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2022

tecnologia
negócios
pessoas

11 ENSAIOS CRÍTICOS
sobre os maiores gênios
da atualidade
Por Andre Bello
www.thehumanpower.com.br

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3
Exercitando o
Pensamento Crítico

Nunca tivemos tanta informação


Agatha Arêas disponível e, ainda assim, a sensação
É Vice-Presidente de
Learning Experience do
que muitas vezes fica é a de ruído, de
Rock in Rio. confusão mental.

A tecnologia trouxe-nos a possibilidade


de consumirmos informações geradas
em qualquer lugar do mundo, em tempo
real e gratuitamente.

Qualquer pessoa que tenha acesso à


internet e a um computador, tablet ou
smartphone, pode emitir sua opinião e
distribuir seus textos, vídeos e fotos
sobre qualquer tema, a qualquer hora,
sem custo de veiculação e podendo
alcançar o mundo inteiro se o tópico que
escolheu abordar se tornar viral.

Isso tudo pode ser tão elucidativo


quanto caótico. Pode ser libertador e ao
mesmo tempo limitador.

Para ficarmos com os benefícios de um


novo mundo hiperconectado,
precisamos aprender a escolher os
conteúdos que consumimos.

4
Mas essa não é uma tarefa simples.
Inclusive, da demanda de identificar e
selecionar conteúdos verídicos e de
qualidade, é que surgiu uma das
profissões da atualidade: a “curadoria de
conteúdos”.

Seja recorrendo a serviços pagos,


assinando newsletters gratuitas,
seguindo pensadores confiáveis ou
simplesmente buscando dicas junto da
nossa rede de contatos próximos, é
sempre muito útil, muitas vezes até um
alívio, receber de alguém ou de uma
instituição em que confiamos, a
recomendação de um livro, um
documentário, uma palestra ou um
curso.

Em “Highlights – 11 ensaios críticos


sobre os maiores gênios da atualidade”,
Andre Bello presenteia-nos não só com
uma seleção atenta e rigorosa de
pensadores, executivos e suas teorias e
feitos, como também tece suas próprias
considerações, fazendo amarrações
entre diferentes ideias e tempos,
ajudando o leitor a conectar fatos e a
exercitar uma das habilidades mais
necessárias nos dias que correm: o
pensamento crítico.

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Terminei a leitura dos onze ensaios com
um repertório de referências mais
alargado e com a mente (e o coração)
fervilhando de insights.

É esta a sensação que desejo a você,


que está prestes a iniciar a sua imersão
nesse caldeirão de provocações da
melhor qualidade.

- Agatha Arêas
Portugal, janeiro de 2022

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7
Highlights é como
um beijo...

O tubarão branco é considerado o


Marcos Cavalcanti predador mais forte do mundo; a
É fundador do Centro
de Referência em
águia-de-asa-redonda consegue
Inteligência enxergar roedores a 5 mil metros de
Empresarial (COPPE altitude; o elefante africano é
UFRJ), doutor em considerado o animal com melhor
informática pela
olfato do planeta Terra e os morcegos e
Université de Paris XI e
membro do board do os golfinhos são considerados os que
New Club of Paris. têm melhor audição. São capazes de
Editor da Revista perceber a emissão de ultrassons e
Inteligência Empresarial assim conseguem “desenhar”
e coautor de livros
mentalmente o espaço onde estão e
como "O conhecimento
em rede: como podem se orientar e deslocar com
implantar projetos de segurança, mesmo no escuro.
inteligência coletiva" e
"Gestão de empresas Apesar disso, não é nenhum destes
na sociedade do
conhecimento: um
animais que é a espécie dominante em
roteiro para a ação". nosso planeta…

Por quê? Que características tornaram o


homo sapiens o “rei” dos animais?

Neste instigante livro de Andre Bello a


resposta vai surgindo ao longo das mais
de 180 páginas de puro prazer,
informação e reflexão de alto nível.
E não é uma resposta única.

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Sou capaz de apostar que cada leitor vai
encontrar a sua resposta. Porque este
não é um livro com respostas prontas e
definitivas. Ao longo dos meus 63 anos
de vida li muitos livros. Alguns me
divertiram, outros me fizeram pensar e
alguns poucos me fizeram querer agir.

Nunca tinha lido um livro que me


trouxesse todas estas sensações de
uma só tacada.

Ao concluir a leitura, a primeira coisa que


me veio à cabeça foi uma conversa que
tive com Dom Helder Câmara, em julho
de 1976, quando tinha 18 anos. Até hoje
não sei o que fez o Arcebispo de Olinda
e Recife nos receber, mas nunca
esqueci o que ele nos disse.

Perguntei quando que ele soube que


tinha a vocação para ser padre e quando
sabemos o que queremos ser na vida?
Aos 18 anos esta questão não
me saía da cabeça…

Ele me respondeu com outra pergunta:


“Quando começa o beijo?”

9
- “Quando os dois lábios se encontram”,
balbuciei eu, incrédulo com o inusitado
da pergunta, afinal – pensei eu -, o que
um padre entende de beijo?

“O beijo começa muito antes, quando os


dois corações começam a palpitar, a
respiração muda, os dois olhos se
fecham... E se conhecermos a história
de vida das duas pessoas envolvidas,
vamos entender que o que viveram os
tornaram dispostos para o encontro com
outra pessoa. Então nunca sabemos
exatamente onde começa nem onde
termina o beijo”, concluiu ele, diante de
quatro jovens que beberam cada palavra
que ele disse.

O livro de Andre Bello é como um beijo.

Meu encantamento com ele não


começou quando li a primeira palavra,
porque admiro o autor de longa data.
Andre é uma destas pessoas raras, que
aliam inteligência, conhecimento e
sensibilidade; teoria e prática; razão e
emoção. E não se encerrou quando li a
última palavra, porque o livro nos toca,
emociona, nos faz pensar e querer agir.

E vai estar comigo para sempre...

10
Espero que todos que lerão este livro
possam se encantar, informar e se
transformar. Alguns acham que este
século XXI é o século da tecnologia e da
inteligência artificial. Eu, que estudo
estes assuntos desde 1993, tenho
convicção que o século XXI é o século
da complexidade. E só os seres
humanos são capazes de lidar com a
complexidade, com a diversidade e a
ambiguidade.

Portanto, se você acabou o livro com


dúvidas, não fique preocupado. Como
diria o poeta Paulo Leminski, “certezas o
vento leva. Só dúvidas ficam de pé”.

Computadores e celulares só fazem o


que mandamos eles fazerem. Só têm
certezas.

Suas dúvidas são uma demonstração de


que você é humano…

Boa leitura!

- Marcos Cavalcanti
Brasil, janeiro de 2022

11
12
01. Jobs, Nike e o Círculo Dourado 18

02. O ‘Flow’ segundo Steven Kotler 29


03. Paixão, Perseverança e Garra 45
segundo Angela Duckworth

04. Hugh Herr: Mais forte, mais 63


rápido e mais humano

05. A Patagonia de Yvon Chouinard 78

06. Uma singela homenagem a Sir 91


Ken Robinson

07. Como os robôs podem ajudar 106


a restaurar a humanidade?

08. Liderança & Empatia segundo 124


Simon Sinek

09. O Day 1 de Jeff Bezos 136

10. David Kelley e a Confiança 147


Criativa

11. O Designer Ancestral 161

13
Introdução

Oi, tudo bem?


Aqui é o Andre Bello.

Andre Bello
É professor e consultor Gostaria de te dar as boas vindas a uma
do Centro de jornada de pensamentos e práticas
Referência em sobre as transformações
Inteligência
contemporâneas.
Empresarial (COPPE
UFRJ) e HSM do Brasil.
É TEDx Speaker e co- Você está nesse momento sofrendo os
responsável por impactos de uma gigantesca revolução
eventos TEDxRio. Autor
do livro Acredite! –
que se iniciou com a aceleração
Design Thinking Para exponencial das tecnologias nas últimas
Jovens de Todas as décadas. Mas esta revolução não
Idades. É co-founder
acontece de forma isolada. As
do Singularity University
Brazil Summit, transformações tecnológicas
advisor Rock in Rio representam uma potente força de
Humanorama e founder influência que reverbera em diversos
The Human Power.
outros campos de nossas vidas. Como
em ondas de choque, estamos
testemunhando novas formas de nos
relacionar e de fazer negócios.
Mudamos a forma como percebemos a
velocidade do tempo e como devemos
lidar com o futuro.

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As transformações contemporâneas
estão empurrando os limites do mundo
num ritmo mais rápido do que podemos
compreender. As conexões, as variáveis
e as possibilidades em nossas vidas
crescem a cada dia. Nos obrigando a
viver uma nova complexidade sem
precedentes na história humana. Seja
você um estudante ou líder corporativo,
entender o mundo e tomar decisões
nunca foi tão desafiador.

Você está prestes a conhecer os


pensamentos e práticas de grandes
gênios da atualidade que conseguiram (e
conseguem) lograr êxito neste contexto
caótico e acelerado. Nas próximas
páginas você terá contato com líderes e
pensadores de diversas áreas. Poderá
compor um mosaico mais claro de
referências para te ajudar a entender a
transformação do mundo e tomar
melhores decisões.

Em 11 capítulos curtos, em formato de


ensaios críticos, você vai conectar ideias
do historiador Yuval Noah Harari como
os conceitos do Prêmio Nobel de
Economia, Herbert Simon. Vai fazer um
passeio pelas críticas bem humoradas
de Sir Ken Robinson sobre educação.

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Vai descobrir o que Yvon Chouinard
entende como negócio sustentável, no
que talvez seja uma forte tendência para
as organizações. Vai perceber
semelhanças entre as visões de Steve
Jobs e as inspiradoras mensagens de
Simon Sinek. E muito mais…

São centenas de insights e provocações


para que você desenvolva um repertório
qualificado e atual. Para que alcance um
novo nível de desenvolvimento pessoal e
profissional. Uma ferramenta útil para
ajudar você a compreender as
dinâmicas das transformações globais,
os impactos na sociedade e nos
negócios. Este livro vai te ajudar a
encontrar caminhos para potencializar
seus estudos, seus negócios, sua
carreira.

Mais que tudo, minha intenção é que as


próximas páginas te façam deixar de ser
um espectador passivo das grandes
mudanças. Meu maior desejo é que
você se torne um agente protagonista
nas próximas revoluções.

- Andre Bello
Brasil, dezembro de 2021

16
O futuro tem
muitos nomes.
Para os fracos é
o inalcançável.
Para os temerosos,
o desconhecido.
Para os valentes é
a oportunidade.
Victor Hugo

17
.01
Jobs,
Nike e
o Círculo
Dourado
Por Andre Bello / julho 4, 2020

18
01. Jobs, Nike e o Círculo Dourado

.01
Jobs,
Nike e
o Círculo
Dourado
Recentemente publiquei um post em minhas redes
sociais sobre Criatividade. Uma das competências
mais valorizadas por grandes organizações frente à
complexidade global, presente nos últimos rankings de

19
01. Jobs, Nike e o Círculo Dourado

competência mais importantes do Fórum Econômico


Mundial.

Naturalmente, Steve Jobs aparece como um referência


em questões relacionadas à criatividade, sobretudo pela
construção da Apple como marca que desafia o status
quo, e sua genial capacidade de “conectar pontos”.

Jobs tem registrados alguns discursos históricos onde


mostra sua controversa genialidade. Desde o discurso
aos formandos de Stanford onde recita a célebre frase
“Stay hungry. Stay foolish”, até o lançamento do
iPod quando diz que, a partir daquele momento,
“poderíamos guardar mil músicas dentro do bolso”.

Me chama a atenção no entanto, um discurso que não


está entre os seus mais famosos, mas que representa
um claro e importante resgate da criatividade, desta vez
em aspectos ainda mais profundos.

Trata-se de uma apresentação proferida em 1997,


mesmo ano em que retornou à Apple após seu
afastamento forçado, e exatamente 10 anos antes do
lançamento do iPhone.

Na ocasião, Steve expõe para seus colaboradores sua


visão de como pretendia reerguer sua empresa com a
campanha “Think Different”. Ao mesmo tempo em
que traz reflexões sensíveis sobre mercado, antecipa
em muitos anos uma dimensão emocional que hoje as
empresas buscam descobrir.

20
01. Jobs, Nike e o Círculo Dourado

Neste discurso, Jobs traz lições sobre visão, causa e


propósito que podem e devem ser absorvidas por
pessoas, líderes e organizações, de qualquer porte,
segmento ou setor.

Jobs era dono de uma personalidade marcante. As


pessoas que tiveram a oportunidade de se relacionarem
com ele descreviam um misto entre a inspiração e
medo. Genialidade e arrogância. “Campo de
Distorção da Realidade”. Dizem que tinha
capacidades incríveis de fazer leituras das necessidades
humanas.

Steve Jobs está longe de ser


totalmente compreendido, e hoje
representa um espectro riquíssimo
de referências.
Desde a construção de novos futuros desejáveis,
transformação de negócios, conexões emocionais e
muita criatividade, este gênio controverso quebrou
padrões, lançou produtos transformadores, remodelou
mercados e construiu, do zero, novos ecossistemas.

Pelas suas mãos nasceram revoluções que vão


reverberar por muito tempo, muito além de
nossas vidas.

21
01. Jobs, Nike e o Círculo Dourado

Já em seu discurso de 1997, Jobs fazia uma previsão


da nova complexidade global e a disputa pela atenção
do público. Abre sua fala com objetividade sobre a
importância de haver extrema clareza em sua
comunicação e posicionamento para manter relevância
e vitalidade no mercado.

Estamos num mundo


complicado e barulhento.
Não vamos ter a
oportunidade de fazer com
que as pessoas se
lembrem muito sobre nós.

Contundente, Jobs faz uma sutil provocação às antigas


lideranças da empresa e busca, através desta premissa,
reconstruir a reputação perdida pela Apple nos anos em
que estivera afastado.

Como de se esperar, inicia sua mensagem com


aspectos inspiradores, trazendo à tona a “grande
causa” a ser perseguida pela campanha e pelos
colaboradores. O início de uma mensagem que se
desdobraria em muitas surpresas e lições para olhos e
ouvidos mais atentos.

A Nike é citada diretamente no discurso de Jobs como


uma referência a ser observada, uma clara inspiração
de como enxergava questões de mercado.

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01. Jobs, Nike e o Círculo Dourado

Ele acreditava que marketing é sobre valores, não


exatamente sobre produtos.

A Nike vende commodities (no caso, sapatos), e ainda


assim desperta emoções diferentes em seus clientes.
Não cita seus produtos em suas campanhas ou se
compara a seus concorrente.

A maneira de apresentar a
Apple não é falando de
velocidade, bits ou
megahertz…

Em sua comunicação (reflexo de sua essência criada


em 1964 por Bill Bowerman e Phillip Knight) a Nike
honra grandes atletas e grandes esportes, bem como
traz uma aura emocional muito além do produto. Assim
como a Apple, que desde 1984 se posiciona na
contramão do mercado vendendo muito mais que
computadores, a Nike também defende uma causa,
uma razão maior para sua existência.

Sob este prisma, e após as palavras de Jobs, é possível


até perceber semelhanças entre “Just do it!” com a
nova campanha que estava prestes a ser anunciada.

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01. Jobs, Nike e o Círculo Dourado

Jobs não desdenha do sucesso na entrega técnica


daquilo que produz e reconhece a possível
superioridade de seus produtos. Mas, abre uma nova
fronteira de pensamento e busca posicionar a Apple
num patamar mais alto.

Traz um resgate às visões originais da empresa e, numa


mensagem de cunho inspiracional, (re)define a Apple
Core - o valor central de sua organização.

Nós acreditamos que


pessoas com paixão
podem mudar o mundo!
A ‘paixão capaz de mudar o mundo’ é
brilhantemente trazida à tona com ponto de conexão
entre ‘empresas e clientes’, entre ‘empresas e
colaboradores’, entre ‘empresas e fornecedores’. Um
elemento invisível, intangível e poderoso. Um elo
perseguido hoje por grandes e pequenas organizações
de todo o mundo.

Ele se refere à capacidade de conectar emocionalmente


todos os atores do mercado. Algo que, segundo suas
palavras, é capaz de construir novas e maiores
vantagens competitivas e manter a organização
mais consistente, mesmo diante das oscilações do
mercado e mudanças nos hábitos de consumo.

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01. Jobs, Nike e o Círculo Dourado

Neste discurso, em 1997, Steve Jobs se emociona


apresentando sua nova campanha, dizendo-se
comovido por homenagear e honrar grandes figuras
que mudaram o mundo, como Einstein, Luther King,
Lennon e Muhammad Ali. Ressalta que estas
personalidades que já se foram, se em seus tempos
usassem computadores, usariam um Mac.

Na sequência, Jobs exibe o vídeo oficial da campanha


‘Think Different’. Imagens retratando seus heróis são
mostradas, enquanto é narrado o famoso texto de Jack
Kerouac em tom emocional.

Termina com a célebre frase:

As pessoas loucas o
suficiente para pensar
que podem mudar o
mundo, são as que
realmente o fazem.
Aplausos!

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01. Jobs, Nike e o Círculo Dourado

Foto: Muhammad Ali


retratado na campanha
Think Different

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01. Jobs, Nike e o Círculo Dourado

O discurso termina com a sensação de que, anos


antes do mercado conhecer a teoria do Golden
Circle de Simon Sinek, o visionário Jobs já dava aula
sobre esta abordagem.

Desenvolveu uma mensagem poderosa, em minutos,


de forma clara e simples. Utiliza com maestria os
elementos Why, How, What, preconizados por Sinek,
que certamente bebeu desta fonte para se consolidar
também como uma referência no mercado.

Mas isso fica para outra conversa…

Após esta apresentação Steve materializou seus


pensamento numa sequência de produtos, cujo
clímax se deu em 2007.

Assim como Leonardo da Vinci é lembrado pela


Mona Lisa del Giocondo e Albert Einstein pela
Teoria da Relatividade, Jobs, representando a
perfeita fusão entre Arte e Ciência, talvez seja
reconhecido na história por sua irreparável obra
prima, o iPhone.

27
28
.02
O ‘Flow’
segundo
Steven Kotler
Por Andre Bello / julho 26, 2020

29
02. O ‘Flow’ segundo Steven Kotler

.02
O ‘Flow’
segundo
Steven Kotler
Kevin Kelly é um dos nomes mais proeminentes no
mundo da inovação. Editor executivo e fundador da
renomada revista Wired. Diante do cenário de
desenvolvimento hiper acelerado da tecnologia, que
vem trazendo novas complexidades ao mundo,

30
02. O ‘Flow’ segundo Steven Kotler

Kelly diz que se nós tentarmos travar uma luta contra as


máquinas iremos perder. Ele sugere que ao invés de
apostarmos uma corrida ‘contra’ elas, devemos correr
‘com’ elas. Usá-las a nosso favor e buscar sinergia
nesta relação. Assim, chegaríamos todos mais longe.

De fato, estamos experimentando, enquanto humanos,


uma defasagem considerável em relação à velocidade
das mudanças. Acompanhar a tecnologia, e todo o
seu legado vivo de transformações, é sem dúvida
o maior desafio da atualidade.

Foram necessárias centenas de milhares de anos para


modelar nossos cérebros em uma configuração que
nos permitisse sobreviver e evoluir. Não foi fácil, mas
durante a imensa maioria desse tempo o mundo foi
relativamente estável e previsível.

Nossa biologia nos adequou a um cenário mais


controlado, onde os fatores que interferiam em nossas
vidas estavam perto de nós. Aprendemos a identificar
os riscos que nos cercavam num pequeno perímetro de
influência. E por praticamente toda nossa existência
enquanto espécie, nos preparamos também para um
mundo com uma taxa de mudança relativamente lenta.

31
02. O ‘Flow’ segundo Steven Kotler

Nosso cérebro, portanto, foi


projetado para viver num
mundo ‘local’ e ‘linear’.
No entanto, hoje vivemos num
ambiente que vem se
transformando no acelerado
ritmo da tecnologia.

Talvez mais rapidamente que


nossa capacidade de reação.
Estamos num mundo
globalizado, onde fatos do
outro lado do planeta podem
mudar completamente nossas
vidas.

Estamos num mundo


exponencial, onde a taxa de
mudança cresce
vertiginosamente. Mal
conseguimos entendê-la.

32
02. O ‘Flow’ segundo Steven Kotler

Nossa adaptação está sendo colocada à prova. E por


isso, além da atenção dada à tecnologia, novas
habilidade humanas são a base de profundos estudos
nos campos das ciências. Grandes nomes vêm
dedicando suas vidas a entender como nosso cérebro
funciona e como poderíamos expandir a velocidade e
escala de nossos pensamentos. Nesse contexto está
inserido o trabalho de Steven Kotler. Autor de
inúmeros best-sellers, jornalista e empresário
americano, lidera o Flow Research Collective, uma
organização que busca entender cientificamente o
desempenho humano e assim melhorar a performance
de indivíduos e empresas.

Kotler desenvolve pesquisas consistentes para elevar


nossas capacidades. Diferenciais que podem permitir,
quem sabe, a cooperação com as tecnologias, como
sugere Kevin Kelly. Qualidades que podem significar a
adaptação de pessoas e líderes às mudanças que o
mundo vem sofrendo. Um atributo que, em última
instância, pode definir quais organizações vão
sobreviver (ou não) na nova e complexa arena que vem
se desenhando.

Steven Kotler trabalha no limiar das capacidades


humanas. Autor de incontáveis livros sobre expansão
da consciência e alta performance, seu trabalho versa
sobre como atingir o chamado “flow” ou
Estado de Fluxo.

33
02. O ‘Flow’ segundo Steven Kotler

Segundo ele, um estado de consciência ideal, com


foco extremo e atenção extasiada.

Talvez este termo não seja familiar, mas é provável que


você já o tenha experimentado. Trata-se daquele
momento onde muitos de nós, durante uma
determinada atividade, experimentamos um mergulho
interior profundo. O mundo externo parece desaparecer
e entramos numa espécie de transe, cujo resultado é
uma concentração extrema e enorme produtividade.

Proposto originalmente pelo psicólogo húngaro Mihaly


Csikszentmihalyi, o conceito tem sido utilizado numa
grande variedade de campos. Por sua natureza pouco
compreendida, nos anos 1950 e 1960 foi classificado
como uma experiência mística ou espiritual. Hoje,
graças ao trabalho de Mihaly, Kotler e muitos
estudiosos e especialistas, este fenômeno é abordado
com consistência científica.

Agora Profundo:
5 horas em 5 minutos
Apesar de soar como algo intangível ou vaporoso, o
Estado de Fluxo tem causas e efeitos físicos
muito palpáveis.

34
02. O ‘Flow’ segundo Steven Kotler

Foto: O psicólogo Mihaly


Csikszentmihalyi, criador
do conceito ‘flow’

35
02. O ‘Flow’ segundo Steven Kotler

Kotler defende que esta condição tem origens


neurobiológicas, o que traz ao conceito o pragmatismo
necessário para sair do campo do esoterismo e
adentrar (merecidamente) no campo da ciência.

Quando variáveis fisiológicas e comportamentais se


alinham e permitem este estado de consciência é
possível experimentar uma mudança em todo o corpo.
Nos faz sentir em nossa melhor condição e nos permite
alcançar nossas melhores performances. Nossa
autopercepção se modifica e todo o resto desaparece.
Kotler associa a raiz do Estado de Fluxo a processos
meditativos e ao ‘mindfulness’. Preconiza que a
causa (e efeito) fundamental deste estado está
relacionado à concentração total. Entende que toda
atenção no presente seria a chave principal para o
Estado de Fluxo.

Eliminando arrependimentos do passado e


preocupações do futuro, conseguiria-se uma condição
que ele chama de “Agora Profundo”. O cérebro se fecha
para outros estímulos e consegue dedicar mais energia
à tarefa principal, consequentemente de forma mais
profunda e eficiente.

O córtex pré-frontal, área do cérebro responsável pela


nossa percepção de tempo, também se “desliga” neste
momento para manter o foco. Isso afeta a nossa
capacidade de distinguir a temporalidade do passado,
presente e futuro. O que explica porque algumas

36
02. O ‘Flow’ segundo Steven Kotler

pessoas experimentam uma confusão temporal


quando mergulham no Estado de Fluxo.

Para alguns, a passagem do tempo é mais lenta,


enquanto a maioria sente que o tempo passa muito
mais rápido, como se 5 horas passassem em 5
minutos.

O Triângulo de
Alto Desempenho
A descarga de neuroquímicos em nosso organismo
durante o Estado de Fluxo inibe a dor e aumenta a força
física. Outras alterações também podem ser
observadas. Devido ao foco de atenção alcançado pelo
cérebro, Kotler diz que experimentamos a total
absorção de novas informações recebidas. Este
aumento significativo na retenção informacional
permitiria, na mesma ordem, um aumento de nosso
acervo de referências e de nossa base de ideias para
novas conexões.

A máxima eficiência cerebral nos traria maior velocidade


de processamento. Conseguiríamos conexões mais
rápidas e mais distantes entre os elementos de nosso
repertório, ampliando nossa capacidade de reconhecer
padrões e aumentando também o que se conhece
como Pensamento Lateral.

37
02. O ‘Flow’ segundo Steven Kotler

Foto: Kotler no palco


da Mindvalley
University Tallinn

38
02. O ‘Flow’ segundo Steven Kotler

Diante de todos os efeitos ocasionados pelo Estado de


Fluxo, Steven Kotler define o que chama de Triângulo
de Alto Desempenho.

Seria a conjugação de 3 atributos presentes nas listas


de habilidades fundamentais para os dias atuais.
Algumas condições desejáveis que são aumentadas
quando estamos em Estado de Fluxo:

» (1) Motivação, através da euforia ocasionada pelo


alto rendimento.

» (2) Aprendizado, pela maior capacidade de absorção


informacional.

» (3) Criatividade, devido à ampliação de repertório e


aumento da capacidade e velocidade de conexões.

Sendo assim, o Estado de Fluxo nos tornaria pessoas


mais capazes intelectualmente e nos permitiria uma
perspectiva muito mais ampla da realidade. Por sua vez,
isso aumentaria nossa propensão para assumir riscos e
nos tornaria, sobretudo, mais ousados diante dos
desafios do mundo.

39
02. O ‘Flow’ segundo Steven Kotler

“O que é necessário
para fazer o impossível?”
Da mesma forma pragmática e objetiva, os resultados
alcançados pelo Estado de Fluxo vêm sendo estudados
tanto por Steven quanto por consultorias globais.

Em suas palestras, Steven Kotler menciona um estudo


realizado pela McKinsey. Ao longo de 10 anos a
pesquisa constatou que executivos em Estado de Fluxo
relataram ser 5 vezes mais produtivos. É como se estes
super profissionais pudessem trabalhar apenas nas
segundas-feiras e tirar os demais dias de folga,
enquanto seus pares precisassem trabalhar a semana
toda.

Nesse prisma, o Estado de Fluxo pode ser encarado


como uma espécie de poder extraordinário. Por isso, as
organizações teriam profundo interesse em promover
estas condições a seus colaboradores, o que
representaria uma ruptura de padrões e a possibilidade
de alcançar novos níveis de produtividade e
desempenho. Em seu livro “Tomorrowland”, ele estuda
os inovadores mais audaciosos do mundo e conclui
que todas as grandes mudanças, seja nas artes,
ciências, esportes e tecnologia, advêm de pessoas que
experimentaram mergulhos neste estado. E que este
fato seria uma das causas por trás da realização
de feitos aparentemente impossíveis.

40
02. O ‘Flow’ segundo Steven Kotler

A Regra de Ouro
Sempre sustentado por princípios científicos, Kotler
garante que o Fluxo é algo que pode ser atingido
através de gatilhos conscientes, que ele chama de
'hacks', estímulos que fariam a biologia trabalhar a
nosso favor.

Cientistas da Força Aérea Americana estariam


trabalhando na tentativa de criar Estados de Fluxo de
forma controlada, através da estimulação direta,
transcraniana, por meio de pulsos magnéticos – uma
espécie de “nocaute induzido”. Estariam
proporcionando períodos de alta performance em
indivíduos por períodos entre 20 e 40 minutos.

Estudos semelhantes estariam sendo conduzidos com


profissionais investidores da Bolsa de Nova Iorque para
que trabalhassem em Estado de Fluxo, o que, no
mínimo, traria um novo ponto de influência ao mercado
financeiro.

Enquanto estes e outros estudos científicos avançam,


'pessoas normais' também podem aprimorar as
condições para mergulhar no Estado de Fluxo.

41
02. O ‘Flow’ segundo Steven Kotler

Nesse sentido, Steven Kotler nos apresenta sua


Golden Rule / Regra de Ouro, que pode ser
praticada por qualquer um de nós.

Sua regra se baseia no fato de que o Estado de Fluxo


acontece quando se consegue uma tensão sustentável
entre suas ‘Habilidades’ versus o ‘Desafio’ que está
sendo enfrentado.

O segredo seria trabalhar num canal onde você esteja


sendo desafiado num grau que tire o máximo proveito
de suas capacidades, sem subutilizar seus talentos.

Trabalhar em equilíbrio, de forma que esta tensão


“estique, mas não arrebente”. Afastar-se do estado de
Tédio – quando o desafio está muito abaixo de suas
habilidades – enquanto também se afasta do estado de
Ansiedade – quando o desafio está muito acima de
suas habilidades.

42
02. O ‘Flow’ segundo Steven Kotler

Se estiver sentindo-se
sobrecarregado,
alivie-se! Se estiver
sentindo-se entediado,
desafie-se!
O Estado de Fluxo pode ser experimentado por
pessoas em suas tarefas individuais, e também pode
ser experimentado em grupos, em momentos de
catarse. Pode melhorar a performance de profissionais
e organizações, e vem sendo considerado um atributo
diferenciador para acompanhar as mudanças
do mundo.

As pesquisas conduzidas por Kotler e outros estudiosos


talvez representem o início de uma longa jornada de
descobertas. Por ora, sabemos que traz mais felicidade
e mais desempenho. Se aprofundado, o Estado de
Fluxo proporciona prazer e engajamento, e se
trabalhado em todo o seu potencial, orientado a
propósitos relevantes, pode trazer novos significados
para pessoas, líderes e organizações.

E assim, pode nos levar para um caminho sem volta.


Para o outro lado da nova fronteira humana.

43
44
.03
Paixão,
Perseverança e
Garra segundo
Angela Duckworth
Por Andre Bello / julho 30, 2021

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03. Paixão, Perseverança e Garra segundo Angela Duckworth

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Paixão,
Perseverança e
Garra segundo
Angela Duckworth
O ano era 2017. Eu estava nos bastidores da HSM
Expo em São Paulo…

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03. Paixão, Perseverança e Garra segundo Angela Duckworth

O backstage de um evento, principalmente desta


magnitude, é totalmente diferente do que as pessoas
sentadas em suas cadeiras veem pelo outro lado do
palco. Era um ambiente caótico. Era escuro. O som que
vinha dos palestrantes se apresentando no auditório
principal chegava abafado, por vezes cortado por
aplausos. Computadores, cabos e monitores se
misturavam aos magos da equipe técnica, que
andavam de um lado para o outro para garantir a
perfeita ordem do espetáculo.

Mas eu não estava ali exatamente por conta das


engrenagens técnicas do evento. Eu estava atrás das
cortinas junto com os grandes amigos Francisco
Milagres e Marconi Pereira para, em alguns instantes,
adentrarmos ao palco e anunciar o evento da Singularity
University, que aconteceria dali a um ano.

Enquanto esperávamos o momento de nossa


apresentação, percebemos todos uma comoção no
ambiente. Uma movimentação além do comum nos
chamou a atenção. Pessoas mais esbaforidas que o
normal, olhares direcionados e celulares filmando uma
figura que entrava pelos fundos, tentando, inútilmente,
alguma discrição.

Era Michael Phelps, o maior nadador da história, que


iria também se apresentar ao público naquela tarde.

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03. Paixão, Perseverança e Garra segundo Angela Duckworth

Com trinta e sete recordes mundiais, acumulando 28


medalhas olímpicas, um gigante de aspectos
sobre-humanos passou a alguns metros de nós, sob
olhares incrédulos de pessoas boquiabertas.

Por mais que você já o tenha visto em vídeos, ou


mesmo em competições, posso garantir que vê-lo de
perto me foi muito mais surpreendente. Presenciar sua
estatura no esporte, testemunhar de perto sua
envergadura em grandes feitos, me proporcionaram um
maravilhamento comparável a um adolescente diante de
seu ídolo.

Naquele instante, enquanto Phelps passava sob uma


chuva de flashes, algumas perguntas surgiram em
minha mente e provavelmente na mente de todos que
estavam ali:

» Como Michael Phelps, um ser humano como eu e


como você, conseguiu alcançar feitos tão
extraordinários?

» Como conseguiu se destacar tanto de seus


adversários e marcar seu nome na história de forma tão
grandiosa? Teria sido uma questão de sorte recorrente?

» Teria Michael Phelps aproveitado melhor as


oportunidades que a vida lhe ofereceu?

» Teria nascido com um talento extraordinário que o


transformou num fenômeno inalcançável?

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03. Paixão, Perseverança e Garra segundo Angela Duckworth

Foto: O multicampeão
Michael Phelps e suas
28 medalhas olímpicas

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03. Paixão, Perseverança e Garra segundo Angela Duckworth

Epifanias
Bem antes de meu encontro inesperado com Michael
Phelps, uma premiada professora sino-americana de
psicologia já estudava como alguns comportamentos
humanos podem determinar ou prever o sucesso de
indivíduos. Seja em âmbito acadêmico, profissional ou
de atletas de alta performance como Phelps.

Trata-se de Angela Duckworth. Uma mulher, cuja


aparência serena esconde dezenas de experimentos
que sustentam suas teorias relacionadas à coragem,
entusiasmo e obstinação. Estudos que aprofundam o
entendimento de algo que no Brasil ficou conhecido
como “garra”.

Angela iniciou sua carreira como uma consultora bem


sucedida atendendo projetos estratégicos de grandes
empresas globais. Seu trajeto ao sucesso estava sendo
traçado desde pequena, através de uma educação
bastante rigorosa oferecida por seus pais, de origem
asiática.

Aos 27 anos, no entanto, a jovem profissional, seduzida


pelos mistérios da mente e das potencialidades
humanas, pivotou sua carreira, tornando-se professora.

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03. Paixão, Perseverança e Garra segundo Angela Duckworth

Ensinando matemática para jovens da 7ª série, passou


a observar o desempenho de seus alunos com olhares
mais aguçados, fazendo-se perguntas semelhantes às
que me fiz diante de Michael Phelps, desta vez
orientadas a seus pequenos aprendizes.

» Porque alguns alunos eram mais bem


sucedidos que outros?

» Seria uma questão de sorte, inteligência inata?

» O que determinaria o sucesso daqueles indivíduos?

Àquela altura, Angela já entendia que o Quociente de


Inteligência, parâmetro utilizado por décadas para
avaliar habilidades cognitivas, não seria exatamente o
indicador de sucesso de seus alunos. Definitivamente, o
QI não era um critério para indicar os melhores alunos.
Ela descobriu, através de provas vivas à sua frente – e
de inúmeros experimentos acadêmicos – que não era
o QI que determinaria o sucesso ou fracasso de
um indivíduo. Ela entendeu que aquelas crianças (e
todos nós) não tinham suas trajetórias ou destinos pré
definidos por um índice numérico de inteligência. Ou
por sua condição social, recursos financeiros, aptidões
intelectuais ou físicas ou quaisquer outros fatores…
Muito pelo contrário, aquelas crianças (e todos nós)
poderiam aprender através do esforço e da dedicação.

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03. Paixão, Perseverança e Garra segundo Angela Duckworth

Reconhecimento de padrões
A nova professora aprofundou seus estudos em
psicologia, neurociência e neurobiologia, em meio a
experimentos de campo e conversas com renomados
especialistas. Mapeou e conectou insights de
dezenas de estudos e estruturou suas próprias
pesquisas e métodos. Foi a campo em busca de
cenários desafiadores onde pudesse descobrir quais os
fatores que fariam alguém ser bem sucedido.

Passando por professores que atuavam nas escolas


mais difíceis dos Estados Unidos, que precisavam
engajar crianças desmotivadas, até vendedores
corporativos pressionados por metas crescentes em
mercados vorazes, Angela começou a identificar alguns
padrões que tornaram-se a base de sua
obra intelectual.

Investigou de perto a trajetória de cadetes na Academia


Militar de West Point em busca de respostas que a
levassem a entender (e provar) porque alguns
pretendentes, muitas vezes mais fortes física e
mentalmente, abandonavam o curso. Enquanto outros
indivíduos, aparentemente menos aptos, conseguiam
concluir as duras rotinas militares e logravam êxito em
suas jornadas.

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03. Paixão, Perseverança e Garra segundo Angela Duckworth

Angela conduziu estudos profundos entre crianças e


jovens que se propunham a vencer populares
concursos de soletração. Sempre em busca de
entender como e porque alguns pequenos jogadores,
comparáveis a atletas de alta performance, se
destacavam dentre tantos outros, muito mais
talentosos.

A pesquisadora confirmou suas teorias de que não são


as habilidades especiais que levam um indivíduo ao
sucesso. Não se trata de talento. Havia algo mais em
jogo.

Segundo Angela, sem esforço, nosso talento não passa


de potencial não concretizado. Sem o esforço, sua
habilidade não passa de algo que você poderia ter feito,
mas não fez.

Concluiu que o que leva uma pessoa a ser bem


sucedida não é um dom, mas a conjunção entre
‘paixão’ e ‘perseverança’ orientada a objetivos de
longo prazo.

Um indivíduo apaixonado pelo que faz, que não desiste


facilmente e se mantém por muito tempo perseguindo
seu grande objetivo, possui este incrível atributo (e
também um novo indicador de sucesso)
chamado Garra.

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03. Paixão, Perseverança e Garra segundo Angela Duckworth

Passo a passo, estudo a estudo, descoberta a


descoberta, Angela Duckworth nos brinda com sua
ciência em estado da arte, para nos ajudar a entender
melhor os caminhos até o sucesso.

O fracasso não é permanente


Além de não serem os os mais talentosos os que
alcançam o sucesso, Angela Duckworth afirma de
forma quase contra-intuitiva, que o talento (sim, o
talento!) pode atrapalhar nossas performances. Ao
longo de seus estudos, ela testemunhou inúmeros
gênios talentosos que não foram até o fim em seus
compromissos, pois se sentiram conformados em suas
condições e foram brecados pelas inevitáveis derrotas
da vida.

Uma frase atribuída a Winston Churchill diz que:

Sucesso é ir de
fracasso em fracasso
sem perder o
entusiasmo.
As descobertas parecem corroborar esta citação, já
que, segundo ela, os não-gênios esforçados lutam mais
que os gênios acomodados, até alcançarem o êxito.

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03. Paixão, Perseverança e Garra segundo Angela Duckworth

Os não-gênios esforçados perseveram diante de um


revés, entendem que fracasso não é uma situação
permanente. Os não-gênios esforçados conseguem
desenvolver a garra e manter, dia após dia, por anos e
anos, o foco no futuro. São resistentes, resilientes,
obstinados e determinados. Conseguem trabalhar muito
para tornar reais seus grandes objetivos.

Assim como Carol Dweck, reconhecida pelos estudos


relacionados à Mentalidade de Crescimento – Growth
Mindset -, Angela concorda que as pessoas com garra
não entendem o fracasso como uma situação
permanente. Elas demonstram uma incrível capacidade
de aprendizagem através do esforço.

Ao contrário dos pessimistas, que em pesquisas


acadêmicas atribuem suas derrotas a causas
permanentes e genéricas (e se paralisam por isso),
os indivíduos com garra são otimistas e estão
dispostos a seguir em frente. Atribuem suas derrotas
a causas temporárias e muito específicas, mais fáceis
de serem superadas que causas abrangentes e
incontroláveis. Por isso, entendem o fracasso como
algo pontual e passageiro que pode ser superado
através do esforço.

Mas Angela é enfática ao afirmar que não basta se


esforçar aleatoriamente. Para desenvolver e alcançar a
garra é necessário ter um método…

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03. Paixão, Perseverança e Garra segundo Angela Duckworth

Foto: Angela Duckworth


se apresentou no palco
do TED Talks Education
em 2013

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03. Paixão, Perseverança e Garra segundo Angela Duckworth

A tríade da garra

O que não me mata me


torna mais forte.

Angela discorda parcialmente desta frase,


supostamente dita por Nietzsche. Ela acredita que não
é o sofrimento que nos fortalece. Precisamos aprender
com as duras lições sofridas.

Apenas sobreviver às dificuldades não forja


vencedores. Se esforçar aleatoriamente e buscar
displicentemente objetivos, e seguir sempre em frente,
não garante maiores índices de garra.

Uma pessoa apaixonada por corridas, que corre 10 km


por dia, por 10 anos, não se tornará necessariamente
um atleta de alta performance. Da mesma forma que,
um funcionário bem intencionado, que nunca falta um
dia de trabalho, não se tornará necessariamente o
presidente da empresa. A não ser que consigam evoluir,
crescer e melhorar em suas atividades de forma
consciente e consistente.

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03. Paixão, Perseverança e Garra segundo Angela Duckworth

Para tanto é preciso que adotem uma abordagem que


Angela chama de Prática Disciplinada, identificada em
suas pesquisas como o método usado por pessoas
com garra que o fazem através de 3 atributos bem
definidos que se sucedem ciclicamente.

» O primeiro deles diz respeito à ‘Intenção’. Os


grandes experts, não exatamente os gênios, mas os
não-gênios esforçados, com grandes níveis de garra,
têm extrema clareza de onde querem chegar no longo
prazo. Conseguem definir sua grande meta, assim
como as sub-metas necessárias para alcançar seus
principais objetivos. Mais que isso, entendem em que
medida cada escolha de sua vida o aproxima de sua
grande conquista, e são flexíveis para encontrar os
melhores caminhos, sempre rumo ao seu grande
propósito. Ou seja, têm um nível extraordinário de
precisão sobre onde querem chegar e que caminho
devem seguir.

» A partir da intenção, as pessoas com garra assumem


o modo de ‘Prática’. Mas não uma prática aleatória e
descompromissada. Trata-se de uma prática com
100% de foco. Os indivíduos que alcançam seus
grandes objetivos conseguem concentrar toda a sua
energia e atenção aos momentos em que exercitam
seus dotes. Por vezes alcançam o estado de flow e
acabam por não perceber o esforço envolvido.

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03. Paixão, Perseverança e Garra segundo Angela Duckworth

Mas o que Angela sugere é que a prática consciente


das habilidades em desenvolvimento, com a percepção
nada confortável do esforço envolvido, é que leva ao
terceiro e mais importante componente da tríade da
garra.

» É chegado o estágio mais difícil, segundo Angela. O


momento do ‘Feedback’. É a etapa em que o esforço
se transforma em evolução. Uma etapa que nos exige a
humildade para percebermos nossos próprios erros e
pontos sensíveis a serem melhorados. É a fase onde
somente os indivíduos com garra (de fato) absorvem as
críticas e refletem sobre como podem fazer melhor e se
tornar melhores no que fazem. Um momento importante
que vai retroalimentar seu ciclo de Prática Disciplinada,
fazendo-os reavaliar os próximos passos que devem ser
dados rumo ao grande objetivo. E assim criar uma
curva de aprendizagem, que no longo prazo pode
fazê-lo alcançar resultados surpreendentes.

A fórmula dos campeões?


As obras de Angela Duckworth nos trazem evidências
bem consolidadas e amparadas pela metodologia
científica. Disseca com maestria as engrenagens que
compõem grandes expoentes nos esportes, nas artes,
nos negócios e na vida.

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03. Paixão, Perseverança e Garra segundo Angela Duckworth

Suas investidas trazem também a clareza de que o


caminho do sucesso é árduo.

A soma de paixão e perseverança, orientada a objetivos


de longo prazo, provavelmente ainda ficará restrita aos
indivíduos capazes de alcançar a clareza de saberem
onde querem chegar e tomar as melhores decisões
sobre quais os melhores caminhos para isso.

O êxito permanecerá reservado àqueles que se


dedicarem e praticarem com foco, por muito e muito
tempo. Àqueles que busquem a perfeição, que embora
inalcançável, os mantém em movimento.

A garra de Angela Duckworth será sempre dos


apaixonados que não desistem de seus longínquos
propósitos, que perseveram e crescem em suas
dificuldades.

Desistir não é uma opção


A Prática Disciplinada, apesar de entendida, ainda é
algo sofrível. Ninguém duvida que os melhores alunos
das escolas de cadete estudadas por Angela passaram
por processos dolorosos e exigentes.

Muitos dos segredos por trás de Michael Phelps, que


me despertou uma surpreendente admiração há alguns

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03. Paixão, Perseverança e Garra segundo Angela Duckworth

anos, estão no seu nível de garra. E certamente, neste


exato momento, há inúmeros atletas treinando para
alcançá-lo. Não duvido que um dia o alcancem.
Provavelmente estão trabalhando duro, aprendendo
com seus erros e acumulando aprendizagens que, no
longo prazo, podem transformá-los nos novos
campeões.

E enquanto não surge um novo fenômeno do esporte,


você e eu podemos continuar usando nossa paixão,
somada à perseverança. Não para sermos tão
extraordinários como Phelps ou seus próximos rivais,
mas para sermos melhores versões de nós mesmos.

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Hugh Herr:
Mais forte,
mais rápido
e mais humano
Por Andre Bello / agosto 3, 2020

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04. Hugh Herr: Mais forte, mais rápido e mais humano

.04
Hugh Herr:
Mais forte,
mais rápido
e mais humano
Há algumas semanas a mídia foi invadida por notícias
sobre os novos feitos prometidos pela Neuralink,
sociedade comercial neurotecnológica fundada por

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04. Hugh Herr: Mais forte, mais rápido e mais humano

Elon Musk, que desde 2016 vem estudando e


desenvolvendo interfaces para conectar humanos a
computadores.

As aspirações da empresa são, no curto prazo,


criar dispositivos para tratar doenças cerebrais
graves. E tem como objetivo final o
aperfeiçoamento humano.

O alarde midiático se dá pelo evento a ser realizado no


dia 28 de agosto. As especulações são variadas, mas o
que se espera é a demonstração em tempo real de
tecnologias que em breve estariam integradas
diretamente ao corpo humano.

Um chip implantado no cérebro seria capaz de resolver


uma diversidade de problemas: desde a perda de
audição, visão e movimentos, até doença de Parkinson,
ansiedade e depressão. Os caminhos possíveis são
ainda mais vastos, e Elon especula a possibilidade
de microcontroladores atuarem em grupos
musculares e restaurarem movimentos em
pessoas com lesões na medula espinhal.

Esta notícia reabriu a discussão em torno do conceito


de singularidade, adotado em diversos campos do
saber. Este conceito está na Física, Matemática e
Tecnologia e assume, portanto, inúmeras
interpretações.

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04. Hugh Herr: Mais forte, mais rápido e mais humano

Foto: Elon Musk,


fundador da Neuralink,
Space X e Tesla

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04. Hugh Herr: Mais forte, mais rápido e mais humano

Um dos entendimentos sobre singularidade é


capitaneado por Ray Kurzweil, um dos futuristas mais
aclamados dos últimos tempos, e também pelos
representantes da Singularity University. Refere-se ao
momento no qual a tecnologia ultrapassará a
inteligência humana, trazendo mudanças
colossais e irreversíveis para a nossa civilização.

Ainda dentro desta linha de pensamento, a


singularidade também está associada ao (ainda incrível)
processo de fusão entre seres humanos e máquinas.
Algo como a integração entre a evolução biológica e a
evolução tecnológica, que daria origem aos organismos
cibernéticos (cyborgs, ou cyber organisms), onde
não mais seria possível distinguir humanos
e máquinas.

Este cenário de criaturas híbridas, que parece distante


de nossas realidades, pode estar mais próximo do que
se imagina. E as exibições da Neuralink daqui a
algumas semanas talvez tragam ainda muitas
surpresas.

No entanto, existem algumas histórias, que começaram


antes das atividades inovadoras de Elon Musk, que
merecem ser contadas. Sobretudo por se tratarem de
algo muito além da pura tecnologia.

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04. Hugh Herr: Mais forte, mais rápido e mais humano

Hugh Miller Herr, um americano nascido em 1964, era


um garoto ativo e passou sua adolescência
dedicando-se ao montanhismo. A escalada era sua
paixão juvenil, e como todo jovem, se colocava diante
de grandes desafios.

No dia 22 de janeiro de 1982, aos 17 anos, Herr e seu


amigo Jeff Batzer foram à New Hampshire para
escalarem as encostas geladas do Monte Washington.
Durante o percurso foram surpreendidos por uma
nevasca. Perderam a orientação e entraram
acidentalmente em um abismo remoto. Acabaram
tomando o lado errado da montanha.

Totalmente perdidos e sem sapatos de neve,


enfrentaram o frio por dias. Os dois jovens alpinistas
estavam à beira da morte por hipotermia. Haviam
perdido toda a esperança de sobreviver e, entre preces
e lamentações, chegaram a conversar sobre a morte,
que parecia certa.

Mas, surpreendentemente foram encontrados por uma


socorrista dos Apalaches Mountain Club. Resgatados
de helicóptero, foram enviados a tempo ao hospital.
Mas sofreram sequelas que marcariam suas vidas.

Batzer sofreu amputação de uma perna, um pé e os


dedos de uma mão. Hugh, por sua vez, teve as duas
pernas amputadas abaixo dos joelhos.

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04. Hugh Herr: Mais forte, mais rápido e mais humano

Um resultado que
parecia significar
não apenas uma
perda terrível, mas
também o fim de
sua promissora
carreira de
escalador.

Foto: Hugh Herr sem


as pernas, após o
acidente em 1982

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04. Hugh Herr: Mais forte, mais rápido e mais humano

Mais de 30 anos depois, no dia 15 de abril de 2013,


Adrianne Haslet, uma talentosa dançarina de nível
internacional, fazia parte da multidão que assistia a
Maratona de Boston. O que seria mais um dia de lazer
em sua vida se transformou em terror quando duas
bombas feitas com panelas de pressão explodiram
perto dela, próxima à linha de chegada. Em 3,5
segundos três pessoas morreram. Ela e outras 263
ficaram feridas.

Após uma semana no centro cirúrgico e uma


recuperação muito dolorosa, a vida de Adrianne não
seria mais a mesma. Sua perna esquerda foi amputada,
o que infelizmente também poderia significar o fim de
sua carreira.

As vidas do alpinista Hugh Herr e da dançarina


Adrianne Haslet se cruzaram em aspectos que iriam
muito além das amputações e das dores sofridas
pelo trauma.

Aos 49 anos, Hugh Herr ocupou o tapete vermelho da


conferência e iniciou sua fala trazendo mensagens
muito distantes do jovem alpinista acidentado.

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04. Hugh Herr: Mais forte, mais rápido e mais humano

Começou falando sobre como a natureza vem


influenciando os cientistas no desenvolvimento de
materiais sintéticos. Trouxe profundos conceitos sobre
genética e medicina regenerativa. Fez com maestria
uma introdução de como a ciência poderia ocupar a
lacuna entre a ‘incapacidade’ e a ‘capacidade’. Como a
tecnologia seria capaz de fazer o ser humano resgatar e
atingir todo o seu potencial.

Expôs suas ideias com coerência e propriedade, pois


havia se tornado um pesquisador de renome, mestre
em Engenharia Mecânica pelo MIT (Massachusetts
Institute of Technology) e Doutor em Biofísica pela
Harvard University. Mais que isso, no palco do TED
ostentava duas pernas cibernéticas, computadorizadas,
dignas da ficção científica.

Eu não me enxerguei
como uma pessoa
derrotada

Ele continuou contando sua trajetória após o acidente:


disse que se recusou a se sentir derrotado e que aquele
não seria seu fim. Acreditava que a tecnologia poderia
suprir suas necessidades.

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04. Hugh Herr: Mais forte, mais rápido e mais humano

Foto: Hugh Herr com as


pernas cibernéticas no palco
do TED em Vancouver, 2014

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04. Hugh Herr: Mais forte, mais rápido e mais humano

Ao invés de encerrar as suas atividade como alpinista,


ele enxergou uma nova “tela em branco” onde poderia
criar novas realidades. Dito e feito. Ainda jovem,
desenvolveu membros especialmente projetados para
escalada. Adaptou ferramentas em suas próteses que
permitiram melhorar sua performance ao escalar a
rocha e o gelo. Retornou ao esporte mais forte, mais
rápido e melhor.

Desde então vem aprofundando seus estudos para


expandir suas descobertas para o mundo. Hoje Hugh
Herr é co-diretor do Center for Extreme Bionics no
MIT Media Lab, onde constrói joelhos, pernas e
tornozelos protéticos que fundem biomecânica com
microprocessadores para restaurar (e talvez melhorar) a
marcha, o equilíbrio e a velocidade de amputados. É
pioneiro nesta nova classe de próteses e órteses
inteligentes. Estuda e desenvolve equipamentos
bio-híbridos para melhorar a qualidade de vida de
milhares de pessoas com desafios físicos. E acredita
que, através de implantes neurais, poderá ajudar muitos
outros tipos de deficiência. Poderá fazer paralíticos
voltarem a andar e cegos voltarem a enxergar.

Hugh apresenta a revolução que vem liderando e


explica os segredos presentes neste tipo de
equipamento: uma espécie de pele sintética projetada
por softwares poderosos, com variação contextual de
rigidez, que permite um novo padrão de conforto.

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04. Hugh Herr: Mais forte, mais rápido e mais humano

Mecanismos extremamente sofisticados que oferecem


movimentos ultra-otimizados. Interfaces elétricas que
possibilitam que os computadores internos que regulam
o sistema entendam com precisão o movimento
desejado pelo usuário.

Em meio a vídeos e imagens de seu processo de


desenvolvimento, ilustra os milagres tecnológicos com
pessoas que testaram esse tipo de equipamento. E
surpreende o público quando faz, ele mesmo ali no
palco, a primeira demonstração pública de uma
marcha de corrida sob comando neural.
Movimentos fluidos e precisos que arrancam aplausos
da plateia. Mas o melhor ainda estava por vir…

Tecnologia e Arte
Neste ponto, Hugh Herr menciona o caso da dançarina
Adrianne Haslet. Numa emblemática comparação, diz
que 3.5 segundos tiraram Adrianne das pistas de dança
(fazendo referência ao tempo das explosões do
atentado em Boston), mas que em 200 dias, ele e sua
equipe no MIT haviam trazido de volta os movimentos
para que ela voltasse a dançar.

Foi este o tempo necessário para estudarem a fundo os


movimentos específicos executados pelos dançarinos e
os princípios da dança.

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04. Hugh Herr: Mais forte, mais rápido e mais humano

Confirmaram também que a biônica defendida por


Hugh Herr fosse algo mais que tornar pessoas mais
rápidas e mais fortes. Asseguraram que a tecnologia
estava trazendo de volta a expressão de uma
artista, a sensibilidade de um ser humano.

Adrianne entra no palco triunfante como alguém que,


assim como Hugh, se recusou a se sentir derrotada.
Um grande sorriso, então, ilumina a primeira
apresentação de dança de Adrianne depois do ataque
que a mutilou.

Ela dança graciosamente, amparada por uma prótese


que parecia fazer parte de seu corpo original. A música
cresce e a performance arranca ainda mais aplausos da
plateia. Faz descer lágrimas da própria Adrianne e de
quem mais se permitiu emocionar pelo momento.

Ray Kurzweil, o arauto das tecnologias exponenciais,


diz que a singularidade está próxima. É uma questão de
tempo. Segundo seus estudos, em 25 anos teremos
computadores mais poderosos que o cérebro humano.
No entanto, os 18 minutos da palestra de Hugh Herr
foram suficientes para, além de conhecer atributos
tecnológicos incríveis, conectar histórias inspiradoras de
duas pessoas com origens distintas. Que se uniram por
um infortúnio da vida, e que, por causas muito nobres e
sensíveis, nos fazem refletir sobre o que nos torna
humanos de verdade.

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04. Hugh Herr: Mais forte, mais rápido e mais humano

A jornada de Hugh Herr pela democratização deste tipo


de tecnologia e o ativismo de Adrianne Haslet, que se
tornou uma defensora global dos direitos dos
amputados, nos traz a mensagem de que todos têm o
direito de viver sem deficiência. Todos têm direito
a uma vida livre e sem barreiras. Todos têm o
direito de andar, correr, dançar e expressar seus
talentos.

A feliz comunhão entre tecnologia, humanismo e arte,


nos confirma que todos nós podemos recusar o
sentimento da derrota. Que existem muitas alternativas
para transcender as deficiências e que não precisamos
aceitar nossas limitações.

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A Patagonia de
Yvon Chouinard
Por Andre Bello / julho 18, 2020

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05. A Patagonia de Yvon Chouinard

.05
A Patagonia de
Yvon Chouinard
Os acontecimentos recentes relacionados à pandemia
trouxeram reflexões e movimentos em diversas
dimensões. Pessoas repensam suas relações pessoais,
ou como serão suas carreiras daqui por diante.
Organizações são desafiadas em novas formas
de liderança. Em busca pela adaptação digital imposta
pelas circunstâncias, buscam entender suas
verdadeiras entregas de valor à sociedade.

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05. A Patagonia de Yvon Chouinard

Uma retomada às essências. Para muitos, a


chance para um recomeço mais autêntico.

As organizações estão diante da oportunidade de


praticar (ou comprovar) o que é conhecido como “Walk
the Talk”. Que significa diminuir a distância entre o que
se fala e o que se faz. Praticar efetivamente o que se
prega em termos de propósito e causas. Muitos líderes
acreditam que talvez hoje seja o momento ideal de
resgatar, aprofundar e fazer valer valores às pessoas, à
sociedade ou ao meio ambiente.

Muito antes da pandemia, porém, surgiu um magnífico


exemplo de “Walk the Talk”. Uma referência que há
décadas vem se consolidando como um modelo de
coerência e aproximação entre discurso e prática.
Trata-se de Yvon Chouinard, fundador da Patagonia.

Aos 81 anos de idade, e com a bagagem de uma longa


jornada de transformação e impacto, com pitadas de
rebeldia e bom humor, Yvon Chouinard diz que a vida é
muito mais fácil se você violar as regras, pois se
você inventa o seu próprio jogo, tem mais
chances de se tornar o vencedor.

Nascido em 1938, Yvon é um consagrado alpinista


americano que aos 26 anos de idade foi o primeiro a
escalar a via “Muir Wall”, em Yosemite. Surfista
desbravador de ondas virgens no Pacífico e canoísta
destemido em rios revoltos, tornou-se ambientalista e

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05. A Patagonia de Yvon Chouinard

empresário bilionário da indústria outdoor.

Fundou em 1973 sua empresa, Patagonia. Uma marca


de roupas e equipamentos reconhecida por atuar em
modelos fora dos padrões do mercado, e por sua
postura de impacto positivo no mundo. Desde 1985, a
Patagônia devolve 1% de suas vendas a causas
ambientais. Detalhe importante: As contribuições são
feitas independentemente das transações serem
lucrativas ou não. Um compromisso real com seu
propósito maior.

Yvon Chouinard foi uma das atrações do Global Summit


2019, ocorrido em Portland.

Sua figura carismática e de boa energia foi ovacionada


pela plateia durante uma entrevista feita à Kate Williams.
Kate é CEO da “1% For the Planet”, entidade fundada
por Yvon, cuja missão é convidar outras empresas, a
exemplo da Patagonia, a também financiarem iniciativas
ambientais.

Sempre através da devolução de 1% das vendas.

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05. A Patagonia de Yvon Chouinard

Quando perguntado sobre suas medidas ou decisões


fundamentais para o sucesso de sua organização, Yvon
desconcerta Kate respondendo que o segredo do
sucesso de seu grupo é que, na verdade, ele nunca
quis ser um empresário.

A verdade é que eu nunca


quis ser um empresário.

Desde muito jovem, Yvon foi atraído pela natureza.


Quando criança se apaixonou pelos falcões. A arte da
falcoaria o levou às escaladas para visitar os ninhos dos
pássaros. Isso o levou a se tornar um exímio alpinista.
Escalou montes nos cinco continentes, inclusive na
Antártida. No início de 1970, suas paixões autênticas o
levaram a desenvolver seus próprios equipamentos de
alpinismo. Seu objetivo como ferreiro era desenvolver
grampos que não danificassem as rochas tanto quanto
os modelos tradicionais. O passo seguinte foi,
despretensiosamente e sem pensar em aspectos
financeiros, produzir camisas para uso pessoal em suas
escaladas. Com botões de borracha e super resistentes
caíram no gosto dos montanhistas e Yvon viu aí uma
forma de manter sua paixão.

82
05. A Patagonia de Yvon Chouinard

Foto: Yvon Choinard


aos 40 anos em
Yosemite

83
05. A Patagonia de Yvon Chouinard

Yvon mostra que sabe exatamente qual sua posição


dentro de um contexto maior. Seja como indivíduo, seja
como empresário.

Estamos no negócio de
proteger o planeta.
Diz que enquanto muitos se sentem acima da natureza,
ele se considera parte dela. Como já esteve em contato
profundo com o meio ambiente por muitas vezes,
percebe e sofre o impacto da sua degradação. Diz que
fazemos parte da natureza e à medida que a
destruímos, destruímos também a nós mesmos.

Quando indagado sobre suas atitudes altruístas, Yvon é


categórico: "Isso não é filantropia, é um aluguel que
devemos pagar por morar em nosso planeta."

No entanto, a grande descoberta de sua nova ética


ambiental veio quase por acaso. Descobriu
involuntariamente que o formol utilizado no
processamento de algodão de sua produção poderia
intoxicar seus funcionários. Ao invés de somente ajustar
o processo para proteger seus colaboradores, decidiu
que não venderia roupas com este tipo de veneno para
as pessoas. Desde então rompeu os padrões de sua
indústria e promoveu uma “limpeza” em toda a sua
cadeia de suprimentos. A faxina resultou em produtos
mais caros.

84
05. A Patagonia de Yvon Chouinard

Mas seus clientes passaram a valorizar sua atitude, que


representava um preocupação da marca com o público.
Yvon passou então a usar formalmente sua organização
como ferramenta de defesa das pessoas e também do
planeta.

Da visão holística, com entendimentos amplos sobre a


grande complexidade que nos cerca, a construção da
Patagonia teve forte influência do Industrial Design, em
contraponto ao Fashion Design predominante na
indústria têxtil. Desde sempre seus produtos foram
projetados para serem funcionais, duráveis e,
principalmente, atenderem a necessidades e segurança
de seus usuários.

A base no design industrial e a forte visão sistêmica da


organização trazem ainda outras características
marcantes da Patagonia. Na contramão do mercado de
massa, a empresa preconiza a máxima simplicidade,
redução extrema do consumo, o reuso e a reciclagem.
Oferece reparos grátis em suas peças para se evitar
novas compras.

Embora gaste muito pouco em publicidade, a empresa


ficou conhecida por, certa vez, publicar em uma página
inteira no New York Times os dizeres:

“Don’t Buy This Jacket”

85
05. A Patagonia de Yvon Chouinard

“Don’t Buy
This Jacket”
(“Não compre este casaco”).

Num efeito incalculado


(ou não), as vendas
aumentaram entre 25%
e 30% após a publicação
do anúncio.

86
05. A Patagonia de Yvon Chouinard

Despropositado ou não, este resultado mostra que é


possível fazer negócios através de uma nova lógica.
Com foco nas pessoas, na qualidade e com uma visão
mais responsável em relação ao consumo.

Como de se esperar, a Patagonia vem demonstrando


uma inquietação ainda mais forte em relação às
mudanças climáticas. Durante a conversa no Global
Summit 2019, Yvon Chouinard cita a frase do
ambientalista David Brower:

Não há negócios a
serem feitos num
planeta morto

Referiu-se à sua preocupação com a atual agenda


ambiental de líderes e governantes. E por isso, num
processo de adaptação constante, recentemente a
empresa mudou sua declaração de Missão.

Identificou que sua declaração anterior não era


suficientemente aderente às gravíssimas questões do
aquecimento global. Simplificou a mensagem,
orientando-a diretamente à preservação do planeta e
deu mais poderes a seus colaboradores que se guiam
por este propósito.

87
05. A Patagonia de Yvon Chouinard

Sempre no caminho de mitigar os desafios climáticos,


Yvon mostra muita profundidade estratégica. Traz o foco
para a luta por uma agricultura mais sustentável. Diz
que seria possível neutralizar toda a pegada de carbono
através de um cultivo mais bem feito e vem trabalhando
num Certificado de Agricultura
Orgânica Regenerativa.

Traz também muita atenção às questões


político-ideológicas. Num embate franco com Donald
Trump, busca declaradamente a mudança das políticas
vigentes. Lembra de quando quase sofreu um boicote
orquestrado pelo atual presidente norte-americano: foi
acusado de produzir seus produtos na Ásia em um
suposto envolvimento com trabalho e exploração
infantil.

Mais uma vez, numa surpresa do mercado, que


entendeu o viés político da acusação, no dia do anúncio
do boicote as vendas da Patagonia cresceram 600%.

Yvon pode ser considerado destemido por lutar contra


inimigos tão poderosos. Mas quando questionado
sobre as decisões ousadas que teve que tomar ao
longo de sua trajetória, humildemente nega o título de
corajoso. Diz que não precisou tomar medidas
arrojadas. Teve apenas que fazer o que era certo.

88
05. A Patagonia de Yvon Chouinard

Num momento de reinvenção em muitos campos de


nossas vidas, as contundentes atitudes e inspiradoras
falas de Yvon Chouinard refrescam nossas referências
para a construção de novos futuros. O incomum
posicionamento da Patagonia abre novos horizontes
para que organizações, líderes e indivíduos repensem
seus valores e suas verdadeiras funções na economia,
na sociedade e no mundo.

89
90
.06
Uma singela
homenagem a
Sir Ken Robinson
Por Andre Bello / agosto 24, 2020

91
06. Uma singela homenagem a Sir Ken Robinson

.06
Uma singela
homenagem a
Sir Ken Robinson
No longínquo ano de 2006, um claudicante homem
subiu ao palco do TED, em Monterey, na Califórnia,
com uma pergunta que até hoje nos traz
profundas reflexões…

92
06. Uma singela homenagem a Sir Ken Robinson

As escolas matam
a criatividade?

93
06. Uma singela homenagem a Sir Ken Robinson

As escolas matam a criatividade?

Este homem era Ken Robinson, e as palavras que


proferiu nos 18 minutos seguintes resultaram na TED
talk mais vista do mundo. No momento em que escrevo
estas palavras, mais de 66 milhões de pessoas tiveram
o privilégio de serem tocadas (e até mesmo
transformadas) pelas mensagens e pelo senso de
humor peculiar de Ken Robinson. Entre palavras leves e
engraçadas, uma poderosa abordagem sobre
Educação e a importância de mantermos viva a
criatividade em nossas crianças.

Nascido em 1950, em Liverpool, Ken Robinson atuou


como professor de Educação Artística e como diretor
em instituições de ensino. Sua trajetória como defensor
da arte em seus espectros mais amplos o fez ser
reconhecido como um visionário e revolucionário líder
cultural. Em 1998, liderou o comitê consultivo do
governo britânico sobre educação criativa, através de
uma ampla investigação sobre a importância da
criatividade no sistema educacional e na economia.

Entre inúmeros reconhecimentos, Ken Robinson foi


condecorado com a Medalha George Peabody e com a
Medalha Benjamin Franklin pela Royal Society for the
Arts. Recebeu o título de Doutor Honorário pela
University of Central England e pela Rhode Island
School of Design.

94
06. Uma singela homenagem a Sir Ken Robinson

Mas definitivamente seu título mais representativo se


deu em 2003, quando se tornou membro da
Excelentíssima Ordem do Império Britânico. Uma
honraria concedida pelas contribuições para as artes e
ciências, trabalho com organizações de caridade e de
assistência social, que o tornou um Cavaleiro da Rainha
e acrescentou o prefixo “Sir” a seu nome de batismo.

Toda sua obra foi canalizada para a luta contra um


antiquado sistema educacional. Sir Ken Robinson
argumenta que fomos educados para nos
tornarmos bons trabalhadores, ao invés de
pensadores criativos. Nesse sentido, as
individualidades de alunos, com mentes e corpos, fora
dos rígidos e anacrônicos padrões estabelecidos,
estariam fadados ao fracasso social e profissional. Suas
potências e curiosidades estariam longe de serem
cultivadas. Seriam ignoradas ou mesmo estigmatizadas,
com terríveis consequências, tanto para o indivíduo,
quanto para a sociedade.

Há muito os argumentos de Sir Ken Robinson ecoam


pelo mundo. Hoje se juntam a uma legião de pais,
professores e educadores inquietos. Fazem coro com
aqueles que observam com atenção os rumos da
educação. Se somam aos que, em suas pequenas,
porém gloriosas lutas, propõem uma abordagem mais
orgânica e personalizada para a aprendizagem.

95
06. Uma singela homenagem a Sir Ken Robinson

Inspiram quem se propõe a construir novos modelos


para estabelecer uma nova geração de indivíduos mais
plenos, felizes e produtivos.

Minha convicção é que


a criatividade hoje é tão
importante na educação
quanto a alfabetização.

Nos primeiros instantes de sua mais aclamada


apresentação, no TED 2006, depois de arrancar
gargalhadas da plateia com piadas brandas, Robinson
enumera 3 pontos iniciais que gostaria de compartilhar
com o público.

Primeiramente o grande gênio da Educação se diz um


maravilhado com a criatividade humana, com sua
variedade e multiplicidade.

Em seguida fala sobre sua atenção ao futuro. Diz que


não fazemos a menor ideia do que vai acontecer no
amanhã. Segundo ele, não temos nenhum indício do
que nos espera, e por isso todos nos interessamos pela
Educação, que teria o papel de nos conduzir a um
mundo ainda desconhecido.

96
06. Uma singela homenagem a Sir Ken Robinson

Foto: Sir Ken Robinson


no palco do TED de
2006 em Monterey

97
06. Uma singela homenagem a Sir Ken Robinson

O terceiro ponto diz respeito às crianças, e sua


extraordinária capacidade de inovação. Ken Robinson
ilustra sua ideia fazendo referência à jovem Sirena
Huang, à época com 11 anos de idade, que na noite
anterior à sua apresentação havia encantado o público
com uma icônica performance em seu violino.

A menina Sirena começou a ter aulas de violino aos 4


anos e fez sua estréia solo profissional aos 9 anos com
a Orquestra Sinfônica de Taiwan. Ganhou prêmios
importantes em vários concursos internacionais,
fascinando o público em todo o mundo. Robinson
reconhece que Sirena é excepcional, no entanto, não se
trata exatamente de uma exceção extraordinária entre
todas as crianças. Ele diz que trata-se de um caso de
uma pessoa de extrema dedicação que
simplesmente conseguiu achar seu talento. Ao que
completa, dizendo-se convicto de que todas as
crianças têm aptidões incríveis, mas que são
implacavelmente desperdiçadas. E é por isso que fala
sobre educação e sobre criatividade.

A Menina que via Deus.


Sir Ken Robinson diz que as crianças correm riscos que
adultos temeriam correr. Se não sabem algo, tentam,
mas não têm medo de errar.

98
06. Uma singela homenagem a Sir Ken Robinson

Ressalta que errar não é o mesmo que ser criativo, mas


que se não estivermos preparados para o erro, nunca
teremos ideias realmente originais. Infelizmente, quando
chegamos à idade adulta perdemos essa capacidade, e
desenvolvemos verdadeiro pavor de estarmos errados.

Robinson ilustra brilhantemente este conceito através


de uma passagem que arranca suspiros e sorrisos da
plateia. É a história de uma menininha de 6 anos que
estava numa aula de desenho, especialmente entretida
em uma atividade, o que chamou atenção da
professora. A professora se aproximou da menininha e
perguntou: “O que você está desenhando?”. Sem
olhar para cima a menina respondeu: “Estou
desenhando um retrato de Deus!”. A professora
então contestou: “Mas ninguém sabe como é Deus…”.
A menina então responde: “Vão saber assim que eu
terminar!”.

O desperdício intelectual
causado pelo sistema
educacional contemporâneo.
Em sua fala, Ken Robinson mostra sua surpresa com o
modelo de ensino atual. Tanto como especialista e
estudioso da Educação, quanto pai de filhos que
passaram pelo sistema educacional.

99
06. Uma singela homenagem a Sir Ken Robinson

Robinson diz que que, incrivelmente, todo o sistema


educacional do planeta, de todos os países, tem a
mesma hierarquia de disciplinas. Todos eles. Por conta
de critérios meramente industriais e academicistas
desenvolvidos a partir do Século XIX, no topo estão as
disciplinas mais úteis ao trabalho e à academia, como
matemática e línguas, depois as disciplinas humanas, e
por último as artes.

Este modelo, segundo ele, gradualmente afasta as


crianças das coisas que elas gostam. Por isso, muitas
pessoas talentosas e brilhantemente criativas pensam
que não o são, porque a escola não valoriza aquilo
em que são boas.

Exemplifica seu desconforto questionando, por que não


existe, por exemplo, um sistema educacional que
ensina dança diariamente às crianças, da mesma forma
que ensinam matemática? Afinal, todos temos um
corpo, e todos gostam de dançar.

Sir Ken Robinson deixa claro que acha a matemática


importante, mas também a dança. Usa este exemplo
apenas para, genialmente, concluir que à medida que
as crianças crescem, nós começamos a educá-las
progressivamente "da cintura para cima". Depois
focamos na cabeça - e, pasmem! - levemente para um
lado, referindo-se às habilidades racionais, em
detrimento das habilidade emocionais.

100
06. Uma singela homenagem a Sir Ken Robinson

A mensagem de Robinson expõe um verdadeiro


desperdício intelectual causado pelo sistema
educacional contemporâneo. À época de sua palestra,
já se sabia que a inteligência (dentre outras coisas) é
dinâmica e variada. Ou seja, já sabíamos que pensamos
a respeito do mundo de muitas formas: pensamos
visualmente, pensamos auditivamente, pensamos
cinestesicamente. Pensamos em termo abstratos,
pensamos em movimento. E que manifestamos nossa
inteligência através da interação de como as diferentes
disciplinas enxergam as coisas.

Garota problema?
A exemplo de como o sistema educacional poderia tirar
mais proveito dos múltiplos tipos de inteligência, Sir Ken
Robinson emociona a plateia com a história da pequena
Gillian, uma menina supostamente problemática nos
anos 1930. Irrequieta, ela tinha dificuldades na
aprendizagem e chegou ao ponto de atrapalhar os
demais alunos de sua classe. A escola não conseguiu
lidar com a situação e orientaram seus pais a
procurarem um especialista.

Foram então visitar um médico, que observou as


atitudes de Gillian enquanto sua mãe descrevia os
problemas da menina.

101
06. Uma singela homenagem a Sir Ken Robinson

Após a conversa inicial, o doutor convidou a mãe a sair


do consultório e deixaram Gillian sozinha com um
rádio ligado.

Assim que eles saíram da sala, Gillian se levantou e


começou a se mover ao ritmo da música, até que
começou a dançar. Eles a observaram por alguns
minutos. O médico se virou para a mãe e disse:

Sra. Lynne, sua filha não


está doente, ela é uma
dançarina. Leve-a para
uma escola de dança.

Robinson finaliza a história esclarecendo que, por sorte,


a pequena Gillian, em sua infância, não foi submetida ao
uso de medicamentos para se acalmar.

A menina foi matriculada numa escola de dança,


cresceu e fez um teste para a Royal Ballet School.
Tornou-se uma solista e teve uma carreira fantástica.
Fundou a Companhia de Dança Gillian Lynne, foi
responsável por alguns dos musicais mais bem
sucedidos na história, deu alegria para milhões de
pessoas e hoje é multimilionária.

102
06. Uma singela homenagem a Sir Ken Robinson

Foto: A bailarina,
diretora e coreógrafa
Gillian Lynne em 1950.

103
06. Uma singela homenagem a Sir Ken Robinson

Em sua mais famosa aparição, Ken Robinson celebrou


a imaginação e a criatividade humana, nos deixando a
mensagem de educar nossas crianças em sua
totalidade, preparando-as para um futuro ainda
misterioso.

Dizia que talvez nós não víssemos este futuro.

De fato, Sir Ken Robinson não chegou a ver um sistema


educacional pleno, que explora e engrandece pessoas
em seus talentos e paixões. Faleceu há alguns dias, em
21 de agosto de 2020, vítima de câncer.

O que nos conforta é saber que sua mensagem


permanecerá entre nós, enquanto buscarmos explorar
todas as formas de inteligência. Nos alivia saber que
sua genialidade permanecerá no mundo, enquanto
buscarmos descobrir a grandeza de nossas plenitudes
pessoais. Que seu legado ajudará a desvendar o
incerto, enquanto ajudarmos as crianças a tirarem o
melhor proveito do futuro.

104
105
.07
Como os robôs
podem ajudar
a restaurar a
humanidade?
Por Andre Bello / fevereiro 28, 2021

106
07. Como os robôs podem ajudar a restaurar a humanidade?

.07
Como os robôs
podem ajudar
a restaurar a
humanidade?
As dúvidas do mundo contemporâneo se multiplicam
na velocidade do desenvolvimento tecnológico. Cada
desafio humano resolvido pela tecnologia desencadeia
uma série de novas lacunas.

107
07. Como os robôs podem ajudar a restaurar a humanidade?

A complexidade nos negócios aumenta numa escala


também exponencial. Nos afeta a todos, sem exceção.
Desde donas de casa a grandes líderes. Desde
pequenas empresas até grandes corporações.

O renomado futurista Ray Kurzweil aposta que


estamos, neste exato momento, iniciando pelo menos
3 grandes revoluções. Cada uma com impacto
semelhante ao que foi a internet em nossas vidas.
E como se já não fosse o suficiente, estas 3 revoluções
devem acontecer de forma simultânea e entrelaçadas. A
complexidade de hoje deve parecer pequena frente ao
que nos espera nos próximos anos.

Kurzweil acredita que estamos no início de uma


escalada tecnológica no campo da genética. Segundo
ele, estaríamos desenvolvendo a passos largos a
reprogramação biológica, rumo a eliminação de
doenças e retardamento do envelhecimento. Não custa
lembrar que o mapeamento genômico há 20 anos
custava US$ 100 milhões em pesquisas e que hoje
existem testes de ancestralidade por menos de
US$ 100.

Estaríamos também iniciando uma curva ascendente


em relação às nanotecnologias. Cientistas estão cada
vez mais próximos de dominar a arte de manipular a
matéria numa escala atômica e molecular, lidando com
estruturas entre 1 e 1000 nanômetros.

108
07. Como os robôs podem ajudar a restaurar a humanidade?

Foto: Ray Kurzweil se


apresentou no TED
2014 em Vancouver

109
07. Como os robôs podem ajudar a restaurar a humanidade?

Matérias recentes na mídia especializada divulgam, por


exemplo, o desenvolvimento de uma ‘escultura’ 3D em
escala atômica que pode permitir o avanço de novos
nanodispositivos quânticos.

A terceira revolução preconizada por Kurzweil, talvez a


que esteja mais avançada e próxima de nós, diz
respeito aos robôs. Máquinas inteligentes que ajudam e
auxiliam os humanos no dia-a-dia. É interessante frisar
que ele não se refere somente ao grande avanço
percebido em máquinas como os já populares
cães-robôs SPOT ou os robôs acrobatas ATLAS da
Boston Dynamics.

Muito provavelmente as vedetes da revolução robótica


(já em curso) serão os robôs digitais e
desmaterializados.

Ou seja, se refere às inteligências artificiais. As formas


de inteligência similar à inteligência humana, porém
praticada por softwares. Uma inteligência que já está
entre nós, disseminada nos assistentes virtuais, na
medicina, na segurança, nos transportes, na
alimentação, no entretenimento… Estão se infiltrando
em nossas vidas pessoais e profissionais.

110
07. Como os robôs podem ajudar a restaurar a humanidade?

Foto: Spot, cão-robô


da Boston Dynamics

111
07. Como os robôs podem ajudar a restaurar a humanidade?

E quando o assunto é mercado de trabalho, um alerta


se acende. Nossa atenção se dirige para os impactos,
muito próximos, que poderão ocorrer com a
digitalização de empregos e funções. Algo que vem
impactando desde já praticamente todas as cadeias de
produção da economia global.

Diante deste contexto, seja você um empresário ou


empreendedor, um líder ou executivo, um colaborador
ou profissional liberal, a pergunta é:

O que esperar de um mundo


onde os empregos serão
ocupados por máquinas?

Paradoxalmente, os mesmos fatores causadores deste


complexo e temeroso desafio, os robôs, podem
também estar iniciando uma importante discussão.
Abrindo uma nova trilha de novas percepções que pode
ajudar instituições e indivíduos a alcançarem um novo
patamar através do potencial humano.

112
07. Como os robôs podem ajudar a restaurar a humanidade?

A Pressão Crescente
de Desempenho
John Hagel é consultor de gestão e autor especializado
em ajudar líderes e organizações a antecipar
oportunidades e desafios de negócios emergentes. Ele
ocupa cargos de liderança no Fórum Econômico
Mundial e atua no corpo docente da Singularity
University. Também é fundador e co-chairman do
‘Center for the Edge’ da Deloitte, um centro de
pesquisa que estuda as perspectivas sobre o novo
crescimento corporativo.

Apesar de ter atuado ativamente no Vale do Silício por


mais de 40 anos, os pensamentos de Hagel não partem
de um deslumbre tecnológico. Sua mensagem se inicia
indo de encontro aos discursos entusiasmados,
característicos do Vale. Ele aborda os líderes e
instituições com um olhar realista e pragmático sobre o
que chama de ‘Lado Sombrio da Tecnologia
Exponencial’.

As provocações de Hagel não se referem aos crimes


cibernéticos, vazamento de dados ou privacidade –
temas também muito relevantes e presentes nos fóruns
de discussão mais sofisticados da atualidade. Mas a
algo mais intrínseco à tecnologia.

113
07. Como os robôs podem ajudar a restaurar a humanidade?

Algo sem o qual a própria tecnologia não poderia


existir… A fonte e o fruto da tecnologia nas instituições:
o aumento da pressão de desempenho sobre
indivíduos.

Ele se refere ao aumento acelerado das cobranças


sobre a eficiência e produtividade. Um fator que vem
crescendo nos últimos anos, que todos nós
experimentamos hoje em dia e que tende a crescer
ainda mais no futuro próximo.

Segundo Hagel, o aumento da pressão de desempenho


sobre indivíduos é resultado do paradigma em que
organizações são projetadas para alcançar a máxima
performance possível – a Eficiência Escalável.
Representa uma corrida por fazer cada vez mais e com
menor custo. Um processo que se inicia pela adoção
de rotinas padronizadas e específicas, que passa pela
digitalização de processos e busca a eliminação de
posições de trabalho, substituindo-as por máquinas.

Um processo de fato sombrio, que desenvolve uma


cultura de medo e culmina na exigência máxima de
líderes e colaboradores. Fazendo com que profissionais
tentem acompanhar os ritmos frenéticos impostos pela
tecnologia para se manterem relevantes para as
organizações.

114
07. Como os robôs podem ajudar a restaurar a humanidade?

Foto: John Hagel discursa


na Techonomy 2010

115
07. Como os robôs podem ajudar a restaurar a humanidade?

Uma Nova Rotina de Tarefas


Diante deste conflito, John Angel se antecipa aos que
sugerem processos de reskilling ou lifelong learning,
sem uma visão mais profunda sobre o contexto.
Acredita que uma simples requalificação de
colaboradores apenas adiaria o problema. Ganharíamos
apenas um pouco mais de tempo até que as máquinas
também tomem estas novas posições. Ao alocar
profissionais a outras camadas de trabalho, mantendo a
mesma lógica, somente os levaria a novas rotina de
tarefas. Os profissionais seriam cada vez mais
bombardeados por dados e análises gerados pelas
máquinas, o que só aumentaria as pressões de
desempenho.

Hagel, no entanto, vislumbra novas oportunidades.

Defende a criação de novas abordagens que gerem de


fato novos valores. Diz que devemos recrutar as
verdadeiras capacidades humanas. Habilidades que
não são específicas de algum contexto em particular,
mas que sejam generalistas e se apliquem em qualquer
ambiente. Tais capacidades não seriam utilizadas em
problemas recorrentes e repetitivos como outrora, mas
em oportunidades inéditas. Abririam espaço para o uso
consistente da imaginação e da criatividade para
descobrir como transformar cada desafio em
oportunidade. E assim realmente agregar valor ao

116
07. Como os robôs podem ajudar a restaurar a humanidade?

processo, aos demais colaboradores, à instituição ou à


sociedade. São pelo menos dois os argumentos
que poderiam ir contra a esta nova chamada às
faculdades imaginativas e criativas de Hagel.

O primeiro argumento é que nem todos os indivíduos


seriam dotados de capacidade de imaginar e criar.
Hagel, de pronto, resgata pensamentos de Ken
Robinson e outros autores e nos lembra que todos
nascemos com os dotes da imaginação e criatividade.
Lembra que quando crianças todos temos altos
índices de curiosidade e inventividade, mas que
diminuem ao longo da vida soterrados pela educação
tradicional. Contudo, reforça que tais capacidades
podem ser resgatadas, nutridas e encorajadas para
serem usadas em novos desafios.

O segundo argumento é a percepção de que não


haveria espaço para todas as pessoas se encaixarem
em atividades imaginativas desta espécie. Muitos dizem
que as instituições não precisariam de muitas pessoas
para identificar oportunidades e resolver problemas, e
que ainda assim haveria diminuição dos postos de
trabalho. Hagel também é categórico quanto a este
argumento. Diz que diante das mudanças exponenciais
que estamos vivendo, infindáveis problemas surgem
todos os dias, também na mesma proporção. Desde
que se mudem os paradigmas da eficiência escalável
nas organizações, haveria, portanto, uma enxurrada de

117
07. Como os robôs podem ajudar a restaurar a humanidade?

oportunidades a serem trabalhadas de forma criativa


pelos humanos.

Poder Distribuído
Buscando exemplos de instituições que operam
segundo suas teorias da nova geração de valor, John
Hagel conduziu uma pesquisa pelo ‘Center for the
Edge’ e mapeou cases de organizações que buscam
(ou buscaram) redefinir o trabalho sob o ponto de
vista humano.

Um desses cases, muito conhecido pelo mercado, é a


Toyota, que no seu curso natural de processos e
automações redefiniu emblematicamente o trabalho
para seus colaboradores. Mantiveram-nos no mesmo
lugar dentro da operação, mas refinaram suas
contribuições na cadeia de valor. Se permitiram a
exploração de potenciais ainda inexplorados. Seus
operadores na linha de montagem se tornaram
‘identificadores críticos de oportunidades’ no famoso
processo de melhoria contínua. Cada colaborador
passou a ser uma peça inteligente dentro do sistema.
Cada um poderia identificar em tempo real pontos a
serem melhorados. O funcionário passou a ser uma
espécie de herói que, empoderado, contribuía para o
grande sucesso do processo e da organização. Uma
manobra que redefiniu o nível de paixão de cada
membro da organização.

118
07. Como os robôs podem ajudar a restaurar a humanidade?

Foto: Trabalhadores na
fábrica da Toyota no Brasil

119
07. Como os robôs podem ajudar a restaurar a humanidade?

A pesquisa do ‘Center for the Edge’ ainda identificou


cases mais recentes como a Morning Stars. Uma
empresa californiana com uma extensa cadeia de valor
através do cultivo, processamento e distribuição de
produtos à base de tomates. Num processo interno
orientado à autogestão, cada colaborador também foi
habilitado a identificar e resolver uma missão de
melhoria no processo. De forma ampla e irrestrita,
independente de seu posto, cargo ou grau de
escolaridade, todos tiveram a liberdade e o poder para
cumprir suas próprias missões. Permitindo, por
exemplo, que um trabalhador braçal desenvolvesse
novas ferramentas para a coleta de tomates. Uma
melhoria que hoje é utilizada em todas as plantações
da empresa.

Há ainda o exemplo da Koch Industries, um


conglomerado nos Estados Unidos com subsidiárias de
fabricação, comércio e investimentos. Seguiu o mesmo
princípio identificado por Hagel, oferecendo
oportunidade para seus colaboradores agirem de forma
imaginativa e criativa. Transformou cada membro do
time num intraempreendedor que pudesse exercer
diariamente todo o seu potencial de criação. O
processo resultou em soluções inusitadas, como a de
um vaqueiro diante da necessidade de localizar
cabeças de gado desgarradas do rebanho. O
colaborador usou drones para evitar o problema e
passou a monitorar continuamente as posições
dos rebanhos.

120
07. Como os robôs podem ajudar a restaurar a humanidade?

A solução evoluiu, recebeu sensores infravermelhos e


se tornaram ferramentas de monitoramento da saúde
do gado, identificando doenças de forma precoce.

Seja na Toyota, na Morning Star ou na Koch Industries,


cada colaborador teve seu trabalho ressignificado. E
passaram a funcionar como uma Unidade Mínima de
Transformação em suas organizações.

A mensagem pragmática de John Hagel, que se inicia


em um lado não tão glamuroso das tecnologias,
transforma um dos grandes desafios do futuro do
trabalho numa luz de possibilidades, através das
capacidades imaginativas e criativas do ser humano.
Hagel diz que essa abordagem não somente é
possível, mas necessária para que as empresas
sobrevivam às grandes ondas das revoluções que estão
formando. Entende a necessidade de reinvenção das
organizações em busca de uma melhoria acelerada de
valor, a partir de seus colaboradores em atividades mais
críticas e protagonistas.

Sugere que aproveitemos nossas capacidades


humanas únicas para encontrar um significado real para
o trabalho de homens e mulheres. Para que não sejam
apenas uma engrenagem numa máquina sem sentido,
mas unidades de contribuição contínua de valor.

121
07. Como os robôs podem ajudar a restaurar a humanidade?

Estamos apenas diante de suposições de um grande


pensador contemporâneo. Hipóteses que nos abrem
algumas esperanças e nos oferecem algumas
possibilidades.

Talvez, o desafio iniciado pela tecnologia, que nos traz


pesadelos quanto ao futuro do trabalho, nos faça
perceber com mais profundidade os nossos principais
valores humanos.

Talvez os problemas causados pelas máquinas nos


façam resgatar nossas verdadeiras essências e nos
torne pessoas melhores.

Talvez os robôs nos tornem mais sensíveis e nos


ajudem a restaurar a humanidade.

122
123
.08
Liderança
& Empatia
segundo
Simon Sinek
Por Andre Bello / agosto 16, 2020

124
08. Liderança & Empatia segundo Simon Sinek

.08
Liderança
& Empatia
segundo
Simon Sinek
Simon Sinek se considera um inabalável otimista. É uma
das maiores referências da atualidade para líderes,
empreendedores e indivíduos que buscam sentido em
suas carreiras e vidas pessoais.

125
08. Liderança & Empatia segundo Simon Sinek

Em sua primeira TED Talk – apresentada em 2009 e


hoje com mais de 50 milhões de visualizações – Simon
Sinek trouxe a público a abordagem conhecida como
Golden Circle. A partir daí ganhou visibilidade por
popularizar o conceito de Propósito como fator
estratégico para a construção de marcas e
organizações.

Suas mensagens são universais e atraem atenção do


grande público. Sua obra traz uma carga emocional
sem apelar para o sentimentalismo e explora diversas
facetas sobre o papel do líder. Invariavelmente seus
argumentos recaem nos aspectos humanos
necessários para lidar com as novas dinâmicas do
mundo. O que, mais uma vez, encanta desde donas de
casa até CEOs.

Simon tem uma incrível capacidade de comunicar


conceitos complexos de forma extremamente simples.
É um exímio contador de histórias e ilustra conceitos
como ninguém através de narrativas aparentemente
corriqueiras em nossas vidas. Uma destas histórias,
contada em algumas de suas palestras, diz respeito a
experiência que teve quando ficou hospedado no hotel
Four Seasons em Las Vegas, que demonstra como uma
liderança humanizada e relacionamentos
empáticos oferecem influências positivas sobre o
ambiente de trabalho e sobre a performance dos
colaboradores.

126
08. Liderança & Empatia segundo Simon Sinek

Imagem:
Conceito do
Golden Circle
apresentado por
Simon Sinek

127
08. Liderança & Empatia segundo Simon Sinek

Com um traquejo todo especial, Simon conta que o


Four Seasons de Las Vegas é um hotel maravilhoso.
Não exatamente por suas camas luxuosas, afinal
existem outros hotéis com camas luxuosas que não são
maravilhosos. Simon diz que o Four Seasons de Las
Vegas é um hotel diferenciado por causa das pessoas
que trabalham lá. Seus funcionários parecem
verdadeiramente autênticos cumprimentando os
hóspedes. Saúdam os clientes de forma espontânea e
não por conta de um treinamento artificial.

Em uma de suas visitas, Simon conheceu um atendente


do café, chamado Noah, que, assim como o hotel,
parecia também maravilhoso em seu atendimento.
Curioso, Simon perguntou se Noah gostava de seu
emprego. A resposta?

Noah disse: “Eu ‘amo’ meu emprego!”

Noah não disse que estava ‘satisfeito’ ou ‘gostava’ do


seu trabalho. Disse prontamente, sem vacilar, que
‘amava’ aquele emprego!

Simon então perguntou porque ele amava ser


atendente daquele café. A resposta foi: “Porque aqui
meus gerentes não perguntam como estão meus
resultados ou se preocupam se há algo errado
como a operação, como os gerentes do outro
hotel onde trabalho. No Four Seasons eles
perguntam como ‘eu’ estou, querem saber se

128
08. Liderança & Empatia segundo Simon Sinek

preciso de alguma ajuda, se há alguma coisa que


eu precise para fazer melhor o meu trabalho. Aqui
meus líderes permitem que eu seja eu mesmo!”

Simon finaliza a história concluindo que a boa liderança


cria o ambiente correto para conseguir o melhor de
cada colaborador. Diz que o ambiente criado pelo
líder influencia o trabalho de pessoas como Noah. Que
no Four Seasons amam seus empregos, mas que em
outros hotéis, apenas toleram suas atividades.

Nos últimos anos Simon Sinek desbravou novas


dimensões emocionais que, segundo ele, conduzem
organizações e empreendimentos ao sucesso.

Trouxe ao grande público exemplos como os Irmãos


Wright, Martin Luther King e Steve Jobs. Líderes que
conduziram seus empreendimentos guiados por uma
causa maior. Segundo Simon, todos eles foram
orientados por um “porquê” relevante e significativo.
Trouxeram à tona camadas mais profundas que fazem
mais sentido para a liderança moderna. Uma liderança
mais sutil, sensível e mais humana.

Simon defende que, infelizmente, há um esquecimento


quase que generalizado sobre os principais atributos
para uma boa liderança. É bem incisivo quando diz que
há duas qualidades que um grande líder deve ter:
Empatia e Perspectiva (visão abrangente).

129
08. Liderança & Empatia segundo Simon Sinek

A experiência de Simon entre grandes clientes globais


mostra que normalmente os líderes estão mais
preocupados com o status pessoal, com sua posição
dentro da organização. Ou seja, estão preocupados
com seu ego. E que acabam por esquecer de suas
verdadeiras funções.

Simon diz que, a exemplo dos gerentes de Noah no


Four Seasons, o verdadeiro trabalho de um líder
não é ‘estar no controle’. Mas é ‘cuidar’ de quem
está sob seu comando.

Numa profunda e bem fundamentada análise, Simon


Sinek acredita que esta situação acontece pela própria
dinâmica organizacional.

Na evolução de carreira dos colaboradores em estágios


iniciais até os cargos de liderança. Um executivo júnior é
treinado para ser bom em seu trabalho. Toda
aprendizagem e empenho são voltados para realizar
suas atribuições operacionais da melhor forma possível.
A empresa oferece toneladas de treinamentos para
maximizar sua performance naquele trabalho. Caso
consiga êxito nestas atribuições, o executivo júnior
escala os degraus de sua carreira e é promovido a líder.
Uma função essencialmente diferente daquela que está
acostumado e treinado a fazer. Muitas vezes (quase
sempre) o novo líder continua micro gerenciando seu
trabalho anterior. Afinal, foi treinado para isso e é o que
faz de melhor.

130
08. Liderança & Empatia segundo Simon Sinek

Mas liderar não é realizar o trabalho em si. Liderar é


ser responsável pelas pessoas que irão realizar o
trabalho. Ou seja, o trabalho de um gerente de
processos é completamente diferente das atribuições
de um líder de pessoas. Embora as organizações não
ensinem como, é preciso fazer uma transição dos
princípios gerenciais de trabalho para os princípios da
liderança efetiva.

E pelo contexto não ajudar, somente algumas pessoas


fazem isso rapidamente. Algumas outras demoram mais
um pouco e muitos sequer chegam a liderar de
verdade…

Novos tempos,
novas dinâmicas.
A obra de Simon é recheada de duras críticas à práticas
consagradas pelo mercado de algumas décadas atrás.
Segundo ele, as transições do macro-ambiente dos
últimos 20 anos seriam também responsáveis pelas
lacunas encontradas nas lideranças atuais. Simon
acredita que os líderes de hoje estejam sofrendo um
efeito colateral dos cenários políticos, sociais e
econômicos vigentes nos anos 1980 e 1990. Modelos
gerados nestas décadas, associados a cenários mais
controlados e de crescimento econômico, que
simplesmente não funcionam nas dinâmicas atuais.

131
08. Liderança & Empatia segundo Simon Sinek

Neste ponto, Simon colide frontalmente contra o


conceito da Supremacia do Acionista, uma prática
que norteia o capitalismo americano há décadas, que
foca todo o esforço da organização para o lucro dos
sócios da empresa. Simon também condena práticas
que hoje, apesar de soarem desastrosas para as
organizações, ainda são realidade, como as Demissões
em Massa. Um movimento que, segundo ele, usa a vida
das pessoas para equilibrar relatórios de resultados e
que gera uma onda de desconfiança, mentira e
insegurança na organização… Práticas como essa,
unicamente focadas nos índices financeiros, põe por
terra, em pouquíssimo tempo, a construção de
confiança e de cooperação tão desejadas
pelo mercado.

Sempre buscando ilustrar seus conceitos, Simon


exemplifica duas abordagens possíveis para um líder
diante de um problema de baixo desempenho de um
colaborador:

“Seus números estão caindo pelo 3° trimestre


seguido. Se sua performance continuar piorando
não poderei te dar garantias sobre seu futuro na
empresa”.

Este é um exemplo de líder orientado ao trabalho a ser


feito, focado nos resultados a serem alcançados, que
gera um ambiente de medo e insegurança.

132
08. Liderança & Empatia segundo Simon Sinek

Por outro lado, o líder


também poderia falar:

Seus números estão baixos…


Você está bem?…
Estou preocupado com você.
O que está acontecendo?

133
08. Liderança & Empatia segundo Simon Sinek

Neste caso, o líder está atento ao ser humano como


fator central da equação, e não exatamente aos
resultados. Está construindo uma uma relação de
confiança e cooperação.

Fica claro o caminho mais promissor para a construção


de um ambiente de segurança psicológica. Um
ambiente onde líderes e colaboradores possam expor
sua vulnerabilidade, para confrontar velhos ambientes
tóxicos, onde ninguém podia expressar sua sinceridade.
Um local onde líderes e colaboradores possam admitir
seus erros, suas fraquezas e deixar no passado as
relações de máscaras e dissimulações.

O caminho da empatia para a construção de


relacionamentos realmente fortes e verdadeiros, que
levem as pessoas a darem o melhor de si.

Seja a Supremacia do Acionista, demissões em massa,


foco exclusivo nos resultados financeiros e outros
efeitos residuais dos anos 80 e 90, Simon diz que estas
não são práticas ruins somente para as pessoas. Não
se trata de uma abordagem meramente humanística.

Estas práticas são também muito ruins para


os negócios.

134
08. Liderança & Empatia segundo Simon Sinek

Simon Sinek acredita num modelo mais abrangente, no


qual o meio ambiente e o bem-estar dos trabalhadores
devem ser fatores anteriores à busca pelo lucro. E isso
só é possível através de líderes mais humanos
e empáticos.

Todos podem ser líderes.


Segundo Simon Sinek, embora nem todos devam ou
queiram, todos podem ser líderes. A liderança é como
um músculo que deve ser treinado e exercitado pelas
empresas para desenvolver e manter líderes fortes.
Assim, conclama as organizações a considerarem e
desenvolverem dinâmicas mais humanizadas. Dedica
sua carreira a formar novos líderes que conduzam suas
equipes, não sob olhar técnico de suas atribuições.
Mas pelo relacionamento empático e com uma
perspectiva ampla e sensível sobre as pessoas.

Afinal, o verdadeiro trabalho de um líder não é


‘estar no controle’, mas é ‘cuidar’ de quem está
sob seu comando.

135
.09
O Day 1 de
Jeff Bezos
Por Andre Bello / julho 13, 2020

136
09. O Day 1 de Jeff Bezos

.09
O Day 1 de
Jeff Bezos
No último dia 05 de julho, a gigante americana Amazon
completou 26 anos de operação. Vem inovando a cada
dia. Mostrou ainda mais seu valor durante a pandemia
global, consolidando o posto de marca mais valiosa do
mundo em 2020.

137
09. O Day 1 de Jeff Bezos

Com uma triangulação muito bem sucedida entre visão


de negócios, desenvolvimento tecnológico
massivo e human centricity, tem uma cultura forte e
emblemática, capitaneada por Jeff Bezos, um visionário
que em 1994 já antevia o revolucionário potencial
da internet.

Nos anos 1990, a internet ainda engatinhava no mundo.


Mostrava aos poucos suas facetas à sociedade, que
demorou a entender exatamente o que estava
acontecendo. Alguns observaram este processo com
atenção, outros com desdém. Talvez a grande maioria
simplesmente tenha ignorado a grande rede, seus
avanços e como nossas vidas seriam transformadas.

Poucos anos depois, a partir de 1994, houve o boom


da internet. Crescimentos de 2.300% ao ano
levaram a uma corrida desenfreada de
investimentos nas empresas ponto com. Um
movimento que não conseguiu se sustentar. Em 10 de
março de 2000 a bolha se rompeu. Possivelmente
devido ao pouco entendimento do que realmente se
tratava este fenômeno tecnológico – com gigantescos
efeitos colaterais em todas as esferas de nossas vidas -,
o que parecia uma grande promessa de negócios
estourou diante de olhares incrédulos. A atenção se
voltou à rede, mas ainda havia muito a se entender
sobre seus verdadeiros impactos no mundo.

138
09. O Day 1 de Jeff Bezos

Foi nesse contexto que um bem sucedido engenheiro


de Wall Street observou o cenário e, a despeito das
incertezas, pensou: “Eu tenho que criar uma ideia de
negócios na internet”. Sua intenção era criar algo
enquanto a rede era ainda pequena e esperar que
crescesse. Listou os tipos de produtos que poderiam
ser vendidos e escolheu os livros, por ser a categoria
que tem mais itens que qualquer outra no mercado.
Sua visão era criar uma seleção universal de livros.

O jovem empreendedor tomou uma decisão com o


coração e não com o cérebro. E começou pequeno.
Num tímido escritório em Seattle, tinha visão de longo
prazo que marcaria para sempre sua jornada. Se
chamava Jeffrey Preston Jorgensen. Hoje é conhecido
como Jeff Bezos, fundador, presidente e CEO da
Amazon, e o homem mais rico do mundo, com uma
fortuna estimada em US$ 147 bilhões.

“O que você gostaria que


nós vendêssemos?”
Depois dos livros vieram as músicas e os vídeos. E na
sequência, através de um email enviado para 1000
clientes aleatórios, Jeff Bezos pediu sugestões de
novos produtos a serem vendidos pela Amazon.

139
09. O Day 1 de Jeff Bezos

Foto: Jeff Bezos no


escritório da Amazon
em 1999

140
09. O Day 1 de Jeff Bezos

Teve respostas bastante específicas, que trouxeram


dicas valiosas de produtos a serem incluídos no
portfólio da empresa. E também uma epifania a Bezos,
que pensou:

Nós podemos vender


qualquer coisa dessa
forma (online).

A despeito da oportunidade de diversificação, talvez


este email tenha mostrado algo mais. Talvez o grande
valor representado neste episódio seja a profunda
atenção pelo cliente. Um valor que guia o sucesso da
Amazon até os dias de hoje, muito além das questões
tecnológicas, rumo à construção de um negócio ao
redor das necessidades humanas.

Enquanto alguns players do varejo hoje estão se


preparando para entrar no mercado digital
(pressionados pela pandemia), as recomendações
personalizadas nas experiências de compra,
característica marcante da Amazon, já existem desde o
século passado. Desde então criou a “Compra com 1
Clique”, tornando a experiência direta e objetiva.
Invadiu o mundo físico e lançou a Amazon Go, com
uma experiência espetacular (e assustadora), sem filas,
sem caixas, sem atrito.

141
09. O Day 1 de Jeff Bezos

E recentemente passou a oferecer no Brasil o serviço


“Programe e Poupe”. Uma espécie de assinatura
multi-produtos que são entregues em casa, com
desconto e conveniência máxima. Hoje a Amazon é
mestre em interfaces diretas e muito bem projetadas,
fazendo valer a máxima de que a simplicidade é o mais
alto grau de sofisiticação. Sempre obcecada pelo
consumidor.

“Você tem que usar seu


coração e sua intuição. Você
tem que correr riscos, tem que
ouvir seus instintos.”
Jeff Bezos não é à prova de erros. Muito pelo contrário.
Admite uma série deles.

O Fire Phone, o primeiro smartphone da empresa


lançado em 2014, foi um fracasso espetacular que fez a
empresa não mais insistir no mercado de telefonia
móvel. Ou o jogo chamado “Crucible”, que consumiu
seis anos trabalho e milhões de dólares em
investimento. Foi lançado sem alarde em maio de 2020
e retirado do mercado poucas semanas depois. Mas
segundo ele, os grandes campeões pagaram pelos
‘milhares’ de experimentos que fracassaram, mostrando
um apreço pela experimentação como forma de
continuar sempre se desenvolvendo.

142
09. O Day 1 de Jeff Bezos

Foto: Edifício da Amazon


em Hyderabad emprega
15 mil trabalhadores

143
09. O Day 1 de Jeff Bezos

“Você tem que ser


grande e ágil.”
Quando o assunto é negócios, tecnologia e pessoas, as
mensagens oferecidas por Jeff Bezos trazem uma
grande dose de ‘equilíbrio dinâmico’. O que traduz e
resume um grande atributo a ser desenvolvido nas
organizações que querem sobreviver num mundo cada
vez mais instável. Bezos se vangloria da escala global
alcançada, mas se preocupa com o desafio de manter
a agilidade em suas atividades. Busca um balanço entre
a pujança de uma operação massiva com a paixão e
ímpeto de um pequeno empreendedor. Inventividade e
leveza nas tomadas de decisão seriam os segredos de
Bezos para fazê-lo ser grande, mas também ser ágil.

“Quero minimizar o número de


arrependimentos que vou ter
na minha vida.”
Bezos acredita que a maior parte de nossos
arrependimentos são atos de omissão, e por isso iniciou
seu empreendimento comercial. Tentou não se omitir
diante de seus desejos e intuições.

E foi em frente…

144
09. O Day 1 de Jeff Bezos

Há 26 anos ele mesmo levava as encomendas até o


correios e seu sonho era comprar uma empilhadeira
para ajudar no processo de entregas. Bezo viu as
coisas crescerem, mas nunca perdeu de vista o que
chama de “Day 1 Mentality”. A cultura que mantém
até hoje em sua organização, que busca tratar o
negócio como se fosse o primeiro dia. Com o
carinho, atenção e entusiasmo. Mesmo a Amazon
sendo hoje uma das empresas mais valiosas do mundo,
Jeff cuida para que se mantenha com o coração e
espírito de uma empresa pequena. E é categórico
quando descreve como seria o Day 2: Um declínio
doloroso e excruciante seguido pela morte. E por isso,
em sua organização sempre será o “Day 1”.

Uma visão clara. Começar pequeno e pensar grande.


Uma cultura forte que mantém o melhor dos mundos
entre escala e agilidade. Obsessão pelo cliente, com
uma profunda atenção às necessidades humanas.
Não são poucos os fatores que estão levando Bezos a
escrever um capítulo que ficará imortalizado nos anais
dos negócios. Comércio eletrônico, varejo físico,
computação em nuvem, streaming digital, inteligência
artificial e até exploração espacial estão entre suas
frentes de trabalho hoje. Mas, não se surpreenda caso
isso seja apenas o começo para Jeff Bezos, aquele que
conseguiu vislumbrar o revolucionário potencial da
internet, enquanto poucos sequer a haviam percebido.

145
146
.10
David Kelley e a
Confiança Criativa
Por Andre Bello / setembro 8, 2020

147
10. David Kelley e a Confiança Criativa

.10
David Kelley e a
Confiança Criativa
Há exatamente 10 anos atrás, eu estava envolvido
numa das maiores empreitadas pessoais e profissionais
da minha vida. Um projeto que traria influências
decisivas para minha trajetória, para minha família e
tantos outros conhecidos e desconhecidos.

148
10. David Kelley e a Confiança Criativa

No ano de 2010, eu e um grupo de amigos estávamos


no olho de um furacão chamado TEDxRio.

Experimentamos um gigantesco entusiasmo em trazer


as aclamadas palestras de 18 minutos ao Brasil. À
época ainda eram novidade, e o poder das “ideias que
valem ser espalhadas” (ideas worth spreading) nos
fez ignorar nossas limitações e seguir adiante. Naquele
tempo nenhum dos integrantes do time principal tinha
qualquer experiência na produção de eventos, mas
nossas forças interiores e muito, muito trabalho duro,
deram origem a uma franquia que reverberou pela
comunidade global do TED durante muitos anos.

O sucesso da primeira edição abriu espaço para outras


instâncias que seguem até hoje, já sob a liderança de
outro grupo. Mas eu, cada integrante do time, cada
parceiro, cada pessoa que participou de alguma forma
deste processo, levamos aprendizados, que, como
disse, influenciaram nossas vidas em diversas
dimensões. Ninguém que tenha participado deste
processo, acredito, ficou isento de suas influências.
Como dizemos internamente: “Foi épico!”

Nos meses que antecederam nosso primeiro evento,


num curto espaço de tempo, um mundo de novas
formas de pensar se abriu diante de meus olhos. Numa
revolução pessoal, descobri o verdadeiro poder do
conhecimento, a pujança inspiradora das novas ideias
me arrebatou.

149
10. David Kelley e a Confiança Criativa

Tive contato com pensadores incríveis que traziam


conceitos de transformação, que carrego comigo, e
busco aprimorar, até os dias de hoje.

Um desses conceitos é o 'Design Thinking', que ouvi


pela primeira vez em uma das reuniões de curadoria.

Epifania: Um sentimento que expressa a súbita


sensação de entendimento ou compreensão da
essência de algo.

Em 2010, era um termo muito recente no mundo,


praticamente desconhecido no Brasil. Uma expressão
que eu nunca havia escutado. Mas que, como num
estalo, acendeu uma chama de interesse, como se já
existisse dentro de mim há muito tempo.

Estudei a fundo esta abordagem, que assumi como


uma bandeira pessoal por sua proposta transformadora
muito mais ampla do que se imaginava na época.

A proposta transformacional e ampla do design não era


novidade. Herbert Simon, prêmio Nobel de Economia
em 1978 e um gênio em diversas outras áreas, dizia
que: “Design é conceber cursos de ação com o
objetivo de transformar situações existentes em
situações preferidas.” Ou seja, design é criar projetos
conscientes para a transformação de realidades.

150
10. David Kelley e a Confiança Criativa

Foto: Herbert Simon


economista americano
ganhador do prêmio
Nobel de 1978

151
10. David Kelley e a Confiança Criativa

A grande novidade do Design Thinking era trazer esta


proposta para o campo estratégico dos negócios e
posteriormente para questões de impacto social.
Sempre com uma visão centrada no ser humano.

Esta abordagem nasceu com a crise conhecida com a


Bolha da Internet, por volta do ano 2000. A partir
destas tensões econômicas, numa reunião em 2003, os
irmãos David e Tom Kelley, juntamente com Tim Brown,
conceberam o termo “Design Thinking”, preconizando
conceitos do design para recuperação de empresas
acometidas pela crise.

Como nomes fortes no campo da inovação, David, Tom


e Tim instituíram uma nova forma de olhar para os
negócios. O cunho criativo, colaborativo e centrado no
ser humano começou a trazer resultados para os novos
problemas do mundo. Em 2005, o Design Thinking viria
se tornar disciplina acadêmica em Stanford, no Instituto
de Design Hasso Plattner, também conhecido como
d.School. E de lá ganhou o mundo.

Mais que uma mera abordagem metodológica, este


movimento trouxe novas provocações sobre como um
líder deve pensar e agir. A popularização da criatividade,
que hoje parece quase corriqueira, nasceu de um árduo
trabalho para a desmistificação de habilidades que
antes eram atribuídas somente a pintores, escritores,
publicitários e designers.

152
10. David Kelley e a Confiança Criativa

Um processo que, num contexto predominantemente


racional, trouxe um holofote sobre a importância do
pensamento criativo como elemento fundamental para a
adaptação e sucesso nos negócios. E que vem alçando
a criatividade hoje como uma poderosa e profunda
força de influência na sociedade, nos negócios e na
vida das pessoas. Algo que David Kelley chama de
Confiança Criativa.

David Kelley nasceu em 1951, nos Estados Unidos.


Homem de negócios, empreendedor, professor em
Stanford. No cenário do design é emblematicamente
reconhecido como um dos fundadores da IDEO, uma
mundialmente reconhecida empresa de design e
consultoria em inovação, fundada em Palo Alto, em
1991. Suas décadas de trabalho dedicadas a
processos criativos acumulam histórias tão inusitadas
quanto dramáticas.

Com infinitos workshops ministrados sobre design e


incontáveis projetos corporativos em seu portfólio,
David Kelley diz que, em se tratando de jornadas de
inovação, seus projetos, por padrão, chegam a um
ponto confuso e pouco tradicional. Uma encruzilhada
onde se exige um pensamento fora do convencional.

Ele se diz muito familiarizado com uma situação


recorrente neste ponto dos projetos, muitas vezes entre
líderes de grandes empresas.

153
10. David Kelley e a Confiança Criativa

Exatamente nesta ocasião, no momento de se


pensar diferente, super executivos acostumados a
lidar com negócios multimilionários mostram extremo
desconforto. Levantam-se da cadeira, pedem
desculpas e saem da sala sob o pretexto de atender
uma ligação inesperada.

Mas quando questionados, finalmente dizem:

“Eu não sou do tipo criativo…”

Brian e o cavalo de argila


Exímio storyteller, David Kelley usa parábolas para
explicar o que acontece com pessoas que se
auto-excluem de processos criativos. Ele diz que se
lembra de um fato acontecido há muitos anos com um
amigo chamado Brian, quando ambos eram crianças e
cursavam a 3ª série.

Estavam em uma aula de escultura, cada aluno com um


punhado de argila fazendo suas obras de arte. Brian
escolhera modelar um cavalo. Estava entusiasmado em
sua concepção, sorriso nos lábios diante de sua
representação pessoal de um animal de quatro patas,
rabo e crinas esvoaçantes.

No entanto, a euforia de Brian foi por terra no momento


em que uma menina se aproximou e disse, implacável:

154
10. David Kelley e a Confiança Criativa

“Isso é horrível! Não se parece com um cavalo!”.

Envergonhado, Brian amassa seu punhado de argila,


devolve à caixa de materiais e cristaliza em sua mente
que, definitivamente, não é uma pessoas criativa. Um
bloqueio comum entre muitas pessoas, que aumenta
conforme a idade avança e faz com que homens e
mulheres deixem de se enxergar como imaginativos,
inovadores, inventivos.

David Kelley não acredita que existam pessoas não


criativas. Segundo ele, (e todos os especialistas no
assunto) nascemos e somos todos criativos. Diz isso
com a propriedade de quem já destravou esta
habilidade em muitos executivos. Num processo de
aproximação e incentivo cadenciado, garante que após
romperem seus bloqueios pessoais, atingem resultados
criativos fantásticos. Se surpreendem com suas
capacidades e alcançam ainda outros benefícios…

O encontro com
Albert Bandura
Para corroborar sua tese, costuma recorrer aos estudos
de, segundo ele, um dos maiores psicólogos do
mundo. Albert Bandura, o qual teve o prazer de
conhecer pessoalmente e se apropriar de suas
pesquisas para explicar a questão da confiança
adquirida através dos processos criativos.

155
10. David Kelley e a Confiança Criativa

Colegas em Stanford, Kelley procurou o especialista


para uma consulta sobre fobias. Buscava relações entre
o medo de ser julgado e os bloqueios criativos
Bandura era reconhecido por curas rápidas em pessoas
com fobias profundas. Através de um processo
chamado Domínio Guiado, Bandura conduzia uma
aproximação gradual de seus pacientes aos objetos
que lhe provocavam medo. Segundo seus métodos,
pacientes com fobia de cobras, por exemplo, são
submetidos a pequenos passos de aproximação,
transformando o medo em familiaridade. Até o ponto
que, não só chegam a tocar nas cobras, como apreciar
sua beleza e carregá-las no colo. Mais que isso, além
do fim de suas fobias pontuais, após o processo os
pacientes descrevem uma sensação de extrema
confiança e capacidade de realização. Uma
convicção conhecida como autoeficácia.

David Kelley relata um sentimento catártico e libertador


ao conhecer as pesquisas de Bandura. Sobretudo por
comprovar cientificamente o que vinha estudando de
forma empírica durante tanto tempo.

As consequências positivas de pessoas que, após uma


vida de tentativas e fracassos, conseguem se libertar de
bloqueios criativos, não só desenvolvem a criatividade,
mas mudam a forma como pensam sobre si mesmas.

156
10. David Kelley e a Confiança Criativa

Foto: David Kelley fala sobre


construir a confiança criativa
no palco do TED 2012

157
10. David Kelley e a Confiança Criativa

O desbloqueio criativo diminui condições de ansiedade


e oferece novos níveis de confiança para a vida como
um todo. As pessoas se sentem mais capazes,
poderosas e protagonistas. Algo como a impressão de
que podem mudar o mundo.

A criatividade vence a luta


Da mesma forma que o entendimento do Design
Thinking, há 10 anos, me despertou olhares
transformadores e trouxe novos rumos para a minha
vida (e de quem o tenha experimentado), na mesma
época, a Confiança Criativa de David Kelley talvez tenha
salvado sua vida.

Em 2007, David Kelley sentiu algumas ínguas no


pescoço e procurou um médico. Foi diagnosticado com
câncer do tipo maligno, com 40% de chance de
sobrevida. Como de se esperar, este tipo de situação
traz inúmeros questionamentos sobre nossa existência,
e com David não foi diferente. Ele relata que nos
momentos de introspecção, inúmeras perguntas
surgiam em sua mente.

“Vou sobreviver?”

“Como será a vida de minha filha sem mim?”

158
10. David Kelley e a Confiança Criativa

Mas pensava também em outras coisas. Pensava sobre


porque havia sido colocado na Terra, qual seria sua
função no mundo, sua vocação.

Otimista como somente um criativo poderia ser, ele diz


que nesses momentos se sentia felizardo por ter tantas
opções, já que como designer havia trabalhado com
saúde, bem estar, educação e numa infinidade de
projetos pelo mundo. E diante de tantas alternativas, ele
decidiu e se comprometeu a, caso sobrevivesse, ajudar
o maior número possível de pessoas a conquistarem
suas capacidades criativas perdidas ao longo
do caminho.

Concluiu que sua missão era fazer com que as pessoas


atinjam o que Bandura chama de autoeficácia. Para que
possam realizar o que estão determinadas a fazer.

Que possam resgatar, definitivamente, a sua


Confiança Criativa.

Felizmente, David Kelley se curou, continua vivo e


criativo. Talvez seu propósito e seu desejo tenham
trazido as forças necessárias para vencer a luta contra o
câncer.

159
160
.11
O Designer
Ancestral
Por Andre Bello / setembro 6, 2021

161
11. O Designer Ancestral

.11
O Designer
Ancestral
Pare! Pare o que você está fazendo agora. 
Olhe ao seu redor. Veja como o mundo é. Talvez você
esteja em frente à sua mesa de trabalho. Ou talvez você
esteja em deslocamento para um compromisso
importante. Ou mesmo aproveitando alguns momentos
de ócio para consumir novas ideias.

162
11. O Designer Ancestral

Olhe ao seu redor. Perceba as coisas como elas são.


Os livros na estante, as plantas no jardim. Seus filhos
correndo pela casa ou colegas de trabalho
concentrados nas tarefas do dia a dia. Há, neste
instante, uma infinidade de mensagens chegando a
você, que dizem como o mundo é, como o mundo
está. 
Nesse contexto, nosso desafio sempre foi interpretar as
mensagens do ambiente para garantir nossa
sobrevivência, de nossas carreiras, negócios,
organizações e de nossas próximas gerações.

Há 200 mil anos em desenvolvimento, nós, os


sapiens, observamos ‘o mundo como ele é’.

Mas, ao longo de nossa história, algo mais nos fez


diferente de outros animais. Não somos os mais fortes
ou os mais rápidos da natureza, mas mesmo assim
atingimos um patamar de desenvolvimento diferente
das demais espécies que compartilham o planeta
conosco.

Alguns atributos nos destacaram e se combinaram


numa intrincada teia de habilidades. Fatores não
somente individuais, mas também coletivos.
Conseguimos resgatar e manter acesos improváveis
comportamentos empáticos de nossos antepassados.
Assim como nos perpetuamos através de condutas
colaborativas sofisticadas e flexíveis.

163
11. O Designer Ancestral

Nos diferenciamos dos demais animais por nossa


admirável habilidade imaginativa e nossa capacidade de
abstração. Que, associadas à capacidade de criar o
novo, nos permitiu perseguir novas realidades.

Agora pare mais uma vez e olhe ao redor. 


Mas desta vez, não somente veja ‘como o mundo é’…

A ascensão dos humanos


Em junho de 2015, Yuval Noah Harari subiu ao palco do
TED Global em Londres. Estava ali para falar sobre
evolução, história e humanidade. Dava continuidade a
sua obra autoral, talvez uma das mais aclamadas de
nossa época, através de uma trilogia iniciada em 2011
com a publicação de Sapiens – Uma Breve História da
Humanidade.

Harari provocou a plateia sobre quais seriam os motivos


pelos quais os seres humanos teriam conquistado o
topo da cadeia evolutiva, ocupando o posto de
controlador do planeta. Uma questão, de certo modo,
capciosa. Uma indagação que nos induz a refletir sobre
os possíveis fatores individuais dos homens e mulheres
que há algumas dezenas de milhares de anos eram
seres tão corriqueiros quanto o resto da natureza.

164
11. O Designer Ancestral

Foto: Yuval Noah Harari


subiu ao palco do TED
Global em Londres

165
11. O Designer Ancestral

Embora, como veremos a seguir, os macacos tenham


muito a nos ensinar e não seria exatamente uma
vergonha sermos semelhantes a ele, Harari diz que “no
âmbito individual, somos vergonhosamente
semelhantes a um chimpanzé”. Ele sustenta que
individualmente somos inferiores aos macacos (e tantas
outras espécies), sendo nossa vantagem adaptativa
uma intrincada teia colaborativa, que no conjunto da
obra nos fez chegar onde estamos hoje.

Aparentes fragilidades
escondem grandes vantagens
Imagine, por exemplo, o nascimento de um bebê
humano, em comparação com o nascimento de um
bebê equino. A égua, ao dar a luz a seu filhote, o faz de
uma forma aparentemente mais eficaz que uma mulher.
Após o trabalho de parto, em alguns minutos, o
pequeno potro, mesmo que ainda cambaleante, já
atinge um grau de autonomia incomparável ao que
ocorre com nós, humanos. O pequeno potro, e tantos
outros seres, nascem prontos para fugir de seus
predadores.

O que talvez soe como uma desvantagem adaptativa,


pode na verdade ser um dos motivos para humanos
terem evoluído como soberanos do planeta.

166
11. O Designer Ancestral

Enquanto a mãe humana dedica atenção e cuidados a


seu filhote durante os primeiros anos de sua vida,
oferece a ele (além de alimento e proteção) algo que a
égua não consegue transmitir ao pequeno potro: Uma
injeção de informações, conhecimentos e saberes. Um
curso longo, intensivo e focado para transmitir e
perpetuar a cultura humana a seus descendentes.

Uma característica curiosa, que nos traz a percepção


de que as grandes virtudes humanas talvez estejam, de
fato, na nossa coletividade. Um poder coletivo e de
cuidados com o próximo que parece ser um elemento
relevante para o desenvolvimento de nossa espécie. Um
componente que teve sua origem muito antes
de nós…

Empatia e Colaboração:
Capacidades pré-humanas
Individualmente os humanos são muito menos
eficientes que outros animais. Sozinhos na natureza não
teríamos chance de sobrevivência e desenvolvimento.

Há algo na equação da adaptabilidade que passa por


nossa capacidade colaborativa. Seja enquanto as mães
humanas cuidam de seus filhotes ou no
desenvolvimento da ciência, onde o conhecimento vem
se acumulando ao longo das gerações.

167
11. O Designer Ancestral

Muito provavelmente esta capacidade


nasceu bem antes de nós…

Frans de Waal é um estudioso do comportamento


animal que vem estudando primatas há pelo menos 40
anos. Fascinado pelas relações entre animais, iniciou
suas pesquisas estudando as relações entre macacos.

Seus primeiros estudos tentavam provar que os animais


(incluindo humanos) teriam se desenvolvido buscando o
benefício próprio. Sua teoria versava sobre agressão e
competição. Em sua mente estava desenhado um
quadro geral sobre o reino animal de que, no fundo,
todos seríamos competidores agressivos lutando pela
vida. Tudo se resumiria a ganhar ou perder.

Durante sua jornada observando macacos, Frans de


Waal testemunhou uma briga entre dois machos.
Acreditando estar diante de um fenômeno que o levaria
a aprender mais sobre competição, se surpreendeu
com algo inusitado.

Após a briga, que terminou no alto de uma árvore, um


dos chimpanzés estendeu a mão ao outro, num gesto
amigável. Na sequência, eles se aproximaram, deram as
mãos, se abraçaram e se beijaram.

168
11. O Designer Ancestral

Foto: O primatólogo e
etólogo Frans de Waal

169
11. O Designer Ancestral

Para surpresa do estudioso, que esperava observar


relações de puro conflito, os macacos haviam se
reconciliado. Seu quadro geral sobre o reino animal,
incluindo os humanos, começava a mudar…

A dúvida sobre o porquê dos macacos se aproximarem


e se reconciliarem depois da briga levou Frans a
perceber o valor existente em uma relação entre dois
indivíduos. Um vínculo relevante que, se danificado por
um conflito, precisaria de alguma forma ser resgatado.

De Waal resgatou inúmeros estudos sobre a


cooperação entre animais que vão além de um
momento de reconciliação. Experimentos conduzidos
pelo estudioso apontam que os animais são dotados da
capacidade de se colocar no lugar do próximo. Muitas
vezes sofrem pela dor do vizinho e, em casos extremos,
até colocam-se em risco para salvar-lhe a vida.

Os animais são dotados de reciprocidade,


empatia e colaboração.

170
11. O Designer Ancestral

Segundo as palavras de Waal


em seu livro ‘A Era da Empatia’:

Ao se colocar no lugar
dos outros, os animais
sociais ajudam a
construir grupos mais
coesos – o que, por sua
vez, auxilia sua
sobrevivência.

171
11. O Designer Ancestral

A obra do primatólogo Frans de Waal mostra como a


biologia oferece aos seres humanos uma antiga
habilidade, que talvez nos tenha trazido até aqui e nos
leve mais longe. Uma capacidade de construir
colaborativamente a sociedade, além da equivocada
visão de uma natureza egoísta.

Imaginação e Criatividade:
Capacidades essencialmente
humanas
Todas as grandes conquistas da humanidade, por toda
a história, foram coletivas. Sejam a construção das
pirâmides ou a viagem até a Lua, foram baseadas, não
em habilidades individuais, mas na habilidade que
temos de cooperar maleavelmente e em grandes
grupos.

A despeito de existirem outros animais e insetos sociais


que também conseguem cooperar em conjunto, os
seres humanos o fazem com extrema sofisticação
e flexibilidade.

A cooperação entre abelhas e formigas, por exemplo, é


muito rígida. Basicamente, a evolução social desses
seres parece ter estacionado em apenas um modelo
pelo qual uma colmeia ou um formigueiro podem
funcionar.

172
11. O Designer Ancestral

O processo e mecanismo colaborativo permanece o


mesmo há gerações e pouco ou nada se ajusta com o
passar do tempo.

Diante de uma nova ameaça ou oportunidade, as


abelhas não têm a capacidade de se reinventarem
socialmente em busca da adaptação ou evolução. Elas
não podem desenvolver novos regimes políticos ou
modelos sociais como os humanos. Formigas não
observam o ambiente ao redor e concebem, idealizam
ou criam novos cenários ou possibilidades. Neste
ponto, assim como outros seres sociais, ficaram
paradas em relação à raça humana.

As teses de Harari, inclusive, defendem que, além da


colaboração, outra característica levou a raça humana
ao topo da cadeia adaptativa: a nossa imaginação. Nós
somos os únicos seres capazes de conceber e elaborar
novas realidades enquanto outras espécies se mantêm
presas em seus universos estanques.

Todos os grandes saltos da humanidade se deram pela


capacidade de abstração. Temos o dom de imaginar o
que ainda não existe, pensar o que pode vir a ser
projetado, desenvolvido e construído. É como se
tivéssemos um poder especial que nos permite fazer
perguntas. Algo como um disparador das tecnologias
em todos os campos do saber, impulsionando o
conhecimento e evolução.

173
11. O Designer Ancestral

» E se pudéssemos registrar
nosso conhecimento?

» E se pudéssemos aumentar
nossa inteligência?

» E se pudéssemos conectar
o mundo em rede?

174
11. O Designer Ancestral

O flerte com o imaginário nos permite romper com a


realidade e buscar novos caminhos. Nos permite
formular questões sobre como o mundo poderia ser.

Afinal, são as perguntas que movem a humanidade.

Do natural ao artificial
As habilidades humanas de fazer perguntas, imaginar
um mundo que ainda não existe e buscar o
desconhecido foram praticadas por muito tempo.
Talvez, de forma inconsciente, aleatória ou até mesmo
intuitiva.

Pela maior parte da jornada de desenvolvimento das


ciências, os pensadores dedicaram-se apenas a
explicar como seria o mundo que nos rodeia.
Não como poderia ser.

Essa abordagem seria alterada para sempre pela obra


de Herbert Alexander Simon, um cientista político,
psicólogo da cognição, cientista da computação e
teórico da organização.

Disposto a trilhar um caminho não convencional, Simon


adentrou campos inexplorados e menos avançados de
pesquisa científica.

175
11. O Designer Ancestral

Foi um dos primeiros pensadores da inteligência artificial


e, melhor que ninguém, entendeu o futuro da tecnologia
e o impacto dos computadores na sociedade. Já em
1965, preconizava que as máquinas seriam capazes de
fazer qualquer trabalho que um homem pudesse fazer.

Sua perspectiva visionária sobre processos de tomada


de decisão, mudanças climáticas e falhas nas teorias
econômicas o conduziu ao Prêmio Nobel de Ciências
Econômicas em 1978.

Em sua jornada, ainda em 1969, no livro “Ciências do


Artificial”, Simon desenvolveu o conceito do ‘artificial’
em contraponto ao ‘natural’, afirmando que:

Artificial é o fabricado pelo


homem, por oposição
ao natural.

Referia-se aos artefatos resultantes da manipulação


humana. Um caminho que passa por um processo de
resolução de problemas denominado design. Que,
segundo ele, está presente na engenharia, arquitetura,
educação, medicina e outros campos do saber.

176
11. O Designer Ancestral

Foto: O Centro de
Informática da Universidade
de Columbia em 1965

177
11. O Designer Ancestral

Faz design quem projeta


cursos de ação com o
objetivo de transformar
situações existentes em
situações preferíveis.

Ele alertou, inspirou e motivou os cientistas a solucionar


problemas de uma nova maneira – começando a
coletar o máximo de dados possível, para então, a partir
de critérios conscientes de escolha, tomar as melhores
decisões.

Simon sistematizou com maestria um processo de


construção do futuro. Iniciou o estatuto científico do
design – que evoluiria ao que hoje conhecemos como
design thinking -, como processo de conexão entre o
pensamento (imaginação) e a decisão (prática).
Deixou no passado a ciência que somente buscava
entender aquilo que já existe e nos apresentou a ciência
que busca aquilo que pode vir a existir.

Mais que tudo, Simon estruturou com mais clareza a


capacidade inata que temos de praticar o design. De
alguma maneira nos transformou a todos em designers.

178
11. O Designer Ancestral

O futuro em suas mãos


Um historiador aclamado pela sociedade, um
primatólogo apaixonado por macacos e um prêmio
Nobel de Economia apontam a incrível faculdade que
temos para, colaborar, imaginar e modelar o mundo a
nosso favor. A conexão de referências de Yuval Noah
Harari, Frans de Waal e Herbert Simon nos mostra o
aspecto ancestral do design que se desenvolve até os
dias de hoje.

Personagens que nos remetem à empatia e


colaboração como capacidades que nos acompanham,
talvez de forma inconsciente, desde nossos
antepassados. Aspectos que agora podem ser
redescobertos e desenvolvidos para enfrentar as
necessidades de um mercado mais complexo e focado
nas necessidades humanas.

Harari, de Waal e Simon nos fazem resgatar a


importância da imaginação e da criatividade.
Faculdades que nos diferenciam dos outros animais, e
nos permitem conceber novas realidades.

Competências ainda mais fundamentais para


serem usadas como recurso num mundo que
anseia por inovação.

179
11. O Designer Ancestral

Pensadores geniais que nos fazem lembrar que somos


designers ancestrais. Com capacidades de projetar
situações preferíveis, um atributo relevante, ou mesmo a
chave para a adaptação de pessoas, líderes e
organizações a um mercado mutante.

O futuro se aproxima cada vez mais rapidamente do


presente. O mundo de hoje nos exige proatividade.
Portanto, pare agora o que você está fazendo. Não veja
somente ‘como o mundo é’. Imagine como ‘o mundo
poderia ser’…

E arregace as mangas para


construí-lo. Afinal, somos
todos designers.

180
181
Eu vou ficando
por aqui…

Chegamos ao fim de uma jornada de


Andre Bello conhecimento e práticas. Nela você teve
É professor e consultor a oportunidade de conhecer pensadores
do Centro de
fantásticos e suas ideias extraordinárias.
Referência em
Inteligência Você pode percorrer novas conexões e
Empresarial (COPPE desenvolver um novo repertório para
UFRJ) e HSM do Brasil. entender o mundo presente e se
É TEDx Speaker e co-
responsável por
preparar para o futuro.
eventos TEDxRio. Autor
do livro Acredite! – Espero que este material tenha trazido
Design Thinking Para mais que provocações sobre as
Jovens de Todas as
Idades. É co-founder mudanças que o mundo vem passando.
do Singularity University Espero que tenha trazido clareza sobre o
Brazil Summit, impacto das transformações que estão
advisor Rock in Rio
remodelando nossas relações e nossos
Humanorama e founder
The Human Power. negócios.

Mais que tudo, espero que este livro te


ajude a desenvolver novas habilidades
para que você exerça ainda mais seu
protagonismo e poder de mudança.
Afinal, somos todos uma 'Unidade
Mínima de Transformação' - em
nossas vidas, em nossas carreiras, em
nossas organizações, na sociedade e no
mundo.

182
Por aqui continuarei pela jornada de
entendimentos sobre as transformações
do mundo. Através de muitas perguntas
e poucas certezas, continuarei trilhando
novos caminhos e ajudando a desenhar
nossos próximos passos. Otimista,
continuarei ajudando profissionais,
líderes e organizações a se prepararem
para o futuro. Com a esperança e o
esforço necessário para que sejam
futuros melhores.

Enquanto isso, adoraria saber suas


opiniões a respeito do Livro
HIGHLIGHTS e sobre suas visões do
mundo em transformação. Aguardarei
ansioso por suas impressões para
mantermos aceso este diálogo tão
importante.

#LIVROHIGHLIGHTS

Eu vou ficando por aqui, um abraço e


até a próxima!

- Andre Bello
Brasil, dezembro de 2021

183
A mudança não é
simplesmente
necessária para a vida.

Ela é a vida.

Alvin Toffler

184
Esta é uma iniciativa

Nós acreditamos no poder humano e ajudamos


profissionais, líderes e organizações a se
prepararem para o futuro.

Somos uma consultoria de inteligência coletiva que


conecta corações e mentes para desenvolver
projetos de 'pessoas para pessoas'.

Resolvemos os novos desafios das organizações e


entregamos soluções estratégicas de
transformação e inovação.

Apoio:

185
Esta é uma obra experimental, inacabada
e em constante desenvolvimento, que conta
com a visão e influência de diversas fontes
e referências, num exercício transdisciplinar.

Versão 1.0
Editada no Brasil
em JANEIRO 2022

www.thehumanpower.com.br

186
Créditos das imagens:

Design: Clara Rôças e Andre Bello » Como os robôs podem ajudar a restaurar a humanidade?
capa: Pexels/Tara Winstead
Capa: Pexels/Сергей Катышкин p109: TED/Reprodução
p111: Dezeen/Reprodução
» Jobs, Nike e o Círculo Dourado p115: Wikimedia/Techonomy 2010
capa: Diana Walker p119: G1/Reprodução
p26: Apple/Reprodução

» O ‘Flow’ segundo Steven Kotler » Liderança & Empatia segundo Simon Sinek
capa: Forbes/Reprodução capa: Nordic Business Forum/Reprodução
p32: Pexels/Aleksandar Pasaric p127: Bright Comarketers
p35: Uchicago news/Reprodução p133: Pexels/Demeter Attila
p38: Medium/Reprodução
» O Day 1 de Jeff Bezos
» Paixão, Perseverança e Garra segundo Angela Duckworth capa: LA Times/Divulgação
capa: Penn Today/Divulgação p140: Twitter/Acervo
p49: foto: Simon Bruty p143: Medium/Divulgação
p56: TED/Reprodução
» David Kelley e a Confiança Criativa
» Hugh Herr: Mais forte, mais rápido e mais humano capa: Ideo/ Divulgação
capa: Zamarylaw/Reprodução p151: The University of Texas at Austin/Reprodução
p66: The Gentlemans Journal/James Duncan Davidson p157: TED/Reprodução
p69: Acervo Hugh Herr
p72: TED/Reprodução » O Designer Ancestral
capa: Veja/Reprodução
» A Patagonia de Yvon Chouinard p165: Ted/Reprodução
capa: The Guardian/Reprodução p169: Amazon/Divulgação
p83: Outside online/Reprodução p171: Facebook/Jutta Hof
p86: Medium/Reprodução p174: University College Dublin/Reprodução
p177: The Columbia University Computer Center/Acervo
» Uma singela homenagem a Sir Ken Robinson
capa: NY Times/Ying Ang
p93: Pexels/Dids
p97: TED/Reprodução
p103: Wantubizhi /Acervo

187
Obra sob licença Creative Commons
Atribuição-NãoComercial 
CC BY-NC

Esta licença permite que outros remixem,


adaptem e criem a partir do trabalho original
para fins não comerciais, e embora os novos
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188
2022

www.thehumanpower.com.br

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