes do Burnout
Fisiológicos Distúrbios do sistema nervoso, cefaleias, distúrbios do sono, dores
musculares, problemas do sistema digestivo, problemas cardíacos,
imunodeficiências, disfunções sexuais e problemas do sistema
respiratório.

Emocionais Distanciamento emocional, sentimentos de solidão, alienação, ansiedade,


irritabilidade, baixa autoestima, sentimentos de impotência, insatisfação
com o emprego, dificuldade de concentração, redução da autoestima,
distorção da autoeficácia, hostilidade, apatia e desconfiança.

Comportamentais Absenteísmo, queda de produtividade, baixo comprometimento com o


trabalho, abandono de emprego, conflitos com colegas de trabalho e
demais pessoas do convívio, isolamento, abuso de álcool e drogas,
mudanças, comportamento de risco, agressividade.

(Carvalho, A. V., 2019)


O que mais considerar?

“A personalidade desempenha um papel crucial nas formas como os indivíduos reagem


ao ambiente e as evidências empíricas sugerem que certos aspectos da personalidade
podem afetar a média níveis de estresse e distúrbios relacionados ao estresse, como
burnout [...] Entre os antecedentes individuais de burnout, que são repetidamente
considerados, existem traços de personalidade, como alto nível de neuroticismo,
afetividade negativa e ansiedade. As ligações entre neuroticismo, ansiedade e burnout
parecem ser particularmente interessantes.”

Há Correlação entre alto nível de Neuroticismo e Burnout!

(Golonka, Mojsa-Kaja, Blukacz, Gawlowska, Marek; 2019)


CID-11 ⇨ Síndrome de Burnout
“Burnout é uma síndrome conceituada como resultante
“Sabe aquela
do estresse crônico no local de trabalho que não foi
sensação de estar gerenciado com sucesso.”
esgotado?”
É caracterizada por três dimensões:
• sentimentos de exaustão ou esgotamento de energia;
• aumento do distanciamento mental do próprio
trabalho, ou sentimentos de negativismo ou cinismo
relacionados ao próprio trabalho;
“Burnout se refere a
• redução da eficácia profissional. fenômenos que acontecem no
contexto ocupacional e não
deve ser usado para descrever
Organização Mundial de Saúde, disponível em: experiências em outras áreas
https://www.paho.org/pt/noticias/28-5-2019-cid-burnout-e-um-fenomeno-ocupaciona da vida.”
l
Diagnóstico e Avaliação Clínica
❏ Entrevista clínica Diagnóstico feito pelo psiquiatra ou psicólogo.
❏ Outros instrumentos
Levar em conta:
História do paciente e seu
● Inventário Fatorial de Personalidade (IFP II) - envolvimento e realização no trabalho,
CasaPsi Livraria e Editora Ltda bem como a natureza do trabalho em
● Escala Brasileira de Burnout (EBBurn) - Editora que ele realiza.
Vetor É preciso diferenciar o Burnout do
● Escala de Autoeficácia no Trabalho (AET) - Editora cansaço e fadiga em decorrência do
Laboratório de Avaliação Psicológica em Saúde próprio trabalho quando é desgastante
Mental (LAPSaM) ou da fadiga relacionada a depressão.
● Escala de Vulnerabilidade ao Estresse no Trabalho
(EVENT) - Editora Vetor
● Inventário de Ansiedade de Beck (BAI) - Pearson
● Inventário de Depressão de Beck (BDI - II) - Comum aparecer quadro de
CasaPsi Livraria e Editora Ltda depressão e/ou ansiedade

Consulte o Satepsi!
Burnout sempre está associado ao
Diagnóstico Diferencial trabalho, já o estresse não
necessariamente pode estar
relacionado ao trabalho. O estresse
❏ Estresse X Burnout nem sempre é prejudicial, já o
❏ Depressão X Burnout burnout sempre é prejudicial. O
principal dano do burnout é
❏ Estresse Ocupacional X Burnout emocional.
❏ Crise de meia idade X Burnout
Ainda que possa ocorrer com
frequência o burnout acompanhado
de sintomas de depressão, é bom
diferenciar um do outro. Alguns dos
sintomas de burnout podem ser

https://www.psicomotricidadepositiv
a.com.br/percepcao-como-percebem
confundidos com a depressão. A
presença do burnout não significa

Imagem extraída do site:


necessariamente a presença da
depressão clínica.

os-o-mundo/
O Burnout é um quadro clínico de
extremo estresse ocupacional, é uma
resposta ao estresse ocupacional já
cronificado. (El Sahili González, 2015; Fonsêca, Santana & Souza, 2017 )
Diagnóstico Diferencial

“...é improvável que o esgotamento seja sinônimo de depressão, mas que


uma síndrome de burnout é comumente, se não sempre acompanhada
por alguns sintomas depressivos, sejam eles parte da síndrome (como
refletindo sofrimento psicológico geral) ou uma consequência em
resposta ao seu surgimento e impacto.”

(Golonka, Mojsa-Kaja, Blukacz, Gawlowska, Marek; 2019)


Crença sobre autoeficácia e Burnout

As expectativas de
Crenças sobre eficácia pessoal autoeficácia influenciam de
maneira significativa as
escolhas de carreira,
desempenho e persistência.

Por exemplo:
A autoeficácia se refere à “Sou incompetente.”
percepção que uma pessoa tem “Sou incapaz.”
sobre as suas capacidades no
exercício de determinada
atividade.

A percepção de autoeficácia muda ao longo da vida.

(Barros, oliveira & Spyrides, 2012; Ferreira & Azzi, 2010; Carvalho, 2019)
Crença sobre autoeficácia e Burnout

Crenças sobre eficácia pessoal

Percepções de baixa autoeficácia geram


comportamentos de evitação e ansiedade que são Perfeccionismo
fatores primordiais para o desenvolvimento de
burnout nas três dimensões que o compõem:
exaustão física e emocional, despersonalização ou Para lidar com as crenças
indiferença nas relações e sensação de fracasso relacionadas à baixa autoeficácia
profissional” (Ferreira & Azzi, 2010) o indivíduo pode desenvolver
um padrão perfeccionista. Uma
forma de compensar.
Exemplos de Distorções que podem ser percebidas
“Ele(a) é
incompetente.”
Rotulação “Ela é burra.”

“Tenho certeza: meu


projeto não vai ser
Adivinhação aprovado!”
“Sinto que meus
colegas não gostam de
Raciocínio Emocional mim.”

“Ele está me achando


Leitura Mental entediante.”

“Se eu ficar
desempregado, vai ser o
Catastrofização
fim da minha carreira.”
Pensamento “Eu fui chamada(o) atenção
dicotômico “tudo ou pelo meu chefe, não consigo
nada” fazer nada direito.”
Vulnerabilidades que podem se relacionar com o Burnout

Workholic - dificuldade de se
Necessidade de Autocobrança Vida Social e/ou
desligar do trabalho (nunca
provar o seu valor termina as suas tarefas elevada Lazer
através do relacionadas ao trabalho), Comprometidos
trabalho trabalho visto como uma
prioridade

Fonte: Internet, disponível em:


https://fia.com.br/blog/sindrome-do-burnout/
Assédio Moral e Burnout
“El acoso laboral se produce en quienes están
presionados por sus compañeros o jefes para
renunciar a su trabajo, lo cual puede conducir a
que manifiesten agudos sentimientos de
depresión, ansiedad y daño a su autoestima, que,
de no ser tratados, generarán problemas
emocionales permanentes. El mobbing suele ser
sufrido por personas tranquilas, serviciales y
poco defensivas, así como aquellas que son
confiadas y creen de forma ingenua en la
justicia;”

(El Sahili González, 2015)


Tratamento
Psicoterapia

O tratamento para Bunout é muito voltado para a psicoterapia. Nesse sentido, quando se trata do manejo clínico
da TCC, é necessário individualizar o tratamento através da conceitualização cognitiva. De uma maneira geral, é
preciso conhecer a Síndrome (psicoeducação), reconhecer os sintomas e a situação individual do paciente,
identificar os fatores precipitantes e os fatores que a mantêm, fazendo as intervenções pertinentes. É preciso
ajudar o paciente para que ele consiga aprender a lidar com o estresse, ajustar as expectativas quanto ao trabalho e
no desempenho das suas funções, trabalhar o perfeccionismo, desenvolver a assertividade e hábitos mais
saudáveis.

É bom considerar:
Farmacoterapia Alterações na organização do trabalho
(a maneira como o executa) ou
Não necessariamente vai ocorrer o tratamento mudanças no próprio emprego.
com fármacos. Mas em alguns casos mais Algumas vezes será preciso considerar
específicos, com a devida avaliação médica o uso uma mudança nas funções ou uma
de medicamentos pode ajudar no tratamento. mudança até mesmo de empresa.

(Souza & Bezerra, 2019; Carvalho, 2019)


Prevenção
Vid
● Manter uma boa alimentação; aL
● Praticar atividades físicas; eve
● Manter contato e formar vínculo com outras
pessoas além das pessoas do trabalho;
!
● Procurar otimizar o trabalho, organizando a
rotina, por exemplo; Como melhorar as
● “Se desligar” do trabalho quando não estiver relações no
trabalho? Como
mais lá; administrar melhor
● Aprender a relaxar e desfrutar do momento o estresse?
presente (mindfulness);
● Ter uma boa noite de sono (sono de qualidade).
Referências
Barros, Marizeth Antunes; Oliveira, José de Arimatés & Spyrides, Maria Helena Constantino (2012). Um estudo sobre autoeficácia no trabalho e características
sociodemográficas de servidores de uma universidade federal. REGE, 19(4), 571-588.

Carvalho, Anelisa Vaz de. (2019). Terapia Cognitivo-Comportamental na Síndrome de Burnout. Novo Hamburgo, Sinopsys.

El Sahili González, Luiz Felipe Ali.(2015). Burnout: consecuencias & soluciones. Mexico, Editorial El Manual Moderno.

Ferreira, Luiza Cristina Mauad, & Azzi, Roberta Gurgel. (2010). Docência, burnout e considerações da teoria da auto-eficácia. Psicologia Ensino & Formação,
1(2), 23-34. Recuperado em 26 de abril de 2023, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2177-20612010000200003&lng=pt&tlng=pt.

Fonsêca, Cícero José Barbosa da; Santana, Carlos André & Souza, Carolina G. M.. (2017). Síndrome de Burnout: um estudo teórico-empírico. Maceió: Novas
Edições Acadêmicas

Golonka, Krystyna; Mojsa-Kaja, Justyna; Blukacz, Mateusz; Gawlowska, Magda & Marek, Tadeusz (2019). Occupational burnout and its overlapping effect with
depression ans anxiety International Journal of Occupational Medicine and Environmental Health, 32 (2), pp. 229-244.

Ruotsalainen JH, Verbeek JH, Mariné A, Serra C. (2015). Preventing occupational stress in healthcare workers. Cochrane Database of Systematic Reviews, Issue 4.
Art. No.: CD002892. DOI: 10.1002/14651858.CD002892.pub5

Souza, Lucia Fabíola Sobreira Costa de & Bezerra, Martha Maria Macedo de. (2019). Síndrome de Burnout e os Cuidados da Terapia Cognitivo-Comportamental.
Id On line Revista Multidisciplinar e de Psicologia. v.13, n.147, pp. 160-170.

Tavella, Gabriela; Hadzi-Pavlovic, Dusan & Parker, Gordon. (2021). Burnout: Redefining its key symptoms. Psychiatric Research, 302 (2021) 114023, pp. 1-7.

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