TEMA 5 - Admin,+Tânia+Guedes+Magalhães
TEMA 5 - Admin,+Tânia+Guedes+Magalhães
TEMA 5 - Admin,+Tânia+Guedes+Magalhães
RESUMO: Este trabalho traz reflexões sobre ABSTRACT: The aim of this work is to
um percurso de pesquisas1 desenvolvido no convey reflections on a line of investigation
âmbito do Grupo de pesquisa FALE – developed in the research group FALE –
Formação de professores, Alfabetização, Teacher formation, Early literacy, Language
Linguagem e Ensino (UFJF). Iniciamos em and Teaching (UFJF). In view of the demands
20072, a partir de demandas de professores de of basic-level teachers, we started a project in
ensino básico, uma pesquisa para a elaboração 2007 that aimed at creating a curricular
de documento de orientação curricular e orientation document and didactic material for
materiais didáticos para o trabalho com a teachers to work with Portuguese in
língua portuguesa no ensino fundamental. Em elementary and middle schools. Subsequent to
seguida, realizamos pesquisa exploratória that, exploratory research was conducted to
para investigar o uso do documento e, mais investigate the use of the document and, later
tarde, uma pesquisa-ação para modelização de on, action research was performed for
gêneros textuais e sua transposição em aulas modeling text genres and their transposition to
de Língua Portuguesa. Para tanto, utilizamos Portuguese classes. For that, Socio-Discursive
como embasamento teórico o interacionismo Interactionism (BRONCKART, 1999; 2010;
sociodiscursivo (BONCKART, 1999; 2010; DOLZ & SCHNEUWLY, 2004;
DOLZ e SCHNEUWLY, 2004; MACHADO, MACHADO, 2005; MACHADO &
2005; MACHADO E CRISTÓVÃO, 2006) e CRISTÓVÃO, 2006) and literacy theories
as teorias de letramentos (STREET 1984, (STREET 1984, 1995, 2010, 2014;
1995, 2010, 2014; KLEIMAN, 1995, 2001a, KLEIMAN, 1995, 2001a, 2007; SOARES,
2007; SOARES, 1998), buscando algumas 1998) were used. The results obtained
aproximações. Os resultados obtidos ao longo throughout the work period have granted new
desses anos de trabalho têm trazido elementos elements to the reflections on knowledge
novos para as reflexões acerca dos processos construction processes about text genres and
de construção de conhecimento pelos their didactic transposition by teachers.
professores sobre gêneros textuais e sua Furthermore, they have revealed the
transposição didática. Além disso, têm contributions and challenges of researching in
revelado as contribuições e os desafios da the field of teacher education and of the
pesquisa para a formação de professores e a possibility of a more contiguous relationship
possibilidade uma relação mais próxima entre between university and school.
universidade e escola.
⃰
Professora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF/MG). [email protected]
1
As três pesquisas em questão receberam financiamentos diferentes da UFJF (auxílio financeiro e bolsa).
2
Agradeço as contribuições da professora e doutoranda Laura Silveira Botelho, minha amiga e companheira de
trabalho que, durante todo esse percurso de pesquisa, foi interlocutora nesses trabalhos.
LETRAS & LETRAS
( http://www.seer.ufu.br/index.php/letraseletras) - v. 31, n. 3 (jul./dez. 2015) - ISSN 1981-5239
1. Introdução
Este artigo tem o objetivo de trazer algumas reflexões sobre pesquisas desenvolvidas no
âmbito do Grupo de Pesquisa FALE – Formação de Professores, Alfabetização, Linguagem e
Ensino – do qual participo desde 2004. As pesquisas que ora apresento foram realizadas entre
os anos de 2007 e 2014, sendo a última em andamento.
Nesse sentido, a principal intenção do artigo é mostrar as reflexões sobre os processos
de construção de conhecimento sobre gêneros textuais e seus desdobramentos para a sala de
aula; e analisar as contribuições e desafios da pesquisa com formação de professores, sobretudo
as de caráter intervencionista, como a pesquisa colaborativa.
Ainda que haja pesquisas, discussões, eventos, produção de documentos e produção de
materiais didáticos e teórico-didáticos para formação continuada, intensos nos últimos anos,
percebemos que muitas dificuldades e desafios se mantêm na escola básica, tanto no que se
refere ao letramento do aluno, quanto no que se refere ao trabalho com os gêneros textuais
aliado à reflexão linguística na escola básica.
Tais dúvidas e desafios são revelados de diversas formas, a saber: a) em cursos de
formação inicial de professores, como docente de Licenciaturas (Letras e Pedagogia),
percebemos as dificuldades desses alunos, na leitura e na produção de textos, em disciplinas
como “Práticas textuais”3 e nas disciplinas relacionadas ao “Estágio Supervisionado em Língua
Portuguesa”4; b) em cursos de formação continuada, de capacitação e de pós-graduação5, no
contato direto com docentes de Ensino Fundamental e Médio; e, por fim, c) nas pesquisas que
vimos desenvolvendo nos últimos anos, de caráter intervencionista, realizadas diretamente em
escolas públicas de Juiz de Fora (MG). Nessas três instâncias, temos percebido – apesar da
intensa discussão realizada em torno do ensino de Língua Portuguesa (LP) nos últimos 30 anos
no Brasil – o crescente interesse no desenvolvimento de propostas relativas ao letramento, aos
gêneros textuais e ao ensino de gramática imbricada no discurso.
Frequentemente, percebemos certo “discurso do fracasso” no desenvolvimento da
leitura e da escrita na escola, como por exemplo, prática sem teoria, ações intuitivas dos
3
Em tal disciplina, no curso de Pedagogia da UFJF, realizamos trabalhos de leitura e escrita de resumo, artigo
científico – de revisão e de pesquisa –, resenha e monografia.
4
Nessa disciplina, no curso de Letras da UFJF, desenvolvemos trabalhos de leitura e escrita de artigo científico,
relato de experiência e plano de intervenção.
5
Atuo no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFJF, na linha de “Linguagem, Conhecimento e Formação
de professores”.
professores e aulas apoiadas exclusivamente no livro didático (LD), o que evidencia, para nós,
que o “como fazer” ainda se constitui entrave no ensino de LP.
Na tentativa de contribuir com um ensino de linguagem mais produtivo, dinâmico e
relacionado ao cotidiano dos alunos, desenvolvemos as pesquisas em questão, que agora
passamos a descrever. Não pretendemos dar respostas definitivas aos amplos problemas
enfrentados pelos professores na escola pública contemporânea, mas tão somente apresentar
práticas de pesquisa que trouxeram resultados mais satisfatórios em termos de gêneros e
letramento e formação de professores.
2. Pressupostos teóricos
2.1 Letramento(s)
6
Ao longo deste trabalho, fizemos algumas considerações baseadas em Street nos trabalhos publicados em 2014,
2012, 2010, 2009, 2003, 1995 e 1984.
estão inseridos, segundo Street, em significados culturais, locais, cujos valores são atribuídos
pelos sujeitos e instituições envolvidos em tais práticas.
Sendo assim, os modelos denominados por Street como autônomo e ideológico (1984)
enfocam diferentes formas de conceber a escrita, dada a importância que ela ganhou nas
sociedades modernas. Nesse sentido, a concepção múltipla do modelo ideológico se contrapõe
à ideia de letramento singular, autônomo, que exclui diferentes modos e concepções de uso da
escrita, modelo este que, segundo Street, tem sido um aspecto dominante na teoria educacional
e desenvolvimental (1995), que enfoca sempre técnicas descoladas dos sujeitos no processo de
aquisição e desenvolvimento da escrita. O modelo ideológico de letramento, então, é entendido
como prática social “de leitura e escrita encaixados em relações de poder” (2014, p. 146).
Entendemos que as práticas sociais, nesse sentido, é que determinam como usamos a escrita;
dessa forma, o letramento está altamente impregnado de valores culturais, poder e ideologia,
atribuídos pelos sujeitos envolvidos nos contextos diversos.
Tomando esses pressupostos como essenciais, acreditamos que os processos de
aquisição e desenvolvimento de leitura e escrita na escola não deveriam estar desvinculados do
cotidiano dos alunos. Para Street, a tarefa política7 é bastante complexa. É preciso, então,
7
Vale ressaltar o que Marinho e Carvalho (STREET, 2009) perguntam ao pesquisador, nesta entrevista, sobre a
relação dos Novos Estudos de Letramento com as questões pedagógicas.
8
Há vários pesquisadores brasileiros que desenvolvem pesquisas no campo do ISD; entretanto, estamos citando
aqui apenas aqueles cujos textos foram diretamente estudados em nossos trabalhos de pesquisa.
9
Bronckart faz importantes considerações, em entrevista dada em 2006, sobre a possibilidade de o ISD ser uma
teoria ou um paradigma científico.
10
Com base nesse conceito, os Projetos Didáticos de Gêneros (PDG), sistematizados e pesquisados por Guimarães
e Kersch (2012, 2014) e seu grupo, trazem uma interessante proposta para o ensino, sem dispensar, contudo, as
sequências didáticas, mas articulando-as aos projetos.
3. As pesquisas
coordenadores). As sessões reflexivas foram realizadas nas reuniões pedagógicas da escola, aos
sábados, durante um ano e meio.
Durante tais sessões, pudemos estudar diversas teorias no campo da leitura, da produção
oral e escrita de gêneros, ortografia, variação linguística, gêneros textuais e letramento. Após
alguns encontros, chegou-se à construção de que o trabalho com gêneros na escola deveria ser
estruturado e sistematizado ao longo dos anos; para tanto, seria necessário elencar um conjunto
de textos a serem trabalhados ao longo da escolarização. Sendo assim, a etapa seguinte foi a
construção de um programa11 de ensino de LP. Nesta época (2008), a Prefeitura de Juiz de Fora
contava com uma diretriz curricular, de certa forma, defasado em termos de ensino pragmático
de língua que tem como base uma perspectiva sociointeracionista12.
Realizamos, nessa etapa, algumas atividades em sala de aula com gêneros textuais, de
modo que nós, professores e pesquisadores, pudéssemos decidir em que etapa do ensino
determinados gêneros textuais seriam privilegiados. Nas sessões reflexivas, os professores
relatavam suas práticas de sala para, então, verificar de que modo tais gêneros seriam alocados
na proposta pedagógica da escola.
Ao final, após a construção de um programa13 – enxuto e preliminar – de língua, que
pudesse ser aliado aos livros didáticos já utilizados pelos professores, mas que ultrapassasse
esse material, com elaboração de atividades próprias, partimos, dois anos mais tarde, para a
investigação sobre como o documento estava sendo usado, pesquisa que relatamos a seguir.
Durante os anos de 2010 e 2011, voltamos à escola onde foi realizada a primeira
pesquisa para investigar como estava sendo usado o programa elaborado nos anos de
2007/2009. Nossa investigação teve o objetivo de saber se os professores estavam usando o
programa, como estavam usando, como os professores novos receberam o material, se
conheciam, se aliavam o documento ao LD, se havia reuniões para estudo, etc.
Assim, realizamos um estudo exploratório, com entrevistas semi-estruturadas, para
analisar de que forma o documento circulava na escola, seja no planejamento das atividades,
11
Não vamos, neste artigo, discutir a diferença entre programa, currículo, proposta curricular ou diretriz.
12
Em Magalhães e Ferreira (no prelo), fazemos uma análise dos dois programas de Ensino de Língua Portuguesa
da Prefeitura de Juiz de Fora (2001 e 2012).
13
Os resultados dessa pesquisa encontram-se em BOTELHO e MAGALHÃES (2011)
3.3 Pesquisa 3: Gêneros textuais e ensino: uma pesquisa colaborativa com professores de
Língua Portuguesa
Em 2012, iniciamos uma pesquisa colaborativa mais ampla, dessa vez com sessões
reflexivas desenvolvidas na UFJF, com professores de LP de 1º ao 9º anos, que se vincularam
à pesquisa por convite (inclusive os professores que estavam, naquele ano, lidando com o
documento construído na escola nos anos anteriores) e por seleção15. De 2012 para cá,
14
Os resultados dessa pesquisa estão em Botelho, Kaeser e Gomes (2014) e Magalhães, Cordeiro e Crespo (2014).
15
Em anos seguintes, fizemos seleção de professores para participar do grupo, em função da necessidade de termos
professores sujeitos da pesquisa que se vinculassem e tivessem comprometimento de continuar até o final do
professores das redes municipal, estadual e particular têm se ligado à nossa equipe, participando
como sujeitos de pesquisa ou colaboradores, no intuito de contribuir com o grupo e ter
participação em estudo sistematizado na área de Linguística Aplicada. Desenvolvemos a atual
pesquisa com bolsistas16 de Letras e Pedagogia da UFJF.
No decorrer desse trabalho, realizamos as atividades da seguinte forma:
- sessões reflexivas semanais para estudo sobre gêneros, letramento, SD, leitura, escrita,
oralidade, projetos de letramento e currículo;
- elaboração de materiais didáticos do projeto de letramento, incluindo as SD;
- intervenção na escola para experimentar o material construído;
- retorno sobre a intervenção, nas sessões reflexivas, para avaliação, reorganização e novas
intervenções;
- análise do projeto desenvolvido, bem como dos resultados alcançados pelos alunos;
- análise da apropriação e da construção de conhecimento, pelos professores, sobre gêneros
textuais, SD, leitura, escrita e oralidade, análise linguística e projetos de letramento.
trabalho, para sistematizar dados, já que, em anos anteriores, houve rotatividade de professores no grupo, o que
dificultou nossas conclusões.
16
Incluímos, na pesquisa, bolsistas de iniciação científica, treinamento profissional, extensão e apoio estudantil.
Agradeço o trabalho e entusiasmo de Ariane Alhadas, Bruna Crespo, Fernanda Ferreira, Michele Gomes, Letícia
Kaeser, Thayane Fonseca, Anna Carolina Dalamura, Rafaela Savino de Oliveira e Vanessa Alvim, alunas que
estão, de diversas formas, contribuindo com o Grupo FALE, seja como bolsistas de graduação ou alunas de
mestrado.
17
Não é nosso objetivo, neste artigo, tratar dos gêneros em questão. Os trabalhos que versam sobre a modelização
dos gêneros folder de campanha e diário de leitura estão em construção. Alguns resultados encontram-se em
Magalhães (2014).
Durante esse percurso, pudemos chegar a diferentes constatações, das quais vamos
privilegiar apenas algumas, agrupadas abaixo em seções comentadas. Estas observações nos
levaram a repensar as teorias, e certamente continuarão a repercutir em nossas pesquisas
vinculadas à formação inicial e continuada de professores.
18
Baseamo-nos em Machado (1998), Machado [coord]; Lousada e Abreu-Tardelli (2004; 2007) para tratar do
diário de leituras.
O currículo prescrito, tema que tem sido alvo de discussões na área de Linguagem e
Educação, é tópico de extrema importância na atualidade. É preciso que seja dada atenção a ele
no âmbito da escola pública brasileira, investigando como são construídos, distribuídos,
recebidos e usados no dia a dia, além de como são empregados no cotidiano.
Em nossa experiência, a construção coletiva do documento possibilitou estudo de
diversas teorias com o corpo docente. A construção do programa com os professores tornou-os
mais responsáveis por ele, de modo que o comprometimento com as sugestões ali postas
tiveram repercussão em sala, já que fizeram parte de sua elaboração.
Entretanto, como construímos o programa e não permanecemos na escola após sua
finalização, na pesquisa seguinte emergiu, das entrevistas, a necessidade de nova parceria para
que os estudos tivessem continuidade, de forma que a prática de sala de aula corresse com maior
segurança e consistência, sobretudo no que diz respeito às propostas ali indicadas, como a
relação entre análise linguística e gêneros textuais.
De fato, vemos que pouco impacta a qualidade do ensino uma boa quantidade de
materiais (sejam currículos ou outros materiais didáticos ou de formação) se o professor não os
conhece, não os estuda, tampouco tem possibilidade de manuseá-los e analisá-los juntamente
com seu corpo docente.
deles de forma mais ativa. Aliado à atividade de leitura e escrita desse mesmo gênero em
modelização, temos como consequência uma prática docente que sai da atividade intuitiva com
a linguagem para uma prática mais reflexiva e consciente, como pudemos observar nas nossas
sessões em que os professores relataram isso. Esse exercício de escrita propiciou reflexões sobre
os processos de letramentos dos bolsistas e dos professores envolvidos.
Como muitos professores nos revelam não saber como proceder para ensinar seus alunos
a ler e a escrever, notamos que a vivência como leitores e produtores desses gêneros a ensinar,
bem como o trabalho de modelização, propicia uma experiência de formação discursiva
relevante.
O ISD tem se mostrado como um quadro teórico que fornece um conjunto de reflexões
teórico-práticas não restritas e bastante pertinentes para concretizar objetivos de ensino de
língua portuguesa, visto que traz a possibilidade de aliar questões de produção oral e escrita de
textos, leitura e escuta, atrelados à análise linguística. Ao estarmos vinculados a esse
referencial, bem como à proposta de projetos, consideramos profícuo o trabalho que se propõe
a fazer análise de textos na pesquisa colaborativa com professores, na medida em que a relação
com a escola, no planejamento, proporciona reflexão sobre a prática de linguagem com gêneros.
Em recente publicação feita por Barros e Rios-Registro (2014), dentre muitas outras, vemos
que tal proposta ainda está em constante construção e tem demonstrado resultados satisfatórios
no tocante ao ensino de linguagem.
A pesquisa colaborativa nos permite analisar como os documentos estão circulando nas
escolas, como a relação entre teoria e prática tem sido feita; além disso, é possível verificar
como a relação teoria e prática é dinâmica e complexa (e não reduzida à “teoria aplicada à
prática), o que confere uma visão dos sujeitos que estão nela. Visto isso, podemos refletir sobre
as teorias, testá-las e ressignificá-las, ao encontro da proposta de ação – reflexão – ação indicada
pela perspectiva colaborativa. É preciso fortalecer as frentes de trabalho que envolvam o
parceria universidade e escola.
discussão, uma vez que a falta de tempo para estudo é inaceitável para profissionais que lidam
dia a dia com o conhecimento, em constante mudança.
Uma experiência importante, com ressalvas, que proporciona remuneração para
professores estarem envolvidos em projetos, são o PNAIC19 e o PIBID20, merecendo, por isso,
atenção dos pesquisadores e gestores, que devem avaliar os impactos que esses programas têm
trazido em termos de formação e tempo de estudo conjugados à prática pedagógica. Mais que
isso, é necessário investigar que conhecimentos são construídos na relação entre professor
universitário, graduando de licenciatura e professor da escola básica.
As várias dificuldades encontradas no cotidiano escolar não escaparam dos nossos
resultados. A resistência às pesquisadoras cedeu lugar à confiança e à parceria à medida que os
trabalhos foram sendo desenvolvidos de forma conjunta. Tentamos, a todo momento, minimizar
a assimetria implícita na relação universidade-escola.
Outro problema enfrentado por nós no desenvolvimento das três pesquisas, segundo
nossas observações e o discurso docente, foi o excesso de projetos (sejam federais, estaduais
ou municipais) que “chegam” à escola de forma desarticulada aos trabalhos em andamento,
muitas vezes com prazos curtos para sua execução e planos de realização muito artificiais para
determinadas comunidades. Eles interferem tanto nas atividades particulares das diversas áreas,
como na organização mais abrangente da escola, na relação das disciplinas escolares, na
condução de avaliações, na construção de eventos etc.
Tais projetos são muito bem-vindos, na medida em que são discutidos pelo corpo
docente para serem articulados aos objetivos locais de ensino, de modo que possa haver mais
integração ao planejamento dos docentes, integração que não pode dispensar a relevância de
tais projetos para sua comunidade e cidade.
Os problemas que envolveram alunos das escolas cujos professores participaram das
pesquisas, como violência e situações vulneráveis de moradia e saúde, por exemplo, estiveram
presentes em todos esses anos de atividades.
5. Considerações finais
Não pretendemos, neste artigo, dar respostas a tantas questões que nos são postas dia a
dia no trabalho de pesquisa. Tampouco quisemos comprovar que determinado viés teórico é
19
PNAIC – Programa Nacional Alfabetização na Idade Certa.
20
PIBID – Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência.
mais adequado para o ensino de língua. Pretendemos, como dito, contribuir para enriquecer as
discussões feitas na área de Linguística Aplicada, especificamente no tocante à língua materna,
para que possamos solidificar ainda mais as questões de ensino de linguagem que vem sendo
debatidas ao longo de muitos anos.
As reflexões colocadas aqui não podem ser isoladas de outras referentes a questões
diretamente atreladas à educação e ao letramento como as questões culturais, econômicas e
políticas.
Gostaríamos de finalizar esse texto mostrando que os resultados das pesquisas
empreendidas apontam para uma discussão sobre letramento como prática social articulada ao
compromisso que nós, da área de linguagem, temos com a educação nesse país, considerando
que é pela língua que se constrói conhecimento em qualquer área da ciência e é pela língua que,
também, se constituem os sujeitos.
Referências
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produção escrita. Revista Letras. Santa Maria, v. 20, n. 40, p. 163-176, 2010.
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Cruz do Sul. v. 32 n. 53, p. 1-25, dez, 2007.
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MENDONÇA, M. Análise linguística no ensino médio: um novo olhar, um outro objeto. In:
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Disponível em: http://devweb.tc.columbia.edu/i/a/document/25734_5_2_Street.pdf
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letramento. In: MAGALHÃES, I. (org). Discursos e práticas de letramento: pesquisa
etnográfica e formação de professores. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2012